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CAPITULO 1 CONCEITOS BASICOS 1.1 Iytropucéo © estudo de fenémenos de transporte tem aplicagdes muito importantes na Engenharia, pois permite conhecer assuntos diversos, como 0 transporte de fluidos ao longo de canalizagoes ou a quantificagao da dissipagao de calor de motores, dando ao estudante uma ferramenta importante para a otimizagao dos processos de fabricagdo e produgdo. Os fenémenos de transporte concatenam assuntos que seguem principios basicos semelhantes, apesar de pareccram muito diferentes, permitindo 0 uso de uma formulacao basica para os diversos fendmenos. Este livro apresenta uma visdo voltada aplicagao dos fenémenos de transporte, antes de idéias para a pesquisa, visto que pretende fornecer os subsidios necessérios ao estudante para resolver problemas ligados a aplicagao dos conceitos a sua area de trabalho. Pata iniciar o estudo dos fenémenos de transporte é necessario introduzir alguns conceitos basicos importantes, que subsidiarao 0 correto entendimento do assunto. Neste capitulo sio apresentados os tpicos basicos juntamente com observagdes de uso geral nas ciéncias, os quais também servem de suporte ao estudo de fendmenos de transporte. 1.2 Os FENOMENOs DE TRANSFERENCIA Os fendmenos de transferéncia, objeto deste texto, tratam da movimentagao de uma grandeza fisica de um ponto para outro do espaco e dio corpo a disciplina Fenémenos de Transporte. Sao eles: transporte de quantidade de movimento, transporte de energia térmica ¢ transporte de massa. Como a transferéncia dessas grandezas segue principios andlogos, ¢ ‘viavel seu estudo em conjunto por meio de tratamento matematico tnico. Como todas as ciéncias atuais, o estudo dos Fendémenos de Transportes é fruto dos esforgos realizados por diferentes pesquisadores ao longo da histéria. Esse esforco, permanente e dinamico, modifica 0 estudo dos temas cientificos ao longo do tempo. Como exemplo dessa dinamica, a disciplina Fenémenos de Transporte €0 meio mais eficiente de transmitir o conhecimento das Areas de transferéncia de massa, energia térmica c quantidade de movimento. Os principios fisicos fundamentais utilizados no desenvolvimento dos Fenémenos de Transporte foram, por sua vez, desenvolvidos e formulados por intermédio de observagdes € especulagdes acumuladas no passado ¢ tornaram-se conceitos naturais que servem de base para novas descobertas. ‘A aplicagdo dos conceitos matematicos aos sistemas fisicos visa a sua descri¢ao cm termos matematicos, produzindo um conjunto de equagdes denominado modelo matematico. Um modelo matematico é, portanto, uma representagdo de um fenémeno fisico por meio de uma equagdo ou de um conjunto de equagdes. Para modelar um sistema fisico necessario utilizar equagées dos fenémenos basicos, combinando-as para obter a descrigao do sistema fisico em estudo. Fendmenos mais simples admitem formulagdes que sao facilmente resolvidas, 2 FexOmenos ve TRANSPORTE PARA ENGENHARIA produzindo resultados que aderem muito bem aos pontos experimentais; fendmenos mais complicados levam a formulages mais complexas, que s6 fornecem resultados apés simpli- ficagdes nas equacdes ou nas condigdes de contorno. Os resultados obtidos das equagdes simplificadas nao aderem aos pontos experimentais, apresentando erros que sao accitdveis ou nao, dependendo da qualidade das simplificagdes adotadas. Um bom exemplo, fornecido pela engenharia, ¢ 0 estudo da queda de pressao ou perda de carga nos escoamentos forgados. Esse problema foi estudado por engenheiros e matemiticos no inicio do século XIX, o primeito grupo com enfoque puramente experimental e 0 segundo com enfoque tedrico, obtendo resultados divergentes entre si, mas com vantagens para a area experimental, pois, embora seus esforgos resultassem em equagées particulares e com aplica¢do muito restrita, elas tinham aplicagdo, Sé mais recentemente, com o adyento da analise dimensional no inicio do século XX, e usando suporte tedrico, conseguiu-se correlacionar 0 emaranhado de resultados experimentais existentes e obter um equacionamento geral sobre o fenémeno. 