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“Teal original: natuction de phere rice |G Prev Univertate de Pre, 2 ISBN 278 2130336603 ‘Tako Bum Crmoting Dini ee Reva Teenicrclentfcs: Care Crm Directo eto Cesoe Actin ds Senor Assent eftona jaye Mies Foes Diagram: des Le Pode Rew Pande zea apes Thge Aug Dns de eins cape Mees Compo Tinpessiaeaeabameno: ALLUS dos aera de Cea ae 1) {GhoweBradetn doe tea APRESENTAGAO DA COLECAO.... luaaue APRESENTACAO, Inumndugio "Blo prt-ocrtes/ André Lal rade Minam Camplin Diniz sot Sie Peo, Puls, 213, ~(Colepo cede /cooedennda pr Gaiele Corse Pré.Socraticos: os antecedentes antigos ... bog ISBN975 5 3035807 Slowks Miri FgenSn eign 4. et enessice, Coons Cbs HTM Si. Prb-Socraticos: a constelaggo modern. Filosofia ama cope Racionalidade, indies pre catlogs demic ; presen Moai mg 12 Origens... Quest ES an {Coed cor apoio: ‘ REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS........ i arcHalt na INDICE DAS PASSAGENS ANTIGAS. UMJIN: ALCHATI america erate hance bees = RES, ESCOLAS ‘Spagetti an E PERSONAGENS ANTIGOS ue vsti | INDICE DOS AUTORES MODERNOS.... Pepin icin ico 1 ego 2012 ‘opauLus—2012 us Franco Cows 229+ 0411791» So Pau ri) Fax) 95783627 THC 047 3700 worupeuluscombe dcralapaulscombe Iwenoress@ase07 APRESENTACAO DA COLECAO Coleco Cétedra deriva seu nome da Cétedra UNESCO chai: as onigens do pensamento ocidental, que quis em- prestar a esta colecio sua filosofia de trabalho e sua sensibilidade para os estudos das origens do pensamento ocidental. |A UNESCO, patrocinando 0 Grupo Archai como sua Ci- tedra. € tornando-a membro da rede UNITWIN da UNESCO Chairs, reconhecen o impacto cientifico de suas diversas ativida- des. De fato, Archai arua hé mais de uma década como centro de consolidacio de pesquisas, organizacio de cursos e semini- tios, ¢ publicagio de livros e revistas, com forte atuacao em nivel nacional ¢ internacional, procurando construir uma abordagem interdisciplinar que permita fazer compreender a filosofia antiga em seu contexto politico, econdmico, religioso, literério. Em parceria com a Paulus, editora renomada e de grande alcance no mercado editorial brasileiro, a colegio visa disponi- bilizar, para um piiblico brasileiro de especialistas e interessa- dos, cada dia mais amplo e exigente, monografias, comentitios, tradugdes, compéndios ¢ obras teméticas que explorem o vasto. campo do pensamento ocidental em suas origens greco-romanas. Gabriele Cornetti Diretor da Colegio Citedra Coordenador-da Citedra UNESCO Archat ‘wwwarchaiunbbr Nuria que ndo 0 fez menos nascer APRESENTAGAO staintrodugio “filosofia pré-socratica” no tem porob- jjetivo apresentar os diferentes pensadores que nos acos- tumamos a reunic sob a denominagao de filésofos pré-socraticos ~ para ndo citar sendo os mais conhecidos, Anaximandro, Parmé- nides, Hericlito, Anaxagoras, Empédocles, Demdcrito ou Proté- goras. Nao que eles no venham a ser mencionados. Como falar dos Pré-Socraticas, ou mesmo dos “Pré-Socraticos”, sem falar de Pré-Socriticos? Mas eles sio aqui considerados coletivamente, Esta abordagem me parécea como uma prévia da interpretacéo. ‘Ao longo de minhas pesquisas exegéticas concernentes aos auto- res particulares, eu, com efeito, fui constantemente reconduzido a0 problema da unidade do pensamento pré-soctdtico € da clas- sificac3o dos pensadores a esse relacionados. Aqueles que nés nomeamas Pré-Socréticos nio se concebiam como tais, por uma razo ainda mais radical segundo a qual os neoplaténicos no se considcravam tampouco como neoplaténicos: Sécrates nio era para eles uma