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CÁLCULO DIFERENCIAL

E INTEGRAL II

autor
ANDRÉ BROCHI

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2015
Conselho editorial  regiane burger; roberto paes; gladis linhares

Autor do original  andré luis corti brochi

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  gladis linhares

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  mathusalécio padilha

Imagem de capa  3dmask | dreamstime.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

B869c Brochi, André


Cálculo diferencial e integral II /André Brochi
Rio de Janeiro: SESES, 2015.
136 p. : il.

isbn: 978-85-5548-137-6

1. Cálculo. 2. Cálculo diferencial. 3. Cálculo integral. I. SESES. II. Estácio.

cdd 515

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

1. Funções Vetoriais 5

1.1  Cálculo vetorial: funções a valores vetoriais 6


1.2  Equações paramétricas, derivadas e integrais de funções vetoriais 25
1.3  Curvas no espaço: vetor tangente, velocidade e
aceleração, curvatura e vetor normal 33
1.4  Coordenadas polares 39

2. Funções de Várias Variáveis e


Suas Derivadas 45

2.1  Funções de várias variáveis 48


2.2  Diferenciação parcial 57
2.3  Regra de cadeia 66
2.4  Derivadas de ordem superior 68

3. Integrais Múltiplas 73

3.1  Integrais duplas e áreas 75


3.2  Integrais duplas na forma polar 83
3.3  Integrais triplas e volumes 90
3.4  Integrais triplas em coordenadas cilíndricas 96

4. Integrais de Linha e Campos Vetoriais 103

4.1  Integrais de linha de campos escalares 104


4.2  Integrais de linha para campos vetoriais e operadores diferenciais 115
4.3  Independência do caminho e campos conservativos 125
4.4  Teorema de Green 129
1
Funções Vetoriais
1.1  Cálculo vetorial: funções a valores
vetoriais

No Cálculo Diferencial e Integral I, trabalhamos, de forma exclusiva, com quan-


tidades, tais como deslocamento (distância), tempo, velocidade, intensidade
de corrente elétrica, resistência elétrica, força, potência, ângulo, entre tantas
outras, e que são todas possíveis de se representar como pontos em uma escala
numérica. Essas quantidades são denominadas escalares.
Entretanto, em diversas aplicações dos mais variados setores do conheci-
mento, nós deparamos com grandezas que não são representadas apenas como
um ponto em uma escala. São grandezas que, além de serem expressas por uma
quantidade, apresentam direção e sentido. Essas grandezas são denominadas
vetores ou grandezas vetoriais.
Alguns dos exemplos citados no primeiro parágrafo podem, também, ser re-
prentados como vetores. O deslocamento de um móvel, por exemplo, pode ser
dado por um valor que indica o quanto esse móvel percorreu (medida de compri-
mento, que é escalar), mas, também por uma seta indicando a direção e o sentido
do deslocamento. Na figura 1.1 há alguns exemplos de ilustração do deslocamen-
to dos móveis A, B, C e D. Note que os móveis A e B deslocaram-se em direção e
sentido diferentes, mas o espaço percorrido foi o mesmo, pois as setas que in-
dicam seus deslocamentos têm o mesmo tamanho. Já os móveis C e D desloca-
ram-se na mesma direção (setas paralelas), mas em sentidos opostos; além disso,
percorreram distâncias diferentes (setas de tamanhos diferentes).

B D
A
C

Figura 1.1

Um vetor é um segmento orientado que possui uma origem (ponto inicial)


e uma extremidade (ponto terminal). Neste livro, para diferenciar um vetor de
um escalar, utilizaremos uma seta acima da letra para mostrar que a grandeza

6• capítulo 1
representada é um vetor. Por exemplo, para reprentar escalares, utilizamos a,
  
b, c, etc. Para representar vetores, fazemos a, b, c. Quando a indicação do vetor
se dá pelos seus pontos de origem e terminal, A e B, por exemplo, então a repre-

sentação toma a forma AB.
Da mesma forma que conseguimos realizar operações com escalares, tam-
bém é possível realizar algumas delas com os vetores. A seguir, apresentaremos
situações em que as operações com vetores podem ser aplicadas, além de defi-
nir tais operações.
Considere uma partícula que se desloca do ponto A até o ponto B. Podemos

representar esse deslocamento através do vetor AB, que tem origem em A e ter-
mina em B, como mostra a figura 1.2. A magnitude desse vetor representa a
distância percorrida pela partícula.

Figura 1.2

No entanto, se, antes de chegar ao ponto B, essa partícula passa pelo ponto
 
C, então o trajeto pode ser mostrado pelos vetores AC e CB , como na figura 1.3.

Figura 1.3

Afirmar que a partícula sofre deslocamento de A para B significa que ela


parte de A e chega a B, não importando seu trajeto. Mesmo passando por C, o

deslocamento dessa partícula será representado pelo vetor AB. Dizemos, nesse
  
caso, que o vetor AB é igual à soma dos vetores AC e CB .
Como a representação dos vetores ocorre a partir de pontos do plano 2,
então convém que representemos os vetores no sistema de eixos cartesianos.
Considere, portanto, os seguintes pontos do plano:
A = (1,2), B = (6,7) e C = (2,5).

capítulo 1 •7
Vimos que uma partícula que parte de A, passa por C e chega a B tem deslo-

camento representado pelo vetor AB, como mostrado na figura 1.4. Podemos,
então, escrever:
  
AB = AC + CB

y
B
7

6
C
5

2
A
1
0
–1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 x
–1

Figura 1.4

Para facilitar a representação e as operações com vetores, costumamos


representá-los utilizando apenas uma letra com uma seta sobreposta, tal

como v. Mas, nesse tipo de representação, como podemos identificar os
pontos de origem e terminal do vetor? Veja como, a seguir.
Vamos considerar novamente os pontos A = (1,2), B = (6,7) e C = (2,5).
Se subtrairmos uma unidade da abscissa do ponto A e duas unidades
de sua ordenada, obtemos o ponto A’ = (0,0). Fazendo as mesmas opera-
ções com as coordenadas dos pontos B e C, teremos B’ = (6–1,7–2) = (5,5) e
C’ = (2–1,5–2) = (1,3). Na figura 1.5, temos a representação dos pontos A, B, C,
     
A’, B’ e C’ e dos vetores AB, AC, CB, A B , A C e C B . Note que cada um dos pa-
     
res AC e A C , CB e C B , AB e A B apresentam vetores que são paralelos, com
mesma direção e mesmo sentido.

8• capítulo 1
Compare as figuras 1.4 e 1.5 e veja que há pares de vetores paralelos e o tri-
ângulo ABC é congruente e está na mesma posição que o triângulo A’B’C’.
Vetores que possuem mesma direção, sentido e magnitude são considera-
dos vetores iguais. Portanto, se representarmos todos os vetores com origem
no ponto (0,0), teremos facilitada a representação vetorial e tornaremos os cál-
culos vetoriais muito mais rápidos e eficientes. Se considerarmos que todos os
vetores com os quais trabalharemos terão origem em (0,0), então podemos re-
presentá-los somente por suas extremidades (pontos terminais).

y
B
7

6
C B
5

4
C
3

2
A
1
0
A x
–1 0 1 2 3 4 5 6 7 8
–1

Figura 1.5
  
Podemos representar os vetores AC, CB e AB , respectivamente, como:

  
u = (1,3), v = (4, 2) e w = (5,5) .

  
Veja, na figura 1.6, os vetores u, v e w e seus respectivos vetores equivalen-
  
tes AC, CB e AB .

capítulo 1 •9
y
B
7

6
C (5,5)
5

4
(1,3)
3
(4,2)
2
A
1
0
–1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 x
–1

Figura 1.6

Se uma partícula sai do ponto A e chega ao ponto B, seu deslocamento tem


a mesma magnitude, direção e sentido do deslocamento de uma partícula que
sai do ponto (0,0) e chega ao ponto (5,5). Então, podemos considerar que tais
deslocamentos são iguais.

Dado um vetor u = ( x , y ), a sua magnitude, que a partir de agora iremos de-
nominar módulo, é dada por:

u = x2 + y 2 . (1.1)

Para obter a fórmula do módulo de um vetor


 y
u = ( x, y ) só precisamos aplicar o Teorema de
Pitágoras. Considere a representação desse
vetor no plano xy e as suas projeções nos eixos y
x e y.
No triângulo retângulo formado pelo vetor, a 
u
sua projeção no eixo x e o segmento que une a
extremidade do vetor ao eixo x, temos:
2
u = x2 + y2 .
x x
Daí é que resulta a fórmula apresentada em
Figura 1.7
(1.1).

10 • capítulo 1
Considerando, portanto, a representação de um vetor apenas por sua extre-
 
midade, a soma de dois vetores u = ( x1 , y 1 ) e v = ( x 2 , y 2 ) é dada por
 
u + v = ( x1 , y 1 ) + ( x 2 , y 2 )
= ( x1 + x 2 , y 1 + y 2 )

Graficamente, podemos utilizar a regra do paralelogramo para obter o ve-


  
tor soma. Dados dois vetores u e v, trace uma linha paralela ao vetor v que passe
 
pela extremidade de u e, depois, trace outra linha paralela ao vetor u e que pas-

se pela extremidade de v. A interseção dessas duas linhas é a extremidade do
 
vetor soma u + v. Veja a representação da figura 1.8.

  
u u+v


v

Figura 1.8

Exemplo 1.1
 
Determine, algebricamente, a soma dos u = ( −2,6) e v = (3, −4) . Em seguida,
   
represente graficamente u, v e u + v.
A soma é dada por:  
u + v = ( −2,6) + (3, −4)
= ( −2 + 3,6 + ( −4))
= (1, 2)
A representação gráfica dos vetores e de sua soma é mostrada na figura 1.9.

capítulo 1 • 11
y

 6
u

 
u+v
0
–4 –2 0 2 4 6 x

–2


–4 v

Figura 1.9

Outra operação elementar que pode ser realizada com vetores é a multipli-

cação por escalar. Dado um vetor u = ( x1 , y 1 ) e um escalar real a, a multiplica-

ção au é dada por: 
au = (ax1 , ay 1 ).
Vê-se claramente que multiplicar o vetor por uma escalar implica em mul-
tiplicar suas coordenadas por esse escalar. Mas, graficamente, qual é o efeito
disso? Uma coisa é certa: sempre que multiplicamos um vetor por um escalar
não nulo, o resultado é um outro vetor de mesma direção. O sentido do vetor
resultante depende do valor de a. Veja:

 
•  Se a > 0, então au tem o mesmo sentido de u.
 
•  Se a < 0, então au tem sentido oposto ao de u.

12 • capítulo 1
Além disso:

 
•  Se |a| = 1, então au tem módulo igual ao de u.
 
•  Se 0 < |a| < 1, então au tem módulo menor que o de u.
 
•  Se |a| > 1, então au tem módulo maior que o de u.

No exemplo a seguir, você verá como obter algébrica e graficamente o pro-


duto de um vetor por escalar.

Exemplo 1.2

A figura 1.10 apresenta o vetor u = (3, 2) e o seu produto com cada um dos
1
escalares 2 e − .
2

Para obtê-los algebricamente, basta efetuar as multiplicações seguintes:


•  2u = 2(3, 2) = (2 ⋅ 3, 2 ⋅ 2) = (6, 4) ;

1
•  − u = − (3, 2) =  − ⋅ 3, − ⋅ 2 =  − , −1 .
1 1 1 3
2 2  2 2   2 

y
6

5

4 2u

3

2 u

1
0
–2 –1 0 1 2 3 4 5 6 x
–1
1
– u
2 –2

Figura 1.10

capítulo 1 • 13
 
Observe que o vetor 2u tem mesma direção e mesmo sentido que u e seu
1
módulo é o dobro. Já o vetor − u tem a mesma direção, mas sentido contrário
2

e seu módulo é igual à metade do módulo de u.

Se multiplicarmos um vetor qualquer u pelo inverso de seu módulo,
obteremos o seu versor, que é um vetor unitário (tem módulo igual a 1) que pos-
 
sui a mesma direção e sentido de u. O versor do vetor u é, portanto, dado por:

u
.
u

Exemplo 1.3

Dado o vetor u = (4, 3), determine:

a) um vetor unitário que tenha a mesma direção e o mesmo sentido de u;

b) um vetor unitário que tenha a mesma direção e sentido oposto ao de u;
c) um vetor de módulo igual a 3 e que tenha mesma direção e sentido que

u.

Todos os vetores solicitados nos itens acima podem ser obtidos a partir do

versor de u. Para responder ao item (a), basta calcular o seu versor, que é:

u (4,3) (4,3)  4 3 
 = 2 2 = = ,  .
u 4 +3 5  5 5


No item (b), o vetor solicitado é exatamente o oposto do versor de u. Então
basta multiplicar o versor obtido em (a) por –1. O resultado é:

u  4 3  4 3
( −1)  = ( −1)  ,  =  − , −  .
u  5 5  5 5

No item (c), para se obter o vetor solicitado, temos que multiplicar o versor

de u por 3, como mostrado a seguir:

u  4 3   12 9 
3  = 3 ,  =  ,  .
u  5 5  5 5
 
Se escolhermos dois vetores não nulos e não paralelos u = ( x1 , y 1 ) e v = ( x 2 , y 2 ),
podemos escrever qualquer vetor do 2 como combinação linear desses dois

14 • capítulo 1

vetores, isto é, qualquer que seja o vetor w = ( x, y ), existem os escalares a e b
tais que:
  
w = au + bv .

 
Dizemos, então, que o conjunto de vetores u e v constitui uma base do 2.
Veja como escrever um vetor com combinação linear dos vetores de uma base
no exemplo seguinte.

Exemplo 1.4
 
Escreva o vetor w = ( −1, 2) como combinação linear dos vetores u = (0,3) e

v = (2, −5), que constituem uma base do plano 2.
Precisamos determinar os escalares a e b tais que:
  
w = au + bv , (1.2)
ou seja,
(–1,2) = a(0,3) + b(2,–5).

Daí, obtemos:
( −1, 2) = a(0,3) + b(2, −5)
( −1, 2) = (0,3a) + (2b, −5b)
( −1, 2) = (2b,3a − 5b),

que resulta no sistema


2b = −1

3a − 5b = 2
Portanto, os valores de a e b que satisfazem a igualdade (1.2) são:

1 1
a=− e b= − .
6 2

Dizemos que esses valores, nessa ordem, são as coordenadas do vetor w em
 
relação à base {u, v}.

Para definirmos uma função vetorial (como veremos mais adiante) é preciso
considerar os vetores do plano escritos em relação a uma base. E há uma que
torna extremamente fácil essa representação. Ela é denominada base canônica
do 2 e é composta pelos vetores:
 
i = (1, 0) e j = (0,1) .

capítulo 1 • 15

Se considerarmos um vetor qualquer do 2, como w = ( x, y ), suas coordena-
das em relação à base canônica serão os próprios valores x e y.

Exemplo 1.5

Vamos representar o vetor u = (2,3) a partir dos vetores da base canônica do
2.

3  
3j u

1 
j

 
0 i 2i

–1 0 1 2 3 x

Figura 1.11

Na figura 1.11, temos a representação desse vetor a partir da base canônica.



Note que o vetor u = (2,3) é a soma dos vetores

2 i = 2(1, 0) = (2, 0)
e

3 j = 3(0,1) = (0,3),
  
isto é, podemos escrever o vetor u como 2 i + 3 j, o que significa dizer que

{ }
suas coordenadas, em relação à base canônica i , j , são 2 e 3, nessa ordem.

Outra operação que utilizaremos com vetores é denominada produto ve-


   
torial. O produto vetorial de u = ( x1 , y 1 ) e v = ( x 2 , y 2 ) , representado por u × v, é
dado por
   
u × v = u v cosθ , (1.3)

16 • capítulo 1
 
em que q é o ângulo formado pelos vetores u e v , com 0 ≤ θ ≤ π.
 
O produto escalar u × v também pode ser calculado somente a partir das co-
 
ordenadas dos vetores u e v :

 
u × v = x1 ⋅ x 2 + y 1 ⋅ y 2. (1.4)

 π
Considerando que cos   = 0 e comparando as fórmulas (1.3) e (1.4), pode-
 2
  π
mos concluir que, se os vetores u e v formarem entre si um ângulo igual (90°),
  2
então u × v = 0, o que implica em dizer que x1 ⋅ x 2 + y 1 ⋅ y 2 = 0. Da mesma forma,
 
se u × v = 0, então os vetores são ortogonais entre si.

Exemplo 1.6
   
Dados os vetores u = ( −2,1) e v = (3,6) , vamos calcular o produto escalar u ⋅ v
e verificar que eles formam entre si um ângulo reto.
 
Como temos as coordenadas dos vetores u e v , então podemos obter o pro-
duto escalar aplicando a fórmula (1.4):
 
u × v = −2 ⋅ 3 + 1 ⋅ 6 = 0.
 
Veja, na figura 1.12, a representação dos vetores u e v e observe que eles for-
mam entre si um ângulo reto.

y
7

6 
u

2

v
1

0
–3 –2 –1 0 1 2 3 4 5 x
–1

Figura 1.12

capítulo 1 • 17
Um vetor pode também ser representado de forma tridimensional, isto
é, no espaço ou no 3. Nesse caso, sua representação contará com mais uma
coordenada. As operações de soma entre vetores e multiplicação de vetor por
escalar são feitas de forma análoga, como veremos no próximo exemplo. Para
calcular seu módulo, a fórmula é semelhante à apresentada em (1.1). Dado um

vetor u = ( x, y, z), o seu módulo é dado por:


u = x 2 + y 2 + z2 . (1.3)

Exemplo 1.5
 
Considere os vetores u = (1, 2,3) e v = ( −2, −1,1) , cujas representações gráfi-
cas estão na figura 1.13.
5 z

4

u
3

 3
v y
1 2
–4 1
–3
–2 00
–1
–1 0
1
–2 2 x
–2 3
–3 4
–4
–5 –1

Figura 1.13

Vamos, primeiramente, obter o módulo de cada um deles, utilizando a fór-


mula (1.3):


•  u = 12 + 22 + 32 = 14


•  v = ( −2)2 + ( −1)2 + 12 = 6

18 • capítulo 1
A soma de vetores tridimensionais ocorre de forma semelhante ao caso bidi-
 
mensional. Dados dois vetores, u = ( x1 , y 1 , z1 ) e v = ( x 2 , y 2 , z2 ), a soma é dada por:
 
u + v = ( x1 , y 1 , z1 ) + ( x 2 , y 2 , z2 )
= ( x1 + x 2 , y 1 + y 2 , z1 + z2 )
 
A soma dos vetores u = (1, 2,3) e v = ( −2, −1,1) é dada por:
 
u + v = (1, 2,3) + ( −2, −1,1)
= ( −1,1, 4)

–5 z
 
u+v
–4

u
–3

–2

 3 y
v –1 2
–4 1
–3
–2 0
–1 0
–1 0
1
–2 2
3 x
–1
–3 4
–4
–5 –2

Figura 1.14

   
A figura 1.14 mostra o vetor soma u + v e os vetores u e v. Note que, no caso
da representação gráfica da soma de vetores tridimensionais, também vale a re-
gra do paralelogramo, considerando que os três vetores estão no mesmo plano.

Também é semelhante ao caso bidimensional a multiplicação de um esca-



lar por um um vetor tridimensional. Dado um vetor u = ( x1 , y 1 , z1 ) e um escalar

real a, a multiplicação au é dada por:

au = (ax1 , ay 1 , az1 ) .

capítulo 1 • 19
Aqui também valem as mesmas considerações quanto ao valor do escalar
que multiplica o vetor:

 
•  Se a > 0, então au tem o mesmo sentido de u.
 
•  Se a < 0, então au tem sentido oposto ao de u.
 
•  Se |a| = 1, então au tem módulo igual ao de u.
 
•  Se 0 < |a| < 1, então au tem módulo menor que o de u.
 
•  Se |a| > 1, então au tem módulo maior que o de u.

