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Noticia Historico-Chorographica DA Comarca de Granja PELO Sade Wicente Martins. ———_—— ASPECTO GERAL O-municipio de Granja comprehende um vasto ter- ritorio de cerca de 20 leguas de comprido, de Este para Oeste, sobre 18 de largo, de Norte a Sul, ao norte do Estado, pleno de varzeas, de immensas mattas ¢ caatingas proprias para a creagdo du gado. E’ em geral pouco accidentado. Possue vastas plani- cies de bellas camahubas, diversos serrotes e muitos mon. ticulos ou outeiros que servem de nascente a muitos cor- regos ou ciachos, que seccam completamente depois da estagdo hibernal. Seu principal corrente é 0 tio Coreah, que atraves. sa o municipio de sul a norte. © solo ainda que comece a 12 kilometros da costa 6, em sua construccio geologica, puro sertéo, salvo ao nordeste para o lado do Parasinho e ao norte no Chaval onde € arenoso. © ponto mais alto é o serrote da Tiaya a7 Jeguas ao leste da cidade, que serve de balisa aos navegantes. 172 REVISTA TRIMENSAL CLIMA E SALUBRIDADE O clima é secco e muito quente no estio, e humido ra_estagdo invernosa. Entre as duas estacdes, inverno e estio, ba grandes differencas. As noites no verSo sfo agra- dabilissimas, devido 4 brisa, que sopra do mar. Othermometro, que durante o inverno tem a miti- ma de 24 € a maxima de 32, no verdo ou estio sobe a 37 a sombra. . Aghzar das difterengas thermometricas o clima é mui- to salubre, notando-se, todavia, alguns casos de febre na mudanga das estagdes. 3 A febre amareila grassou em 1854 ¢ a varigla em 1879. ; Ultimamente tem se propagado a_tuberculose, isso devido mais 4 falta de hygiene de parte da populacdo e ds necessidades e sofirimentos do povo'pobre, que 4s influen- cias_climatericas. ORIGEM © territorio era occupado pelos indios Tabajaras, Ta- puias, Coansues e Tremembés, que habitavam a ‘serra de Tabainha, hoje denominada sersinha dé D, Simao, o Cha- val e os sertdes limitrophes, E’ dessas tribus mistificadas com os primeiros colo- hos portuguezes e¢ alguns bahianos que vieram ter ao ser- tao da margem do Coreahu, com- os quaes se entrelaga- ram, que descende a familia granjense. Os seus primeiros colonisadores conhecidos foram: O Tenente Miguel Machado Freire e seu irmaéo Do- mingos Machado Freire, denatarios, por carta de duagdo de sesmaria, de cinco leguas de terra com uma de largo na margem oriental do Coreahd, por data de sesmaria pas- sada em Recife a 3 de Agasto de 1702.° O Padre Assengo Gago,’ superior da missio Jesuitica, possuidor de duas tegdas de terra e uma de largo no si- tio Iguiraquatiara, por carta de data de sesmaria de 3 de Setembro de £706. D; Jacob de Souza Castro, capitéo Rodrigo da Costa, DO INSTITUTO DO CEARA 173 donataiios das terras do Jaraguy, 6 sargento mdr Alexan- dre Pereita de Souza, donatario das terras no local da ci- dade, Joaquim de Abreu Vailadares, Agostinho de Brito Passos, donatarios de terras no local da cidade e 0 capi- téo-mér Pedro da Rocha Franco. Dos donatarios, uns se estabeleceram 4 margem dorio perto do porto, outros na lapara, perto da serra de Ta- bainha, onde os memoraveis padres Jesuitas faziam a mis- sdo : vindo mais tarde a se formar dous povcados, 0 da Ri- beira do Coreaha e o da Missdo, dominant no primeiro 0s portuguezes e no outro os indios catechisados. O Arraial da Misséo, que entéo apresentava todas as vantagens para uma cidade futura, ndo prosperoy. Termi- nada a missio, os indios abandonaram a aldeia que ja ti- nha seu nincho de oragao e foram para a aldeia visinha Santa Cruz do Coreaht-4 margem do rio, onde era maior o elemento portuguez e jd crescido 0 commercio. A povoagéo que tinha o neme de Santa Cruz do Co- reahii e Camosi, passou como se verifica pelos documen- tos officiaesde 1706 a ser chamada Macavocueira ou Ma caboqueira, alcunha que tinham os moradores da aldeia da Missio ou Serrinha de D. Simao, ¢ que fora dada pelos portuguezes. Qs primeiros colonisadores, que vieram, tiveram mui tos filhos. Joaquim de Abreu Valladares teve onze filhos, a sa- ber: alferes Joaquim de Abreu Valladares Junior, Maria de Assumpgio, Francisco de Abreu, Anna Querina, José de Abreu, Francisca de Abreu, Quiteria de Abreu, Elias Pereira de Abreu, José de Abreu, Manoel de Abreu e Lu- dovica de Abreu. Alexandre Pereira de Souza casou-se com uma india eteve doze filhos: José Pereira, tenente José Pereira, Joanna Pereira, tenente Manoel Pereira de Souza, capitao Manoel Rodrigues de Souza, Francisco Pereira de Souza. Joao Pereira de Souza, Ursula Pereira de Souza, Eugenia Pereira de Souza, Bento Pereira de Souza e Goncalo. Pereira de Souza. . Agostinho de Britto Passos casou-se com Joanna Pe- 474 REVISTA TRIMENSAL ‘ade Souza, irmd de Alexandre Pereira de Souza, ¢ tiveram 15 filhos, sendo 9 homens e 6 mulheres. © capitio-mér Pedro da Rocha Franco casou-se com uma moga educada pelo Padre Assengo Gago, de cujo ca- samento teve muitos filhos, os quaes se estabeleceram em diversos pontos, a saber; Pedras de Fogo, Iboasst, Vico- sa e outros lugarés. Ainda hoje existe nesta cidade de Granja d. Firmina Jesuina de Sampaio, descendente de Agostinho de Britto Passos e Joanna Pereira de Souza, no 4.