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MEDITACOES NO EVANGELHO DE MATEUS J.C. RYLE EDITORA FIEL da MISSAO EVANGELICA LITERARIA MEDITACOES NO EVANGELHO DE MATEUS Traduzido do Original em Inglés: Expository Thoughts on the Gospels MATTHEW Copyright © (Typesetting) Editora Fiel 1991 Segunda edic¢do em portugués - 2002 Todos os direitos reservados. E proibida a reprodugio deste livro, no todo ou em parte, sem a permissao escritas dos Editores. Editora Fiel da Missao Evangélica Literaria Caixa Postal 81 12201-970 Sao José dos Campos - SP Prefacio As Meditagées no Evangelho de Mateus, de J.C.Ryle, tém sido amadas e compartilhadas por varias geragées de crentes, desde sua primeira edigo em 1879, Elas contém uma simplicidade e uma espi- Titualidade que tém feito delas o comentério devocional cléssico sobre os evangelhos, na opiniao de grande mimero de leitores. Procurando pér a disposigao do leitor moderno uma forma mais popular dessa obra, foram removidos os textos bfblicos (antes impres- sos na fntegra), embora 0 leitor seja encorajado a ler cada passagem selecionada do comego ao fim, antes de iniciar a leitura das préprias meditagdes de Ryle. Também omitimos as notas de rodapé, nas quais Ryle tratara a respeito de questées textuais de uma maneira mais critica, embora sem qualquer conexo direta com a exposig&o propriamente dita, O texto usado é 0 da Edicdo Revista e Atualizada no Brasil, da Socie- dade Bfblica do Brasil. Os publicadores confiam que esta nova edigio das meditagdes devocionais de Ryle alcangaré os mesmos alvos e propésitos aos quais © autor se aplicou pessoalmente, a fim de que, ‘‘com uma ora¢ao fervorosa, possa promover a religiaio pura e sem mécula, ampliar 0 co- nhecimento de muitos sobre a pessoa de Jesus Cristo, e ser um humilde instrumento na gloriosa tarefa de converter e de edificar almas imortais’’. Os Publicadores A Genealogia de Cristo Leia Mateus 1.1-17 E com estes versfculos que tem infcio 0 Novo Testamento. Cumpre-nos 1é-los sempre com sérios e solenes sentimentos. O livro A nossa frente nao contém a palavra de homens, e, sim, a propria Pa- lavra de Deus. Cada versfculo foi escrito sob a inspiragéo do Espfrito Santo. Agradecamos diariamente a Deus por haver-nos presenteado as Sagradas Escrituras. O mais pobre brasileiro, que compreenda a sua Biblia, sabe mais sobre assuntos religiosos do que os mais sdbios fil6- sofos da Grécia ou de Roma. Nao nos esquecamos da nossa grande responsabilidade. Seremos todos julgados, no ultimo dia, de acordo com a luz que tivermos re- cebido, Daquele a quem muito foi dado, também muito ser4 requerido. Leiamos nossas Biblias com reveréncia e diligéncia, com a honesta re- solugio de dar crédito e de pér em prética tudo aquilo que delas aprendermos. Nao é coisa de somenos importéncia a maneira como es- tivermos usando esse livro, A vida ou a morte eterna dependem da atitude com que nos utilizarmos dele. Acima de tudo oremos, com toda a hu- mildade, rogando pela iluminagao que nos é dada pelo Espfrito Santo. Somente Ele € capaz de aplicar a verdade aos nossos coracées, permitindo-nos tirar proveito daquilo que ali tivermos lido. O Novo Testamento comega narrando a vida, a morte e a res- surreigio de nosso Senhor Jesus Cristo. Nenhuma outra porcao da Biblia € tio importante quanto essa, e nenhuma outra parte dela é tao plena e completa. Quatro evangelhos distintos contam a histéria dos feitos de Jesus Cristo e da sua morte. Por quatro vezes em seguida lemos as preciosas narrativas de suas realizacGes e de suas palavras. Quo agra- decidos nos deverfamos mostrar por causa disso! Conhecer a Cristo é ter a vida eterna. Confiar em Cristo é desfrutar de paz com Deus. Se- guir os passos de Cristo é ser um crente verdadeiro. Estar com Cristo ser o proprio céu. Ninguém pode ouvir falar demais sobre Jesus Cristo. O evangelho de Mateus principia com uma longa lista de nomes. 6 Mateus 1.1-17 Dezesseis versfculos ocupam-se com a genealogia desde Abraio até Davi, e desde Davi até a famflia na qual nasceu o Senhor Jesus. Que ninguém imagine que estes versfculos s&o imiteis. Em toda a criaciio de Deus, coisa alguma é imttil. Tanto 0 musgo mais insignificante quanto os mMenores insetos servem a alguma boa finalidade. Por igual modo, coisa alguma é initil na Biblia Sagrada. Cada palavra dela foi outorgada por inspiragéo divina. Os capitulos e versiculos que, & primeira vista, pa- recem destitufdos de proveito, foram todos dados com algum bom propésito, Examine novamente aqueles dezesseis versiculos e encontraré neles muitas ligdes tteis e instrutivas. Com base nesta lista de nomes, aprenda o fato que Deus sempre cumpre a sua Palavra, Deus havia prometido que na descendéncia de Abrafio todas as famflias da terra seriam abencoadas. Deus havia pro- metido levantar um Salvador, dentre os descendentes de Davi (Gn 12.3; Is 11.1). Estes dezesseis versfculos, por conseguinte, provam que Jesus era o filho de Davi e 0 filho de Abrafio, e que aquela promessa de Deus teve o seu devido cumprimento. Pessoas {mpias, que ndo meditam nas coisas, deveriam relembrar essa ligéo, e temer. Sem importar 0 que elas pensem, Deus haveré de cumprir a sua Palavra. Se nao se arre- penderem, certamente perecerfio. Aqueles que sao crentes auténticos deveriam relembrar essa lig&o, consolando-se nela. Seu Pai celestial mostrar-se-4 fiel a todos os seus compromissos. Ele asseverou que sal- vardé a todos os que confiarem em Cristo. Ora, se Ele afirmou isso, entéo certamente cumprirdé a sua Palavra. ‘‘Deus nfo é homem, para que minta’’ (Nm 23.19). ‘‘Ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo’’ (2 Tm 2.13). Em seguida, com base nesta mesma lista de nomes, podemos aprender muito sobre a pecaminosidade e a corrup¢do da natureza hu- mana, Observemos quantos pais piedosos, nesta lista de nomes, tiveram filhos fmpios e infquos. Os nomes de Robodo e Jorio, de Amom e Je- conias, deveriam ensinar-nos ligdes humilhantes. Esses quatro tiveram pais piedosos. No entanto, eles mesmos foram homens malignos. A graca de Deus nfo é hereditdria. E preciso algo mais do que apenas bom exemplo e bons conselhos, para que alguém se torne filho de Deus. Aqueles que nascem do alto nfo nascem nem ‘‘do sangue, nem da von- tade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus’’ (Jo 1.13). Os pais dedicados a oraco deveriam orar, dia e noite, para que os seus filhos nasgam do Espirito. Aprenda, finalmente, com base nesta lista de nomes, qudo grande éa misericérdia e a compaixdo de nosso Senhor Jesus Cristo. Medite sobre quaéo contaminada e impura é a nossa natureza; e ent@o pense sobre a condescendéncia de Cristo, por haver nascido de mulher e ter- Mateus 1.1-17 7 ~se feito ‘em semelhanga de homens’’ (Fp 2.7). Alguns dos nomes so- bre os quais lemos nesta lista fazem-nos lembrar histérias tristes ¢ vergonhosas. Alguns so de pessoas nunca mencionadas em qualquer outra porgao das Escrituras. Porém, no fim da lista toda figura o nome do Senhor Jesus Cristo. Embora Ele seja 0 Deus eterno, humilhou-se ao tornar-se um ser humano, com a finalidade de prover a salvagio aos pecadores. Jesus Cristo ‘‘sendo rico, se fez pobre por amor de vés’’ (2 Co 8.9). Deverfamos ler esta relaco de nomes com um sentimento de gra- tidfio. Vemos ali que nenhum daqueles que compartilham da natureza humana pode estar fora do alcance da simpatia e da compaixiio de Cristo. Os nossos pecados talvez tenham sido tao negros e graves como os pe- cados de algumas pessoas mencionadas pelo apéstolo Mateus. Entretanto, tais pecados nao podem fechar o céu para nés, se nos arrependermos e confiarmos no evangelho. Se Jesus nfo se envergonhou por nascer de uma mulher cuja arvore genealégica continha nomes como de alguns daqueles sobre quem pudemos ler hoje, entéo certamente nao devemos pensar que Ele haveria de envergonhar-se por chamar-nos irmaos e conferir-nos a vida eterna. A Encarnagio e 0 Nome de Cristo Leta Mateus 1.18-25 Estes versfculos comecam revelando-nos duas grandes verdades. Eles nos informam como o Senhor Jesus Cristo assumiu a nossa natu- Teza ao tornar-se homem. Também nos informam que o nascimento dEle foi miraculoso. Sua mae, Maria, era virgem. Esses so assuntos extremamente misteriosos. Sdo profundezas para as quais nado h4 sondagem que as possam medir. Sao verdades que nenhuma mente humana é abrangente o bastante para as entender. Nao procuremos explicar coisas que esto acima da nossa débil razao. Contentemo-nos em crer com reveréncia, sem especular sobre quest6es que nao somos capazes de entender. Para nés, crentes, é suficiente sa- ber que para Aquele que criou o mundo nada é impossfvel. Antes, devemo-nos satisfazer com a declarag&o constante no credo dos apés- tolos: ‘Jesus Cristo foi concebido pelo Espfrito Santo e nasceu da virgem Maria’’, Observemos a conduta de José, descrita nestes versfculos. Trata- -se de um belo exemplo de piedosa sabedoria e de terna consideracao pelo préximo. Ele viu ‘‘a aparéncia de mal’’ naquela que estava com- 8 Mateus 1.18-25 prometida a casar-se com ele. Entretanto, José nada fez de precipitado. Esperou pacientemente até perceber como lhe convinha agir, de acordo com seu dever. Com toda a probabilidade, ele deixou a questio aos cuidados de Deus, em oragao. ‘‘Aquele que crer, nao foge’’ (Is 28.16). A paciéncia de José foi graciosamente recompensada. Ele rece- beu uma mensagem direta, da parte de Deus, sobre a razio da sua ansiedade e, de uma vez para sempre, foi aliviado de todos os seus te- mores. Quao bom é esperar em Deus! Quem, de todo 0 coragao, deixou Os seus temores aos cuidados do Senhor em oracfo, para entio vé-lo falhar? ‘‘Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitaré as tuas veredas’”’ (Pv 3.6). Notemos os dois nomes conferidos a nosso Senhor, nestes ver- sfculos. Um deles é Jesus, 0 outro é Emanuel. O primeiro desses nomes descreve o seu oficio, o segundo, a sua natureza. Ambos sido profun- damente interessantes. O nome Jesus significa ‘‘Salvador’’. Trata-se do mesmo nome Josué, que aparece no Antigo Testamento. Foi dado a nosso Senhor porque ‘“‘ele salvard o seu povo dos pecados deles’’. Esse € 0 oficio especial do Senhor Jesus. Ble nos salva da nossa culpa do pecado, lavando-nos a alma em Seu préprio sangue expiatério. Ele nos salva do dominio do pecado ao conferir-nos, no préprio coragao, o Espirito santificador. Ele nos salva da presenga do pecado quando nos tira deste mundo, para irmos descansar com Ele. E, finalmente, Ele nos salva das conseqiléncias do pecado ao nos proporcionar um glorioso corpo ressurreto, no tiltimo dia. O povo de Cristo € bendito e santo! Eles nao sao salvos das tristezas, da cruz e dos conflitos. Porém, sdo salvos do pecado, para todo o sempre. Sao purificados da culpa, mediante o san- gue de Cristo. Sao habilitados para o céu mediante o Espirito de Cristo. Nisso consiste a salvacao. Mas, aquele que se apega ao pecado, ainda nio € salvo. Jesus €é um nome que infunde muita coragem aos que vivem so- brecarregados de pecados. Aquele que € 0 Rei dos reis e o Senhor dos senhores, poderia ter-se feito conhecido, com toda a legitimidade, por algum titulo mais pomposo. Contudo, nao quis fazé-lo. Os dirigentes deste mundo com freqiiéncia se tem chamado por tftulos como ‘‘grande’’, “‘conquistador’’, ‘‘herdi’’, ‘‘magn{ffico’’ e outros semelhantes. Mas o Filho de Deus contentou-se em chamar-se de ‘‘Salvador’’. As almas que desejarem a salvacdo podem achegar-se ao Pai, com ousadia, tendo acesso por meio de Jesus Cristo, com toda a confianga. Esse € 0 seu oficio, e nisso Ele se deleita — mostrar-se misericordioso. ‘‘Porquanto Deus enviou 0 seu Filho ao mundo, nao para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele’’ (Jo 3.17). Mateus 1.18-25 9 Jesus 6 um nome peculiarmente doce e precioso para aqueles que sao crentes. Com freqiiéncia, esse nome os tem beneficiado, quando © favor de reis e de principes teria sido ouvido por eles com pouco in- teresse. Esse nome tem-lhes dado a paz interior que o dinheiro no pode comprar, Esse nome lhes tem aliviado as consciéncias pesadas, confe- rindo descanso a seus coragGes entristecidos. O livro de Cantares de Salomio refere-se & experiéncia de muitos crentes, ao asseverar: ‘‘como ungiiento derramado é o teu nome’’ (Ct 1.3). Feliz € a pessoa que con- fia nfo meramente em vagas nogées a respeito da misericérdia e da bondade de Deus, mas no préprio ‘‘Jesus’’. O outro nome, que aparece nestes versiculos, de maneira alguma € menos interessante do que aquele que j4 destacamos. Esse é 0 nome conferido a nosso Senhor em vista da sua natureza, como ‘‘Deus que se manifestou em carne’’. Ele é chamado de Emanuel, ou seja, ‘‘Deus conosco’’, Devemos cuidar para que sejam bem claras as nogdes que formamos sobre @ natureza e a pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Esse é um ponto que se reveste da mais capital importincia. Deverfamos ter bem claro, em nossas mentes, que nosso Senhor é perfeito Deus tanto quanto perfeito homem. Se chegamos a perder de vista esse fun- damento da verdade, poderemos cair vitimas de temiveis heresias. O nome ‘‘Emanuel’’, pois, € que se reveste de todo o mistério que o cir- cunda. Jesus é 0 ‘‘Deus conosco”’. Ele assumiu a natureza humana igual & nossa, em todas as coisas, excetuando somente a tendéncia para o pecado, Mas, embora Jesus estivesse ‘‘conosco’’ em carne e sangue humanos, ao mesmo tempo Ele nunca deixou de ser 0 verdadeiro Deus, Quando lemos os evangelhos, por muitas vezes descobrimos que nosso Senhor era capaz de ficar cansado, de padecer fome e sede, como também podia chorar, gemer e sentir dor como qualquer um de nds. Em tudo isso podemos ver ‘‘o homem”’ Jesus Cristo. Percebemos a natureza humana que Ele tomou para Si mesmo ao nascer da virgem Maria, Entretanto, nesses mesmos quatro evangelhos, descobriremos que nosso Salvador conhecia os coracdes e os pensamentos dos homens, exercia autoridade sobre os deménios, podia fazer os mais espantosos milagres apenas com uma palavra, era servido pelos anjos, permitiu que um dos seus discfpulos O chamasse de ‘‘Deus meu’’ e, igualmente, disse: ‘‘Antes que Abraao existisse, eu sou’’ (Jo 8.58). E também: ‘‘Eu € 0 Pai somos um’’ (Jo 10.30). Em tudo isso, vemos ‘‘o Deus eterno’’. Vemos aquele que ‘‘é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém’’ (Rm 9.5), Vocé deseja dispor de um seguro fundamento para a sua fé e es- peranga? Nesse caso, jamais perca de vista a divindade do seu Salvador. 