 1   1 3
A figura 1.15 mostra os vetores u = (1, 2,3) e u =  ,1,  .
2  2 2

5 z

4

u
3

2 1 u
2
3
y
1 2
–4 1
–3
–2
–1 00
–1 0
1
–2 2 x
–1 3
–3 4
–4
–5 –2

Figura 1.15
 
{
A base canônica do 3 é o conjunto de vetores i , j, k em que: }
  
i = (1, 0, 0), j = (0,1, 0) e k = (0, 0,1).

Assim como acontece com os vetores no 2, todos os vetores do 3 podem


 
ser expressos como combinação linear dos vetores da base canônica i , j, k do { }
3. Nosso próximo passo será definir funções vetoriais, e esse tipo de represen-
tação vetorial como combinação linear da base canônica tornará nosso traba-
lho fácil.

20 • capítulo 1
Considere que, se uma partícula movimenta-se no espaço, então suas coor-
denadas pelo menos uma delas estão variando com o tempo. Então, podemos
definir cada uma delas como uma função do tempo:

x(t), y(t) e z(t).


Vamos chamar de r (t ) uma função que associa, a cada valor real t, uma tri-

pla ordenada (f(t), g(t), h(t)). Como os “valores” que a função r (t ) assume são
pontos do espaço, então, podemos escrevê-la na forma vetorial como:

   
r (t ) = x(t ) i + y (t ) j + z(t )k, t ∈.


Nesse caso, a função r (t ) é denominada função vetorial ou função a valores
vetoriais.

Exemplo 1.6
Uma partícula movimenta-se em forma de círculo de acordo com a função:

   
r (t ) = (cos t ) i + (sen t ) j + 0k, 0 ≤ t ≤ 2π.

Como a função que define a coordenada z é fixa e igual a zero, então con-
cluímos que a partícula desloca-se apenas no plano xy. A figura 1.16 mostra a
trajetória dessa partícula, que é um círculo de raio igual a 1.

0
–1 0 1 x

–1

Figura 1.16

capítulo 1 • 21
Agora vamos inserir uma função variável para a coordenada z. Considere a
função
   
r (t ) = (cos t ) i + (sen t ) j + tk, 0 ≤ t ≤ 2π.

Seu gráfico está representado na figura 1.17.

2 6
4
2
–5 0
–4
–2 –2 0
0
–4 2
4
–3 6
–2

Figura 1.17

Exemplo 1.7
Se quisermos uma curva semelhante à do exemplo anterior, mas cuja pro-
jeção no plano seja um círculo de raio igual a 2, por exemplo, e que “suba” de
forma mais lenta, podemos fazer as seguintes alterações na função dada:

•  multiplicamos as expressões que determinam as coordenadas x e y por 2


(ou pelo valor que se deseja para a medida do raio);
•  dividimos a expressão que determina a coordenada z por um valor real
maior que zero.

Essas são apenas sugestões para se obter uma outra função nas condições
desejadas.
Então, podemos obter uma função na forma:

   t
r (t ) = (2 cos t ) i + (2sen t ) j + k, 0 ≤ t ≤ 4π.
2

22 • capítulo 1
6

2
4
2
–4 0
–2 –2 00
–4 2
4
–2

Figura 1.18

Compare os gráficos das figuras 1.17 e 1.18 para verificar o efeito, na repre-
sentação gráfica, das alterações feitas na função. O intervalo de variação da va-
riável t foi alterado para que tivéssemos dois gráficos com a mesma amplitude
em relação ao eixo z.

Exemplo 1.8
Podemos ter diversas formas de expressões na definição das coordenadas,
e não somente funções trigonométricas. Veja, por exemplo, na figura 1.19, a
representação gráfica da função
   
r ( t ) = − t i + t 3 j + t 2 k , − 4 ≤ t ≤ 4.


A projeção do gráfico da função r (t ) sobre o plano xy é mostrada pela linha
preta pontilhada.
Para obter um ponto qualquer da função, basta atribuir um valor arbitrário
à variável t e, a partir dele, calcular os valores de x, y e z. Considere, por exemplo,
t = 2. Então,
x = –2; y =23 = 8 e z = 22 = 4.

capítulo 1 • 23

Portanto, o ponto (–2,8,4) é um dos pontos da função r (t ) .
z
7

3
7
2 6
5 y
4
1 3
–6 2
–4 1
–3
–2 –1 00
–2 –1 0
–3 1
–4 –1 2
–5 3
4
–6 5 x
–2 6
7
8
–3

–4

Figura 1.19

CONEXÃO
No endereço www.geogebra.org você encontra o aplicativo Geogebra, que, entre diver-
sas possibilidades, possui recursos para confeccionar gráficos de duas ou três dimen-
sões. Basta digitar a expressão que define a função, indicar a variável e seu campo de
variação, que o aplicativo mostra tanto a sua representação bidimensional como tridi-
mensional. É uma ferramenta extremamente útil para auxiliá-lo no estudo do Cálculo
Diferencial e Integral.

24 • capítulo 1
1.2  Equações paramétricas, derivadas e
integrais de funções vetoriais

Uma função vetorial


   
r (t ) = x(t ) i + y (t ) j + z(t )k, t ∈

tem como funções componentes as funções reais (ou funções escalares)


as funções:
x(t), y(t) e z(t).

Para cada valor t, conseguimos calcular os valores de x(t), y(t) e z(t), isto é,

obtemos um ponto da função r (t ) . Vamos, então, considerar o caso em que a

função r (t ) tem a forma de uma reta no espaço. Para obter um ponto dessa reta,
atribuímos um valor t0 específico de t, obtendo

x0 = x(t0), y0 = y(t0) e z0 = z(t0).


Portanto, o ponto (x0, y0, z0) é um ponto da reta (função) r (t ) .
Quando estudamos as funções que são representadas no plano, podemos
obtê-la a partir de um ponto qualquer pertencente a ela e o seu coeficiente an-
gular m. No caso de uma reta no espaço, é possível determiná-la conhecendo
um de seus pontos e um vetor paralelo a ela.
Vamos considerar uma reta que passa pelo ponto (x0, y0, z0) e é paralela ao
    
vetor v = mi + nj + pk . Então, existe um escalar a que faz com que av seja um

vetor sobre a reta r(t). Dessa forma, podemos escrever a função r (t ) na forma:

 
r (t ) = ( x 0 , y 0 , z0 ) + av . (1.4)

    
Como v = mi + nj + pk e (x, y, z) é um ponto genérico da função r (t ) , então
podemos reescrever a função a expressa em (1.4) na forma:

  
( x, y, z) = ( x 0 , y 0 , z0 ) + a(mi + nj + pk ) . (1.5)

capítulo 1 • 25
Desenvolvendo a expressão em (1.5), teremos:

x = x 0 + am , y = y 0 + an , z = z0 + ap , − ∞ < a < ∞. (1.6)

As equações em (1.6) são chamadas de equações paramétricas da reta no


espaço.

Exemplo 1.9
Vamos obter as equações paramétricas da reta que passa pelo ponto (2,1,–3)

e é paralela ao vetor v = ( −1, 4, −5) .

Aplicando os valores dados na equação (1.5), teremos:

  
(
( x, y, z) = (2,1, −3) + a ( −1) i + 4 j + ( −5) k . )
Desenvolvendo a equação obtida, podemos escrever as equações
paramétricas:

x = 2 − a , y = 1 + 4a , z = −3 − 5a , − ∞ < a < ∞.

Na figura 1.20, temos a representação dessa reta.

z
4

2 x
5
y 4
1 3
4 2
3 2 0 1
1 00 –1
–1 –2 –3
–2–1 –4 –5
–3
–4 –2
–5
–3

–4

Figura 1.20

26 • capítulo 1
Limites, continuidade, derivadas e integrais de uma função vetorial

Há muita similaridade entre os cálculos que serão aqui apresentados e


aqueles que você já viu em Cálculo Diferencial e Integral referente ao estudo
de funções escalares de uma variável. Por esse motivo, dos tópicos que desen-
volveremos, muitos serão abordados de forma mais direta e objetiva, apenas
destacando as adaptações que serão necessárias por tratarmos de funções na
forma vetorial.

Dada uma função vetorial

   
r (t ) = x(t ) i + y (t ) j + z(t )k, t ∈, (1.7)


se quisermos determinar o limite lim r (t ) , este é obtido calculando-se o
t →t0
limite de cada uma das suas funções componentes quando t → t0. Portanto,
podemos escrever:

      
lim r (t ) =  lim x(t ) i +  lim y (t ) j +  lim z(t ) k (1.8)
t →t0  t →t0   t →t0   t →t0 

Vê-se que é uma forma de cálculo semelhante à que você utilizou no Cálculo
Diferencial e Integral I.

Exemplo 1.10
   
O limite da função r (t ) = t 2 i + (t − 1) j + et k quando t → 0 é dado por:

( ) ( 
) (
lim r (t ) = lim t 2 i + lim(t − 1) j + lim et k
t →0 t →0
 
t →0

t →0

)
= 0 i + (0 − 1) j + e k
2 0
  
= 0i − j + k

O resultado indica que, à medida que o parâmetro t se aproxima de zero, a
curva (função) aproxima-se de 0 em relação ao eixo x, de –1 em relação ao eixo
y e de 1 em relação ao eixo z. A figura 1.21 mostra a representação gráfica da

função r (t ).

capítulo 1 • 27
z
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
y
1 x
876 8
543 0 7
210 1 2 3 4 5 6
–7–6–5–4–3–2–1
–1 0–1–2–3–4–5
–9–8 –6–7–8
–2 –9
–3

Figura 1.21


Com relação à continuidade, dizemos que a função r (t ) será contínua em
t = t0 se as suas funções componentes forem contínuas em t = t0 . Isso equivale
a dizer que
 
lim r (t ) = r (t 0 ).
t →0

Já sabemos que a derivada f'(x) de uma função f(x) é definida por

f ( x + h) − f ( x )
f ( x ) = lim (1.9)
h→0 h

sempre que esse limite existe, e que ela representa a taxa de variação instan-
tânea da função f(x) para qualquer x de seu domínio.
Considerando a definição de derivada apresentada em (1.9), podemos con-

cluir que a derivada da função vetorial r (t ) é:
 
 r ( t + h) − r ( t )
r (t ) = lim (1.10)
h→0 h

Aplicando a definição de função vetorial apresentada em (1.7) na expressão


(1.10), temos:

28 • capítulo 1
 
 r ( t + h) − r ( t )
r ( x ) = lim
h→0 h
     
 x ( t + h ) i + y ( t + h ) j + z ( t + h )k  −  x ( t ) i + y ( t ) j + z ( t ) k 
= lim    
h→0 h
     
x ( t + h ) i − x ( t ) i + y ( t + h ) j − y ( t ) j + z( t + h )k − z( t )k
= lim
h→0 h
  
[ x ( t + h ) − x ( t ) ] i + [ y ( t + h ) − y ( t ) ] j + [ z( t + h ) − z( t ) ] k
= lim
h→0 h
Agora, considerando a igualdade em (1.8), podemos concluir:
  

r = lim
[ x ( t + h) − x ( t ) ] i
+ lim
[ y ( t + h) − y ( t ) ] j
+ lim
[ z( t + h ) − z( t ) ] k
h→0 h h→0 h h→0 h

Portanto, a derivada da função vetorial r é dada por:

r = x (t ) + y (t ) + z (t ) (1.11)

A seguir são apresentadas as regras de derivação de funções escalares que


poderão ser utilizadas na determinação de derivadas de funções vetoriais e de
funções com mais de uma variável (que estudaremos nas seções seguintes).
Essas regras foram desenvolvidas e apresentadas no livro de Cálculo Diferencial
e Integral I.

Regras de derivação (revisão)

Sendo c uma constante real e u e v funções escalares (ou reais) de uma vari-
ável x, temos:

d
•  (sen u) = (cos u)u'
dx
d
•  (cos u) = ( −sen u)u '
dx
d
•  (tg u) = (sec2 u)u'
dx
d
•  (csc u) = ( − csc u ⋅ cotg u)u '
dx
d
•  (sec u) = (sec u ⋅ tg u)u '
dx

capítulo 1 • 29
d
•  (cotg u) = ( − csc2 u)u'
dx
d u'
•  (arc sen u) =
dx 1 − u2
d − u'
•  (arc cos u) =
dx 1 − u2
d 1
•  (arc tg u) =
dx 1 + u2
d − u'
•  (arc csc u) =
dx u u2 − 1
d u'
•  (arc sec u) =
dx u u2 − 1
d − u'
•  (arc cotg u) =
dx 1 + u2
d u
•  (a ) = (a u ⋅ ln a)u'
dx
d u
•  (e ) = (eu )u'
dx
d u'
•  (log a u) =
dx u ⋅ ln a
d u'
•  (ln u) =
dx u

Exemplo 1.11
Vamos determinar a derivada da função vetorial

   
r (t ) = (sen t ) i + (cos t ) j + (6et )k.

De acordo com a definição apresentada em (1.11) e aplicando as regras ele-


mentares de derivação, temos:

   
r (t ) = (cos t ) i + ( −sen t ) j + (6et )k .

Assim como ocorrre com os limites e as derivadas de funções vetoriais,


as integrais também são calculadas de forma similar às integrais de funções
escalares.

30 • capítulo 1

A integral indefinida da função vetorial r (t ) é dada por
 
∫ r (t ) dt = R(t ) + C,
 
em que R (t ) é uma primitiva de r (t ) e C é a constante de integração.
Podemos, portanto, concluir que a integral indefinida da função vetorial
   
r (t ) = x(t ) i + y (t ) j + z(t )k , para t ∈, é dada por

  
∫ r (t ) dt = (∫ x(t ) dt ) i + (∫ y(t ) dt ) j + (∫ z(t ) dt ) k .

(1.12)

Como as regras elementares de integração serão necessárias para determi-


nar as integrais de funções vetoriais (e mais adiante de funções de mais que
uma variável), elas serão apresentadas a seguir. Lembrando que todas elas fo-
ram apresentadas no livro de Cálculo Diferencial e Integral I.

Regras elementares de integração (revisão)

Considere a, n, k e C constantes, com a > 0.

•  ∫ k dx = kx + C

x n +1
•  ∫ x n dx = + C, para todo n real diferente de – 1.
n +1

•  ∫ sen x dx = − cos x + C
•  ∫ cosx dx = sen x + C

•  ∫ sec2 x dx = tg x + C

•  ∫ csc2 x dx = −cotg x + C

•  ∫ csc x ⋅ cotg x dx = −csc x + C


•  ∫ sec x ⋅ tg x dx = sec x + C

1
•  ∫ 1 + x2 dx = −cotg x + C

capítulo 1 • 31
1
•  ∫ 1 − x2
dx = arc sen x + C

1
•  ∫ 1 − x2
dx = −arc cos x + C

1
•  ∫ dx = arc tg x + C
1 + x2
1
•  ∫x x2 − 1
dx = −arc csc x + C

1
•  ∫x x2 − 1
dx = arc sec x + C

1
•  ∫ 1 + x2 dx = − arc cotg x + C
•  ∫ a x ⋅ ln a dx =a x + C
•  ∫ ex dx = ex + C
1
•  ∫ x ⋅ ln a dx = log a x + C
1
•  ∫ x dx = ln x + C

Exemplo 1.12
Calcule a integral indefinida da função
   
r (t ) = (t 2 − 1) i + (2t + 1) j + (cos t )k .

Aplicando a fórmula (1.12) e as fórmulas de integração necessárias, temos:


  

( ) ( ) (
∫ r (t ) dt = ∫ (t 2 − 1) dt i + ∫ (2t + 1) dt j + ∫ (cos t ) dt k )
 t3    
=  − t + C1  i + (t 2 + t + C2 ) j + (sen t + C3 ) k
3 

  
Tomando C = C1 i + C2 j + C3 k , podemos, então, concluir que:

  t3    
∫ r (t ) dt =  3 − t i + ( t 2 + t ) j + (sen t ) k + C .

32 • capítulo 1
Na resolução de integrais de funções vetoriais, também podem ser utilizadas
as técnicas de integração abordadas no livro de Cálculo Diferencial e Integral I, tais
como integral por substituição, integral por partes e integral por frações parciais.

   
Se a função r (t ) = x(t ) i + y (t ) j + z(t )k for integrável no intervalo [a, b], então a
sua integral definida, nesse intervalo, será dada por:
b
( b
∫a r (t ) dt = ∫a x(t ) dt ) i + (∫ y(t) dt) j + (∫ z(t) dt) k.
a
b b
a
(1.13)

Exemplo 1.13
   
Vamos retomar a função r (t ) = (t 2 − 1) i + (2t + 1) j + (cos t )k do exemplo ante-
rior para calcular o valor de sua integral definida de t = 0 a t = π.
Temos:

0
π 
( π
0

) (
π
0
 π
) (
∫ r (t ) dt = ∫ (t 2 − 1) dt i + ∫ (2t + 1) dt j + ∫ (cos t ) dt k

0 )
π
 t3   π  π 
=  − t  i + t 2 + t  0 j + [sen t ]0 k
 3 0
 π3  03    
=  − π −  − 0  i +  π2 + π − (02 + 0) j + [sen π − sen π ] k
3  3 
 π 3 − 3π    
=  i +  π 2 + π  j + 0 k
 3 

1.3  Curvas no espaço: vetor tangente,


velocidade e aceleração, curvatura e vetor
normal
Se uma partícula movimenta-se no espaço de acordo com a função vetorial

   
r ( t ) = x ( t ) i + y ( t ) j + z ( t )k ,


e se r (t ) é derivável em todos os pontos de seu domínio, a curva que define

a sua trajetória é considerada lisa se dr / dt for contínua e diferente de zero.
Isso equivale a dizer que as derivadas primeiras x (t ), y (t ) e z (t ) de suas fun-
ções componentes existem e não são todas iguais a zeros, concomitantemente.

capítulo 1 • 33

Se a função r (t ) é o vetor posição dessa partícula, que se movimenta no es-
paço, então seu vetor velocidade é dado por:

 
v (t ) = r (t ) . (1.14)

  
O vetor v (t ) é tangente à curva r (t ). Além disso, a magnitude de v (t ) é o mó-
dulo da velocidade da partícula.


O versor de v (t ), que é um vetor unitário com mesma direção e sentido de

v (t ), indica a direção do movimento da partícula. Esse vetor é denominado ve-
tor tangente unitário e é dado por:

 v
T=  . (1.15)
v

Ele é um dos vetores utilizados para descrever o movimento de objetos no


espaço.

 
Da mesma forma que v (t ) é a derivada de r (t ) pelo fato de a velocidade ser a
taxa de variação da posição em relação ao tempo, podemos concluir que o vetor

aceleração a(t ) é dado por:

 
a( t ) = v ( t ) , (1.16)


se v'(t ) existir, pelo fato de a aceleração ser definida como a taxa de variação
da velocidade (em relação ao tempo).

Exemplo 1.14
Uma partícula inicia seu movimento no ponto (0,1,0) e tem vetor posição
dado por
    t 
r (t ) = (sen t ) i + (cos t ) j +   k .
 2

A representação gráfica dessa função vetorial é mostrada na figura 1.21,


para t variando de 0 a 4π.

34 • capítulo 1
z
7

2
4
1y 3
2
–4 –3 1
0
–2 –1 –1 0
–2 0 –1
–3 –2 –3 x
–4 –4
–5

Figura 1.22


O seu vetor velocidade v (t ) é dado por:
 
v (t ) = r (t )
   1 
= (cos t ) i + ( −sen t ) j +   k.
 2

Considere, por exemplo, um instante t = π em que a partícula encontra-se


no ponto
 π  π
 sen π,cos π,  =  0, −1,  .
2 2

Nesse ponto, o vetor tangente unitário T será dado por:
 
v(π)
T( π ) = 
v(π)
 π  π
 0, −1,  
0, −1, 
2 2 1  π
= = =  0, −1,  .
 π
2 π2 π2 2
02 + ( −1)2 +   1+ 1+
 2 4 4

capítulo 1 • 35
O vetor aceleração dessa partícula será dado por:
 
a(t ) = v (t )
  
= ( − sen t ) i + ( −cos t ) j + 0k.

