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Colegéo Educagio e Sociedade Ce eee ee eee pre nee de temas centrais das discusses e trabalhos académicos es Organizado por st Rerarnrurts 1 suennde onder its ili ten) Vilela, Débora Mazza, Afinio Mendes Catani, Denice Barbara Catan e Gilson R. de M. Pereira. Cet ee ero eee en ere ete ee cee ec od een ee ‘0s grandes clésscos da sciologia cujas concepcbes sobre a aco humana, a natureza das rlacdes sociais as conexbes piaetneer ae a or peor iererer eant e ee re ees ea ee es Cee ed pee ee eee mados de apropriagio do pensamento sociolégico produzido conn POs ed Pete sten Peed CoLecAo EpucacAo & SocieDaDE No Brasil, na rea da pesquisa em educagio, apesar de constantes cortes orgammentirios ede pollieas restritivas, minca se produziu tanto com tanta qualidade, Tendo coma pano de fundo os problemas e as profundas transformagdes enfrentados pelas sociedades contempordneas, essa produgio representa uma das contribuig6es mais significativas da ‘universidade Dafa idéia de uma colegio que, em umn mercado editorial ainda restrito,enftente 0 desafio de disponibilizar essa contribuigio ao piblico Jeitor~em especial aos profssioais de educasao com maior velocidade ‘A Quartet Editora © de ‘contrbuir para o dehate em toro das que ceducagio, touxe a pico a Colegao Educago e Sociedade jectativa & que, alcangando nosso objelivo, possamos estar colaborando para a melhoria da escola, para fortalecimento da cidadania ceparaaconstrucdo de uma sociedade mais justa edemocttica -om 0 objetivo ‘de Rodolfo Ferreira Sociologia para educadores 2° edicao Maria de Lourdes Rangel Tura (org.) Leandro Konder Rita Amélia Teixeira Vilela Débora Mazza Afranio Mendes Catani Denice Barbara Catani e Gilson R. de M. Pereira Rio de Janeiro 2002 uM WelOTECA, (Caealogesaa na Fonte do Departamento Nacional do Livro Sociologia par educators / Leandro Kone, Mara Mila fetal Rio de Jn Quartet, ed 200, 1. Sociloga ecaciomal. 2. Educasio - Flos 1. Konder Leandro. I. Tura, Maria de Lourdes Rangel ‘Vie, Rts Amba Tia TV. ilo W See Etcae ¢ sociedad hr Cn eas a Cand cpp. 37019 SUMARIO APRESENTACAO ‘Maria de Lourdes Rangel Tura MARX E A SOCIOLOGIA DA EDUCAGAO Leandro Konder DURKHEIM E A EDUCAGAO ‘Maria de Lourdes Rangel Tura MAX WEBER ~ 1864-1920 ENTENDER O HOMEM E DESVELAR © SENTIDO DA AGAO SOCIAL Rita Amélio Teixeira Vilela A HISTORIA DA SOCIOLOGIA NO BRASIL CONTADA PELA OTICA DA SOCIOLOGIA DA EDUCAGAO Débora Mazza PIERRE BOURDIEU: AAS LEITURAS DE SUA OBRA NO CAMPO EDUCACIONAL BRASILEIRO Afranio Mendes Catani, Denice Barbara Catani f Gilson R. de M. Pereira 25 63 97 17 APRESENTACAO [A sociologia tem uma importante contribuigao a dar no entendimento da organizagio da educagio. A anslise da educagio ‘ou do modo de ser desta, de acordo com os parimetros do conhecimento sociolégico, envolve questionamentos amplos a respeito de concepgbes sobre a natureza humana e a natureza da Sociedade e das formas de justificaglo e legitimagio de ages politica edueacionais, 0 que inclui discutir 0 direito universal & ‘educagiio © aos beneficios da produgio cultural, assim como os tmecanismos de transmissao e assimilagio de conhecimentos e os Uiferentes processos de socializagio. Nos imimeros centros de produgio do conhecimento acalémico se tem desenvolvido estudos que se orientam no sentido de perscrutar as relagdes entre educagio e sociedade e construido teorias explicativas para indagagdes formuladas tanto por pessuisadores como por aqueles que no campo da pritica pedgigica se deparam com incertezas, impasses © mesmo perplexidades diante de desafios postos & ago educati (Os temas em estudo, os caminhos tomados pela investigagio, as diferentes perspectivas de andlise, referenciaise pressupostos da Felagio individuo e sociedade, educagdo e sociedade interessam, fentio, aos educadores que vio buscar 0 apoio das andlises sociolligicas para entender certos processos e mecanismos sociais {que sao constitutivos da organizagio escolar © da instituigio feducativa, Isto tem se refletido no currfculo das Faculdades de Fucagdo do pais, que conferem sempre algum espago para o estudo dos aspectos sociol6gicos da edueagio. Foi exatamente acreditando na importancia para a edueagio ‘do. que foi produzido neste campo cientfico e percebendo acaréncia ‘de textos de apoio para esse estudo, principalmente no que se refere ‘ho que foi publicado em lingua portuguesa, que um grupo de pesquisadores do GT de Sociologia da Educago da Associagao Nacional de Pés-Graduago © Pesquisa em Edueagio (ANPEd) éecidiu organizar esse livro que se dirige especialmente aos professores ¢ alunos das Faculdades de Edueagio , num sentido, ‘genético, aos cursos de formagio de professores © livro se organiza em duas partes. Na primeira parte Sio apresentadas as linhas bésicas do pensamento de autores — usualmtente chamados de pais fundadores — que esto associados aos primérdios dasociologia, fazendo énfase em aspectos de maior interesse para a educaZo. Sio eles, em ordem cronolégica de seu saparecimento, Mare, Durkheim e Weber. Pensadares nascidos et uma Europs que se destaeava por ocupar naguele momento século XIX ~ 0 centro das decisdes © do dinamismo politico, cenvolvida na colonizaco de pafses de sua periferiae com oavango do capitalismo, Estudiosos profundamenteinseridos na vida soctal e politica de seu tempo e preocupados com 0 entendimento da vida, social e das relages individuoe sociedade. Cada um aseumodoe {de acordo com suas concepedes e projetos de sociedad consirutram professor Leandro Konder redigin 0 primeiro capitulo a respeito de ~ para usar suas palavras - “uma celebridade” que “& Jifcil encontrar quem o desconhoga totalmente": Karl Marx (1818- 1883). O texto se construiu de forma a fazer 0 letor percorrer © ceaminho trilhade por esse pensador, rico enérgica da sociedade capitalista, Para tal, localiza Marx em seu tempo e sintetiza suas idéias em tomo de duas questies basicas: 0 que €0 homem? o que € a historia? Na maneira que Marx encontrou para aleangar as respostas a essas indagaydes esto presentes as possbilidades aberas pela pris, a forma como se concretizou o trabalho humano © seu, entendimento sobre a educago. (© capitulo sobre Emile Durkheim (1858-1917) foi eserito pela professora Maria de Lourdes Rangel Tura, que também 0 localizou em seu tempo e organizou o estudo em torno da concepe%0 ‘durktieimiana de homem, sociedade e educacio, sem deixar de dar relevo a sua contribuigio para a discussio do estatuto cientifico da sociologia. Durkheim se destacou entre esses pioneiros pela atengio |e sua obra dedicou & educagao ea relevancia dada a instiuigio ‘slucativa no contexto da organizasio social, Foi o primeito a pensar hi possibiidade © mesmo na importincia de se consttuir uma sociologia da educagdo, para a qual intentou estabelecer as bases A professora Rita Amélia Teixeira Vilela estudou o pensamento de Max Weber (1864-1920), destacando seu esforgo ho entendimento das relagdes socias edo sentido da ago humana. Voi nesseinteresse que construiu a sua Sociologia compreensiva & esludou a racionalidade da sociedade eapitalistaindustializada e seus processos de dominacdo. Hd que se notar que, apesar de Weber Ino ter produzido uma teoria sociol6gica da educagio,em sua eoria social deu importantes pistas para a compreensio da fungo social \dacscola da educagdo. A autora elacionou, no conjunto de seus ‘extos, aspectos de muito interesse para o campo educativo, como \s andlises sobre o poder © sua legitimago na ordem social, os Imecanismos de inculcagio ¢ egitimagio de determinados tipos de conduta, assim como o processo de racionalidade burocritica, uantes aa organizagio das sistemas sociais, A segunda parte do livro esté ambientada no Brasil do século XX. Compoe-se de dois capitulos que estudam as formas de apro- priagdo e produgio do conhecimenta socioligico em nosso pais, 0 que rebate as caracteristicas de seu tempo e lugar. dirego toma- 1h foi o que mais