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a LeAge dor de Georges Minois ‘Work copyright © Librairie Arthéme Fayard 2009 © 2010 da traducao brasileira Direitos de publicacio reservados & Fundagao Editora da UNESP (FEU) Praga da Sé, 108 (01001-200 - Sao Paulo SP ‘el (Oxxl1) 3242-7171 Fax: (Oxx11) 3242-7172 \wwweditoraunesp.com.br \wwuslivariaunesp.com.be feu@editora.unesp.br CIP ~ Brasil. Catalogagao na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ Me2si Minois, Georges, 1946- ‘Aidade de our: historia da busca dafelicidade / Georges Minois; tradu- «Ho Christiane Fonseca Gradvohl Colas. - Sio Paulo : Edita Unesp, 2011 466 p. ‘Tradugdo de: Lage d'or Inclui bibliografiae indice ISBN 978-85-393.0171-3 1 Felicidade. 2. Felicidade—Histéria, 1. Titulo, I. Titulo: Historia dda busca da felicidade 11.5813. ‘DD: 170 DU: 17.023.34 Editora afiiada: axac abe semen berate rn Arn ra “PREENCHER 0 TEMPO: EIS A FELICIDADE.” Ralph Waldo Emerson, Essays GEORGES MINOIS A FELICIDADE EM UM EDEN FUTURO? Esse quadro do sonho edénico volta a confirmar que a felicidade egy ‘excluida deste mundo, que funciona, no ambito intelectual e social, s Um terceiro grupo até pensaq vida edénica prossegue além-mar, no Novo Mundo, entre os indios, e que em todo caso, deve ser possivel recriar Id, naqueles paises virgens, ilhota ile felicidade, a salvo dos males e da corrup¢a0 do mundo moderno: so 05 (GHB 0 i froncciras estanques entre os tres grupos, que tem 'um objetivo comum: A exaltagao provocada pelos cont iosos do século XVI estimula ‘a imaginacdo dos espiritos frageis que continuam, como seus credores do século XV, a anunciar uma era de felicidade em um futuro mais ou menos: proximo. Até 1530, ha inclusive tentativas de atualizagao, como vimos. ‘Mas apés 0 esmagamento da “Nova Sido” de Rothman e de Jean de Leyde, em 1535-1536, os milenaristas se contentam com escrever, durante século, até o momento em que a revolugao inglesa da década de 1640 criard novamente condigées favoriveis & instalagio do paraico terrestre. Neat meio-tempo, a ideia ¢ mantida por gente como o espanhol Cosme Damien Hortola, morto em 1568, que profetiza um tempo em que “no haverd mais luto, nem dor, nem gritos, nem morte”;** por Michel Servet, em seu) Christianismi restitutio, de 1553, ou pelo holandés David Joris, em seu Wont derboek [Livro maravilhoso], de 1551, e pelo francés Georges Pacard, em seu Description de l"Antéchrist et de son royaume [Descricao do Anticristo e de seu reino}, de 1604, ou pelo portugués Antonio Vieira, em sua Histéria do futuro, comegada em 1649, quando ele anuncia uma era de paz e felicidade apos@ conversao dos infiéis. No mesmo espirito, haverd ainda o visiondrio francés Nicolas Charpy ¢ seu Ancienne Nouveauté de l'Ecriture Sainte [Antiga novidade da Sagrada Escritura], de 1657, e Pierre Poiret (1646-1719), que anuncia ‘em seu Economie divine (Economia divina], de 1687, 0 proximo exterminio dos incrédulos e o advento de mil anos de paraiso na terra para os bons 46. Hortola, in Canticum conticrum SalomonisExplantio, 389. A IDADE DE OURO No mesmo ano, Jacques MasSard, em Harmonie et accomplissement jes [Harmonia e realizagdes dos profetas], situa esse milénio entre Je 2770. Um ano antes, Pierre Jurieu, em Accomplissement des prophétes mento das profecias], descreve assim o mundo de felicidade que beleceré a partir de 1785: [Esses mil anos dle paz e de santidade sobre a terra sero a imagem da paz ssantidade perfeita de que a Igreja gozara no céu. [..] Todo mundo se con- ‘com o necessirio, Entio reinara uma comunidade de bens semelhante & s¢ vira nos primeiros anos da Igreja de