° grau em linha recta, de 78 annos de idade, filha de Manoel da Costa Sampaio ¢ Maria Quiteria de Sampaid, nascida em 1781, que diz haver ouvido diversas vezes de sua avé Quiteria de Britto Passos que o sargento-mér Alexandre Pereira de Souza tendo andado por estas paragens negociando com os indios, agradou-se muito do local onde hoje estd collo- cada a cidade, que entdo era uma aldeia e voltando a Ba- hia, donde tinha vindo, convidou a Joaquim de Abrew Val- ladares e Agostinhe de Britto Passos, ambos de grande fa- milia, para virem estabelecerse no lugar que muito lhe havia agradado, os quaes acceitando © convite vieram com Alexandre Pereira de Souzae sua familia estabelecer-se neste local, onde existia apenas uma pequena aldeia 4 mar- gem do rio Coreahii €.a Miss%o dos padres Jesuitas na ser- ra de D, Simao, mais ou menos em 1725. Joanna Pereira de Souza, que era sua bisavd e que veio em companthia do dito irmao Alexandre, tinha doze annoas quando chegou a esta ribeira, vindo a casar-se com Agostinho de Britto Passos; ¢ os dois foram padrinhos da pedra fundamental da egreja matriz desta cidade, isso, quando ja tinham muitos fithos, tanto que o decimo quarto ou penultimo filho, que féra sua avé Quiterta de Britto Pas sos, ja baptisou-se na actual Egreja matriz de Granja. D. Firmina Jeronyma de Sampaio nasceu em 1832 € é filha de Manoel da Silva Sampaio ¢ Maria Quiteria de Sampaio. “Maria Quiteria de Sampaio nasceu em 1801 e era fi- Tha de Domingos José de Carvalho e Quiteria de Britto a _ DO INSTITETO DO CHARA 195 Passos. Quiteria de Britto Passos era filha de Agostinho de Britto Passos e Joanna Pereira de Souza, LIMITES A comarca de Granja limita-se ao Norte com o termo de Camocim, ao Sul com o termo de Palma, a Leste com a comarca do Acarahi.e,termo de Sant'Anna e a Oeste com a Amarracgdo e comarca de Vicdsa. A linha divisoria da comarca de Granja com o terme da cidade de Camocim esta determinada por Lein.° 1923 de 24 de Setembro de 1889. Art. 12 O termo da villa de Camocim limitar-se-ha com 0 da cidade de Granja pe- la maneira seguinte: Da Barra do ric Timoitha pelo sat- gado acima até onde faz barra o riacho Pitimbd, d'ahi em ftumo a fazenda Sobradinho de José Benedicto, desta pe- la estrada 4 fazenda Porteiras e casa de Manoel Francis- co, no Olho d’Agua do Tapuim, seguindo pela picada da Angica ao logar Pereira .em. ruino direito a Cambéa.do Padre, inclusive, até a margem do rio Camocim do lado do oeste. Do lado do nascente, principiando do corrego e cambda Urtigae fazendo rumo de Joao Paulo; dahi pela estrada geral atravessando o riacho do Para até Frei- cheiras, passando peto lado de cima do lag a casa de Se. veriano de Franca e dahi pela picada até a barra de Gu- ri. Art. 4." A serra do Cujueiroe sitio $. Joaquim per- tencem ao termo da Granja eda mesma serra em rumo direito 4 fazenda Tidya inclusive, e dahi a barra do Gu- tihd; ficando pertencendo ao termo de Sant’Anna as ca- sas de ume outro lado do riacho Jurema. Lei 2064 de 19 de Dezembro de 1883. Art. 20 A freguezia e municipio de Camocim limita-se com a fre- guezia e municipio de Granja na catinga da Flamenga. Com Amarragao a linha divisaria comega da conflu- encia do Ubatuba com o Timonha, subindo por este até a serra de S, Rita; atravessa esta ao meio em rumo direito ao morro do Taquary e¢ dahi volta pela cordifheira da. serra em rumo do Sul, ficande o poente para o Estado do Piauhy € o nascente para o do Ceara. Atravessa o boquei- 176 REVISTA TRIMBNSAL réo do Jud em linha recta: ao morro dos Aragas e segue até o sitio Palmeiras, conforme lei provincial n.° 1360 de 5 de Novembro de 1870 mandada adoptar pela lei provin- cial n.* 1923 de 24 de Setembro de 1880 e lei geral ne 3012 de 22 de Outubro de 1880. Com Vigosa a linha divisoria parte dé Palmeira, vem pela quebrada da serra de S. Anna, no tugar denominado Olho d'Agua das Bombas, dahi em linha recta a ponta da serra da Timbauba, onde tem um baixo, e dahi ao Sa- raiva, em seguida a uma barragem em ruinas; atravessa a montanha em linha recta a fazenda Malhada Vermeiha de Julido em rumo do Otho d’Agua do Costa, e atravessa a serra em ramo ao sitio Serrinha de José Luiz Doura do. Lei provincial n.° 1814 de 22 de Janeiro. de 1879, alterada pela de n° 1923 Cit. art. 3." Com a Palma a linha divisoria parte do Sitio Serri- nha ao pico mais alto da serra de D, Simao ou Tabainha, dahi em linha recta ao morro do Jordao e segue pela corditheira do serrote a Serra Verde ficando o-poente per- tencente a Palma e o nascente a Granja. Lei n° 1316 de 24 de Setembro de 1870. Com o Acaraht a divisoria é pelo lage do Gurihi, ficando o lado-do nascente.parao Acarahl e 0 poente para Camacime Granja, até o Braco, e dahi 4 fazenda Lagoa das Pedras e ao serrote da Tiaya. Lei ne 1814 de 22 de Janeiro de 1879 art. 1.9§ 6 @ n° 1923 de 24 de Setembro dé 1880 art. 4.° Com Sant’Anna a divisoria foi determinada por lei no 84 de 31 Agosto de 1893. Art. 1.° Os limites do ter- mo de Granja, com ode Sant’Anna, pelo poente ficam sendo os seguintes: : Fazenda Tiaya, na confrontagdo do morro deste no- me, por uma linha, em rumo do sul tocando nas fazendas Paos Brancos de Miguel de Amorim, Alagéa de Dentro, de Alexandre Pereira, povoacio de Pitombeira, Penedo, de Dr. José Mendes Pereira de Vasconcellos, Bom Suc- cess e Salo, todos estes pontos inclusive. DO INSTITUTO DO CEARA 197 POPULACAO O reécenseamento de 31 de Dezembro de i891 esti- mava a populagdo em 55346 almas ou 27389 homens. e 27957 mulheres, incluindo os termos ‘de Camocitm é Palma. ~» Mas tem decrescido extraordinariamente com a emi- gtagdo constante para o norte do paiz, ‘forcada pelas seccas. O ultimo regenseamento accusou 12501 habitantes, mas calcula-se attingir a 14000. Maxima é a difficuldade de se procedera um recenseamento exacto. estes ultimos annos o movimento parochial fei o seguinte; BAPTISADOS 1902. : : . : - 708 1903. . : : . - Jo 1904; : : . . + 630 1905. . ~ . : » 784 1906. , . foe - 716 1907. the : + 797 . igo8. : : . - 945 1 1909. : wb - 5. 869 1940. o . : bbe CASAMENTOS 1902, : . - oS 1903. : : : » HQ 1904. too : .. $02 1905. : . OBE 1906. . . : 154 1907. : : : - 169 1908. : : . 