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CARTAS DO GENERAL GOIS MONTEIRO AO CHEFE DO GOVERNO PROVISORIO, GETULIO VARGAS A matéria reproduz publicagio do Esta- do-Maior do Exército editada pela Imprensa Militar, datada de 1934, sob o titulo: Cartas ao Exmo. Sr. Chefe do Governo Provisério. A publicagio divide o seu contetido em trés t6picos: Introduedo, Politica de Guerra © Problemas do Exército. Nesta edigao estamos reproduzindo 0 primeiro deles. Introdugio Prezado Dr. Getiilio: Pode acontecer que, proximamente, V. Exa. se veja na necessidade de comecar a introduzir profundas mudancas nas coisas relativas ao Ministério da Guerra, confor- me a troca de idéias que V. Exa. jd por vari- as vezes teve comigo. Essas modificagées devem atingir a Alta Administragdo como um primeiro passo dado, no sentido de colocar nos térmos mais favordveis os problemas relativas & Defesa Nacional, segundo wm plano racional e pro- gressivo de organizagdo militar do Pats, desde os seus fundamentos essenciais até as questoes de ordem mais superficial, dentro dos imperativos da situagdo criada pela Re- volugdo e das previsbes mais admisstveis em relacao ao futuro da nacionalidade. ¥. Exa. que foi investido, por fora dos acontecimentos histéricos, da maior soma de poder e de responsabilidade de que nin- guém dispds, no Brasil, apés a nossa eman- cipagao politica n&o desconhece as dificul- dades enormes e crescentes que véo pertur- bando e pondo em perigo a existéncia da Nagao. E ocioso relembrar as causas acumula- das e determinantes da nossa instabilidade politica e os fatores que mais predominam na depressito senstvel e acentuada da nossa economia. O descortino com que V. Exa tem situa- do e focalizado a nossa crise interna ~ do ponto de vista moral, material e espiritual ~ dispensa-me de estabelecer aqui as relagoes intimas e espectficas que ligam, nas diferen- tes fases do passado e no presente, 0 nosso sistema militar, sempre defeituoso e deca- dente, ao sistema de nossa vida coletiva, tao cheio de amargores e contradigaes. As medidas que 0 Govérno Provisério poderia ter empregado, para mudar a face das coisas, logo apés a vitéria do movimen- to revoluciondrio —detiveram-se em presen- ca de interesses ¢ circunsténcias entrava- doras que, no momento e até agora, vao com- prometendo a sorte do Brasil. Os obstdculos de cardter politico e pes- soal que se levantaram para impedir as ini- ciativas reformadoras —esperadas com ner- vosidade por toda a extensdo do Pais — fo- ram tdo sérias e poderosas, que V. Exa., melhor do que ninguém, sentiu os efeitos, pois em no poucas ocasides teve de ver baldados os seus esforcos para quebrar as resisténcias apresentadas, que se tor- naram assim invenctveis, obrigando 0 Govérno a retroceder nos propdsitos de procurar wna nova e sélida organizagéo do Estado. V, Exa. ndio teve outro recurso sendo apelar para 0 proceso classico do libera- lismo moribundo, convocando a reunido de uma Assembléia Constituinte, composta de representantes de fagdes partiddrias e de faces profissionais, com 0 cardter comum que possuem ésses corpos deliberantes he- terogéneos. 162 Revista do IGHMB — Ano 58 - nt 84/98 DocUMENTes Ora, nos momentos de crise aguda ou permanente, a experiéncia de outros povos mais civilizados do que o nosso tem demons- trado, sobejamente, os resultados mediocres —e algumas vezes mesmo dispersivos e per- niciosos — da agéo de corpos legislativos dessa natureza. Como tudo 0 mais, as Constituigoes ¢ as leis sé valem pelo que elas sdo capazes de produzir, no terreno da realidade palpitante em que vivem as coletividades orgdnicas, que elas disciplinam, cobrem e protegem, e, fora disso, as limitagdes ao poder do Estado cau- sam mais males do que bens. A Revolugdo Brasileira esta deixando de ser Revolugdo, porque mantém os vicios ¢ as ligagdes do passado em proveito da par- te minima da sociedade contra a parte res- tante, asfixiando as energias da popula- edo brasileira e as forcas vivas, provocan- do 0 desdnimo, as incertezas, as decep- ges e as desconfiancas na atuagdo go- vernamental. A falia de objetivo politico definido e claro, motiva as oscilagées e as confusées de idéias, impedindo que se tome uma dire- do certa e precisa, escothida entre as inti- meras que se poderiam escolher, A auséncia dessa idéia diretriz favorece @ atuacdo reaciondria conservadora e as exploragées e agitagdes mais profusas ex- tremadas e desordenadas. Ora, 0 declinio da autoridade acarreta as maiores divergéncias e desmoralizagao, e priva-a até de forca material para agir nos momentos precisos. Quem é capaz de dizer qual 0 objetivo da politica nacional durante o pertodo re- publicano? Si acaso algum sofista abalizado preten- der, por meio da fraseologia de efeito, de- monstrar o aleance dela, em sentido positi- vo, 08 fatos séo muito clarividentes para dementt-lo facilmente. E que busca a Revolucao de 30, apés tanto tempo perdido? Ninguém poderd res- ponder com exatidao. O que esté penetrante na consciéncia coletiva é 0 seguinte: — quasi que jd se chega a negar, silenci- osamente, um ideal brasileiro, afirmando- se idéias particularistas, e, assim, caminha- se insensivelmente para o desaparecimento do Brasil, que, como Patria, é fisicamente con- cretizado em uma expresso geogréfica, mas tendente a dividir-se, porque, espiritual e mo- ralmente, vai deslizando para ser uma som- bra de Patria, si prevalecer tal mentalidade. De nada valem as manifestagées exte ores e platonicas de patriotismo, si elas nao so confirmadas pelo sacrificio de quaisquer interesses em proveito dos interesses reais do Brasil, que sdo supremos, e pelo senti- mento ideoldgico interior de engrandecer a Nagao. Diante déstes, os demais deviam ceder, até mesmo se desfazer; mas, 0 que se ve é justamente o contrario, pois as necessida- des nacionais vao sendo cada vez mais recalcadas em presenca de necessidades re- gionais e individualistas. ‘NGo hd, portanto, uma politica verdadei- ramente nacional, aferida para realizar um destino nacional, declarado e patente, que 36 pode ter por base a unidade, pela unido perpétua ¢ indissolivel das partes compo- nentes, O que se verifica, porém, & medida que se avoluma o complexus das nossas ques- t6es internas, é a ficgdo do dispositive da constituigao republicana, letra morrente em presenca dos fatos que se consumam dia a dia, inclinados e prenunciantes da decom- posi¢do. Rlovista do IGHMB — Ano 58 — n* 84798 163 A potencialidade do Brasil-Nagdo redu- ziu-se em proporedes bem desvantajosas e desconcertantes, comparativamente a de outras Nacées do Continente, que teem sus- tentado ou atravessado situagées tao difi- ceis como a nossa. Mas € que a América Espanhola, ao li- bertar-se do jugo estrangeiro, passou pelas vicissitudes proprias de cada nacionalida- de que se formou, dentro do espirito de uni- dade ou semethanga de raga, de lingua, de religido e mesmo de costumes, iradigdes, etc., mas em territrios diferentes, com inte- resses oponentes umas as outras, separan- do-se em diversas Nagdes que ainda se hostilizam. A formagéo do Brasil, em ori- gem, antepondo-se ao do resto da Sul- América Latina, fez-se com outras carac- teristicas histéricas e geogrdficas e a sua unidade politica permaneceu subordina- da aos fatores unitivos que ndo foram destruidos