SANTIAGO, Silviano. Heranças. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
Heranças, de Silviano Santiago, é um romance do e para o século XXI, especialmente no que se refere à alegorização da passagem histórica da moda no período de expansão da capital mineira (1940 a 1960), a partir do fechamento de uma loja de armarinhos, herança paterna: tecidos, linhas, botões, colchetes, agulhas, alfinetes, “renda” feminina do capital familiar. O autor descreve, além da trama, a tragédia pessoal do narrador protagonista, perambulando e se desvencilhando de estilos e tendências, entre fios de lembranças de revistas de moda e do cinema hollywoodiano à obsessiva figura paterna. Autobiografia, ficção, memória, biografia, este romance nos permite ler a própria história e a teoria da literatura. Como fugir da tradição, como escapar da fraternidade, como esquecer a moda e uma explícita relação com a história das mulheres, como encontrar no Rio de Janeiro um modo de se liberar da herança paterna? Ou seja, Heranças é mais uma das teses teóricas, criticas e ficcionais de Silviano Santiago: a vida como literatura, as duas, literatura e vida, vestidas de ficção.