136 gag. : . - 469 1910, soe : ee SERRAS Em todo municipio ndo se encontra uma serra pro- 178 REVISTA TRIMENSAL tiamente dita. Do lado do Occidente, perto da serra de biapaba éonde o solo offerece-se mais accidentado; ha diversas serras ou serrotas ligadas umas as outras, que sdo pequenas ramificagées da serra de Vigosa ou Ibiapa- ba, em geral pedregosas, pouco extensas, de diffici} ascen- so, quasi deshabitadas. seccas ¢ estereis. As principaes si0: a do Iboassd, que toma conforme os diversos tamos: as denominagées de Serra Verde, Co- vio, magnifica para ‘agricultura, Curixaty, Coité ¢ Ubatu- ba; ado Itambumy e de Cavianna, que formam o fertilis- simo valle do ttambumy; a do Boasst e D. Simao, onde ha muita plantagio de manigoba. Para o sul encontram-se a da Misséo ou Tabaitha, a de §. Joaquim, a de S. Francisco e S. Domingos, excel lentes para agricultura. . Esparsas pelo Interior: a de S. Miguel, Timbatiba, com uma mina de cobre, Tiaya, que é a mais alta, ftad- na, com uma mina de ferro, ¢ os morros’de Aratanhim, Irapud, onde existiu uma tribu de indies, e dos Aragas. LAGOS Em todo municipio nao se enconira um lago propria- mente dito; ha apenas algumas lagoas ou pdatanos onde se reunem as aguas das Chuyas e que seccain pelo estio. As principaes so; 0 Lago Grande furmado pelo rio Tiaya, muito piscoso_e o maior de todos; a Lagoa Grande ou acude da Lagoa Grande ao norte da cidade de Gran- ja, comecado em (878, com 2 kilometros de circumferen- cia, ro qual despendeu-se cerca de 1:6008000; a dos Tor- Toes, a mais de uma legua da cidade, perto do Mucam- bo; a Lagoa Rasa, uma legua ao sul da cidade; a de An- gico na povoagio de igual nome, quase quatro teguas distante da cidade;-a da Jaburunna, na estrada de roda- gein de Vigosa a 5 legias da cidade, e a do Mucambo, perto da dos Torrées. PORTOS O municipio passue dous pequenos portos ov anco- radouros, odo Chaval e ode Granja. PO INSTITUTO. DO CEARA 179 O de Granja no rio Coreaht a 42 kilometros da costa, pela rio, ea 25 pela estrada de ferro é um pequens porto de candéas que fazem o transporte de Camocim para Granja e éde alguma pescaria. Em outros tempos deu abrigo a hiates e sumacas. O do Chaval no rio Ubatuba, a 6 leguas da Barra de Timonha, é frequentado por biates e barcagas, que ahi vao fazer cartegamento de sal para Pernambuco e Parna- hyba, unica fonte de riqueza desse districto. BARRAGENS E ACUDES Poucas barragens dignas’ de nota encontram-se em todo municipio de Granja. A principal barragem do municipio é a de Lima Branddo, que tomou 0 uome do engenheiro constructor; fica ao lado da ponte metafica da Estrada de Ferro de Sobral, a um kilometro da cidade, construida de cantaria e cimento sobre rocha em 1889. A do Parasinho na povoagso’ deste nome’ sobre o 'ria- cho do Parasinho, comegada em 1878 pelo padre Costa Mendes, vigario da Freguezia, de saudosa memoria, forma uma represa de mais de 2 kilometros. E’ de cantaria e cal sabre rocha, com 200 palmos de comprido, 15 de largo na base e 20 de altura no leito do riacho; podendo-s¢ elevar ainda 5 palmos, altura bas- tante para triplicar 9 reservatorio d'agua, que no estio torna-se de uma utilidade -incomparavel. Ha dous annas o actual vigario promoved uma sub- scripgdo entre amigos para leyvantar de 5 palms a parede, conseguindo angariar 4438910; com esta impartancia teuniv 1o.coo pedras ao pé da obra é comprou 80 cargas de cal, ficando um resto de 118$410, quantia insutficien- te para a conclusdo do trabalho, que a respeitabilissima commissao de obras contra as seccas poderia fazer sem grande: sacrificio. A Barragem da Barra sobre o rio Timonha, de pro- priedade particular, com repreza de 2 kilometros. Ade Fortaleza, de propriedade dos srs. J. Saldanha ¢ 180 REVISTA TRIMENSAL , Sebastia4o Saldanha, na fazenda Fortaleza, com repreza de 1 kilometro. Passando aos acudes: O municipio ndo tem um sé agude feito pelo gover- no da Unifio, si bem que possta diversos valles, que se prestam a grandes reservatorios. Algumas verbas, embora bem pequenas, foram crea- das neste sentido, mas néo ha um sé vestigio da applicagdo em todo municipio, digna de nota. Os agudes que se encontram sdo de particutares e na maioria tio pequenos que vem a seccar de Janeiro a Margo, quando as chuvas cahem mais tarde. Os acudes de Jacuruté de Joaquim Pereira de Olivei- 1a, o Salgado da Pedra de Ignacto Fortuna, o Aratanhim de: José Militéo C. Menescal, que foram auxitiados pelo governo, hoje pertencem a particulares, Dentre os de propriedade particular os principaes sdo: 0 de Detraz dos Morros, o do Pé da Serra de Anto- nia Luiz, o do Angieo Torto de José da Frota Fontene} le, o do Angiquin de Florenge de Souza, 0 do Capitio de Campo de José Firmino, o da Voltade Joaquim Alves Passos, o da Varzea Alegre e das Carahubas de Luiz Dias da Cruz, o de Ttapebuge de Rufino Ribeiro dp Carmo, 0 da Varzea Grande de Francisco Camilo Felix, o da Varzea Grande de Antonio Diogo, o do Jardim dos herdeiros de Jacintho Alves. «Para quea Granja se torne melhor pata a creacdo dos gados, dizo dr. Alvaro Gurgel de Alencar no seu Dicctonario’ Geographico do Esiado do Ceara, fazem-se in- dispensaveis algunas aguadas, e aqui indicamos os loga- res seguintes: Olho d'Agua da Ongae lrapud na estrada que segue para Vigosa, a Barra do Saldanha, no Timonha; Itaiina e Campo Grande. Em todos esses logares se pode fazer barragens de alvenaria cujo custo total ndo excede de 50:000$000; a do Campo Grande, porem, s6 pode ser feita de terrago e nella se podera gastar.20:000$000.- Com estes melhoramentos-introduzidos, os gados nao soffrerdo nas epochas de seccas. DO INSTITUTO DO CEARA : 181 E a Granja um dos municipios em que mais se vae desenvotvendo a industria pastaril pois dispoe de excel- mes logares para pastagem, coino Jaguarapuaba, Pauiista, Campo Grande, Maravilha e Iperohy. um dos municipios -mais necessitados de um pogo arteziano. - Em 1908 a Camara Municipal desta cidade dirigiu ao dr. Piquet a seguinte petigdo: «Casa da Camara Municipal de Granja, em 21 de . de 1908—-Exmo. Snr, Dr, Bernardo Piquet Carneiro, D. Chefe da Commissde de agudes nos Estados do Rio Grande do Norte e Ceara. A Gamara Municipal de Granja, reunida hoje em sessdio extraordinaria, e inspirada nos mais solidos prin- cipios de egualdade e patriotismo, como fiel interprete de seus manicipes, lembseu -o.aivitre de representar a V. Excia. quanto’a necessidade urgente e palpirante de se- rem feites neste municipio, que fica cituado-em plena zona torrida, completamente ‘desprovida d’agua por.sua nature- za, alguns servigos ‘os de agudagens ¢ barragens, como tambem apresentar V. Exa os lugares apropriados para esse ser. eo, © que faz com muita circumspeccao e criterio. Exis- tem, pois, Exmo. Sr., neste municipio alguns pontos, onde com pequenes trabathos, e agua: facilidade attendendo aatureza phisica do. terreno, se podem construir agudes e barragens, que serdo de grandes vantagens t utilidade para os habitantes deste municipio. Sao os referidos pon- tos, Exmo. Sr., nos lugares «Jaguarapuaba, Campo-Gran de, Gangorta, “Jaburé, Itacolumy e Parasinho». Todas estes lugares se prestam perfeitamente 4 cons- trucedo de agudes € barragens, como V.Exa. se certifica- 4 mandando inspeccionar e¢ proceder os estudos respecti- vos. Cumpre informar a V.