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a UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO tirox Antonio Celso Alves Peres vcenaron Nils Freire EDITORA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO lon Lages Lima Ger Born Ivo Barbie (Presidente) Jorge Zahar (in memoriam) Leandro Konder Pedro Luiz Perera de Souza Reinhart Koselleck CRITICA E CRISE Uma contribuigao a patogénese do mundo burgués Luciana Vilas-Baas Castel-Branco conreaonto cn agri alge stapes pr Contant os Li "Fn 1 san) 0.799 ai eee reed ogi Ca Bejan ‘ents popes Tres du Rok abe nent e199 Tonge 2ommengie errmocachonaroste ‘i arin conurbui ptgtne So snd began Konrad ‘ae ania tee “inte ou Congo Te. ea bhp inde lnc pl Maer? Hat lt Stamina tT sumARio Introdugio PRISLEIRO CAPITULO. A estrutura politica do Absolutismo ‘como pressuposto do lluminismo [LA gtnese do Estado absolutina a partir do contesto das suerea (vis) elgions/O desenvolvimento de um dom io de poder soberano pela redugio da consclncaeligost um foro interior apolitio (Barclay, D'Aubigné) A subor ‘inacao da moral & politics ¢ lepitimasto temporal do Es- tado soberano a 1 Hobbes: a resposta da ranto&pluralizardo das confsbes/ ( coneeto de sberania que decore dos confitosreliosos ‘eda razto / A dvisio do homem em “homem” e “sito” ‘como heranga da gucra civil ligios € como pressuposto do concetoabsolutista de lei e order estat /O foro inte- Tior politico, dentro do Estado, como o ponto de partida do luminismo, IL, Vattl a separacso entte a moral fondada no direio nat ral, ea politica como principio estrutural da ordem dentro do Estado /O fim das guerrascivisearestriio das guerasa ‘meras guerras entre Estados como condi politica para 0 progresso moral SEGUNDO CAPITULO A compreensio que os iluministas tinham de si mesmos ea resposta 8 sua situagio dentro do Estado absolutsta 1. Locke: jursdigao moral fora do Estado (The Law of Pr- vate Censure, Seu significado para a burguesia sua 2sd0 politica nize , A formagao de poderes indies a situacdoinicil da so cledade civil no Estado absolut / Saas formas de ora 6 ” ” ° nia (Club de Fates ean feanc-mayonaia) ‘A fan proetora do eps i J © arcmin come Tinhaalvsora entre morale politica pressupste da tom Ss indirets do poder m © desenvolvimento de posers indietos a fang integra dora do segredo nat las / O estabelecimento de herar- “gas independentes/ ameasa indizets a Estado /A jus risdiao moral ¢ sua ampliagdo a0 Fstado / A separagao pls como expressdo da tomada indirets 1 A virads oculta contra o Estado: fun politica do segre- {do nas los (Lessing) /O planejamento secreto da tomada {da pod ¢ 0 uso do dualismo da morale da politica para ‘ncobrir seu significado politico ¥.0 processo da critica: a separagdo entre moral e politica como pressuposto« va de execucso da critica burguese (Schiller) / As etapas da poiizacao; a critica da Biblia ‘0 Estado (Simon) / A liberdade absoluta da repablia das letras apoitica dentro do Estado, um bellum onenium con ‘ra omnes (Bayle) A extensio, 20 Estado, da critica aparen- tementeapoitia (Voltaire) J A dialétia da critica lumi nist (Enclopdie, Diderot) 0 ofuscamento da critica ema hipocrisa A submissto do Estado ao tribunal dz raza0 Kant) TTERCEIRO CAPITULO Crise eflosofia da historia |. Filotofa do progreso e prognéstco da revolucio na Ale ‘maha pre-evoluciondria: a formagho de frentespaliticas/ [As ordens secrets e Estado / A filosofia da histria dos ‘magons(luminados) ea identifiacao entre planejamento Istria A flosaia da histria como poder politic indie 10/ Oagravamento da crise pla sua dissimulasao /A edu- {0 daflosofia do progress (dos iluminados) sev nucleo politico (Gochhausen) /O prognéstco da revolugao, 1. Torgt:@ reconhecimento da stuagdo enitica na Franga Prognéstcosrevolucionstiog/ A tentativa de dirigiracrise/ 6 6s 1s um m1 © dualism moral de Turgot J Fane politica