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73 0 patriménio como categoria de pensamento* José RecinaLpo SANTos GONGALVES Gostaria de claborar algumas reflexdes sobre as limitagdes ¢ as possibilidades que a nocao de “patriménio” oferece para o entendimento da vida social e cultural. O estudo das categorias de pensamento é uma contribuigao iginal da tradicdo antropoldgica. A historia da disciplina é marcada pela descoberta ¢ anélise de categorias exdticas ¢ aparentemente estranhas ao pensamento ocidental: tabu, mana, sacrificio, magia, feiticaria, bruxaria, mito, ritual, totemismo, reciprocidade etc. No caso, estamos focalizando uma categoria, ndo exética, mas bastante familiar ao moderno pensamento ocidental. Nossa tarefa consiste em verificar em que medida cla esté também presente em sistemas de pensamento nao-modernos ou tradicionais ¢ quais os contornos semanticos que ela pode assumir em contextos histéricos e culturais distintos. Como aprendemos a usar a palavra “patriménio”? “Patriménio” ested entre as palavras que usamos com mais freqiiéncia no cotidiano. Falamos dos patriménios econdmicos e financeiros, dos patriménios imobilidrios; referimo-nos ao patriménio econémico e financeiro de uma empresa, de um pais, de uma familia, de um individuo; usamos também a nogao de patriménios culturais, arquiteténicos, histéricos, artisticos, etnograficos, ecoldgicos, genéticos; sem falar nos chamados patriménios intangtveis, de recente * Comunicagao apresentada na mesa-redonda “Patriménios cmergentes € novos desafios: do genético ao intangivel”, durante a 26® Reunido Anual da Associaco Nacional de Pés-graduagado em Ciéncias Sociais, realizada em Caxambu, em 23 de outubro de 2002. DP&A editor 22 Meméria e patriménio: ensaios contemporaneos ¢ oportuna formulagao no Brasil. Parece nao haver limite para o processo de qualificagao dessa palavra. Muitos sao os estudos que afirmam constituir-se essa categoria em fins do século XVIIL juntamente com os processos de formagio dos Estados nacionais, 0 que é correto. Omite-se, no entanto, o seu cardter milenar. Ela ndo é simplesmente uma invengao moderna. Esté presente no munde classico e na Idade Média, sendo que a modernidade ocidental apenas impée os contornos semanticos especificos que, assumidos por ela, podemos dizer que a categoria “patriménio” também se faz presente nas sociedades tribais. O que estou argumentando é que estamos diante de uma categoria de pensamento extremamente importante para a vida social e mental de qualquer coletividade humana. Sua importancia nao se restringe as modernas sociedades ocidentais. A categoria “colecionamento” traduz, de certo modo, o processo de formagao de patriménios, Sabemos que esscs, cm scu sentido moderno, podem ser interpretados como colegées de objetos méveis e iméveis, apropriados e expostos por determinados grupos sociais. Todo e qualquer grupo humano exerce algum tipo de atividade de colecionamento de objetos materiais, cujo efeito é demarcar um dom{nio subjetivo em oposigéo a um determinado “outro”. O resultado dessa atividade € precisamente a constituigao de um patriménio (CLFoRD, 1985; Pomian, 1997). No entanto, nem todas as socicdades humanas constituem patriménios com o propésito de acumular e reter os bens que sto reunidos. Muitas sao as sociedades cujo processo de acumulagao de bens tem como propésito a sua redistribuicdo, ou mesmo a sua simples destruigéo, como ¢ 0 caso do kula trobriandés e do potlatch, no Noroeste americano (MaALINOwskI, 1976; Mauss, 1974). O que é preciso focar nessa discusso, penso, é a possibilidade de transitar analiticamente com essa categoria entre diversos mundos sociais ¢ culturais. Em outras palavras: como € possivel usar essa nego comparativamente? Em que medida ela pode nos ser witil para entender experiéncias esttanhas & modernidade? 