Jersusalém. Nao que:0s bens deine ser prOprios a cada um. Mas todos distribuirao largamente aos que nio tém. sim, no primeiro periodo da Igreja, os que terdo mais bens para a posse no jp mais do que 0s outros para o uso."” i audiéncia é limitada, e, tirando Jurieu, todos esses au yuecidos. Suas elucubragoes! IDADE EM UTOPIA? $s, S40 de fato, desde a origem, ambiguast ASpartie 89/4680) Nea GA Sb oS esparecido com o QM) cb um distace religoso. Como Mos de ver, este esti leu, LAccomplisement des prophtis, 225, 295 156 GEORGES MINOIS A IDADE DE OURO 157 : Miklos? esta é a ideia central da utopia, Ideia paradoxal, 0 mesmo tempo otis mpre em escala mintiscula: um canto da Calébria pap Campana © pessimiss:| Otimista, na medida em que o espirito humano ¢ capaz q 399, a ilhota de Lundy, na costa da Cornualha, onde Christopher Hill maginar um sistema coerente eteoricamente vidvel de organiza0 coletiv, em 1600, com seu patraio Robert Basset estabelecer uma comut garantindo a felicidade social QP8SSinnista) MUHtD mais) Pols todos OSsis4) topiana.** Essa nogao de espaco restrito merece alguns comentdrios, ‘mas imaginados consistem mais ou menos‘ém virat o mundo do aves: -0 inicio, o paraiso terrestre é considerado um cercado, um jardim, ara que o mundo seja feliz, & preciso fazer exatamente o contririo do um lugar onde a natureza esta domesticada, dominada, enquanto@ Giende-se o mundo ameacador da natureza selvagem. A felicida jeria ser universal: ela & a excecao, o resultado seja de um dom Estado do tamanho de uma cidade ou de uma pequena provincia, totalment seja da organizacio de um pequeno grupo, e deve ser protegida isolado do exteriar, onde nao haveria nem propriedade privada nem moeda, mis Influéncias do exterior pelo oceano ou por uma muralha. ‘onde os individuos seriam vigiados dia e noite, inclusive em sua vida inti minuras medievais cercam o paraiso terrestre com uma verdadeira « familiar, onde tudo seria regulamentado rigorosamenie pelo Estado, em semelhante is muralhas urbanas. Todos os lugares de felicidade ‘unrespirito coletivista que nao levaria em conta sentimentos pessoai*, cies de comunidades muradas [gated communities], de comunidades rigor geométrico, onde a natureza estaria inteiramente subjugada pela 3 claustros, cidades, tribunais do amor, o pomar do Romance da rosa, nologia, onde os ditigentes seriam um grupo de tecnocratas selecionada “era alta e totalmente feita de pedras talhadas”. Em Sonho de tem fungio de critérios puramente racionais, onde se falaria uma linguag Francesco Colonna, em 1467, a ilha de Citera, lugar de todas, funcional, e onde a religiso seria um vago deismo patriético/Que tal mundo as, fica nao apenas “no meio do mar, que a cerca com agua clara”, Pudesse parecer o mais capaz de garantir a felicidade nao é de surpreendet disso, ‘em um tempo atormentado pelos fanatismos religiosos, pelas monarquias opressivas guiadas unicamente pela vontade de prestigio e de poder, p exo o entorno da ilha esto plantados belos ciprestes a cada trés passos, inseguranga endémica, pelas ameacas de fore e de peniiria, impotente dia ma hé uma barreira de mirta, abundante ¢ espessa, em forma de muralha, te das catdstrofes de uma natureza hostil, e sofrendo de um sistema s0 barreira serve de cerca paraailha toda, eal sto feitas entradas e saidas fundado sobre a desigualdade e a injustica (QR U6 RenOs a felieaaaa ie comvententes:® sempre em funsao das desgiayas que sufteinios e que precisarlamos erradi ~ Eéisso mesmo que faz 0 carater ut6pico das utopias. O quadro que él Kidade é um estado excepcional e fragil. Nao é 0 estado normal da apresentam é em