referéncia, no maximo um irméo cacula, ou mes- ‘mo um contemporaneo. E nio foi, além disso, sendo mais tarde, a0 final do periodo que abarcamos sob a denominagio de “filo- sofia pré-socratica”, que eles comecaram a ser designados como “filésofos”. Mas se os filésofos pré-socraticos nao sio filésofos € pré-socréticos sendo retroativamente, convém que nos inter- roguemos sobre a maneira pela qual eles se tornaram tais, Para por em evidéncia a construgdo, certamente, mas também para se interrogar sobre sua possivel legitimidade (razdo pela qual eu u + Apresennagho Fecuso 0 termo “inveng3o", além do mais hoje em dia galvaniza- do). A importancia da questio se deve evidentemente ao fato de que, quando nés falamos dos filésofos pré-socraticos, € sobre as origens da filosofia grega, e por conseguinte ocidental, que nés falamos. Q livro parte, pois, das questies tipologicas ligadas a0 ‘emprego do sintagma “filosofia pré-socritica”, e do que se en- contra em jogo sob essa denominagao, para problematizar, em seguida, a questio mesma das “origens” ¢ da “racionalidade”. Ele se conclui com a confrontagio de dois modelos de historio- grafia filos6fica, provenientes, um deles, da tradicio fenomeno- logica (Gadamer), e 0 outro, da tradi¢go racionalista (Cassirer). Se minha preferéncia se volta claramente para esse ultimo, ndo sugiro aqui nenhuma abordagem que seja inrune as criticas que se podem dirigir a cada um deles. Esta breve introducio, que tem em vista preparar o terreno, € que permanece programati- a, antecede uma outra, que trataria dos recursos e dos limites da filologia nesta matéria, e desembocaria na anilise de posicdes individualizadas.' As remiss6es aos fragmentos dos autores pré-socraticos sio aquelas da edicio de referénela (H, Diels e W. Kranz, Die Frag mente der Vorsokratiker, 6 ed., Berlim, 1951), cuja numeracao & reptoduzida em todas as tradugdes disponiveis, Para suavizar a Brafia, eu no indiquei o miimero que 0 autor recebe em Diels, "Os diferentes capiculos deste enssio se apoiam em grande parce em textar anteriormente publicados, que forem todos tefmnddes em medias vanes. Trartse de: “Les onigines de Jean-Pierre Veroant.A propas des Orgies dela ponte grecque Critique, 612, mato de 1998, p. 266282; “Comment xeric Thisoire des debuts? A [Propos des Présocrasiques",Inernsionle Zetschrffir Philosophie, 2001, p. 233-172, * “Philasophes présocraiques’. Remargues sur Ia construction d'une catégorie de "hastonographie phlosophique", em G, W. Most org), Histriieran /Hitonczaton (CAperemata 5), Goningen, Van der Hoeck und Ruprecht, 200), p. 294313, asim ‘como em A. Laks ¢ C, Louguet (orp), Qu este quel phisophie présaeratgue, Lille, Presses Universitaires du Septentzion, 2002; “Gadamer et les Prévoratiques" em J-C. Gens, 9 Konto © B Rodsigo (orgs), Gadamer eles Gres, Peis, Vin, 204, p. 13-28; "Remarks on the diferencaton of sary Greek philosophy”. em R. Sharpes (org), Phulasopy ad the Scenes im Antiquity, Aldershox, hat, 2008, p. 822 2 Inropucio A “rosona peé-socnémicn” nem acrescentei a abreviacio usual DK quando isso nfo se mos- tow necessirio. Assim, quando ¢u indico, em um contexto em que sc encontra em questo Demécrito, o testemunho A 25 01 0 fragmento B 11, as indicacées extensas seriam 68 A 25 DK ou 68 B11 DK. Asreferéncias completas das obras e estudos citadas em. nota pelo simples nome do autor seguido da data da publicagio utilizada slo apresentadas de modo completo na bibliografia. A segunda data que figura por vezes entre parénteses remete 3 data de publicagio original. A tradugao dos textos gregos citados & ‘minha, salvo indicacSo contraria. Gérard Journée me ajudou a tornar mais preciso o manus- crito. Ainda uma vez, este ndo ceria tomado forma sem os en- corajamentos de Thierry Marchaisse e sem sua leitura, aberta € cexigente, das primeiras versdes. Que ele receba aqui a expressio de minha profunda gratidao. 