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FIDES REFORMATA XXI, N° 2 (2016): 25-56 O CALvINISMO E A PREGACAO INDISCRIMINADA DO EVANGELHO Dario de Aratijo Cardoso" RESUMO- E comum o pensamento que considera a doutrina da eleigdo oposta € incompativel com a pregacao do evangelho a todas as pessoas. Argumenta-se que se Deus, pela eleigao, determinou quem recebera a salvagdo, nao é corre- to requerer de todos os homens que se arrependam e creiam no evangelho. A partir desse pensamento surgiram aqueles que rejeitam a doutrina da eleigaio € outros que negam que a pregagdo deva ser dirigida a todos indistintamente. Esse dilema foi apresentado a Calvino e aos calvinistas que compuseram os CAnones de Dort e foi rejeitado por ambos. O presente artigo faz uma pesquisa bibliogrifica apresentando trechos das Institutas de Jotio Calvino e dos Canones de Dort que refutam o dilema e apresentam o pensamento calvinista que rela- ciona eleigdo e pregagdo ndo apenas como compativeis, mas como mutuamente dependentes, Ilustraremos o tema descrevendo o argumento arminiano ¢ sua relagdo com o hipercalvinismo ¢ a resposta calvinista no contexto das igrejas reformadas de tradigao holandesa. PALAVRAS-CHAVE Eleig%o; Pregagtio do evangelho; Calvinismo; Arminianismo. INTRODUGAO E comum ouvir que o calvinismo, especialmente no que diz respeito a sua doutrina acerca da eleigdo, tem inibido ou constitui-se num desestimulo Mestre em Teologia e Exegese pelo CPAJ, Mestre em Ciéneias da Religitio pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutorando do Programa de Semiética e Linguistica Geral da Faculdade de Filosofia, Letras © Cigncias Humanas da USP. Professor assistente de Teologia Pastoral no CPAJ. Coodenador ¢ professor do Departamento de Teologia Exegética do Seminério Presbiteriano Rev. José Manoel da Coneeigdo, Membro da equipe pastoral da Igreja Presbiteriana do Centenario, em Sao Paulo, 35 DARIO DE ARAUJO CARDOSO, 0 CALVINISM E A PREGAGAO INDISCRIVINADA DO EVANGELHO & pregagao do evangelho.' Calvino aponta que jé em sua época a pregagdo indiscriminada do evangelho era utilizada como um argumento que contraria a doutrina da eleigo, por nao se harmonizarem.? Frequentemente apresenta-se 0 dilema de que a crenga na doutrina da predestinagao toma a pregago des- necesséria, pois, uma vez que estd determinado o nimero dos salvos, pouco importa o esforgo de pregar a todos. Argumenta-se também que, quando se afirma a doutrina da eleigdo, a pregagao perde sua sinceridade e veracidade, uma vez que se oferece algo que alguém, caso nfo eleito, mesmo que desejasse no poderia obter. Neste artigo realizamos um levantamento bibliogréfico quanto ao ensino calvinista sobre a necessidade de pregar o evangelho a todas as pessoas sem distingdo e o modo como tal necessidade se relaciona com a doutrina da eleigao. Primeiramente, serd exposto 0 pensamento de Calvino sobre a pregagio do evangelho, tendo como fonte principal as passagens das Institutas que tratam dessa questio. Depois, semelhante pesquisa serd feita nos Canones de Dort, uma vez que eles sio reconhecidos como uma reafirmagao do calvinismo frente a0 surgimento do arminianismo na Holanda. Em seguida, sero ilustrados os desdobramentos do ensino dos Canones de Dort sobre pregasiio e predestinasio nos escritos de trés autores reformados que discorrem sobre o tema, Sao eles David Engelsma, Henry Petersen e Homer Hoeksema. Por fim, concluiremos com observagées pessoais. Procuramos assim demonstrar que 0 calvinismo histérico da total ¢ irrestrito incentivo e liberdade & pregagio indiscriminada do evangelho e, sem negar ou menosprezar a doutrina da eleigao, conclama a todos em toda parte a que se arrependam e creiam no evangelho de Jesus Cristo para a salvagao. 