si um pouco diferente das iluminacées dos milenarist EE por isso que nao pode ser vivida sendo em santuérios pro- Mas, para a realizacio, estes contam com Deus. Os utopistas podem cont ‘¢ssa é a mensagem. Abrir as comunidades felizes para todos seria apcbas cobb a ai = 60 gue pode a r2- Jo diate das paicos SOR ho que matar a felicidade. Ela é um tesouro que se guarda preciosa- ‘utopistas nao acreditam na possibilidade de realizar sua cilace ideal. A 10D vale tanto para os jardins das villas de Lourenco 0 magnifico, nimia escothids jr Thoreas More & hastante clara: ele diz que tudo se p “o mito da idade de ouro guiou a organizacio”,* quanto para na !t!-2 Jc Utopia que, em grego, evoca.tanto “parte alguma” (ou-topos).coll itegna visitou na regiao do lago de Garde, “tao parecidas com 0 “lugar de felicidade” (ew-topos),associagao desesperante —a felicidade nao 88 de Julio I no Belvedere, ou os de Henrique Vill em Hampton em parte nenhuma em um pais cuja capital é Amaurote (a Cidade-Neblin@) Que uma parte também foi apelidada “o paraiso” 22 conde correo rio Anhydris (sem gua), onde vivem povos como os Alaopolit (Gem cidade) e os Acoriens (sem pais), onde o soberano ¢ Ademus (sem PO¥0 ‘Além disso, esses mundos utépicos s4o sempre inacessiveis e de sup er, "Nicholas Hil, he English Atoms”, em Catholics, Anglicans and Puritans. Jicic saute ceducicls fOHe CREME monemssonino ndoscepatiiGtee: a. Lltpmttomache ou Sone de oii, 9.108 6 pode existir para um pequeno grupo de'privilegiados protegidos do rest satin ee Rented ms ous, domundostimalihanumlugarafastado As raras centativas de real Man andthe taal Worl, p.236, GEORGES MINOIS Como 0 paraiso, os mundos utépicos sdo portanto sempre fed com uma tinica excegio: a abadia de Teleme. Esta se distingue, de q todos os pontos de vista, tanto das abadias reais como das utépicas, ‘gintua 6 taxativo: “Nao se deve jamais construir muralhas no circuito, todas as outras abadias so orgulhosamente muradas”. O monge aprg ali onde existe uma muralha, “hd obrigatoriamente murmiirio, invej conspiragao miitua”. Ela serd no entanto a abadia da felicidade, a felicd pela liberdade total, como dita a regra, que cabe em quatro palavras: Fi que vouldras (Faz 0 que quiseres]. Para @QIEHB € proibido proibir. P entrar e sair 4 vontade. Ali encontramos homens e mulheres, com um condicao: que sejam “belos, bem proporcionados e de natureza feliz”, 0 6,apesar de tudo, uma restrigao séria. Apesar disso, para seguir no coy das trés virtudes tradicionais ~ a castidade, a pobreza e a obediéncia =, instituido que ali honoravelmente é possivel ser casaco, que cada um: rico e viva em liberdade”. Ql iiiiigo ealfelieidade haianale ser o tempo; para mati-lo, procede-se ao contririo dos conventos cori nos quais “tudo & compassado, limitado e regrado por horas”: aqui, hordrios fixos, nada de rel6gios, nada de campainhas, pois “a maior p iGe tempo que existe @contarashhonas's lemos a religiao da felicidade. Ey entanto, Rabelais nao escapa a imposicao do coletivo sobre o individual. telemitas so totalmente livres, mas nao sabem o que fazer dessa liberd ‘Comportam-se como carneiros: Por essa liberdade, entraram na louvavel imitagio de fazer todos 0 uum £6 viam fazer, Se alguém dizia: “Vamos beber”, todos bebiam; $€ “Joguemos”, todos jogavam; se dizia “Vamos & batalha dos campos"y seguiam paral Assim, foi rejeitada a uniformidade forcada apenas para reencontrar formidade por mimetismo e instinto gregario. A sociedade livre é na sociedade do conformismo, e podemos duvidar seriamente da felicic seus membros. Fay ce ue vouldras redunda em “Faca como 0s outtOs"s Bem outra 