1.3 Os FenOmenos bE TRANSPORTE NA ENGENHARIA As aplicagdes de Fendmenos de Transporte na Engenharia sdo intimeras, principalmente por formarem um dos pilares basicos em todos os ramos da Engenharia. Pode-se citar: Na Engenharia Civil e Arquitetura: constitui a base do estudo de hidraulica hidrologia ¢ tem aplicagdes no conforto térmico em edificagoes. Na Engenharia Sanitaria e Engenharia Ambiental: como as principais aplicagdes nessa area sfio ligadas a poluic&io ambiental, os Fendmenos de Transporte tornam-se ferramenta importante no estudo da difusao de poluentes no ar, na Agua e no solo. Na Engenharia Elétrica ¢ EletrOnica: os Fendmenos de Transporte adguirem grande importincia nos célculos de dissipagao de poténcia, seja nas maquinas produtoras ou transformadoras de energia elétrica, seja na otimizagio de gasto de energia nos computa- dores ¢ dispositivos de comunicagao. Na Engenharia Quimica: os Fenémenos de Transporte constituem a base das operages unitarias, que por sua vez constituem a base da Engenharia Quimica. Na Engenharia Mecdnica: talvez a area mais bem servida pelos Fenémenos de Transporte: encontram-se exemplos de aplicagdo nos processos de usinagem, nos processos de tratamento térmico, no célculo das maquinas hidraulicas, referindo-se & denominada mecanica dura, ¢ sf as bases fundamentais dos processos de transferéncia de calor das maquinas térmicas e frigorificas na denominada mecinica mole. Nao pode ser esquecida a aplicagio na Engenharia Aeronautica, com importantes desenvolyimentos na aerodinamica. Na Engenharia de Produgao: as aplicagdes mais conhecidas prendem-se a otimizagao dos processos produtivos e de transporte de fluidos, por intermédio do conhecimento dos fendmenos de troca de calor e da movimentagao de fluidos ao longo de tubulagdes. Também sio importantes nessa area as aplicagdes nos estudos de ciclo de vida dos produtos industria lizados. Dada a clara importéncia desses temas, este texto tem por objetivo fornecer informagdes técnicas de aplicagio dos Fenémenos de Transporte nas diversas areas da Engenharia, procurando distribuir os temas de forma a caracterizar uma seqtiéncia didética, valorizando © aprendizado. Conceitos Baésicos 3. 14 Fumo O conceito de fluido 6 percebido pelas pessoas em geral como algo ligado a liquidos © gases, forma pela qual & apresentado nas séries basicas do ensino fundamental. Esse conceito bisico, no entanto, ndo é suficiente, sendo necessirio uma definicao mais rigorosa, que realmente defina a classe fluido. A definigtio de fluido mais aceita nos meios cientificos pode ser apresentada como: “Fluido é uma substancia que se deforma continuamente, isto é, escoa, sob ago de uma forea tangencial, por menor que ela seja.” (Figura 1.1.) Forga tangencial Figura 1.1 Escoamento de um fluido sob a ago de uma forga tangencial. Como 0 conceito de fluido envolve liquidos e gases, é necessario ampliar a aplicagio da definicdo para distinguir essas duas classes. Reportando-nos ainda ao ensino bisico das cigncias, podemos aceitar a definig&o de fluido como: “Aquela substincia que adquire a forma do recipiente que a contém”. Se a substancia preenche totalmente o recipiente sem formar uma superficie livre, entio é um gas; se a substincia forma uma superficie livre, deparamo-nos com um liquide. 