1. CALVINO SOBRE A ELEICAO E A PREGACAO DO EVANGELHO. Em suas Institutas, no livro 3, capitulo 22, segao 10, Calvino refuta alguns argumentos de seus contemporaneos que contrapunham a doutrina da eterna predestinagao e a pregacao do evangelho. Calvino apresenta a seguinte questo: 1 quem objete dizendo que Deus seria contririo a si mesmo se a todos, univer salmente, convide a si, porém admita a poucos. Sendo assim, a universalidade das promessas, segundo eles, anula a distingao da graca especial [predestinagao].* 1 Eg, VANCE, Laurence M. The other side of Calvinism. Pensacola: Vance Publications, 1991, p.270. 2 CE CALVINO, Jodo. As Institutas: edigdo eldssica. 2 ed. Séo Paulo: Cultura Crista, 2006, vol. 3, p. 405s (IIL.22.10). 3 Ibid, vol. 3, p. 405 (1122.10), 36 FIDES REFORMATA XXI, N° 2 (2016): 25-56 Em tese 0 que se quer dizer é que se deve escolher entre pregar 0 evan- gelho a todos os homens ou crer que Deus separou alguns para si através da predestinagao, Manter os dois conceitos seria atribuir contradigdo a Deus. Diante disso, Calvino se dispde a demonstrar “... como a Escritura concilia essas duas coisas, a saber, mediante a pregacdo exterior, sio todos chamados ao arrependimento e a fé, entretanto, nem a todos é dado o espirito de arrepen- dimento e fé...".4 Vé-se que a opgdo proposta nao é necessaria no entender de Calvino. A pregagao deve ser dirigida a todos, ainda que apenas alguns sejam agraciados com 0 “espirito de fé e arrependimento” necessarios a salvagao. Primeiramente, Calvino refuta a ideia de que a promessa de salvagaio & oferecida a todos. £ conhecido o pensamento de Calvino de que as promessas de salvagao sao eficazes exclusivamente nos eleitos. Ele afirma claramente: “Os que querem que a doutrina da vida se proponha a todos, para que todos aproveitem dela eficazmente, se enganam sobremaneira, visto que ela s6 se propée aos filhos da Igreja”s As promessas da salyagio so abusadas quando apresentadas como efetivamente disponiveis a todos, Em seguida, Calvino observa que, embora a mensagem da salvagio seja amplamente proclamada, a fé é um dom especial e raro. Ele diz: ‘Ainda que a voz do evangelho se dirija a todos em geral, no entanto, o dom da f& €algo raro, Isaias assinala a causa: que o brago de Deus nio se manifesta a todos [ls 53.1]... [O profeta] ensina que a fonte da sua cegueira [dos homens] é 0 fato de Deus nao se dignar manifestar-Ihes seu brago; somente adverte que, como a £8 6 um dom singular, em vao so os ouvidos reprovados pelo ensino exterior.* Vislumbra-se a concepgao de Calvino de que a pregagao do evangelho nao se apoia na disponibilidade de salvago a todos, e que este nem deve ser assim apresentado, pois a salvagio esté reservada somente para os eleitos. Gaspar Oleviano, fazendo introdugdo as Institutas, escreve 0 seguinte: 0 Espirito Santo nao enxerta todos os homens em Cristo, ou outorga-lhes a 48, e aqueles a quem ele assim outorga nao ordinariamente o faz sem o uso de meios, mas usa para este propésito a pregagdo do evangelho e a dispensagao dos sacramentos, junto com a administragao de todo o tipo de disciplina...” Ou seja, para Calvino a pregagio do evangelho deve ser vista como meio pelo qual o Espirito une a Cristo, ndo todos os homens, mas aqueles que ele quer. 4 Ibid. 5 Ibid. © id, p. 406. 