2 solugo de Thomas More. @@iiiaqeuUrOBiay GEMAUEUEARS As minimas atividades, puiblicas e privadas, 580 Tadas de modo minucioso; aqui, o grande principio é a igualdade abs Propriedade coletiva, sem moeda, rodizio de tarefas, troca de casa @ dez anos, uniformidade absoluta, refeicoes em comum, redistsibuig filhos: essa sociedade é um maquinismo, um formigueiro. E nao s€ ‘com a moral: 0 adiilteros so decapitados. A IDADE DE OURO {ha de Utopia é a ilha da felicidade: “Estou totalmente conven- indo ha em nenhum lugar povo mais excelente, nem um Estado s escreve Thomas More ao fim da obra. A felicidade ¢ 0 grande ‘utopianos; “seu principal tema de controvérsia é a questo m que consiste a felicidade humana, se € uma ou maltipla”. E pnstatar que, nesse Estado mais feliz do mundo, nao hé acordo a da felicidade. Como por toda parte, aif, discute-se, ¢ a jtua em um acordo entre a religido e a razio. A felicidade reside vireuoso: ém seria cego o bastante para ndo se informar que é preciso procutar jqualquer custo, contanto apenas que um pequeno prazer nao impeca jor, que nenhum sofrimento deve fazer expiaro que tivermos perseguido. das contas, os utopianos sio epicuristas moderados: “A felicidade jo esté em qualquer prazer, mas no prazer certo e honesto para matureza é arrastada”.** no é to simples, pois se natureza e prazer concordam sem sménage d trois com a virtude torna-se muito delicado. E preci- Jos 0s falsos prazeres: riqueza, poder, honra, divertimentos, Os utopianos formam varios grupos de prazeres que declaram figados uns & alma, outros 20 corpo.” Os iltimos esto na sa- Sevessidades naturais basicas: comer, beber, defecar, ejacular € os der na telha. Thomas More evoca ente evidente que inunda os sentidos (..] restaurados pela co bebida, e também quando evacua tudo que 0 nosso corpo contém Esse prazer nos € propiciado quando livramos nossos intestinos dos ‘ou quando concebemos filhos, ou quando acalmamos os pruridos ‘corando a pele.® equenos prazeres! Ao contrario de Jonathan Swift, que homens nao sao jamais to sérios, pensativos ou absortos do stdo na privada”, Thomas More considera que os prazeres da fanto quanto os do trono. E se a esses prazeres basicos se He, pT GEORGES MINOIS vir", somos felizes. Cada um deve ajudar os outros a obter esses pi sem por isso privar-se deles: “A natureza te recomenda ser bom para préximo; ela nao te ordena ser cruel e impiedoso contigo mesmo". Es contradigao, vinda de um homem que portava um cilicio! O ascetis uma loucura, diz ele ainda, que arruina a beleza e a satide; a felicidad eg ‘no equilibrio, na moderagao — nao na mera auséncia de dor, que nao pa de “torpor” ~, ¢ no gozo moderado de prazeres razodveis: Desdenhara beleza do corpo, arruinar suas forsas, entorpecer sua agli com a preguica, esgoté-to de tanto jejuar, destruir sua satide, rejetar com d prezo as outras generosidades da navureza sem dela esperar um suplementy bens para outrem ou para o Estado, nem uma alegria superior pela qual D recompensaria o sacrificio; para uma ind sombra de virtude se destrsit se proveito para ninguém, com a ideia de poder suportar mais facilmente um da sorte que talvez nunca aconteca: eis © que eles estimam ser 0 ciéimulo} Joucura, o ato de uma alma mé para ela mesma, ¢ de suprema ingratidlo com a natureza, pois ela a demite com todos os seus benteitos, como seco de ter essa duivida para consigo mesma.» Os utopianos teriam de fato acesso a essa felicidade, eles que es submetidos a uma regig de vids eo ucuuaiCUNe igi uc ui Ud Jugae sine hil ‘utopia revela com isso seu cardter pessimista: 6 no ter nenhuma confianga na natureza humana