Outro elemento importante no estudo do movimento de partículas no es-


paço é a curvatura. Para entendê-la, considere que quando uma partícula mo-

ve-se ao longo de uma curva lisa, o vetor tangente unitário T vai mudando de
direção. Por se tratar de um vetor unitário, seu módulo não se altera. A taxa,

por unidade de comprimento, na qual o vetor T vira ao longo da curva é que
é denominada curvatura. Ela é representada pela letra grega κ (lê-se “capa”) e
sua fórmula é:

1 dT
κ=  (1.17)
v dt
 
 dr
em que v = é o vetor velocidade da partícula e T é o seu vetor tangente
dt
unitário.
  
Para cada vetor T , podemos obter o vetor normal N, que é ortogonal a T e
pode ser obtido por:

 T (t )
N=  . (1.18)
T (t )

O vetor N também é conhecido por normal unitária principal.

Exemplo 1.15
Vamos considerar a partícula do exemplo anterior para determinar sua cur-

vatura e o vetor normal N.

Conforme visto na igualdade (1.15),

 v
T=  .
v

36 • capítulo 1
Então,
  1 
 (cos t ) i + ( −sen t ) j +  k
2
T=
2
(cos t )2 + ( −sen t )2 + 
1

2
1     1 
=  (cos t ) i + ( −sen t ) j +  2  k 
1
cos2 t + sen2 t +
4
1     1 
=  (cos t ) i + ( −sen t ) j +  2  k 
1
1+
4
2 5   1 
=  (cos t ) i + ( −sen t ) j +   k
5  2 
2 5   2 5  5
= cos t  i +  − sen t  j + k.
 5   5  5

Portanto, a curvatura κ , segundo a igualdade em (1.17), será dada por:



1 dT
κ= 
v dt
1  2 5   2 5  
= − sen t  i +  − cos t  j + 0k
   1    5   5 
(cos t ) i + ( −sen t ) j +   k
2
2 2
1  2 5   2 5 
=  − sen t  +  − cos t  + 02
1  5   5 
cos2 t + sen2 t +
4
1 4 4
= sen2 t + cos2 t
1 5 5
1+
4
2 5 4
=
5 5
(sen2 t + cos2 t )
2 5 4
=
5 5
4
=
5

capítulo 1 • 37
4
Portanto, sua curvatura é igual a unidades de comprimento por unidade
5
de tempo.


A equação (1.18), que define o vetor normal N , permite-nos escrever:

 T (t )
N= 
T (t )
 2 5   2 5  
 − 5 sen t  i +  − 5 cos t  j + 0k

=
 2 5   2 5  
 − 5 sen t  i +  − 5 cos t  j + 0k

 2 5   2 5  
 − 5 sen t  i +  − 5 cos t  j + 0k

=
2 2
 2 5   2 5 
 − 5 sen t  +  − 5 cos t  + 02

 2 5   2 5  

 5 sen t  i +  − 5 cos t  j + 0k

=
4 4
sen2 t + coss2 t
5 5
 2 5   2 5  
 − 5 sen t  i +  − 5 cos t  j + 0k
=
4
5
(sen2 t + cos2 t )
 2 5   2 5  
 − 5 sen t  i +  − 5 cos t  j + 0k
=
4
5
5  2 5   2 5   
=  − sen t  i +  − cos t  j + 0k 
2  5   5  
  
= ( −5 sen t ) i + ( −5 cos t ) j + 0k
  
= − (sen t ) i + (cos t ) j + 0k.

38 • capítulo 1
1.4  Coordenadas polares
Até o momento, todas as representações gráficas de vetores ou de funções
foram feitas utilizando-se coordenadas cartesianas do tipo (x,y) ou (x,y,z), res-
pectivamente, no 2 e no 3. Mas uma outra forma, que muitas vezes torna a re-
presentação mais simples, ocorre através da utilização de coordenadas polares.
Para defini-las, primeiro precisamos fixar uma origem, que é um ponto deno-
minado polo, e iremos representá-lo por O. A partir desse ponto, determinamos
uma semirreta orientada, chamada de eixo polar. Assim, para cada ponto P do
plano, definimos um par de coordenadas (r,θ) em que r é a distância do ponto O
ao ponto P e θ é a medida do ângulo formado entre o segmento OP e o eixo polar.

P
r

O θ
eixo polar

Figura 1.23

As coordenadas polares serão definidas considerando-se o eixo polar como


sendo o eixo x.

Exemplo 1.16
Vamos determinar as coordenadas polares do ponto 1, 3 . ( )
2
P

1 r

0 O θ
0 b 1

Figura 1.24

capítulo 1 • 39
Na figura 1.24, temos a representação do ponto P utilizando suas coordena-
das cartesianas e a indicação das coordenadas polares (r, θ). Para determinar
a coordenada polar r, podemos utilizar o teorema de Pitágoras, como a seguir:

( 3)
2
r 2 = 12 + ⇒ r = 2.

Com relação à coordenada polar θ, podemos determiná-la a partir de algu-


ma razão trigonométrica, tal como seno ou cosseno. Utilizando o seno, temos:
3
sen θ = .
2
3 π π
Como arc sen = , no intervalo [0, 2θ], então concluímos que θ = .
2 3 3
Portanto, a representação do ponto P utilizando coordenadas polares é
 π .
 2, 
3
Uma característica interessante das coordenadas polares é que um ponto
possui infinitas representações, enquanto sua representação em coordenadas
cartesianas é única. Veja, no exemplo a seguir, como isso acontece.

Exemplo 1.17
Obtenha todas as coordenadas polares do ponto  π  , representado na fi-
 2, 
3
gura 1.25.

2
P

1 r

0 O
–1 0 1

–1

Figura 1.25

40 • capítulo 1
 π  2π 
O ponto P =  2,  também pode ser representado por P =  −2, −  , quan-
 3  3
do invertemos o sentido do segmento orientado que une os pontos P e O e, nes-
se caso, a medida do ângulo entre a reta suporte desse segmento e o eixo x é
representada considerando-se o sentido horário (negativo).
π
O ângulo de medida θ = possui infinitos ângulos equivalentes, que são:
3

π π π
± 2π, ± 4π, ± 6π, ...
3 3 3


De forma semelhante, para o ângulo de medida θ = − , temos as seguintes
3
medidas equivalentes:
2π 2π 2π
− ± 2π, − ± 4π, − ± 6π, ...
3 3 3

 π
Portanto, considerando a representação do ponto P na forma  2,  , pode-
 3
mos estabelecer como equivalentes as representações:

 π 
 2, ± 2nπ , para n ∈ .
3
 π
Quanto à representação na forma  −2,  , temos as seguintes representa-
 3
ções para o ponto P:

 2π 
 −2, − ± 2nπ , para n ∈ .
3

As coordenadas polares (r, θ) podem ser relacionadas com as coordenadas


cartesianas (x, y) das seguintes formas:
x = r cos θ
y = r sen θ
x + y = r (teorema de Pitágoras)
2 2 2

Dessa forma, é possível realizar substituições em equações ou funções ex-


pressas em relação às coordenadas cartesianas, transformando-as em equa-
ções ou funções polares (ou expressas em relação às coordenadas polares).

capítulo 1 • 41
Exemplo 1.18
A equação do círculo de raio igual a 4, com centro em (0,0), representada
com coordenadas cartesianas, é:

x2 + y2 = 4. (1.19)

Considerando que x = r cos θ e y = r sen θ, então podemos escrever a


equação (1.15) na forma:

r 2 cos2 θ + r 2 sen2 θ = 4 . (1.20)

No entanto, como é possível colocar o termo r2 em evidência e a soma cos2 θ +


sen2 θ = 1, então podemos simplificar a expressão (1.20), como mostrado a seguir:

r 2 cos2 θ + r 2 sen2 θ = 4
r 2 (cos2 θ + sen2 θ ) = 4
r2 = 4

Observe como a representação na forma polar ficou bem mais simples.


Contudo, isso nem sempre acontece. Há situações em que é melhor trabalhar
com coordenadas polares e outras em que o trabalho será facilitado se as coor-
denadas forem cartesianas.

Exemplo 1.19
Agora, vamos converter uma equação polar para a forma cartesiana. A
equação

5
r= ,
3 sen θ + 2 cos θ

que está na forma polar, pode ser escrita na forma cartesiana considerando-se
as substituições:

x = r cos θ e y = r sen θ.

Contudo, antes, são necessários alguns procedimentos algébricos para que


os termos r cos θ e r sen θ apareçam na equação. Veja:

42 • capítulo 1
5
r=
3 sen θ + 2 cos θ
r (3 sen θ + 2 cos θ ) = 5
3r sen θ + 2r cos θ = 5
3 x + 2 y = 5.

No caso deste exemplo, a equação apresentada é mais simples na forma


cartesiana.
No próximo capítulo, trataremos das funções de várias variáveis e suas
derivadas.

capítulo 1 • 43
44 • capítulo 1
2
Funções de Várias
Variáveis e Suas
Derivadas
As aplicações de funções reais (ou escalares) que dependem de apenas uma
variável são inúmeras. No Cálculo Diferencial e Integral I, estudamos exclu-
sivamente esse tipo de função. Vimos aplicações de seus limites, derivadas e
integrais. No entanto, há outras incontáveis aplicações em que necessitamos
do auxílio de funções que dependem de duas ou mais variáveis. Podemos citar
diversos exemplos na Física, Química, Engenharia, Computação, Biologia, Ci-
ências Econômicas, Contábeis ou Sociais, entre tantas outras áreas. A seguir,
alguns exemplos que serão apenas citados, com o intuito apenas de dar uma
noção da gama de aplicações do assunto que veremos neste capítulo.
A lei de Gay-Lussac ou lei de um gás ideal confinado é dada pela equação

PV = kT (1.1)

em que P é a pressão (em Newton/unidade cúbica), V é o volume (em unida-


des cúbicas), k é uma constante (que depende do gás) e T é a temperatura (em
graus) a que está submetido o gás. A partir da equação em (1.1) podemos expres-
sar a P em função das variáveis V e T, ou V em função de T e P, ou, ainda, T em
função de P e V. Essas representações podem ser simbolizadas utilizando-se a
notação de funções, respectivamente, como:

kT kT PV
P ( T, V ) = , V (P, T ) = e T(P, V ) = .
V P k

No estudo sobre a demanda de um produto, geralmente, nós a relaciona-


mos com o seu preço apenas, permitindo realizar análises através de uma fun-
ção de uma única variável. Isso ocorre para que se verifique o efeito da variação
do preço sobre a demanda ou, da mesma forma, o efeito da variação da deman-
da sobre o preço. No entanto, se o objetivo for estimar a demanda a partir de
fatores que têm influência sobre ela, convém destacar outras variáveis além
do preço. Nesse caso, podemos ter uma função que relaciona a quantidade de-
mandada do produto (y) com variáveis tais como preço (x1), taxas de juros (x2)
e índice inflacionário (x3), por exemplo, que nos leva à determinação de uma
função que será representada por f(x1, x2, x3). Logicamente, podemos destacar
outras inúmeras variáveis que podem afetar a demanda de um produto (tais
como renda média da população, preços dos produtos similares, etc.), mas des-
tacamos somente algumas para ilustrar.

46 • capítulo 2
No estudo de circuitos elétricos, a potência instantânea P desenvolvida por
um dispositivo de dois terminais é o produto da diferença de potencial U entre
os terminais e a corrente elétrica I que passa através do dispositivo. Podemos
escrever a potência P em função das variáveis U e I da seguinte forma:

P(I,U) = I · U,

e, da mesma forma, podemos escrever I em função de P e U, ou U em função


de P e I.
Segundo a lei gravitacional universal de Newton, uma partícula de massa m0
na origem de um sistema de coordenadas x, y e z, o módulo da força F exercida
sobre uma outra partícula, de massa m, localizada em um ponto (x, y, z) é dada
por:
m ⋅ m0 ⋅ g
F ( x, y, z, m, m0 ) = 2 ,
x + y 2 + z2

em que g é a constante de gravitação universal.

Os índices de mortalidade infantil de certas regiões também podem ser tra-


tados de forma funcional em relação a várias variáveis independentes, como
taxa de subnutrição, renda média, pesos (massas) ao nascer, entre outras.
Um tipo muito utilizado de aplicação diz respeito à construção de sólidos
espaciais que têm aplicação em diversas áreas do conhecimento. E esses só-
lidos são descritos matematicamente através de funções de duas variáveis.
Alguns deles serão tratados nas seções seguintes.
As funções de várias variáveis têm algumas propriedades que se asseme-
lham às das funções de uma variável. Isso acontece, por exemplo, com o cál-
culo de limites e com as propriedades referentes à continuidade. Com relação
ao cálculo de derivadas, apesar da necessidade de utilização das regras já utili-
zadas com as funções de uma variável, você notará diferenças um pouco mais
significativas. Mas, certamente, o conhecimento das regras e procedimentos
vistos no cálculo de funções de uma variável serão de suma importância para o
desenvolvimento deste e dos próximos capítulos.

capítulo 2 • 47
2.1  Funções de várias variáveis

Definição:
Uma função f; n → , que relaciona cada valor real w de um conjunto D ∈  com um
n-upla ordenada (x1, x2,..., xn) ∈n é denominada uma função de várias variáveis.
Podemos representá-la na forma:
w = f ( x1, x2 ,..., xn )

O conjunto D é o domínio da função e o conjunto de todas as n-uplas or-


denadas que se relacionam com os elementos do domínio D é denominado
imagem da função.
Funções desse tipo são utilizadas na representação de superfícies, planos
e sólidos espaciais, além de diversas outras situações em que o número de va-
riáveis independentes não nos permite realizar uma representação no sistema
tridimensional de eixos cartesianos. A seguir, veremos alguns exemplos em que
são apresentadas funções com duas (n = 2) variáveis independentes. Para evi-
tar que tenhamos de indexar as variáveis independentes, vamos, geralmente,
denotá-las por x e y (ou outras letras quaisquer), enquanto que a variável de-
pendente será representada pela letra z. Isso também facilita a associação da
função com sua representação gráfica no sistema de eixos xyz. Sendo assim,
podemos considerar que z é uma função de x e y ou, em símbolos,
z = f (x, y)

Exemplo 2.1
A representação gráfica da função
z=x–y+2

é um plano que está representado na figura 2.1. Para uma melhor visualiza-
ção, foram consideradas as seguintes variações para x e y:

−2 ≤ x ≤ 2 e − 2 ≤ y ≤ 2.

48 • capítulo 2
Na verdade, da forma como a função foi apresentada, não há restrições para
os valores de x e de y, o que torna o plano ilimitado.
Para determinar pontos dessa função (ou do plano), podemos seguir as su-
gestões abaixo:

•  atribuímos valores arbitrários para x e y;


•  a partir desses valores, calculamos o valor de z utilizando a expressão
z = f(x, y);

Isso é bem simples. Considere, por exemplo, as escolhas x = 1 e y = –1. Então,


temos:
z = f (1, −1)
= 1 − ( −1) + 2
=4

Portanto, o ponto (1, –1, 4) pertence ao plano representado pela função


z = x – y + 2. Costumamos dizer que o ponto (x,y) = (1, – 1) é um ponto do domínio
da função e o valor z = 4 é a imagem relativa a esse ponto.

6 z

3
–4
–4 2 –3
–3 –2
–2 1 –1
–1
0
00 1
1 2
2 3
–1 4
3 5
4 –2
5 y
6 –3
x

Figura 2.1

Procedendo dessa forma, é possível obter quantos pontos forem necessá-


rios. A figura 2.2 mostra novamente o plano gerado pela função z = x – y + 2 com
a inclusão do ponto (1, –1, 2).

capítulo 2 • 49
6 z

(1, –1, 4) 4

3
–4
–4 2 –3
–3 –2
–2 1 –1
–1
0
00 1
1 2
2 3
–1 4
3 5
4 –2
5 y
6 –3
x

Figura 2.2

O domínio da função definida por z = x – y + 2 é composto por todos os pares


ordenados (x,y) ∈2, pois não há nenhuma combinação de valores de x e de y
que não permita o cálculo da variável z. Como a representação dessa função é
um plano ilimitado, se considerarmos as projeções ortogonais de todos os seus
pontos no plano definido pelos eixos x e y, teremos o próprio plano xy.

Exemplo 2.2
A função
z = x2 + 2y2

está representada graficamente na figura 2.3. O seu domínio também é


constituído por todos os pares ordenados (x,y) ∈2. Não há nenhuma restrição
quanto aos valores que ambos podem assumir. A representação gráfica é limi-
tada, mas nota-se que, se continuarmos ampliando os intervalos de variação
tanto de x como de y, os valores de z também crescerão e o gráfico se expandirá
nos dois sentidos em relação aos valores de x e de y. Portanto, as projeções orto-
gonais de todos os pontos da função tomarão todo o plano xy.
Com relação à imagem desta função, nota-se, tanto gráfica como algebrica-
mente, que z assume somente valores não negativos. Não há nenhuma combi-
nação de valores x e y que resultem em um valor negativo para a variável depen-
dente z.

50 • capítulo 2
z
5

–5 3
–4 4
2
–3 3 y
–2 2
1
1
–1 00
–1 0
–2
–1 1
–3
–4 2
–2 x
3

Figura 2.3

Exemplo 2.3
A função
y2
z = x2 +
4
tem representação gráfica apresentada na figura 2.4

z
7

3
6
2 5
4 y
3
–7 –6 1 2
–5 –4 0 1
–3 –2 –1 0
–1 0
–2
–3 1 2 x
–4 –1 3 4 5
–5 6
–6 –2
–7
–3

–4

Figura 2.4

capítulo 2 • 51
A expressão
y2
x2 +
4
que aparece no interior de uma raiz quadrada não pode assumir valor nega-
tivo. Portanto, devemos ter valores x e y tais que
y2
x2 + ≥ 0.
4

Então o domínio da função

y2
z = x2 +
4

é definido pelo conjunto real

 y2 
D = ( x, y ) ∈R 2 / x 2 + ≥ 0 .
 4 

Como a raiz quadrada nunca resulta em valor negativo, concluímos que z


não assume somente valores positivos ou nulos. Se x e y forem, ambos, iguais a
zero, z também será. Podemos ver isso no gráfico e, com seu auxílio, podemos
concluir que a imagem da função é dada por Im = .

Exemplo 2.4
A função
z = 1 + sen x + cos y

tem como domínio todo o plano xy. Como a variação tanto da função seno
como da função cosseno ocorre somente no intervalo [1, 1], então podemos
concluir que a variável z assume qualquer valor real no intervalo [–1, 3].
O gráfico desta função é apresentado sob duas perspectivas diferentes nas
figuras 2.5 e 2.6.

52 • capítulo 2
z
8
7
6
5
4
3 6
5 y
2 4
–6 3
–5 1 2
–4 1
–3
–2 00
–1
–1
–3 –10 1
–3 2
–4 3
–5 –2 4
–6 5 x
–7 –3 6
–8 7
8
–4

Figura 2.5

z
8

1
–8 –7 –6 –5 –4 –3 –2 –1 0 1 2 3 x4 5 6
0
–6–5–4–3–2–1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 y
–1

–2

–3

–4

Figura 2.6

capítulo 2 • 53
Os conceitos de limite e continuidade são facilmente estendidos para as
funções de várias variáveis. Para limites, utilizaremos a seguinte notação

L= lim f ( x1 , x 2 ,..., x n )
(x1 ,x2 ,...,xn )→(a1 ,a2 ,...,an )

Vamos ver alguns exemplos com funções de duas e três variáveis.

Exemplo 2.5
Calcule o limite

 1 1
L= lim −1+  .
( x , y )→(2,3)  x 2 y

Aqui, valem as mesmas propriedades já estudadas no Cálculo para funções


de uma variável. Podemos realizar as substituições das variáveis e calcular os
valores resultantes. Portanto:
 1 1
L= lim −1+ 
(2,3)→(0,∞ )  x 2 y
1 1
= 2
−1+
2 3
5
=−
12

Quando há descontinuidade da função para, pelo menos, um dos valores


indicados no limite, podemos recorrer aos mesmos artifícios que utilizamos
com as funções de uma variável. Veja dois exemplos a seguir.