7 OLBVIAN, Gaspar. Method and Arrangement, p. 43. In: The Comprehensive John Calvin Collection. CD-ROM, Versdo 1.0. Albany: Ages Software, 1998, 37 DARIO DE ARAUJO CARDOSO, 0 CALVINISM E A PREGAGAO INDISCRIVINADA DO EVANGELHO A teologia de Calvino sobre a pregagdo esté bem representada nas Institutas. Ele afirma que, antes da vinda de Cristo, a palavra de Deus era dada como privilégio a Israel, enquanto as demais nagdes permaneciam perdidas. Mas, com a vinda de Cristo, tal diferenciagao foi abolida, Ele escreve: | mediante a comunicagao de sua palavra, a si o [0 povo de Israel] uniu de tal sorte que fosse chamado e fosse tido por seu Deus. Enquanto isso, deixava que os demais povos andassem em fatuidade [At 14.16], como se consigo nada tivessem de relagao ¢ intercurso; nem, para que lhes curasse o mal, propiciava © que era o tinico remédio, a saber, a pregago da Palavra. Foi assim que Israel veio a ser, ento, 0 filho querido do Senhor; os demais eram estranhos; [...] Quando, porém, veio a plenitude dos tempos [Gl 4.4] destinada a restauragao de todas as coisas [Mt 17.11], ¢ foi revelado esse reconciliador de Deus e dos homens, destruida a muralha que, por to longo tempo, mantivera a misericdrdia de Deus confinada aos limites de Israel, foi anunciada a paz aos que estavam Jonge, nao menos aos que se achavam perto, para que, juntamente reconciliados com Deus, se unissem em um sé povo [Ef 2.14-17]. Por isso, agora nenhuma distingdo ha de grego ou judeu [GI 3.28], de incircuncisio ou circuncisao, mas “Cristo & tudo em todos” ..* Nota-se que a restrigdo 4 pregagdo da palavra era, para Calvino, o sinal da distingao entre Israel e as demais nagdes no Antigo Testamento, Jesus Cristo, em seu advento, eliminou essa restrigdo e, por sua determinagao, o evangelho deve ser pregado a todas as nagdes. Sendo assim, uma vez que a restrigdio nao mais existe, a pregagdo no s6 estd ao acesso de todos os povos, mas deve ser levada a todos eles. Tal perspectiva ¢ confirmada na descrigao que Calvino faz da fungdo apostélic Qual é a fungio apostélica se faz. evidente a luz deste mandato: “Ide, pregai © evangelho a toda criatura” [Me 16.15]. Nao se atribuem seus limites defini- dos; ao contririo, os envia para que conduzam o mundo inteiro 4 obediéneia de Cristo, para que, espargindo o evangelho por toda a parte que possam, em todos os lugares ergam seu reino, Por isso mesmo Paulo, como quisesse pro- var © seu apostolado, recorda que ndo ganhou para Cristo uma ‘nica cidade, seniio que propagava 0 evangelho ampla e extensivamente; nem pds as maos em fundamentos alheios, sendo que plantava igrejas onde ainda ndo se ouvira ‘nome do Senhor [Rm 15.20]. Portanto, os apéstolos foram enviados para que reconduzissem 0 mundo inteiro da alienagdo a verdadeira obediéncia de Deus; e mediante a pregagdo do evangelho, implantassem por toda a parte o reino...? 8 CALVINO, Institutas, vol. 2, p. 216 (TLL). 9 Ibid, vol. 4, p. 67 (VI3.4). Ver também CALVIN, John. Commentary on the Acts of the Apostles, p. 19. In: The Comprehensive John Calvin Collection, CD-ROM, versio 1.0. Albany: Ages Software, 1998, 38 FIDES REFORMATA XXI, N° 2 (2016): 25-56 A evangelho nao se fundamenta na oferta universal de salvago, mas na autoridade de Cristo que ordena que o evangelho seja pregado a todas as nagdes. De modo incisivo, Calvino defende a manutengao da crenga na eleig&o em conjungo com a pregagao indistinta ¢ indiscriminada do evangelho a todos. Pri- meiramente ele argumenta que as promessas do evangelho se fundamentam na fé: im, respondendo a seus opositores, Calvino afirma que a pregacao do ra, pois, dirds, se & assim, mui pouca certeza oferecem as promessas do evan- gelho, as quais, testificando da vontade de Deus, asseveram que ele quer aquilo que contrapde a seu imutivel decreto, De modo algum, respondo, porque, por mais que as promessas de salvagiio sejam universais, entretanto, em nada diferem da predestinagdo dos réprobos, desde que dirijamos a mente para sua eficdcia, Sabemos que, afinal, as promessas nos so