1,5 Hirétese po Continuo O comportamento dos fluidos explicado por sua estrutura molecular. Os fluidos sio compostos por moléculas mantidas coesas pela atracdo molecular, o que permite mobilidade das moléculas, umas em relagiio as outras, em maior ou menor grau, dependendo de sua caracteristica, No entanto, essa mesma estrutura molecular demonstra uma matéria des- continua, isto é, constituida por moléculas ¢ espacos vazios entre elas. Como exemplo da descontinuidade e dos problemas que cla pode causar, podemos usar 0 conceito de massa especifica p, definida como a relagio entre massa e volume da substincia, Calculando-se a massa especifica de um volume de gis, obtém-se um valor p,,,, € se o volume € dividido pela metade, a massa também é reduzida pela metade, mantendo o valor p,,, constante. Se © volume continua a ser dividido, ele vai chegar a um valor no qual as distancias lineares sio da ordem do caminho médio percorrido pelas moléculas. Nessa situacho, a quantidade de moléculas dentro do volume passa a ser varidvel, deixando de manter o valor p,,,. Na Figura 1.2 ¢ apresentado um grafico ilustrando esse comportamento. Tal situagao traz uma dificuldade para a aplicaciio das ferramentas matematicas, principalmente no céleulo diferencial. Por exemplo, a derivada de uma funcio s6 pode ser calculada em um ponto se a flungdo & continua naquele ponto. 4 Fenomenos ve TRANsPORTE PARA ENGENHARIA Hipotese da contimio py St a Volume (m') Figura 1.2 O valor da massa especifica perde sua constincia em volumes com valores lineares préximos ao caminho médio do movimento molecular. Para contorar essa situagao, foi formulada a Hipdtese do Continuo, que admite a matéria continua nas condigdes normais de Engenharia, Com o uso dessa hipdtese ¢ permitida a utilizagdo das ferramentas do calculo diferencial e integral na andlise dos sistemas fluidos, Portanto, o cdlculo da massa especffica de um fluido pode ser feito em um ponto qualquer do fluido, para volumes elementares, pelo conceito de derivada. A massa especifica pode ser definida de acordo com a relagdo apresentada na equagao 1.1. cine dvol Deve ficar claro que essa hipétese permite obter resultados titeis para a Engenharia, mas nao deve ser usada em aplicacdes cujo meio for constituido por gases rarefeitos; por exemplo, nos estudos com plasma ou em véos no limite da atmosfera. a) 1.6 Unwaves pe Mepipa Os sistemas de unidades foram desenvolvidos para padronizar as unidades utilizadas na quantificago de fenémenos fisicos. Quando é definido um sistema de unidades, sio escolhidas algumas unidades fundamentais cuja finalidade ¢ “gerar” as demais unidades do sistema, conhecidas como unidades derivadas. Conforme a necessidade de cada situacao, foram criadas as unidades de medida e, para dar coeréncia ao conjunto de unidades de um determinado pafs ou regio, foi criada uma sistematizacao organizando as unidades em um “sistema de unidades”. Essa regionalizaciio levou A criagio de diversos e diferentes sistemas. Entretanto, para que as unidades de medida sejam homogéneas nos diferentes paises e culturas, foi criado o Bureau Internacional de Pesos e Medidas, que em sua 11* Conferéncia Geral de Pesos e Medidas (CGPM), em 1960, adotou o nome Sistema Internacional de Medidas (SI) para o sistema definido em 1954, no qual foram adotadas como unidades fundamentais as medidas de: comprimento, massa, tempo, intensidade de corrente elétrica, temperatura termodindmica e intensidade luminosa. A Conferéncia Geral optou por basear Conceitos Basicos 5 © Sl em sete unidades perfeitamente definidas, consideradas independentes sob o ponto de vista dimensional: 0 metro (an), 0 quilograma (kg), 0 segundo (s), 0 ampére (A), 0 Kelvin (B), o.mol (mol) ¢ a candela (cd). Além das unidades fandamentais, o SI inclui as unidades Gerivadas e as suplementares. Na Tabela 1.1 encontram-se as principais grandezas empregadas 1o estudo de Fenémenos de Transporte e suas dimensdes de acordo com o Sistema Internacional. Tabela 1.1 Grandezas usuais em fenémenos de transporte e suas unidades.