na monarquia, mas que a Re- ptblica tem sistematicamente solapado, com base no regime regional-caudilhesco, disfargadamente chamado de democrdti- co-liberal. Na verdade, queremos ser ridiculamente pais vanguardeiro, na linguagem estradeira e deshonesta de politicos e negocistas, quan- do néio passamos, realmente, de um Estado tedricamente adiantado e praticamente dos mais atrazados, com os paradoxos que ali- mentamos. Como se apresenta o Brasil na quadra atual, orgdnicamente? a) Uma Federagao de Estados (?) desi- guais, heterogéneos nas suas condigdes de administragdo, de riqueza e de latitudes. A opiniéto piiblica ndo se organiza correspon- dentemente & Unido, ao Todo, e, sim, segun- do as conveniéncias das partes. A deturpa- Go do regime republicano-democrdtico criou quistos, aberragdes e doencas incurd- veis — entre elas as numerosas organizacoes oligdrquicas, regionalistas, as quais se ar- rogam o direito de governar o pais, torcen- do os seus destinos, jogando a sorte da Na- ¢do, no meio das suas lutas sanhudas, riva- lidades, apetites faciosos, de que provém constante ameaga & integridade nacional. 4) A massa da populagdo rural qudsi que uniformemente empobrecida, ignorante jacente & mercé das mais igndbeis explora- goes, deseducada e infeliz. A massa agra- ria, sobretudo, nem um leve aperfeigoamen- to experimenta nas suas condi¢des semi-feu- dais, O operariado urbano, insatisfeito, mal orientado e sabotado. O trabalho, desorganizado, dando pro- ducéo insuficiente e precdria. A economia em crise ameacadora, pois a agricultura fe~ nece e os campos so abandonados e as in- diistrias ndio suportam a concorréncia e sao sujeitas ou pertencem a concessies estran- geiras. A corrida para os centros urbanos € para as posigées burocrdticas excedem as expectativas. O decréscimo das possibilida- des choca-se com a alta do padrao de vida e das necessidades coletivas. O Govérno Pro- visdrio, empenhando-se em melhorar a moralidade administrativa e em reformar certas instituigoes do Estado, inclusive a justiga, $6 conseguiu um saneamento parci- ale precario de elementos indesejéveis, nao pode ainda por em ordem os orgamentos eo funcionamento dos servicos priblicos, nao pode atenuar as dificuldades da vida prole- tdria urbana e rural, nem satisfazer a pe- quena burguezia. A média e a grande burguezia, ameacadas, ndo mostram dispo- sigdes para conceder — e, dominando a po- litica-partidarista e bancéria, as indiistrias, 0 comércio e a agricultura ~ nao facilitam voluntariamente a ingente tarefa do governo, 164 Revista do IGHMB - Ano 58 w* 84/98 que s6 tem intervido fracamente, na vida econémica, dentro dos antagonismos exis- tentes enire os Estados federados mais for- tes e dentro nos préprios Estados. As classes mais cultas, présas a teorias do século passado, demagoga e prenhe de um espirito juridico incompdtivel com o fato brasileiro. A justica s6 atinge o pobre, que se degrada, perde o espirito de nacionali- dade, para viver, errante, na treva, ou au jour le jour, para ganhar a soldada que Ihe ofe- rece uma servidéo qualquer. Massa embrutecida e submetida a ser- vidao. Elite envilecida, parasitdria e explo- radora. Disso resulta uma mentalidade aca- nhada, esireita, degenerada. ¢) A seguranca nacional havia de, pri- meiro que tudo, ser 0 alvo do enfraqueci- ‘mento resultante da diminuigdo e apodreci- mento das forgas propulsoras do Pats. Des- cemos, assim no conceito universal e no con- vivio sul-americano, a um nivel quasi de sinesismo, que nos coloca ao alcance dos golpes imperialistas, logo que uma oportu- nidade se ofereca. A revolucdo devéra, em prinetpio: = fortalecer ao méximo o espirito de nacionalidade; ~ regular a vida econdmica do Pais, de modo a impedir 0 coldpso na nossa produ- edo e aumeniar a nossa riqueza; = refundir as instituigdes do Estado Bra- sileiro e sanear a administracdo geral, até conseguir aqueles objetivos. Para ésse fim, logo que 0 Govérno Re- voluciondrio assumiuo poder, deveria, apoi- ado na forca armada, tratar imediaiamente de revolver du fond en comble a organiza- ¢do nacional, para assenté-la em bases mais bocumenros seguras, imprimindo toda a velocidade as reformas econ6micas, politicas administra- tivas, culturais e militares. A organizagao da opiniao piiblica deve- ria ter sido o objeto primeiro de forte orga- nizagdo partiddria — um partido social-na- cionalista que fornecesse quadros vigorosos para os diferentes drgaos e instituigdes do Estado e guiasse as massas com méo firme para o desenvolvimento da produgdo e para a coordenagéo das forgas vivas da naciona- lidade, destruindo a rotina e os preconcei- tos politicos-juridicos e os vicios das anti- gas fagoes regionalistas que deveriam ter desaparecido. Paralelamente, os elementos de seguran- ca do Govérno e do Estado ~as forgas mili- tares ¢ as policiais — deveriam ter sido ele- vadas ao mais alto grau de eficiéncia, pela disciplina, pelo bom enquadramento, pelos conhecimentos técnicos, pelo aparelhamen- to material. Assim, as tropas repressivas e os érgdos preventivos, combinados com a justiga rdpida — colocariam a autoridade a coberto de qualquer tentativa, e a Revolu- ¢Go poderia marchar livremente, restabele- cendo a trangqiiilidade, o trabalho e a coo- peracdo geral de todos pelo engrandecimen- to do Pais. ‘As medidas complementares necessdri- as G unidade de vistas e & formagdo de uma mentalidade nova e enérgica, em térno do ideal nacional, como sejam a educacdo sis- temdtica do povo, a orientagdo vigorosa da imprensa e dos outros meios de propaganda e de educacdo e a maior extensGo aos servi- cos piiblicos, inclusivamente os das zonas rurais — nao tiveram a impulsdo deseja- da; e as transigéncias do Govérno, em face das pressbes que the tolhiam os movimen- 10s, permitiram o desencadeamento das reacées contra a obra de grande enver- Revista do IGHMB - Ano 58 n" 84/98 165 gadura para a reconstrugio € o reergui- mento nacionais. No desdobramento que a atualidade en- cerra, a situagao estd subordinada as ma- nobras partiddrias, sobretudo tendo como centros de atragdo ¢ de diregao das fagoes dominantes nos Estados mais importantes da Unido, e claramente se desvendam no senti- do de restabelecer o statu-quo ante Revolutione. Eacontra-Revolucdo branca; e equiva- lente dizer - é a negacao da Revolucao. As correntes que se desmascaram na Assembléia Constituinte e fora da Assem- bléia néo se afinam em outro tom, e refinam em conduzir os trabalhos parlameniares para aquele final. Do que jd se vai eshocando, através das sutilezas dialéticas e das afirmagées conhe- cidas —néio haverd outro remédio sendio acei- tar uma Constituigdo nos moldes ¢ na es- séncia da de 1891. Nao se pode discernir, em campo opos- to, uma forca efetiva capaz de contrariar designios tao legitimamente reconhecidos e representados como fruto da democracia-li- beral. O recurso, entdo, é curvar-se d apre- goada soberania do povo, contra 0 proprio. povo, @ denominada soberania da Nagéo, contra a propria Nagao. E do destino das Nagées suicidas, Fora do campo propria- mente partidério, existem as forgas arma- das, cujas funcdes s6 sdo passtveis de dupla interpretagao na Repiblica Brasileira. Em qualquer outro pats do mundo, ndo séio cer- cadas das prevengdes e confusdes, tao abun- dantes no Brasil. Nao é 