eficazes quando as recebemos em fé; quando, a0 contratio, a fé ¢ aniquilada, a promessa foi, ao mesmo tempo, abolida."” Calvino nega a incompatibilidade entre a pregago e a eleigdo quando demonstra que a efetividade das promessas de salvagiio ndo decorre da libe- ralidade da oferta, mas decorre da fé que é fruto da eleigdo, Em seguida, ele questiona aqueles que consideram excludentes a afirmagao de que Deus escolhe a quem que dispensar seu amor ou sua ira e a afirmagdo de que a pregagao deve ser dirigida a todos: Deveras digo que elas se harmonizam perfeitamente, pois, assim prometendo, ‘outra coisa ndo pretende senio que sua misericérdia seja oferecida somente a todos os que a buscam e imploram, o que outros nao fazem, a ndo ser aqueles a quem ilumina, Entretanto, Deus ilumina aqueles a quem predestinou para a salvagio. A estes, afirmo, evidencia-se a veracidade certa ¢ inabalavel das pro- messas, de modo que nao se pode dizer que houve alguma diserepancia entre a eterna eleigdo de Deus ¢ o testemunho que oferece aos figis de sua graga." Na verdade, pregagdo e eleigdo se complementam. No pensamento de Calvino, a pregagao do evangelho nasce da fonte da eleigao. Sem a iluminagiio divina nenhum homem responderia positivamente a pregagdo. Por seu turno, a pregagdo a todos € a ago correta em resposta A consciéncia da eleigdo, pois nada impede que a pregagdo seja comum aos eleitos e aos reprovados. Vejamos © que Calvino diz em seguida: Mas, porque menciona todos? Na verdade, para que mais seguramente concor- dem as consciéncias dos piedosos, enquanto compreendem que ndo hé nenhuma diferenga dos pecados, desde que a fé esteja presente; os impios, porém, para que no aleguem faltar-Ihes um refiigio em que se abriguem da servidio do pecado, 1 CALVINO, Institutas, vol. 3, p. 443s (IIL24.17). Mid, vol. 3, p. 444 (11.24.17) 39 do evangelho. DARIO DE ARAUJO CARDOSO, 0 CALVINISM E A PREGAGAO INDISCRIVINADA DO EVANGELHO visto que, por sua ingratiddo, rejeitam o asilo a si oferecido. Portanto, uma vez que a uns e outros desses dois grupos seja oferecida a misericérdia de Deus pelo evangelho, é a £6, isto é, a iluminagdo de Deus, que estabelece distingdo entre os pios e os impios, de sorte que eles sintam a eficdcia do evangelho, porém estes ndo conseguem dai nenhum fruto, A prépria iluminagdo tem como elemento regulador a eterna eleigdo de Deus.” Vemos que Calvino faz clara diferenga entre a salvagdo e a pregagio sta est disponivel a todos, a compreensio salvadora do que & pregado s6 é aleangada pelos que recebem o dom da fé, isto é, os eleitos. Encontramos nas Jnstitutas esta ilustragao: Assim, depois que os apéstolos sdo instruidos por sua divina boca, nao obstante &necessario enviar-Ihes o Espirito da verdade para que lhes instile nas mentes amesma doutrina de que se apropriaram pelos ouvidos (Jo 16.13]. Realmente, a Palavra de Deus & como o sol a refulgir em todos a quem é pregada; contudo, entre os cegos ela ndo obtém nenhum fruto, Nés, porém, nesse aspecto, somo: todos cegos por natureza, Consequentemente, no pode ela penetrar nossa mente, ando ser que esse Mestre interior, o Espirito, lhe faculte entrada mediante sua iluminagao." Embora haja livre distribuigao da mensagem do evangelho, Calvino res. salva que nio hé obrigatoriedade de que Deus trate todos os homens igualmente e, de fato, nao faz. Calvino escreve: “Aquele que ameaga que, enquanto faz chover sobre uma cidade, haverd sequidao em outra [Am 4.7], que em outro lugar denuncia uma fome de ensino [Am 8.11], nao se obriga por uma lei fixa para que chame a todos igualmente”. Essa diferenciago, de exclusiva autoridade de Deus, se manifesta de duas formas: a iluminagdo do Espirito dada