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E STA D O D E M I N A S ● Q U A R T A - F E I R A , 1 7 D E N O V E M B R O D E 2 0 1 0

OPINIÃO 11

Informações
Economia da biodiversidade
MARIA ELISA CASTELLANOS SOLÁ
verdadeiras Arqueóloga e doutora em ecologia pela UFMG, ex-diretora de

A
Proteção à Biodiversidade do Instituto Estadual de Florestas-MG

GILSON FONSECA biodiversidade é necessá-


Consultor de empresas ria à saúde e integridade
dos ecossistemas, os quais
Lançar mão da crítica é mais fá- garantem a segurança dos
cil que agir ou apresentar propos- serviços ambientais que
tas para esse ou aquele assunto. necessitamos para viver.
Entretanto, no Brasil, é muito difí- Todavia, após 18 anos da
cil ficar sem fazê-la diante das in- assinatura da Convenção
contáveis informações “desen- sobre a Diversidade Biológica na Conferência das
contradas” que nos geram des- Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desen-
confiança nos governantes. É de- volvimento – Rio 92, as medidas adotadas nos paí-
sanimador, em qualquer posse de ses foram insuficientes para deter a perda de bio-
políticos, presenciarmos o presi- diversidade. Nos últimos anos, diversos estudos
dente da República elogiar, fazer científicos têm demonstrado a gravidade do esta-
afagos em pessoas com passado do de conservação da biota em escala global. Em
duvidoso e até acusadas de lesar parte, essa situação é devido à falta de conheci-
os cofres públicos. O governo tem mento e valoração dos serviços oferecidos pelos
méritos no controle da inflação, ecossistemas. Nosso arsenal tecnológico cria a fal-
no extraordinário aumento das sa sensação de desacoplamento entre o nosso
reservas cambiais, que estão per- bem estar e os sistemas naturais. Esquecemos a
to de chegar a US$ 300 bilhões, o importância dos ecossistemas na formação do so-
suficiente para quitar toda a dívi- lo, no controle da erosão e das enchentes, na cicla-
da externa com sobras. Mas mui- gem de nutrientes, na disponibilidade de água po-
tos problemas estão camuflados tável, no controle biológico, nos produtos bioquí-
com informações inverossímeis micos e farmacêuticos, nos combustíveis, na re-
que nos são passadas. creação e no turismo, entre outros. Cada vez me-
Seria justo vangloriar-se, des- nos dependemos dos recursos locais, sendo abas-
de que os erros e fracassos sejam tecidos por regiões cada vez mais distantes.
tratados com a mesma clareza e Confiamos em que o ambiente tecno-cultural
intensidade. Já há mais de 15 anos é – e sempre será – nosso grande provedor. Assim,
do Plano Real, com inflação de Pri- não sentimos a real necessidade de proteger e
meiro Mundo, os últimos índices conservar os ecossistemas. O valor dos bens e ser-
econômicos mostram instabilida- viços dos ecossistemas geralmente é considerado
de, sobretudo, o IGP-M. Aumento inestimável, o que impede a análise do custo-be-
inflacionário significa elevação nefício de um determinado empreendimento ou
dos juros. A ganância dos agentes atividade. Isso é facilmente percebido tanto no li-
financeiros conta cenciamento ambiental como nas Unidades de
com essa situação. Conservação (UCs). Ao avaliar um empreendi-
Os aposentados se mento para fins de licenciamento, os impactos
É falsa a endividam mais a negativos serão subestimados ao não ser atribuí-
sensação cada dia, com o do valor monetário aos custos ambientais e so-
chamado emprés- ciais que o empreendimento traz, de tal sorte que
de que timo consignado e os benefícios serão aparentemente superiores aos O valor dos bens do evitada e que o status de conservação tenha
melhorado; (iv) os ecossistemas que fornecem
estamos as transações co- custos. O contrário ocorre nas Unidades de Con- serviços essenciais sejam restaurados e salva-