3 PRE-SOCRATICOS: OS ANTECEDENTES ANTIGOS termo “pré-socratico” ¢ uma criagio moderna. A pri- ‘meira ocorréncia identificada até entéo figura em um manual de histéria universal da filosofia publicado em 1788 por J-A. Eberhard (0 destinatirio de uma famosa carta de Kant), do ‘qual uma seco se intitula “Filosofia pré-socritica” ("Vorsokratis: che Philosophie").’ Mas a ideia de que exista uma ruptura maior entre Sécrates ¢ 0 que Ihe precedeu remonta 4 Antiguidade. & indispensvel, para compreender os debates modernds que se desenrolaram em tomo dos Pré-Socraticos, de remontar aos an- tigos présocréticos, que eu proponho chamar, por convencio, “pré-socriticos” (sem maiiscula e com um hffen), para distingui- -los da categoria historiografica que eles coneribuiram a forjar, mas na qual eles no se deixam inteiramente subsumir. $e incon- testiveis similinudes fazem dos antigos “pré-socréticos” os ances- trais naturais dos nossos modernos Pré-Socraticos, as diferencas entre uns ¢ outros ndo so, com efeito, menos importantes, em. particular pela natureza das questdes das quais eles foram res- pectivamente objeto. A Antiguidade conheceu duas maneiras de conceber a linha divisoria entre o antes e 0 depois de Sécrates: ou Sécrates aban- donou uma filosofia da natureza em proveito de uma filosofia do homem (6 a perspectiva que eu charnarei socratico-cicetoniana, " ebethard, 1796 (1788) 47. A referéncia & asinalada por Paquet, em Paquet/La- france, 1995.26, 1s —— Pri Socninicos: 06 anmecepentes ANTICOS ‘que inclui igualmente Xenofonte), ou bem ele passou de uma filosofia das coisas a uma filosofia do conceito (é a tradicio plat6- nnico-aristotélica). Embora uma ponte tenha sido providenciada ‘entra essas duas tradigdes, principalmente por Plato no Fédon (um texto tio complexo quanto decisive para a posteridade dos Pré-Socraticos), elas divergem nfo somente no seu teor, mas ‘também, e mais ainda, nos seus efeitos: enquanto a primeira nao ‘enfoca senio certa ruptura, da segunda, ao invés, deriva, para além dela, 0 fio de uma continuidade mais profunda. Essa dissi- metria, que pode ser objeto de diversas especificagées, & essen. cial para compreender 0 destino moderno dos Pré-Socriticos. Convém que lhe explicitemos os termos. A tradicao socrético-ciceroniana est fortemente ligada, em sua origem, 20 processo de Socrates (399), € a necessidade em que esta se encontrou, para responder 4 acusagio de impieda- de da qual ele era, entre outras, objeto, de marcar sua diferenca com relagio a um empreendimento conhecido, desde os anos 430 pelo menos, sob o nome de “investigacio sobre a narureza” (peri phuseés histéria). O Fédon implica, sem diivida, o fato de que, na data dramé- tica em que se desenrola o dislogo (que se pretende que tenha se desenrolado no proprio dia da morte de Socrates), a formula “investigagio sobre a natureza” era ainda percebida como uma expressio técnica, ¢ ndo se exclui que tal fosse ainda 0 caso na data da redacao do dislogo, uma quinzena de anos mais tarde, aprosimadamente. O Socrates do Fédon fala, com efeito, do “de sejo de todo extraordinério” que ele tinh experimentado em sua juventude, “do saber que era chamado investigagao sobre a natu- rez" (grifo nosso), do qual cle esperava que lhe viesse 0 conhe- cimento “das