10 Mateus 1,18-25 Aquele em cujo sangue vocé foi ensinado a confiar € 0 Deus todo- -poderoso. Toda a autoridade foi dada a Jesus Cristo, no céu e na terra. Ninguém poder4 arrancar vocé da mao dEle. Se vocé é um verdadeiro crente em Jesus, nao permita que 0 seu coragdo se perturbe e atemorize. Vocé deseja contar com um doce consolo nas ocasides de sofri- mento e¢ tribulagéo? Nesse caso, nunca perca de vista a humanidade do seu Salvador. Ele € 0 ser humano Jesus Cristo, que se deitou nos bragos da virgem Maria quando era um pequenino infante, e que co- nhece os coragdes humanos. Ele deixa-se sensibilizar pelo senso das nossas fraquezas. Ele experimentou, pessoalmente, as tentagdes langa- das por Satands. Ele precisou enfrentar a fome. Ele derramou l4grimas. Ele sentiu dor. Confie nEle 0 tempo todo, em todas as suas aflicdes. Ele nunca haveré de desprez4-lo. Derrame diante dEle, em oragio, tudo quanto estiver em seu ser, e nada Lhe oculte. Ele é capaz de simpatizar profundamente com 0 seu povo. Que estes pensamentos se aprofundem em nossas mentes. Ben- digamos a Deus pelas encorajadoras verdades contidas no primeiro capitulo do Novo Testamento, Esse capitulo nos fala de Alguém que salva ‘‘o seu povo dos pecados deles’’. Porém, isso ainda nao é tudo. Esse capitulo revela-nos que o Salvador é 0 ‘‘Emanuel’’, o préprio Deus conosco; Deus manifesto em carne humana, idéntica 4 nossa. Essas sio boas novas. Sao auténticas boas novas. Alimentemos os nossos coragdes com essas verdades, por meio da fé, juntamente com agGes de gracas. Os Sébios do Oriente Leia Mateus 2, 1-12 Ninguém sabe dizer quem foram esses ‘‘magos’’. Os seus nomes eo seu pafs de origem nos foram ocultados. Somos informados somente que eles vieram ‘‘do oriente’’. N§o sabemos dizer se eles eram caldeus ou drabes. Também nao sabemos dizer se eles aprenderam a esperar o Cristo, informados por pessoas das dez tribos de Israel que foram para o cativeiro assfrio, ou por causa das profecias de Daniel. Todavia, pouco importa saber quem foram eles. A quest&o que nos interessa mais sao as riquissimas instrugdes que recebemos através do relato biblico sobre eles. Estes versfculos demonstram que pode haver verdadeiros servos de Deus nos lugares onde menos esperamos encontrd-los. O Senhor Jesus conta com muitos servos ‘‘secretos’’, como aqueles sdbios anti- gos, A histéria deles sobre a terra talvez seja tao pouco conhecida como Mateus 2.1-12 11 a histéria de Melquisedeque, de Jetro ou de J6. Nao obstante, os seus nomes esto inscritos no livro da vida, e eles seréo encontrados na com- panhia de Jesus Cristo, por ocasiao de seu glorioso retorno. Farfamos bem em nao esquecer isso. N&éo devemos olhar ao redor da terra, para ent&o dizermos, precipitadamente: ‘‘Tudo é esterilidade’’. A graga di- vina nao se limita a lugares e a familias. O Espirito Santo pode conduzir almas aos pés de Cristo, sem a ajuda de muitos meios externos. Os ho- mens podem nascer em lugares distantes, como sucedeu aqueles sdbios; e, no entanto, eles podem tornar-se ‘‘sdbios para a salvagéo’’. Neste exato instante, hé alguns que estio na jornada para o céu, e a respeito dos quais a igreja e o mundo nada sabem. Eles vicejam em lugares se- cretos, como os lfrios que crescem entre os espinhos e ‘‘desperdigam a sua fragrancia no ar do deserto’’. Porém, Cristo ama-os, e eles amam a Cristo. Estes versiculos também nos ensinam que nem sempre sdo aque- les que desfrutam dos maiores privilégios religiosos que mais honram a Cristo. Poderfamos mesmo pensar que os escribas e os fariseus es- tariam entre os primeiros que se apressariam a ir a Belém, assim que se espalhou o rumor do nascimento do Salvador. Porém, nao foi isso que sucedeu. Alguns poucos estrangeiros, vindos de alguma terra longin- qua, foram os primeiros, se nfo quisermos mencionar os pastores referidos por Lucas, a se regozijarem ante 0 nascimento do menino Je- sus. ‘*Veio para 0 que era seu, € oS seus ndo o receberam’’ (Jo 1.11). Quo lamentével retrato da natureza humana temos af! Com quanta fre- qiiéncia essa mesma atitude pode ser vista entre n6s mesmos! Com quanta freqiiéncia as préprias pessoas que vivem mais perto dos meios da graca divina sao justamente aquelas que mais os negligenciam! Hé uma pro- funda verdade, contida naquele antigo provérbio, que afirma: ‘Quanto mais perto da igreja, tanto mais longe de Deus!’ A familiaridade com as realidades sagradas reveste-se de uma horrfvel tendéncia que leva os homens a desprezarem-nas. Existem muitas pessoas que, por razdes de residéncia e de conveniéncia, deveriam ser as primeiras e as mais empenhadas na adoracdo ao Senhor Deus. E, no entanto, séo sempre os tltimos a fazé-lo. Por outro lado, ha aqueles que esperarfamos que fossem os tiltimos, mas que séo sempre os primeiros. Estes versiculos ensinam-nos que pode haver um conhecimento meramente intelectual das Escrituras, sem o acompanhamento da graga divina no coragao. Observe como o rei Herodes indagou dos sacerdotes dos anciaios dos judeus acerca de ‘‘onde o Cristo deveria nascer’’, Note também com que prontidio eles Ihe deram a resposta, mostrando que estavam perfeitamente familiarizados com o teor das Sagradas Es- crituras, Entretanto, eles mesmos nunca foram a Belém, em busca do 12 Mateus 2. 1-12 Salvador que estava para nascer. Também nao quiseram acreditar nEle, quando Ele comecou a ministrar entre o povo. Portanto, seus coragdes nao estavam téo despertos quanto a sua inteligéncia, Cuidemos para nunca nos satisfazermos somente com um conhecimento mental. Esse conhecimento é excelente, quando usado de forma correta. Nao obstante, uma pessoa pode ser possuidora de um profundo conhecimento intelec- tual e, no entanto, perecer para sempre. Qual é o estado dos nossos coragdes? Essa é a questo que realmente importa. Um pouco de graca € melhor do que muitos dotes, que por si s6 nfo salvam a ninguém. Mas, a graca divina nos conduz a gléria. A conduta dos magos, descrita neste capitulo, serve-nos de es- pléndido exemplo de diligéncia espiritual. Quantas inconveniéncias e canseiras devem ter-Ihes custado a viagem, desde a sua patria distante até a casa onde o menino Jesus foi encontrado por eles! Quantos qui- l6metros cansativos devem ter percorrido! As fadigas das viagens, no antigo Oriente, eram muito maiores do que nés, da moderna civilizagao, podemos compreender. O tempo que se perdia em uma viagem sem diivida era muito mais dilatado do que acontece em nossos dias. Os perigos encontrados nao eram poucos e nem pequenos. Nenhuma des- sas coisas, entretanto, fez os magos desistirem. Eles resolveram, em seus coracdes, que veriam aquele que nascera para ser 0 ‘‘Rei dos ju- deus”. E nao descansaram senfo quando O acharam. Assim, demonstraram que aquele ad4gio popular encerra uma grande verdade: “Sempre que houver boa vontade, seré descoberto o caminho’’. Quem dera que todos os crentes professos estivessem mais dis- postos a seguir o bom exemplo dos magos. Onde est4 a nossa abnegacao? De que maneira nos temos preocupado com as nossas préprias almas? Quanta diligéncia temos mostrado em seguirmos a Cristo? O que nos tem custado a nossa religiio? Essas so indagagdes serissimas que me- recem a nossa mais séria consideracao. Em tltimo lugar, embora nao menos importante, a conduta dos magos serviu de um notdvel exemplo de fé. Eles confiaram em Cristo, ainda que nunca O tivessem visto. Mas, isso nao foi tudo. Creram nEle mesmo depois que os escribas e os fariseus demonstraram a sua incre- dulidade, Porém, nem mesmo isso foi tudo. Confiaram nEle quando O viram como um pequeno menino, nos joelhos de Maria; e adoraram- -No como a um rei. Esse foi o ponto culminante da sua fé. Nao contemplaram a qualquer milagre que pudesse convencé-los. Nao ou- viram a qualquer ensino que tentasse persuadi-los. Nao foram testemunhas de algum sinal de divindade ou de grandiosidade que os deixasse atOnitos. A ninguém mais viram sendo a um menino ainda pe- queno, fraco e impotente, necessitado dos cuidados maternos como Mateus 2, 1-12 13 qualquer um de nés. A despeito disso, quando viram aquele Menino, creram estar diante do divino Salvador do mundo. E, ‘‘prostrando-se, 0 adoraram’’. Em todas as Escrituras, nfo encontramos fé mais robusta do que a dos magos. A sua fé merece ser considerada no mesmo nfvel de fé do ladrao penitente. Este viu a morte de alguém que fora crucificado como se fosse um malfeitor; mas, a despeito disso, dirigiu-lhe o seu apelo, chamando-O de ‘‘Senhor’’. Os magos viram um menino ainda pequeno, no colo de uma mulher pobre; mas, n&o obstante, O adora- ram, confessando ser Ele o Cristo, Verdadeiramente bem-aventurados so aqueles que podem confiar dessa maneira! Lembremo-nos de que essa € a espécie de fé que Deus deleita-se em honrar. Podemos encontrar provas disso todos os dias. Onde quer que a Bfblia Sagrada seja lida, a conduta daqueles magos torna-se co- nhecida, sendo relatada em meméria deles. Sigamos as suas pegadas de fé. N&o nos envergonhemos de confiar em Jesus e de confessar-nos seus seguidores, mesmo que todas as pessoas ao nosso redor perma- negam na indiferenca e na incredulidade. Nao dispomos nés de mil evidéncias mais do que os magos dispuseram, para que creiamos que Jesus € o Cristo? Nao h4 divida que temos. No entanto, onde est4 a nossa f€é? A Fuga Para o Egito e a Residéncia em Nazaré Leia Mateus 2.13-23 Observe, nesta passagem da Biblia, quao verdadeiro € 0 fato que os governantes deste mundo raramente mostram-se amigdveis para com a causa de Deus. O Senhor Jesus desceu do céu a fim de salvar os pe- cadores e, logo em seguida, conforme somos informados, o rei Herodes pés-se a ‘‘procurar o menino para o matar’’. A grandeza pessoal e as riquezas materiais servem de perigosa possesso para a alma. Aqueles que as buscam nao sabem o que estdo procurando. Essas coisas precipitam os homens em muitas tentagdes. Elas so favordveis para encher o cora¢ao humano de orgulho, agrilho- ando as afeigdes dos homens as coisas terrenas. ‘‘Nao foram chamados muitos sdbios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento”’ (1 Co 1.26). ‘‘Quao dificilmente entrarao no reino de Deus os que tém riquezas’’ (Le 18.24). Vocé tem invejado aos ricos ¢ aos importantes? Vocé tem dito 14 Mateus 2.13-23 em seu coracio: ‘“‘Oxald eu estivesse no lugar deles, com a posicao e as riquezas que eles possuem?’’ Cuidado para no ceder diante desse tipo de sentimento. As préprias riquezas materiais que vocé tanto ad- mira podem estar fazendo afundar no inferno, gradualmente, aos seus possuidores. Um pouco mais de dinheiro poderia decretar a sua rufna. Vocé poderia acabar caindo em todo excesso de crueldade e de iniqiii- dades, & semelhanca de Herodes. Por isso, ‘‘tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza’’ (Lc 12.15). ‘‘Contentai-vos com as cousas que tendes’”’ (Hb 13.5). Pensa vocé, por acaso, que a causa de Cristo depende do poder e do patrocinio dos principes? Vocé est4 enganado. Eles raramente tém feito qualquer coisa que realmente contribua para o avanco do cristia- nismo. Com muito maior freqiiéncia, eles tém-se mostrado inimigos da verdade. ‘‘Nao confieis em principes, nem nos filhos dos homens, em quem nao h4 salvacio’’ (SI 146.3). Muitas pessoas existem cujas atitudes parecem-se com as de Herodes. Sio poucos como o rei Josias, ou como Eduardo VI da Inglaterra, os quais procuraram fomentar a causa da religiio. Observemos como o Senhor Jesus fol um ‘“‘homem de dores’’, desde a mais tenra infancia. As tribulagdes vinham ao seu encontro, desde que Ele entrou neste mundo. Sua vida correu perigo, devido ao medo e & ira de Herodes. José e a mae de Jesus tiveram de levé-Lo para bem longe, a noite. Foi assim que eles fugiram ‘‘para o Egito’’. Porém, isso serviu somente de tipo e figura simbdlica de toda a expe- riéncia de Jesus neste mundo. As ondas da humilhagio comegaram a bater contra Ele, desde que ainda era um nené que se amamentava. O Senhor Jesus é precisamente o Salvador de que necessitam aque- les que padecem e vivem na tristeza. Ele sabe muito bem 0 que queremos dizer, quando Lhe contamos, em oraco, as nossas tribulagdes. Ele € perfeitamente capaz de simpatizar conosco quando, sofrendo debaixo de alguma cruel perseguicéo, clamamos a Ele. Nao devemos esconder dEle coisa alguma. Devemos fazer dEle um amigo intimo. Derrame- mos diante de Jesus os gemidos de nossos coracées. Ele tem grande experiéncia pessoal com as afligdes. Observemos como a morte pode remover deste mundo os reis, como a quaisquer outros homens. Quando soa a hora de sua partida, os dirigentes de milhdes de criaturas humanas nfo s&o capazes de per- manecer em vida. O assassino de criancgas impotentes precisa enfrentar a morte. Portanto, José e Maria acabaram recebendo a noticia de que Herodes ja havia falecido. Imediatamente regressaram com toda a se- guranga para a sua terra natal. Os crentes verdadeiros nunca deveriam deixar-se perturbar em Mateus 2. 13-23 15 demasia, diante das perseguicdes que Ihes movem os homens. Os cren- tes podem ser fracos, e seus inimigos poderosos; mas, apesar disso, no deveriam mostrar-se medrosos. Antes, deveriam relembrar 0 fato que ‘‘o jtibilo dos perversos é breve, ¢ a alegria dos fmpios momentanea”’ (J6 20.5). Que sucedeu aos Faraés, aos Neros e aos Dioclecianos que em sua época perseguiram ferozmente aos servos de Deus? Onde esto alguns perseguidores mais recentes, como a sanguindria Maria da In- glaterra ou como Carlos IX da Franca? Esses fizeram o m4ximo ao seu alcance para lancar a divina verdade por terra. Mas a verdade tornou a brotar, e continua vivendo; enquanto que os perseguidores esto mor- tos € os seus corpos j4 se dissolveram no solo. Por conseguinte, que nao desmaie nenhum cora¢io crente. A morte é uma poderosa nivela- dora de todos os homens, podendo retirar qualquer montanha do caminho da igreja de Cristo. ‘‘O Senhor vive para sempre.’’ Os seus inimigos sio meros homens. A verdade sempre haverd de prevalecer. Notemos, em ultimo lugar, qudo grande ligdo de humildade nos é ensinada por meio do lugar onde residiu o Filho de Deus, quando Ele esteve neste mundo. Ele vivia com sua me e com José, em uma cidade chamada ‘‘Nazaré’’. Nazaré era uma pequena aldeia da Galiléia. Uma localidade obscura e remota, que nfo é mencionada no Antigo Testamento nem por uma tnica vez. Hebrom, Silo, Gibeom e Betel eram cidades muito mais importantes. Nao obstante, o Senhor Jesus preteriu a todas elas, preferindo viver em Nazaré. Ele fez isso por hu- mildade. Em Nazaré, 0 Senhor Jesus habitou pelo espago de trinta anos. Foi ali que passou da infancia para a meninice, da meninice para a adoles- céncia, até atingir a idade adulta. Pouco sabemos acerca de como Jesus passou aqueles trinta anos. Somos expressamente informados, entretanto, de que Jesus, ao descer para Nazaré em companhia de Maria e de José, “‘era-lhes submisso’’. Que Ele trabalhava em companhia de José, na carpintaria, também € algo altamente provavel. Tao somente podemos adiantar que cerca de cinco-sextos dos anus que nosso Salvador esteve na terra foram passados entre os pobres deste mundo, em um retiro quase absoluto. Na verdade, isso Ele fez por pura humildade. Aprendamos a ser sébios, por intermédio do exemplo deixado por nosso Salvador. Sempre nos mostramos por demais inclinados a buscar coisas grandiosas neste mundo. Descontinuemos essa pratica. Obter uma boa posi¢ao profissional, um tftulo e uma elevada posicao social n&o s&o coisas tao importantes como pensa a maioria das pessoas. De fato, constitui um grave pecado ser cobicoso, mundano, orgulhoso e dotado de mentalidade carnal. Todavia, nao é pecado ser pobre. Nao importa tanto onde residimos, e, sim, 0 que somos aos olhos do Se- 16 Mateus 2, 13-23 nhor, Para onde estaremos indo, quando morrermos? Viveremos para sempre nos céus? Essas sfio as coisas dotadas de peso real, as quais deverfamos dar atencio. Acima de tudo, porém, esforcemo-nos por imitar a humildade demonstrada por nosso Salvador. O orgulho é 0 mais antigo e o mais disseminado dos pecados. A humildade é a mais rara e bela de todas as virtudes. Esforcemo-nos por ser humildes. O nosso conhecimento pode ser insuficiente. A nossa f€ pode ser fraca. As nossas forcas po- dem ser pequenas. Entretanto, se formos bons discfpulos dAquele que veio residir em Nazaré, entio, seja como for, seremos humildes. O Ministério de Joao Batista Leia Mateus 3.1-12 Estes doze versiculos descrevem 0 ministério de Joao Batista, © precursor de nosso Senhor Jesus Cristo. Este é um ministério que merece a nossa Cuidadosa atencao. Poucos pregadores tém obtido tao notdveis resultados quanto ele. ‘‘Safam a ter com ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a circunvizinhanga do Jordio’’, conforme lemos em Ma- teus 3.5, Nenhum outro pregador jamais recebeu tao grandes elogios da parte do Cabeca da igreja. Jesus chamou Jojo Batista de ‘‘a lampada que ardia e alumiava”’ (Jo 5.35). O grande Supervisor das nossas almas declarou pessoalmente: ‘‘Entre os nascidos de mulher, ninguém apa- receu maior do que Joao Batista’ (Mt 11.11). Por conseguinte, estudemos as principais caracterfsticas do ministério dele. Joao Batista falava com clareza a respeito do pecado. Ensinava a absoluta necessidade de ‘‘arrependimento”’, antes que alguém possa ser salvo. Ele anunciava que o arrependimento precisa ser comprovado através dos seus ‘‘frutos’’. Advertia aos homens que nunca dependes- sem de meros privilégios externos ou da uniao externa com alguma igreja ou religiao. precisamente esse o ensinamento de que todos carecemos, Es- tamos naturalmente mortos, somos cegos e dormimos no tocante as realidades espirituais. Contentamo-nos com uma religiio meramente formal, lisonjeando-nos a nés mesmos com a idéia de que, se freqiien- tarmos alguma igreja seremos salvos. £ mister que alguém nos diga que, a menos que nos arrependamos e nos convertamos, todos perece- remos. Joao Batista também falou com clareza a respeito de nosso Se- nhor Jesus Cristo. Ele ensinou ao povo que Alguém ‘‘mais poderoso’’ Mateus 3.1-12 17 do que ele apareceria em breve, entre eles. Joo Batista nfo passava de um servo; mas Aquele que viria era o préprio Rei. Joao Batista sé podia batizar ‘em 4gua’’; porém, Aquele que viria apés Jodo batizaria “‘no Espirito Santo ¢ no fogo’’, além disso tiraria pecados e, algum dia, haveria de voltar para julgar ao mundo. Novamente, esse € um ensinamento do qual a natureza humana tanto precisa. Precisamos ser enviados diretamente a Jesus Cristo. No entanto, estamos sempre inclinados a parar muito aquém desse alvo. Queremos descansar nos vinculos com as nossas igrejas locais, gozando regularmente os beneficios do ministério oficial. No entanto, deverfa- mos entender a absoluta necessidade de estarmos unidos ao préprio Cristo, mediante a fé. Ele ¢ a fonte designada por Deus, onde encon- tramos a misericérdia, a graga, a vida e a paz. Cada um de nés precisa estabelecer um relacionamento pessoal com Ele a respeito de nossa alma. O que sabemos acerca do Senhor Jesus? O que ja obtivemos da parte dEle? E de questdes dessa ordem que depende a nossa salvacdo eterna. Jo&o Batista manifestou-se claramente a respeito do Esptrito Santo. Ele pregou, asseverando que existe tal coisa como o batismo no Espfrito Santo. E ensinou que o officio especial do Senhor Jesus é conferir o Espirito aos homens. Uma vez mais, esse € um ensinamento de que muito precisamos. Devemos compreender que 0 perdao dos pecados nfo € a tinica coisa necessdria a salvagaéo da alma. Ainda hd uma outra coisa, a saber, 0 batismo de nossos coragées por parte do Espirito Santo, Nao somente precisa haver a operagdo de Cristo em nosso favor, mes também deve haver a atuacdo do Espfrito Santo em nds. Nao somente devemos ter 0 direito de entrar no céu, mediante o sangue vertido por Cristo, mas também devemos ser preparados para o céu, por intermédio da atuagéo do Espirito de Cristo. Jamais devemos descansar, enquanto nao tiver- mos experimentado algo da experiéncia do batismo no Espirito Santo. O batismo em Agua é um grande privilégio nosso, Contudo, também devemos procurar desfrutar do batismo no Espirito Santo. Joao Batista falou claramente sobre o tremendo perigo que cor- rem os impenitentes e os incréduios. Advertiu aos que 0 ouviam que todos deveriam aguardar a ‘‘ira vindoura’’. Pregou sobre um ‘‘fogo inextingufvel’’, onde a palha, algum dia, ficard queimando eternamente. Novamente, esse é um ensino biblico tremendamente importante. Todos precisamos ser claramente advertidos de que essa néo é uma quest&o deStituida de importancia, como se nos pudéssemos arrepender ou nado, Pelo contrario, precisamos relembrar que existem tanto o in- ferno quanto o céu, e que a punig&o eterna espera pelos impios, da mesma maneira que a vida eterna destina-se aos piedosos. Somos incrivelmente 18 Mateus 3.1-12 inclinados a nos esquecer disso. Falamos sobre o amor e sobre a mi- sericérdia de Deus, mas nao destacamos de maneira suficiente a sua justica e a sua santidade. Devemos usar de grande cautela quanto a esse particular. Nao constitui gentileza auténtica disfargar, diante das outras pessoas, os terrores do Senhor. & bom que todos nés saibamos que & possivel as pessoas perderem-se eternamente, e que todos os que nao querem converter-se esto a beira do abismo. Em ultimo lugar, Joao Batista referiu-se claramente 4 seguranca de que desfrutam os crentes auténticos. Ele ensinou que existe um ce- leiro onde serao recolhidos todos aqueles que pertencem a Jesus Cristo, como 0 seu trigo, e que esses serao reunidos ali, quando o Senhor Jesus vier pela segunda vez. De novo, esse é um ensino de que a natureza humana precisa desesperadamente. Os melhores crentes carecem de muito encoraja- mento. Eles continuam vivendo em seu corpo, Vivem em um mundo caracterizado pela impiedade. Com freqiiéncia, so tentados pelo diabo. De vez em quando, é mister que a meméria deles seja despertada para © fato que Jesus nunca os deixaré e nem os abandonard. Ele havera de conduzi-los, com toda a seguranga, nesta vida, e, finalmente, haver4 de encaminhé-los a gloria eterna. Eles sero protegidos no dia da ira do Senhor. Estarfo tao seguros quanto Noé esteve na arca. Que todas essas verdades lancem profundas rafzes em nossos coragdes. Vivemos em uma época em que os falsos ensinos vém & tona por todos os lados. Nunca nos deverfamos esquecer das principais ca- racterfsticas de um ministério evangélico fiel. Quao grande seria a felicidade da igreja de Cristo se todos os seus ministros se parecessem mais com Joao Batista! O Batismo de Cristo Leia Mateus 3.13-17 Temos aqui a narrativa do batismo de nosso Senhor Jesus Cristo. Esse foi o primeiro passo, dado por Jesus, quando deu inicio ao seu ministério terreno. Quando um sacerdote judeu comecava a oficiar nessa capacidade, com a idade de trinta anos, lavava-se com 4gua. Quando © nosso grande Sumo Sacerdote iniciou a grandiosa obra que veio re- alizar neste mundo, foi publicamente batizado. Nestes versiculos, aprendamos a considerar com reveréncia a ordenanca crista do batismo. Uma ordenanga da qual 0 préprio Senhor Jesus participou nao pode ser tida como algo de somenos importancia. Mateus 3.13-17 19 Uma ordenanga a qual o grande Cabega da igreja se submeteu, sempre deveria ser honor4vel aos olhos dos verdadeiros crentes. Poucos pormenores da religiao crista tém sido alvo de tantas in- terpretagdes distorcidas quanto o batismo. Poucos desses detalhes tem requerido tanta defesa e esclarecimento. Armemo-nos, portanto, com duas precaugdes de natureza geral. Por uma parte, tenhamos 0 cuidado de ndo atribuir a dgua do batismo qualquer valor supersticioso. Nao podemos supor que a 4gua do batismo opere como se fora um encantamento. Nao podemos espe- rar que todas as pessoas que sao batizadas recebam automaticamente a graca de Deus, no momento do seu batismo. Afirmar que todos quan- tos recebem o batismo obtém um beneficio idéntico e do mesmo nivel, nao importando nem um pouco se recebem a ceriménia com fé e oragdo, ou no mais completo desinteresse — sim, afirmar tais coisas é contra- dizer as mais evidentes ligdes das Escrituras. Por outra parte, devemos ter 0 cuidado de ndo desonrar a or- denanga do batismo. O batismo cristéo € desonrado quando o tiramos de cena, nao permitindo que se evidencie na congregacao local. Uma ordenanga que foi determinada pelo préprio Cristo nao pode ser tratada dessa maneira. A admissio de todos os novos membros a igreja visivel, quer jovens quer adultos, é um acontecimento que deveria suscitar um vivido interesse em qualquer assembléia evangélica. Esse é um evento que deveria invocar as mais fervorosas oragGes da parte de todos os crentes dedicados 4 orago. Quanto mais profundamente convictos fi- carmos de que 0 batismo e a graca divina nao esto sempre ligados um ao outro, tanto mais nos sentiremos impulsionados a orar coletivamente em favor de todos aqueles que forem batizados. O ato do batismo de nosso Senhor Jesus Cristo foi acompanhado por circunstancias que se revestiram de uma solenidade toda peculiar. Um batismo como o dEle jamais ocorrer4 novamente, por mais que dure este mundo. Lemos nas Escrituras acerca da presenca de todas as trés Pes- soas da bendita Trindade. Deus Filho, tendo-se manifestado em carne humana, foi batizado. Deus Espirito Santo desceu sobre a cena sob a forma corpérea de uma pomba, adejando sobre Jesus. E Deus Pai falou do céu, com voz audivel. Em suma, encontramos ali a manifestagio ou presenga do Pai, do Filho e do Espirito Santo. Sem diivida, deve- rfamos considerar esse fato como um antncio piiblico de que a obra de Jesus Cristo era o resultado do conselho eterno de todas as trés Pes- soas divinas. Foram essas trés Pessoas que, no comego da criagdo, disseram: ‘‘Fagamos 0 homem a nossa imagem, conforme a nossa se- melhanca’’ (Gn 1.26). Novamente, foi a Trindade inteira que, quando 20 Mateus 3:13-17 do infcio do evangelho, pareceu dizer: ‘‘Salvemos ao homem’’. Lemos que se fez ouvir ‘‘uma voz dos céus’’, por ocasido do ba- tismo de nosso Senhor. Essa foi uma circunstdncia que se revestiu de singular solenidade, Nenhuma outra voz do céu jamais se fizera ouvir antes disso, exceto por ocasiao da transmissao da lei mosaica, no monte Sinai, Ambas essas ocasides foram marcadas por uma importancia {mpar. Por conseguinte, pareceu conveniente, para o nosso Pai celestial, as- sinalar ambas essas oportunidades com uma honra toda peculiar. Tanto na introdugéo da lei quanto do evangelho o préprio Deus Pai falou. Quao not4veis e profundamente instrutivas so as palavras de Deus Pai! ‘‘Este € 0 meu Filho amado, em quem me comprazo’’. Por meio dessas palavras, Ele declarou que Jesus é o divino Salvador, selado e nomeado para isso desde toda a eternidade, a fim de realizar a obra da redengfio. Ele proclamou que aceitava a Jesus como 0 unico Media- dor entre Deus e os homens. O Pai parecia estar publicando ao mundo que estava satisfeito com Cristo como a propiciagao pelos nossos pe- cados, como a nosso Substituto, como Aquele que pagaria o prego do resgate pela famflia condenada de Adio, e como 0 Cabega de um povo remido. Em Cristo, Deus Pai via a sua santa lei magnificada e honrada. Através dEle Deus pode ser ‘‘justo e 0 justificador daquele que tem f6 em Jesus’’ (Rm 3.26). Convém que ponderemos cuidadosamente essas palavras! Elas nos podem enriquecer extraordinariamente os pensamentos. Sao pala- vras que transbordam de paz, de alegria, de consolo e de encorajamento para todos aqueles que se refugiam no Senhor Jesus Cristo, entregando- -Lhe as suas almas para serem salvos. Esses podem regozijar-se no pensamento que, embora continuem pecadores em si mesmos, contudo, aos olhos de Deus, sao considerados justos. Deus Pai considera todos eles membros de seu Filho amado. Nao percebe neles qualquer mécula, , por causa de seu Filho, fica satisfeito (2 Pe 1.17). A Tentacao Leia Mateus 4.1-11 Apés 0 batismo de Jesus, o primeiro acontecimento a ser regis- trado pelo apéstolo Mateus, na vida do Senhor, foi a tentacdo. Trata-se de um assunto profundo e circundado de mistérios. HA muita coisa, no relato biblico a esse respeito, que no sabemos esclarecer. No en- tanto, a superficie da narrativa h4 ligdes praticas perfeitamente claras, que farfamos bem em dar atencio. Mateus 4,1-11 21 Em primeiro lugar aprendamos que temos, no diabo, um inimigo real e poderoso. Ele nao temeu desfechar os seus ataques nem mesmo contra o préprio Senhor Jesus. Por trés vezes em seguida, ele tentou ao préprio Filho de Deus. Nosso Salvador foi conduzido ao deserto com 0 propésito de ser ‘‘tentado pelo diabo’’. Foi por intermédio do diabo que o pecado entrou no mundo, no comego da histéria da humanidade. Foi 0 diabo que oprimiu J6, enga- nou Davi e fez Pedro cair em perigoso pecado. A Bfblia intitula o diabo de ‘‘homicida’’, ‘‘mentiroso”’ e ‘‘ledo que ruge’’. Aquele que é 0 ad- versério das nossas almas, nunca dorme e nem cochila. 