Exemplo 2.6
O limite
 y2 
L= lim
( x , y )→( −1,2)  x + 1 

apresenta uma função que é descontínua para o valor ao qual x tende. No


entanto, sabemos que expressões na forma

1 1
+ = ∞ ou –=–∞
0 0

54 • capítulo 2
tendem ao infinito. Portanto, podemos escrever

 y2 
L= lim =∞
( x , y )→( −1,2)  x + 1 

Exemplo 2.7
O limite
 x2 y3 
L= lim
( x , y )→(1,0)  x 3 y + xy 

não pode ser calculado diretamente, pois, se atribuirmos valor 0 (zero) para
y, a função assumirá a forma indeterminada 0/0. No entanto, é possível fatorar
as expressões do numerador e denominador e realizar uma simplificação algé-
brica que permitirá o cálculo do limite de forma fácil. Veja a seguir.

 x2 y3 
L= lim
( x , y )→(1,0)  x 3 y + xy 
 x2 y3 
= lim
( x , y )→(1,0)  xy ( x 2 + 1)) 
 xy 2 
= lim
( x , y )→(1,0)  x 2 + 1 
0 ⋅ 02
=
02 + 1
=0

Com relação à continuidade, para maior facilidade e clareza nas explana-


ções, vamos considerar uma função genérica de duas variáveis f(x,y), pois, de
forma intuitiva, podemos considerar os resultados obtidos extensivos às fun-
ções de várias variáveis.

Uma função f(x, y) é contínua em um ponto (x0, y0) se, e somente se, existe o limite
lim f( x, y )
( x , y )→ ( x 0 , y 0 )

e ele é igual a f(x0,y0).

capítulo 2 • 55
Exemplo 2.8
Podemos dizer que a função
1 1
f ( x, y ) = −1+
x2 y

é contínua no ponto (2,3), pois o limite

 1 1
L= lim  −1+ 
( x , y )→(2,3)  x 2 y

e é igual a f(2,3), como já vimos pelos cálculos apresentados no Exemplo 2.5.

Exemplo 2.9
A função
x2 y3
f ( x, y ) =
x 3 y + xy

não é contínua no ponto (1,0), pois, apesar de o limite

 x2 y3 
L= lim
( x , y )→(1,0)  x 3 y + xy 

existir (como podemos constatar no Exemplo 2.7), o seu valor é diferente de


f(1,0).

A seguir, algumas propriedades que podem auxiliar na análise da continui-


dade de funções.

Se um ponto (x0, y0) pertence aos domínios de duas funções f(x,y) e g(x, y) e se ambas são
contínuas nesse ponto, então:
•  h(x, y) = f(x, y) ± g(x, y) é contínua em (x0, y0);
•  h(x, y) = f(x, y) g(x, y) é contínua em (x0, y0);
f( x, y )
•  h( x, y ) = é contínua em (x0, y0) se g(x0, y0) ≠ 0.
g( x, y )

Na próxima seção, começaremos a estudar as derivadas de funções de várias


variáveis.

56 • capítulo 2
2.2  Diferenciação parcial
O processo de diferenciação (ou derivação) de funções de várias variáveis pode
ser realizado considerando-se as já conhecidas regras de derivação de funções
a uma variável. Basta aplicar essas regras a uma das variáveis independentes,
mantendo fixas as demais. Esse método é denominado diferenciação parcial.
Inicialmente, vamos considerar funções com apenas duas variáveis inde-
pendentes para mostrar como o realizar a diferenciação parcial, pois, para fun-
ções com mais variáveis, não há alterações significativas nesse processo.

Exemplo 2.10
Considere a função

f ( x, y ) = x 2 + y 2 − x + y .

Começaremos considerando a variável y fixa (constante). Então, obteremos


a derivada parcial ∂f ( x, y ) da funçãof(x,y) em relação à variável x da seguinte
forma: ∂x

∂f ( x , y ) ∂ 2
= (x + y2 − x + y )
∂x ∂x
∂ ∂ ∂ ∂
= ( x 2 ) + ( y 2 ) − ( x ) + ( y ).
∂x ∂x ∂x ∂x

Como estamos (momentaneamente) considerando y constante, as derivadas


∂ 2 ∂
∂x
( y ) e
∂x
(y)

são ambas iguais a zero (a derivada de qualquer constante é nula). Então,


voltando ao cálculo da derivada parcial em relação a x, temos:

∂f ( x , y ) ∂ 2 ∂ ∂ ∂
= ( x ) + ( y2 ) − (x ) + ( y )
∂x ∂x ∂x ∂x ∂x
= 2x + 0 − 1 + 0
= 2x − 1

Agora, vamos considerar x constante para obter a derivada parcial dessa


função em relação a y:

capítulo 2 • 57
Nesse caso, as derivadas nulas serão

∂ 2 ∂
∂x
( x ) e
∂x
(x )

pelo fato de estarmos considerando x constante. Portanto, voltando ao cál-


culo da derivada, temos:
∂f ( x , y ) ∂ 2 ∂ ∂ ∂
= ( x ) + ( y2 ) − (x ) + ( y )
∂y ∂y ∂y ∂y ∂y
= 0 + 2y − 0 + 1
= 2y + 1

A notação que geralmente utilizamos para indicar uma derivada parcial, por exemplo, de
uma função f em relação a x, é
∂f ( x , y ) .
∂x

Podemos também indicá-la utilizando a letra “d ” no lugar do símbolo “d”, ou seja, na forma
df ( x, y ) .
dx
Contudo, a utilização desse símbolo serve para dar ênfase ao fato de que se trata de
uma derivação parcial.

De forma geral, para uma função f de duas variáveis, definimos as suas deri-
vadas parciais como mostrado a seguir.

Definição de derivadas parciais para funções de duas variáveis


Considere uma função de duas variáveis f(x, y) e um ponto (x, y) de seu domínio. Então
∂f ( x , y ) f ( x + h, y ) − f ( x, y )
= lim
∂x h→ 0 h

é a derivada parcial de f (x, y) em relação a x e


∂f ( x , y ) f ( x, y + h) − f ( x, y )
= lim
∂y h→ 0 h
é a derivada parcial de f (x, y) em relação a y, se esses limites existirem.

Note, pela definição apresentada, que a derivada parcial em relação a x


reflete a taxa de variação instantânea da função f(x, y) em relação somente à

58 • capítulo 2
coordenada x. De forma análoga, a derivada parcial em relação a y reflete a taxa
de variação instantânea de f(x, y) em relação somente à coordenada y.
Para uma compreensão mais clara do que isso significa, veja o exemplo
seguinte.

Exemplo 2.11
Considere, novamente, a função do Exemplo 2.10. Vimos que

∂f ( x , y ) ∂f ( x , y )
= 2x − 1 e = 2y + 1
∂x ∂y

Vamos calcular o valor da derivada parcial em relação a x para um ponto


arbitrário do domínio da função f(x, y). Considere o ponto (1, –1). Então, temos:

∂f (1, −1)
= 2 ⋅1 − 1 = 1 .
∂x

Esse resultado indica que, nesse ponto, a taxa de variação instantânea da fun-
ção f(x, y) em relação a x é igual a 1. Isso equivale a dizer que o coeficiente angular
da reta tangente à superfície f(x, y) no ponto (1, –1) e paralela ao plano yz é igual a
1. Veja, na figura 2.7, a representação do gráfico da função f(x, y) e da reta tangen-
te a ele no ponto (1, –1), bem como do plano em que a reta tangente está situada.

z
4

1 2
–2
–2 –1 –1 0 0 y
–3 (1, –1, 0)0
1
2
3

Figura 2.7

capítulo 2 • 59
A seguir, você vê a generalização da definição de derivada parcial para fun-
ções de várias variáveis.

Definição de derivadas parciais para funções de várias variáveis


Considere uma função a n variáveis f(x1, x2, ..., xn) e um ponto (x1, x2, ..., xn) de seu domínio.
Para um valor inteiro k, de 1 a n, temos que

∂f ( x1, x2 ,..., xn ) f ( x1, x2 ,..., xk + h,..., xn ) − f ( x1, x2 ,...., xn )


= lim
∂x k h→ 0 h

é a derivada parcial de f(x1, x2, ..., xn) em relação à variável xk, desde que esse limite
exista.

Para indicar a derivada parcial de uma função f(x1, x2, ..., xn) em relação a uma variável xk,
estamos (e vamos continuar) utilizando a notação

∂f ( x1, x2 ,..., xn )
.
∂xk

Contudo, há outras notações que surgem em diversos livros e textos envolvendo o es-
tudo de derivadas parciais. Todas as representações a seguir são equivalentes:
∂f ( x1, x2 ,..., xn ) ∂f
=
∂x k ∂x k
= fx ( x1, x2 ,..., xn )
k

= fk ( x1, x2 ,..., xn )
= Dx f ( x1, x2 ,..., xn )
k

= Dk f ( x1, x2 ,..., xn )

Exemplo 2.12
Encontre as derivadas parciais da função
x
f ( x, y, z) = x3 y 2 z + 3 y − x ln y +
z
em relação a cada uma das variáveis x, y e z.

Para determinar a derivada parcial em relação à variável x, vamos fixar (tor-


nar, momentaneamente, constantes) as variáveis y e z. Sendo assim, em todos

60 • capítulo 2
os termos em que estiverem presentes y e z, aplicaremos as regras de derivação
que envolvem constantes. Teremos, então:
∂f ( x , y , z ) ∂  3 2 x
=  x y z + 3 y − x ln y + 
∂x ∂x  z
∂ ∂ ∂ ∂  x
= ( x3 y 2 z ) + (3 y ) − ( x ln y ) +  
∂x ∂x ∂x ∂x  z 
 1
= (3x 2 y 2 z ) + 0 − ( ln y ) +  
 z
1
= 3x 2 y 2 z − ln y +
z

A derivada parcial em relação a y será dada por:

∂f ( x , y , z ) ∂  3 2 x
=  x y z + 3 y − x ln y + 
∂y ∂y  z
∂ 3 2
=
∂y
( x y z) + ∂∂y (3 y ) − ∂∂y ( x ln y ) + ∂∂y  xz 
 1
= (2 x3 yz ) + 3 −  x ⋅  + 0
 y
x
= 2 x3 yz + 3 −
y

E, finalmente, a derivada parcial em relação a z será dada por:

∂f ( x , y , z ) ∂  3 2 x
=  x y z + 3 y − x ln y + 
∂z ∂z  z
∂ ∂ ∂ ∂  x
= ( x3 y 2 z ) + (3 y ) − ( x ln y ) +  
∂z ∂z ∂z ∂z  z 
 x
= ( x3 y 2 ) + 0 − 0 +  − 2 
 z 
x
= x3 y 2 − 2
z

No próximo exemplo, veremos uma aplicação das derivadas parciais.

capítulo 2 • 61
Exemplo 2.13
A resistência elétrica R (em ohms) de um circuito elétrico é dada por
E
R=
I
em que I é a corrente elétrica (em ampères) e E é a força eletromotriz (em
volts). Podemos denotar a função R como

R (E, I).

Vamos calcular as derivadas parciais

∂R (E, I) ∂R (E, I)
e .
∂E ∂I

Temos, portanto
∂R (E, I) 1
=
∂E I
e
∂R (E, I) E
=− 2
∂I I

Se considerarmos dois valores arbitrários 10 ampères e 220 volts, respecti-


vamente, para I e E, teremos:

∂R (10, 220) 1
= = 0,1 (1.2)
∂E 10
e

∂R (E, I) 220
= − 2 = −2, 20 . (1.3)
∂I 10

O resultado em (1.2) indica que a taxa de variação instantânea da resistên-


cia elétrica R em relação à força eletromotriz E quando esta é igual a 220 volts
(e a corrente elétrica é fixada em 10 ampères) é igual a 0,1. Isto significa que a
resistência aumenta 0,1 ohm para um aumento infinitesimalmente pequeno
da força eletromotriz.
Já o resultado em (1.3) nos traz a informação de que a taxa de variação ins-
tantânea da resistência elétrica em relação à corrente elétrica I, quando esta

62 • capítulo 2
é igual a 10 (e a força eletromotriz é fixada em 220 volts), é igual a –2,20, o que
equivale a dizer que a resistência elétrica diminui 2,20 ohms para um aumento
infinitesimalmente pequeno da corrente elétrica.
Mais uma aplicação a seguir.

Exemplo 2.14
O volume f de um cone é dado por
π y2
f ( x, y ) = 9x2 − y 2
12
em que x é o comprimento, em centímetros, da sua geratriz (segmento que
une o vértice do cone a qualquer ponto da circunferência que delimita sua base)
e y é a medida, em centímetros, do diâmetro de sua base.
d) Mantido o diâmetro fixo (constante) e igual a 16 cm, com a geratriz va-
riando, determine a taxa de variação do volume do cone em relação à medida da
geratriz, no momento em que esta mede 8 cm.
e) Agora, mantendo fixa a medida da geratriz, com o diâmetro variando,
calcule a taxa de variação do volume em relação à medida do diâmetro, quando
este vale 16 cm.
A figura 2.8 apresenta o cone, considerando os valores x = 8 cm e y = 16 cm.

4
10
8
2 6
4
–10 2
–8
–6
–4
–2–2 00
0
–4 2
–6 4
6
–8 –2 8

–4

–6

Figura 2.8

capítulo 2 • 63
Para determinar o que se pede no item (a), devemos, num primeiro momen-
to, calcular a derivada parcial da função f em relação a x. Vejamos:

∂f ( x , y ) ∂  π y 2 
=  9x2 − y 2  .
∂x ∂x  12 

Como a variável x aparece somente dentro da raiz, enquanto y é uma cons-


tante, então podemos considerar o cálculo da derivada de uma constante que
multiplica uma função, isto é, podemos escrever

∂f ( x , y ) π y 2 ∂
∂x
= ⋅
12 ∂x
( 9x2 − y 2 . )
E para realizar o cálculo da derivada, será necessário aplicar a regra da ca-
deia (para função a uma variável) no cálculo de

∂f ( x , y ) π y 2 ∂
∂x
= ⋅
12 ∂x
( 9x2 − y 2 . )
Então, podemos realizar os cálculos da seguinte maneira:
∂f ( x , y ) π y 2 ∂
∂x
= ⋅
12 ∂x
( 9x 2 − y 2 )
1
π y2 ∂
= ⋅ (9 x 2 − y 2 ) 2
12 ∂x
1
π y2 1
⋅ (9 x 2 − y 2 ) 2 (18x )

=
12 2
3π xy 2
=
4 9x2 − y 2

Substituindo os valores x = 8 cm e y = 16 cm, temos:


∂f (8,16) 3π (8)(16)2
=
∂x 4 9(8)2 − (16)2
6.144π
=
4 320
≅ 269,75

64 • capítulo 2
Com relação ao que se pede no item (b), temos de começar calculando a
derivada parcial da função f em relação a y:

∂f ( x , y ) ∂  π y 2 
=  9x2 − y 2 
∂y ∂y  12 

Como a variável y aparece dentro da raiz e também no termo que a multi-


plica, então teremos que aplicar, além da regra da cadeia, a regra do produto. A
seguir, todos os cálculos com a aplicação das regras necessárias:

∂f ( x , y ) ∂  π y 2 
∂y
= 
∂y  12 
⋅ ( ) ∂∂y (
9x2 − y 2 + ) π y2 
9x2 − y 2 
 12 

=
∂  π y2 
∂y  12 
⋅ ( ) ∂∂y (
9x2 − y 2 + ) π y2 
9x2 − y 2 
 12 
∂  π y2  ∂  1
 π y2 
=   ⋅ 9 x 2 − y 2 + (9 x 2 − y 2 ) 2   
∂ y  12  ∂y    12 
1
 2π y  1  π y2 
⋅ 9 x 2 − y 2 + (9 x 2 − y 2 ) 2 ( −2 y ) 

= 
 12  2  12 
 π y π y3
=  ⋅ 9x2 − y 2 −
 6  12 9 x 2 − y 2

Substituindo os valores x = 8 cm e y = 16 cm, temos:


∂f ( x, y )  π (16)  π (16)3
=  ⋅ 9(8)2 − (16)2 −
∂y  6  12 9(8)2 − (16)2
 8π  4.096π
= ⋅ 320 −
 3  12 320
≅ 89,72

Na próxima seção, veremos como aplicar a regra da cadeia no cálculo de de-


rivadas parciais.

capítulo 2 • 65
2.3  Regra de cadeia
No estudo de funções de uma variável, vimos que há situações em que uma fun-
ção f poderia ser escrita em relação a uma variável t que também era uma fun-
ção de outra variável x. E, nesse caso, a derivada de f em relação a x é dada pela
regra da cadeia da seguinte forma:
dy dy dt
= ⋅ .
dx dt dx

O Exemplo 2.14 apresenta a aplicação dessa regra para função a uma variável.
Mas, como devemos proceder quando temos de aplicá-la para o cálculo de de-
rivadas parciais de funções com duas ou mais variáveis? É o que veremos nesta
seção.
A seguir serão apresentadas duas versões da regra da cadeia: uma para fun-
ções a duas variáveis e outra para funções a três variáveis.

Regra da cadeia para funções a duas variáveis


Considere uma função de duas variáveis z = f(x, y) que possui as derivadas parciais
∂f ∂f
e contínuas. Considere, também, as variáveis x e y como funções (de uma variável)
∂x ∂y
diferenciáveis de t. Então a derivada da função z = f(x(t), y(t)) em relação a t é dada por:

dz ∂f dx ∂f dy
= ⋅ + ⋅
dx ∂x dt ∂y dt

Exemplo 2.15
Seja z = f(x, y) uma função de duas variáveis dada por
z = f(x, y) = x2 y + 2x – y,
em que x = cos t e y = t – 5.
2

A derivada de z em relação a t é dada por:


dz ∂f dx ∂f dy
= ⋅ + ⋅
dx ∂x dt ∂y dt
∂( x 2 y + 2 x − y ) d (cos t ) ∂ ( x 2 y + 2 x − y ) d ( t 2 − 5)
= ⋅ + ⋅
∂x dt ∂y dt
= (2 xy + 2) ( −sen t ) + ( x 2 − 1) 2t

66 • capítulo 2
Agora, precisamos realizar as substituições x = cos t e y = t2 – 5:
dz
= 2 (cos t )( t 2 − 5) + 2 ( −sen t ) + (cos2 t ) − 1 2t
dx 
= −2t 2 sen t cos t + 5 sen t cos2 t − 2 sen t + 2t cos2 t − 2t

Regra da cadeia para funções a três variáveis


Considere uma função de três variáveis w = f(x, y, z) que possui as derivadas parciais
∂f ∂f ∂f
, e contínuas. Considere, também, as variáveis x, y e z como funções (de uma
∂x ∂y ∂z
variável) diferenciáveis de t. Então a derivada da função w = f(x(t), y(t), z(t)) em relação a t
é dada por:
dw ∂f dx ∂f dy ∂f dz
= ⋅ + ⋅ + ⋅
dx ∂x dt ∂y dt ∂z dt

Exemplo 2.16
Seja w = f(x, y, z) uma função de duas variáveis dada por

f(x, y, z) = 2xy + z,

em que x = In t, y = et e z = t2.
A derivada de w em relação a t é dada por:
dw ∂f dx ∂f dy ∂f dz
= ⋅ + ⋅ + ⋅
dx ∂x dt ∂y dt ∂z dt
∂(2 xy + z ) d (ln t ) ∂ (2 xy + z ) d (et ) ∂ (2 xy + z ) d ( t 2 )
= ⋅ + ⋅ + ⋅
∂x dt ∂y dt ∂z dt
1
= 2 y + 2 xet + 1 ⋅ 2t
t

Agora, precisamos realizar as substituições x = In t, y = et e z = t2:


dw 2 y
= + 2 xet + 2t
dx t
2et
= + 2et ln t + 2t
t

capítulo 2 • 67
2.4  Derivadas de ordem superior
No estudo de funções de uma variável, vimos que há diversos casos em que,
além da derivada (primeira) de uma função, também possuem importantes
aplicações as derivadas de ordem superior (derivada segunda, derivada tercei-
ra, etc.). Um exemplo típico diz respeito à aceleração de uma partícula em mo-
vimento que é dada pela derivada segunda da sua função posição.
Nesta seção, veremos como determinar derivadas parciais de ordem supe-
rior para funções a duas variáveis. Para funções a três ou mais variáveis, o pro-
cedimento é o mesmo, basta realizar com as demais variáveis o processo que
foi aplicado às duas primeiras. Para quem sabe determinar a derivada primeira,
não haverá dificuldades para determinar derivadas de ordem superior. Os pro-
cedimentos serão explicados através do próximo exemplo.

