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Aluno: Willyan Waldemir do Nascimento Silva

Disciplina: Filosofia

Adorno – Fetichismo da Música e a Regressão da Audição

No texto em questão, Adorno explana sobre a questão da indústria cultural com seus
efeitos na música, analisando como a música tornou-se um produto de consumo e
comércio, atendendo a necessidades mais sentimentais e imediatistas do homem antes
que necessidades lógicas, cognoscitivas ou “espirituais” do homem. Tal causa tem
transformado a música e a nossa forma de se relacionar com a música. As qualidades
que antes buscávamos, os atributos técnicos que atraíam multidões, foram trocados
pelos ruídos da música “ligeira”.
É interessante observarmos que Adorno, como alguém que viveu nas décadas de 50
e 60 , viu o início do rock, o nascimento da beatlemania, a criação dos sintetizadores, o
Jimmy Hendrix, e outros fenômenos que basicamente criaram a música pop. Boa parte
das bandas e dos cantores pops foram, conscientes disso ou não, influenciados por todas
essas mudanças que aconteceram na época do Adorno. A própria composição do termo
“popular” hoje é outra, devido as mudanças decorrentes do período. As músicas escritas
durante a guerra civil americana era algo considerado popular na época. Canções
populares irlandesas, o baião nordestino, manifestações populares autênticas como
estas, fruto de coisas que surgem de forma autônoma e voluntária do povo, isso é o que
antes era considerado música popular. Tal fenômeno passa a se modificar na época dita,
onde fenômenos criados artificialmente passam a ser considerados como música
popular. Tal evento pode ser bem representado aqui no Brasil pelo movimento
tropicalista.
Para compreendermos um pouco mais o pensamento de Adorno é preciso que
compreendamos o seu conceito de Industria cultura. Uma regressão deve ser feita. Karl
Marx já afirmava no Manifesto do Partido Comunista que o capitalismo transforma tudo
à sua imagem e semelhança. O que ele quer dizer com isso, é que num sistema de
mercado as necessidades mais básicas são transformadas em comércio, vendidas como
mercadorias. Tal coisa pode ser atestada com a indústria da água e de alimentos.
O que percebemos no conceito de Industria cultural é que tal processo observado por
Marx também acontece na indústria da cultura. O mercado transforma a cultura e as
manifestações culturais em comercio, transformados, portanto, ao gosto do cliente. A
indústria cultural é composta pelos produtores musicais, pelas editoras, por todos
aqueles que trabalham no mercado da cultura. Tais donos do poder usam de
manifestações culturais criadas voluntariamente pela população e vendem isso.
Um exemplo disso pode ser citado no Brasil com o funk. O estilo, na forma como é
executado no Brasil, nasceu como um estilo próprio das comunidades e favelas do Rio
de Janeiro. As letras retratavam o estilo de vida e os problemas enfrentados pelo povo.
Porém, quando a indústria viu o potencial que o estilo tinha com as pessoas, não
demorou muito para que começassem a lucrar com a coisa. O funk primeiro passou por
uma “higienização”, onde as letras começaram a ser melhor trabalhadas, houve uma
maior preocupação com arranjos, com harmonia e coisas tais. Daí, acabou se tornando
um estilo rentável e aceitável. O que antes era condenável nos ambientes universitários
e críticos por depreciar as mulheres, banalizar a violência e promover o uso de drogas,
hoje é considerado como um espaço de representatividade para mulheres, para a favela,
para os LGBTs e etc.
A indústria cultural usa da manifestação, utiliza e comercializa junto a ela as causas
sociais de minorias, e acaba ganhando o aplauso dos críticos e do público, além de lucrar
muito com a venda dos discos e das imagens das pessoas envolvidas. Isso é um exemplo
claro do que faz a indústria cultural, transforma manifestações artísticas e causas
culturais em produto, alo exposto a venda.
Além disso, a indústria cultural acaba afastando a população das manifestações que
ela mesma criou. Shows de artistas de funk que outrora saíram da comunidade são
muitas vezes caros demais para as pessoas mais pobres assistirem. As manifestações
criadas pelas pessoas são afastadas delas e se transformam em produto apenas para as
classes dominantes. Quem de uma comunidade popular possuí dinheiro para ir assistir
a um show de música popular? Que morador de favela tiraria o dinheiro da comida de
seus filhos para ir a um show de Caetano Veloso? Esses são efeitos da indústria cultural.
O fenômeno observado por Adorno é pensado em seus efeitos no que ele considera o
rebaixamento do gosto. Em primeiro lugar, a própria noção de gosto como algo
individual e subjetivo foi ultrapassada. Visto que a própria noção de indivíduo foi
ultrapassada. A coletividade e o gosto coletivo tomam o lugar de tudo, encerrando a
todos numa coletividade forçada, onde todos devem gostar das mesmas coisas. E tais
coisas que devem agradar ao gosto de todos devem ser aquelas impostas pela indústria
cultural.
A indústria dita a moda, afirma e cria o certo e errado o bom e mal gosto. As músicas
criadas pela indústria só existem para tal intuito. Massificar os gostos, ditar as regras,
lucrar mais com as pessoas. Por isso tais músicas não consideradas sérias por Adorno.
As músicas sérias tinham uma função e despertar os homes para o mundo. A música
ligeira, os ruídos, a música não-séria aliena as pessoas do mundo. Distraídas pela
diversão fácil, pelos ruídos, pela diversão, pelo entretenimento, as pessoas são
impedidas de chegar ao esclarecimento. O seu despertar para sua condição de classe é
impossibilitado pelo amortecimento de consciência estabelecido pela indústria cultural.
O texto de Adorno tem a função de nos despertar como artistas para a nossa condição
e obrigação: despertar as pessoas, não as amorteces. A música da indústria cultural é
danosa e está a serviço do capital.

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