causas de cada coisa, do porqué cada uma nasce, do porqué ela perece, e do porqué ela..." A precisio “que era ‘evocada” implica, talvez, algo mesmo como uma novidade. Wernopugio A “FiLasosIA pRfssocRiricA” De fato, nenhum dos textos que fazem referencia a tal “in- vestigagio sobre a natureza” se refere a um periodo anterior a0 liltimo tergo do sfculo V. E também por volta dessa época, € isso fio se di evidentenente por acaso, que o titulo “Sobre a nature- za” se difande e vem a ser aplicado, em alguns casos de maneira anacrénica, a antigas obras que se enquadram (ou que tendem a se enguadrar) nesse género? No capitulo XX do tratado hipocratico Antiga Medicina (no qual se encontra a primeira ocorréncia conhecida do termo abs- ‘rato philosophia; retornaremos a este ponto), um médico parti- dio dos métodos tradicionais toma suas distancias com relagio 08 escritos “sobre a narureza”, considerados demasiado espe- culativos, em razio das pressuposicdes (ou "hipdteses”) que eles sfolevados a adotar, e lhes op6e a investigacio médica como éni- ca fonte legitima para o conhecimento da natureza do homem:* Odiscursu dessa gente vais diteyau da flusufia, oune Epes les ou outros autores sobre a natureza escreveramn, remontando 4 origem, sobre o que & 0 homem, como ele primeiramente nas- ‘cee a parti do que ele adquiriu consisténcia. Mas eu estimo que tudo o que foi escrito sobre a natureza por certo estudioso ou certo médico se encontra menos em relagio com a arte médica ‘que com a pintura,’e eu estimo que para ter algum conhecimen- {o preciso sobre a navureza, nZo existe nenhuma outra fonte que rio seja a meaiicina.. Eu digo que este estudo (tautén ten histo rin) conhece com exatidée 0 que é o homem, as causas de sua formacao e todo o resto. “Todos os escrtos dos autigns se instulam “Sebre a natuceza,aqueles ce Melis, de Parmdnidet, de Envpedecle, de Aleméon e de Gorgias, de Prodico de todos 0s ‘outros, Galen, Sabre a lementes queda Hipdraes, 19 (, 487, Kuhn). Sobre a hisé ria do ttlo, ver Schmalared, 1970, *Para.adatacio do tratado, que fo objew de dscusio, ver as conclusses de Jo anma, 1990, 85. A referencia a Empédoces no apenas foxmece um terminus post gets, rms cls suger urns aqulidade eecents * Sobre o senso da estan comparagio entre flosofse actepictérica, ver cap. spr, v Prt Socndmtons: os aNTuCBORNTES ANeTIGOS A segunda passagem é um fragmento de Euripedes que se atribui de bom grado a uma tragédia perdida, Antiope, da qual se sabe que continha um debate entre dois irmfos, Amphion e Zethos, célebre na Antiguidade, sobre a utilidade e o valor da rmisica, e, por extenséo, do estudo: (© coro fala) Bem-aventurado aquele que, tendo adquirido 0 co- ahecimento que proporciona o estudo (2s historias .. mathési), rndo aspira nem & infelicidade dos cidadios nem as acbes injustas, ‘mas observa o ordenamento sem envelhecimento da natureza imortal, como ela se formou, a partir de onde e como. De tais pessoas, nunca se aproxima pensamento de ages vis" A terceira passagem é tirada de uma argumentagao dialética anénima conbecida sob o titulo de Argumentos duplos:? Bu penso que cabe ao mesmo individuo e as mesmas artes 0 po- ee diseurirem poneas palaveas # aconherrra verdade dascaisas ‘saber julgor corretamente e o ser capaz de falar em pablico, 0 conhecer as artes do diseurso ¢ 0 ensinar a respeito da natuteza de tovas as coisas, como elas acontecem coma nasceram. Seguindo esses trés textos, que remeter & passagem do Fé- don ¢ se remetem uns aos outros, o “estudo sobre a natureza” comporta duas caracteristicas principais. De uma