0 patriménio como categoria de pensamento 23 Do ponto de vista dos modernos, a categoria “patriménio” tende a aparecer com delimitagées muito precisas. E uma categoria individualizada, seja como patriménio econémico e financeiro, seja como patriménio cultural, seja como patriménio genético ete. Nesse sentido, suas qualificagdes acompanham as divis6es estabelecidas pelas modernas categorias de pensamento: economia, cultura, natureza etc. Sabemos, entretanto, que essas divisdes sio construgdes histéricas. Pensamos que clas sao naturais, que fazem parte do mundo. Na verdade, resultam de processos de transformagao ¢ continuam em mudanga. A categoria patriménio, tal como € usada na atualidade, nem sempre conheceu fronteiras tao bem delimitadas. E£ possivel transitar de uma a outra cultura com a categoria patriménio, desde que possamos perceber as diversas dimensdes seménticas que ela assume e nfo naturalizemos as nossas representagGes a seu respeito. Em contextos sociais ¢ culturais nao-modernos, ela coincide com categorias mégicas, tais como mana e outras, e define- se de modo amplo, com fronteiras imprecisas ¢ com 0 poder especial de estender-se e propagar-se continuadamente. A nogao de patriménio confunde-se com a de propriedade. A literatura etnogrfica est4 repleta de exemplos de culturas, nas quais os bens materiais nao so clasificados como objetos separados dos seus proprietarios. Esses bens, por sua vez, nem sempre possuem atributos estritamente utilitérios. Em muitos casos, servem a propésitos praticos, mas possuem, ao mesmo tempo, significados magico-religiosos e sociais. Configuram aquilo que Marcel Mauss (1974) chamou de “fatos sociais totais”. Tais bens sio, simultaneamente, de natureza econdmica, moral, religiosa, mdgica, polftica, jurfdica, estética, psicoldgica e fisioldégica. Constituem, de certo modo, extensdes morais de seus proprietdrios e estes, por sua vez, so partes inseparaveis de totalidades sociais ¢ césmicas que transcendem sua condigao de individuos. O mesmo autor assinalou: 24 Memoria e patriménio: ensaios contemporaneos L..] se anogio de espitito nos pareceu ligada 4 de propriedade, inversamente esta se liga aquela. Propriedade e fora sao dois termos inseparaveis; Propticdade ¢ espirito se confundem (id., ib., p. 133). Nos contextos sociais ¢ culturais modernos, esse aspecto magico nao esta ausente das representagées da categoria patriménio, embora esta tenda a ser delineada de modo nitido, separadamente de outras toralidades. A exemplo do mana melanésio, discute- auséncia do patriménio, a necessidade ou nao de preservé-lo, porém nao se discute a sua existéncia. Essa categoria é um dado de nossa ¢ a presenga ou consciéncia ¢ de nossa linguagem; um pressuposto que dirige nossos julgamentos e raciocinios. Ainda que possamos usar a categoria patriménio em contextos muito diversos, é necessdrio adotar certas precaugées. E preciso contrastar cuidadosamente as concepgdes do observador ¢ as concepgées nativas. Recentemente, construiu-se uma nova qualificacdo: o “patriménio imaterial” ou “intangivel”. Opondo-se ao chamado “patriménio de pedra é cal”, aquela concepgao visa a aspectos da vida social e culeural dificilmente abrangidos pelas concepgées mais tradicionais. Nessa nova categoria esto lugares, festas, religides, formas de medicina popular, musica, danga, culindria, técnicas ete. Como sugere © proprio termo, a énfase recai menos nos aspectos materiais ¢ mais nos aspectos ideais ¢ valorativos dessas formas de vida. Diferentemente das concepgoes tradicionais, no se propée 0 tombamento dos bens listados nesse patriménio, A proposta é no sentido de “registrar” essas prdticas e representagées ¢ de fazer um acompanhamento para verificar sua permanéncia ¢ suas transformagée A iniciativa é bastante louvavel, porque representa uma inova¢ao ¢ flexibilizagdo nos usos da categoria patriménio, particularmente no Brasil. Ela oferece, também, a oportunidade de aprofundar nossa reflexdo sobre os significados que pode assumir essa categoria. Para isso, gostaria de trazer uma experiéncia recente como pesquisador. 0 patriménio como categoria de pensamento, 25 Nos tiltimos anos, venho realizando pesquisas sobre as Festas do Divino Espirito Santo entre imigrantes agorianos, nos Estados Unidos ¢ no Brasil. Podemos dizer que essas festas constituem um “fato de civilizago”, no sentido atribuido por Marcel Mauss a esse termo (1981, p. 475-493), Nao se restringem a uma determinada rea social ¢ cultural, transcendendo fronteiras nacionais e geogréficas. E vasta sua area de ocorréncia: Agores, Canadé, Estados Unidos (Nova Inglaterra e Califérnia, principalmente) e Brasil (especialmente nas regides Sul e Sudeste do Brasil). Em termos histéricos, a manifestagio apresenta uma grande profundidade. Os mitos de origem da festa referem-se & sua criagdo no século XIII, em Portugal. Mas