£xa. que no valle eltacolu mys 44 foram feitos estudos no anno de 1878,-mais ou menos, por ordem do governo; fembro mais que é-de gtande utilidade que se faca qualquer servigo no acude de servid4o no lugar -sParasinhos, .como seja a elevacdo 182 > REVISTA TRIMENSAL das paredes, afim de tornal-o de grande utilidade para os habitantes daquella zona. De grande utilidade digo necessidade & tambem a construccdo de uma barragem, no ja referido-lugar sJaburd» sobre o rio Jurema, que tem o curso de 7 leguas e recebe a8 aguas de diversos riachos que deéitam no leito do mesmo tio, a 10 kilome- tros de uma -Fstacao da Estrada de Ferro de Sobral, eru. zona muito agricola e muito propria para a creagdo de gado. Esta Camara confia, pois, que V. Fxa. attendendo a sua tepresentagdéo mandara um profissional proceder aos estudos respectivos nos. supra referidos terrenos. Satide e fratertidade.--(Assignados) Pelino Laurindo da Silveira, Presidente--Domingos Victal de Carvalho Rocha, Antonio’ Firmino da Costa, Francisco. Manoel Baptista, Gervasio de Moraes Barros e Conrado Ferreira Porto». Sobre oacude dedtacolumy; diz'‘o Dr. Thomaz Pom- pen no Estado do Ceard na Exposigto de Chicago, donde extrabimes o topico seguinte : ” . «Para dar'uma ideia dos estudes feitos.pelo Dr. Re- vy, vamos resumit os seus trabalhos nas seguintes linhas : Acude .de ftacolumy. | O fuga onde deve ser construida a barragem ¢ for- mado pelas ramificacdes da Serra Grande, que depois de alargar-se circularmente desde as encostas da Serra, es- treitase no boqueirao por onde rolam as aguas do rio Itacolumy. . . Este local repousa a 70.000.metres do litoral, a 27.600 metros de Granja ea 32.100 da cidade de Vicosa. O leito do Itacolumy, segundo os calculos do Dr. Revy, deve receber annualmente 370.000:000 de palmos cubicos d'agua, quantidade sobeja ‘para alimentar o re- servatorio. . O mesmo profissional, depois, de examinar os difle- rentes typos de represa a adoptar, pronuncia-se pela de 30 metros de altura com. a capacidade para conter 192.653:00 metros cubicos d’agua. Eis a tabella. que demonstra comparadamente 9 altu- Do INSTITUTO DO CEARA - 183 ta das barragens, com o seu comprimento, volume de al- yenarla etc.: . . 15 20 25 30 35 Altura das barragens em metros 42 3 Comprimento ‘das barragens em metros. 1095 10.000 23.650 52.730 117.000 174.207 Volume de: alvenaria em metros cubicos. | 3.600:000 | Espo Agua no reservatorio em metros cubicds 03:300-000 depois de 3 annos e meio de secca. 179.800:000, - 2.807 2.560 Volume de: alvenaria por metros 1.457 i ’ 1354 cubicos d’agua 1,025 184 “_RRVISTA _TRIMENSAL 370 | : ; . 690 Custo da obra em contos de réis. 1.400 348390 nafoge Prego de mil metros cubicos d’agua 17480 depois de 3 i/2 annos de secca. 15$050 128300 | 400 Extensdo de terreno irrigavelem hectares, hioo depois de 3 1/2 annos de secca. Coma se vé dos dados acima, o prego de mil metros cubicos .d’agua, depois de. tres annos e meio de secca, fi- card por 15$050-0u menos de metade de que ficaria com abarragem de 15 metros. Relativamente 4 acgio benefica das aguas para 4s irrigagoes do valle que se extende abaixo da projectada barragem de 30 metros, diz 6Dr. Revy que hacerea de 2.000 hectares de terrenos planos de primetra qualidade que podem ser irrigados pelo reservatorio de Itacolumy. lantada a metade desses terrenos segundo os pro- cessos. modernos, com applicagao do arado e outros ap- parelhos agricolas, e sendo a area irrigada durante a es- tagdo secca do anno, produziria cerca de 10.000 fardos do melhor algod4o, representando um valor de t.qo0$o00 aproximadamente. : A outra metade dos alludidos terrenos poderia ser destinada 4 produccao de cereaes, quaes 0 arroz, feijao, milho etc., bem como 4 forragem para o gado, em larga escala, plantando-se a luzerna, o capim, etc. Este ultimo producto é de grande importancia, do que da prova a Do INSTITUTO DO CHARA 185 pastagem verde, que se pode obter de béa qualidade du rante todo o anno nos terrenos irrigades, a qual nfo s6 é favoravel 4 criagdéo do gade em larga escala, como tam- bem pelos seus effeitos da incremente ao fabrico da man- teiga, do queijo para a exportacdo, augmentando alem disso a quantidade de estrume que ira utilisar o terreno, conservando assim o vigor das plantagdes e sua forca productiva. Esta metade de terrenos irrigados, accrescenta 0 mes- mo protissional, tomando o valor actual, néo preduziria menos do. quea primeira, porem, desde que parte do seu producto fique nos proprios municipios, podemos com'se- guranga dizer que renderia em dinheiro metade do que déssem os terrenos de algodfo, isto 6, cerca de 50e:0008 por anno. . Dessas consideragdes se segue que ‘o producto, em grosso, dos referidos terrenos irrigados pelas aguas do re- servatorio do Itacolumy seria de cerca dé 1.500 contos annuaes; deduzidas todas as despezas taes como: salarios a trabalhadotes, imposto d'agua; arrendamento de terras, custo de transporte, commissda aus negociantes etc., ter- se-hia pa media, um lucro liquido da terga parte do valor total, isto é, cerca de 500 contos. Supponho (é ainda o Dr. Revy quem continta a fal- lar) que. presentemente esses mesmos terrenos 140 dao a seus proprietarios lucro liquido de 1 conto de réis por anno. Servem elles para alimentar @ pequena populacao pobre que ndo se importa como futuro, e nada economi- Sa, € constituem na sua fmator parte pastagens naturaes para o gado. N&o existe alli agricultura: a falta de ins- trucga, de agua e de recursos financeiros a tornam im- praticavel, em terrehos alias fertilissimos. Todas essas considéragdes se baseam em caiculos fi- nanceiros de resultado importantissimo, que trard com- pensagdes, como