Exemplo 2.17
Determine as derivadas parciais de segunda ordem da função

f(x, y) = 5x3 y – 3x3 y4.

As derivadas de primeira ordem são:

∂f ( x , y ) ∂ ∂
= ( 5 x 3 y ) − (3 x 2 y 4 )
∂x ∂x ∂x
= 15x 2 y − 6 xy 4

e
∂f ( x , y ) ∂ ∂
= (5 x 3 y ) − (3 x 2 y 4 )
∂y ∂y ∂y
= 5x 3 − 12 x 2 y 3

Agora, cada uma das derivadas parciais obtidas pode ser derivada novamen-
te em relação a x e a y.
Considerando a função derivada

∂f ( x , y )
= 15x 2 y − 6 xy 4 ,
∂x

68 • capítulo 2
temos:
∂  ∂f ( x , y )  ∂
= (15x 2 y − 6 xy 4 )
∂x  ∂x  ∂x
∂ ∂
= (15x 2 y ) − (6 xy 4 )
∂x ∂x
= 30 xy − 6 y 4

e
∂  ∂f ( x , y )  ∂
= (15x 2 y − 6 xy 4 )
∂y  ∂x  ∂y
∂ ∂
= (15x 2 y ) − (6 xy 4 )
∂y ∂y
= 15x 2 − 24xy 3
Agora, considerando a derivada

∂f ( x , y )
= 5x3 − 12 x 2 y 3 ,
∂y
temos:

∂  ∂f ( x , y )  ∂
= (5x3 − 12 x 2 y 3 )
∂x  ∂y  ∂x

=
∂x
(5x3 ) − ∂∂x (12x2 y3 )
= 15x 2 − 24xy 3
e

∂  ∂f ( x , y )  ∂
= (5x3 − 12 x 2 y 3 )
∂y  ∂y  ∂y
∂ ∂
=
∂y
( 5x 3 ) − (12 x 2 y 3 )
∂y
= 0 − 36 x 2 y 2
= −36 x 2 y 2

Temos, portanto, as seguintes derivadas parciais de ordem superior:


∂  ∂f ( x , y ) 
= 30 xy − 6 y 4
∂x  ∂x 
∂  ∂f ( x , y ) 
= 15x 2 − 24xy 3
∂y  ∂x 

capítulo 2 • 69
∂  ∂f ( x , y ) 
= 15x 2 − 24xy 3 ,
∂y  ∂x 
∂  ∂f ( x , y ) 
= 15x 2 − 24xy 3 ,
∂x  ∂y 
∂  ∂f ( x , y ) 
 = −36 x y .
2 2

∂y  ∂y 

Nesse exemplo, utilizamos a notação


∂  ∂f ( x , y ) 
∂x  ∂x 

para representar a derivada parcial de segunda ordem da função f em rela-


ção a x. Ela pode também ser expressa em qualquer uma das formas a seguir:
∂2 f
, f ou f11 .
∂x 2 xx
Da mesma forma,

∂2 f ∂  ∂f ( x , y ) 
•  , fyy ou f22 são equivalentes a ;
∂y 2
∂y  ∂y 
∂2 f ∂  ∂f ( x , y ) 
•  , f ou f21 são equivalentes a ;
∂x∂y yx ∂y  ∂y 
∂2 f ∂  ∂f ( x , y ) 
•  , fxy ou f12 são equivalentes a ;
∂y∂x ∂y  ∂y 
∂2 f ∂2 f
As derivadas e são chamadas de derivadas parciais mistas de f.
∂x∂y ∂y∂x

Há oito derivadas parciais de terceira ordem da função f , pois, para cada


uma das derivadas parciais de segunda ordem, podemos estabelecer duas de
terceira ordem. Vamos apresentar, a seguir, apenas duas delas:

A derivada de terceira ordem

∂  ∂  ∂f ( x , y )  
 
∂x  ∂x  ∂x  

pode ter notação simplificada por

∂3 f
.
∂x 3

70 • capítulo 2
∂2 f
Para determiná-la, basta derivar a função em relação a x novamente.
∂x 2
Veja:
∂3 f ∂  ∂ 2 f 
=
∂x3 ∂x  ∂x 2 

=
∂x
(30xy − 6 y 4 )
∂ ∂
= (30 xy ) − (6 y 4 )
∂x ∂x
= 30 y − 0
= 30 y

A outra derivada de terceira ordem que veremos é

∂  ∂  ∂f ( x , y )  
 
∂y  ∂x  ∂x  

pode ter notação simplificada por


∂3 f
.
∂y∂x 2

∂2 f
Para determiná-la, basta derivada a função em relação a y:
∂x 2
∂3 f ∂  ∂2 f 
=
∂y∂x 2 ∂y  ∂x 2 

=
∂y
(30xy − 6 y 4 )
∂ ∂
= (30 xy ) − (6 y 4 )
∂y ∂y
= 30 x − 24 y 3
No próximo capítulo, estudaremos as integrais para funções a mais de uma
variável.

capítulo 2 • 71
72 • capítulo 2
3
Integrais Múltiplas
A integração, tida como um processo inverso ao da derivação, já foi vista no Cál-
culo Diferencial e Integral de funções a uma variável. As regras e os métodos de
integração que você conhece continuarão a ser utilizados neste capítulo, mas
em integrais de funções a duas ou mais variáveis.
O objetivo deste capítulo é estender a noção de integral definida para funções
de duas ou mais variáveis de forma intuitiva até chegar às integrais múltiplas.
Não nos preocuparemos com demonstrações (algumas já realizadas para as fun-
ções de uma variável), mas vamos procurar compreender cada método a partir do
conhecimento construído no estudo do Cálculo Diferencial e Integral I.

74 • capítulo 3
3.1  Integrais duplas e áreas
No capítulo anterior, estudamos as derivadas parciais de funções a duas ou
mais variáveis. Você certamente se lembra de que, para calcular uma deriva-
da parcial em relação a determinada variável, é necessário aplicar as regras de
derivação (as mesmas utilizadas para funções a uma variável) considerando as
demais variáveis como constantes.
No cálculo de integrais de funções a duas ou mais variáveis, procederemos
de forma análoga: integramos uma função em relação a determinada variável,
fixando as demais. Veja um exemplo que mostra um dos tipos de cálculos com
os quais iremos trabalhar neste capítulo.

Exemplo 3.1
Considere a função
f ( x, y ) = 3 x 2 y 5 .

A sua integral em relação a x é calculada da seguinte forma:

∫ f ( x, y )dx = ∫ (3x2 y5 )dx


= 3 y 5 ∫ x 2 dx
 x3 
= 3 y 5  + C1 ( y )
3 
x 3
= 3 y 5 + 3 y 5 C1 ( y )
3
= y 5 x3 + C( y )

Veja que, como y foi fixado (considerado constante, momentaneamente),


então foi possível “extraí-lo” da integral, juntamente com a constante “3”, pelo
fato de eles aparecerem, na função, multiplicando a parte variável. Aí foi aplica-
da a seguinte regra de integração:

∫ k f ( x)dx = k ∫ f ( x)dx , k constante,


tomando k = 3y5.

capítulo 3 • 75
Outra observação a respeito da resolução dessa integral refere-se às cons-
tantes de integração C1 e C. Como a expressão 3y5C1(y) é constante, então foi
realizada a substituição:
C(y) = 3y5C1(y)

Na resolução da integral do Exemplo 3.1, as constantes de integração aparecem como


função de uma variável. Considere, por exemplo, a constante C(y). Ela surgiu na resolução
de uma integral em que y foi fixada. Mas, para os diferentes valores possíveis de y, podemos
ter constantes de integração diferentes. Como há uma possível dependência do valor dessa
constante em relação ao valor assumido por y, indica-se escrevê-la como uma função de y.

Com relação à variável y, a integral será dada por:

∫ f ( x, y )dy = ∫ (3x2 y5 )dy


= 3x 2 ∫ y 5dy
 y6 
= 3x 2  + K1 ( y ) 
6 
y 6
= 3x 2 + 3x 2 K1 ( y )
6
x2 y6
= + K( y )
2

Integrais como as obtidas no Exemplo 3.1 poderiam ser chamadas de in-


tegrais parciais da função f, mas esta terminologia não costuma ser utilizada
quando nos referimos a integrais. O usual é chamá-las, respectivamente, de in-
tegral em relação a x e integral em relação a y.
No estudo da integral definida, no Cálculo Diferencial e Integral para fun-
ções de uma variável, vimos que ela foi obtida a partir do cálculo do limite de
uma soma de Riemann para o cálculo de áreas sob o gráfico de uma função.
Se f é uma função a uma variável e f ≥ 0 para todo x ∈ [a, b], então a área da
região entre o gráfico da função f e o eixo x, e limitada lateralmente pelas retas
x = a e x = b é dada pela integral definida:
b
∫a f ( x )dx .
Essa área está representada na figura 3.1.

76 • capítulo 3
y

f(x)

x
a b

Figura 3.1

Mas o que acontece quando calculamos a integral definida de uma função


a duas variáveis?
Uma função de duas variáveis define uma superfície no espaço. Dessa for-
ma, sua integral definida, calculada para uma certa região do plano xy em que
ela não assume valores negativos, determinará o volume do sólido definido por
essa função (superfície) com o plano xy, na região considerada. Na figura 3.2, há
uma representação de um sólido desse tipo, considerando que f(x, y) ≥ 0 para
todo par ordenado (x, y) da região em que a função está sendo integrada.
z

f (x, y)

a c
b
d
x y

Figura 3.2

capítulo 3 • 77
De forma geral, para uma função f(x, y) ≥ 0 numa região R, o volume do sóli-
do que é limitado superiormente por e inferiormente pelo plano xy é dado pela
integral dupla de f sobre a região R, que é simbolizada por:

∫∫ f ( x, y ) dx dy . (3.1)
R

Se considerarmos que a região R é um retângulo contido no plano xy, limi-


tado pelos valores x = a, x = b, y = c e y = d, com a < b e c < d, então, a integral em
(3.1) pode ser escrita na forma:
d b
∫c ∫a f ( x, y ) dx dy . (3.2)

Vamos tomar, inicialmente, uma função f(x, y) bem simples para que possa-
mos obter o volume de um sólido utilizando integral dupla e comparar o resul-
tado com o obtido sem a utilização do processo de integração.

Exemplo 3.2
Considere a função
f(x, y) = 4.

Essa função tem representação gráfica da por uma superfície plana, para-
lela ao eixo xy e que intercepta o eixo z no valor 3. Vamos determinar o volume
do sólido limitado por esta função, pelo plano xy, na região em que 2 ≤ x ≤ 5 e
1 ≤ y ≤ 3.
O sólido em questão é um prisma de base retangular com área igual a 6 e de
altura igual a 3. Seu volume é, portanto, igual a 6 · 4 = 24.
z

00
1 0 1
2
2 3
3 4 5
4 6
5
6
y
x

Figura 3.3

78 • capítulo 3
Agora, porém, vamos obter seu volume utilizando integral dupla. A base su-
perior desse prisma pode ser interpretada como uma superfície gerada pela fun-
ção f(x, y), considerando 2 ≤ x ≤ 5 e 1 ≤ y ≤ 3. Podemos, então, utilizar a integral
descrita em (3.2) para calcular o seu volume, tomando a = 2, b = 5, c = 1 e d = 3:
3 5 3 5
∫1 ∫2 4 dx dy = ∫
1 2 ∫ 4 dx dy

= ∫  ∫ 4 dx  dy
3 5
1 2 
3 5
= ∫ 4x + C1  2 dy
1

= ∫ 20 + C1 − (8 + C1 ) dy
3
1
3
= ∫ 12 dy
1
3
= 12 y + C2 1
= 36 + C2 − (12 + C2 )
= 24

No exemplo que acabamos de ver, a função f(x, y) que integramos é cons-


tante e igual à altura do prisma da Figura 3.2. Se considerarmos uma função
f(x, y) = 1, o resultado da integração será igual à área da região R (área da base do
prisma). Podemos então concluir que:

∫∫ dx dy = A,
R

em que A é a área da região R.


A região R considerada no Exemplo 3.2, tem a forma de um retângulo, pelo
fato dos limites de integração serem constantes. Mas podemos ter limites de
integração que dependem de x ou de y. Veja o exemplo a seguir em que é deter-
minada a área de uma região (no plano xy) delimitada por curvas.

Exemplo 3.3
Utilizando derivadas duplas, determine a área da região representada na fi-
gura 3.4.

capítulo 3 • 79
y

3
f(x) = 4 – x2
2

–2 –1 1 2 x

Figura 3.4

Os limites de integração em relação a x são –2 e 2. Já a variável y é limita-


da superiormente pela função f(x) = 4 – x2 e inferiormente pelo valor 0 (zero).
Portanto, a integral que irá fornecer a área da região destacada é:

2 4− x2
A=∫ ∫ dy dx .
−2 0

A seguir o desenvolvimento dos cálculos para a resolução da integral acima.

dy dx = ∫  ∫ dy  dx
2 4− x2 2 4− x2
A=∫
−2 ∫0 −2  0 
2 2
[ y ]04− x
2
=∫ dx = ∫ 4 − x 2 − 0 dx
−2 −2
2
2  x3 
= ∫ 4 − x 2  dx = 4x − 
−2 3  −2

23  ( −2)3 
= 4(2) − − 4( −2) −
3  3 
8  8  32
= 8 − −  −8 +  =
3  3 3

80 • capítulo 3
Podemos também utilizar as integrais duplas para calcular áreas de regiões
delimitadas por duas funções no plano. Veja como no próximo exemplo.

Exemplo 3.4
Vamos calcular, utilizando uma integral dupla, a área da região (fecha-
da) delimitada pelas funções:

y1 = x + 2 e y2 = x2.

Em primeiro lugar, vamos determinar os limites de integração. Para isso,


vamos determinar os pontos nos quais as funções se interceptam, isto é, igualar
as funções e determinar e resolver a equação resultante:
x2 = x + 2
x2 − x − 2 = 0
x = −1 ou x = 2 .

Os limites de integração referentes à variável x serão, portanto, –1 e 2.


A figura 3.5 apresenta as representações gráficas dessas duas funções e a
região cuja área queremos determinar.

y
y2 = x2
5
y1 = x + 2

–2 –1 1 2 x

–1

Figura 3.5

capítulo 3 • 81
Pela análise da Figura 3.5, é possível concluir que, no intervalo –1 < x < 2,
temos y1 < y2. Portanto, os limites de integração em relação à variável y serão,
nessa ordem, y2 = x2 e y1 = x + 2.
Vamos, então, ao cálculo da integral que nos levará à determinação da área
que desejamos:
2 x +2
A=∫
−1 ∫x 2
dy dx
x +2
= ∫  ∫ 2 dy  dx
2
 x
−1  
2
=∫
−1
[ y ]xx +2
2 dx
2
= ∫  x + 2 − x 2  dx
−1
2
 x2 x3 
=  + 2x − 
2 3  −1

23   ( −1) ( −1)3 
2
 22
=  + 2⋅2 −  −  + 2 ( −1) − 
2 3   2 3 
8 1 1
=6− − +2−
3 2 3
9
=
2

A seguir são apresentadas algumas das propriedades da integral dupla que


podem ser utilizadas na simplificação de diversos cálculos. Observe que são,
em sua maioria, propriedades semelhantes às utilizadas no cálculo com fun-
ções a uma variável.

Propriedades das integrais duplas

(I) Se f é uma função contínua em uma região R, então existe a integral

∫∫ f ( x, y ) dx dy.
R

(II) Se c é uma constante e R é uma região plana de área igual a A, então

∫∫ c dx dy = c ⋅ A.
R

82 • capítulo 3
Compare a propriedade (II) com os cálculos realizados no Exemplo 3.2.

Se f e g são funções integráveis sobre uma região R e a, b e c são constantes,


então valem as propriedades seguintes:

(III) ∫∫ c ⋅ f ( x, y ) dx dy = c ⋅ ∫∫ f ( x, y ) dx dy ;
R R

(IV) ∫∫ f ( x, y ) ± g ( x, y ) dx dy = ∫∫ f ( x, y ) dx dy ± ∫∫ g ( x, y ) dx dy ;


R R R

Na próxima seção, veremos como realizar cálculos com integrais triplas utili-
zando coordenadas polares.

3.2  Integrais duplas na forma polar


Em várias situações, a determinação algébrica da região R pode ser facilitada com
o uso de coordenadas polares, como vimos na seção 1.3. Considere, por exemplo, a
região R mostrada na Figura 3.6. Ela é facilmente descrita por coordenadas polares
considerando r1 ≤ r ≤ r2 e θ1 ≤ θ ≤ θ2. O mesmo não acontece se quisermos descrever
as funções que delimitam a região R utilizando coordenadas cartesianas. Vamos,
portanto, ver como podemos transformar uma integral dupla em coordenadas
cartesianas para uma integral dupla em coordenadas polares.

θ1
θ2
r1 r2 x

Figura 3.6

capítulo 3 • 83
Conforme visto na seção 1.3, a transformação de coordenadas cartesianas para
coordenadas polares ocorre de acordo com as igualdades:

y = r cos θ (3.3)
e
x = r sen θ (3.4)

Agora, considere uma função f(x, y) contínua em uma região R do plano xy


que é determinada por todos os pontos que têm a forma (x, y) = (r cos θ, r sen θ),
com r1 ≤ r ≤ r2 e θ1 ≤ θ ≤ θ2, sendo que 0 ≤ θ2 – θ1 2π. Então:

θ2 r2 
∫∫ f ( x, y ) dx dy = ∫θ ∫r f (r cos θ, r sen θ) rdr  dθ
1 1
(3.5)
R

Vamos a alguns exemplos que mostram como transformar integrais expres-


sas em coordenadas cartesianas para integrais na forma polar e também como
resolvê-las.

Exemplo 3.5
Calcule a área da região R indicada na figura 3.7, delimitada por dois setores
circulares.

2
R

1 2 3 x

Figura 3.7

As funções que definem os setores circulares de raios 2 e 3 são,


respectivamente:

84 • capítulo 3
f (x) = 4 − x2 e g(x) = 9 − x2 .

Sendo assim, podemos determinar a área A da região R através da integral


dupla:
3 9 − x2
A=∫
0∫
dy dx.
4− x2

Mas, não é tarefa fácil resolver esse tipo de integral em que os limites de in-
tegração de uma das variáveis é expressa na forma de raiz de polinômios. Veja
como é possível transformar essa integral em outra com coordenadas polares,
facilitando o processo de integração.

Através da aplicação da igualdade (3.5) em


3 9 − x2
A=∫ ∫ dy dx
0 4− x2

e considerando que f(x, y) = 1, podemos escrever:

3 9 − x2
A=∫
0∫
dy dx
4− x2
π
= ∫ 2  ∫ r dr  dθ
3
0  2 
π 3
 r2 
= ∫ 2   dθ
0
 2 2
π
5
= ∫ 2 dθ
0 2
π
 5θ  2
= 
 2 0

=
4
Exemplo 3.6
Vamos, agora, considerar a região R do exemplo anterior para obter o volu-
me do sólido cuja base é a própria região R, com paredes ortogonais ao eixo x e
altura igual a 4. A figura 3.8 mostra a representação desse sólido.
Como já calculamos a área da região R, basta multiplicar seu valor por 4,
que é a altura do sólido em relação ao eixo z.

capítulo 3 • 85
A integral dupla que fornece o volume V desse sólido é

3 9 − x2
V=∫
0∫
4 dy dx .
4− x2

π
Na forma polar, vamos considerar que r varia de 2 a 3 e θ, de 0 a . Lembre-
2
se, também, de que dx dy = rdrdθ. Então:

5 z
3 9 − x2
V=∫ ∫ 4 dy dx 4
0 4− x2
π
3
= ∫ 2 ∫ 4r dr dθ 3
0 2

(∫ )
π
3 2 5
=∫ 2 4r dr dθ 4
0 2 y
3
π 1 2
3
=∫ 2  2r 2  dθ 1
0  2 0
π 0
0
=∫ 2 10 dθ
1
0
π 2
=[10θ 02 ] 3
= 5π 4 x
5

Figura 3.8

Exemplo 3.7
Calcule a integral

∫∫ x dx dy
R

em que R é a região formada por todos os pontos tais que as coordenadas


π
polares satisfazem as igualdades 0 ≤ θ ≤ e 3 cos θ ≤ r ≤ 3.
2

A região R está representada na figura 3.9.