0 caso, porém, de se prever a in- tervengao delas nos negécios pertinentes a Assembléia Constituinte. Essa intervengéo seria indébita, contraproducente dissolvente e talvez fatal. Para o bem delas e da Nagéo—0 melhor partido a tomar seré ndo apresentar sinto- mas de nervosidade e de precipitagdo, con- tando, porém, que permanecam alertas ¢ dispostas ao ataque, quando o inimigo inte- rior ou o externo mostrar as suas garras. Eis toda a questdo. Questiio delicada, dificil, perigosa—con- {forme o prisma por que for encarada ~ ne- cessita, a bem da salvacdo publica, ter uma solucdo brasileira, sem perder de vista que, estruturalmente e no que concerne a finali- dade das forgas Armadas, ela nao pode ser tratada de modo diferente, nem se afastar, em suas linhas mestras, do que acontece no resto do planeta. O Exército moderno repousa em bases politicas fixas, para ser 0 instrumento de ‘forca da Nagao e dispor dos 6redos téeni- cos capazes de enquadré-la, na eventualli- dade da mobilizagdo. E é, assim, o instru- mento de agao politica nacional resolutivo das questdes que a esta interessam, quando falham outros recursos ow quando convém empregar a violéncia justificada, como me- dida extrema e salvadora, sem atender a con- sideragdo de outra espécie. Além das bases politicas, e a elas inti- mamente présas, as circunstancias geogra- ficas sto as que mais poderosamente influ- ‘em no aparelhamento militar de um pais, cujas possibilidades industriais, agricolas, culturais, de comunicagdo, etc. — so fato- res decisivos para a avaliacao da poténcia de cada um, e déles o primado do elemento homem, pelo valor energético que represen- ta, ainda é inconteste. ‘Na futura guerra — as surpresas aéreas, eletro-quimicas e de mecanizagdo podertio exceder a qualquer previsdo. Nao é sem apreensées que um Estado fraco e desprovi- do de meios industriais ¢ de técnicos-espe- 166 Revista do IGHMB — Ano 58 - n* 84/98 DOCUMENTOS cialistas deverd sentir a iminéncia de um conflito armado. ‘Nenhum, porém, estard apto a empreen- der com facilidade a organizacao militar conveniente as necessidades de sua defesa externa, sem principiar por uma sdlida or- ganizacdo interior. Quer o grupo das grandes poténcias, quer o grupo das poténcias médias e meno- res — satélites ou ndo das primeiras ~ néo desdenham preocupagdes maiores, para ou- tros fins, que ndo sejam no sentido da Segu- ranga Nacional, em todos os aspectos pre- mentes desta. Todos os Exércitos e Marinhas sGo man- tidos, de uma maneira geral, para combater no primeiro choque os inimigos internos € externos, quando éste surgem contrariando os interesses nacionais, e preparar o resto da Nagdo afim de tomar parte na guerra. A doutrina de guerra de cada um, entdo, abrange nao somente a preparagdo total da Nagao, mas a conduta das operacdes afim de atingir 0 objetivo politico visado, aten- dendo sempre @ hipdtese mais perigosa. O Exército Soviético prepara-se igualmente para atacar 0 Japdo no Oriente e os povos limitrofes no Ocidente, instituindo aconcep- ¢iio doutrindria com os processos e méto- dos proprios para provocar o éffrondement das poténcias rivais pela deflagragao — corrupedo interna das revolugées sociais, inclusive atirando o liberalismo contra a religido. Por sua vez, 0 Exército Japonés toma pé no Continente Asidtico para a even- tualidade de langar-se contra os russos & Ievar a sua expansdo para além do que jd alcancou como uma necessidade vital do desafogar a vida insular comprimida. As (forcas armadas norte-americanas manteem a Federacao, isto é, a Unido —e esto apias a intervir sobre as dguas e nos Continentes, onde os interesses nacionais reclamarem 0 emprégo delas. O mesmo acontece com 0 Império Britdnico e, mutatis mutandis, com as demais poténcias. Enfim, so as necessi- dades econdmicas e imperialistas ea capta- ¢do de maiores vantagens que obrigam as Nagées fortes a conservar, pela forga, 0 do- minio moral, material e espiritual sobre as outras mais fracas e desprevenidas, masca- rando-o ou ndio, sob um disfarce ou pretexto qualquer, que a politica colonial delas sabe engendrar, logo que as circunstancias exi- gem e a oportunidade se torna favordvel (concessées, revolugdes, pronunciamentos, ete.). O Brasil nao esta livre de ser envolvido, contra a sua vontade, em algum conflito ar- mado. Infelizmente, as suas condigées séo extremamente graves para enfrentar uma eventualidade dessa ordem. O regime passado, ndo servit para ou- tra coisa sendo para diminuir, até um limite minimo, 0 seu poder militar terresire, naval e aéreo; ¢ a politica interna 86 tem feito a obra de divisdo e dissolugdo do Exército, com receio déle embargar-Ihe os passos nos propésitos dominantes nos seios das orga- nizacées partiddrias regionalistas, que nao admitem a existéncia de partidos nacionais, para melhor se assenhorearem dos destinos do Pais em proveito da permanéncia delas no poder: De outro lado, como acontece universal- mente, desde longo tempo, as instituigdes militares sGo trabalhadas continuamente por {forcas invisiveis, por agentes dissociativos internos e externos, com o fim de corroer- Ihe os fundamentos, pois sdo o objetivo pri- meiro a apreender ou a destruir nas lutas sociais de aspecto internacional. O Exército e a Marinha teem assistido impassiveis; ou jogando as suas partes umas vista do 1GHMB — Ano 58 — nF 84/98 167 contra as outras, & obra de dissociagdo na- cional, impotentes, até agora, para evitd-la, ou mesmo contribuindo inconscientemente, pela atitude dissidente de elementos de suas {fileiras, para apressé-la. A incompreensdo notéria da maioria dos estadistas e dirigentes do Pais, em todos os graus, ea incultura nacional ndo deixam ver claro uma situagao que agora transparece por tras da cortina em que tem sido enco- berta com céres bastante carregadas. O que tem acontecido, apés 0 advento republicano, do passa de uma continuada questdo militar, vencendo estddios sucessi- vos, prenunciadores de um remate sombrio. A luta empenhada entre as fagées regionalistas e o Exército néo pode ser mais escondida. E, talvez com os resultados dos trabalhos da Constituinte ela possa subir ao zenite. Ou se cria um espirito novo, dentro de uma organizagao nacional nova —ou o Exér- cito e a Marinha perderdo a razao de ser dentro das contingéncias que vio sendo c adas propositadamente com aspectos vai os para subverté-los e consumt-los, Cérca de 20 anos, a Marinha de Guerra vem-se afundando com o seu material tra- gado pela imprestabilidade irremesstvel. O Exército vé-se acuado de todos os lados — impotente para assegurar 0 equilibrio durd- vel que a existéncia da nacionalidade exige, definhando aos golpes repetidos que 0 véo esgotando até prosté-lo definitivamente. Este quadro, realmente pessimista, é a obra da politica particularista que tem con- duzido 0 nosso destino. O Exército tem cul- pa de oferecer os flancos aos botes por ela langados; mas € hora de advertir a todos dos perigos que corremos. ¥, Exa. perdée-me que eu me haja ex- pandido por esta forma para preceder uma exposigdo de cardter profissional. Mas, an- tes de abordar 0 assunto privativo que me tras d presenea de V. Exa. ndo the quiz ocul- tar algumas apreensdes graves que me as- saltam o pensamento, desde muito tempo. As observagoes e reflexbes que adiante escreverei, despreocupado