6 ele que, por cerca de seis mil anos, vem realizando uma tnica obra nefanda — ar- ruinar a homens e mulheres, atirando-os no inferno. Ele é um ser cuja sutileza e asticia ultrapassam a toda a compreensao humana, de tal ma- neira que, com freqiiéncia, ele parece ser um ‘‘anjo de luz”’ (2 Co 11.14). Cumpre-nos vigiar ¢ orar diariamente, acerca dos perversos es- tratagemas do diabo. Nao existe inimigo pior do que aquele que nunca pode ser visto e que nunca morre; que est4 sempre perto de nés, onde quer que nos encontremos, e que vai conosco onde quer que formos. Também nao € coisa de somenos a maneira leviana e até humorfstica com que os homens se referem ao diabo, de uma maneira tio genera- lizada. Lembremo-nos a cada dia que, se quisermos ser salvos, nao somente teremos de crucificar a carne e vencer o mundo, mas também teremos de fazer conforme as Escrituras nos recomendam: ‘“‘resisti ao diabo’’ (Tg 4.7). Em seguida, devemos aprender que todos nés ndo devemos en- frentar a tentagdo como se fosse uma colsa estranha. ‘‘Nao é 0 servo maior do que seu senhor’’ (Jo 15.20). Se Satands atacou ao préprio Jesus Cristo, entéo, sem diivida algama, também atacaré aos crentes. Como seria bom, para todos os crentes, se eles se lembrassem dessa realidade. No entanto, tendemos muito por esquecer tal coisa. Com freqiiéncia, os crentes detectam maus pensamentos em suas men- tes que eles poderiam afirmar que odeiam. Diividas, indagagdes e uma pecaminosa imaginacao sao coisas que lhes sao sugeridas, contra o que se revolta todo o seu homem interior. Nao devem permitir, no entanto, ge essas coisas destruam a sua paz e os furtem de suas consolagées. necessério lembrar que o diabo existe, e ndo deveriam surpreender-se ao descobrir que ele est4 sempre bem perto deles. Ser vftima das ten- tagdes ainda nfo é incorrer em pecado. Pecamos somente quando cedemos diante das tentagdes, dando lugar ao pecado em nossos coracées, algo que muito deverfamos temer. Convém que aprendamos, em seguida, que a principal arma que devemos usar para resistir a Satands é a Biblia, Por nada menos de 22 Mateus 4.1-11 trés vezes o grande adversério das nossas almas apresentou tentacdes diante de nosso Senhor. Por trés vezes o oferecimento diabélico foi re- pelido, sempre mediante 0 emprego de algum texto biblico como motivagao: ‘‘Esté escrito’’. Essa € apenas uma, dentre muitas razGes, pelas quais devemos ser leitores diligentes das Sagradas Escrituras. A Palavra de Deus é a espada do Espfrito (Ef 6.17). Jamais estaremos combatendo, como convém ao crente, enquanto nao estivermos usando a Biblia como a nossa principal arma de ataque e defesa. A Palavra de Deus também € lampada para os nossos pés. Jamais nos conservaremos no elevado caminho do Rei, que leva ao céu, se nao estivermos jornadeando ilu- minados por essa luz. Com toda a razio podemos temer que, entre os crentes, a Biblia nao é lida de maneira suficiente. Nao basta possuirmos as Escrituras. E necessdrio Ié-las e orar a respeito de nds mesmos, A Bfblia nio nos faré nenhum bem se, téo-somente, ficar guardada em nossos lares. Antes, precisamos estar familiarizados com o contetido das Escrituras, com o seu texto armazenado em nossa mente e em nossa meméria. O conhecimento bfblico nunca pode ser adquirido por mera intui¢éo. Tal conhecimento sé pode ser adquirido mediante a leitura regular, trabalhosa, didria, atenta e desperta. Queixamo-nos do tempo e do trabalho que isso nos custa? Se assim estivermos fazendo, entaio isso sera sinal de que ainda nao estamos aptos para o reino de Deus. Em ultimo lugar, devemos aprender 0 quanto nosso Senhor Je- sus Cristo € um Salvador que simpatiza conosco. ‘‘Pois naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, 6 poderoso para socorrer os que sao tentados’’ (Hb 2.18). A simpatia de Jesus por nds é uma verdade que deveria ser par- ticularmente valorizada por todos os crentes. Eles poderiio descobrir que essa é uma verdade que serve de mina de poderosas consolagées. Nunca deveriam esquecer-se de que eles contam com um poderoso Amigo nos céus, o qual simpatiza com eles em todas as tentagdes e provacdes por que tiverem de passar. Ele sente, juntamente com eles, as suas an- siedades espirituais. Sdo os crentes tentados, por Satan4s, a desconfiarem da bondade e dos cuidados de Deus por eles? Jesus também foi tentado desse modo. Sao eles tentados a presuncao, em relacdo & misericérdia divina, arriscando-se desnecessariamente e sem garantias? Assim tam- bém Jesus foi tentado. Eles sao tentados a cometer algum grande pecado particular, como se isso lhes oferecesse alguma vantagem? Essa tam- bém foi uma das tentagdes que assaltou a Jesus Cristo. Sao eles tentados a fazer alguma errénea aplicacao das Escrituras, como justificativa para a pratica do mal? Outro tanto sucedeu a Jesus. Ele é exatamente o Sal- vador de que precisam aqueles que so tentados. Por conseguinte, que Mateus 4.1-11 23 os crentes se refugiem no Senhor, pedindo-Lhe ajuda e expondo diante dEle todas as suas dificuldades. E ent&o havero de descobrir que Ele est4 sempre preparado a simpatizar com eles. Jesus pode entender todas as suas tristezas. Oxalé todos nds reconhecéssemos, em nossa prépria experiéncia didria, o quanto vale um Salvador cheio de simpatia! Nao h4 nada que se lhe possa comparar, neste nosso mundo frio e enganador. Aqueles que buscam encontrar a felicidade neste mundo e desprezam a religiio revelada nas Escrituras, nao fazem a mfnima idéia do verdadeiro con- Solo que estio perdendo. Comego do Ministério de Cristo e a Chamada dos Primeiros Discipulos Leia Mateus 4.12-25 Nestes versiculos encontramos 0 comego do ministério de nosso Senhor entre os homens. Ele dé inicio aos seus labores entre uma po- pulacao ignorante e obscurecida. Ele escolhe os homens que serfo seus companheiros e discfpulos e confirma o seu ministério através de mi- lagres, os quais chamam a atengo de ‘‘toda a Siria’’ e atraem grandes multidées para ouvi-lo. Observemos a maneira pela qual nosso Senhor deu intcio a sua Poderosa realizacao: ‘‘passou Jesus a pregar’’. Nao existe outra ati- vidade tao honrada como a de um pregador. Nao hd trabalho humano tio importante para as almas dos homens. Esse é um offcio do qual 0 préprio Filho de Deus nao se envergonhou. Através desse officio Ele selecionou os seus doze apéstolos. Foi um oficio que 0 apéstolo Paulo, jé idoso, recomendou de maneira especial a Timéteo, quase que em seu Ultimo alento: ‘‘prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer nao’’ (2 Tm 4.2), Acima de qualquer outro, esse é o instrumento que Deus se agrada em usar na conversio e edificagdo das almas humanas. Os dias mais resplandecentes da igreja de Cristo sempre foram aqueles em que a pregacio do evangelho foi mais honrada. Enquanto que os dias mais negros da igreja sempre tém sido aqueles em que a prédica foi desvalorizada. Honremos as ordenangas e as oragdes piiblicas, nas igrejas locais, e utilizemo-nos reverentemente desses meios da graga divina. Porém, cuidemos em nunca permitir que essas praticas venham a tomar o lugar que pertence a pregacao do evangelho. Prestemos atengao @ primeira doutrina que o Senhor Jesus pro- clamou ao mundo. Ele comegou, afirmando: ‘‘Arrependei-vos’’. A 24 Mateus 4.12-25 necessidade de arrependimento é um dos grandes fundamentos que esto & base do cristianismo. & mister pregarmos que toda a humanidade, sem exce¢ao, se arrependa. Importantes ou nao, ricos ou pobres, todos os homens tém cafdo no pecado e so culpados diante de Deus. Todos precisam arrepender-se e converter-se, se porventura quiserem ser sal- vos. O verdadeiro arrependimento nao é alguma questdo superficial. Antes, envolve uma completa mudanga do coragao no que concerne ao pecado, uma transforma¢&o que se demonstra mediante uma santa contrigao e humilhagao, com uma sincera confissio dos pecados, diante do trono da graga, e uma quebra total de habitos pecaminosos, bem como um édio permanente a todo pecado. Tal arrependimento é 0 acom- panhante insepardvel da fé salvadora em Jesus Cristo. Devemos valorizar grandemente essa doutrina. Ela se reveste da maior importancia. Ne- nhum ensino cristéo pode ser considerado sadio se nado puser sempre em evidéncia ‘‘o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Se- nhor Jesus Cristo’ (At 20.21). Observemos também a classe de homens a quem o Senhor Jesus escolheu para serem seus discfpulos. Eles pertenciam as camadas mais pobres e humildes da sociedade. Pedro, André, Tiago e Joio eram to- dos ‘‘pescadores’’. A religiéo de nosso Senhor Jesus Cristo nao visava somente aos ricos e cultos; destinava-se ao mundo todo, e a maior parte da humanidade sempre ser4 pobre. A pobreza e a ignorancia literéria exclufam milhares de pessoas da atengdo dos orgulhosos filésofos do mundo pagio. Mas isso nao impede a ninguém de ocupar mesmo os mais altos escalées do ministério cristéo. Um certo homem é humilde? Ele sente o peso dos seus pecados? Ele est4 disposto a ouvir a voz de Cristo e a segui-Lo? Nesse caso, ele pode ser o mais pobre dos pobres, mas, no reino dos céus haverd de ocupar uma posi¢ao tao importante quanto qualquer outra pessoa. O intelecto e o dinheiro de nada valem, sem a graca de Deus. A religido de Cristo deve ter tido a sua origem no céu. Do con- trdrio, nunca teria prosperado e se propagado por toda a terra, conforme tem sucedido. E iniitil aos incrédulos tentarem dar resposta a esse ar- gumento. Ele nao pode ser retorquido. Uma religido que nao lisonjeia aos ricos, aos grandes e aos bem instrufdos, uma religiéo que nao d4 margem as inclinagdes carnais do coracio humano, uma religiao cujos primeiros mestres foram pobres pescadores, destitufdos de riquezas ma- teriais, posigio social ou poder, uma religidéo como essa jamais teria transtornado 0 mundo, se nao procedesse de Deus. Por um lado, con- templamos os imperadores romanos e os sacerdotes do paganismo, com os seus espléndidos santudrios! Por outro lado, vemos alguns poucos trabalhadores bragais, cristéos, sem grande instrucdo formal, mas anun- Mateus 4.12-25 25 ciando o evangelho! Acaso, j4 houve outros dois grupos tio diferentes um do outro? Os que eram fracos mostraram-se fortes; e os que eram fortes mostraram-se fracos. O paganismo ruiu, e 0 cristianismo tomou o seu lugar. Portanto, o cristianismo deve proceder de Deus, Em tiltimo lugar, observemos o cardter geral dos milagres por meio dos quais nosso Senhor confirmou a sua missdo. Nesta passagem bfblica, esses milagres so vistos em geral. Porém, um pouco mais adiante, haveremos de vé-los descritos em particular. Mas, qual é 0 carater desses milagres? Eles foram alicercados sobre a misericérdia e a bondade. Nosso Senhor ‘‘percorria... toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doengas e enfermidades entre 0 povo’’. Esses milagres tiveram por propésito ensinar-nos quéo poderoso € nosso Senhor. Aquele que era capaz de curar enfermos com um sim- ples toque de mao e expelir deménios com uma palavra, também é poderoso para ‘‘salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus’’ (Hb 7.25). Sim, Ele € 0 Todo-poderoso, Esses milagres tém, igualmente, a finalidade de servir de simbolos ou emblemas da habilidade de nosso Senhor como médico espiritual. Aquele, diante de quem nenhuma enfermidade fisica mostrou ser in- curdvel, é poderoso para curar cada um dos males que afligem as nossas almas. Nao hd coragio partido que Ele nao saiba sarar. Nao hé ferida de consciéncia que Ele nao possa fazer cicatrizar. Todos nés somos individuos cafdos, esmagados, despedacados e atingidos por alguma praga, por causa do pecado. Mas Jesus, por meio de scu sangue e Es- pfrito, pode curar-nos inteiramente. Téo-somente devemos ir até Ele. Esses milagres tém também o propésito de mostrar-nos 0 coracao de Jesus — o Salvador extremamente compassivo. Ele nfo rejeitava aninguém que viesse até Ele. Ele nunca rejeitou a quem quer que fosse, por mais enfermo ou repugnante que estivesse. Os seus ouvidos esta- vam dispostos a dar atencfo a todos, ¢ Ele estava sempre pronto a ajudar a todos com um coragio terno para com todos. Nao existe bondade que se possa comparar a sua. A compaixao de Jesus jamais falhard. Nunca nos deverfamos esquecer de que Jesus Cristo ‘‘ontem e hoje é o mesmo, ¢ o ser4 para sempre’’ (Hb 13.8)! Exaltado nos céus, & mio direita de Deus Pai, em coisa alguma Ele se modificou. Ele con- tinua perfeitamente capaz de salvar, igualmente disposto a acolher-nos, eda mesma maneira preparado para ajudar-nos, tal e qual fazia h4 quase vinte séculos passados. Terfamos nés colocado diante dEle as nossas peticdes naqueles dias? Fagamos a mesma coisa hoje. Ele pode curar “‘toda sorte de doengas e enfermidades’’. 26 Mateus 5.1-12 As Bem-aventurancas Leia Mateus 5.1-12 Os trés capftulos que tém infcio com estes versfculos merecem atengao especial da parte de todos os estudiosos da Biblia. Esses ca- pitulos contém o que usualmente se chama de ‘‘Sermio da Montanha’’. Cada palavra do Senhor Jesus deveria ser reputada como preciosa pelos que se dizem crentes. 6 a voz do nosso supremo Pastor, a palavra do grande Superintendente e Cabeca da igreja, & o Senhor quem est4 falando. E a palavra dAquele que falava como ninguém jamais falou, a voz dAquele por meio de quem seremos julgados no ultimo dia. Gostarfamos de saber que tipo de pessoa deveria ser o crente? Gostarfamos de saber que cardter cristo deveria ser 0 nosso alvo? Gos- tarfamos de saber qual a conduta e os hdbitos mentais que deverfamos cultivar como seguidores de Jesus? Nesse caso, estudemos com freqiiéncia o Serméo da Montanha. Meditemos constantemente sobre as sentengas de Cristo, e submetamo-nos a prova de acordo com elas. Nao devemos deixar de considerar a quem o Senhor Jesus chamou de “‘bem-aventurados”’ no come¢o do sermao. Aqueles que sio abenco- ados pelo nosso Sumo Sacerdote séo verdadeitamente benditos. Jesus chamou de bem-aventurados aos humildes de esptrito. Referia-se aos humildes, modestos quanto a seu auto-conceito, auto- -tebaixados. Apontava para os que estdo profundamente convictos de sua prépria pecaminosidade diante de Deus. Aqueles que nao ‘‘sao sé- bios aos seus préprios olhos, ¢ prudentes em seu préprio conceito”’ (Is 5.21), Esses nao se consideram ‘‘ricos e abastados’’ (Ap 3.17); nao ficam fantasiando de que nada precisam. Antes, consideram-se infeli- zes, miseraveis, pobres, cegos e nus. Todos esses sio bem-aventurados! No alfabeto do cristianismo, a humildade é a primeira letra. Devemos comegar bem por baixo, se quisermos atingir grandes alturas espirituais. O Senhor Jesus também chamou de bem-aventurados aqueles que choram. Com isso Ele quis dar a entender aqueles que se entristecem por causa do pecado, e que também se lamentam diariamente por causa das suas préprias falhas. Sao esses os que se preocupam mais por causa do pecado do que por qualquer outra coisa na face da terra. A meméria dessas coisas deixa-os profundamente tristes. Tal carga lhes parece in- tolerfvel. Bem-aventurados sao todos os tais. ‘‘Sacrificios agraddveis a Deus sao 0 espirito quebrantado; coraco compungido e contrito nao o desprezarés, 6 Deus’’ (SI 51.17). Algum dia, eles nao mais derra- marao l4grimas, ‘‘porque serdo consolados’’. Mateus 5.1-12 27 O Senhor Jesus também chama de bem-aventurados aos mansos. Ele tinha em mente aqueles cujo espfrito é paciente e satisfeito. Os que se dispdem a serem com pouca honra neste mundo, capazes de sofrer injusticas sem guardar ressentimentos. Os que dificilmente se deixam irritar. Como Lézaro na parabola, eles