de attenuar os desastrosos effeitos das seccas periodicas n'aquella parte da provincia, mas, que entretanto ndo pode ser representada poruma cifra exacta de contos de réis. Ainda que haja terra igual as mais for- tes, os alludidos terrenos com a irrigagao do reservatorio 186 REVISTA TRIMENSAL nada soffrerao, continuando a produzir- como nos annos normaes € mesino ternarse hdo melhores porque terido irrigagéo durante os 12 mezes do anno, ¢ néosé durante 4, como agora acontece - Como medida economica_o acude de ltacokumy ex- cede a qualquer outra que o Estado possa emprehender. Basta considerar que com © capital de 1.500 contos a produccdo da regiao irtigada attingiré a importancia equi- valente a elle, deixando para o Estado lucro superior ao que da a mais-rendosa estrada de ferro do Brazil». MINAS. : © municipio de Granja ndo é dos mais ricos do Esta- do em productos do reind mineral. Possue, no entanto, diversas minas, algumas ‘pouco conhecidas_e todas inexploradas. As principaes sto: No tboassi immensas nitreiras naturaes,—salitre ¢ christaes; na Ubatuba salitre e mica; ferro na ltatina, de propriedade do corone! Raymundo Fontenelle; mica e tal- co, que algumas pessoas entendidas suppdem ouro, no rio Coreaht, perto da cidade de Granja ¢ na Sambaiba, fazenda do sr. Lino-Telles de Menezes ¢ itmaos; sal gem- ma nos lagos e nas aguas de mar; silex para amolar e argilas para tijolos, telhas,. potes e jarros en: todo muni- cipio; carvéo de pedra, suppdem existir na po¥oacio do Chaval, onde. 9 coronel Raymundo Fortenelie tem feito diversas escavagdes devido a ter se encontrado no rio, perto da povoagao, muitos e. grandes pedagos do mineral GO sr. Alfredo Lamartine em um artigo intitulado Ja- zidas Mineraes, publicada no a.° 46d’O Rebate de 25 de Margo de 1911, que se publi¢a em Sobral, diz o seguint: : . * CURIOSIDADES Encontram-se poucas tmaravilhas naturaes dignas dé nota. Entre as que se destacam citamos as seguintes: As pedras do Chaval, entre as quaes a mais digna de admiragao é a pedra denominada das carnahubas, de cer- ca de ton metros de altura, no cimo da qual fica: um 188 REVISTA TRIMENSAL grande tanque arredondado de cinco metros de profundi- dade, onde crescem cerca de § seculares carnahubas, vi- siveis ha mais de 6 leguas, e donde descortina-se o mais bello dos panoramas. Os tanquesdo Chaval, bellas cisternas naturaes forma- das na cavidade de pedras evormes. Algumas dellas servem de deposito d’agua da chuva, para uso dos proprietarios ; as melhores pertencem ao capitao José Porfirio da Motta. No Pitimbu o local onde o riacho desse nome atra- vessa umg rocha, penetrando-a pela base em forma de orificia. A Egtejinha na serra do Iboasst Velho, formada por uma gtuta, que vista de perte tem a constructura de uma egreja. . A Pedra Grande na cidade de Granja, ¢ colosso que mais prendeu a attengao do ijlustre histortador Antonio Bezerra_em suas Notas de Viagem, fallando sobrea cidade. A Pedra Rachada, outro colosso que se encontra na estrada de Vigosa, a meia legua da cidade de (iranja. O boqueirdo denominado Pirapora perto de Ubatuba, fotmado na rocha, cortada por uma corrente de dois me- tros de largo e t40 profunda proximo da cascata que o melhor mergulhador ndo pode encontrar fundo. A furna do Periquara no rio Coreahi, que para pe- netrar-se nella é preciso mergulbar ¢ uma vez dentro en- contra-se luz e respira-se com facilidade. MADEIRAS A flora esta completamente devastada pelo braco do lavrador, que de anno em anno vae derribando a matta para dar lugar ao seu recado, pequena tavoura, geralmen- te de 100 bragas de terra quadradas e cercadas, onde efle atira no comego das chuyas as sementes do milho, fel- j4o, arraz, abobora, melancia e. alguma mandioca, para colher os fructos de Maio a Junho. Si bem que, em pequena quantidade, cesta ainda grande variedade em madeiras proprias para construcgao, marcenaria e tinturaria; algumas pouco cultivadas e ou- DO INSTITUTO DO CEARA 189 tras quasi a desapparecer, devido 4 escassez das chuvas € ao machado do lavrador. As principaes so: arueira, pav-d’arco_ gongalo-alves, pereiro, cedro, cumart, angico, violete, Garnauba, sabia, jacaranda, acende-candeja, inharé e sambaiba. Alem des- tas encontram-se ainda: jurema, oiticica, juazeiro, game leira, pau-ferro, canafistula, faveira, cupafba, marfim e ar. yore do sebo, Para tinturaria notam-se a catingueira, a coronha, a tassuna e o anil, FRUCTAS Asterras, si bem que fertilissimas, produzem, no eh- tanto, poucas arvores fractiferas, devido 4 falta de cultura O soio é 140 fertil que os pontos menos aptes para agricultura dao magnificas fructeiras, sendo cultivadas, nfo faltando as chuvas, Dentre as arvores fructiferas sio conhecidas : 0 caju, a pinha, a goiaba, o muricy, a. maagaba, a guabiraba, a ameixa, a pitomba, @ maracuja, de que ha trez variedades, a caja, o céco, o oity, a banana, 6 mamdo, 9 tamarindo, © jatoba, 0 tuturapé, o tatumbd, o araticun, a graviola, a manga, 0 tucum, a ubaia, a macaranduba, a carnadba, a melancia, a abobora, © gitgilim, o modubim, quase todos silvestres, e hortaligas que com pequesa cultura dariam em abundancia. As fructas que yao ao mercado, com excepgdo das pinhas do Pitimbu, todas vém geraimente da serra de Vi- gosa, a quatorze leguas desta cidade, conduzidas em cos- tados de animaes. : CRIAGAO DE GADO A principal fonte de riqueza € a: criagdio de gado vac- cum ecavallar; criam-se tambem ¢ em grande qnantidade 6 caprino, 0 lanigero é 6. suina; sendo parte consumido no municipio e parte expartado para o mercado do Para. Os primeiros gados vaccuns e cavallares que vieram para o norte do Estado, foram introduzidos em 1695 ou Igo REVISTA TRIMENSAL 1696 pelo padre Assenco Gago, superior da missao da ser- ra de Ibiapaba, quando se estabeleceu no fugar Guyraqua- tiara ou Yaraquatiara, hoje denominade Missdo, para ca- thequese dos indios Tabajaras e Tapuias da serra de Tabai- nha; e dahise foi espalhando a criagdo por toda zona circumvisinha em uma extenséo de cerca de 50 leguas em redor, onde os gados ainda ndo tinham sido introduzidos. Isto