vivendo
merciais estão in- servação, cuja criação é sempre vista como custo e serviços dos guardados tomando em conta as necessidades
teiramente liga- e não como benefício. É assim que 29 áreas prote- das mulheres, comunidades indígenas e locais,
na Suíça das ao crediário de
longo prazo. Será
gidas na Amazônia foram reduzidas ou extintas ecossistemas ainda além dos pobres e vulneráveis.
entre 2008 e 2009. Desta forma, é premente que a Durante a COP-10, a ministra do Meio Am-
que o crediário vai
chegar à ponta,
valoração de serviços ecossistêmicos seja incor- é considerado biente, Izabella Teixeira, mencionou que o Bra-
porada tanto às políticas publicas e como as pri- sil está preparando um relatório sobre o valor
sem quebradeira de agentes eco-
nômicos com a inadimplência
vadas do setor produtivo.
O Programa das Nações Unidas para o Meio
inestimável, o que dos ecossistemas e da biodiversidade com o ob-
jetivo de servir como referência para a prática
das pessoas, que está em alta? Se
há monitoramento, todo cidadão
Ambiente apresentou o estudo intitulado A Eco-
nomia dos Ecossistemas e Biodiversidade (Teeb
impede a análise do de uma economia sustentável. Pretende-se que
o Teeb Brasil seja incorporado por políticas pú-
espera conhecer as deficiências,
como o crescimento das despesas
em inglês) na 10ª Conferencia das Partes sobre a
Convenção da Biodiversidade Biológica (COP-
custo-benefício de blicas, empresas privadas, setor produtivo e go-
vernos nas decisões sobre agricultura, seguran-
do governo, que, ainda, estimula
a população a recorrer ao crédito
10), realizada mês passado em Nagoya, no Japão.
O estudo demonstra o valor dos ecossistemas e
um determinado ça alimentar, segurança energética e exploração
de recursos naturais.
como motor da economia. A dívi-
da interna já ultrapassa US$ 1,8
da biodiversidade para a economia, os indiví-
duos e a sociedade, e que esse valor pode ser con- empreendimento O acordo da COP-10 cria uma obrigação políti-
ca e uma referência única para a elaboração de po-
trilhão, mesmo com sucessivos
aumentos de arrecadação de im-
siderado quando da tomada de decisão. A COP-
10 encerrou-se com um acordo nos três temas ou atividade líticas públicas pelos governos. Significa um salto
qualitativo na conservação da biodiversidade e no
postos. Por que o governo não fa- principais: (i) o plano estratégico para o período modo como os instrumentos de gestão deverão
la nisto e se cala diante das deze- 2011-2020 de redução da perda de biodiversida- ser aplicados na busca do desenvolvimento sus-
nas de obras superfaturadas de, (ii) o protocolo de acesso e repartição dos be- tats tenha sido reduzida pela metade; (ii) pelo tentável. Significa romper com a visão econômica
apontadas pelo Tribunal de Con- nefícios dos recursos genéticos da biodiversida- menos 17% das áreas terrestres e 10% das áreas tradicional. É um novo paradigma: a economia da
tas da União (TCU)? Ao contrário, de e (iii) a estratégia de mobilização dos recursos marinhas e costeiras estejam conservadas, em biodiversidade passa a fazer parte da vida cotidia-
não respeita a recomendação dele financeiros para a implantação das ações de con- particular aquelas de especial importância para na dos governos e cidadãos, mudando radical-
de paralisá-las para apuração. O servação. O plano estratégico define, como prin- a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos; mente nossa relação com os sistemas naturais
sobe e desce das bolsas é um indi- cipais metas para 2020, que: (i) a perda de habi- (iii) a extinção de espécies ameaçadas tenha si- dos quais dependemos.
cador de que tudo na economia
se entrelaça e se prende ao grau
de confiança entre todos os atores
que a movem.
Estamos muito distantes da