de método, terdio por fim esclarecer V. Exa. sébre os pontos de vista dentro dos quais distingo os proble- mas gerais do Exército. Queira V. Exa. receber as minhas escu- sas por lhe tomar a atengéo com um docu- mento tao longo, onde, entretanto, sem ex- cesso de imaginagdo, desejo néo omitir nada de importante sobre as condigdes do Exército, no limite dos meus conhecimen- tos e das possibilidades e alternativas do momento. & “Os vencidas sao os que aceita: 3 Charles de'Gaulle i ama derrota.” * & “O que devemos temer 0 medo.” _ Franklin D. Roosevelt 168 Rovista do IGHMB — Ano 58 ~ a? 84/88 DOCUMENTOS 1, CARTAS DO GENERAL GOES MONTEIRO AO CHEFE DO GOVERNO PROVISORIO, GETULIO VARGAS (Conclusio) A matéria reproduz publicagio do Es- tado-Maior do Exército editada pela Impren- sa Militar e datada de 1934 sob o titulo: Car tas ao Excelentissimo Senhor Chefe do Go- verno Provisério. A publicacao divide 0 seu contesido em us picos: Introducdo, Politica da Guerra e Problemas do Exército. Na edicio 84/98, reproduzimos 0 primeiro deles. Nesta edi- fio estamos reproduzindo os dois seguintes.* Politica da Guerra 1. Um pais como 0 Brasil, de orgamen- tos irregulares, exiguos e deficitarios, dis- pondo de fracos recursos industriais, ¢, por isso mesmo, obrigado a aquisigdes nume- rosissimas nos mercados estrangeiros, nao pode pensar em politica armamentista. Seria trair as regras do bom senso, e pre- judicar enormemente o desdobramento do progresso nacional, adotar um procedimen- to que se tornaria suspeito aos paises viz nhos, com os quais vivemos em coneérdia, © que ainda seria ruinoso e ilégico para a organizacfo e reerguimento da prépria eco- nomia interna, Uma politica que fosse baseada, de pre- feréncia, na necessidade do armamentismo, @outrance, fracassaria ruidosamente, em vi: * adotamos a grafia atualizada, ta da impossibilidade mesma de realizé- la, nas condigdes em que nos achamos, se outros perigos nao nos acometessem em segui-la. B, entdo, contra-indicado exceder 0 minimum que a prudéncia nos aconselha para nao permanecermos em estado de im- poténcia, diante da eventualidade de uma guerra. Admitindo que a situacio interna possa estabilizar-se dentro de um breve prazo, e 0 trabalho nacional possa ascender a um nivel lisonjeiro de producio titil, como determi- nar esse minimum? O problema é simples ¢ transcendente ao mesmo tempo, tal seja a politica da guerra resultante das conclusdes extraidas de hips- teses sobre a eventualidade de um conflito pelas armas. Em virtude dessa politica é que se esta- belecem, dentro de uma doutrina de guerra. as bases e a orientagio da preparagdo geral da Nagiio para a guerra, sob o triplice aspec- to moral, material e técnico; e essa prepara- Gao abrange a totalidade da atividade da vida coletiva, pois que a questio da Seguranga Nacional prima sobre tudo 0 mais, exigindo © maximum de recursos, em caso de mobilizagio. Das circunstancias, varidveis no tempo no espago, para contar-se com o rendimento ¢ opotencial completos daquela preparacao, no Momento oportuno, é que deriva a politi- ca militar, isto €, 0 potencial de paz. traduzi- do na organizac&o normal dos efetivos das foreas de terra, navais e aéreas ¢ das suas reservas, para atender as necessidades de execucfio de um plano de guerra, originado 136 Ravista do IGHNIB — Ano 59 - n* 65/99 como primeira expressio da prépria doutri- na de guerra. ‘Sao as contingéncias da geografia fisica e humana os fatores mais importantes na politica militar (efetivos; comunicages; mei- ‘os de mobilizagio e de transporte; instrugio e espfrito das massas; recursos industriais, agri- colas, financeiros, culturais ete.). Um pats como o Brasil, cujas dificulda- des geogréficas sfio evidentes, ficari em con- digdes de inferioridade flagrante em face de um inimigo eventual que possa pér em li- nha, com maior rapidez, a totalidade dos seus meios, embora disponha este de menor po- pulagiio e de menores recursos em relagio aos nossos. Dafa necessidade de possuir o Brasil um exército de primeiro choque, bem armado e equipado, e capaz de opor-se a um ataque brusco e permitir a mobilizacdo geral sem perturbacdes desmoralizadoras, e de forgas navais e aéreas, também capazes de assegu- Tar as nossas comunicagées e liberdade de movimentos. A conduta da guerra 6, entdo, subordi- nada a objetivos politicos determinados pe- los governos dos Estados. No Brasil, causa estranheza e alarme fa- lar-se em politica da guerra, segundo os prin- cfpios universalmente reconhecidos e ado- tados pelas nagdes civilizadas. Fere as cordas da nossa sensibilidade exagerada, contradiz os propésitos postigos da nossa cultura de fachada, provocando os melindres do nosso espirito jurfdico, falsa- mente adiantado, que explora a hipertrofia da nossa imaginacdo e os preconceitos da nossa ignorancia. Na alusao a possibilidade de uma guerra e na conveniéncia de estar-se preparado para receber, em cheio, 0 peso dessa fatalidade natural e humana, nao falta quem veja intuitos agressivos e mavérticos, DOCUMENTOS cuja neutralizago urge operar por todos os processos. Ea teoria da fraqueza, em oposigao a da forga; mas esta tiltima é que, no terreno pri- tico, domina os destinos, determina e salva- guarda os direitos. Nenhuma diivida persiste sobre a melhor maneira de defender-se, que é manter acerado o instrumento de aco ofensiva. Seo Brasil dispusesse do seu instrumen- to de forga em boas condigdes de agi, esta- ria naturalmente guardado e defendido e no precisaria ter preocupagdes angustiosas so- bre a seguranga nacional. Durante o Império, houve uma politica de guerra prejudicial aos interesses nacio- nais, pelo seu caréter meramente interven- cionista, e desastrada, quanto & preparaco dos meios de defesa, inclusive nos planos de agdo militar e diplomatica. ‘Mas houve uma politica, ao menos, em embrido, isto é, uma diretriz que conduzia a um objetivo nacional A Repiiblica aboliu-a sem a substituir, © que € ilégico; ¢ o resultado € que voga- mos ao acaso, quase desaparelhados de qualquer meio idéneo para repelir uma agressio externa, tal a arbitrariedade e fal- ta de nexo das nossas concepgdes e orga- nizagiio. Os estadistas republicanos, preocupados mais com os interesses particularistas e re- gionais do que com os da Nagao, temerosos do crescimento do nosso poder militar, dei- xavam-no estagnar com um mal menor, a fim de poder, com mais desembarago, praticar males maiores. Os civis responsaveis pelos destinos do Brasil precisam conhecer mais a fundo os negécios militares do Pats, para no inci- direm em erros de concepcao e de subesti- magao da nossa capacidade defensiva. Rovista da IGHMB — Ano 59 — nt 85/90 137 ‘DOCUMENTOS De posse de nog&es mais exatas sobre 0 aparelhamento militar estardo aptos a julgar com acerto e distinguir o valor das organiza- Ges militares, calculando o rendimento que 0s elementos delas podem fornecer, em pro- porgiio as necessidades reais que devam ser satisfeitas. ‘Além dessas e doutras vantagens incon- testdveis da cooperaciio comum entre mili- tares e civis, amorteceriam também as pre- vengGes, os receios e os falsos pressupostos, que ainda persistem, pelas identificagdes generalizadas das Forgas Armadas com as diferentes camadas sociais. 