se deduz da petigago do padre Assencgo Gago ao capit&o-mdér Gabriel da Silva Lago, solicitando duas leguas de terra para criagdo de. gados para a Companhia, e do despacho de 2 de Setembro de 1716, documentos que passo a transcrever do original, que se encontra mo ar- chive da parochia. Petigko Do PaprE Assenco Gaco Senhor Capitao Mayor. Diz o Padre Assengo Gago da companhia de JESUS, Superior da misséo de Ibiapaba, que para a sya sustenta- ¢40 edo seu companheyro e dos mais missionarios que adiante succederem na dita misséo, como para ornato d’a- quella Egreja, !he seja necessario criar gados vaccuns e cavallares, sem as quaes cousas ndo se pode viver naquel- la serra distante do mar, e ‘semi rio algi visinho de cuja pescaria se possam alimentar, que por quanto na terra que a Mage que Rege foi seryido mandar demarcar para’. os indios se néo achdo pastos capazes de criar e elle sup- plicante a dez para onze annos tem situado uma fazenda de gados e bestas em o rio Camossi distante sete para oito leguas desta serra, em ponto chamado Guytaquatiara, ter- ras que achou devolutas e desapropriadas as quaes. elle as aproveitou e desempediu‘teduziido. apaz os gentios cir- cumyizinhos e senda os primeiros gados que em-distancia de sincoenta leguas entrarso a povoar aquelle sertao, e a cujo exemplo se pevoardo ao depois-as terras adeantes Pede assim the faga mercé* conceder em nome da Mag. que Rege, para sua sustentagdo, e dos missionarios e dos seus susecores, como tambem parao ornato daquella Egreja duas teguas de terra no sitio que acima faz menséo, DO INSTITUTO DO CEARA 191 em 0 rio Camossi, comessando no principio do sobredite posso Guyraquatiara uma jegua acima e outra pelo rio abaixo, com meia de largo para cada banda.—E, R. M.— Padre Assengo Gago. S. J. Despacho / Concedo em nome de S. Mag.e que REGE ao supli- cante as terras que pede para elle durante o tempo da sua assistigéo na missdo e depois delie para todos os mais que lhe succederem em diante na missio com condicio que née poderao, nem o suplicante, nem os mais vindou- ros vender, atheiar, trapassar, por titulo alg a qualquer owtra pessoa eserdo abrigados.a se demarcar no termo de dous annos e pagar dizimos a ordem de Christo, e o Es- crivdo esparse 2 sua data nafaxa deste documento ¢ estilo. Fortaleza dous de Setembro de mil e setecentos e seis. —Do Lago. Data . Gabriel da Silva da Lago, capitio Mér desta capita- nia do Siara grande e Governador da Fortaleza de N.S. da Assumpgio por S. Mag.* que REGE. Fago saber aos que esta carta de data e sysmaria vi- rem, que por parte do Rvd.¢ Padre Assengo Gago da Comp.* de yesUS, superior da missio da serra de Ibiapaba me representou'.a diser em sua peticao atraz corrente, que para sua sustentagdo e.dos seus companheiros, e dos mais missienarios que adiante |he sucederemt na dita missio, como para ornato daquelia Igreja the era necessario criar gados vacuns € cavalares, sem as quaes cousas nao po- desse viver naquella terra distante do mar e sem rio ai- gir visinho de cuja pescaria se possdo_ atimentar, que por- wanto na terra que,S, Mag: que REGE foi servido man- dat demarcar para 08 indios se ndo acham pastos capases de criar e elle suplicanté a dez para onze annos tem situa- do huma fazenda de gado e bestas em 0 Camosi, distan- te sete para ofto jeguas da dita serra, no -ponto chamado Guaraquatydra, terras que achau devolutas e desapropriadas 192 REVISTA TRIMENSAL. as quaes elle aproveitou e desempediu reduzindo apas os gentios circumvisinhos, sendo os primeiros gados que em distancia de cincoenta leguas entraréo a pavoar naquelle sertao, pedindo-me em nome de S. Mag.* que REGE lhe daga mercé conceder para sua sustentacdo e dos missio narios seus successores, como tambem para o ornato da dgreja duas leguas de terra no dito sitio, que acima faz mengao, que tem povoado 9 rio Camosi comessando no principio do dito ponto Gutraquatydra uma legua, outra para baixo com meia_ de largo para cada banda, e pelo servico que se faz a S. Mage que REGE em [he povoarem suas terras lhe dou e concedo em nome do dito Snr. as terras que pede para elle duranie o tempo da misséo e depois delle para todos os.mais que Ihe succederem em diante na misséo com condigéo que as néo poderéo nem 0 suplicante, nem os mais vindouros vender, alheiar, tras. passar por titulo alg a quaiquer-outra pessoa € serfo obrigados a demarcar no termo de dous annos, e lhe concedo a dita terra na parte declarada .em sua petigdo acima, e da maneira que pede e confronta com tedas as aguas, pastos, matos, testadas e mais uteis que nellas ouverem sem prejuizo de terceiro, das quaes pagarao di- zimos a ordem de Chrysto dos fructos que nella ouverem guardando em tudo sempre as ordens da Mag.* que REGE e so obrigados a dar caminhos fivres para a fonte, pon- tes e pedreyras, como tambem a povoar-lhes dentro no termo da Ley. Pelo que ordeno a todos os Ministtos da Fazenda ou Justiga a quem esta minha carta de data e sysmaria for apresentada em comprimento della lhe -dem a posse real, actual e¢ afectiva na forma costumada e se- Tao obrigades 2 manda-las confirmar, que para firmeza de tudo Ihe mandei passar a:presente por mim asinada e seliada com o signete de minhas armas, a qual se registrara nos Livros do Registro desta Capitania e se guardard e se cumprird tam pontual e inteiramente como nella se contem e sem duvida, embargo nem contradigao alguma. Dada e passada nesta Fortaleza de Nossa Senhora da Assumpedo em os tres dias do mez de Setembro. Ga- briel Gongalves de Carvalho a fez por auzencia de seu DO INSTITUTO DO CEARA 193 companheyro em ditas datas do anno de mil setecentos e 5e€]8. Estava o signete pregado. Gabriel da Silva do Lago. Carta de data e sysmaria pela qual vm. tem por bem conceder ao Revd. Ps Assenco Gago da companbia de JESUS superior da serra de Ibiapaba a terra que pe- de em sua peti¢ao na parte della declarada e pellos res- peitos nella declarados. Para vm. ver, ANIMAES DIVERSOS As mattas que foram ricas pela variedade de ani- maes bravios e de cagas saborosissimas, com os annos calamitosos, foram