que ela imagina sit autoritarios de grande rigor e de extrema precisio, destinados a canal iasipaixoes|eastendenclastuins, ela multiplica os parapeitos e as barrel que devem garantir a felicidade individual pela coletiva. Uma feficid obrigatéria, ou, dito de outra maneira, uma felicidade impossivel ‘Thomas More acredita no valor de seu sistema? Sem davida mais d que nos deixa entrever ao qualificé-lo de “bagatela literéria que esp ‘quase contra a vontade de minha pena”. Do mesmo modo, seu amigo ‘mo qualificava seu Elogio da loucura de “brincadeira”, escrita para pas tempo durante uma viagem. Nao passam de palavras de prudéncia da p de intelectuais que sabem que sao vigiados e tém consciéncia de pro ‘08 sistemas politicos e sociais de seu tempo, Thomas More acredita 56 id, p.185, A IDADE DE OURO 161 com sinceridade que seu Estado ideal poderia assegurar alguma terrestre; em compensagio, ele nao imagina que seja realizavel, na terra continua um sonho. jtopia é de 1516. Muitos outros a sucederic (@EUCEaSueRSe EEE joreveia Lanlo O deseo Ue Leicikiale Yue « RenddLenya EDUuMUiOG Zonstatacao da impossibilidade de atingir tal felicidade na realidade. ho, rustraea0, Pesstmismoca ReMsseNes. Pit 1555, Reaspar Seo , publica a Bréve Decription de U'Etat d’Eudémoné, cité du pais de [Breve descrigio do Estada de Eudemane], cidadeda terra de Macaria trata de uma utopia, um tinico trago bastaria para nos convencer: ses felizes, os salérios mais altos sio os dos professores! Essa nao fa felicidade: aqui, tudo est na moderacio — precos baixos fixados ‘um mundo de pequenos proprietérios que trabalham apenas, ente para obter os bens indispensaveis, e que povoam seu lazer do seu espirito. A educacio é cuidada. Todo mundo usa uniforme; eservar esse paraiso, a ilha est cercada por muralhas e os contatos iro So quase proibidos. (602, no fundo de sua pris4o, o monge calabrés Tommaso Campanella Jimagina a possibilidade de uma ilha feliz: A cidade do sol.*” Esse filho 0, que conhece a miséria do povo, concebe uma felicidade ideal dda desgraga real: nessa ilha do Oceano indico, protegida por altas ‘ergue-se uma cidade integralmente comunista. Em vez de pastores imorrendo de fore ex volta dos latifiindios da alta nobreza, esta elo laboriosa que divide tudo e faz tudo em comum, seguinco uma izacio, sob a autoridade de um sacerdote-padre, 0 Metafisico, fo por trés conselheiros: Amor, Sabedoria e Poténcia. © trabalho € ‘mas a duracio legal é de 24 horas semanais, pois a técnica per- (8 trabalhos mais duros: barcos a rodas e carrocas a vela, por 0: Magistraclos e dignitarios sao, alias, sabios, e & sob seu controle que izada a reproducio da espécie, com vistas a melhorar a qualidade: © médicos decidem quem se deitara com quem; acasalamento a dias a partir dos 21 anos para os homens e dos 19 para as mulheres, lum ritual bem preciso. Os filhos sio tirados da mie aos 2 anos € fem comum. A familia nao existe, portanto, o que elimina muitos ©aMor-paixo, ocitime, oadultério, oincesto, as disputas de heranca, ella no se contenta em sonhar com a cidade ideal. Ele age. GEORGES MiNoIS seu compatriota Joachim de Flore, e encontrara o erro: nfo era em 4, ‘mas em 1600 que deveria comerar o reino do espirito, a era da fel ele tinha participado de um movimento agrario na Calabria para p -lo. Durante seus 27 anos de prisdo, redigiu outras obras que, por sugy anunciam a volta da idade de ouro, uma fusio do milénio cristo edo, de ouro dos pagios: Naquele tempo, um tinico rei reinara sobre todos os homens, com Frequiel, na espirimal ¢ na temporal. [..] A fraude e a iniquidade' ‘vida humana voltaré a ser como era no principio; tio bem que, como. Isafas, o homem de 100 anos ser como uma crianga eos santos reinario, ‘mil anos no meio da felicidade, espiritual e material, praticando, segui natural, a perfeita comunhio dos bens: seri a idade de ouro e ela du muito tempo sobre a Terra como preltidio ao século futuro no céu que ‘com a segunda ressurreicao, como diz Séo Joao, no Apocalipse.