2. A politica da guerra é materializada no plano de guerra. Se absurdo pensar, estudar e estabele- cer, aprioristicamente, um plano de guerra para o Brasil, é entdo que se repele toda a idéia de sermos arrastados a um conflito in- ternacional, e, conseqlientemente, a nossa preparagao militar deveré consistir apenas em prover ao policiamento e a repressdo in- tena dos agentes capazes de perturbar a or- dem e p6r em cheque a unidade e as autori- dades nacionais. As Forgas Armadas devem, entio, ser xadas unicamente para conservar, para de- sempenhar esse papel secundario, com a or- ganizagao adequada ao fim designado, A re- dugdo do Exército e da Marinha impde-se; e as transformagées poderiio ir até o desarma- mento e A supresstio, com substituicdes por organizagées sensivelmente policiais, Se, porém, o Brasil ndo pretende dar este exemplo inédito e absurdo, € 0 caso de ver 0 problema pelo tinico prisma que exprime a realidade e enveredar resoluta- mente no rumo seguro que a polftica mar- car, sem as flutuagdes ¢ desconexdes do passado. E esperar de nimo pacifico, mas prev nido, 0 desenrolar dos acontecimentos, p: que, desgracadamente, o estado de guerr: latente e as poténcias dos dois hemisféri preparam-se ativamente para a nova conti. gragdo. Um exame, ligeiro que seja, fixaré os tre- os mais salientes dessa politica, tendo e= vista as exigéncias da Seguranga Naciona’ que apresenta dois aspectos intimamente st- bordinados entre si: —externo, e — interno. No primeiro caso, como se apresent: as possibilidades de conflitos internacionais e quais as medidas de cardter geral, militar diplomético para enfrenté-las em boas con- digdes? a) Guerra continental, contra uma ov mais poténcias. b) Guerra extra-continental, isto é, par- ticipagdo em nova conflagracao universal que poderd estar iminente, pois os preparati- vos prosseguem febrilmente. Entre estas hipsteses, para estabelecer um plano de guerra nao aventuroso, deve-se partir da mais perigosa, e, conseguintemente. tomar como inimigo provavel a mais pode- rosa nagiio sul-americana, possivelmente em combinago com outras de importéncia in- ferior. Desde que o Brasil se encontrasse apa- relhado para suportar a guerra que lhe fosse imposta, pelo menos contando com o equili- brio de forgas — no casosugerido — ipso fac- to estaria bem colocado para arcar com ou- tra situagio equivalente, mesmo que essa guerta se estendesse fora do continente. Entio, 0 ponto de partida da nossa pre- paragiio para a guerra deve ser a hipdtese acima figurada, e s6 assim se evitard que se faga um plano de guerra abstrato. 138 Revista do IGHMB - Ano 59 — a 85/99 1 1 ( a DOCUMENTOS O razovel, porém, é que esse plano de- verd assegurar a nossa superioridade no ar, em terra eno mar~e este enunciado impor- tano desdobramento de questdes de dificil demorada solugao, devido as nossas mas condigSes (vulnerabilidade das fronteiras maritimas ¢ terrestres, dificuldades de mobilizagiio, deficiéncia de transportes, ex- tensio territorial, falta de indiistria pesada e de indiistria propriamente militar, escassez de contingentes instrafdos © muitos outros elementos que nao se podem adquirir nem preparar (facilmente). No caso de uma guerra extra-continen- tal, desde que nao sejamos atacados pelo mar e que nfo tenhamos de temer uma invasiio séria através das nossas fronteiras, a situa ¢io poder modificar-se em nosso favor, conforme as circunstancias da nossa entra- dana luta, ao lado de um dos dois grupos de poténcias que se defrontem. A nossa politica tradicionalmente indica, com os nossos interesses vitais, que nos associe- mos ao grupo do qual fizer parte a maior nagdio americana. Assim, haverd, entre outras vantagens, a que resulta do suprimento obrigatério do aparelhamento de guerra, equipamento e mais material indispensével & mobilizacao das nossas tropas. Pertence & diplomacia, em razao des- sa politica, dar os passos e negociagdes que caminhem junto as poténcias cuja ali- anga, concurso ou neutralidade possa ser- nos titil A situago interna € necessariamente a chave da preparagdio moral, material ¢ técni- co-profissional, conforme foi exposto ante riormente; e ela repousa, entre outras ¢ sas, na organizacio politico-social-econdmi- ca, que deve ser objeto de exame minucio- so, constante do plano de guerra. desenvolvimento das idéias sociais preponderantemente nacionalistas e 0 com- bate ao estadualismo (provincialismo, regio- nalismo, nativismo) exagerado ndio devem ser desprezados, assim como a organizagio racional e sindical do trabalho e da produ- 10, © desenvolvimento das comunicacdes, a formacdo das reservas territoriais e milici- as cfvicas etc., para conseguir-se a discipli- na intelectual desejada a fazer desaparecer a luta de classes, pela unidade de vistas e a convergéncia de forgas para a cooperagio geral, a fim de aleangar o ideal comum a na- cionalidade. A ordem politico-social deve ficar aos cuidados da polfcia preventiva, em ligagdo fntima com o servigo secreto do Estado- Maior; ¢ as suas redes devem abarcar os Pontos sensfveis do territ6rio patrio e ir além, a0 centros de intrigas e concilidbulos mun- diais. A policia repressiva, a cargo dos Esta- dos, deve possuir o pessoal e os meios técni- cos indispensdveis para assegurar a ordem civil, compondo-se de unidades militarizadas ou nao, especializadas, quer para o emprego urbano, quer para o rural. 3. Conhecidas as bases referidas, como realizar 0s esforgos para chegar aos resulta- dos previstos no plano de guerra? A criagdo de um 6rgio politico coorde- nador, funcionando ativamente, seré 0 pri- meiro passo: 0 Conselho Supremo da Defe- sa Nacional, com autoridade bastante para interessar, em suas decisdes, todos os érgios ¢ instituigdes nacionais, sob a directo do Chefe de Estado, responsavel pela conduta politica da guerra. Serd além disso, pela sua constituigéio (membros do governo, Chefe do Estado- Maior do Exército e Armada etc.), 0 princi- pal elemento de ligagiio entre 0 Governo ¢ Revista do IGHMB — Ano 59 — n° 65/09 139 BOCUMENTOS os demais 6rgiios, puramente téenicos, da Defesa Nacional. Em seguida, a instituigdo dos érgdos do Alto Comando, no Brasil, tendo em conta certas normas do regime democritico, po- deria compreender: a) O Chefe da Nagiio — que nominalmen- te exerce o comando supremo das forcas mi- litares do Pafs, na paz e na guerra. Ele deve ser realmente considerado o Chefe hierar- quico da Nagao, a quem so subordinados todas as outras autoridades ¢ elementos de tropa armada. Um gabinete Militar e Naval poderd ser- Ihe afeto, para o fim de prestar-Ihe os servi- gos e assisténcia de um pequeno Fstado- Maior especial, nas questées relativas a0 pessoal e material do Exército e Marinha, toda vez que nelas deva intervir diretamente © Chefe de Estado. b) O Ministério da Guerra ~ érgao en- carregado de superintender a Alta Adminis traci Militar, com a fungio principal de Prover o Exército de todos os meios, em pes- soal ¢ material, de que haja mister para as suas necessidades normais e extraordindrias Por intermédio dos érgiios dos servigos Provedores, transportadores etc., em diferen- tes escaldes auxiliares, exerceré sua aciio sobre todas as organizagées militares do tem- po de paz, tendo assim controle e fiscaliza- Ao sobre o que administra em nome do Go- verno, respondendo pelos negécios a ele concernentes, perante o