parte, ele visa ‘uma totalidade (ele se reporta a “toclas as coisas” ou a0 todo”). De outra parte, ele adota uma perspectiva claramente genética (ele explica o estado de coisas existentes retragando a historia de seu devir desde as origens). Tr 910, Snell Plato fa susto a ese debe no Geis, por casita do confronto entre Socrates € Cices (484 c 45 €, 489). Sobre a proveniéncis do fragmento, er Kambinds, 1972, p. 130. A pega € geralmente datada dos anos 410 (Karmbisi, 1972, XEXKT es). Jouan e Van Looy, 2002. p. 220s, Defendem, com base em consideragdes _ndtrica, uma data um pouce mais alts entre 437 4.2 "Dus Log, § 8 1. Bu meatsahoa datacio tradicional desse texto, Burnyeat, 1998, ssngere que se trata de um exercicio preénicn, loge da segunda metade do século V. 18 Irronugho A “mosona PRE-SOCRAMICA” Distingue-se muito bem as etapas que, ao termo de um pro- ccesso de cristalizagio rpida, viriam a transformar os autores de tratados sobre “a natureza de todas as coisas” em “naturalistas” ou “fisicos” (pkysiko’).* Xenofonte, em uma passagem dos Memo- rdveis que faz eco Aquela do Fédon, recorre ainda a uma formula circunstanciada quando, no contexto de uma defesa de Sécrates, 4 qual voltaremos logo mais, sustenta que “Sécrates nunca se ‘ocupava, como a maior parte dos homens, da natureza da totali- dade das coisas (peri tés t6n pantéin phuseés), examinando o que & 0 que os estudiosos denominavam ‘mundo’ (hopas he kaloumenos hhupo tin sophistin Rosmos ekhei), e por quais necessidades cada ‘um dos fendmenos celestes vem a ser”? No Lisias de Plato, a mengio da “totalidade” figura (nomeada por outro termo, ho- ton, do qual o grego disp6e para designar o conjunto das coisas), mas dissociada da “natureza’: 08 “sdbios”, que sustentam, com Homero, “que € necessirio que 0 semelhante seja 0 amigo do semelhante", sao apresentados como “falando e escrevendo so- bbre a natureza e sobre o tudo” (hot peri phuseés te kai tou holow ialegomenoi kai graphontes). Mas depois do Fédon, a referéncia A natureza tende a se tornar ausGnoma, Assim, Sécrates se inter- roga no Filebo: E se alguém cogita em conduzir investigagées sobre a nacure- za (peri phuseds... 2tein), voce sabe que ele investiga por toda a suia vida o que se reporta a este nosso mundo, como ele nasceu, como ele é afetado e como ele age? (ta peri ton kosmon tonde, hopéi te gegonen kai hopei paskhei kai hope poiei).* Eu prefro“naterabsta” a “Fisico™ que decalea@ grege. Mat no & potsvel eer “fico”, er rata do dominio caberia. * Menonées. 1.1.11. 0 "mado" fhamasb aparece também come wma expressio técnica, como 0 indica a expresso ko haloumcnaskosms, como 9 tipo de estado que " Bebe, 59 a. A expressio orginal se 2, entretanto, no Tine, 47 a (ht pr és tow ants phases ett w -— Pal-Soeniticos: 08 ANTECRDRNTES ANTIGOS Esse tornarse autOnomo conduz a soleira das substanti- vvagBes de Aristoteles, que emprega com muita frequéncia, e de maneira sindnima, “os autores (de tratados) sobre a naturcza” (hot peri phusees), “os navuralistas” (hoi phusikoi), ou ainda “os fi- siblogos” (hot phusiologoi).”” De fato, existe, entre os pensadores pré-socriticos, uma linhagem de obras que correspondem a essa descricéo, cujo esquema fundamental remonta muito provavelmente a Anaxi- mandro.” Trata-se de uma historia geral do universo e de suas partes constitutivas, desde seus inicios até um termo que parece ter sido, no mais das vezes, para além do estado atual do mundo, ‘© momento de sua destruicio (seria, pois, mais exato falar de “cosmo-gono-phthories”, que de simples cosmogonias). A nat- sativa comportava certo