86 • capítulo 3
y

2 R r=3

1 r = 3cos(θ)

1 2 3 x

Figura 3.9

Como x = r cos θ e dx dy = r dr dθ, podemos reescrever a integral na seguinte


forma
π
3
∫ ∫
2
0 3 cos θ
r cos θ r dr dθ

e sua resolução é apresentada a seguir


π π
r cos θ r dr dθ = ∫ 2  ∫ r 2 cos θ dr  dθ
3 3
∫ ∫
2
0 3 cos θ 0  3 cos θ 
π
= ∫ 2 ∫ r 2 cos θ dr  dθ
3
0  3 cos θ 
π 3
 r3 
=∫ 2 cos θ  dθ
0  3
 3cosθ
π
 33   33 cos3 θ 
=∫ 2 cos θ −  cos θ  dθ
0  3   3 

π

∫ ( ) (
= 2  9 cos θ − 9 cos4 θ  dθ
0
)
π π


= 9 2 cos θ dθ − 9 2 cos4 θ dθ
0 0 ∫

Para finalizar os cálculos, é preciso resolver as duas integrais definidas. No


entanto, a resolução da segunda integral, isto é, da integral
π

∫ 0
2 cos4 θ dθ

capítulo 3 • 87
requer um procedimento algébrico não tão elementar quanto à resolução
da primeira. Vamos utilizar a identidade trigonométrica

1 cos 2θ
cos2 θ = + . (3.6)
2 2

Aplicando-a na expressão “cos4θ”, temos:

cos4 θ = (cos2 θ )
2

2
 1 cos 2θ 
= + 
2 2 
1 cos 2θ cos2 2θ
= + +
4 2 4

E aplicando novamente a identidade trigonométrica (3.6) na expressão


“cos2θ” que aparece no cálculo acima, podemos escrever:

1 cos 2θ cos2 2θ
cos4 θ = + +
4 2 4
1 cos 4θ
+
1 cos 2θ 2 2
= + +
4 2 4
1 cos 2θ 1 + cos 4θ
= + +
4 2 8
3 + 4 cos 2θ + cos 4θ
=
8

Agora, podemos voltar ao cálculo da integral dupla cujo valor queremos


determinar:
π
3
∫ ∫
2
0 3 cos θ
r cos θ r dr dθ =
π π
= 9∫ 2 cos θ dθ − 9∫ 2 cos4 θ dθ
0 0
π π
3 + 4 cos 2θ + cos 4θ
= 9∫ 2 cos θ dθ − 9∫ 2 dθ
0 0 8
π π
3 + 4 cos 2θ + cos 4θ
= 9∫ 2 cos θ dθ − 9∫ 2 dθ
0 0 8

88 • capítulo 3
π π
9 1 2
= 9[sen θ ] 2
0
− 3θ + 2 sen 2θ + sen 4θ 
8 4 0
 π  9  π 1   1 
= 9 sen − sen 0 −  3 + 2 sen π + sen 2π −  3 ⋅ 0 + 2 sen 2 ⋅ 0 + sen 4 ⋅ 0 
 2 
 8 2 4   4 
9  π  
= 9 −  3 + 0 + 0 − (0 + 0 + 0)
8  2  
27π
=9−
16
117π
=
16

Exemplo 3.8
Calcule o volume V do sólido da Figura 3.10. Sua base superior é paralela
ao plano xy e tem altura (em relação ao eixo z) igual a 2. A região R é dada pelas
π π
coordenadas polares ( r 2 cos θ, r sen θ ), com ≤ θ ≤ e 1 ≤ r ≤ 2. A figura 3.11
6 3
mostra o mesmo sólido, mas sob uma perspectiva diferente, para que se tenha
uma ideia melhor de seu formato.
z
z
3
3

2
2 3
y
1 2
1
1
1 2 3
00 0 0
y 0
0
1
1
2 2
x
3 3
x
Figura 3.11
Figura 3.10

capítulo 3 • 89
Para determinar o volume V desse sólido, vamos calcular a integral dupla:
π
2
2∫ ∫ 3
π dr dθ .
1
6

Em casos como esse, basta calcular a área da região R sobre o plano xy e


multiplicar pela altura z.
Portanto, o volume V será dado por:
π π
2 2 
2∫ ∫ 3
π dr dθ = 2∫  ∫ π3 dr  dθ
1
6
1
 6 
π
2
= 2∫ [ r ] π3 dθ
1
6
π 2π
= 2∫  −  dθ
1 3 6

2π
= 2∫   dθ
1 6
2
π 
= 2  θ
 6 1
 2π π 
=2 − 
 6 6
π
= unidades cúbicas.
3

3.3  Integrais triplas e volumes


Da mesma forma que a integral dupla aplicada sobre uma região R do plano xy
define a área dessa região, quando aplicamos uma integral tripla sobre uma
região sólida S do espaço xyz, obtemos o volume desse sólido.
Também é semelhante a forma de lidar com os cálculos envolvendo inte-
grais triplas da forma
∫∫∫ f ( x, y, z) dx dy dz.
S

90 • capítulo 3
Começamos resolvendo a integral

∫ f ( x, y, z) dx

para, depois, integrar o seu resultado em relação a y e, em seguida, em rela-


ção a z. Logicamente, é um trabalho mais exaustivo que calcular integrais sim-
ples ou duplas. Os exemplos que serão apresentados mostrarão como pode ser
realizado esse tipo de integração e também como é possível obter o volume de
um sólido através da integral tripla.

Exemplo 3.9
Vamos calcular o volume V do sólido apresentado no Exemplo 3.2 (veja a
figura 3.3) utilizando uma integral tripla. Esse volume já foi obtido através da
integral dupla
3 5
∫ ∫ 4 dx dy ,
1 2

na qual realizamos a integração da f(x, y) = 4, que representa a altura do


sólido.
O cálculo que realizamos equivale à integral tripla

4 3 5
∫0 ∫1 ∫2 dx dy dz .
Podemos resolvê-la da seguinte forma:
4 3 5
∫ ∫2 dx  dy dz
4 3 5
∫0 ∫1 ∫2 dx dy dz = ∫
0 1
4 3
=∫ ∫ [ x ]2 dy dz
5
0 1

= ∫  ∫ 3 dy  dz
4 3
0 1 
4
= ∫ [3y ]1 dz
3
0
4
=∫ 6 dz
0

= [6z ]0
4

= 24

capítulo 3 • 91
A seguir, veja um exemplo em que iremos calcular o volume, também
utilizando uma integral tripla, do volume de um sólido limitado por duas
superfícies.

Exemplo 3.10
Calcule o volume do sólido limitado pelas superfícies

z = 3 − 2x2 − y 2 e z = x2 + 2 y 2 .

A representação gráfica dessas duas superfícies é mostrada na Figura 3.12.


Nela você vê também, no plano xy, a representação da projeção da curva de in-
tersecção dessas duas superfícies, que é um círculo com centro em (0,0) e raio
igual a 1. Essa interseção é obtida igualando-se as equações que geram as su-
perfícies. Veja:
x2 + 2 y 2 = 3 − 2x2 − y 2
3x 2 + 3 y 2 = 3
x2 + y 2 = 1

Essa projeção do sólido no plano xy nos leva a concluir que a variável x deve-
rá ser integrada de –1 a 1.
Para determinar os limites de integração da variável y, devemos isolá-la a
partir da equação

x2 + y2 = 1.

Temos, portanto, os limites de integração em relação a y dados por:

x2 + y 2 = 1
y 2 = 1 − x2
y = ± 1 − x2

Falta-nos somente determinar os limites de integração da variável z. Observe


que a superfície z = 3 – 2x2 – y2 está acima da superfície z = x2 + 2y2 na região

92 • capítulo 3
interna à curva de interseção de ambas, o que nos leva a concluir que a variável
z deverá ser integrada de z = x2 + y2 a z = 3 – 2x2 – y2.
Determinados todos os limites de integração, podemos escrever a integral
tripla que fornece o volume V do sólido na forma:

1 1− x2 3 −2 x2 − y 2
V=∫
−1 ∫− ∫x + 2 y dz dy dz.
1− x2 2 2

z
4

z = x2 +2y2

2
1 y
1
z = 3 – 2x2 – y2
–2
–1 0
0
0
–1 1 x
x2 + y 2 = 1 2
–2

Figura 3.12

A seguir, a resolução detalhada desta integral. Note que se trata de uma re-
solução muito extensa, mas que servirá para utilizarmos vários procedimentos
de integração.

capítulo 3 • 93
1 1− x2 3 −2 x2 − y 2
V=∫
−1 ∫− ∫x + 2 y dz dy dx
1− x2 2 2

=∫
1 1− x2  3 − 2 x2 − y 2 dz  dy dx
−1 ∫− 1− x2  ∫x2 + 2 y 2 
1 1− x2
[z ]3x−+22x y− y
2 2
=∫
−1 ∫−
2 2 dy dx
1− x2
1− x2
3 − 2 x 2 − y 2 − ( x 2 + 2 y 2 ) dy dx
1
=∫
−1 ∫− 1− x2
1 1− x2
=∫
−1 ∫−
3 − 3x 2 − 3 y 2  dy dx
1− x2
1 1− x2
= ∫ 3 y − 3x 2 y − y 3  − 1− x2
dx
−1

= ∫ (3 − 3x 2 ) y − y 3 
1 1− x2
dx
−1 − 1− x2
1 
( )  − (3 − 3x )(− )( )  dx
3 3
= ∫ (3 − 3x 2 ) 1 − x 2 − 1 − x2 2 1 − x2 − − 1 − x2
−1 

− 2 ( 1 − x )  dx
1   3
= ∫  2 (3 − 3 x 2 ) 1 − x 2 2
−1  
1  1 3
= 2∫ 3(1 − x 2 )(1 − x 2 ) 2 − (1 − x 2 ) 2  dx
−1
 
1  3 3 
= 2∫ 3(1 − x 2 ) 2 − (1 − x 2 ) 2  dx
−1
 
3
(1 − x2 )2
1
= 4∫ dx
−1

Para finalizar a resolução, precisamos realizar a substituição:

x = sen θ
3
na integral ∫( 1 − x2 2 ) dx.

Como x = sen θ, então dx = cos θ dθ

Sendo assim, podemos escrever:

94 • capítulo 3
3 3

∫ (1 − x2 )2 dx = ∫ (1 − sen2 θ ) 2 cos θ dθ
3
= ∫ (cos2 θ ) 2 cos θ dθ

= ∫ cos3θ cos θ dθ

= ∫ cos4θ dθ

Agora, nosso desafio é resolver a integral ∫ cos4θ dθ . Vamos escrever “cos2θ”


como “cos2θ · cos2θ” e, depois, utilizar a identidade trigonométrica:

1
cos2 θ = (1 + cos 2θ).
2

A seguir o procedimento detalhado para a resolução da integral ∫ cos4θ dθ :

∫ cos4θ dθ = ∫ (cos2θ)(cos2θ) dθ
1 1
=∫ (1 + cos2θ) (1 + cos2θ) dθ
2 2
1
(1 + cos2θ)2 dθ
4∫
=

1
= ∫ (1 + 2cos2θ + cos2 2θ ) dθ
4
1  1 
= ∫  1 + 2cos2θ + (1 + cos4 4θ ) dθ
4  2 
1 3 cos 4θ 
= ∫  + 2cos2θ +  dθ
4 2 2 
3θ sen 2θ sen 4θ
= + + +C
8 4 32

Antes de voltar ao final do cálculo da integral tripla (volume do sólido), pre-


cisamos determinar os limites de integração na variável θ. Como x = sen θ e os
limites de integração da variável x são, nessa ordem, –1 e 1, então considera-
π π
remos θ variando de − a . Finalmente, voltamos ao cálculo do volume do
2 2
sólido:

capítulo 3 • 95
3
(1 − x2 )2
1
V = 4∫ dx
−1
π
= 4∫ 2 cos4 θ
π dx

2
π
 3θ sen 2θ sen 4θ  2
= 4 + + 
 8 4 32  − π
2

 π   3 − π  
 3 π π    sen ( − π ) sen ( −2π )  
sen sen 2  2
= 4  2 + + − + + 
 8 4 32   8 4 32 
 
 
  
  3π   −3π 
= 4  + 0 + 0 −  + 0 + 0 
 16   16 

=
2

3.4  Integrais triplas em coordenadas


cilíndricas

Na seção 3.2 vimos que, em certas situações, a conversão de coordenadas carte-


sianas para coordenadas polares facilita a representação de regiões e o cálculo
de integrais duplas. De forma análoga, a utilização de coordenadas cilíndricas
nas integrais triplas torna as representações e cálculos mais fáceis e claros em
diversas situações.
Geralmente utilizamos as coordenadas polares quando a região do plano
xy que queremos determinar possui certa simetria em torno da origem do sis-
tema, o ponto (0,0). As coordenadas cilíndricas são uma espécie de extensão
das coordenadas polares para o espaço. Elas geralmente são utilizadas quando
o sólido representado possui certa simetria em torno do eixo z. Para realizar a
conversão de coordenadas cartesianas para coordenadas cilíndricas, devemos
realizar as mesmas substituições que utilizamos para as coordenadas polares,
descritas em (3.3) e (3.4) e que são apresentadas novamente aqui:
x = r cos θ (3.3)
e
y = r sen θ (3.4)

96 • capítulo 3
Todavia, quando nos referimos a coordenadas cilíndricas, incluímos um
terceiro elemento, que é a variável z. Um ponto (x, y, z) representado em coorde-
nadas cartesianas será apresentado na forma
(r cos θ, r sen θ, z)

na forma cilíndrica.
A figura 3.12 mostra um sólido (cilindro) que pode ser facilmente re-
presentado por coordenadas cilíndricas. Nela, consideramos 0 ≤ r ≤ 2 ,
0 ≤ θ ≤ 2 π e 0 ≤ z ≤ 3.

5 z

2
–3
–3 –2
–2 1
–1 –1
00
1 0 1
2
2 3
3 –1
y
x
–2

Figura 3.13

A seguir, um exemplo que mostra como converter uma integral com coorde-
nadas cartesianas em outra com coordenadas cilíndricas.

Exemplo 3.11
Considere a integral da função f(x, y) = x3 + xy2 calculada sobre o sólido abai-
xo da superfície z = 1 – x2 – y2, no primeiro octante (aquela região do espaço xyz
em que x ≥ 0, y ≥ 0 e z ≥ 0). A variação de x que iremos considerar será de 0 a 1.
Vamos ver como calculá-la utilizando a transformação para coordenadas ci-
líndricas. Precisamos obter uma função

f(r, θ , z)

na forma cilíndrica, que equivale a f(x, y) = x3 + xy2 na forma cartesiana.

capítulo 3 • 97
Além disso, lembre-se de que (como já vimos na seção 3.2), na transforma-
ção de coordenadas cartesianas para coordenadas polares, temos a inclusão da
variável r na integral, como você pode ver a seguir:

∫∫∫ f ( x, y, z) dx dy dz = ∫∫∫ g (r,θ, z) r dr dθ dz . (3.7)


S S

Vamos às conversões necessárias para chegarmos à integral na forma cilín-


drica. Como z = 1 – x2 – y2 e, considerando as igualdades em (3.3) e (3.4), pode-
mos escrever:

z = 1 − x2 − y 2
= 1 − ( x2 + y 2 )

= 1 − (r cos θ ) + (r sen θ ) 


2 2
 
= 1 − r cos θ + r sen θ 
2 2 2 2

= 1 − r 2 (cos2 θ + sen2 θ )


= 1 − r2
e a função f(x, y) = x3 + xy2 pode ser escrita na forma:

f ( x, y ) = (r cos θ ) + (r cos θ )(r sen θ )


3 2

= r 3 cos3 θ + r 2 cos θ sen2 θ


= r 2 cos θ (cos2 θ + sen2 θ )
= r 2 cos θ

Portanto, a integral que queremos calcular, na forma cilíndrica será:

∫∫∫ ( x3 + xy 2 ) dx dy dz = ∫∫∫ r3cosθ r dr dθ dz


S S

= ∫∫∫ r 4cosθ dr dθ dz
S

Precisamos, agora, determinar os limites de integração. Já sabemos que os


limites de integração de x são 0 e 1 (ver enunciado). Isso nos leva a concluir que r
será também integrado de 0 a 1. Por se tratar de um sólido no primeiro octante,
π
a variável θ será integrada de 0 a . A variável z deverá ser integrada de 0 a 1 – r2.
2
Então, a integral acima será resolvida da seguinte forma:

98 • capítulo 3
π
1  1− r 2  
∫∫∫ r 4 cosθ dr dθ dz =
∫0 ∫02 ∫0 r 4cosθ dz dθ dr
S  
=r
π
1 
= ∫  ∫ 2 (1 − r 2 ) r 4cosθ  dθ  dr
0 0
 
π
1 
= ∫  ∫ 2 ( r 4 − r 6 ) cosθ dθ  dr
0 0
 
π
= ∫ ( r 4 − r 6 )senθ  2 dr
1
0 0

= ∫ ( r 4 − r 6 ) dr
1
0
1
 r5 r7 
= − 
 5 7 0
15 17
= −
5 7
2
=
35

Para objetos que possuem formas arredondadas (ou aproximadamente ar-


redondadas), geralmente é mais conveniente utilizar a representação dos pon-
tos na forma de coordenadas esféricas.
Nesse tipo de representação, um ponto P = (x, y, z) do espaço será represen-
tado pelas coordenadas ρ (lê-se “rô”), θ e φ (lê-se “fi”).
A coordenada ρ representa a distância do ponto P à origem do sistema, que
é o ponto (0,0,0). Portanto,

ρ = x 2 + y 2 + z2 .

A coordenada θ é a medida do ângulo formado no plano xy entre a projeção


ortogonal do segmento que une os pontos (0,0,0) e P e o eixo x. Sendo assim,
podemos escrever:
y
tg θ = .
x

capítulo 3 • 99
A coordenada φ é a medida do ângulo formado entre o segmento que une os
pontos (0,0,0) e P e a sua projeção no plano xy. Portanto,

z
cos ϕ = .
ρ

A partir dessas igualdades, considerando ρ ≥ 0, 0 ≤ θ < 2π e –π ≤ φ ≤ π, pode-


mos considerar as seguintes equações para realizar a conversão de coordena-
das cartesianas para coordenadas esféricas:

x = ρ cos θ sen ϕ , (3.8)

y = ρ sen θ sen ϕ (3.9)


e

z = ρ cos ϕ . (3.10)

Portanto, o ponto P = (x, y, z) pode ser expresso em coordenadas esféricas


na forma:
(ρcos θ sen ϕ, ρ sen θ sen ϕ, ρcos ϕ )

A representação do ponto P genérico, em coordenadas esféricas, é apresen-


tada na figura 3.14.
z

ρ y
φ
θ

Figura 3.14

100 • capítulo 3
A transformação de uma integral tripla, expressa em coordenadas cartesia-
nas, para uma integral tripla com variáveis esféricas se dá através da igualdade:

∫∫∫ f ( x, y, z) dx dy dz = ∫∫∫ g (ρ,θ, ϕ) ρ2 sen ϕ dρ dθ dϕ .


S S

A expressão ρ2 sen φ que é utilizada na transformação acima é denominada


Jacobiano e o seu processo de obtenção é trabalhado na Geometria Analítica.
O sólido em que ocorre a integral tripla em coordenadas esféricas está re-
presentado na figura 3.15.

Figura 3.15

Vamos a um exemplo de cálculo de uma integral tripla com coordenadas


esféricas.