ha referéncias sobre sua existéncia na Alemanha e na Franga, ainda no século XII. Estamos, pois, diante de uma estrutura de longa duragio. ‘Trata-se, também, de um “fato social total”, na medida em que envolve arquitetura, culinéria, musica, religido, rituais, técnicas, estética, regras juridicas, moralidade etc., 0 que suscita algumas questées relativamente voltadas as concepgées de patriménio. Em especial pelo fato de essas diversas dimenses nao aparecerem, do ponto de vista nativo, como categorias independentes. Evidenciam-se de modo simbélico, totalizadas pelo Divino Espirito Santo. Este, por sua vez, € representado nfo exatamente como a terceira pessoa da Santissima ‘Trindade, mas como uma entidade individualizada ¢ poderosa. Essas festividades so exemplo do que poderiamos chamar de um “patriménio transnacional”. Todavia, classificar essa festa como “patriménio” exige cautela. E preciso reconhecer algumas nuangas nas representagées do que se pode entender por “patriménio”. E bem verdade que séo as préprias liderangas agorianas que falam de um “patriménio agoriano” ou da agorianidade, Mas esse uso estd distante das concepgoes assumidas pelos devotos do Espirito Santo em sua vida cotidiana. A diferenca fundamental encontra-se precisamente no uso das categorias “espirito” e 26 Memoria e patriménio: ensaios contemporaneos “matéria”, que sao diversamente concebidas pelos intelectuais e liderangas acorianas, pelos padres da Igreja Catdlica e pelos devotos. Do ponte de vista dos devotos, a coroa, a bandeira, as comidas, 08 abjetos (todo esse conjunto de bens materiais que integram a festa sio0 propriedade das irmandades) séo, de certo modo, manifestagdes do prdprio Espirito Santo. Do ponto de vista dos padres, sao apenas “simbolos” (no sentido de que so matéria e n3o se confundem com 0 espirito). Na visdo dos intelectuais, sao apenas representagées materiais de uma “identidade” e de uma “meméria” étnicas. Sob esta ética, as estruturas materiais que poderiamos classificar como patriménio sie, primeiramente, boas para identificar. As classificagdes dos devotos sio estranhas a tal concepgao de patriménio. Do seu ponto, trata-se fundamentalmente de uma relagio de troca com uma divindade. E, de acordo com essa concepgao total, culindria, objetos, rituais, mitos, espirito, matéria, tudo se mistura. Sabemos do cardter fundador dessas relagdes de troca com os deuses. Segundo Marcel Mauss (1974, p. 63), foi com eles que os seres humanos primeiro estabeleceram relacées de troca, uma vex que eles eram “os verdadeiros proprietarios das coisas ¢ dos bens do mundo”. Como podemos usar adequadamente, em contexts como esses, a categoria patriménio? E posstvel ali, certamente, identificar estruturas espaciais, objetos, alimentos, rezas, mitos, rituais como patriménio. Mas é preciso no naturalizar essa categoria ¢ impor aquele conjunto um significado peculiar e estranho ao ponto de vista native. Hi uma diferenca bésica que reside no modo como € representada a oposi¢ao entre matéria e espitito. Sabemos que a concepgao de uma matéria depurada de qualquer espirito ¢ uma construgao moderna (id., ib., p. 163). O mesmo acontece com um espitito, independentemente de toda ¢ qualquer materialidade. Nao ¢ a partir dessa dicotomia que pensam os devotos. E. necessitio levar em conta esse fato, se quisermos entender a concepgao nativa de patriménio. ( patriménio como categoria de pensamento 27 E possivel preservar uma “graca” recebida? E poss{vel tombar os “sete dons do Espirito Santo”? Certamente nao. Mas é possivel, sim, preservar, por meio de registros e acompanhamento, lugares, objetos, festas, conhecimentos culinarios ete. E nessa diregdo que caminha a noco recente de “patriménio intangivel”, nos recentes discursos brasileiros acerca do patriménio. E curioso, no entanto, o uso dessa nogao para classificar bens tdo tangtveis quanto lugares, festas, espetdculos e alimentos. De certo modo, essa nogao expressa a moderna concepgao antropoldgica de cultura. Segundo ela, a énfase esta nas relages sociais ou mesmo nas relagées simbilicas, mas nao nos objetos e nas técnicas, A categoria eso Nas que assumiu a referida moderna nocdo antropoldgica de “cultura”. Ou, mais precisamente, ao afastamento dessa disciplina, ao longo do século XX, em relagao ao estudo de objetos materiais ¢ técnicas (SctILANGtR, 