esto contentes em esperar pelas boas coisas que Deus tem para dar. Bem-aventurados sao todos esses! A longo prazo, eles nunca sao os perdedores. Chegard o dia quando eles ‘‘reinardo sobre a terra’ (Ap 5.10). O Senhor Jesus chama de bem-aventurados os que tém fome e sede de justica, os que desejam acima de tudo ajustar-se 4 mente do Senhor. Eles anelam no tanto por se tornarem ricos ou poderosos ou eruditos, mas por serem santos. Bem-aventurados sfo todos os tais! Um dia terfo o suficiente do que desejam. Um dia acordario revestidos & semelhanga de Deus e serio satisfeitos (SI 17.15). Jesus chama de bem-aventurados aos misericordiosos, os que se mostram Compassivos para com os seus semelhantes. Eles tem com- paixio de todos quantos sofrem, seja por causa do pecado ou de adversidades, e desejam ternamente suavizar tais sofrimentos. Praticam boas obras e esforgam-se por fazer o bem, Bem-aventurados s4o todos os tais! Tanto nesta vida quanto na vindoura, terfo uma rica colheita. O Senhor Jesus também considerou bem-aventurados os que sio limpos de coragdo. Ao assim dizer, Ele pensava naqueles que nao al- mejam apenas uma conduta externa correta, e, sim, a santidade interior. Esses tais nfo se satisfazem com uma mera exibigdo externa de reli- giosidade. Antes, esforgam-se por manter 0 coragdo e a consciéncia isentos de ofensa, desejando servir a Deus com 0 espirito e com o ho- mem interior, Bem-aventurados sao todos esses! O coragao € 0 préprio homem. ‘‘O homem vé o exterior, porém o Senhor, 0 coragéo”’ (I Sm 16.7). Quanto mais a mente estiver voltada para as coisas espirituais, maior comunhio ter4 o homem com Deus. O Senhor Jesus chama de bem-aventurados aos pacificadores, isto é, os que exercem a sua influéncia pessoal a fim de promoverem @ paz e o amor; tanto em particular como em piblico, em casa ou no estrangeiro. Sao os que se esforcam para que todos os homens se amem mutuamente, ensinando aquele evangelho que diz: ‘‘o cumprimento da lei €0 amor’ (Rm 13.10). Bem-aventurados so todos esses, pois, esto realizando a mesma obra que o Filho de Deus iniciou, quando veio a terra pela primeira vez, e que Ele terminar4é ém sua segunda vinda. Por fim, o Senhor Jesus chama de bem-aventurados os persegui- dos por Causa da justiga, os que sio alvos de zombarias e risos, os desprezados e que sofrem abusos somente porque se esforgam por viver como verdadeiros crentes. Bem-aventurados so todos os tais! Esses 28 Mateus 5.1-12 bebem do mesmo célice de que o Mestre bebeu. Eles O esto confes- sando perante os homens, e Ele, por sua vez, haver4 de confess4-los perante Deus Pai e os anjos no ultimo dia. ‘‘B grande o vosso galardao nos céus.’”” Estas so as oito pedras fundamentais que o Senhor Jesus langou, logo no comego do seu Serm&o da Montanha. Oito grandes verdades, ito grandes testes foram colocados diante de nés. Marquemos bem cada uma delas, e assim aprenderemos a sabedoria! Aprendamos quao inteiramente contrdrios aos princtpios deste mundo sao os princtpios ensinados por Cristo. & invtil tentar negar esse fato. So princfpios diametralmente opostos entre si. O mundo menos- preza as préprias virtudes que nosso Senhor Jesus exaltou. Orgulho, falta de consideracao, espfrito de exaltago, mundanismo, formalismo, egofsmo e falta de amor, que proliferam neste mundo por toda a parte, so coisas que o Senhor Jesus condenou. Aprendamos, da mesma forma, quio ¢ristemente diferentes da vida pratica de muitos professos ‘‘cristdos’’ sdo os ensinos de Jesus Cristo. Onde encontraremos, entre os que freqiientam os cultos nas igre- jas locais, homens e mulheres que se esforgam por viver segundo os padrdes acerca dos quais acabamos de ler? Infelizmente, h4 muitas razes para temer que um grande niimero de pessoas batizadas sao totalmente ignorantes acerca do que 0 Novo Testamento contém! Acima de tudo, aprendamos quio santos e espirituais todos os crentes deveriam ser. Jamais deveriam ter como alvo qualquer padrao inferior ao do Sermo da Montanha. O cristianismo é eminentemente uma religiio pratica. A sa doutrina 6 a sua raiz e fundamento, mas 0 seu fluxo deveria sempre ser uma vida santa. E, se quisermos saber o que é uma vida santa, consideremos ent&o, com freqiiéncia, quem s&o aqueles a quem Jesus chamou de ‘‘bem-aventurados”’. O Carater dos Verdadeiros Crentes O Ensino de Cristo e o Antigo Testamento Leta Mateus 5, 13-20 Nestes versiculos, o Senhor Jesus trata de dois assuntos. Um de- les € 0 cardter que os verdadeiros crentes precisam defender ¢ manter neste mundo. O outro € a relagdo entre as doutrinas que Ele ensinava € os ensinos do Antigo Testamento. E muito importante termos uma visio bem clara sobre ambos os assuntos. Os verdadeiros cristtos devem ser neste mundo como o sai. Ora, Mateus 5.13-20 29 © sal tem um sabor todo peculiar, diferente de qualquer outra coisa. Quando misturado com outras substfncias, preserva da corrupgio. O sal transmite um pouco do seu sabor a tudo com o que é misturado. S6 6 titil enquanto preserva o sabor, do contrério para nada mais presta. Somos crentes verdadeiros? Atentemos para a nossa posi¢aio e nossos deveres neste mundo! Os verdadeiros crentes devem viver como luzes neste mundo. A propriedade da luz é ser totalmente diferente das trevas. A menor cen- telha em uma sala escura pode ser vista prontamente. Dentre todas as coisas criadas, a luz é a mais ttil. A luz fertiliza o solo. A luz guia. A luz reanima. A luz foi a primeira coisa que Deus trouxe & existéncia. Sem a luz, este mundo seria um vazio obscuro. Somos crentes verda- deiros? Nesse caso, consideremos novamente a nossa posic&o e as nossas responsabilidades! Se estas palavras tém algum significado, entéo, certamente, Je- sus intenciona nos ensinar, com estas duas figuras, sal e luz, que precisa haver algo notério, distintivo e peculiar a respeito do nosso caréter, se somos verdadeiros cristéos. Se desejamos ser reconhecidos como pertencentes a Cristo, como 0 povo de Deus, jamais poderemos passar a vida desocupados, pensando e vivendo como fazem as demais pessoas neste mundo. Temos a graga divina? Entio ela precisa ser vista. Temos © Esp{rito Santo? Entio deve haver o fruto. Temos uma religitio sal- vadora? Ent&o deve haver uma diferenca de habitos e preferéncias e também uma mentalidade diferente entre nds e aqueles que pensam se- gundo o mundo. & perfeitamente claro que o cristianismo verdadeiro envolve algo mais do que ser batizado ¢ ir a igreja. ‘‘Sal’’ ¢ “‘luz’’, evidentemente, implicam numa peculiaridade, tanto no coragao quanto na vida diéria, tanto na fé quanto na prdtica. Se nos consideramos sal- vos, devemos ousar ser singulares e diferentes da humanidade em geral. A relac&o entre 0 ensino de nosso Senhor e 0 ensino do Velho Testamento foi esclarecida por Jesus mediante uma sentenca incisiva: “‘N&o penseis que vim revogar a lei ou os profetas; nao vim para re- vogar, vim para cumprir’’, Estas sao palavras dignas de nota. Elas foram profundamente importantes quando proferidas, porquanto davam res- posta a ansiedade natural dos judeus quanto a este assunto, Sao palavras que continuardo sendo tremendamente importantes, enquanto este mundo continuar, como um testemunho de que a religiaio do Antigo e Novo Testamento forma um todo harménico. O Senhor Jesus veio a este mundo a fim de cumprir as predicgdes dos profetas, os quais desde os tempos antigos haviam profetizado que, um dia, viria ao mundo um Salvador. E Ele veio para cumprir a lei cerimonial, tornando-se o grande sacrificio pelo pecado, para o qual 30 Mateus 5.13-20 todas as oferendas da lei mosaica tinham sempre apontado. Ele veio para cumprir a lei moral, prestando-the obediéncia perfeita, o que nés mesmos jamais poderfamos ter feito. Ele também cumpriu a lei pagando com © seu sangue reconciliador a penalidade pela nossa quebra da lei, uma penalidade que nés jamais poderfamos ter pago. De todas essas maneiras, Ele exaltou a lei de Deus, e fez a sua importancia ainda mais evidente. Em suma, Ele engrandeceu a lei e a fez gloriosa (Is 42.21). H4 profundas ligdes de sabedoria a serem aprendidas por meio destas palavras de nosso Senhor. Portanto, meditemos cuidadosamente sobre elas, entesourando-as em nosso coracio. Tomemos cuidado para nao desprezar o Antigo Testamento, sob nenhum pretexto. Nunca demos ouvidos aqueles que recomendam pér de lado o Antigo Testamento, como se fosse um livro antiquado, ob- soleto e initil. A religiio do Antigo Testamento é embriao do cristianismo. O Antigo Testamento é o evangelho em botio; 0 Novo Testamento é evangelho aberto em flor. O Antigo Testamento é 0 evan- gelho brotando; o Novo Testamento é o evangelho j4 em espiga formada. Os santos do Antigo Testamento enxergaram muitas coisas como que por um espelho, obscuramente. Porém, todos contemplavam pela fé o mesmo Salvador, e foram guiados pelo mesmo Espfrito Santo que hoje nos guia. Estas nfo sio questées de pouca importancia. O igno- rante desprezo pelo Antigo Testamento dé origem a muita infidelidade. Também devemos acautelar-nos em no desprezar a lei dos dez mandamentos. Nem por um momento suponhamos que essa lei tenha sido posta de lado pelo evangelho, ou que os crentes néo tém nada a ver com ela. A vinda de Cristo em nada alterou a posigdo dos dez man- damentos, nem mesmo a largura de um fio de cabelo, O que ela fez foi exaltar e destacar a sua autoridade (Rm 3.31). A lei dos dez man- damentos é a medida eterna de Deus para 0 que é certo e 0 que é errado. Através da lei € que vem o pleno conhecimento do pecado, Pela lei € que o Espfrito mostra aos homens a sua necessidade de Cristo e os leva a Ele. Cristo deixou ao seu povo a lei dos dez mandamentos como norma e guia para uma vida santa. Em seu devido lugar, a lei dos dez mandamentos € téo importante quanto o ‘‘glorioso evangelho’’. A lei nao pode nos salvar. Nao podemos ser justificados por ela. Porém, nunca jamais a desprezemos. O menosprezo pela lei dos dez mandamentos € um sintoma de ignorAncia e insanidade em nossa religido. O verda- deiro crente auténtico tem ‘‘prazer na lei de Deus’’ (Rm 7.22). Em tiltimo lugar, cuidemos em ndo supor que o evangelho tenha rebaixado o padrao de santidade pessoal, ou que 0 cristéo nao deva ser tio estrito e cuidadoso em sua conduta diéria quanto o eram os ju- deus. Este é um terrfvel engano, mas que, infelizmente, 6 muito comum. Mateus 5.13-20 31 Bem ao contrério, os santos do Novo Testamento deveriam exceder em santidade aos santos dos tempos antigos, pois estes sé tinham o Velho Testamento para lhes servir de orientacio. Quanto mais luz temos, maior © nosso amor a Deus. Quanto mais claramente enxergamos nosso pleno perdao em Cristo, tanto mais devemos trabalhar de coracao para a sua gléria. Sabemos 0 quanto custou a nossa redencaio, melhor do que os santos do Antigo Testamento souberam. J& lemos 0 que aconteceu no Getsémani e no Calvério, mas eles s6 viram estas coisas indistinta e obscuramente, como algo que ainda estava por acontecer. Que jamais nos esquecamos das nossas obrigagdes! O crente que se satisfaz com um baixo padrao de santidade pessoal ainda tem muito a aprender. A Espiritualidade da Lei Comprovada por Trés Exemplos Leia Mateus 5.21-37 Estes versfculos merecem a mais cuidadosa atencao por parte de todos os leitores da Biblia. Um correto entendimento das doutrinas que eles contém é fundamental ao cristianismo. O Senhor Jesus aqui explica mais completamente o significado das suas palavras, ‘‘ndo vim para revogar a lei, vim para cumprir’’. Ele nos ensina que o evangelho mag- nifica a lei e exalta a sua autoridade. Ele nos mostra que a lei, conforme Ele a tinha apresentado, era uma regra muito mais espiritual e capaz de perscrutar 0 cora¢ao do que a maioria dos judeus imaginava. E isto Ele comprovava selecionando trés dos dez mandamentos, como exem- plos para o que queria dizer. Jesus exp6s 0 sexto mandamento. Muitos israelitas pensavam es- tar cumprindo esta parte da lei de Deus, simplesmente por nao cometerem homicfdio na prdtica. O Senhor Jesus, entretanto, mostra que as exi- géncias desse mandamento vao muito além. Tal mandamento condena até mesmo a linguagem iracunda e repleta de rancor, especialmente quando utilizada sem motivo justificado. Salientemos bem esse ponto. Podemos ser perfeitamente inocentes no que tange a tirar a vida de ou- trem e, no entanto, podemos tornar-nos culpados de transgredir 0 sexto mandamento, Jesus apresenta o sétimo mandamento. Muitos supunham estar cumprindo esta parte da lei de Deus, apenas por nao praticarem adultério. Mas, o Senhor Jesus nos ensina que podemos quebrar esse mandamento €m nossos pensamentos, em nosso coracaio e em nossa imaginacao, 32 Mateus 5.21-37 mesmo quando a nossa conduta exterior 6 moral e correta. O Deus com quem tratamos vé muito além de nossas ag6es. Para ele, até mesmo um r4pido langar de olhos pode ser pecado. Jesus, apresenta 0 tercelro mandamento. Muitos se iludiam pen- sando estar cumprindo esta parte da lei de Deus, contanto que nao jurassem falsamente e cumprissem os seus votos. Mas o Senhor Jesus profbe toda e qualquer espécie de juramento vao. Todo o juramento em nome de coisas criadas, mesmo quando o nome de Deus niio est4 envolvido — todo juramento que tome a Deus como testemunha, exceto nas ocasides mais solenes, €é um grande pecado. Tudo isso é muito instrutivo. Este ensinamento deveria fazer-nos refletir com grande seriedade. Ele nos diz em alta voz, que sondemos cuidadosamente os nossos coragdes. Mas, 0 que nos ensina? Ele nos ensina a tremenda santidade de Deus, Deus é um Ser purissimo e perfeitissimo, que percebe falhas e imperfeicdes onde os homens nao véem coisa alguma. Deus 1é os motivos dos nossos coracées. Ele observa nao somente os nossos atos, mas também as nossas pala- vras € OS nossos pensamentos. ‘‘Eis que te comprazes na verdade no fntimo’’ (SI 51.6). Oxalé os homens considerassem esse aspecto do ca- réter de Deus muito mais do que costumam fazer! Entdo nao haveria lugar para o orgulho, para a justiga-prépria e para a indiferenca, se ao menos os homens vissem a Deus ‘‘conforme Ele é’’. Ele nos ensina a excessiva ignordncia dos homens quanto ds re- alidades espirituais. Existem milhares e milhares de professos cristaos, como € de temer, que nao sabem mais a respeito dos requisitos da lei de Deus do que os mais ignorantes judeus. Conhecem a letra dos dez mandamentos suficientemente bem. Mas, a semelhanga do jovem rico, julgam-se guardadores da lei: ‘‘tudo isso tenho observado, desde a mi- nha juventude”’ (Mc 10.20). Para eles € inconcebfvel que se possa quebrar © sexto e sétimo mandamentos mesmo sem praticar qualquer ato exte- rior ou pecado explicito. E assim vao vivendo, satisfeitos consigo mesmos © plenamente contentes com a sua mini religiio. Felizes mesmo sio os que realmente compreendem a lei de Deus. O sexto mandamento nos ensina a enorme necessidade do sangue expiatorio de Jesus Cristo para nos salvar. Qual o homem ou mulher neste mundo que poderia apresentar-se diante de Deus e declarar-se ‘‘ino- cente’’? Ha alguém que tenha atingido a idade da razio sem haver quebrado os mandamentos milhares de vezes? ‘‘Nao hd justo, nem se- quer um’’ (Rm 3.10). Sem um Mediador poderoso, todos nés serfamos condenados no dia do jufzo. A ignorancia do real significado da lei € uma razio evidente por que tantas pessoas nfo dio valor ao evangelho, contentando-se em viver um cristianismo mesquinho e formal. Eles nao Mateus 5.21-37 33 percebem 0 rigor e a santidade dos dez mandamentos da lei de Deus. Se percebessem esse fato, nfo descansariam enquanto no estivessem seguras em Jesus Cristo. Em tltimo lugar, esta passagem nos ensina a enorme importancia de se evitar tudo que possa dar ocasiao ao pecado. Se nés realmente desejamos ser santos, diremos como o salmista: ‘‘Guardarei os meus caminhos, para nado pecar com a Ifngua’’ (S1 39.1). Precisamos estar prontos a resolver querelas ¢ desacordos, para que tais coisas néo nos conduzam a pecados ainda mais graves: ‘‘Como o abrir-se da represa assim € 0 comeco da contenda; desiste, pois, antes que haja rixas”” (Pv 17.14). Precisamos nos empenhar em crucificar a nossa carne e mor- tificar os nossos membros. Devemos estar dispostos a fazer qualquer sacrificio, e até mesmo trazer sobre 0 corpo a incomodidade fisica, an- tes do que dar lugar ao pecado. Devemos guardar os nossos labios, como que por um freio, e exercitar uma constante vigilancia sobre nossas pa- lavras. Que os homens nos chamem de ‘‘muito restritos ’’, se assim desejarem. Que eles digam que somos ‘‘por demais meticulosos’’, se isso Ihes agrada. Nao nos deixemos abalar com isso. Estamos apenas fazendo aquilo que nosso Senhor Jesus Cristo nos manda, e, sendo as- sim, nao temos de que nos envergonhar, A Lei Crista do Amor Leia Mateus 5. 