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apes ~— PIBID PROGRAD S$UFG gee hope cbcdsio Faculdade de Filosofia - FAFIL CEPI Professor Pedro Gomes ‘Como ler Um Texto Filoséfico: Logica e Leitura Estrutural! Fllngela de Aratjo Santos? Geralda Aparecida de Abreu* ‘Uma particularidade do texto fllosfico diz respeito ao fato de que a aprendizagem de sua leitura 36 pode ser filosotica; nada pode dispensar a reflexdo. Entretanto, ss0 no significa que se deva dispenser a uiiidade de uma tentativa metodoldgica de leitura (COSSUTA, 2001). Essa 6 perspectiva a partir da qual apresentamos aqui o método de leitura estruturl. Se a vig de acesso privilegiada para aprender Mlosofia & através da leitura e interpretagio dos textos floséticos e, considerando que, um dos objetos da investigneio flosbfica & 0 pensamento, comecemos, ent30, por interogar acerca da importincia do método de leitura estrutral para a compreensio da filosoia Antes, porém, atentemo-nos para fito de que, “a habildade de leita andlise constii-se em tGenica fundamental para 0 pensamento em gor [.. Ler um texto constitu-se numa hnbilidade geral e fundamental para © aprofundamento em quse todas as disciplinas” (MACEDO JUNIOR, p. 9}. © método de leitura estrutural dedica “atengio privilegiada” & “estrutura interna do texto filosbtico, seu caritersistemsitico ¢ orginico”. Ou seja, deve-se lero texto como sendo “parte de um sistema coerente de argumentos, conceitos e proposigdes”. (MACEDO JUNIOR, p05). 0 angumenio ¢ constituido por enunciados sis enunciados s40 ‘rdenados segundo uma sequéncia, sendo um deles a Gonclusio, © 0s outros so as premissas. As premissas tém a funedo de provar ou ao menos prover evidéncia para afrmagiio da conclusio. “Argumentos sio conjuntos no vazios de sentengas deslarativas” (VELASCO, 2010, p.56). Para ser um argumento € necessirio que seja “um Conjunto no ‘vario", de mado que possamos garantir a concluslo, Tais sentengas sio declaraivas, isto 6, declaram algo sobre 0 ‘mundo. Um argumento nfo € constituido de sentengas desarticuladas, & nevessério que baja um eneadeamento entre las, isto €, que estejam relacionadas entre si. Todo argumento consttuide de premissas e conclusdo. Fa partir das premissas que inferimos a conclusio, “Inferis, contudo, no & merameate ter avesso a alguma informacio, mas consiste em manipular informagdes disponiveis ¢ extrair consequéncias dist, obtendo informago nova. Implica raciocinio: inferr € raciocinar e coneluir| ‘algo com base em tal racioeinio.” ( VELASCO, 2010, p28), Exemplo de argumeatos. iret temic lemon ag g “Toso paula € bec. a EE Logo: todo paulista é sul-americano”. a CARANHA:MARTINS, 198,p. 101). <8 preciso gonsderar a implicaglo floéfica dessa inversto que perturba a relagio hirirquica tradicional nite Yuan e afetos pois 6 vio, ou de qualquer mao custosogovemar as causa. é mais tie mais seguro fovemirosfeftias| A impomtnca dese axioma nao € negigeniel ele rege nosas sociedades, da economia & fcologia: da polica extema e militar &s medias insemas de seguranga e de poiia. Eel também que permite ‘compreender a gonvergencin antes mistrioa entre um iberalismo sbTuto na economia c um coniole de sepuranca sem precedentes™ (AGAMBEN. Como a cbscsio por seguranga muda a democracin, 2014) (s argumentos sio vilidos ou invélidos. Um argumento € considerado“lido, quando a partir da endlise de ‘nas premissas 6 possivel afirmar que a conclusto ocarre das premissas, ou seja, que a partir de dadas premissas a conclusio seja necessria; que supando” que ai prenIsses sejam verdadiras,a conclusio tamiyémn sea, pois de premiseas verladeirasnio se pode ter como consequéncia ura concluso filsa/ um argument €invsligo quando a ‘onclusio nfo se sea das premisas, on sea, quando as premissas sio