propriamente interessa a0 campo da educagio e, esse sentido, dois sociélogos se destacamn: Durkheim e Bourdicu, Débora Mazza em seu textoestudaachegada do pensamento sociol6gico-ao Brasil e seu desenvolvimento até 0s anos 60 do séeulo XX. Uma trajetria que tem inicio na introdugio dos estudos de sociologia nos currfeulos do ensino secundio, das escolas nor- aise dos colégios militares ¢que tem sus expan mareada por sua aplicagio no campo educacional, Nesse momento, se destaca a importineia do pensamento de Durkheim. A entrada da sociologia nas Universidades se dé posteriormente, alguns autores associam ‘ interesse académico pela sociologia como igado as grandes trans- formagdes estruturais ocorridas no pafs a partir dos anos 30 do séeulo passado. Ou seja, “por intermédio da educagao, os cientis- tas sociais acreditaram na possbilidade do conhecimento cientifico {ransformar-se em compromissos de proposicio € interven”, ‘como disse a autora, endo-se em vista principalmente os avangos ‘no campo da pesquisa educacional, que determinaram tematicas e metodologias. Aranio Mendes Catani, Denice Barbara Catani e Gilson Pe~ reira analisaram as formas de apropriagio do pensamento de Bourdieu no Brasil, tendo por base seus estudos sobre educagio. Na organizagio do capitulo, primeiramente apresentaram dados da biogratiadesse socidlogo, dando nase & sua trajet6ria académica. seguir estudaram as formas de apeopriagio de conceitos oriundos de sua teoria Sociol6gica, o que necessariamente os fez trafegar por disputas em toro de dicotomias como reprodugio & transformagio, reprodugio & resisténcia, num percurso que se iniciou em finais ddos anos 60 do século pasado e avangou até os dias atuais. Os dliversos momentos dessa apropriago foram analisados em conexi ‘como prdprio dinamismo deste campo do conhecimento. Oestudo tem por base um riguissimo levantamento bibliografico, "Na leitura destes textos se ir acompanhar algo do desenrolar dda historia da constituigao da modernidade no Ocidente e dos es- foeeos do pensamento sociolgico para compreender esse tempo © ‘oque se produziu na constituigio das organizagbes socials. Aedu- ‘casio passou a ocupar espagos cada vez maiores entre as prticas soeiais, destacando-se na produgao/ reproducio de relapses socials, na concessio de privilégios profissionais e na legitimagio de posighes de poder. A sociologia g, pois, uma eiéncia que tem muito a dizer sobre a educagao. Vale a pena contferir. ‘Maria de Lourdes Rangel Tura MARX E A SOCIOLOGIA DA EDUCAGAO Leandro Konder I ‘Uma das dificuldades que aparecem no nosso camino quan- {do nos dispomos a abordaras idéias do pensador alemio Karl Marx (1818-1883) esta no fato de que poucas pessoas assumem que nio sm nada sobre a filosofia dele e muita gente acha que co- hnhece “alguma coisa” a respeito do famoso autor de O capital ‘Marx se tornou uma celebridade, é dificil encontrar quem 0 {desconhega totalmente. Transformado em guru do movimento co- ‘munista mundial, em fcone dos partidos socialistas, at enérgico e barba hirsuta ficou associada & capitalismo e & mobilizagio revoluciondria dos trabalhadores. Al- frumas das suas frases — ou de frases atribusdas a ele ~ tém sido Fepetidas ad nauseam: “Proletirios de todos os paises, ut "Os filésofos {8m se limitado a interpretar 0 mundo, wrata-se, po- 16m, de ransformé-Io”, Transformara classe em siem classe para si") "Ser radical 6 pegar 0 problema pela raiz”, ete Noentanto, apesar dessa difusio fragmentaria de determina- ‘dos aspectos do seu pensamento, a vasta € complexa obra de Marx { muito mal conhecida. O que as pessoas pensam que sabem nem sempre € exato e muita vezes niio € decisive. O alcance de uma lia, suas implicagées e consequiéncias dependem da sua articula- ‘¢lo com outras idéias. Posso estar familiarizado com uma afirma: ‘Ho e, no entanto, avald-la mal, porque jgnoro sua conexio com ‘pressupostos que the dio um sentido que me escapa, 'Naacolhida que os eseritos de Marx tiveram apss sua morte, 