mimero de elementos mais ou menos “obrigatérios, De Anaximandro a Filolau e Demécrito, pasando por Anaximenes, Parménides (na segunda parte de sew poema}, Empédocles, Anaxdgoras, Didgenes de Apolénia, ¢ de outros de ainda menor importincia, as grandes narrativas “sobre a nature- za” compreendem uma explicacio da mancira como o universo, (8 astros ¢ a terra se formaram, e, logo depois, o tratamento de problemas mais técnicos ou especializados como a delimitagdo, das zonas celestes e terrestres, a inclinacio dos polos, a distancia a grandeza dos astros, a luminasidade da lua, os fendmenos -meteorologicos ¢ terrestres, como chuvas e granizos, sismos ¢ marés, a apariglo dos seres vivos e sua reproducdo, a diferencia. cio sexual dos embriées, © mecanismo da vida fisiolégica, sono e morte, sensacio € pensamento, e, eventualmente, o desenvol- vimento da vida em sociedade. Em resumo, uma cosmogonia e uma cosmologia, uma zoogonia e uma zoologia, uma antropo- " Aseferéncias podem ser encontradas no index da eicho Bonk ha pen pscos, 8b 2s e5 phusiolgy, 835» 40 es; ho pas, 835 9 € 8). "Bo sentido do titulo de Kaha, 1994 (1960: Anaad andthe Origins of Gece Conmolegy, Temes todas 28 razBes para pensar que o erapreendimento de Tales nio aptesentava esse caritorsstmitico a Inropucio A "rucsona pré-socednica” logia ¢ uma fisiologia (na acepcfo moderna do termo), poden- do eventualmente se prolongar em uma historia da civilizacio humana." Desse conjuinto, certos textos antigos retém essencialmente o-aspecto cosmolégico, e falam de “meteorologia” ¢ de “meteo- rélogos”: os meteora, que antes que a distingSo aristotélica entre uma regido supralunar ¢ uma regio infralunar nao tendesse a hes confinar ao dominio tinico dos fendmenos “meteorolégicos” (© geolégicos), designavam todo fendmeno que se produzia “nas alturas", representando por sinédoque o todo da enquete sobre a matureza. Na cena inicial do Protdgoras de Platio, o auditério di- rige ao sofista Hipias “certas questies astronémicas a respeito da natureza ¢ das alturas”.'* B é unicamente em relagao as “alturas” que o.autor do tratado hipocratico Das carnes (que sobre esse pon- to se opée ao autor da Antiga medicina) tinha demarcado 0 campo da medicina com relacio aquele da investiga¢io dos naturalistas: Eu ndo preciso falar das alturas (peri ton meteoron) sertéo 0 sufi ciente para mostrar, a propésito do homem ¢ dos outros viven- tes, como eles nasceram e se formaram, o que &a alma, o que é sade © a doenca, 0 que é 0 mal e o bem no homem, e por quais razbes ele morre, Mas é claro que a série de questdes que Sécrates enumera no Fédon, que teriam suscitado a paixdo de sens anos de juventu- de, provém também das matérias abordadas pelos nacuralistas, no quadro de um programa totalizante: 0 caso de que os animais se formem quando o quente ¢ o fio softem uma forma de apodrecimento, como alguns o dizer? E "" Nadaf, 1992, sustenta quea narvativa da desenvelvimento da cliizagao hur: ‘aa € ura momento cbuigatrio do género (p. 4, cf. 64, a propésito de Anaximanto}, ‘O tera parece antes ter fico parte, e mais tardizmence, de Gesenvelvimentos facut sivas, que autorizavam nacuralenteo paradigma. " Frenigyas, 315 65 € 3 "Das earns, 1.2 (cad. Joly). ~— Pré-Soendntcos: os anrecepmiras amigos é pelo sangue que nés pensamos ou pelo ar ¢ pelo fogo? Ou por nenhuma dessis coisas, mas é o cérebro que proporciona as sen- sagdes da audigio, da visio, do olfato, enquanto cesses ultimos nascem a meméria © a opiniio, e da meméria ¢ da opinido, quan- do elas se estabelecem, o saber? Eu examinava, também, inversa- mente, as