Chefe de Estado e a Assembi€ia. (Correspondente, quanto & Ar- mada, ao Ministério da Marinha.) ©) O Estado-Maior do Exército —respon- sdvel pela preparagdo geral e técnica do pes- soal e material do Exército, Para 0 caso da mobilizagaio, assumindo, por ocasiao da Guerra, a diregao superior das operagées pelas maos do Comandante-em-Chefe (ou Comandantes-em-Chefe, conforme os teatro de operagdes) do Exército de campanha, de- signado desde o tempo de paz (correspor- dente ao Estado-Maior da Armada). d) Os comandos das Grandes Unidades do tempo de paz organizados segundo a di tribuigio da tropa pelo territério, durante paz, correspondente tanto quanto possfvel 2s grandes unidades da ativa e da reserva a se- rem mobilizadas; as Grandes Inspegdes (cor- respondentes aos Comandos eventuais de Exércitos na guerra); e as Inspegdes especi- ais de Armas, Servigos etc Assim como o Conselho Supremo dz Defesa Nacional é 0 érgao politico para 2 determinagiio, no plano de guerra, dos obje- tivos da guerra e para a coordenagio dos meios necessérios para alcangé-los, os Srgiios técnicos, destinados ao estudo dos planos de operagées e derivados, preparados no Esta- do-Maior do Exército, cuja execugio perten- ce aos Exércitos em campanha, siio concen- trados no Conselho Superior de Guerra. (Quanto & Marinha, no Almirantado.) As disposi¢es institucionais para o ser- vigo militar geral, sobre 0 comando supre- mo, sobre a competéncia da Unido em todos 08 negécios relativos 4 Seguranca Nacional. com os detalhes especificadores, esto regu- Jadas no ante-projeto de Constituigdo, ora em debate na Assembléia Constituinte. Uma vez promulgada a Constituigdo, res- {a preparar as leis orgdnicas complementa- res ¢ refundir as que j4 existem, tomando as medidas convenientes para colocar as For- as Armadas no pé em que devem ficar, exe- cutando, sem solugdo de continuidade, um plano de acd preestabelecido. Certamente o programa, por mais modes- to que seja, exigira uma durago longa, da- das as nossas condigSes financeiras premen- tes; ¢ no é em menos de um decénio que se 140 Revista do IGHMB ~ Ano 59 - a 85/99 terd podido formar a mentalidade nacional apta a reconhecer os sacrificios previstos a conformar-se com eles. Entre outros alvitres, talvez seja vidvel fixar uma percentagem (10 a 15%) a ser re- tirada anualmente das rendas dos estados federados, em favor das despesas com a De- fesa Nacional. ‘A Unitio satisfaria o orgamento ordiné- rio do Exército e da Marinha de Guerra, fi- cando as despesas extraordinérias, particu- iarmente as relativas ao material, por conta do orcamento extraordindrio satisfeito pela contribuigéio estadual. ‘A Unido, em troca, poderia regular clara- mente o emprego das foreas ativas, na defesa da Federagio ¢ da autonomia dos estados, ev tando intervengdes indébitas © a reprodugio dos fatos vergonhosos do passado. ses Depois de to extensa exposigdo, a que fui obrigado pelo desejo de por diante dos olhos de V. Exa. as linhas principais e a gra- vidade extrema dos problemas em que con- siste a Seguranga Nacional, cumpre-me, ago- ra, tornar ao fato, verdadeiramente concre- to, que a atual situacdo do Exército exige, e verificar qual a maneira que pareca mais f4- cil e titil de atender As necessidades funda- mentais que Ihe dizem respeito. Problemas do Exército So numerosas ¢ j4 muito complicadas as questées que vem tendo nascimento no Exército, com uma freqtiéncia alarmante, como conseqiiéncia ¢ indice da desorgani- zagiio geral do Pafs. Pode-se afirmar que se for mantido o regime instituido em 1891, se o movimento revoluciondrio continuar a rodar sobre si mesmo, sem estabelecer uma nova ordem de coisas, diferente da atual e capaz de disci- plinar todas as forgas e revigorar 0 organi mo da Nagio, seré dificflimo impedir novos colapsos na coletividade brasileira, e o Exér- cito dificilmente poder ser consertado. A organizagio nacional futura € que ex- primird a possibilidade ou nao de colocar os problemas concernentes & Defesa Nacional sobre seus verdadeiros alicerces. Para o Exército, duas condigdes funda- mentais logo se apresentam: a) Suprimento do material necessdrio ao seu aparelhamento (material bélico e muni- (des; equipamento e material de aproveita- mento; viaturas; material de transmiss6es; casernas e outros estabelecimentos militares; depésitos, material de satide etc., ete., — a re- novagiio € aumento de quase tudo que a tropa © 08 érgitos de servigo necessitam para a vida ordinaria do tempo de paz, paraa instrugio, 0 servico em campanha e 0 combate). $6 se conhecendo as somas disponiveis é que se poderia estabelecer estimativas para um pla- no de aquisig&io e de fabricagdo, inclusive para inddistria agrea e quimica. b) Preparagio do pessoal, isto é, os dife- rentes quadros, tropas e servigos do Exérci- to afivo e as suas reservas, para 0 caso de mobilizagdo parcial ou total, inclusive as contra-medidas para modificar a mentalida- de reinante nos meios militares e civis, de modo a tornar o Exército eminentemente profissional, regulando todos 0s aspectos do servigo militar geral, inclusive a justi¢a mi- litar severa e rdpida, para toda infragao da disciplina. ( ponto de partida é 0 poder discricio- nario concedido ao proprio Bxército para resolver os problemas que Ihe afetam os seus fundamentos. Fovista do IGHMB ~ Ano 59 — n® 85/99 141 DOCUMENTOS De uma maneira geral, a reorganizagio do Exército exige: —a solucio imediata de muitas questes de primeira urgéncia e de caréter variével; —aexecugio sistemética de um plano de preparagdio militar-nacional, com carter pro- gressivo. Além dos 6rgiios do Alto Comando, ou- tros 6rgios auxiliares tém de ser criados ov suprimidos. O Exército deverd ser uma escola ¢ uma. oficina de preparagio de todos os meios de defesa da nacionalidade. Conseguintemente, a essa escola € a essa oficina devem estar ligados todos os outros esforgos ativida- des da vida coletiva, para haver a coordena- do regular no sentido do objetivo comum. ‘A educagio (moral, civica, fisica e profissio- nal) interessa muito de perto 4 Defesa Nacio- nal; as instituigdes do Estado e a liberdade individual nao podem subsistir quando a prejudiquem. ‘A economia dirigida forneceré os recur- sos materiais & administragao publica; e a imprensa e a educagio dirigidas fornecer’ao a mentalidade capaz de disciplinar as gera- Ges sucessivas. Oservigo militar tio extenso quanto pos- sivel deverd criar obrigagdes irrecusiiveis aos brasileiros, sendo necessdrio na fase preli- minar de reorganizagio e enquanto o movi- mento da Revolugiio comportar carater agu- do—que, como medida de precaucio, ndo se esvaziem as fileiras de uma s6 vez, continu- ando nelas, como tropa de choque perma- nente, uma fragdo determinada dos efetivos normais. A revistio dos quadros pelos processos mais enérgicos, de modo a homogeneizé-los pela seleco de valores e permitir 0 seu mais amplo rendimento, inclusive a formagio de técnicos e especialistas. ‘As medidas de primeira urgéncia dever entdo regular em novas leis ou em alteragGes das existentes: — a reorganizacio geral do Exército em tempo de paz: = servico militar; ~a mobilizagio geral; —a lei dos quadros (reajustamento dos atuais, promogées, movimento, técnicos e cespecialistas); — organizagdo e preparagtio das reservas: ~ leis complementares