1998). Nao por acaso, so antropélogos muitos dos que esto a frente daquele projeto de renovagdo ou ampliacio da categoria patriménio. Do ponto de vista dos devotos, o patriménio € pensado nao exatamente como um simbolo de realidades espirituais, nem, necessariamente, como representagoes de uma identidade étnica acoriana. Na verdade, ele é pensado como formas especificas de manifestagao do Divino Espirito Santo. Afinal, os seres humanos usam seus simbolos sobretudo para agit, ¢ ndo somente para se comunicar, O patriménio é usado no apenas para simbolizar, representar ou comunicar: é bom para agir. Essa categoria faz a mediacdo sensivel entre seres humanos e divindades, entre mortos ¢ vivos, entre passado e presente, entre o céu ea terra e entre outras oposigées. Nao existe apenas para representar idéias e valores abstratos e para ser contemplado. O patriménio, de certo modo, constréi, forma as pessoas. Vale sublinhar que esses diversos significados nao se excluem. ‘As mesmas pessoas podem operar ora com um, ora com outro 28 Meméria e patriménio: ensaios contemporaneos significado, como no caso da “coroa do divino”, um elemento extremamente importante desse patriménio. Exposta num muscu, estabelece a mediagao entre os visitantes ¢ a “cultura agoriana”, torna “visivel” essa dimensao do “invisivel” (PomiAN, 1997). Numa irmandade religiosa, circula entre os irmaos, est presente nas festas e ceriménias, nos almogos rituais, manifestando concretamente a presenga do Espirito Santo, fazendo uma mediacio sensivel entre a divindade ¢ seus devotos, No tiltimo contexto, nao se trata de uma simples coroa de prata. No contexto de uma exposicao museoldgica, € um objeto cultural, parte do chamado “patriménio agoriano”, aqui entendido em seu sentido estritamente moderno. A originalidade da contribuigao dos antropélogos a construcao ¢ ao entendimento da categoria patriménio reside, talvez, na ambigiiidade da nogao antropoldgica de cultura, permanentemente exposta as mais diversas concepgdes nativas. Explorando essa direcao de pensamento, é a prépria categoria patriménio que vein a ser pensada etnograficamente, tomando-se como referencia 0 ponto de yista do outro. Pergunta-se: em que medida essa categoria é util para “entender outras culeuras? Em que medida permite entender o universo mental e social de outras populagées? Marcel Mauss (1974, p. 205) dirigia aos antropdlogos a famosa recomendagio: antes de tudo, [¢ necessdrio] formar o maior catélogo possivel de categorias; € preciso partir de codas aquelas das quais é possivel saber que os homens se serviram. Ver-se-4 entéo que ainda existem muitas luas mortas, ou pélidas, ou obscuras no firmamento da razio. Estamos certamente diante de uma dessas categorias. E necessério comparar os diversos contornos semanticos que ela pode e poderd ainda assumir no tempo e no espago. Contudo, no cumprimento dessa tarefa, € importante assinalar que nos situamos num plano distinto das discusses de ordem normativa e programatica sobre © patriménio. Nao poderemos responder qual a melhor opcao em termos de politicas de patriménio. Mas, apontando para a dimensio () patriménio como categoria de pensamento 29 universal dessa nogdo, talvez possamos iluminar as raz6es pelas quais 0s individuos e os grupos, em diferentes culturas, continuem -la. Mais do que um sinal diacritico a diferenciar nasdes, wrupos étnicos ¢ outras coletividades, a categoria patrimdnio, em suas variadas representacGes, parece confundir-se com as diversas formas de autoconsciéncia cultural. Ao que parece, estamos diante de um problema bem mais complexo do que sugerem os debates politicos ¢ ideolégicos sobre © tema do patriménio. Referéncias bibliograficas Currrorp, J. Objects and selves. An afterword, In: Srocxins, G. (org.) Objects and others. Essays on museums and material culture. Madison: The University of Wisconsin Press, 1985. Mamowski, B. Angonaaasdo Pacifico ocidental. Sao Paulo: Abril, 1976. Col. Os Pensadores. Mauss, M. Ensaio sobre a dédiva, Forma e razao da troca em sociedades arcaicas. In: Sociologia e antropologia. 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Rio de Janeiro: DP&A, 2003. 320 ps 14 x 21 em Inclui bibliografia ISBN 85-7490-241-1 1, Patriménio cultural. 2. Memsria social. 3. Identidade Cultural I. Tieulo.

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