verdadéras a conclusio fala Todos os homens so versbrades "A primi verto do texto fo labora em como com Alder do Santos Fee, acaimico do curso de Filosofia (Licensiaura) da [Univeidade Federal de Goi - UFC Holst do PIBIDICAPES sb a onetneo d pressna Carmelita Bite de Freitas Fei (acide de Floss da UEC) ‘Acadénica do curso de Filosofia (Liceacaura) de Universe Faia de G potsots Camota Bite de Fret Fle (Facade de Fis dh UFO) ‘Acadia do curso Flo (Liens) da Universe Federal de Gids - UFG. Holista do PIBIDICARES a rientago dos pofesores Caracita Brio de Frias Felco Facile de Filscia de UPG) e Cristiano Nowes de Rezade (Faculdade de Flosua do UG FG. Bolsa do PIBIDICAPES sob viento Ora, eu sou vertebrae, Loge, eu sou homen” (ARANHLA: MARTINS, 1986, p. 103). Fite tipo de arzumonto é denominado falacioso, por ser invido. Falicia € um argumento que possui ero de ‘aciocinio, que nos proce formalmente corr, ou sea, est estruturado aparentemente dentro da forma da [Suc Falicias “informals' sto argumentos eneos eno tm uma _cstrutura formal. Exemplo: “Reportagem publica nest ewurda- fers (28) ni jomal Folia de. Paulo faz uma revelag ho mie Jnguétito de mais de 2 mil pigina, produzido pea Policia Civil do Rio de Janeiro, que responsabiliea 23 pessons pela ages violentas em manifestagoes de rua, sponta o filésofo Mikhail Bakunin como um dos suspeitos, fori em 18760 isso &consideraco un dos pas do anarusi” (Folha de Sto Palo, 28 de julho A Sompreensio dos consis no modo de et xu énpressinve, em ro de qus,& comm ma filosofia a utilizagaio do mesmo conceits com significados diversos. Outro termo que para o letorestrutural a’Gompreensisé de summa importncia, &afroposica) visto que, la também compe a estrutura do texto. Proposigao é uma frase passivel de valor de ¥« ‘ou seja, Unecessirio que toda proposicZo seja verdadleira au fals, nfo hé-uma terceira ope (segue o prinefpio do terceiro excluido). Morari (2001, p. 13) define propasigio “com um conjunto de mundos possiveis, pensamentos, conjuntos de sentengas sininis xaos tata rogers rain amass caspase decletvs’ En sum | pderos dizer qe propos so aqels fase que podem sr verdacis ou fas como por expo: a char “0 livrwesté sobre a mesa” (VELASCO, 2010, p43), SW" No méldo de Isur esr, o ler “deve supenderprovisrament oui” a rept de verdad oo fuidade ds proposgdes; deve consrar sun senso na “coereci lie intra Go texto", 0 queso prope # analisar. Antes de questionar » verdade das proposigdes, o leitor deve preocupar-se com a coeréneia, com a “ligica interac extra argument por moda qual stor expe sox pesamento. [as palavas de Vitor Golds (197, p13), et car es esi i men SRT a oh Sctwrs iveamoae que seer do ado ess it ens: tom moon ‘Su, q coms kag a propesdo metodo e qm ever determina ee + Sunn, Sego Guero se pode descobriraeoutura do texto segundo a ode rind pelo mr, © obetivo de ee se epee eee eee eeeecatceres tee sei funcionamero, Asin er umn extofosco st eur a orden indica plo utr: Seno i veze neces visas lets, arse compreccr um esto (DELEUZE, 2008), Cada pariigrafo, argumento, proposicao ¢ palavra ocupa um determinado lugar no texto. O “lugar” faz parte da nganizagio da esa o fexo, te exveste em ato lgarcertmerte descnpentaia una fang totalmente diferente. Desse modo, o lugar ¢ determinante para o sentido do que foi dito. (sles cnfcho pgsainn gerade ees ueainmepes Corsa Pega corti: ees cpl eo rns sto omits, segundo ta exigties dean ems” (DELEUZE, 208, peg 190) Nao basta soment cri den, ¢ prin sr cp de epic orqu una pai tras antes cota vce-xcs. 1.9 “Refazer =p oar, os movinextos de que a extra ca cha guarao trad, 6 pore movimento a {\ esr dee mod, sitnse mm tenpo ogo: (GOLDSCHMIDT, 1970, p43), Nese metodo de era, © Teor refer os movimenion do penaento do ator, aves da