Exemplo 3.12
Vamos considerar a região limitada pela esfera x2 + y2 + z2 = 9 no primeiro
octante. Como o raio desta esfera é igual a 3, e os ângulos ficam limitados ao
primeiro octante, em coordenadas esféricas, teremos as seguintes variações:
π π
0 ≤ ρ ≤ 3, 0 ≤ θ < e 0≤ϕ≤ .
2 2

capítulo 3 • 101
Calcule, então, sobre essa esfera, a integral
π π
3
∫0 ∫02 ∫02 2eρρ2 sen ϕ dϕ dθ dρ.
A seguir, a resolução:

3 
π π π π 
3
∫∫ ∫2 2 eρρ2
0 0 0
sen ϕ dϕ dθ dρ = ∫  ∫ 2  ∫ 2 sen ϕ dϕ dθ eρρ2 dρ
0
 0  0  
5e3 π
= −π
2
≅ 154,6

No próximo capítulo iremos estudar as integrais de linhas, que são integrais


calculadas sobre curvas.

102 • capítulo 3
4
Integrais de Linha e
Campos Vetoriais
4.1  Integrais de linha de campos escalares
Nesta seção, por um momento, faremos uma pausa em nossos estudos de inte-
grais duplas e triplas para falar de um tipo de integral simples, que é a integral
de linha. Mais adiante, faremos a conexão desse tipo de integral com as inte-
grais duplas e triplas através do Teorema de Green.
E, inicialmente, definiremos a integral de linha de campos escalares para,
depois, abordá-la em campos vetoriais.
Convém, agora, uma breve revisão sobre curvas, pois elas terão importância
fundamental no estudo das integrais de linha, que são integrais calculadas so-
bre uma curva.
No Cálculo, costumamos representar uma curva através de equações ou de
parametrizações. Há uma preferência por curvas na forma parametrizada, pois,
nesse tipo de representação, os pontos da curva são fornecidos por funções, o
que permite a aplicação de diversos métodos do Cálculo Diferencial e Integral.
Uma curva parametrizada pode ser definida através de uma função em re-
lação a uma variável t, em que cada as coordenadas de cada um de seus pontos
são dados por funções de t. Considere, portanto, uma função γ(t), definida em
um intervalo [a, b], que é o seu domínio, e que tem imagem no 2 ou no 3. Em
símbolos:

2 (ou 3).

Geralmente, representamos esses tipos de função pela letra grega γ (lê-se:


“gama”).
Vamos considerar que todas as funções que serão utilizadas, nesta seção,
para parametrizar as curvas, são deriváveis várias vezes. Dizemos que uma fun-
ção γ(t) pertence a uma classe Ck se ela é derivável, pelo menos, k vezes e todas
suas derivadas são contínuas. Em suma, iremos trabalhar somente com fun-
ções que são deriváveis várias vezes (quantas vezes for necessário).

A seguir, veremos dois exemplos de parametrização de curvas, uma no 2 e


outra no 3, para relembrar alguns pontos importantes.

104 • capítulo 4
Exemplo 4.1
A parametrização da circunferência de raio igual a 2, no plano xy, pode ser
dada, na forma paramétrica, por:

γ(t) = (x(t), y(t)),

em que x(t) = 2 cos t e y(t) = sen t, para 0 ≤ t ≤ 2π. A Figura 4.1 apresenta a
curva gerada por essa equação.

0
–3 –2 –1 0 1 2 3 x

–1

–2

Figura 4.1

Agora, vamos introduzir uma terceira coordenada nessa parametrização.


Teremos uma curva no 3.

Exemplo 4.2
A função
γ(t) = (x(t), y(t), z(t)),

em que x(t) = 2 cos t, y(t) = sen t e z(t) = t para 0 ≤ t ≤ 2π gera a hélice repre-
sentada na Figura 4.2. Sua projeção ortogonal sobre o plano xy é exatamente a
circunferência do exemplo anterior. Podemos também representar essa curva
nas formas:
(2 cos t, 2 sen t , t ), 0 ≤ t ≤ 2π

capítulo 4 • 105
ou
 x(t ) = 2 cos t

 y (t ) = 2 sen t , 0 ≤ t ≤ 2π
 z( t ) = t

3π/2

–π/2 –4
–3
–4 –3 –2
–2 –1 –1
00 0 1
1 2 3 4 5
2
3 y
4
5 –π/2
x

Figura 4.2

Um dos pontos que nos interessará, mas adiante, é o comprimento da curva


gerada. E isso nos faz ter uma certa preocupação com a forma como iremos pa-
rametrizá-la. Considere, por exemplo, a parametrização da hélice desse exem-
plo. Podemos obter uma hélice idêntica a essa com a seguinte parametrização:

γ(t) = (x(t), y(t), z(t)),

em que x(t) = 2 sen t, y(t) = e cos t e z(t) = t para 0 ≤ t ≤ 2π. Sua representação
gráfica é mostrada na figura 4.3. Observe que ela apenas foi deslocada, pois par-
te do ponto (0,2,0), e não do ponto (2,0,0) como no caso anterior, o sentido de
deslocamento (se a interpretamos, por exemplo, como o deslocamento numa
partícula em função do tempo t) é oposto ao caso anterior.

106 • capítulo 4
z

3π/2

–π/2 –4
–3
–4 –3 –2
–2 –1 –1
00 0 1
1 2 3 4 5
2
3 y
4
5 –π/2
x

Figura 4.3

No caso do Exemplo 4.1, podemos gerar a mesma curva, por exemplo,


se considerarmos a mesma função γ(t), mas, alterando a variação de t para
0 ≤ t ≤ 4π. Se realizarmos a representação gráfica dessa curva ela será idêntica
à mostrada na figura 4.1. Contudo, se consideramos essa função como a que
fornece o deslocamento de uma partícula sobre o plano xy em relação ao tempo
t, essa partícula, então, está dando duas voltas sobre a circunferência. Um outro
tópico que iremos abordar mais adiante diz respeito a uma forma de calcular
o comprimento de uma curva. E, dependendo da parametrização, podemos ter
resultados diferentes para o que parece ser uma mesma curva.
Também devemos nos preocupar em complicar a parametrização desne-
cessariamente. Veja o exemplo seguinte.

Exemplo 4.3
Podemos definir uma certa reta no plano xy como uma curva parametrizada
na forma
γ(t) = (x(t), y(t)),

em que x(t) e y(t) = 2 + 3t para – ∞ < t < ∞. Isso equivale a dizer que essa curva
é composta por todos os pontos

γ(t) = (t, 2 + 3t), para – ∞ < t < ∞.

capítulo 4 • 107
A representação gráfica dessa curva está na Figura 4.4. Observe que se trata
da representação de uma função do primeiro grau. Como x(t) = t, podemos es-
crever que
y(t) = 2 + 3x(t)
ou, simplesmente

y = 2 +3x.

Observe que podemos chegar exatamente à mesma curva através da


parametrização
γ(t) = (x(t), y(t)).

em que x(t) = 5t3 e y(t) = 2 + 15 t3 para –∞ < t < ∞, pois, se x(t) = 5 t3, podemos
escrever
x
t=3
5

e, substituindo em y(t) = 2 + 15 t3, temos:


3
 x x
y = 2 + 15  3  ⇒ y = 2 + 15 ⇒ y = 2 + 3x ,
 5  5

que é exatamente a mesma equação que tínhamos anteriormente. Mas,


convenhamos, não há necessidade alguma de complicarmos nossa parametri-
zação como a que você acabou de ver.

y
3

0
–3 –2 –1 0 1 2 3 x

–1

Figura 4.4

108 • capítulo 4
Em suma, podemos ter diferentes parametrizações para uma mesma curva.
Isso é um fato que deverá ser considerado mais adiante, pois tornar a parame-
trização de uma curva mais complexa, pode tornar nosso trabalho muito mais
difícil. Portanto, devemos ter uma certa preocupação com a forma como ire-
mos parametrizar as curvas.
Outro conceito que precisamos revisar é o de reta tangente a uma curva.
A reta tangente a curva γ(t) = (x(t), y(t)), do 2, num ponto específico em que
t = t0 é dada por todos os pontos X tais que:

X(λ) = X(t0) + λγ'(t0), (4.1)

em que:
λ é um escalar real;
X(λ) é um ponto genérico da reta X ;
X(t0) é um ponto específico da reta X e
λγ'(t0) ≠ 0 é a derivada da função γ para um valor específico t0.

Lembre-se de que a derivada de uma curva num ponto define o vetor tan-
gente à curva nesse ponto.

Vamos retomar a curva do Exemplo 4.2 para mostrar como podemos obter
uma reta tangente a ela, num ponto.

Exemplo 4.4
Considere a curva

γ (t ) = (2 cos t, 2 sen t , t ), 0 ≤ t ≤ 2π,

cuja representação gráfica é mostrada na Figura 4.2.


Vamos determinar a reta tangente a essa curva no ponto em que t0 = π, isto
é, o ponto
X (π ) = γ (π)
= (2 cos π, 2 sen π , π )
= ( −2, 0, π )

capítulo 4 • 109
A derivada da função γ(t) é dada por:

γ (t ) = ( −2 sen t, 2 cos t , 1).

Portanto, para o ponto t0 = π, temos:

γ ( π) = ( −2 sen π, 2 cos π , 1)
= (0, −2,1)

Aplicando tais pontos na equação dada em (4.1), temos:


X ( λ ) = X (t 0 ) + λγ (t 0 )
= ( −2, 0, π ) + λ (0, −2,1)
= ( −2, −2λ, π + λ )

para todo γ ∈.


Na figura 4.5 você vê novamente a hélice da Figura 4.2 com a inserção da reta
tangente cuja equação acabamos de obter e um vetor tangente a essa curva que
é dado por γ'(π).
z


3π/2 γ(t) v (π) = γ’ (π)
X (π)

–π/2
–4
–4 –3 –3
–2 –1 0 –1 –2
00 1 2
1 1 1 3 4
2 5
5
y
x
–π/2

Figura 4.5

Note que a coordenada z do vetor tangente é igual a 1. Isso significa que o


eixo x tem cota 1, ou seja, a velocidade de crescimento da curva no sentido do
eixo z é igual a 1.

110 • capítulo 4
O comprimento de uma curva γ(t) (do plano ou do espaço) para a ≤ t ≤ b é
definida como:

b
 ( γ ) = ∫ 1 dt = ∫ γ (t ) dt . (4.2)
a
γ

Para exemplificar, vamos calcular o comprimento da hélice apresentada no


exemplo anterior (e no Exemplo 4.2).

Exemplo 4.5
Vamos determinar o comprimento da curva

γ (t ) = (2 cos t, 2 sen t , t ), 0 ≤ t ≤ 2π,

Já vimos, no exemplo anterior, que

γ (t ) = ( −2 sen t, 2 cos t , 1).

Portanto,

γ (t ) = ( −2 sen t )2 + ( 2 cos t )2 + 12
= 4 sen2 t + 4 cos2 t + 12
= 4 (sen2 t + cos2 t ) + 1
= 5

Daí, podemos obter o comprimento do arco resolvendo a integral:

 ( γ ) = ∫ 1 dt
γ

=∫ γ (t ) dt
0

=∫ 5 dt
0

=  5 
0

= 2π 5

capítulo 4 • 111
No exemplo que acabamos de ver, podemos considerar que integramos a
função f(x, y,z) = 1 sobre a curva γ(t) = (2 cos t, 2 sen t, t), no intervalo 0 ≤ t ≤ 2π.
Isso significa dizer que calculamos a integral de linha da função f sobre a curva γ.

De modo geral, para uma função f(x, y, z), a integral de linha dessa função
sobre a curva γ(t), nas condições já apresentadas, é representada por:

∫ f ( x, y, z) ds .
γ

Se considerarmos a curva γ na forma parametrizada γ(t) = (x(t), y(t), z(t)) em


que as funções x(t), y(t) e z(t) são todas deriváveis várias vezes com primeira de-
rivada não nula, então a integral de linha de f sobre γ será

b
∫a f ( x(t ), y(t ), z(t )) γ (t ) dt . (4.3)

Observe que, para calcular uma integral de linha, é preciso, primeiramente,


parametrizar a curva γ caso ela ainda não esteja nessa forma.
No próximo exemplo há uma aplicação desse tipo de integral no cálculo de
densidade.

Exemplo 4.6
Um exemplo de aplicação da integral de linha na Física diz respeito ao cál-
culo da massa M a partir da densidade δ(x, y, z), que é massa por unidade de
comprimento. Vamos calcular a massa de um arame que posiciona-se na in-
tersecção do cilindro x2 + z2 = 4 com o plano x + y = 2 e que tem densidade dada
1
por δ( x, y, z) = . A massa desse arame é a integral de linha da densidade
z2 +4
dada calculada sobre a curva γ(t) que ainda iremos obter.

O cilindro, o plano e a intersecção entre eles estão representados na Figura


4.6.

112 • capítulo 4
4 z

–3 1 –4
–2 –2
–2 –2
–1
00
2 1 0 1
3 2
3
x 4
–1
y

–2

–3

Figura 4.6

Primeiro, vamos obter a equação parametrizada da curva γ. Se ela é a inter-


secção do cilindro com o plano dado, então seus pontos são pertencentes tanto
ao cilindro quanto ao plano. Como o cilindro intercepta o plano xz na circun-
ferência de raio igual a 2 (pois, x2 + z2 = 22), podemos considerar as seguintes
parametrizações para x e z:

x(t) = 2 cos t e z(t) = 2 sen t.

Como a variável y não aparece na equação do cilindro, vamos obter a sua pa-
rametrização a partir da equação do plano, considerando as parametrizações já
realizadas para x e z, já que o que desejamos é a intersecção de ambos. Como x
+ y = 2 e x(t) = 2 cos t, então podemos escrever:

x(t ) + y (t ) = 2 ⇒ 2 cos t + y (t ) = 2 ⇒ y (t ) = 2 − 2 cos t

Portanto, temos:
γ (t ) = ( x(t ), y (t ), z(t ))
= (2 cos t, 2 − 2 cos t, 2 sen t )

Daí, podemos obter sua derivada, que é:


γ (t ) = ( −2 sen t, 2 sen t, 2 cos t )

capítulo 4 • 113
O módulo de γ'(t) será dado por:

γ (t ) = ( −2 sen t )2 + (2 sen t )2 + (2 cos t )2


= 4 sen2 t + 4 sen2 t + 4 cos2 t
= 4 (sen2 t + sen2 t + cos2 t )

= 4 (sen2 t + 1)

= 2 sen2 t + 1

Ainda precisamos expressar a função densidade em relação a t. Como


1
δ( x, y, z) =
z2 +4
e
z(t) = 2 sen t,

então podemos escrever


1
δ ( x(t ), y (t ), z(t )) =
(2 sen t )2 + 4
1
=
4 sen2 t + 4
1
=
4 (sen2 t + 1)
1
=
2 sen2 t + 1

Como a massa M do arame é a integral de linha da densidade δ dada calcu-


lada sobre a curva γ(t), então, utilizando a expressão dada em (4.3), podemos
escrever: 2π
M = ∫ δ ( x(t ), y (t ), z(t )) γ (t ) dt
0
2π 1
=∫ 2 sen2 t + 1 dt
0
2 sen2 t +1

=∫ 1 dt
0

= [ t ]0

= 2π
Na próxima seção veremos as integrais de linhas em campos vetoriais.

114 • capítulo 4
4.2  Integrais de linha para campos vetoriais e
operadores diferenciais

Começaremos apresentando algumas definições que nos serão extremamente


necessárias e úteis para compreender o que é uma integral de linha para cam-
pos vetoriais, que é um elemento matemático de fartas aplicações, principal-
mente na Física. Tanto que, em diversos momentos, utilizaremos exemplos de
assuntos relacionados a esta ciência com o objetivo de tornar mais claras nos-
sas explicações.
A primeira definição que será apresentada é a de campo vetorial.

Definição de campo vetorial



Um campo vetorial é uma aplicação F definida num domínio, que denotaremos por D, que
pode estar contido tanto no 2 como no 3 e cuja imagem está no 2 ou no 3, respecti-
vamente.

Um exemplo de um campo vetorial que já utilizamos várias vezes é a aplica-


ção que realizamos nas mudanças de variáveis da forma cartesiana (x, y) para
a forma polar (r cos θ, r sen θ) através da transformação x = r cos θ e y = r sen θ.
Mas, agora, vamos considerar esse tipo de transformação com um sentido veto-
rial. Vamos a alguns exemplos para compreender melhor.

Exemplo 4.7

Considere uma aplicação F: 2 → 2 dada por


F ( x , y ) = (2 x , − y ) .

Vamos considerar um ponto específico do domínio dessa aplicação, tal


como (1,3). A sua imagem será o ponto (2 · 1, –3) = (2, –3). Estamos associando
um ponto do 2 a outro ponto também do 2. Mas vejamos essa relação de uma
forma vetorial. Considere que o ponto (1,3) do domínio, está associado ao vetor

v = (2, −3).
Uma aplicação física desse tipo de relação pode ser utilizada na Mecânica
dos Fluidos ou em Eletromagnetismo, por exemplo. Considere que, no esco-
amento de um líquido, no ponto (1,3) a velocidade é representada pelo vetor

capítulo 4 • 115

v = (2, −3). Ou uma partícula que está no ponto (1,3) sofre a ação de uma força

representada pelo vetor v = (2, −3). Na Figura 4.7, há uma representação dessa
aplicação para o ponto específico (1,3).

y
4

(1,3)
3

0
–1 0 1 2 3 4 x

–1

Figura 4.7

Exemplo 4.8
Considere o campo de vetores definido por


F ( x, y ) = (0, x ).

Esta aplicação, que a todo ponto do 2 associa um vetor vertical e de módulo


igual à coordenada x, define um campo em que, à medida que os pontos do do-
mínio se afastam do eixo y, os módulos dos vetores a eles associados aumentam.
Além disso, nos quadrantes em que x é negativo, os vetores “apontam” para baixo
e, nos quadrantes em que x é positivo, os vetores associados “apontam” para cima.
Para os pontos situados sobre o eixo y, os vetores associados são nulos. Veja, na
Figura 4.8, alguns pontos com suas respectivas imagens (vetores) para uma me-
lhor compreensão. Os pontos considerados, e suas respectivas imagens são:
(1, 4) → (0,1); (3, –2) → (0, 3); (0, 1) → (0, 0); (–1, 3) → (0, –1); (–3, –2) → (0, –3);

116 • capítulo 4
y
6
5
(1, 4)
4
3
(–1, 3)
2
1 (0, 1)
0
–5 –4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 5 x
–1
(–3, 2)
–2
(3, –2)
–3
–4
–5
–6

Figura 4.8

Se considerarmos, por exemplo, que esse campo vetorial é um campo de for-


ça, um objeto posicionado com centro no eixo y tende a rotacionar, no sentido
anti-horário, em torno de si mesmo.

Exemplo 4.9
O campo escalar definido pela aplicação


F ( x, y ) = ( − y , x )

tem como imagem vetores que são perpendiculares aos vetores radiais.
Vetores radiais associados a um ponto são vetores que têm origem no ponto
(0,0) e extremidade no ponto considerado. Mas como podemos concluir isso?
Considere que o campo de vetores radiais é definido por


r ( x, y ) = ( x, y ).

capítulo 4 • 117
  
Se tomarmos um vetor u = ( − y, x ) do campo vetorial F e um vetor v = ( x, y ) do
  
campo r , o produto escalar entre eles, simbolizado por u, v , é dado por:

 
u, v = ( − y, x ),( x, y ) = − y ⋅ x + x ⋅ y = 0 .