sendo devastadas pelos camponezes que faites de cereaes para manter a vida recorreram a caga de que viviam os nossos antepassados. A caga, o augmento da populagéo, a devastagdo das mattas e a escassez dos invernos tém sido as causas da decrescencia do reino animal edo desapparecimento de algumas especies. Entretanto encontram-se ainda algumas, taes como: a onga pintada, a sussuarana,o maracajd pintado, o ma- racaja mourisco, o vermelho, a raposa, o veado capoei- to, o porco do matto, o tatu (verdadeiro), o peba, a cu- tia, o macaco,a guariba, o saguim, o tamandua, © teju- assi, o furdo, o cameledo, o prea, o mucé e a jeritacaca. Estado extinctos: o tigre, o veado galheiro, o taman- dud bandeira, o tata bola eo -canastra, REPTIS Ha deiles muitas especies, sendo mais venenosos: a jararaca, a cascavel, a coral e a caninana. Sao menos venenosos: a de cipd, a de veado, a pa- pa-ova, @ de taboleiro, a preta, a verde e a vulgarmente conhecida como nome de duas cabegas. 194 REVISTA TRIMENSAL AVES E PASSAROS © municipio é riquissimo em aves e passaros. Por toda parte, tanto nos Campos, como 4 margem dos lagos ¢ dos rios 9 municipio ostenta a sua grande riqueza na- tural. Os passaros de bellissima plumagem e de canto admiravel existemi em abundancia. Dentre ainfinidade de aves e passaros destacamos os seguintes: Garcas, colhereiro, maranhao, guards, curicaca, pica- paus, beija-flores, anun, piritigud, sanbassu, vemvem, bemtivi, bico de Jatdo, jodo de barro, carcara, papagaio, siriema, patos, galinhas, capote, marrecas, pomba de ban- do, aza branca, currupio, gallo de campina, rola, sabia, azulao, graune, xexéo, canario, pintasilgo, patativa, gar- riga, cabouclinho, ciricora, cardo. socé, tucano, patarro~ aa, andorinha, abre-fecha, gaviao mariano, gavido pega- pinto, gavido preto, gavidosinho, gavido vermetho, pu trido, pica-peixe, tetén, fué, lavandetra, maria-besta, papa arroz, papa lagarta, papa-cebu, papa-capim, cancdo, facil verdadeira, jaci pema e buim. INSECTOS O municipio & rico em abelhas que produzem um * mel excellente ¢ medicinal. A principal é¢a jandahira que abunda em toda matta e que cultivada seria boa fon- te de receita, Alem da jandahira encontram-se: o urussu, a tubiba, o canudo, o cupira, 0 irapuda, o manoel de abreu, 0 mos- quito, a moga branca. Ha quantidade enorme de maribon- des, bezouros e outros insectos pouco venenosos. INDUSTRIA A industria fabri] vae ainda em atrazo como em todo Estado. Os productos de maior utilidade sio preparados como ha 50 annos. Os principaes sao; céra de carnau- DO’ INSTITUTO DU CEARA 195 ba, tapetes € chapeus de palha, farinha de mandioca, sal, sabao, lougas de barro, tijoles de alvenaria e de jadri- Tho, tecidos de redes, bordados, labirintos, rendas e bi- vos que sao de primeira ordem. Os tecidos sdo preparados em teares 4 mao, cujos pentes sfo feitos de talos de palmeira, A canna de assucar mao existe no municipio. O as- sucar ¢ impurtado de Pernambuco .¢ em parte da serra de lbiapaba, donde tambem se recebe a rapadura, 0 café, a farinha e cereaes. Os generos de primeira necessidade séo comprados no tempo da satrafpor pregos baratissimos ¢ exportados para o Estado do Pard, e mais tarde, no fim do verdo importados das pracas de Recife e Maranhao por precos avultados. A farinha de mandioca, por exem- plo, fabricada no municipio, comprase de 8$o000 a 108000 © alqueire de iGo litros, no tempo da safra, e em Margo vende-se a de Pernambuco de 18ou0 a 20$000. Na cidade ha tres. machinas a vapor de descarocar e enfardar algodao de propriedade dos srs.: Ignacio Xa- viere Ca, Joaquim Pereira de Oliveira e Filho, e Gou- veia, Irmao e Sobrinho. Consta que brevemente sera montada uma fabrica de tijolos e telhas, na Lagoa Grande, na cidade de Gran- ja, pelo cel. Felino Laurindo da Silveira, que ja fez para Londres pedido do machinismo necessario. No interior, principalmente no districte da Ubatuba, eticontram-se diversas machinas de descarogar e enfardat algod4o, 4 forga animal; e algumas fabricas de cortume. AGRICULTURA A industria agricola é digaa de lastima. Os tavrado- res, em geral, homens rusticos, nascidos no campo, sem a minima ideia do qué seja agricultura nda fizeram ne- nhum progresso ao fim de tantos annos. A toga faz-se ainda hoje pelo mesmo processo que em 1776, data em que a povoacdo de Macavoqueira ou Macaboquetra, foi a villa de Granja. 196 REVISTA TRIMENSAL Sobre o assumpto extrahi do Dr. Thomaz Pompeu, em seu estudo geographico Estada do Ceard na Expoxi- gio de Chicago, 0 seguinte topico : . «E’ certo que a pratica de destruir florestas para abrir rogas constitue a unica sciencia do aldedo, que des- de a infancia foi educado neste regimen. Sem estimulo para tentar outros processas, sem co- nhecimentos pata calcular a’ extensdo do mal que vae causando, sem exemplos a imitar, sem capitaes para ex- perimentar algum melhoramento que a propria pratica aconselhe, elle suppoe ter feito tudo e esgotado o esfor- go de que era capaz, quando devastou maior numero de bracas quadradas de arvoredo, e cercou-as grosseira- mente com estacas ou ramas escapadas do fogo. De instrumentos agricolas sé conhece a foice eo machada com que bate as mattas, a enxada com que abre os pequerios sulcos em que langa a semente. Os demais trabalhos agricolas limitam-se em preser- var as plantagdes do gado, que pasta em liberdade, e em extirpar as gramineas silvestres, que pululam apds a ca- pina. . O solo é ligeiramente esgravatado, ou cavado su- perficialmente para receber a semente, de modo que os saes putritivos que se acham na superficie sfo depressa gastos sem se renovarem com os das camadas infertores. A essa ignorancia das propriedades do solo, attribue a Bardo de Capanema o definhamento e morte da cut- tura do café no baixo Parahyba do Sul, ea ella se pren de o mal da canna de assucar em Pernambuco, segundo auctoridades competentes. Apenas revolvidas supertici mente ficam as camadas inferiores do solo inaccessiveis aos agentes atmosphericos necessarios 4 vegetagao. Por outea lado, a terra, ora cultivada por uma sé especie