errs interna da br, stands dst a = ae ae ep ters Seve eae i oe ns che ee ere } Com o método estrutural nbo pretendemos desprezar outros meios de interpretagio do texto, Desse modo, 08, aspectos histricos, sociolégioas ou mesmo econsmiicos podem set considerados. Certamente, tnis aspectos influeneiam no sentido do texto, mas nfo podemos reduziro sentido do texto a estes aspectos. Como aponta Macedo | Siior, cito (2007, p. 24): “as influéncias histOricas, eeanémicas e sociais", no sfio negadas no método de leitura esirutural, no entanto nko so suficientes para esgotar todos 08 seatidos de um texto. “O metodo estrutual, longe de |conar o texto de seu contexto, pode servir para defnir as suas relagdes com ele, ¢ iso no por uma finalidade de erudiglo, mas conforme a intend filoséfica da obra”. [No métdo de leitura eral € importante stentarse para o significado’ dos conceits. Isto porque, & bastante comurn na filosofia um autor usar concejtes “consagrades” de mancira peculiar, com outro sentido. Devido a isso, neste método de Jiu exige-e pm eadado redobrado na busea do significado dos conceits, a luz do mado como 0 autor o insere no contexto do texto, Por exemplo, o conceito de Alienagao. ‘8 linguagem filos6tico-polfics hoe, ese conesio fem os significados mais dispares, dependendo da ‘vatedade dos caacteres nos quis s insist na defnigio do homem. A equvocidade da conceito de slieneydo depende, porano, da problematicdade da. noo de homem (ABBAGNANO, 1998, p. 27). Alfenagio econéic: "Na chra de Marx, 60 processohistrico por meio do qual o sres humanos viram sucessivamente a Se alstar da Natreza e dos preduos de sun atvidade (bens e capita, instiulgdes soca e cultura), «que a partir de entio se impden As geragdesposteiores come wma forga independents Sosifcad, ou Seja, como uma realidad alienada, Marx concentou-se paricularmente nos efeitos deletirios do ‘rautho alienago x produsio industrial capitalist (Ct. Diconério do pensamento social do século XX, 1996, p.7-9) Alienagio soci: Referese a sensapio de esrmnamento da sociedade, grupo, cultur ou do eu individual, que as pessoas comumenteexpeimentam quando vivem em Socedadesindustiais complesas, em particular ims grandes eidades. A alenagSoevoce experiéncas comp a despersonalizagio diane da burocracia, sensazées de impoténcia para infu os eventos ¢procestos soca e um senso deflia de coesio mas vides pessoais, 0 fato de alinasio esse sentido geral constitir um problems recorente mas sccidades contemporiness, como a nossa propria, € tema proeminente na sosiologia da moderna cxperincia urbana (Cf. Dicionério do pensamento socal do séeulo XX (1996, . 7-9). Dicas para a leitura de textos filossficos Os dois tipos de leituras que recomendamas so: A primeira litura ea leitura aprofundada. A primeira leitura € utiliza como um mecanismo de preparaglo para a leitura aprofundada, “Auavés dela se poderd ter ums visio de conjunto do texto a ser estudado, sondando-o, para posteriommente realizar, a partir da vislo do todo, a busca das partes e seu encadeamento” (MACEDO JUNIOR, 2007, p.15) Primeira Leitura 1-*Sempre consult o indice do livro que est endo, mesmo que nfo pretenda le todo 0 seu contetd”; 2- “Nao pule os preficios c as inodupSes mesina quando estes nfo tiverem sido escolhides pelo professor como leitura obrigatéra™ Leitura Aprofundada L-Numere os parigrafos; 2 “A leitura aprofindada & muitas vezes a iniea que realmente serve de meio para uma leitura filosfia de textos clissicos, Assim, a primeira letura deveri ser vista como uma etgpa para este tipo de leitura; 3+. “"Numere os argumentos [.) quais so as partes, quantos os argumenios, o que € um subargumento ete 4- “Defina com clareza nuns sé proposito qual é 0 argumento desenvolvido em cada parte do