44 dimensio filosética do seu pensamento ficou, em geral, bastante prejudicada. A dialética foi posta de lado e os dirigentes, ativistas femilitantes do movimento socalisafizeram dos textos do autor de 2 cargo ucla Somer A miséria da flosofia uma leitura que combinava as suas teorias (sobretudo sua concepedo do homem ¢ sua concepeao da hist6ria) com teorias evolucionistas, positivistas, economicistas cientificistas, Friedrich Engels, 0 maior amigo de Marx, ainda viveu cerea de 12 anos apés a morte do autor do Dezoito Brumério. Tentou cevitaralgumas das consequéncias mais desastrosas do empobreci- ‘mento tedrico da dimensio dialética do pensamento de Marx, po- ‘6m nem sempre conseguiu escapar inc6lume, ele mesmo, & pres- ‘fo deformadora das ideologias daquele tempo, Seguiu, por exem- plo, uma linha de pensamento que se empenhava em fundar a dialética humana sobre a dialética da natureza. AAs condigdes histéricas e culturais da passagem do século XIX ao culo XX permitiram ao movimento operirioe sindical na Europa aleangar algumas conquistas signficativas, porém também ‘ouxeram muitas fustragdes. Depois, ao longo do século XX, o quadro se tornou ainda ‘mais frustrante, Difundiu-se aimagem de um Marx “cientista” tio, cde um lad, ea imagem de um revoluciondrio disposto a tudo para realizar seu programa radical e saudar 0 advento do comunismo, de outro, Em ambasas imagens “cristalizadas”, aparecia um Marx “reduzido", a0 qual faltava algo importante, que nio se sabia bem que era, Havia os que salientavam a forga das concepgdes te6rico- politicas de Marx, presentes no Manifesto comunista; os que sublinhavam a consisténcia da andlise critica da economia politica ¢ do modo de produgtio capitalist, desenvolvida n° O capitals © ‘até 05 que chamavam a atengio para o vigor do historiador politico social de As lutas de classe na Franca de 1848 a 1850 ¢ de O Dezoito Brumério de Luis Napoledo. (© que faltava era a percepgio da importancia decisiva da perspectivafilosstica de Marx. ‘Marx fez um doutorado em filosofia. Defendeu em 1841 uma tese sobre a diferenga entre a filosofia da natureza de Demécrito © a de Epieuro, Ao longo de seus estudos em Berlim, devorou os esoritos de Hegel, comparouos & mitol6gica harpa de Bolo: “As tarpas ordindtias soam quando sfotocadas por qualquer mio. A. harpa de Bolo 6 soa quando ¢ golpeada por uma tempestade.” A filosofa de Hegel The pareceu sera nica capacitada para reconhecer ‘rosa da razo na cruz do presente”. Foi hegelian até 1843, Impossibilitado de tornar-se professor universitirio por causa da onda de repressio que varreu a Pissia em 1841, virou jomalista. E foi como redator-chefe do Jomal Renano que sede conta de que meste Hegel tinha uma concep equivocada arespeito de um ponto crucial: © Estado. Tegel via o Estado como o lugar onde a razio haveria de prevalecer em meio aos confit de interesses particulares, ipicos {ha"sociedade civil”. Marx convenceu-sede que o Estadocratambém parte dos conto jamais funcionariaefetivamente como lugar da favo. A partir dessa divergéncia, Marx passou aelaborarsua propria concepgao da histriae sta prépria concepeo do homem, ‘Geupourse~intensamente de qustbes filoséticas. Reflli, criticamente, sobre 0 Estado, observando: “O Estado € abstrato, 6 6 povo € conereto.” Para sobreviver, povo fem que consumir & pura consumiré preciso produzit. E em torno da produgio que se Organiza a sociedae. ‘Uma minoria privilegiada se apropria dos grandes meios de produgo ¢ usa o Estado para legitimar a ordem que Ihe permite txploraro trabalho aleio. "Qual éo poder do Estado politico sobre 4 propriedade privada?, se pergunta o jovem Marx. E responde “0 proprio poder da propriedade privada Como intelectual de gabinete, que vieadinimicada sociedade de um angulo ainda contemplativo, Hegel nfo se deu conta de que “g homem no € um ser abstrato, situa fora do mundo”, Sio.0s homens que eriam 0 Estado, so eles que se acham na origem da propriedade privada, na raiz da invengio das insttuigdes. Se {quisermos compreender 0 Estado ea propriedade privada,temos de ser radiais, dizia Marx E acrescentava: “Ser radical é pegar 0 “ Severe problema pela raiz. E a raiz, para o homem, é 0 préprio homem.” FFicava no ar a pergunta: 0 que €0 homem ? 