38-48 Encontramos neste trecho as normas de nosso Senhor Jesus Cristo quanto a nossa conduta de uns para com outros. Os que desejarem saber como deveriam agir e sentir, no tocante ao préximo, devem estudar com freqiiéncia estes versfculos. Eles merecem ser escritos em letras de ouro. Estes versiculos tém sido elogiados até mesmo pelos adver- sdrios do cristianismo, Observemos atentamente o que eles contém. O Senhor Jesus profbe qualquer coisa parecida com um esptrito vingativo, que nao esteja disposto a perdoar. A inclinagao por ressentir- -Se diante das ofensas, a prontidao em ficar ofendido, uma disposi contenciosa e briguenta, a insisténcia em reinvidicar nossos direitos — tudo isto é contrério 4 mente de Cristo. O mundo pode nao perceber nada de errado nestes hdbitos da mente. Tais coisas, porém, nao fazem parte do cardéter do verdadeiro cristéo. Nosso Mestre disse: ‘‘Nao re- sistais ao perverso”’. O Senhor Jesus nos manda cultivar um esptrito de amor e be- nevoléncia para com todos os homens. Devemos por de lado toda malicia. 34 Mateus 5.38-48 Devemos pagar o mal com o bem € a maldig&o com béngaos. Jesus nos disse: ‘tamai os vossos inimigos’’. Outrossim, nao devemos amar so- mente de palavra, mas em verdade e de fato. Devemos negar a ndés mesmos e€ nos esforgar por sermos gentis e corteses. “‘Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas.’’ Compete-nos tolerar muita coisa, suportar muita coisa, ao invés de ofendermos ou prejudi- carmos a outras pessoas. Em todas as coisas, devemos nos mostrar altrufstas. Nosso pensamento nunca deveria ser: ‘Como é que as ou- tras pessoas se comportam para comigo?”* Pelo conttério, deveria ser: “O que Cristo gostaria que eu fizesse?”’. Um padrao de conduta como esse poderia & primeira vista pa- recer demasiadamente alto, Porém, nunca nos deverfamos contentar com um padrao inferior. Precisamos observar os dois fortes argumentos com que nosso Senhor reforca esta parte de seu ensino. Estes argumentos merecem séria atencaio. Primeiramente porque, se nao tivermos por alvo o espirito e a atitude aqui recomendados, entéo nao somos ainda filhos de Deus. O nosso ‘‘Pai que est4 nos céus’’ é bom para com todos. Ele envia chuvas sobre bons ¢ maus, igualmente. Ele faz o sol brilhar sobre todos os homens, sem distingdo. Ora, um filho deve ser como seu pai. Porém, em que somos semelhantes a nosso Pai celeste, se nao somos capazes de demonstrar misericérdia e bondade para com todos? Onde estaio as evidéncias de que somos novas criaturas, se ndo temos amor? Estao todas em falta. Isto é um sinal de que ainda precisamos ‘‘nascer de novo’’ Go 3.7). Se n&o almejamos ter o espfrito e a atitude aqui recomendados, entao, manifestamente ainda somos do mundo. Até mesmo os que no tém nenhuma religiio podem ‘‘amar aos que os amam’’. Eles podem fazer o bem e mostrar gentileza, quando seus afetos e interesses 0s mo- vem a tanto, Porém, o crente deveria ser dirigido por princfpios mais altos do que o interesse préprio. Estamos procurando evitar esse teste? Achamos impossivel praticar o bem em favor dos nossos inimigos? Se esse € 0 caso, entéo podemos ter a certeza de que ainda nao nos con- vertemos, Enquanto isso prevalecer, ainda nao teremos recebido ‘‘o Espfrito que vem de Deus” (I Co 2.12), Em tudo o que j4 vimos, hd muitas coisas que clamam em alta voz pela nossa solene reflexdo. H4 poucas passagens nas Escrituras que tZo bem se prestam para despertar em nossas mentes tais pensamentos de contrigéo. Temos aqui um amor4vel quadro do cristao, tal como ele deveria ser. Observando-o, nado podemos deixar de sentir alguma dor. Todos devemos admitir que esse quadro difere largamente daquilo que © crente geralmente é. Podemos depreender dai duas ligdes gerais. Mateus 5.38-48 35 Em primeiro lugar, se 0 espfrito destes onze versiculos fosse mais continuamente relembrado pelos verdadeiros crentes, eles recomenda- riam o cristianismo ao mundo de maneira muito mais eficiente. Nao podemos nos permitir supor que as palavras desta passagem sejam su- perficiais ¢ de pouca importincia, nem mesmo as mfnimas coisas afirmadas. A realidade € outra. A devida atencdo ao espfrito deste texto biblico é que faz tao atrativa a nossa religiao crista. A negligéncia quanto as verdades ali contidas leva 4 deformacao do cristianismo. Cortesia, gentileza, ternura e consideracao pelas outras pessoas so alguns dos melhores ornamentos do cardter dos filhos de Deus. O mundo pode com- preender estas coisas, mesmo quando nfo so capazes de compreender as doutrinas do cristianismo. Nao existe religido cristé na grosseria, na aspereza, na indelicadeza ou na falta de civilidade. A perfeigao do cristianismo pratico consiste na atengdo que damos tanto aos pequenos quanto aos grandes deveres da santidade, Em segundo lugar, se o espfrito destes onze versiculos tivesse maior dom{nio e poder sobre 0 mundo, qudo mais feliz 0 mundo seria do que realmente é! Quem nao sabe que as discussées, as desavencas, © egofsmo e a indelicadeza causam metade das misérias que afligem a humanidade? Quem nfo percebe que coisa alguma tenderia mais por aumentar a felicidade entre os homens do que a propagacado do amor crist&o, tal como é aqui recomendado por nosso Senhor? Que todos nos lembremos disto, Os que se iludem pensando que a verdadeira religido tem alguma tendéncia em fazer os homens infelizes, estéo grandemente enganados. A auséncia da verdadeira religido é a causa de tal infelici- dade, e nfo a sua prevaléncia. A verdadeira religiéo exerce o efeito diametralmente contrério, Ela tende por promover a paz e o amor a0 préximo, a gentileza e a boa vontade entre as pessoas. Quanto mais os homens seguirem os ensinos do Espirito Santo, tanto mais eles se amarao mutuamente, e mais felizes serao. Ostentacio nas Esmolas e na Oracao Leia Mateus 6.1-8 Neste segmento do Sermao da Montanha, o Senhor Jesus nos instruiu sobre duas questées. A primeira delas quanto a dar esmolas, a outra quanto a oracaéo. Ambas eram questGes as quais os judeus atri- bufam grande importincia. Ambas, por si mesmas, merecem séria atengZo de todos os que professam o cristianismo. Observe que nosso Senhor toma como um ponto pacffico que 36 Mateus 6.1-8 todos os que se intitulam seus disctpulos dardo esmolas. Ele assume como natural que eles pensarfo ser um dever solene dar esmolas de acordo com as suas possibilidades, a fim de aliviarem as necessidades dos outros. O tinico ponto de que Cristo aqui trata € a maneira como deveria ser cumprido esse dever. Esta é uma importante ligéo. Ele con- dena a atitude de egofsmo mesquinho de tantas pessoas, quanto & questéo de dar dinheiro. Quantos sfo ‘“‘ricos para consigo mesmos’’, mas sao pobres para com Deus! Muitos jamais dio um centavo para fazer o bem ao corpo e a alma de outrem! Serd que os tais, com esta mentalidade, tém algum direito de serem chamados cristéos? Bem poderfamos du- vidar desse direito. Um Salvador sempre disposto a dar, deveria ter discfpulos igualmente dispostos a contribuir. Observe, uma vez mais, que nosso Senhor toma por certo que todos quantos se intitulam seus disctpulos serao pessoas de oragdo. Ele assume que isto também é um ponto pacifico. Tao somente Ele nos d4 orientagdes quanto a melhor maneira de orar. Esta é outra li¢éo que merece ser continuamente lembrada. Est4 claramente ensinado que pes- soas que nao oram no sao crist&os genufnos. Nao basta apenas participar nas orages da igreja, aos domingos, ou freqiientar os cultos de oragéo durante a semana, na igreja ou em famflia. B preciso haver também a oragdo particular, a s6s com Deus. Sem isso, podemos até estar ar- rolados como membros de alguma igreja cristi, mas nfo somos membros vivos de Cristo. Entretanto, quais sio as normas deixadas para nossa orientagao a respeito de esmolas e ora¢io? As regras sio poucas e simples, mas contém muito material para a nossa meditacao. Ao dar esmolas, tudo quanto seja ostentagdo deveria ser abo- minado e evitado. Nao devemos dar como se desejéssemos que todos vissem quao caridosos ¢ liberais nds somos, como se quiséssemos re- ceber os elogios de nossos semelhantes. Tudo quanto parega exibicio- nismo deve ser evitado. Devemos dar quietamente, fazendo tanto me- nos ruido quanto possfvel a respeito de nossa caridade. O nosso propésito deveria acompanhar o espfrito daquele versfculo: ‘‘Ignore a tua mao esquerda 0 que faz a tua direita’’. Ao orar, 0 nosso objetivo principal deverla ser o de estarmos a s6és com Deus. Deverfamos procurar algum lugar onde nenhum olho mortal nos pudesse ver, para que ent&io pudéssemos derramar 0 coragaéo diante de Deus, com o sentimento de que ninguém nos esta vendo, senao Deus. Entretanto, esta é uma regra que muitas pessoas acham dificil seguir. Para os irmaos de condi¢éo mais humilde, ¢ para os que tra- balham para outrem, é quase impossfvel estar realmente sozinhos, Porém, esta € norma que todos nds precisamos fazer um grande esforco para Mateus 6.1-8 37 obedecer. A necessidade, em tais casos, com freqiiéncia é a mae da invengdo. Quando uma pessoa tem 0 real desejo de encontrar um lugar onde possa estar em secreto com Deus, geralmente acabar4 por encon- trar tal lugar. Em todos os nossos deveres, seja dar ou orar, a questo funda- mental que nunca deverfamos esquecer, 6 que estamos tratando com um Deus que perscruta 0 coragao e sabe todas as coisas. Tudo quanto seja mera formalidade, afetaco ou que nao provenha do coracao, é abomin4vel ¢ sem valor aos olhos de Deus. Ele nao leva em conta a quantidade de dinheiro com que contribuimos, ou o numero de palavras que usamos. O que realmente é importante aos olhos de Deus é a na- tureza dos motivos e o estado do corag&o. Nosso Pai celeste ‘‘vé em secreto’’. Que todos nés lembremos destas coisas. Eis aqui uma pedra que é a causa de naufrégio espiritual de muitas pessoas. Eles bajulam a si mesmos com o pensamento de que tudo deve estar certo com as suas almas, se ao menos desempenharem uma certa quantidade de deveres religiosos. Esquecem-se de que Deus nfo presta atencao na quantidade, e, sim, na qualidade do nosso servico. O favor divino nao pode ser comprado, conforme alguns parecem supor, pela repeticao formal de um certo mimero de palavras, ou por justica prépria, pagando alguma quantia em dinheiro para uma instituic¢fo de caridade. Em que temos posto 0 coracio? Estamos fazendo tudo, seja dar ou orar, ‘‘como ao Senhor, e nao como a homens’’ (Ef 6.7)? Ser que compreendemos 0 que realmente importa aos olhos do Senhor? Ser4 que apenas e sim- plesmente desejamos agradar Aquele que ‘‘vé em secreto’’, Aquele que “‘pesa todos os feitos na balanga’’ (1 Sm 2.3)? Estaremos agindo com sinceridade? Com perguntas deste tipo é que deverfamos sondar diaria- mente as nossas almas. A Oragio do Pai Nosso e o Perdio Mituo Leia Mateus 6.9-15 Estes versiculos sao poucos em nimero e podem ser lidos com facilidade; no entanto, sao de imensa importancia. Eles contém o ma- ravilhoso modelo de oragao com o qual o Senhor Jesus supriu 0 seu povo, e que comumente é chamado de ‘‘oragfo do Pai Nosso’’. Talvez nenhuma outra porgao das Escrituras seja tao bem conhe- cida quanto esta. As suas palavras sio conhecidas onde quer que exista 38 Mateus 6.9-15 o cristianismo, Milhares e milhares de pessoas, que nunca viram uma Biblia ou que nunca tiveram oportunidade de ouvir o evangelho puro estao familiarizadas com o ‘‘Pai Nosso’’. Quéo mais feliz seria o mundo se 0 espirito e 0 intuito desta oragio fossem tio bem conhecidos quanto © siio as suas palavras! Talvez nenhuma outra porcao das Escrituras seja ao mesmo tempo tdo simples e tio completa como esta. Ela é a primeira oragGo que apren- demos, quando criangas. Nisto consiste a sua simplicidade: ela contém © principio de tudo quanto 0 mais desenvolvido filho de Deus possa desejar. Nisto consiste a sua plenitude: quanto mais ponderamos as suas palavras, tanto mais sentimos que esta oragdo procede de Deus. A oracio do Pai Nosso consiste em dez partes ou sentencas. H4 uma declarac&o que diz respeito ao Ser a quem oramos. HA trés peticdes referentes ao nome de Deus, ao seu reino e a sua vontade, H4 quatro petigdes a respeito de nossas necessidades didrias, nossos pecados, nos- sas debilidades e perigos. Ha uma declaragao dos nossos sentimentos a respeito do préximo, Ha uma atribuigao final de louvor. Em todas estas partes da oracao somos ensinados a dizer ‘‘ndés’’ ou ‘“‘nosso’’. De- vemos nos lembrar das outras pessoas, tanto quanto de néds mesmos, Um livro poderia ser escrito a respeito de cada uma das partes dessa oracao, mas, no momento, precisamos nos contentar em observar sen- tenca apéds sentenga, assinalando em que dirego aponta cada uma delas. A primeira sentenga declara a quem devemos orar: ‘‘Pai nosso que est4s nos céus’’. Nao devemos clamar a santos ou a anjos, mas exclusivamente ao Pai, o Pai eterno, 0 Pai dos espiritos, o Senhor dos céus e da terra. Podemos chamé-Lo de Pai no sentido de que Ele é 0 nosso criador, conforme fez o apdéstolo Paulo, perante os atenienses: “Pois nele vivemos, e nos movemos, ¢ existimos... dele também so- mos geragéo’’ (At 17.28). Nés também O chamamos de Pai no sentido mais elevado da Palavra, como o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, porquanto Deus nos reconciliou consigo mesmo por meio da morte de seu Filho, Jesus Cristo (Cl 1.20-22). Nés professamos aquilo que os santos do Antigo Testamento, se viam, viam-no como que por um espelho, isto é, professamos ser filhos de Deus, mediante a f6 em Cristo, e professamos ter o ‘‘espirito de adogiio, baseados no qual clamamos: Aba, Pai’’ (Rm 8.15). Isto é algo que jamais devemos esquecer; se desejamos ser salvos, devemos almejar esta filiagéo com Deus. Sem a fé no sangue de Jesus Cristo, e sem a nossa unido com Ele, é inutil falarmos em confianga na pater- nidade de Deus. A segunda sentenga consiste em uma petigao concernente ao nome de Deus: ‘‘santificado seja o teu nome’’. Quando falamos no ‘‘nome’’ Mateus 6.9-15 39 de Deus, entendemos todos aqueles atributos divinos através dos quais Ele se tem revelado a nés — o seu poder, sabedoria, santidade, justiga, misericérdia e verdade. Quando rogamos que esses atributos sejam ‘‘san- tificados’’, pedimos que eles sejam feitos conhecidos e glorificados. A gléria de Deus é a primeira coisa que os filhos de Deus deveriam almejar. Esse foi o assunto de uma das oragdes do préprio Senhor Je- sus: ‘‘Pai, glorifica 0 teu nome’’ (Jo 12.28). Este é 0 propésito para 0 qual o mundo foi criado. Esta é a finalidade pela qual os santos sio chamados e convertidos. A principal coisa que deverfamos buscar nesta vida é que ‘‘em todas as cousas seja Deus glorificado’’ (1 Pe 4.11). A terceira sentenga envolve uma petigdo acerca do reino de Deus: “‘venha 0 teu reino’’. Por ‘‘teu reino’’ entendemos, primeiramente, 0 reino da graca que Deus estabelece e mantém no coraciio de todos os membros vivos do corpo de Cristo, por meio de seu Espfrito e de sua Palavra. Mas, principalmente, entendemos tratar-se daquele reino de gloria que um dia ser4 estabelecido, quando o Senhor Jesus vier pela segunda vez. Ent&o todos conheceriio ao Senhor, ‘‘desde o menor deles até ao maior’ (Hb 8.11). Nessa ocasiao o pecado, a tristeza e Satands serio expulsos do mundo. O judeus sero convertidos e viré a plenitude dos gentios (Rm 11.25), e seré o tempo mais desejdvel que jamais exis- tiu. Esta petigdo, portanto, tem um lugar de proeminéncia dentro da oragéo do Pai Nosso. A quarta sentenga é uma petic¢ao concernente a vontade de Deus: “‘faca-se a tua vontade, assim na terra como no céu’’, Neste ponto, ora- mos no sentido de que as leis de Deus possam ser obedecidas pelos homens tao perfeita, pronta e incessantemente como 0 s&o pelos anjos, no céu. Rogamos que aqueles que agora nao obedecem as leis de Deus, sejam ensinados a obedecé-las, e que aqueles que obedecem o fagam ainda com maior empenho. A nossa mais auténtica felicidade consiste em perfeita submissfo 4 vontade de Deus; é demonstragdo do mais alto amor cristéo orar no sentido de que toda a humanidade possa conhecer a vontade de Deus, obedecé-la e submeter-se a ela. A quinta sentenga 6 uma peti¢do referente as nossas préprias necessidades didrias: ‘‘o pio nosso de cada dia dé-nos hoje’’. Somos aqui ensinados a reconhecer a nossa inteira dependéncia de Deus para © suprimento das nossas necessidades didrias. Tal como Israel preci- sava do mand diariamente, assim também precisamos diariamente do nosso pio. Nés confessamos que somos pobres, fracos, criaturas ne- cessitadas, e suplicamos a Deus, nosso Criador, que tome conta de nés. Pedimos pao como a mais simples das nossas necessidades materiais; mas, nessa palavra, incluimos todas as necessidades do nosso corpo. A sexta sentenga é uma peticao a respeito dos nossos pecados: 40 Mateus 6.9-15 “‘perdoa-nos as nossas dfvidas”. Confessamos que somos pecadores que precisamos receber diariamente 0 perdio de nossas transgressOes. Esta é uma parte da orago do Pai Nosso que merece ser especialmente relembrada. Ela condena toda justica-prépria e auto-justificagao. So- mos aqui instrufdos a manter um hébito continuo de confissio junto ao trono da graga; e um hébito continuo de buscar misericérdia e re- missGio. Que isto jamais seja esquecido. Precisamos ‘‘lavar os pés’’ diariamente (Jo 13.10). A sétima sentenga € uma declaragao atinente aos nossos senti- mentos para com o préximo: rogamos ao Pai que nos perdoe ‘‘as nossas d{vidas assim como nés temos perdoado aos nossos devedores’’. Esta €a tinica declaragao de um compromisso nosso para com Deus que apa- rece em toda a oracdo, e a tinica parte da oracdo na qual Jesus se detém para fazer um comentério posterior. Jesus nos relembra que nao deve- mos esperar receber o perdao, quando oramos, se o fizermos com malicia ou rancor no corac&o, para com os outros. Orar com tal atitude mental é mero formalismo e hipocrisia. B ainda pior do que hipocrisia. E como dizer: ‘“Nio me perdoe’’. Nossa oracdo nada vale sem amor. Nao de- vemos esperar ser perdoados, se nds nfo conseguimos perdoar. A oitava sentenga é wma peti¢do a respeito de nossas fraquezas: “‘ndo nos deixes cair em tentagdo’’. Ela nos ensina que a todo momento podemos ser enganados e cair em transgressao. Ela nos instrui a con- fessar nossas debilidades, e a buscar a Deus para nos sustentar e nao nos deixar andar em pecado. Rogamos que ele, que ordena todas as coisas no céu e na terra, ndo nos deixe incorrer naquilo que é preju- dicial 4s nossas almas, e que jamais permita que sejamos tentados acima do que somos capazes de suportar (1 Co 10.13). A nona sentenga é uma peti¢do acerca dos perigos que nos ame- acam: ‘‘livra-nos do mal’’. Somos aqui ensinados a pedir que Deus nos livre do mal existente neste mundo, do mal que esté dentro dos nossos préprios coragdes, e, nao menos importante, do maligno, que €0 diabo. Confessamos que, enquanto estamos no corpo, estamos cons- tantemente vendo, ouvindo e sentindo a presenga do mal. Ele esté do nosso lado, dentro de nds e ao nosso redor, por todos os lados. Assim rogamos a Deus, que € 0 tinico que pode nos preservar, para que se- jamos continuamente libertos do poder do mal (Jo 17.15). A tiltima sentenca € uma atrlbuicdo de louvor: “‘teu € 0 reino, 0 poder e a gléria’’. Com tais palavras, declaramos a nossa crenga de que os reinos deste mundo sao legftima propriedade de nosso Pai ce- lestial, que a Ele pertence todo o poder, € que s6 Ele merece receber toda gléria. Concluimos a grande ora¢iio oferecendo ao Senhor a pro- fissdio dos nossos coragdes, de que Lhe conferimos toda honra e louvor, Mateus 6.9-15 41 € nos regozijamos no fato de que Ele é 0 Rei dos reis e o Senhor dos senhores. Agora, examinemos a nés mesmos, para saber se realmente de- sejamos ter as coisas que somos ensinados a pedir, nesta oragao. E de temer que milhares de pessoas repitam formalmente estas palavras, dia apés dia, sem jamais considerarem 0 que esto dizendo. Eles nao tém a menor preocupacdo com a gléria, 0 reino ou a vontade do Senhor. Nao tém nenhum senso de dependéncia, de pecaminosidade, de fraqueza pessoal ou de perigo. Nao tem amor nem compaixfo para com os seus inimigos, E, ainda assim, repetem a oracao do Pai Nosso! As coisas nao deveriam ser assim. Que nds possamos tomar uma decisio e, com a ajuda de Deus, fazer com que nossos labios e nossos coragdes ca- minhem juntos! Bem-aventurado 6 quem verdadeiramente pode chamar Deus de Pai celestial, por intermédio de Jesus Cristo, seu Salvador, € que, portanto, pode sinceramente dizer ‘‘Amém’’, de todo 0 coragao, a tudo quanto a oracaio do Pai Nosso contém, A Maneira Correta de Jejuar; O Tesouro no Céu, e Exortacies Lela Mateus 6.16-24 Nesta parte do Sermio da Montanha, nosso Senhor nos fala de trés assuntos. Estes so o jejum, 0 mundanismo e a importancia de se ter um propésito bem definido em se tratando de religiao. O jejum, ou a abstinéncia ocasional de alimentos, a fim de trazer © corpo em sujeic¢ao ao espfrito, é uma pratica freqiientemente mencio- nada na Biblia, e geralmente vinculada a ora¢ao. Davi jejuou quando seu filho recém-nascido adoeceu gravemente. Daniel jejuava quando buscava uma orientagéo especial da parte de Deus. Paulo e Barnabé jejuavam quando apontavam os ancidos para as igrejas locais. Ester je- juou antes de apresentar-se ao rei Assuero. O jejum é um assunto sobre © qual nao encontramos nenhum mandamento direto no Novo Testa- mento, Parece ser deixado a critério de cada um, se vai jejuar ou nao. Nisto hé grande sabedoria. Muitos homens pobres nunca tém o sufi- ciente para comer, e seria um insulto ordenar-Ihes o jejum. Muitos enfermos tém dificuldade em se alimentar bem, mesmo dando toda atencao a dieta, e o jejum contribuiria para agravar ainda mais a do- enga. Esta é uma questo em que cada um precisa estar persuadido em sua prépria mente, e nao ser precipitado em condenar os que nao con- cordem com ele, Somente um ponto jamais deve ser esquecido, Quem 42 Mateus 616-24 jejua, deve fazé-lo quietamente, em segredo e sem ostentagio. Deve fazé-lo de maneira a no parecer aos homens que jejua. Que nao jejue para os homens, mas para Deus. O mundanismo é um dos maiores perigos que ameaga a alma do ser humano. Nao é para admirar, portanto, encontrarmos nosso Senhor falando decididamente contra isso. Trata-se de um inimigo insidioso, astuto e muito enganador. Parece tao inocente dar atengdo especial aos nossos negécios! Parece tao inofensivo procurar a felicidade neste mundo, desde que estejamos limpos de pecados mais visiveis! No entanto, esta é uma pedra contra a qual muitos podem naufragar para toda a eter- nidade. Eles acumulam ‘‘tesouros sobre a terra’”’ e esquecem de ajuntar “tesouros nos céus’’. Que todos nos lembremos disto! Onde est4 posto © meu corac¢io? O que amo acima de tudo o mais? Os meus maiores afetos esto ligados as coisas deste mundo, ou as realidades celestiais? A morte e a vida dependem da resposta que formos capazes de dar a estas indagacdes. Se o nosso tesouro estd sobre a terra, nossos coragdes serfo terrenos — ‘‘porque onde esté o teu tesouro, af estard também 0 teu coragaéo’’, Ter um proposito bem definido é um dos maiores segredos da prosperidade espiritual. Se os nossos olhos nao véem distintamente, nao podemos caminhar sem tropecar e cair. Se tentarmos trabalhar para dois mestres diferentes, poderemos ter a certeza de nao satisfazer nem a um nem a outro. Acontece 0 mesmo a respeito de nossas almas. Nao po- demos servir a Cristo e ao mundo ao mesmo tempo. Isto simplesmente nao pode ser feito. A arca da alianga e a estétua de Dagom jamais per- manecerao juntas. Deus deve ser Rei sobre os nossos coragdes. A Lei de Deus, a sua vontade ¢ os seus preceitos devem receber a nossa pri- meira atencao, Entdo, e somente entao, todas as coisas se ajustarao em seus devidos lugares em nosso homem interior. A menos que os nossos coragGes estejam assim, tao bem ordenados, tudo mais estar4 em con- fusio: “Todo o teu corpo estard em trevas’’. Com a instrugio do Senhor acerca do jejum, aprendamos a grande importancia do contentamento, em nossa religiao. As palavras, ‘“‘unge a cabega e lava o rosto’’, so repletas de profundo significado. Elas deveriam nos ensinar a ter por alvo permitir que os homens vejam que © cristianismo nos faz estar contentes. Jamais nos esquegamos de que n§o existe religiio alguma em parecermos melancélicos e tristes. Es- tamos insatisfeitos com Cristo e o servigo do seu reino? Certamente que nao! Entéo nfo tenhamos a aparéncia de quem esté insatisfeito. Aprendamos, com base na adverténcia do Senhor acerca do mun- danismo, como é grande a@ necessidade que todos nds temos de vigiar é orar contra um esptrito mundano. O que esté fazendo a vasta maioria Mateus 6.16-24 43 de professos ‘‘cristaos’’ ao nosso redor? Esto acumulando ‘“‘tesouros na terra’, Quanto a isso nao hd dtivida. Os seus gostos, hdbitos e pro- cedimentos nos contam uma temivel histéria: eles nao estio ajuntando “*tesouros no céu’”’, Oh, cuidemos, todos, de nfo cairmos no inferno, somente porque damos atencao excessiva a coisas que so perfeitamente legitimas! A transgressao notéria da lei de Deus mata os seus milhares, € 0 mundanismo os seus dez milhares! Aprendamos, com base no que nosso Senhor disse acerca dos “‘olhos bons’, o verdadeiro segredo das falhas que tantos cristaos pa- recem cometer, em sua religido. H4 fracassos por toda parte. Existem milhares de pessoas, em nossas igrejas, que se sentem desconfortdveis, irrequietas e insatisfeitas consigo mesmas, sem mesmo saber por qué. A razao disso esté aqui revelada: eles querem estar de bem com Deus e com o mundo. Esto tentando agradar a Deus e aos homens, servir a Cristo e ao mundo, ao mesmo tempo. Nao incorramos nesse erro. Que nés sejamos decididos e radicais, inflexfveis seguidores de Cristo. Que 0 nosso lema seja o mesmo do apéstolo Paulo: ‘‘Uma cousa fago”’ (Fp 3.13), Entéo seremos cristaos felizes. Sentiremos 0 sol brilhando sobre as nossas faces! Coracdo, mente e consciéncia, estarao todos che- ios de luz. Determinagiio € 0 segredo da felicidade na religido crista. Seja crente decidido, e entao, ‘todo o teu corpo ser4 luminoso’’. A Proibida Preocupagéo Com Este Mundo Leia Mateus 6.25-34 Estes versiculos revelam 0 misto da sabedoria e compaixao do Senhor Jesus Cristo em seus ensinos. Ele conhece 0 coragaéo humano. Ele sabe que todos nés estamos prontos a desconsiderar as suas adver- téncias contra o mundanismo, com o argumento de nao poder evitar estarmos ansiosos acerca das coisas desta vida. ‘‘Acaso no precisamos suprir o necessdrio para nossas familias? Ser4 que nao precisamos aten- der as nossas necessidades materiais? Como poderemos vencer na vida, se dermos atencao principal as nossas almas?’’ O Senhor Jesus previu tais pensamentos e nos forneceu uma resposta. Ele nos proibe de manter um esptrito de ansiedade e solicitude quanto as coisas deste mundo. Por quatro vezes Ele nos diz: ‘‘N&o an- deis ansiosos...’’ com a vida, com a alimentac&o, com o vestudrio e com 0 amamha. ‘‘Nao andeis ansiosos.’’ Nao se preocupe demais; nao esteja demasiadamente aflito. EB correto fazer uma provisio cautelosa para o futuro; mas a fadiga excessiva, a preocupacdo desgastante, a ansiedade que atormenta — tudo isso estd errado. 