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José de Souza Martins A SOCIABILIDADE DO HOMEM SIMPLES Cotidano e Histéria na modemidade andmala soo-Frucieu iit Segunela eto, revit © ampliada editoracontexto SUMARIO ITRODUCAO. 9 PRIMERA PARTE 15 As smacrs wo wecess FAs coURACoEs ox MODOENADE WO Banh AT © seo conan «wa commana = A mii. von conn ns NCE ORC _ 53 Acoma ese wba cones Hou 88 scan as oman ox Herm a OUMFTCA D§ Hh Lemon SEGUNDA PARTE 108 sons wen - mt Pon a soc106 SL, 135 © auToR _ 1a InvtRoDugAO ces tnt Seco e Sock no ee Proponho-me,nestelivro, atratarda vida socal do homemtsimpes cotidiano, cuja existencia ¢ atravessada por mecanismos de ‘dominago-edeslienagio quedistorcem sua compreensio da Fist ‘do pprio destino, Todas nds somos este homem que mo s6 lta para vivera vid de todo dia, masque lta também para compeeendiet ‘um iver quelheescapa porque nao rao se apreventa comoabsurdo, fcomose fosse um viver dest de enti, fumliv, meio esrito ‘e meio falado, que da com o complicado problema da crescente prevaléncia di cotianidade no processo histirio. "Trato nestes enstios ¢ entrevista, portanto, das condicbes adversts © novas pam o fiver Hist6ra, para que o homem comum se tome agente atvo de seu destino, neste tempo tla moter, rua sociedide de mexlernidacle frgil como a nossa sociedade brasileira Una sociede clividicla ce muitos modos, marcada pela dliversade de tempos que se adiantam ¢ que se atasam, negando- sey por isso, mt fall dt coeréncia, ainda que aparente, que € tao camacterisica cas sociedades propriamente moderas. i COptei, por iso, pelo método de abordi-la ma incoerencia em. ‘que eh se propve 2 compreensio do socisloge, coma elenco de | enigma e de aparentes ierclevancias. Os eapitulos do livto constituem um conjunto de pungdes nesse complicalo todo, exmmlugando diferentes momentos desse mosaic de desencontros para, em cada um, encontrar o lime oculto da uniclade do divers, Nessa adversidide, questo ¢ saber camo a Hist tompe na vida de todo di. Como, no tempo midido ck vida cotidisna,tavamos ‘ embate, som cereza nem cave7a, peas conguists fundamentais dlo gener humano; por aqullo que Herta o homem ds mais miséias que o fizem pobre de tulo:de condligcesacdequdase via, dletempoparasieparaosseus,de-liberdade, de imaginaio, de pzer np trabalho, de riatvidade, de alegra © de fest, de compreensi ativa de sew logar na construgto social da realiade, Uma vida en que, além do mais, udo parece falso e falsifica, até mesmo 4 esperinca, porque 86 0 fastio © 0 medo parecem utntieas. Na abundincia aparente, no estamos realizalos ~ estamos apenas saturadlos € cansades em fe dos pexeres que parecem nos pat de uma inteligencia hiséica do nosso age cotidino, ~ Deumlad,o beesidesteenredo éohomem comm, agmentido, divoreiado de simesmo edesua obea, masobstinade na sex propeito ‘demuxlara vida, de fazer Histria, aad que pelostortuasescamninhos de sua alienasio ¢ de seus desencontros, 06 difceis earninhos «otidianos da vida, De outro lado, a complexidlace do problema et no moco-andmaloe inacabado como a moxlernidade se prope nam pls como o Brasile na realdade deseompassada desta nossa Americ tina. Nosso enigma é hoje o enigma da captura desse homem comum pelos mecanismos de estranlimento de wma cotidianidade ue exacerba 2 mutilago de nosso relacionamento com nossas, possibildces histricase mutta compreensio dos limites quecaca | Momento histérien nos propoe. [Nossoenterstimento cientfico desses desenconitos et distor ¢ limitado por um conceitualismo descubido, transplante de imespretacoes de realidades sociais que sto outs, distantes © Aiferentes, que nos toma estrangeitos em face do que realmente somos e vivemos. Nao podemos nos reconhecer e comproertler fo espetho bago ch epi. Neste pais de hachatis falamos muito © imitamos muito. Euclides da Camha fer um refinado discurso. ‘europe sobre tralia dos miserives de Candas, qu ele nunca ‘compreendeu, porque no compreendis a inguagem do silencio e ds silenciados; porque nto compreendt a dialtica de um fazer Psa a mange da realidad dominantee das fins dosinantes Chegou ao senio did ce Canudos, aum cenétio de misria € mont, trajando camisa de sed. ie, oficial militar que al esava como jomalista iusttado, e os oficiais envolvidos ma guerea contra os sertanejos