1 Em 1844, Marx, recém-casado, instalou-se em Paris, como diretor de uma revista. Enquanto tentava salvar a publicagio do rnaufrgio (que acabou acontecendo), eluborou sua concepgio do hhomem. Essa concepedo foi desenvolvida em polémica com 0s {economistas cléssicos ingleses€ 0 fildsofo alemao Hegel. Em ambos ‘0s movimentos, reconhecia-se a centralidade do trabalho na historia dos povos, porém o trabalho, em si mesmo, ainda era pensado um tanto abstratamente. Marx se aproximou dos trabalhadores, entrou em contato com as organizagbes clandestinas de operris rebeldes: convenceu- se de que 0 trabalho humano era uma atividade peculiar que se distinguia de todas as demais atividades realizadas por todas as ‘espécies animais. O rabalhe human foi reconhecide como o miclea ‘de una atividade teleolGgica, «primeira atividade pela qual osujeito se contrapanha ao objeto. ‘Segundo Marx, 0 ser propriamente humano nai preex essa atividade e ndo poderia ser eonhecido antes de passar a existir ‘como tal (e de se expressar nela). O homem € o sujeito ativo © Criativo que existe se modificando, se superando, © 86 podemos ‘nos aproximar dele através do que ele faz, O trabalho 6 a forma inicial ~ persistente ~ da capacidade que os homens tém de agirem ‘como hom ‘Aaividade que assume a forma pioneira do trabalho e depois se diversifiea 60 que Marx chama de précis. Por meio do trabalho, inicialmente, e em seguida também pelas atividades criativas que esenvolve, 0 homem faz-se a si mesmo. Mars, fil6sofo do trabalho, decidiu ser igualmente 0 filésofo dos trabalhadores. Sua disposigio era a de contribuir para a ‘mobilizagao dos trabalhadores numa luta incansével para promover «a superagio da sociedade burguesa e para acabar com o modo de produgao capitalista ‘A seu ver, cabia ao proletariado, em sua prixis revolucionstia, atuar como o portador material de uma transformago social que Ihe interessava diretamente, mas interessava também 30 Conjunto dda sociedade, Para essa atuago, a classe operitria precisava cesclarecer-se a si mesma no plano te6rico, paralelamente as ages {que empreendia no plano pritico. Precisava aprender que a praxis ho & toda e qualquer atividade prétiea: 6 a atividade de quem faz ‘escollas conscientes ¢ para isso necessita de teori. (© conceito de prxis foi reconhecido por diversos te6ricos ‘marxistas importantes como o conceito fundamental da ilosofia de Marx. E ele que esté na base da concepcio do homem que 0 ppensador alemao desenvolveu nos Manuscritos parisienses de 1844 ‘enas Teses sobre Feuerbach, Apoiado nele, Marx repele sistematicamente tanto a perspectiva idealista, que superestima o papel das idéias © da ‘onsciéncia nas agbes histricas dos homens (subestimando a forga {do condicionamento material) como a perspectiva materialista {que minimiza (ou até ignora) a importincia da intervengio dos sujeitos humanos na constante modificagio da realidade objetiva (© deles mesmos). {A partir de um certo nivel da experiéneia do conhecimento, ‘4 6 sujeito participa ativamente do movimento que the revela 0 eal ow escorrega para uma posicio contemplativa que the inmpossibilitara o aprofundamento no conhecer. Como adverte Marx (0s fildsofos tém se limitado a interpretar © mundo de diversas maneiras; trata-se, entretanto, de transformé-lo.” (O individuo isolado, privado da experiéncia da agao coletiva, pode crer numa pretensa “neutralidade”, numa suposta “isensa ‘quando observa os problemas humanos de umn Angulo que seimagina iimune 8s pressées das tendncias conflitantes,O fato de instalar-se ‘na posigio de sujeto individual isolado, porém, empobreceeestreita seus horizontes, priva-o dos estimulos do intercimbio

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