sobre oficiais extranumeratios ¢ em excesso, aproveita- mento dos comissionados e sargentos; — sobre o funcionamento e organizacao dos servicos; — justia militar; organizacdo, funciona mento, eédigo penal, cédigo processual, c6- digo disciplinar; conselhos ordinarios © ex- traordinarios: ~ condigdes de aproveitamento das for- gas estaduais etc. O plano de reorganizacao progressive deve permitir a sua integral realizagao den- tro de um septenato, e conter linhas flexi- veis para a introdugao de variantes que as circunstincias vindouras possam de- terminar. ‘Ao fim do septenato, o Exército deve- rd ter em pleno funcionamento os drgdos essenciais do Comando e das servigos, ¢ langadas as bases principais da mobi- lizacio geral que a preparagao do pessoal ¢ do material permitir, de modo a se con- tar, além do dominio aéreo e maritimo, com uma organizagio interior e um Exér- cito de campanha, para o primeiro choque, representado por um certo nimero de Grandes Unidades, desdobraveis, consti- tufdas em Divisdes de Infantaria e de Ca- valaria, tipo brasileiro, aligeirado, a saber: (Como um exemplo.) 142 Rovista do ISHMB ~ Ano 59 — n* 85/99 8 Divisdo (Bacia Amazdnica) 9 Divisao de Infanti. on (Sub-Equatorial) P Divisio de Infmerria 6 Divisao de Infamaria. J: Divisio de Infaanaria.. Divisio da Guarda. “ 2 Divisdo de Infantaria, 4 Divisdo de Infanti nomen 10" Divisio de Infantaria 1 Divisio de Infamaria 5 Divisdo de Ifamaria 3 Divisdo de tnfentara. 1 Divisio de Cavalera 2: Divisaa de Cavalarid.sume 5" Divisao de Cavalaria 4 Divisdo de Cavataria 5* Divistto de Cavalaria. Antitharia de Costa, Inspegibes ilo Norte ~ Recife... Inspegies do Centro ~ Rio de Janeiro Inspecdes do Sul ~ Porto Alegre: DOCUMENTOS Pard, Amaconas, Acre ~ Sede: Belém. Infantaria Divisionéivia: 148, 15° ¢ 16 regimentos de infan: ‘aria, Um regimento de cavalaria divisiondrio, dots regimentos de antlharia, wn baralhdo de cagadores, wn baralhao de engenharia exe Antlharia de costa (dois grupos) Sede: Fortaleza, (Mesa ~ Ceard, Marankao, Piaui composigao.) = Paratha, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas ~ Sede: Recife. (Idem.) = Sergipe, Bahia — Sede: Bakia. (Idem,) = Disirito Federal, Estado do Rio de Janeiro, Espirito San: to ~ Sede: Rio de Janeiro, (ldem.) ~ Rio de Janeiro. = Parte de So Ponto ~ Sede: Sie Palo. Parte de Minas Gerais ~ Sede: Belo Horizonte = Gots. Tridngula Mineiro etc. ~ Sede: Ubertindia Mato Grosso, parte de So Paulo ~ Sede: Campo Grande. ~ Panand, Santa Catarina ~ Sede: Curitiba. = Rio Grande do Sel ~Sedes Porto Alegre. ~ Rio Grancle do Sul ~ Sede: Porto Alegre = Rio Grande do Sul ~ Sede: Porto Alegre ~ Rio Gremie do Sul ~ Sede: Porto Ategre ~ Parand, = Maio Grosso, Sito Pauto. 8 74, 9 e 6" Divisdes. 15, 25,45, 10%, 1 ¢ 5 Divisdes de Cavalaria. Ste. Divisdes: I, 28, 3 e 4 Divisdes de Cavalaria. Revista do IGHNMB - Ano 59 n* 85/99 143 DOCUMENTOS A maioria das falhas existentes no orga- nismo da defesa do Pais sio decorrentes da falta de coordenagdo dos 6rgiios da adminis- tragiio ptiblica, como também da falta de um plano geral de defesa e de um 6rgio controlador. Surge, portanto, a primeira necessidade: instituigao efetiva do principal érgao orien- tador e operante da defesa nacional sob qual- quer aspecto, ressalvando os técnicos mili- tares, com que se apresente o problema: 0 Conselho Superior da Defesa Nacional. (J4 apresentado com a necessdria amplitude pelo Estado-Maior do Exército.) © funcionamento desse alto érgo defi- nird e esclarecerd as responsabilidades maio- res dos civis e militares (ministros, chefes de repartigdes, departamentos especializados etc), e facilitaré a organizacao do grande canevas por onde deveriio ser canalizadas em forma de urgéncia todas as necessidades da Defesa Nacional. Essas necessidades podem ser classifi- cadas em duas grandes categorias: — Primeira categoria, as que interessam propriamente ao Exército ~instrugiio de um modo geral, comando, aplicagiio do material etc. — Segunda categoria, as que tendo uma repercussao fora das fronteiras do Exército yao atingir os interesses desse ou daquele Ministério, dessa ou daquela repartigao pi- blica ow particular ete., ¢ que, no final de contas, uma vez chegadas a termo, permiti- rao o melhor andamento das necessidades previstas na primeira categoria. Conclusio, as primeiras s6 poderao ter uma solugiio adequada depois que forem as- sentadas e solucionadas as da segunda cate- goria. As idéias gerais expedidas acima estdo substanciadas nos detalhes seguintes: A) Quanto ao pessoal: Ao Ministério da Educagao e Satide Pu- blica caberé, em primeira urgéncia, cuidar e unificar a educagaio moral e civica das esco- Tas em todo o Pais, guiando-se no tocante & educagaio fisica pelo que foi feito no Exérci- to e agindo de acordo com ele. Dessa forma, a misso das classes arma- das ficar de fato simplificada por ocasiaio do recebimento das turmas de conscritos e 0 inicio do primeiro periodo de instrugiio dos recrutas, tornando possivel, ao Exército, so- bre essa base construida sob sua orientagao e controle preocupar-se principalmente com a parte da educagio fisica concernente a adaptagdo as especialidades. Em seguida, segue-se a lei do servigo militar envolvendo na sua execugio as res- ponsabilidades desde o Presidente da Repi- blica até 0 tltimo e mais modesto funciona- rio piblico; é uma necessidade urgente asua execucio integral. Segue-se depois: 1 -A lei de promogao, necessidade in- terna, porém, em ultima andlise, vai refletir- se no alto poder do Pais, visto a responsabi- lidade que lhe cabe no tocante a melhor for- magdo da hierarquia militar; também exige uma imediara execugdo, dada a sua impor- téncia real e preponderante no momento. 2—A movimentagdo dos quadros, outra necessidade vital para 0 Exército, de forma que os trabalhos em todas as guarnicbes nfo softam solugdo de continuidade e tenham o mesmo élan, cuja execugao completa jé po- dia ter sido francamente encaminhada, a vista do decreto baixado ha tempos sobre cons- trugdes de casas de moradia para oficiais, 0 144 Revista do IGHMB ~ Ano 59 — n* 85/99 qual até agora nao teve andamento, apesar dos varios oferecimentos, para 0 seu com- pleto éxito, por parte das autoridades esta- duais ¢ municipais. 3-0 recrutamento: —Dos quadros e da tropa. — Das reservas em geral (CPOR, polici- as etc.). O recrutamento dos quadros também é uma questo da primeira categoria de neces- sidades, mas que exige recursos materiais (segunda categoria de necessidades) a fim de ser possivel o maximo desenvolvimento dos programas, de um modo geral, de forma a ser atingida a maxima selecao, a comecar pelas Escolas Militares, no tocante obser- vancia em primeira urgéneia daqueles que tém realmente pendor pela carreira das ar- mas, afastando-se imediatamente os que nao revelarem gosto pela vida militar e aptid’o fisica. Nas escolas das armas — escolas de ofi- ciais ~ serio escolhidos e selecionados os instrutores das diferentes escolas do Exérci. to e aqueles que devem prosseguir os estu- dos na Escola de Estado-Maior e nas especi- alidades ~ cursos técnicos. 4- debatido problema das policias. As diferentes solugdes procuradas para enquadrar as milicias estaduais como reser- va do Exército Ativo infelizmente nao tém correspondido as expectativas como tropa de reserva. Em todo 0 caso é um problema que me- rece toda a atengio ¢ que deve ser resolvido oportunamente sob a idéia geral da subordi- nagio técnica ao Estado-Maior do Exército (EME). 