* * Adaptada do Quadro Geral de Unidades do Decreto n? 81,621, de 3 de maio de 1978, ** Altemativamente, pode ser usado 0 grau Celsius, 6 FenOmenos pr Transports Pars ENGENHARIA 1.7 Homocenewane DIMENSIONAL Um dos primeiros ensinamentos na escola, no inicio do aprendizado de aritmética, € que no se pode somar coisas diferentes. Esse ensinamento, proposto naquela instincia como uma verdade absoluta e sem explicagio, envolve o principio da homogeneidade dimensional, que garante que a comparagiio de grandezas fisicas tem de ser feita tanto numericamente quanto dimensionalmente. “Todas as grandezas fisicas so quantificadas por um valor e uma unidade; qualquer comparagao entre grandezas deve envolver tanto os valores quanto as unidades” (Rouse, 1959, p. 5). Qualquer equag%o corretamente construida deve estar sujeita A homogeneidade dimensional, isto €, todos os termos da equacao devem ter a mesma dimensdo (unidade). A equacio matematica, modelo de um fendmeno fisico, que satisfaca essas condigdes ser independente do sistema de unidades escolhido para o trabalho. 1.8 Drrmicérs BAsicas Alguns coneeitos ¢ definigaes derivados da fisica e que utilizam ferramentas do célculo, consideradas necessérias ao desenvolvimento da disciplina Fenémenos de Transportes, sto apresentados a seguir, Trata-se de definigdes e equacionamentos basicos que darao suporte aos desenvolvimentos subseqiientes. 1.8.1 Pressio A pressdo é um dos conceitos mais importantes no estudo dos fluidos. Por intermédio da medida da presséo em pontos convenientemente escolhidos pode-se quantificar grande parte das caracteristicas cinemdticas dos escoamentos. A pressio é definida como a relago entre a forca aplicada perpendicularmente sobre uma superficie ¢ a Area dessa superficie. Podemos lembrar, da fisica basica, que uma forca tangencial agindo sobre uma superficie provoca uma tensdo tangencial cna superficie. Portanto, uma fora normal agindo sobre uma superficie também provoca tensdo, mas nesse caso uma tensiio normal, denominada usualmente, em Mecanica dos Fluidos, de pressio ¢ indicada pela letra p. Uma forca genérica aplicada sobre uma superficie produz sobre ela ambas as componentes de tensio. Na Figura 1.3 ¢ apresentado um esquema para ilustrar essa afirmagao. Figura 1.3 Definigao de pressio ¢ tensdo tangencial. causadas por uma forea F. ae eT enero rear eee as eae Conceitos Bisicos 7 Para melhor compreender 0 conceito de presso em um fluido (e nio meramente uma forca genérica sobre uma superficie), pode-se considerar um eilindro no vacuo, cheio de fluido, fechado em uma extremidade e munido de um pistao na outra, que mantém o fluido confinado no cilindro. Sobre o pistéo age uma forga F, como apresentado na Figura 1.4, Figura 1.4. Pressdo em um fluido. Percebe-se que a componente perpendicular dessa forga age longitudinalmente ao deslocamento do pistao ¢, de acordo com a terocira lei de Newton, recebe uma reagdo, igual e contraria, do fluido agindo sobre a face interna do pistio. Como o fluido age sobre toda a face do pistao, a reagdo é distribuida ao longo da face, gerando uma tensao normal que € uma medida da pressiio do fluido sobre o pistio. Note que a componente tangencial da forga F & suportada pela reagdo da parede do cilindro ¢ no pelo fluido. A pressio é uma grandeza escalar, nao tendo, portanto, diregdo e sentido associados. A forca que a pressiio causa no pistdo é sempre de