®* ‘Assim que sabe do nascimento do pequeno Luis, fitho de Luis futuro Luis XIV, em 1638, Campanella vé nele o soberano que traré de} a idade de ouro, “a felicidade a paz”. Todo mundo pode se enganak ‘Um aspecto de A cidade do sol é mais realista do que o resto: 2 cont fo do progresso cientifico e técnico para. felicidade da humanidadesti direcdo que segue o chanceler Francis Bacon, cuja Nova Atlantida (16 @ primeira utopia com ares de fiegao ciewtifiva. Trata-se nuvaiiente de ilha, Bensalem, nova edi¢ao da Atlantida. Aqui, so os sabios da" ‘Salomao” que tém o poder e — é essa a utopia ~ usam-no somente Bi bem. Todas as descobertas e invengGes de natureza nefasta so mantid segredo e destruidas. No fim da obra hé uma misteriosa lista cuja int taco divide os comentaristas. Seu titulo é: "Maravilhas naturais, 0b as que sao destinadas ao uso humano”. Tudo parece indicar que st uma série de objetivos cientificos que devem ser atingidos para felicidade da humanidade. Lé-se, por exemplo, “tornar os espiritos € doté-los de boa disposic4o”, e “os maiores prazeres para os sentida E notivel constatar que quase todos os objetivos fixados nessa de lembrete cientifico correspondem a velhos sonhos express0s a séculos a fio nas descrigées da idade de ouro, como: 58 Campanella, ta prima ea sci eveecon, apd Delumen, em Mie nel piss A IDADE DE OURO gra vida; devolver em qualquer grau ajuventude; adiar oenvelhecimen- fas doencas tidas como incuraveis; minimizat a dor; aumentar a forca ; transformar 0 temperamento, o excesso de peso e a magreza; mara estatura;transformar os tragos; aumentare elevar a inteligéncia; -novas espécies; acelerar o tempo de maturasio; acelerar a germina- ‘para a terra compostos ricos; produzir novos alimentos; fabricar para o vestuirio, e novos materiais, a exemplo de papel, vidro etc. is artificiais ecimentos.” nos notivel é constatar que as ciéncias contempordneas ps 05 objetivos desse inventario a moda de Prévert. Terceira essas realizacdes deveriam trazer a felicidade. Mais uma vez, i mesmo quando se realiza, nao torna a vida mais feliz ADE NA AMERICA? gerdadeira felicidade estivesse la longe, naquelas terras novas 6 € exploramos a partir do fim do século XV? Muitos acre- Antes mesmo das viagens de Crist6vao Colombo, circulavam bre terras situadas longe, a sudoeste ou oeste, associadas ora ide Cibola”, de fabulosa riqueza, ora aiha de Sao Brando tunadas. Parcce, aliés, que a ilha le Brazil, que aparece pela {um mapa catalao de 1330, teria seu nome tirado do irlandés O Brazil, que significa “tha afortunada’.® As mentes estao, ara ouvir os relatos maravilhosos sobre esses territérios. f0 Colombo esti merguthado nessa atmosfera. A dimensio » autor de um Livro das profecias que ficou incomple- bem conhecida.*' Leitor assiduo de Imago mundi de Pierre 0s milenaristas franciscanos, o descobridor dissecou a © quanto os mapas maritimos para concluir que o mundo 6 Jimagina. E se ele leva em sua expedicdo Rodrigo de Jerez, Mo que fala hebreu e aramaico, é porque esperava encontrar terrestre, cuja lingua ¢ 0 aramaico: eta 0.1334 hao, tip 326, Prophecy and Discovery: onthe Spiritual Origin of Christopher Colom- ofthe Indies, p 73.102.

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