Privatização satanizada
tranquilidade, mas o discurso ofi-
cial nos dá a falsa sensação de que
estamos vivendo na Noruega ou
na Suíça. Uma discussão sempre
aberta sobre os problemas da edu-
cação, saúde, segurança, corrup-
MARCOS CINTRA vatização, o discurso petista exaltou o atual cres- empregos e o governo do PT possa manter os pro-
ção e gastos daria aos governantes
cimento econômico do país e a ascendência de 30 gramas de seguridade social dos quais tanto se van-
confiabilidade. Foi uma frustração Doutor em economia pela Universidade de Harvard (EUA), professor
titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas milhões de brasileiros para a classe média, como gloria como obra exclusivamente sua.
ouvir de Dilma Roussseff, depois
se isso fosse um mérito obtido única e exclusiva- As ineficientes estatais sufocavam as contas
de eleita presidente, que a educa-
A campanha eleitoral para presidente da Repú- mente pelas ações do governo Lula. A bondade da públicas, serviam como moeda de troca para ob-
ção é prioridade 3. Tudo começa
blica deste ano prestou um desserviço à sociedade administração do PT teria sido suficiente para ge- tenção de favores políticos e seus serviços se ca-
pela educação para sairmos de on-
brasileira quando tentou criar uma situação dico- rar mais riqueza nacional e melhorar as condições racterizavam pela qualidade medíocre. Privatiza-
de estamos. Países ditatoriais, ou
tômica envolvendo estatização e privatização. materiais para um enorme contingente de pes- das, elas geram lucros e impostos, trazem divisas
populistas, que sonegam infor-
Passou-se a imagem de que havia uma luta do soas que viviam na miséria. Grande parte dos elei- para o país e têm a obrigação de serem eficientes
mações, como Coreia do Norte,
bem (estatização) contra o mal (privatização). O tores não consegue assimilar os fatores desenca- para atender consumidores e acionistas. As ex-es-
Cuba e Venezuela, estão na extre-
verbo privatizar foi satanizado, deixando a ideia deadores do atual ciclo de desenvolvimento vivi- tatais hoje dão suporte ao crescimento do país, en-
ma pobreza. Governos de credibi-
de que o interesse público somente seria preser- do pelo país. A impressão é a de que muitas pes- quanto que segmentos ainda sob gestão predomi-
lidade discutem mais as dificulda-
vado por meio da expansão da atuação estatal so- soas foram levadas a crer que os governos ante- nantemente pública como, por exemplo, estra-
des do que as vitórias. O presiden-
bre a atividade produtiva do país. Desde o início riores eram perversos e que eles estavam a servi- das, portos, aeroportos e correios se transforma-
te Lula divulga no exterior só os
da campanha, o PT se pautou em defender o Esta- ço de empresários gananciosos, que queriam se ram em gargalos para a competitividade econô-
acertos. O “nunca ante na história
do produtor como o modelo ideal para a promo- apropriar das empresas estatais. mica. A ideia difundida de que o poder público de-
deste país se fez tanto como no
ção do crescimento econômico com justiça social. A realidade é que o processo de privatização, ini- ve atuar fortemente como produtor para preser-
meu governo” não deve nos con-
O presidente Lula alardeou que, para gerar desen- ciado com o Programa Nacional de Desestatização var o interesse público foi uma forma de confun-
taminar, pois há uma longa e pe-
volvimento, os governos deveriam ser grandes e (PND) em 1990, foi um dos pilares para o cenário dir o eleitor. Sob a tese de que o Estado empresá-
nosa caminhada pela frente e to-
fortes, crença que foi absorvida por Dilma Rous- econômico e social observado hoje no Brasil. O pro- rio é mais eficiente pode estar camuflada a estra-
dos esperamos informações ver-
seff para justificar o que ela chamou de um novo cesso atual de desenvolvimento tem na atuação de tégia de colocá-lo a serviço de partidos e de políti-
dadeiras e cristalinas.
desenvolvimentismo a ser instalado no país por ex-estatais como Usiminas, CSN, Embraer, Vale e cos profissionais. Ocorrendo isso, tal como o pas-
conta da maior intervenção do governo. as companhias de telecomunicações um dos sus- sado nos mostra, o preço para o contribuinte será
Ao mesmo tempo em que falava contra a pri- tentáculos para que a economia cresça gerando elevado e para o país será desastroso.

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