vegetal, como a canna de assucar, 0 café e o al- goddo, ora entregue ao pousio em capoeiras agrestes, vae perdendo todos os principius nutritivos, sem que a indus tria lhe venha em auxilio com adubos e machinas. As terras se tornam cansadas, como vulgarmente se diz, depois de alguns annos de trabalhos, e como inipres- DO INSTITUTG DO GEARA 197 tavels sia desamparadas por outras mais longinguas, que por seu turno tambem se esgotam. Embora a grande extensdo da propriedade rural, seu roteamento vae cada anno se tarnando mais restricto e despendioso, ndo sé porque as terras de lavoura vao ficando imprestaveis pelo cansago. como pelo afastamento das laboradas fora das vistas do proprietario, pela necessidade de novas cercas ou valiados que as preservem das incursdes do gado solto. Ao passo que o custo da produccio augmenta com despezas de cercas, vallados, rocagens, destocamentos de Novos tratos, transporte de cereaes até a fazenda, vigi- lancia das plantagdes affastadas, as vantagens minguam pela baixa universal de taes generos e mui particular. mente pela concurrencia de productos similares nos mer- cados consumidores a pregos inferiores, que affastam qualquer competencia, Por ora esse mal apenas se fez sentir em alguns generos, dos chamados coloniaes; em breve elle se alar- gard ferindo a todos os que constituem a nossa riqueza agricola. . Enem sera de surprehender semelhante aconteci- mento, stbendo-se que por toda parte esta industria se aparelha com todas as armas fornecidas pela sciencia para ndo suecumbir na lucta da concurrencia. 4 Nos Estados Unidos da America do Note sé as ma- chinas de ceifar effectuam o trabatho de alguns milhdes de bragos, e representam uma economia annual de 100 mil contes; um illustre agronomo calcula que para se fa- zet este servigo manualmente seria preciso que a gran- de republica possuisse 6 vezes mais populagéo do que tem.» O municipio de Granja prodez com fertilidade milho, feijao, arroz, mandioca, al¢od4o, batatas, melao e mélancias. Fazse ainda plantages de fumo, mapigoba, cap, pi- nha, mangas, coqueiros, fructas e hortalicas. Calculando se em 800 0 numero de rogados de toda comarca de Granja, néo mencionando os termos de Pal- mae Camocim,e tomando por base que cada ro¢ado 198 REVISTA TRIMENSAL produza 5 alqueires de milho, 3 de feijfo, 2 de arroz, to de farinha e 10 arrobas de algod4o, teremos © se- gninte resultado : 4ooo alqueires de milho a 9$o00 . 36:000$000 2400 > » feijio a 88000 . . 19:200$000 1600 » » arroz a to$oco . 16:000$000 8000 » » farinhaa 9000 . . 72:000$000 8000 arrobas +» algoddo a 12$000. . _96:000$000 : Toral 239.200 $000 Para avaliar-se o producto annual da cera, basta multiplicar 0 numero de districtos, que é 6, por 1000, numero minimo de arrobas que pode produzir cada dis- tricto; teremos o producto de 6000 arrobas, que vendi- das a 20$000 perfazem o total de 120:000$00 de réis. “COMMERCIO © commercio quando nao va diminuindo lentamen- te, estacionou com a passagem da Estrada de Ferro de Sobral e desenvolvimento da cidade de Camocim. O seu credito, entretanto, é recommendavel pela completa ausgncia de fallencias. A imp@ffagdo que consiste em fazendas geraes, es- tivas, fertagens ¢ mercadorias diversas, é feita, pelo porto de Camocim, com as pragas de Fortaleza, Recife e Ma- ranhdo. A exportagdo consiste em algodéo em pluma, sola, couros salgados, chiftes, pelles de bode € de ovelha, fa- tinha de mandioca, milho, feijio, arroz, fumo, azeite de mamona, cera de carnatiba, chapeus de paiha, canga- lhas, tapetes de palha e vinho de caja. Existem diversas casas commerciaes acreditadas, de avultadas transacenes, sendo as maiores e mais importan- tes as dos srs, Ignacio Xavier e C.», Joaquim Pereira de Oliveira e Filho, e Gouveia, Irmao e Sobrinho, que importam directamente da Allemanha. Sdo firmas importadoras as seguintes: Do INSTITUTO DO CEARA 199 A. Gouveia ¢ Filho, Napoledo Soares ¢ Silva, José Elyas da Costa, Jodo Porfirio da Motta, Francisco Mar ques de Oliveira, Francisco Ferreira Porto, José Igna- cio da Fonseca, Salustiano Passo, Zeferino Gil Peres da Matta, José ildefonso de Carvalho e Francisco Eras- mo de Vasconcellos. RENDAS MUNICIPAES 1904. : . : + 10:707$275 1905. : : . : 71268099 4906. . . . . 8:373$910 1907 . . . : 9:615$720 COLLECTORIA ESTADOAL 1904 . : : . = 20:4539895 1965 . . . . 2. 22:3728528 1906. : : : 2 2g: 2 008316 1907. . ww. 28:94 1 $245 COLLECTORIA FEDERAL 1904. se 103 58435 1905 . . . : . 1014708780 1906 . : : 8:891$465 1907 see. 77208743 VIAS DE COMMUNICACAO Alem da Estrada de Ferro de Sobral, que poe o mu nicipio em relagdo com o porto de Camocim eo interior do Estado, possue duas estradas de rodagem, a de Vigosa e a da Palma, pessimamente construidas. O transporte de mercadorias pata essas paragens faz- se por meio de comboios, e t&o diffici] e com tanto custo, que quando chegam ao seu destino tem-se vencido um processo, . Com a cidade de Camocim ha a navegagdo fluvial, 200 REVISTA _TRIMENSAL pelo rio Corea, feita por candas, que vencem em cinco horas a distancia de sete leguas, que separa as duas ci- dades. Uma estrada de ferro que ligasse a cidade de Vigosa a de Granja seria um servicgo colossal, de maxima vanta gem para umae outra zona; nfo sé facilitaria e desen- volveria o commercio e a agricultura de todaa serra de Ibiapaba, mas seria um grande impulse ao desenvoivimen- to material de Granja. «Extraordinaria importancia, diz o dr. Alvaro de Alencar nos Apontamenios para a noticia da comarca da Vigosa, dard a Vigosa um ramal de estrada de ferro que ligue a Granja ao povoado incipiente Tubardo, pertencen- te 4 comarca de Vicosa e que demora ao pé da grande erica Ibiapaba sobre a qual esta aquella cidade. . © referido ramal, por si'sé, traré grande rendimen- to Aquella via-ferrea; ‘estabelecido esse trecho de estrada desapparecerd o transporte de generos entre'a Vigosa e a Granja em costas de animaes, transporte este que ¢ ca- rissime ¢ que absorve quasi tedos os lucros, que poderiam ser auferidos». . (Contintia).

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