do dus Tmo moral de Turgt dtsolgao da soberania «oct mento do processo/O anonimato politica! A dalétea do hhomem edo principe toalidade moral ome esposta30 Absoltismo politico Ofracaso de Turgot/Alegitimasso indireta da goerza cv I. Crise a erse como conceit politico € mora, mio como uma expresso da filosofia do progiesso /O apaecimento do conceito (Rousseau)! expansio da republic ds le teas. Estado / Revolugio permanent, Estado toa teat, ideologaeditadura come resultado involuntirio do tm nism ede seu anonimato polio! A detrminaho dae 4 pela consciénciadualita (Diderot) /Prognéstics dtr minitas de carter dualista/ Encobriment e agravamento Em sua obra da maturidade, observava «que nio havia nada mais insteutivo em matéria de lealdade e jus tiga do que a recordagio da guerra civil.” Em meio as agitagoes revolucionirss, procurava um fundamento sobre o qual se pu: esse construr um Estado que garantisse paz e seguranga. En- ‘quanto Descartes, que se achava em um Estado ja constituido, cvitava levantar esas questoes fundamentais, Hobbes atribuia a las um significado central Todos os tedlogos,flésofos da mo- ral jurists constitucionas teriam falhado, pois suas doutrinas apoiavam os direitos de determinades partidos e, portanto, inci- tavam 2 guerra civil em vee de ensinar umm diceto que estivesse acima dos partidos (“non partium, sed pacis studio” [“no para aplcagio pela parts, mas para a paz")).” Para poder encontrar ‘ste direito, Hobbes indaga-se sobre a causa da guerra civil, im. peldo pela ideia de que é preciso, em primeiro lugar, desmasca ‘ar os planos eintereies dos homens, dos partidos e das igreas. Pois os homens, ofuscados por seus desejos eesperangas — com- ‘reensvelmente — seriam incapazes de recanhecer a causa de todo © mal. “Causa igitur bell cvs est, quod bellorum ae pacis cause gnorantur”["Existe © motivo da guerra civil, pois as cau- sas da guerra eda paz sto ignoradas".” Tendo por fio condutor causa bel cvs [0 motivo da guerra civil], Hobbes desenvolve seu direito natural racional, que equivale a uma doutrina das causes da guerra e da paz ara compreender o fundamento da guerra civil, Hobbes els- ‘bora uma antropologiaindividualista,correspondente a uma hu- ‘manidade cujos vinculos sciais, politicos e religiosos tornaram- se prableméticos. Os conceit bisicos desta antropologia so Appetit ga (deseo faga ou desire and far [eso me- ‘dol que, apreciados historicemente formam os clement de ‘uma teoria da guerra civil. Mas, visto como um todo, o sistema de Hobbes se consti de al forma que o resultado — isto & 0 Estado — jest condo nas premisss da gucra ivi. Osindiv- «duos #80 descritos de antemao em fungio de sat existencias como suetos, isto €, como siditos do soberano Sem uma is tanciaestamental intermedia, so intgrados 4 ordem publica de modo a poderem desenvolver-s livemente como individu. O individualismo de Hobbes ¢ pressposto de um Estado orde- nado ¢, 20 mesmo tempo, a condicio de um live desenvolv ‘mento do individuo™ ‘A principio, a humanidadeé dominada por uma pando, pelo deseo incesante de poder, a0 qual somente a morte poe fin. Confit, guerra e guerra civil, bellum onium conta omnes {guerra de todos contra todos, so a sua consequénca, O medo constant de uma morte volena impede a huranidae de resp- ‘ar Por isso, o deseo de paz é tio fundamental quanto o dsc de poder2* O homem vegeta, oscilando permanentemente ene ‘ insia de poder ea nostalgia de paz. Nao €capaz de exapar deste vaivém; enquanto pecsste nel, eeina a guerra. "Hune satum facile omnes, durin eo (bello) sun, agscunt ese malum eer consequens pacem esse bonum’ ["Evidentemente, enguant0 est40 em guerra, todos reconhecem que a situagd é ms € por conse «quéncia a paz ébos"].* O ertado de guerra pertence& naturera humana paz s existe enquantoesperangae desi, Embora se

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