5 — O problema do sargento, questio puramente militar, cuja solugao é de interes- ‘DOCUMENTOS se para a eficiéncia das classes armadas, até agora sem orientacdo conveniente, ao con- trario, dificultado pelas tentativas dos que os tem querido resolver. ‘Ao sargento modero, as exigéncias ff- sicas e técnicas sfio bem grandes; uma vez cessadas as primeiras, devido a idade, nao serd possfvel a sua permanéncia nas fileiras como auxiliar da instrugiio, como tal, se nao for previsto um meio de aproveitar ain- da os seus servigos em outros mistéres, fica- rd ele prejudicado de forma definitiva. A solugdo mais adequada, a meu ver, seré aquela que nao prejudique a continuagao progressiva da instrugio e a vida do sargen- to, no final da primeira etapa de sua ativida- de, como auxiliar dos oficiais. Assim, parece que o recrutamento deve visar uma selegdo, e assegurar o niimero bas- tante para satisfazer as necessidades do Exér- cito, impondo-se em conseqiiéncia uma lei que garanta uma situagdo condigna desses servigos ¢ sobretudo terminando este, e que exija 0 aproveitamento preferencial obriga- t6rio nos diferentes cargos piblicos de acor- do com as respectivas habilitagoes. 6 — As reservas e os tiros de guerra & outra questio pertencente a primeira cate- goria de necessidades mas que reflete fun- damente no meio civil Os tiros de guerra devem ser remodela- dos de modo que possam ser encarados como fontes idéneas de formacio de reservistas para o Exército. Os centros de preparagio de oficiais da reserva (CPOR) também precisam ser reor- ganizados e ampliados de modo a poderem absorver 0 maximo de elementos a eles des- tinados, conforme prescreve a lei do ensino jdem vigor. Revista do IGHMB - Ano 59 - nt 85/99 145 DocuMENTOS B) Quanto ao material: Nao estando presentemente a indiistria nacional, de modo geral, aparelhada para atender as necessidades de fabricagio de material de guerra no Pafs, é-se forgado a adquirir no estrangeiro o indispensavel para a conveniente preparagiio do Exército ¢ a constituicio de um primeiro estoque de se- guranga. ‘Ao mesmo tempo deve ser encarada a questiio relativa & indiistria nacional com a montagem do aparelhamento necessério & mobilizacao industrial e & formagtio de tée- nicos. Toda e qualquer aquisigio fora do Pats deve ter um cardter de absoluto sigilo; para isso, deve ser alcangado com toda a segu- ranga e de modo completo; o meio mais pré- tico 6 fazer vigorar o principio que fez criar 0 Conselho de Economias do Exército e a respectiva Caixa, evitando que essas econo- mias deixem de ser aplicadas no Exército, 0 que permite, por uma majoragilo de verbas ordindrias, reservar as quantias necessérias A aquisicdo e revezamento do material com absoluto sigilo. C) Questées do transporte. O problema do transporte no Brasil pode ser considerado como um dos mais impor- tantes, exigindo, por isso, a cooperaciio ati- va dos Ministérios da Fazenda (parte finan- ceira), Viagdo (6rgdo técnico por excelén- cia) e Guerra, para satisfagdo das suas ne- cessidades vitais de transporte de toda natu- reza— tempo de paz e de guerra ~ material e pessoal. Para o Exército, urge realizar os progra- mas de melhoramentos ha muito solicitados pelo Estado-Maior do Exército, a fim de po- der com seguranga atender & Defesa do Pats. Para finalizar, em toda e qualquer inicia- tiva de aberturas de novas estradas, bem como de novas organizagées que interessem &Defesa Nacional, é imprescindivel que seja ouvido 0 Estado-Maior do Exército. Eis, de modo geral, as necessidades que a0 Exército muito contribuirio para aliviar sua tarefa; so complexas, porém solu- ciondveis, desde que obedegam patrioti- camente um plano previamente tragado se- gundo uma diretriz geral escalonada no tem- po dentro das urgéncias, de forma a no so- frer solugdio de continuidade. Aproveito ainda a ocasiaio para assinalar: = que num Pafs novo como o Brasil, um Exército bem organizado 0 instramento mais poderoso de que dispde o Governo para educagiio do povo, consolidagiio do espftito nacional, neutralizador das tendéncias dis- solventes introduzidas pela imigragio; — que a atividade orientada pela Defesa Nacional assegura o maximo rendimento as tentativas de solugdo de todos os problemas nacionais visto como, na época moderna, impée 0 aproveitamento maximo de todas as forcas vivas da Nacao. Anexo, encontrar V. Exa. um quadro sintético dos principais problemas vitais do Exército e que no final irfo interessar fun- damente todos os érgiios nacionais. (Ass.) P. Gées. 146 Revista do IGHMB - Ano 59 — a 85/89 BOCUMENTOS QUADRO SINTETICO DAS PRINCIPAIS MEDIDAS PARA SATISFACAO DAS NECESSIDADES DO EXERCITO Direcdo Superior da Guerra e ansitiado pelo CSDN (Orgdo de estudo e de coondenacto de todos os trabalos relatives @ DN} Consetho Superior de Guerra. (Orgda téenica de preparagao da exee dos planos de operagbes.) PLANO GERAL DA ORGANIZACAO DA DEFESA NACIONAL. Justiga ~ Foro, exclusivamente militar: Lei de reorganizacdo geval do Exército ¢ lei dos quairos efetivos. Lei do servign militar Lei de promocio. Lei da movimentagifo dos quadros, EM £ E, das Armas e Servigns. (Oficiais ¢ sargentos.) Quadios EEM Lei que regule a situacio dos comissionedes aes Exérvito ative: efetivos, armas, instrugdo cpor Tiros de guerra Tropa Reservas da } seota Milivar Preparaidvia Exéreico | Era 2 Soluce do problema das policias = (convenientemente orgamtzudas) 2 Construcdo de quaviéis ~ Plano progressivo. = Aquisicio no estrangeira ~ Salucdo de primeira ungéneta = Onganicagao de fibricas ¢ incremenio = das jd exisientes. (Adaptagdo, poss =| Fabricagaa nacio- | bitidades, estatisticas.) Vianwras, aves, motores e materiais de E] mal Escalonado cartiharia et. 24 no tempo ~Ohje- | Aquisigdo de estogues, de modo ZS] sivas aseguis | geval. Equipamenta ¢ fardamento, material de supa e engenharia Aparethamento das fabrieas do governo ¢ compensagio para civis Siderurgia brasifeira. Remonta = Obrengo do niimero de animais ¢ farmagito de tipas convenientes sen Agdo completa pelos Ministérios da Guerra ¢ Agricultura Problema fervovidiio — Exeeugito dos programas pelo EME Agao completa pelo Ministério da Viagdo. Aproveitamento ¢ methoramento das esiradas, de forma que permita a classificarao has 178s caregorias, I, 2° ¢ 3# ordens. Consirucdo ile novas estradas. Aquisigdo no fabrico de viaturas regulamentares. Problema rodovidrio, Trans Problema mavitimo... Escotha ¢ aparethamente de portos (bases) de desembargue de pessoal e ‘material Estudo coordenada com 0 Ministério da Marina. OWSERVACTO FINAL 1) Necessdede, em prineine ureéncia, da organiza dos “comands” ¢ dos “essados-maiores", a cameyar pelo EME, ao qual urge dar cor elementos iicos esseneiais a an tealia abjtiv de aca com orentavao do govern. 1s) Regeweracin dos qcdroc pela obvervavio de let de pronase, remtess sistemtca de offeias para esagiarem nox Exércitosestranget- ros, motadeoente rw Everito frances (EM e ropa ‘oye sobre a rapa, mos indispensives asirugdo ~ efeivs, maerial. ewypos de strug ete Revista do 1GHMB — Ano 58 — n° 65/89 147

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