texto”. “Leia com atenedo diferenciada os capitulos que parccem conter as ideias centrais ¢ esiuturantes do argumento principal defendidlo no texto” (MACEDO JUNIOR, 2007, p-18-19) crcl tur da “Potties” de Aritele (Livro capitulo 1) — “Obvervmos que ada ide 6 un cet forma cde somuniad's Gu td sonia & costs cm vst de algum ben‘ E que, em todas as suas ages, todos os homens visam o que pensam s bem'‘E, entfo, manifesto que, na medida em que todas as comunidades visam algun bem oman mis ea eat qu egab ted at cus var mao de ng oer Et ‘comunidade &charada ‘cidade agucls que toma a forma de uma comunidade de i ‘A. “Observamos que toda cidade ¢ una certa forma de comunidade BE que toda comunidade 6 constituida em vista de algum bem C. BE que, em todas as suas aes, ods os homens visa o que pensam sero bem D. F, entfo, manifesto que, na medida em que todas ¢s comunidades visam algum bem, E. A connidade mas elevada de todas e que engloba todas as outrasvsaré 0 major de tsjos os bens. F. Esta comunidade € chamada “cidade”, aquele que toma a forma de ua comunidade de ciladsos” (MACEDO JUNIOR, 2007, p27). Exercicio Tl —Leitura de um fragmento do artigo de Giorgio Agamben “Embora correta essa genealogis! no permite compreender os dispositivos de seguranga contemporfincos. Os procedimentos de excegio visam uma ameaga imediata e real, que deve sereliminada ao se suspender por um periodo limitado as garantias da lei; as ‘razdes de seguranca’ de qus falamos hoje constituem, 20 contério, uma técnica de -governo normal e permanente” (AGAMBEN. Como a obsessio por seguranga muda a democracia, 2014) Premissa I. Embora correta, essa gencalogia no pemnite compreender os dispositivos de seguranga contemporiineos. Premissa IL. Os procedimentas de excogéo visam uma ameaga imodiata e real, que deve ser eliminada a0 so suspender por um periado limitado as garantia da leis Conclusio. Logo: as “razSes de seguranca” de que falamos hoje constituer, 20 contririo, uma técnica de ‘governo normal ¢ permanente. (O conceito de seguranga foi alteradotransformando o que eta exceo em algo normal ce regulador) Referéncias ABBAGNANO, N. Diciondrio de filosofia. Tradugao Alfredo Bos, 2* ed, S20 Paulo: Martins Fontes, 1998. AGAMBEN, Giorgio. Como a obsessio por seguranga muda a democracia. In: Le Monde Diplomatique Brasil 06 jan 2014. Disponivel em: . Acesso em 04, maio, 2014. ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:introdusio A filosofia. Sio Paulo: ‘Moderna, 1986, Filosofando: iotrodusio i Bosofin, Séo Paulo: Moderna, 2009. COSSUTA, Fréiric. Flementos para a letura dos textos flosficos. Tadugio Angela de Noronha Begnami: Milton ‘Arruda; Clemence Jouet-Pastré; Neide Sette. So Paulo: Martins Fontes, 2001 DELEUZE, Gilles. Espinosa e o método geral de Martial Gueroult, pag. 189,196. In: A ha deserta, Eitora Tuminuras LTDA: So Paulo, 2008 GOLDSCHMIDT, Victor. Tempo hist6rico ¢ tempo l6gico na interprelagio dos sistemas filséficos. In: A regio de Plato. 2 ed. Sko Paulo: Difusto Buropeia do Livro, 1970. MACEDO JUNIOR, Ronaldo Porto. © método de leitura estrunral, Cadernos Direito GV, v. 4, n.2. Sto Paulo: Fundago Getulio Vargas, margo 2007. MORTARI, Cezar Augusto. Jniroduedo @ ldgica. Sio Paulo: Fundagio Faitora da Universidade Fstadual Paulista Julio de Mesquita Fitho: Imprensa Oficial do Estado, 2001 ‘VELASCO, Patricia Del Nero. Eéucando para a argumentagao: contsibuigdes do ensino da Wbgica, Belo Horizonte: ‘Auténtica 2010. “Em seu retomo as origens (genealogia) Agamben ciao provézio romano “a salvage do povo & a le suprema’ para mestrar as ‘origens das politcas de seguranca e como se“nscreveo paragmsa do estado de excegio", pois, dtadura romana © magisrado recebiaplenos podcres

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