compressio ¢ perpendicular a area onde age. A forca de pressdo ¢ calculada por: F,=[ pa. (1.2) Nessa equagdo, @ € o versor associado A direcdo perpendicular a superficie considerada, A 6a drea da superficie e F, a forga de pressio. A unidade de pressio ¢ definida pela relagio entre as unidades de forga ¢ Arca c, no Sl, € representada por: p= [4] m A unidade definida na equacio 1.3 recebe o nome de Pascal, Pa, em homenagem a Blaise Pascal (1623-1662), pesquisador que estudou a relagdo entre os cfeitos barométricos ea altitude. (3) 1.8.2 DescarGa DE TMA GranpEzA N Qs processos de transferéncia tratados na disciplina Fendmenos de Transporte ocorrem principalmente em escoamentos de fluidos, tornando necessario conhecer a quantificago das grandezas enyolvidas em seu movimento. E muito importante a generalizagao do 8 FeNOmeNos pe Transports: raza ENGENHARIA conceito de descarga, por meio do estudo de uma grandeza N qualquer transportada em um escoamento. Para quantificar a descarga de uma grandeza N considera-se primeiramente a definigdo de uma grandeza extensiva N e sua correspondente grandeza intensiva n. Grandeza intensiva € qualquer grandeza associada a uma substincia que seja indepen- dente de sua massa. Pode-se citar como exemplos de grandezas intensivas a velocidade © a temperatura. Conseqtientemente, grandeza extensiva é aquela que depende da massa da substincia. Como exemplo citam-se a prdpria massa e o volume da substancia, Toda gtandeza extensiva tem uma grandeza intensiva a cla associada, denominada grandeza especifica, que pode ser obtida dividindo-se a grandeza pela massa da substancia, como exemplificado na equagio 1.4. (1.4) Para fixar o conceito de grandezas extensiva e correspondentes grandezas intensivas, apresentam-se na Tabela 1.2 algumas grandezas usuais em Fenémenos de Transporte. Tabela 1.2. Exemplos de grandezas exiensivas e correspondentes grandezas intensivas. DESCARGA DE UMA GRANDEZA EXTENSIVA N A descarga de NV é definida como a relagdo entre a quantidade da grandeza fisica N que atravessa uma superficie de referéncia e o tempo gasto para atravessé-la, Assim, pode- se escrever: (15) Seguindo a notagdo apresentada no esquema da Figura 1.5, que representa o transporte de uma grandeza V pelo escoamento de um fluido através de uma superficie denominada superficie de referéncia ou de controle, pode-se obter uma equagao para 0 cdlculo da descarga da grandeza N por meio da area 4 do escoamento e da velocidade V do fluido. Como a quantidade de N pode ser variavel em fungao do espaco, bem como velocidade, esse problema deve ser tratado de forma diferencial. Adota-se um elemento do fluido, um volume de drea d4 e comprimento dv, com massa especifica p, que no instante # est no limite da regidio a esquerda da superficie de referéncia. ‘Superficie de referéncia Figura 1.5. Fluido atravessando uma superficie com velocidade V. ‘A quantidade da grandeza dN contida no elemento de fluido, de massa dm, pode ser calculada por: dN = ndm = np dx dd (1.6) que substituida na equagio 1.5 fornece: np dx dA dDy ae ay © termo dx/dr representa a componente horizontal da velocidade, V,, calculada pelo produto do médulo do vetor velocidade e do co-seno do Angulo o entre a velocidade e a normal a superficie de controle: dx de e substituindo na equagao 1.7: ¥,=|P| . cos 0 (1.8) dDy = np V dd cos @ (1.9) Considerando um versor@ na diregdo da normal a superficie de referéncia, pode-se definir 0 vetor 4rea dd =d4 G, em que dd é 0 modulo do vetor area, Portanto, a equacdo 1.9 pode ser reescrita como: Dy = np |7) \dd cos 0. (1.10) ‘ou, em notagio vetorial; Dy = np¥- da (1) A descarga da grandeza N que atravessa a 4rea A pode ser obtida integrando-se a equago 1.11 sobre