destruigbes desses processos € 0 que acontece no céu ena terra...” De maneira significativa, as matérias conservadas por S6- crates concernem & fisiologia do conhecimento, como se Sécta- tes tivesse arntes mais se interessado por questées que possuiam, pelo menos virtualmente, um alcance epistemolégico, que por aquelas referentes & estrutura do universo. O naturalismo, nascido na Jénia, e principalmente em Mi- leto, no século VI, foi introduzido em Atenas por Anaxégoras, chamado por Péricles em 456-455 para fazer parte do seu circulo mais proximo." Ele ze tornou logo objeto de cuspeita. Umi ou tro fragmento de Euripedes, de procedéncia incerta, mas que se apresenta como o contraponto do elogio da vida de estudo pro- nunciado por Anfionte na Antiope, d4 0 tom: ‘Quem é a tal ponto desdenhoso a respeito dos deuses e atingido pelo destino para, diante desse espeticulo [aquele do céu}, no instruit sua alma na crenga no deus, nem afaster pare longe de sias tortuosasilusdes dos que falama das altwras, aqueles cuja lingua teme- ria nfo faz senio lancar conjecturas sobre as coisas escondidas, sem compreensio alguma?"* O debate acerca do caréterindcuo ou das desfeitas da meteo- rologia ndo tinha nada de tedrico. O decreto de Diopeites, que permitia perseguir aqueles que se ocupavam das alturas sob a acusaclo de impiedade, data de 438-437. Anaxagoras, através de 9b 1-e1 "Bu adoxo aqul a cronologla defendida por Mansfeld, 1979 e 1980 (cf respectivar rent, 555.6 873). F913, Snell inernopugio A “Piosoria pR-socnAica”™ ‘quem se visava Péricles, foi sua primeira vitima no ano seguinte, por ter sustentado que os astros nao passavam de pedras igne- as, Dibgenes de Apoldnia parece ter sido, também, indesejvel em Atenas, onde sua doutrina parece ter gozado de um grande sucesso, ¢ no é impossivel que ele tenha sido objeto de acusa- io, alguns anos depois de Anaxagoras.” Ora, por mais curio- 0 que isso posse parecer, pelo tanto que isso nao se enquadra na imagem que nés fazemos de Sécrates com base na Apologia de Sécrates de Platao e nos memordveis de Xenofonte, Sécrates era suspeito de compartilhar a curiosidade dos naturalistas s0- bre os mecanismos do universo c, portanto, sua impiedade. O documento-chave a esse respeito é constituido pelas Nuvens de Aristofanes, representadas em 423 a.C., que a Apologia de Sécra tes denuncia explicitamente como o primeiro ataque via de re- gta contra Sécrates, aproximadamente 25 anos antes do proces- so de 399." De fato, as Nuvens, antecipando os dois termos da acusagao ‘a que Sécrates tinha que responder — a corrupgio da juventude © introducio de deuses desconhecidos da cidade -, apresen- tavam um Sécrates indissociavelmente “sofista”, mostrando-se capaz de fazer do argumento “mais fraco” 0 argumento “mais forte”, e “naturalista”, portando através de um cesto suspenso fragmentos parodicamente arrancados doutrina de Didgenes de Apolénia, que afirmava que o ar das alnuras era dotado de uma inteligéncia tanto maior quanto mais seco ele era. A Apologia denuncia 0 amalgama como o fruto de uma pura ccaldnia: ninguém viu Sdcrates se ocupar “do que estd sob a terra eno céu”.” Os Memoriveis de Xenofonte o repetem: * Nossa tncafonte de informacao€ Didgenes Laéroio. 1X, 57. Os fats so diet ‘frei (ver Laks, 1989, p. 768). Patio, Apoegicde Sérates, 8 ab, 19a. * Nuvens 225-236, Remonta a Del, 869 (1881), « ieatifiencto da linguagem do ‘Socrates as Bievns com aquela de Dibgenes. Ver, canbére, Vander Waerdt, 1984, 613 196. CE Havens, 180-195 2 2

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