somente aos eleitos ¢ 0 envio dos pregadores ao mundo. Calvino escreve: 40 No tocante & vocagiio de Deus mais amplamente difusa por todos os povos na vinda de Cristo do que fora antes, ¢ as gragas do Espirito mais largamente derramadas, quem, pergunto cu, negaria ser justo que na mio e arbitrio de Deus a livre dispensagao de suas gragas, para que ilumine aquelas nagdes que ele queira iluminar, nos lugares que queira promover a pregagdo de sua palavra, sempre que queira prodigalizar o progresso e éxito de sua doutrina, nas eras em que 0 queita, por causa de sua ingratido, do mundo detraia o conhecimento de seunome, em vista de sua misericérdia, ¢ 0 restitua quando novamente o queira?"* 2 id, 13° bid, vol. 3, p. 60 (IIL2.34), 14 bid, vol. 3, p. 405 (IIL.22.10) 15 hid, vol. 2, p. 2185 (IL11.14) FIDES REFORMATA XXI, N° 2 (2016): 25-56 Assim, ainda que haja um comando para que o evangelho seja pregado a toda a criatura, compete a Deus a determinagao dos lugares, 0 modo e os efeitos que a pregagiio da palavra ter entre as nagdes, Diante disso, compreen- demos que 0 chamado de Deus para a salvagao, entdo, nao consiste somente da pregagiio da palavra, mas também da iluminagiio do Espirito.' Em outro lugar, Calvino escreve: Aquela afirmagao de Cristo quanto a muitos chamados, porém poucos esco- Ihidos [Mt 22.14], & deste modo muito mal entendida, Nada seré ambiguo, se sustentarmos o que deve ser claro & luz das consideragdes acima, de haver uma dupla espécie de vocagao. Ora, ha a vocagao universal, pela qual, mediante a pregagdo externa da Palavra, Deus convida a si todos igualmente, ainda aqueles aos quais a prope como aroma de morte [2Co 2.16] e matéria da mais grave condenagao. A outra é a vocagao especial, da qual digna ordindria e somente aos figis, enquanto pela iluminagao interior de seu Espirito faz com que a Palavra pregada se Ihes assente no coragio."" c mentando Amés 5.4-6, ele escreve: Nés antes sabemos que os profetas pregaram a fim de convidar alguns a Deus © para deixar outros inescusaveis. Com respeito ao fim e propésito do ensino piiblico é que todos fossem, em comum, chamados: mas o propésito de Deus diferente; pois cle intenta, de acordo com seu proprio conselho secreto, apresentar asi mesmo 0s eleitos, e pretende retirar toda a escusa dos reprovados, que sua obstinagdo possa ser mais € mais aparente.'* Assim, vé-se que, para Calvino, a doutrina da eleigao implica que Deus, pelo seu soberano propésito, trata de modo desigual os homens, tanto iluminando com seu Espirito a uns e ndo a outros, quanto provendo-Ihes acesso diferenciado 4 pregagdo da palavra e aos beneficios dela advindos. Por outro lado, devemos entender que isso ndo impede ou obstaculiza a pregagio universal e indistinta do evangelho, pois, assim como acontece na eleigdo, cabe a Deus e no a nés dispor como e a quem Deus oferecerd seus beneficios. Cabe aos crentes obedecer, com diligéncia e fervor, ao comando de pregar o evangelho a toda a criatura. Para fazer demonstragao, Calvino escreve sobre o apéstolo Paulo: Quio declarado e eloquente pregoeiro da eleigdo graciosa foi Paulo jé se viu previamente. Porventura ele foi, por isso, frio em advertir e exortar? [...] Em suma, aqueles que sio medianamente versados em Paulo compreenderio, sem demonstracdo extensa, quio aptamente concilie ele coisas que estes ima- ginam lutarem entre si, Assim, Cristo preceitua que se creia nele. Todavia, sua 16 bid, vol. 3, p. 427 (1IL24.2), 17 bid,, vol. 3, p. 433s (111.24.). 18 CALVIN, John. Commentary on the Prophet Amos, p. 106. In: The Comprehensive John Calvin Collection. CD-ROM, Versao 1.0. Albany: Ages Software, 1998, 41

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