a area de escoamento 4: Dea Jf, npV- dd (1.12) 10 FENOMENos pe TRANsPORTE PARA ENGENHARIA 1.8.3 DESCARGA, VAZA0 E FLUXO A descarga de massa D,, ou simplesmente descarga M, é definida como a quantidade de massa que atravessa a superficie de controle na unidade de tempo, camo indicado na equagiio 1.13. A representacio matematica da descarga é obtida pela equagfio 1.12, substituindo a grandeza extensiva NV por m ¢ a grandeza intensiva n por 1, obtendo a relagdo que aparece na equagao 1.14. y= ot 1.13 @ (1.13) M = [pv 4A (1.14) As unidades de descarga de massa sio obtidas pela divisdo de unidade de massa por unidade de tempo. Assim, tem-se a unidade coerente no sistema internacional de unidades de medida (SI): No dia-a-dia da engenharia também sio muito utilizadas medidas nao coerentes com um sistema de unidades. Nesse caso, as corregdes correspondentes devem ser efetuadas em cleulos com essas grandezas. Alguns exemplos sao: ton A vazio Q ¢ definida como a relagao entre o volume de fluido que atravessa uma superficie e o tempo gasto nessa passagem, conforme a equagao 1.15. A representacao matemitica da vazio ¢ obtida substituindo, na equacio 1.12, a grandeza extensiva N por Vol (volume), a grandeza intensiva n por v (volume especifico), obtendo a relagio da equacdo 1.16: _ dvol Q (1.15) dr We (1.16) As unidades de vazao so obtidas pela divisio de unidade de volume por unida- de de tempo. Assim, tem-se a unidade coerente no sistema de unidade (SI): Também para a vazio sio muito utilizadas medidas nao coerentes com um sistema de medida, como exemplos tem-se: Conceitos Basicos 11 3 ris eee [CO] = eras Gitte h’ min h Fluxo é a quantidade de uma grandeza que atravessa uma superficie por unidade de tempo e Area, Matematicamente, 0 fluxo de uma grandeza fisica pode ser escrito como: n= (1.17) Usualmente, costuma-se representar o fluxo de uma grandeza pela mesma letra da grandeza, mas em letra miniscula, assim, por cxemplo, para o fluxo de massa utiliza- se o simbolo th, visto que a descarga é usualmente representada por M. 1.9 Fiumpos Compressivets § INCoMPRESSiVEIS FLuios INCOMPRESSiVEIS O conceito de fluido incompressivel ¢ uma idealizacdo para uso nos problemas com fluidos estaticos, pois a compressibilidade de um fluido depende do médulo de com- pressibilidade voluméttica ¢,,, portanto, um fluido é mais ou menos compressivel dependo do valor de ¢,,, nunca incompressivel. E também muito usual 0 conceito de escoamento incompressivel, isto ¢, um escoamento de fluido no qual a massa especifica tem variagdo desprezivel devido as pequenas variagdes na pressao cnvolvida. Assim, um escoamento de ar (que é um fluido nitidamente compressivel) pode ser considerado incompressivel se as variagdes de pressio so baixas; isto geralmente ocorre nos escoamentos com velocidades inferiores a 1/3 da velocidade do som. Sempre que se tratar de um escoamento incompressivel, ou, idealmente, de um sistema com fluido incompressivel, a massa especifiea sera considerada constante. Nos problemas de engenharia, todos os liquidos so considerados incompressiveis, exceto quando envolvidos em sistemas com grande variagao da pressao. A condi¢do de incompressibilidade pode ser verificada pelo edlculo da varia¢do volumétrica do liquido e de sua influéncia nas demais variaveis. A compressibilidade volumétrica de um fluido é definida pela relagao entre o acréscimo de pressio dp e 0 decréscimo do volume —d/’. Como a variag4o dV depende do volume V, o médulo de compressibilidade volumétrica €,,, € definido por: ye dv Para ilustrar a baixa compressibilidade da Agua, que tem o valor de €,, = 2,05 x 10? Nim?, considere a aplicago de 700 kPa, a um volume de 1 m' de agua, que resulta na variagiio dV dada por: €, (1.18) vol 700000 1 Se 2,05. 