Lembre-se de que, se o produto escalar entre dois vetores é igual a zero, en-

tão eles são perpendiculares entre si. A figura 4.9 mostra o vetor radial v = (2,3)
 
e o vetor u = ( −3, 2) do campo F associados ao mesmo ponto (2,3).

y
6

4
(2, 3)
3

1
0
–2 –1 0 1 2 3 4 5 x
–1

Figura 4.9

Um campo vetorial que será bastante útil em nossas aplicações é o campo


gradiente. Vamos defini-lo a seguir.
Considere uma função f: 2 →  diferenciável. O gradiente da função f é
dado por
  ∂f ∂f 
∇f ( x, y ) =  ( x, y ), ( x, y )
 ∂x ∂y 
 ∂f    ∂f 
=  ( x, y ) i +  ( x, y ) j.
 ∂x   ∂y 

O gradiente de uma função associa a cada par ordenado do domínio da fun-


ção um vetor, que é denominado vetor gradiente. Esse vetor é perpendicular

118 • capítulo 4
às curvas de nível da função (são curvas para as quais o valor da função é cons-
tante) e fornece a direção de maior variação da função. Ele é considerado um
operador diferencial.
Podemos também definir o gradiente de uma função no espaço, isto é, uma
função f: 3 → . Nesse caso, seu gradiente será dado por

  ∂f ∂f ∂f 
∇f ( x, y, z ) =  ( x, y, z ), ( x, y, z ), ( x, y, z )
 ∂x ∂y ∂z 
 ∂f    ∂f    ∂f 
=  ( x, y, z ) i +  ( x, y, z ) j +  ( x, y, z ) k.
 ∂x   ∂y   ∂z 

Exemplo 4.10
Determine o gradiente da função f(x, y) = –x2 – y + 4.
O gradiente será dado por:

  ∂f ∂f 
∇f ( x, y ) =  ( x, y ), ( x, y )
 ∂x ∂y 
 ∂ ∂ 
=  ( − x 2 − y + 4), ( − x 2 − y + 4)
 ∂x ∂y 
= ( −2 x, −1)
 
= −2 xi − j

Se considerarmos, por exemplo, a curva de nível em que f(x, y) = 4, ela será


dada por y = –x2 (lembre-se de que a curva de nível está no plano xy). Tomando,
por exemplo, o ponto (1, –1,4) da interseção do plano que define a curva de nível
quando f(x, y) = 4, a sua projeção na curva de nível é o ponto A = (1, –1,0). Observe
na Figura 4.10 a representação desses pontos, bem como do vetor gradiente
nesse ponto, da função f(x, y) = –x2 – y + 4 (para x e y variando entre –2 e 2) e o do
plano que o intercepta.

capítulo 4 • 119
z
6

(1, –1, 4) 4

–3 1
–2
–1 0 –2 –3 –4 5
–2 –1 –1
0
A 0 y
1
-1 2
3
4 x

Figura 4.10

Outro conceito operador diferencial bastante utilizado é conhecido por ro-


tacional. Dado um campo vetorial, há uma operação que gera outro campo ve-
torial de muita utilidade no estudo, por exemplo, de um campo de forças. Essa
operação é denominada rotacional de um campo.
Considere um campo vetorial do 3 definido por

F ( x, y, z ) = ( P( x, y, z), Q( x, y, z), R ( x, y, z))

em que P, Q e R são funções componentes desse campo e todas são diferen-


ciáveis. O rotacional de um campo desse campo é uma operação definida por

  ∂ R ∂ Q    ∂P ∂R    ∂Q ∂P  
rot F =  − i + − j+ − k.
 ∂y ∂z   ∂z ∂x   ∂x ∂y 

120 • capítulo 4

Quando o campo F é definido no plano, como

F ( x, y ) = ( P( x, y ), Q( x, y ))

o seu rotacional é dado por

  ∂Q ∂P  
rot F =  − k.
 ∂x ∂y 

Isso nos leva a concluir que o rotacional de um campo plano é um vetor per-
pendicular a esse plano.
Vamos a um exemplo de cálculo do rotacional.

Exemplo 4.11
Vamos calcular o rotacional do campo definido (no Exemplo 4.8) por

F ( x, y ) = (0, x ).

Já vimos que ele é composto por vetores paralelos ao eixo y e que aumentam
de módulo à medida que se afastam desse eixo. Além disso, esses vetores têm
sentido para cima nos quadrantes em que x é positivo e para baixo nos quadran-
tes em que x é negativo. Nos pontos sobre o eixo y, os vetores associados são
nulos. Para calcular o seu rotacional, vamos tomar:

P(x, y) = 0 e Q(x, y) = x,

pois P é a primeira componente do vetor e Q é a segunda. Dessa forma,


temos:
∂P ∂Q
=0 e =1.
∂y ∂x

Portanto,

  ∂Q ∂P    
rot F =  −  k = (1 − 0) k = k.
 ∂x ∂y 

capítulo 4 • 121
Exemplo 4.12

Vamos, agora, considerar o campo de vetores radiais r ( x, y ) = ( x, y ) apresen-
tado no Exemplo 4.9. Temos:
P(x, y) = x e Q(x, y) = y.

Então:
∂P ∂Q
=0 e =0.
∂y ∂x

Logo,  
rot F = 0k.

Vamos, agora, definir a integral de linha para campo vetorial.

Na seção 4.1, definimos uma integral de linha de função escalar como sen-
do, de certa forma, a integral da componente tangencial da função sobre uma
curva γ(t). Agora estamos falando em campos vetoriais e não escalares, mas a
definição de integral de linha é semelhante.


Considere um campo vetorial F e uma curva γ(t) diferenciável. A integral de

linha de F sobre γ é dada por


∫a F ( γ (t )), γ (t )
b
dt (4.4)

 
em que F ( γ (t )), γ (t ) é o produto escalar entre o campo vetorial F ( γ (t )) e
a derivada da curva γ(t).
Uma notação bastante utilizada para essa integral é
 
∫ F dr
γ

Exemplo 4.13

Considere o campo vetorial de vetores radiais r ( x, y ) = ( x, y ). Vamos calcular
a integral de linha desse campo sobre a curva
γ(t) = (t, 3t2)

para 0 ≤ t ≤ 3.

122 • capítulo 4
Como o campo vetorial é definido em relação às variáveis x e y e iremos cal-
cular a integral em relação a t, então temos que escrever esse campo vetorial
considerando que ele será integrado sobre a curva em que a variável x corres-
ponde a t e a variável y corresponde a 3t2. Portanto, vamos considerar


r (t ) = ( t,3t 2 ) .

A derivada da curva γ é γ (t ) = ( t,3t 2 ) e γ (t ) = (1,6t ).

A integral de linha será, portanto, dada por:



∫0 r ( γ (t )), γ (t ) (t,3t 2 ), (1,6t )
3 3
dt = ∫ dt
0

= ∫ ( t ⋅ 1 + 3t 2 ⋅ 6t ) dt
3
0

= ∫ ( t + 18t 3 ) dt
3
0
3
 t 2 9t 4 
= +
2 2  0
= 369

Exemplo 4.14

Considere um campo vetorial de forças definido por F ( x, y ) = (0, x ). Vamos
calcular a integral de linha desse campo sobre a curva

γ(x, y): x2 + y2 = 4,

considerando o sentido anti-horário.


Nesse caso, precisamos primeiro parametrizar a curva. Vê-se que se trata da
equação de uma circunferência de raio igual 2. Então podemos parametrizá-la
tomando

x = 2 cos t e y = 2 sen t, com 0 ≤ t ≤ 2π.

capítulo 4 • 123
Observe que estamos considerando o sentido anti-horário em nossa integração no Exem-
plo 4.14. Precisamos definir o sentido em nossa integral, pois, se o invertermos, o resultado
será o oposto do que iremos obter. Para compreender melhor, considere que essa integral
nos fornecerá o trabalho realizado por esse campo de forças na trajetória definida pela cur-
va γ(t). Se considerarmos a mesma trajetória, mas com sentido contrário, o resultado para o
trabalho também será o oposto (sinal trocado) ao obtido anteriormente.

Temos, então
γ(t) = (2 cos t, 2 sen t).
Daí,
γ'(t) = (2 cos t, 2 sen t).

Vamos considerar a parametrização da curva para escrever o campo vetorial



em relação ao mesmo parâmetro t. Como F ( x, y ) = (0, x ) , podemos escrever:


F ( γ (t )) = (0, 2 cos t ).

Portanto, a integral de linha que queremos calcular será dada por:


2π  2π
∫0 F ( γ (t )), γ (t ) dt = ∫ (0, 2 cos t ), ( −2 sen t, 2 cos t ) dt
0

=∫
0
(0 ⋅ ( −2 sen t ) + 2 cos t ⋅ 2 cos t ) dt

=∫ 4 cos2 t dt
0

= 4∫ cos2 t dt
0

Para finalizar a resolução dessa integral, considere a identidade


trigonométrica
1 + cos 2t
cos2 t = .
2

Logo,

124 • capítulo 4
2π  2π
∫0 F ( γ (t )), γ (t ) dt = 4∫ cos2 t dt
0
2 π 1 + cos 2t
= 4∫ dt
0 2

= 2∫
0
(1 + cos2t ) dt

 sen 2t 
= 2 t +
 2  0
 sen 2 (2π ) 
= 2 2 π + 
 2 
= 4π

  b 
Além da notação ∫ F dr = ∫ F ( γ ( t )) , γ ’ ( t ) dt que utilizamos, até o momento, para integral
a
γ

de linha de campo vetorial, também costuma-se ser representá-la em função das compo-
nentes P e Q do campo vetorial, das seguintes formas:

b b
∫a (P, Q ) , ( x’, y ’) dt ou ∫a Px ’ dt + Qy ’ dt .
Se o campo vetorial tiver uma terceira componente R, então essas formas serão:

b b
∫a (P, Q, R) , ( x’, y ’, z ’) dt ou ∫a Px ’ dt + Qy ’ dt + Rz ’ dt.

4.3  Independência do caminho e campos


conservativos

Na Física, há campos vetoriais, como o gravitacional e o elétrico, em que a de-


terminação do trabalho realizado para deslocar uma partícula de um ponto A
para um ponto B independe do caminho, isto é, depende somente das posições
inicial e final dessa partícula. Campos vetoriais que possuem esta característica
são chamados de campos conservativos.

Considere um campo vetorial F duas curvas distintas γ1 e γ2. Se A e B são
dois pontos pertencentes a essas curvas, geralmente, temos:

capítulo 4 • 125
   
∫ F dr ≠ ∫ F dr .
γ1 γ2

Podemos interpretar essa informação da seguinte forma: o trabalho reali-


zado para deslocar uma partícula do ponto A ao ponto B depende do caminho
escolhido. No entanto, há certos campos vetoriais em que esse trabalho inde-
pende do caminho escolhido. E, nesse caso, tais campos vetoriais são chama-
dos de campos conservativos.


Dizemos que um campo vetorial F definido em um domínio D é conservativo se para quais-
B 
quer dois pontos A e B desse domínio se o trabalho ∫ F dr para deslocar uma partícula de
A
A a B seja igual para todos os caminhos possíveis. Dizemos, então que a integral de linha
B 
∫A F dr independe do caminho. 
Em outras palavras, podemos dizer que um campo F é conservativo se, e somente se,

existe uma função f tal que o gradiente de f seja igual a F ou, em símbolos,
 
∇f = F . (4.5)

Se a condição em (4.5) é satisfeita, então a função f é denominada função potencial de F .


Encontrada a função potencial f de um campo vetorial conservativo F , en-

tão todas as integrais de trabalho no domínio de F podem ser calculadas por:

B  B  
∫A F dr = ∫A ∇f dr = f (B) − f ( A ). (4.6)

Exemplo 4.15
Considere o campo vetorial

   
F = (2 yz ) i + (2 xz ) j + (2 xy ) k .

 
Vamos determinar sua função potencial f. Como devemos ter ∇f = F e
  ∂f ∂f ∂f 
∇f ( x, y, z ) =  ( x, y, z ), ( x, y, z ), ( x, y, z )
 ∂x ∂y ∂z 
 ∂f    ∂f    ∂f 
=  ( x, y, z ) i +  ( x, y, z ) j +  ( x, y, z ) k,
 ∂x   ∂y   ∂z 

então, podemos concluir que:

126 • capítulo 4
∂f ∂f ∂f
( x, y, z ) = 2 yz, ( x, y, z ) = 2xz e ( x, y, z ) = 2xy .
∂x ∂y ∂z

A função f(x, y, z) que satisfaz as três igualdades acima é

f(x, y, z) = 2xyz.

Para determiná-la, você pode integrar cada um dos componentes do campo


vetorial em relação, respectivamente, a x, y e z e verificar se todas elas levam a
mesma expressão.
Agora, vamos determinar o trabalho realizado para deslocar uma partícula do
ponto A = (–1, 2, 3) ao ponto B = (0, –3, 4). Para isso, utilizamos a expressão (4.6):
B  B 
∫ F dr = ∫ ∇f dr
A A
= f (B) − f ( A )
( −1,2,3)
= [2 xyz ](0,3, −4)
= 2 ⋅ ( −1) ⋅ 2 ⋅ 3 − 2 ⋅ 0 ⋅ 3 ⋅ ( −4)
= −12

Dado um campo vetorial F , como podemos saber se ele é um campo con-
servativo ou não?
Se você já conhece o rotacional desse campo e sabe que ele é diferente de
zero, então já pode concluir que não se trata de um campo conservativo.
No entanto, há um teste que pode ser feito antes de tentar obter a função
potencial de um campo vetorial. “Tentar” é o termo correto, pois o campo que
você está considerando pode não ser conservativo e, nesse caso, não há função
potencial para ele.

Teste para um campo conservativo


   
Considere um campo vetorial F = P ( x, y, z ) i + Q ( x, y, z ) j + R ( x, y, z )k cujas funções compo-

nentes P, Q e R possuem derivadas contínuas de primeira ordem. Então F é conservativo
se, e somente se,

∂R ∂Q ∂P ∂R ∂Q ∂P
• ∂y = ∂z ; • = ; • ∂x = ∂y .
∂z ∂x

capítulo 4 • 127
Exemplo 4.16
   
Dado o campo vetorial F = (e y + 2z ) i + ( xe y + 2z ) j + (2 xe y + 2z ) k , vamos mostrar
que ele é conservativo. Em seguida, iremos obter sua função potencial.

Considerando

P ( x, y, z ) = e y + 2z , Q ( x, y, z ) = xe y + 2z e R ( x, y, z ) = 2 xe y + 2z ,

temos

∂P ∂P ∂Q ∂Q ∂R ∂R
= e y + 2z ; = 2e y + 2z ; = e y + 2z ; = 2 xe y + 2z ; = 2e y + 2z ; = 2 xe y + 2z
∂y ∂z ∂x ∂z ∂x ∂y

Observe que estão satisfeitas as três condições de campos conservativos:

∂R ∂Q ∂P ∂R ∂Q ∂P
= ; = e = .
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y

Portanto, F é um campo conservativo, o que equivale a dizer que existe uma
 
função f tal que ∇f = F. Para determinar a função potencial f, devemos conside-
rar as seguintes igualdades
∂f ∂f ∂f
= e y + 2z , = xe y + 2z e = 2 xe y + 2z .
∂x ∂y ∂z

∂f
Fixando y e z, calculamos a integral da equação = e y + 2z, para determinar
∂x
f:
∫ e y +2z dx = xe y +2z + C .
Temos de considerar que a constante de integração C é uma função de y e
z, pois a integração foi feita em x. Portanto, vamos reescrever esse resultado na
forma:
∫ e y +2z dx = xe y +2z + g ( y, z) .
Portanto, podemos escrever:

f ( x, y, z ) = xe y +2z + g ( y, z) .

128 • capítulo 4
∂f   ∂f
Como já vimos que tem F dr de ser igual a xey + 2z e calculando na
∂y ∂y
equação acima, temos
∂f
= xe y + 2z ,
∂y

então, concluímos que g(y, z) = 0.



Portanto, a função potencial do campo vetorial F será dada por

f(x, y, z) = xey + 2z.


Se F é um campo conservativo e considerando a independência de cami-
nho, podemos concluir que, para uma curva fechada C, temos:
 
∫C F dr = 0.

Uma integral sobre uma curva fechada costuma ser representada por:
 
∫ F dr.
C

Uma curva fechada é uma curva em que o ponto inicial coincide com o ponto final. Ela é
denominada curva fechada simples se ela não intercepta a si própria, exceto nos pontos
inicial e final.

4.4  Teorema de Green


Podemos relacionar uma integral de linha sobre uma curva fechada C num
plano com uma integral dupla sobre a região compreendida no interior dessa
curva. Essa relação é dada pelo Teorema de Green, que é apresentado a seguir.

capítulo 4 • 129
Teorema de Green
Considere C uma curva fechada simples no plano xy, orientada no sentido anti-horário. Cha-
memos de R a região delimitada por essa curva. Se tomarmos componentes contínuas P e
∂P ∂Q
Q de duas variáveis, x e y, e com derivadas parciais e contínuas em R e C, então
∂y ∂x

 ∂Q ∂P 
∫ P ( x, y ) dx + Q ( x, y ) dy = ∫∫  ∂x − ∂y  dx dy.
C R

Vamos ver, nos dois exemplos a seguir, como utilizar o Teorema de Green
para calcular integrais de linha sobre curva fechada simples.

Exemplo 4.17
Vamos utilizar o Teorema de Green para resolver a integral de linha
∫ ( 2 + 3 y )dx + ( y 2 − 2x )dy em que C é curva que define um triângulo OAB, con-
x
C
siderada no sentido anti-horário, em que O = (0,0), A = (2,0) e B = (2,2). A curva C
está representada na Figura 4.11.

y
3
B
2

1
0 O A
–1 0 1 2 3 x
–1

Figura 4.11

Tomando

P ( x, y ) = ( x 2 + 3 y ) e Q ( x, y ) = ( y 2 − 2 x ),

temos:
∂P ∂Q
=3 e = −2.
∂y ∂x

130 • capítulo 4
Portanto,

∫ ( x2 + 3 y )dx + ( y 2 − 2x )dy = ∫∫ ( −2 − 3) dx dy
C R

= ∫∫ ( −5) dx dy
R

= −5∫∫ dx dy
R

Como a área da região R é igual a 1, então a integral acima será dada por:

∫ ( x2 + 3 y )dx + ( y 2 − 2x )dy = −5∫∫ dx dy


C R
= −5 ⋅ 1
= −5

Exemplo 4.18
Vamos calcular a integral de linha ∫ x3 ydx + xy 2dy em que C é uma curva
C
definida em sentido anti-horário da região R delimitada pela parábola y = x2 e
pela reta y = x.

Tomando P ( x, y ) = − x 2 y e Q ( x, y ) = xy 2 , temos:

∂P ∂Q
= − x2 e = y 2.
∂y ∂x

Aplicando o Teorema de Green, podemos escrever:

 ∂Q ∂P 
∫ x3 ydx + xy 2dy = ∫∫  ∂x − ∂y  dx dy
C R

= ∫∫ ( y 2 + x 2 ) dx dy
R

Para finalizar o cálculo desta integral, precisamos, antes, fazer uma análise
da região R para determinar os limites de integração. A figura 4.12 mostra a
representação da região R. Observe que a variação de x é de 0 a 1 e de y será de
x2 a x.

capítulo 4 • 131
y
2

1 2 x

Figura 4.12

Voltando ao cálculo da integral, temos:

∫ x3 ydx + xy 2dy = ∫∫ ( y 2 + x2 ) dx dy
C R

=∫
0
1
(∫ x
x2 )
( y 2 + x2 ) dy dx
1   y3  
x
= ∫   + yx 2   dx
0
 3  x2 
 3  
x
  ( x2 )
3
1x
= ∫  + x⋅x  − 
2 + x ⋅ x   dx
2 2
0 3  3  
    x2 

1  4x 3 x6 
=∫  − − x 4  dx
0 3 3 
1
 x 4 x7 x5 
= − − 
 3 21 5  0
1 1 1
= − −
3 21 5
3
=
35

como queríamos determinar.

132 • capítulo 4
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOULOS, P. Cálculo Diferencial e Integral. Vol. 2. São Paulo: Makron Books, 2000.
FINNEY, R. L.; WEIR, M. D. e GIORDANO, F. R. Cálculo. Vol. 2. São Paulo: Addison Wesley, 2009.
LEITHOLD, L. O cálculo com geometria analítica. Vol. 2. São Paulo: Harbra, 1994.
MORETTIN, P. A.; HAZZAN, S. e BUSSAB, W. O. Cálculo: funções de uma e várias variáveis. São
Paulo: Saraiva, 2006.
MUNEM, M. A. e FOULIS, D. J. Cálculo. Vol. 2. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
SIMMONS, G. F. Cálculo com geometria analítica. Vol. 2. São Paulo: Makron Books, 2008.

capítulo 4 • 133
ANOTAÇÕES

134 • capítulo 4
ANOTAÇÕES

capítulo 4 • 135
ANOTAÇÕES

136 • capítulo 4

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