misticos imaginavam-se na Franca 1789. Chamavam-seentreside cadaos, ‘co ram, de uma repblice imaginéris, tansportando pars o Bri ‘de terra adentro a reacionda e insubmissa VandGia dos pobres da tenn para derrai-laaguia ferro efogo.O Brastlaseites,republicanas ‘ou nio, ca uma fiegto, ¢ 0 pov mera massa informe de mat prima para molar cidade fcticio que somos até hoje. J) Para trdos nds sempre fol muito ciel! compreender as cladas Jc travessis, os desafios ¢ 2 rqueza da nossa inautenticidade, do rosso hibridimo, da nossa lentdao ¢ do nosso vir a ser que mo se cumpre sento de modo sempee incompletoe sempre insufiiente, “Temos medo de ser o que somos ou © que temes posi ser. ‘Mas, a Histria nao acabou nem esperanga momtev. Somos jt modo de ser, outro jeto, ovtrs espera, our vereda na ‘universaldade do mesmo género humano enas chierengas propriss dla dindenica histrica, O que sobrov do que nos tiaram & 0 que fecunda « nossa espera, Nossts privagbes Slo a nossa riqueza € 0 ‘nosso desaflo, Mas, com as Ferramenta da cépia nada construe mos fe hacia compreenderemos. (© propérita deste livre € o de uma rellesia a esse respeto, uma proposta ce compreensio de como a esperanca se tora prix rat achersichde das meclitgoes que tornam inauténtico © nosso viver € 0 nosso sonhat, © lio se situa, assim, na ampla tematica do reencontro possivel do homem consigo mesmo, na ciference [0 livre contém, além do mais, uma proposta metodoligica, a | de tonste 6 que ¢ liminat, marginal e andmalo como referencia compreensio sociolégica.F nos limites, nos extremos, re periferi, {la realicade social que a indagacao socioldgica se toma Tecunda, quando fica evidente que @ explicagio do todo concreto € incomplesa ¢ pobre se mo passa pela mediacio do insignificant nesses momentos e siuacdes de protagonismo oculto e mautilado dos simples, das pessoas comuns, das que foram postos 2 margem dla Histor, do homem sem qualidade’ que a sociedkule propo 20 sociologe suas indagagaes mals complexis, seus problemas mais Ticos, sus diversidade teoricamente mts desifiadora, Sa0 08 simples que os libertum dos simplismos, que nos pedem explicicio eniiea mais consistent, « melhor € mals profunda compreensio dha totale concreta que neveste de sentido 0 vsive eo invisvel © relevante eset também no infimo. Ea viel cotidiana que a Historia se desvenda ou se ocula Na sociologia que se difundi entre nbs, houve relatvamente pouco intereste pelo coidiano e seu personsigem, pelo que parece f por quct parce banal c insignificant, pelo que se repete € por quem se repete €, por isso, anula visibilidade do todo © a conscincia erica queda ecoere, Na urgeneia de aceleae 2 Hist para nos ibertrmos de nasso atraso, Je nossa pobieva ede nossas fnsuleiéncias, Rzemos uma opeio compreensivel pelos grandes temas.e pelos processos sociis decsives a transformacto socal ‘qualquer prego. 0 fizemos fechando os olhos ea intel reiterativo, como se fose simples estorvo da Histéria, Ua mutilaio ‘que anula a dlmensio proprlamente dinltica da realidade social, sas contadigdes e seus desafios interpreatives |ALé mesmo uma sociologia “miltante” ¢ “de exquerda” passou sot 0 parimeto ética e palticimente rexolador, para alguns, do ‘que seria a sociologia “séia” © “centiiea™. Forma extremada das ‘lusdes e di alienagio dos sociogos que optam por essa via, que nada tem “de esquerda” endo rato tem pouco de sociologia, porque, fundamentalmente, nega em nome da Histria a histo ricklade das relagdes sociais. Descolanvse do eal pars langarse nas fabulagses do quimérico, mio «azo autoritirio, e fugir das Alifculdades de compecensio da diversieade das coninidigoes sociais ce suas expressoes no processo histrico. Fo mesmo que esquecer 2 sta que vives aemes no dn do nosso presente Como mostra Hen Lefebyre'no conjunto de sua obra, mas tambéin Agnes Heller em varios de seus livros, nae ignore vida cotidiana € 0 ponto de partic pars decfrar sociologicamente 0 possiel, Decieiclo ma trams que enreda o reperivo aos desafios € possbilidades do que no se repete, da Histria que a propia Viki cotdiana prope « define a ries criativa que a transfor, ‘Condigio para nfo cxir no redacionismo do Fantasowo, sobretido das Fantasia do indcuo que aeavessam a vida

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