10° 3000 12 FENOmeNos pe TRANSPORTE PARA ENGENTARIA Verifica-se que a aplicagao de um aumento de pressiio da ordem de 700 kPa provoca, aproximadamente, redugiio no volume de uma parte em 3.000, isto é, 0 volume de 1 m* sofreria uma redugao de 0,00033 m*, pouco mais que o volume de 1 copo. Esse célculo aproximado porque, quando um liquido ¢ comprimido, sua resisténcia 4 compressio aumenta, portanto o médulo de compressibilidade volumétrica depende da pressio. Calculos envolvendo grandes alteragdes da pressfio nio podem utilizar um valor constante para 9 médulo de compressibilidade volumétrica. Fi.umpos comrressfvets De forma geral, nos problemas de engenharia, os gases e os vapores so considerados fluidos compressiveis, isto ¢, sua massa especifica sofre grande influéncia da pressio envolvida no ambiente de trabalho. O comportamento dos gases vem sendo estudado hé longo tempo, remontando ao século XVII, com os trabalhos experimentais de Boyle (1627-1691), Dalton (1766-1844) ¢ Guy- Lussae (1778-1850). Com o desenvolvimento da teoria cinética dos gases, os resultados anteriores foram teoricamente confirmados ¢ criou-se a hipstese de gas perfeito, que leva a uma simplificagéo muito conveniente na formulagdo das equagdes para o tratamento matematico dos problemas de compressibilidade dos gases. EQUACAO DOS GASES PERFEITOS A equagao dos gases perfeitos ¢ uma forma bastante simples de relacionar o volume de um gas a variéveis como temperatura e pressao. No entanto, também permite cdlculos muito precisos quando se utilizam gases reais em condigdes afastadas dos pontos de evaporagdo/condensagao, isto é, gases superaquecidos. Por meio da hipétese de gas perfeito, a teoria cinética dos gases permite estabelecer uma constante universal dos gases R, que, no SI, apresenta o seguinte valor: N.m R = 8314510 mol. K A equacao dos gases perfeitos é uma relacdo entre a pressdo absoluta, o volume especifico molar e a temperatura absoluta do gas, considerando, ainda, como constante de proporcionalidade a constante universal dos gases. A equagao é usualmente apresentada como: p.Van.R.T (1.19) em que n é uma forma de quantificagiio da matéria em niimero de moles. O numero de moles 1 pode ser obtido de: aae (1.20) em que m é a massa total e M é a massa molecular do gas [kg/mol]; a equaciio 1.19 pode ser reescrita: p.Vem.Ry.T (121) Conceitos Bisicos 13 em que: R =— 1.22 Saaz (1.22) Nem z een particular do gés, nas unidades ke K ak _ Aconstante particular de cada gis pode ser obtida diretamente da equagiio 1.22. Alguns emplos sao apresentados na Tabela 1.3. ‘Tabela 1.3 Constantes particulares de alguns gases. \-PADRAO. b atmosfera terrestre ¢ constituida de uma mistura de gases com alta predomindncia i e oxigénio, que formam aquilo que denominamos correntemente de ar. desprezivel a porcentagem dos demais gases, 0 ar, nas condigdes proximas do mar, pode ser considerado constituido por 79% de nitrogénio e por 21% de . A pressio e a temperatura, por exemplo, dependem da altura em relagdo ao , além de apresentarem forte caracterfstica sazonal. ‘uniformizar estudos que dependem das condigdes atmosféricas, adota-se um valor- as condi¢des normais de pressdo e temperatura, que se aproximam dos valores na atmosfera real e constituem a atmosfera-padrao. Os valores da atmosfera- nivel do mar (NM), sio: 0 mmHg = 101,325 kPa = 15,0°C = 288 K = 1,2232 kg/m? = 11,99 Nim? = 1,777 . 10° N.sim? 1S 4 14 FenOmenos pe TRANSPORTE PARA ENGENHARIA A temperatura do ar, na atmosfera, decresce com a altura, variando linearmente na faixa denominada Troposfera, que se estende de 0 a 11.000 m de altura. Na Troposfera, a relagdo entre a temperatura (7), em graus K, e a altura (z), em m, é dada por: T = 288 — 0,006507 .z : (1.23) Acima de 11.000 me até 20.000 m ha uma regiao de temperatura constante chamada Estratosfera. A temperatura nessa regiao vale -56,5°C. Acima da Estratosfera, a temperatura comega novamente a aumentar de valor. 1.10 PRessio DE VAPOR Evaporagao é a passagem de uma substancia de seu estado liquido para o estado vapor. A evaporagdo ocorre porque moléculas da substancia escapam através da superficie liquida, em razao da atividade molecular. As moléculas que escapam exercem pressio parcial sobre a superficie liquida que mantém o estado de equilibrio do liquido naquela pressio. A evaporacao é um fenémeno que depende da temperatura e, portanto, a pressio de vapor de um fluido depende da temperatura ¢ cresce com seu aumento. Uma conseqiiéncia desse fendmeno é que, quando a press&o sobre 0 liquido se iguala 4 pressdo de vapor, o liquido evapora, mudando de estado. E bem conhecido que no nivel do mar a 4gua ferve, isto , evapora, 4 temperatura de 100°C, Em outras palavras, 0 mesmo fenémeno pode ser descrito dizendo que a pressio de vapor da Agua a temperatura de 100°C € 101,325 kPa. Como a pressao de vapor diminui quando a temperatura diminui, a press%o de vapor da 4gua é bem menor 4 temperatura ambiente. Por exemplo, a temperatura de 20°C a pressfo de vapor da Agua é de 2,34 kPa, significando que 4 temperatura ambiente de 20°C a Agua ferve se a pressio ambiente for de 2,34 kPa. A Tabela A3, no Anexo A, inclui a pressao de vapor da 4gua em fungdo da temperatura. Em certas situagdes de escoamento de dgua é possivel que a pressdo atinja o valor da pressiio de vapor, originando a evaporagao, que cria bolhas de vapor no seio do fluido, um fenémeno denominado cavitagdo. Como durante a evaporacdo a pressdio se mantém constante, a cavitacdo interfere no escoamento, impedindo a variagdo da pressdo naquele ponto. Esse fenémeno afeta o desempenho de bombas e turbinas, além de ocasionar 0 desgaste acelerado da maquina em razdo do aumento da erosio e da corrostio quimica. 1.11 TENsAo SUPERFICIAL E CAPILARIDADE Na interface entre um liquido e um gs forma-se uma superficie liquida que aparenta ser um filme mantido pela atracao das moléculas do liquido. Essa atragiio entre moléculas & suficiente para manter pequenos objetos flutuando na superficie liquida. Essa propriedade é responsavel pela facilidade com que alguns insetos mantém-se sobre a superficie da agua. A propriedade de a camada superficial exercer tensdo é denominada tensdo superficial ¢ 6a forca necessiria para manter o comprimento unit4rio do filme em equilibrio. Portanto, sua unidade é formada pela relagdo entre forca e comprimento. A tensao superficial da Conceitos Basicos 15 _ Agua varia de 0,0725 Nim, a 20°C, até 0,0589 N/m, a 100°C. Na Tabela 1.4 so apresentados valores da tensfo superficial a 20°C de outros liquidos. Tabela 1.4 Tensiio superficial de liquidos 4 temperatura ambiente de 20°C. A tensio superficial também ¢ responsavel por uma gota, caindo no ar, adquirir a forma sférica. A pressio interna na gota é a pressio necessaria para contrabalancear a forga de tensio na superficie e pode ser calculada pelo equilibrio de forgas em um hemisfério, conforme Figura 1.6. A expressio resultante € mostrada na equagao 1.25. Verifica-se que, nto menor o raio da gota, maior a presséo em seu interior, o que explica por que gotas enores sao incorporadas em gotas maiores quando entram em contato. c (Tensio superficial) F (Forga de pressio) Figura 1.6 Forgas em um hemisfério de uma gota de agua. p.m.R=6.2.0.R (1.24) 2.0 7 (1.25) p= 4 tenso superficial também é importante no fendmeno da capilaridade, no qual

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