44 Mateus 6.25-34 Jesus nos lembra do cuidado providencial que Deus continua- mente tem para com tudo quanto Ele criou. Ele nos deu ‘‘vida’’? Entao,- certamente nao permitiré que coisa alguma nos falte para a manutencio dessa vida. Ele nos deu um corpo? Ent&o, certamente nao nos deixaré morrer por falta de agasalho. Ele que nos deu o ser, sem duvida en- contrar4 alimentos para nos sustentar. Jesus mostra a inutilidade da ansiedade excessiva. A nossa vida est4 inteiramente nas mfos de Deus. Nem mesmo toda a ansiedade do mundo nos far4 viver um minuto além do tempo que Deus determinou para nds. N&o morreremos enquanto a nossa obra nao estiver terminada. Ele nos manda observar as ‘‘aves do céu’’, para recebermos ins- trugdo, Elas ndo fazem qualquer provisao para o futuro: ‘‘ndo semeiam, nem colhem ...’’ Elas nao ‘‘ajuntam em celeiros’’ para prevenir o fu- turo. Literalmente, as aves vivem, dia apds dia, daquilo que conseguem encontrar usando o instinto que Deus lhes deu. Devemos aprender, com as aves, que Deus jamais permitird cair em miséria quem estiver cum- prindo seu dever, no lugar em que Deus o colocou. Jesus também nos manda observar ‘‘os lirios do campo’’. Ano apés ano, eles se adornam com as mais alegres cores, sem o menor trabalho ou esforgo. ‘‘Eles nao trabalham nem fiam.’’ Deus, pelo seu infinito poder, os veste de beleza sem par, a cada estactio. Este mesmo Deus € 0 Pai de todos os crentes. Por que deveriam duvidar de que Ele é capaz de thes prover as vestes necess4rias, tal como o faz para 0s lfrios do campo? Ele que toma cuidado das flores do campo, que s&o passageiras, certamente nao negligenciard os corpos nos quais ha- bitam almas imortais. Jesus nos dé a entender que a excessiva preocupagdo com as coi- sas deste mundo é algo extremamente indigno de um cristao. Uma grande caracteristica do paganismo é viver para o presente. Deixe que os pagaos estejam ansiosos, se assim desejarem. Eles nada sabem a respeito de um Pai celestial. Mas os cristéos, que tém um maior conhecimento e uma visio clara da realidade, devem dar prova disso, pela sua fé e con- tentamento. Quando perdemos alguém que amamos, nao devemos nos entristecer ‘tcomo os demais, que nao tém esperanga’”’ (1 Ts 4.13). Quando tentados pelas ansiedades desta vida, nao devemos estar por demais preocupados, como se nao tivéssemos nem Deus e nem Cristo. Cristo nos ofereceu uma graciosa promessa, como um remédio contra a ansiedade de espfrito. Ele nos garante que, se buscarmos pri- meiro, € acima de tudo, um lugar no reino de graca e gléria, entéo todas as coisas de que realmente precisamos nos serio dadas. Todas estas coisas vos serao ‘‘acrescentadas’’, acima e além da heranca celestial. “Todas as cousas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus’’ Mateus 6.25-34 45 (Rm 8.28). ‘‘O Senhor dé graga e gléria; nenhum bem sonega aos que andam retamente”’ (SI 84.11). Por fim, Jesus sela a sua instrucao sobre este assunto com uma das mais sdbias afirmagées: ‘‘o amanha traré os seus cuidados; basta ao dia o seu préprio mal’’. Nao devemos carregar preocupagées antes do tempo préprio. Devemos atender as ocupacées do dia de hoje e dei- xar as preocupagdes do amanhi para quando raiar 0 novo dia. Podemos morrer antes do amanhecer! A tinica coisa de que podemos ter certeza € que, se o dia de amanhi nos trouxer uma cruz, Aquele que a envia pode, e ir4, nos enviar a graga necessdria para carreg4-la. Em toda essa passagem existe um tesouro de ligdes de ouro. Pro- curemos us4-las na nossa vida didria. Que nfo apenas leiamos essas lig6es, mas que as ponhamos em prdtica. Vigiemos e oremos contra um espfrito ansioso e excessivamente preocupado. Isto afeta profunda- mente a nossa felicidade. Metade das nossas misérias so causadas pela ilusao de coisas que nés pensamos estarem vindo sobre nds. Metade das coisas que imaginamos estarem vindo sobre nés, na verdade jamais acontecem. Onde esté a nossa fé? Onde esta a confianga que temos nas palavras de nosso Salvador? Lendo estes versiculos bem podemos nos envergonhar de nés mesmos, para ent&io examinarmos os nossos co- rages. Contudo, podemos ter certeza de que as palavras de Davi ex- pressam uma grande verdade: ‘‘Fui mogo, e jé, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendéncia a mendigar o pao’’ (SI 37.25). A Censura é Proibida; A Oragio é Encorajada Leia Mateus 7, 1-12 A primeira parte destes vers{culos é uma das passagens biblicas que precisamos ter 0 cuidado de nao forgar para além do seu devido significado. Esta parte é freqlientemente corrompida e aplicada de modo erréneo pelos inimigos da verdadeira religiio. & posstvel pressionar de tal maneira as palavras da Bfblia que elas acabam produzindo nao o remédio espiritual, e, sim, veneno. Nosso Senhor nfo intencionava de modo algum dizer que é er- rado proferir um jufzo desfavoravel sobre a conduta € a opiniao de outras pessoas. Precisamos ter opinides bem formadas e decididas. Devemos julgar ‘‘todas as cousas’’ (1 Ts 5.21). Devemos provar ‘‘os espfritos’’ (1 Jo 4.1). Nem, tampouco, Cristo quis dizer que seja errado reprovar 46 Mateus 7.1-12 os pecados e as faltas de outras pessoas, enquanto nés mesmos nio te- nhamos atingido a perfeigéo e nao estejamos destitufdos de falta. Tal interpretac&o seria uma contradig&o a outras passagens da Escritura. Isso tornaria impossfvel condenar 0 erro e as falsas doutrinas. Seria um impedimento para qualquer um que desejasse ser ministro do evan- gelho ou juiz. A terra estaria nas mos dos perversos (J6 9.24). As heresias se espalhariam. Os malfeitores se multiplicariam por toda a parte. O que nosso Senhor condena é um esptrito crttico que em tudo encontra alguma falta. A prontidio em condenar as pessoas por causa de pequenas coisas ou questées de pouca importancia, o hébito de fazer julgamentos duros e precipitados, a disposigZo em exagerar os erros € fraquezas do préximo, e de sempre pensar o pior — isso tudo nosso Senhor nos profbe. Essas coisas eram comuns entre os fariseus, e con- tinuam sendo comuns desde aquela época, até hoje. Todos precisamos vigiar para nao cairmos em tal erro. O amor “‘tudo cré, tudo espera” das outras pessoas, e nés deverfamos ser muito vagarosos em procurar defeitos no nosso préximo., Esse é 0 verdadeiro amor cristo (1 Co 13), A segunda lig&o contida nesta passagem é a importdncia de se ter discrigdo quanto a pessoa com quem falamos sobre os assuntos de religiao. Tudo é maravilhoso no seu devido tempo e lugar. Nosso zelo deve ser temperado por uma prudente consideragao acerca da ocasiao, do lugar e das pessoas a quem nos dirigimos, Salomio disse: ‘‘Nao repreendas o escarnecedor, para que te nao aborreca’’ (Pv 9.8). Nao € sdbio abrir 0 coragéo com todo mundo, a respeito das coisas espiri- tuais. H4 muitos que por causa de um temperamento violento, ou de hébitos abertamente pervertidos, sao totalmente incapazes de dar valor as verdades do evangelho, Podem mesmo explodir de ira e cair em ma- iores pecados, se vocé tentar fazer bem As suas almas. Mencionar 0 nome de Cristo a tais pessoas é como langar pérolas aos porcos. Isso nao hes faz bem, e, sim, mal. A tentativa s6 fard despertar nessas pes- soas toda a sua corrupcao, e as deixa furiosas. Em suma, eles so como os judeus de Corinto (At 18.6), ou como Nabal, acerca de quem ficou registrado: ‘‘ele é filho de Belial, e nao ha quem Ihe possa falar” (1 Sm 25.17). Esta é uma lig&o particularmente dificil de se usar de maneira adequada. £ preciso muita sabedoria para aplicé-la corretamente. A ma- ioria de nés inclina-se muito mais a errar por excesso de cautela do que por excesso de entusiasmo. Geralmente tendemos muito mais por lembrar ‘‘o tempo de estar calado”’ do que ‘‘o tempo de falar”. Nao obstante, esta é uma lig&io que deveria despertar em nds um espfrito de auto-inquirigéo. Acaso, nés mesmos, as vezes, néo desencorajamos Os nossos amigos quando eles tentam nos dar bons conselhos, pela nossa Mateus 7.1-12 47 morosidade ou irritabilidade de temperamento? Nunca obrigamos ou- tras pessoas a se manterem em siléncio e a nada dizerem, por causa do nosso orgulho ou impaciente desprezo pelos conselhos que recebe- mos? Serd que nunca nos voltamos contra os nossos gentis conselheiros, e€ os silenciamos pela nossa violéncia e ira? Infelizmente, com razio podemos temer que nés também temos errado quanto a essa questo! A tiltima lic¢do contida nesta passagem € o dever de orar, e os ricos encorajamentos @ oracdao. Existe uma maravilhosa conex4o entre esta lig&o e aquela que lhe antecede, Queremos saber quando estar em “‘siléncio’’ e quando ‘“‘falar’’? quando devemos apresentar as coisas “‘santas’’ e quando expor as nossas ‘‘pérolas’’? Entaio devemos orar. Este 6 um assunto ao qual o Senhor Jesus evidentemente atribui grande importancia. A linguagem que Ele usa é uma prova clara. Ele emprega trés vocdbulos diferentes para exprimir a idéia de oragao: ‘‘Pedi... bus- cai... batei...’’ Jesus reserva as maiores e mais ricas promessas para os que oram, ‘‘Pois todo o que pede, recebe.”’ Ele ilustra a disposigo de Deus em ouvir as nossas oragdes, mediante um argumento extrafdo da pratica corriqueira dos pais para com seus filhos. Ainda que os pais sejam maus e egofstas por natureza, nao negligenciam as necessidades de seus filhos segundo a carne. Muito mais um Deus de amor e mise- ricérdia atender4 aos clamores daqueles que sao seus filhos, mediante a graca. Devemos dar atengao especial a estas palavras de nosso Senhor a respeito da oragéo. Bem poucos dos seus ensinamentos, talvez, sejam tao bem conhecidos e tao freqiientemente repetidos quanto estes. Mesmo 0s mais pobres e ignorantes sao capazes de dizer que ‘quem procura, acha’’. Mas, de que adianta saber estas cousas, se nao fazemos uso de- las? O conhecimento nao aprimorado e nao bem empregado, servird apenas para agravar a nossa condenag&o no dia do jufzo. Ser4 que sabemos como pedir, buscar e bater? Por que razao nao saberfamos? Nada existe tao simples e claro quanto a oragao, se 0 ho- mem realmente tem o desejo de orar. Mas, infelizmente, nao existe nada que os homens menos se disponham a fazer. Eles fazem uso de muitas formas de religiosidade, cumprem muitas ordenangas e fazem muitas coisas que estio certas, mas nao estao dispostos a orar. Todavia, sem oragao, nenhuma alma jamais se salvard. Serd que realmente oramos? Em caso contrério, quando chegar- mos na presenga de Deus, ficaremos sem desculpa, a menos que nos arrependamos em tempo. N&o seremos condenados por nio fazer aquilo que nao poderfamos ter feito, ou por nao saber aquilo que nao pode- rfamos ter conhecido. Entretanto, descobriremos que uma das principais raz6es porque estamos perdidos é porque nunca pedimos para ser salvos. 48 Mateus 7.1-12 Ser4 que de fato oramos? Ent&o oremos ainda mais, sem nunca desanimar. Orar nunca é trabalho perdido, nem em vao. Haveré um dia de produzir fruto, mesmo que se passe muito tempo. Esta palavra de Jesus nunca falhou: ‘‘Pois todo o que pede, recebe’’. A Regra de Dever Para Com o Préximo; As Duas Portas; Adverténcias Contra os Falsos Profetas Leia Mateus 7.13-20 Neste segmento do Sermao da Montanha, nosso Senhor direciona © seu discurso para uma conclusao. As ligdes que Ele aqui enfatiza sao gerais, amplas e repletas da mais profunda sabedoria. Observemos tais ligdes, uma por uma, Jesus langou um princtpio geral para nossa orientagdo, para to- das as questdes duvidosas que surgem entre uma pessoa e outra. Devemos fazer aos outros conforme desejamos que eles nos fagam. Nao devemos tratar as outras pessoas 4 maneira como elas nos tratam. Isto é mero egoismo e paganismo. Devemos tratar com as outras pessoas conforme gostarfamos que elas tratassem conosco. O verdadeiro cristianismo ¢ isso. Esta de fato 6 uma regra de ouro! Ela nao somente nos profbe toda malfcia e vinganca, todo exagero e falsidade; ela vai muito além, ¢ resolve uma centena de pontos diffceis que surgem continuamente en- tre um homem e seu préximo, num mundo como este. Ela torna desnecessfrio estabelecer uma série intermindvel de pequenas regras para nossa conduta quanto a casos especfficos, Ela abrange todos os poss{veis argumentos com um tnico e poderoso principio. Mostra-nos um padrao bem equilibrado e uma medida pela qual todos podemos per- ceber, de imediato, 0 nosso dever. Existe algo que nao gostariamos que alguém fizesse contra nés? Entao, jamais nos esquecamos de que é exatamente isso que nao devemos fazer as outras pessoas. Haveré al- guma coisa que gostariamos que outras pessoas fizessem por nds? Entiéo € precisamente isso que devemos fazer em favor de outras pessoas. Quan- tas questGes intrincadas seriam decididas prontamente, se esta regra fosse honestamente praticada! Em segundo lugar, nosso Senhor nos dé uma adverténcia gerai contra a maneira como muitos agem quanto a religiao. Nao podemos ficar satisfeitos em seguir a moda e nadar na corrente daqueles entre os quais vivemos, Jesus nos diz que o caminho que conduz a vida eterna € apertado, e poucos so os que por ele caminham. Ele nos diz que Mateus 7.13-20 49 ocaminho que conduz a perdicio é espagoso e est4 repleto de viajantes. Sao muitos os que entram pelo caminho largo. Estas séo verdades terrfveis! Elas deveriam suscitar, em todos Os que as ouvem, um profundo auto-exame no coragao. ‘‘Em que ca- minho estou seguindo? Em qual estrada estou viajando?”’ Todos nés seguimos por um ou outro desses dois caminhos. Que Deus nos dé um espirito honesto e inquisitivo, e nos mostre o que realmente somos! Deverfamos estar preocupados ¢ temerosos se a nossa religifio é a mesma das multiddes. Se o que de melhor poderfamos afirmar é que nés “‘vamos onde outros est&o indo, freqiientamos a mesma igreja € esperamos que, no final, seremos tao bem sucedidos quanto os ou- tros’’, estaremos literalmente pronunciando a nossa prépria condenacao. O que isto significa sen&o que estamos seguindo pelo caminho largo? O que significa isso, sendo que estamos seguindo no ‘‘caminho que con- duz para a perdic&o’’? Nessa altura, a nossa religido nao é a religiio que salva. Nao temos motivo algum para nos sentirmos desencorajados e abatidos, se a religiio que professamos nao é popular, e se poucos con- cordam conosco. Devemos lembrar as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, nesta passagem: ‘‘estreita é a porta’. O arrependimento, a fé em Cristo € a santidade na vida nunca estiveram na moda. O verdadeiro rebanho de Cristo sempre tem sido pequeno. Nao devemos estranhar se descobrimos que somos reputados como pessoas estranhas, esquisi- tas, fandticas e de mente estreita. Este é o “‘caminho apertado’’. Certamente é melhor alguém entrar na vida eterna na companhia de uns poucos do que ir para a perdi¢fo em companhia de muitos. Em tltimo lugar, o Senhor Jesus nos dé uma adverténcia geral contra os falsos mestres na igreja. Devemos nos acautelar dos falsos profetas. A conex4o entre esta passagem e a anterior é impressionante. Queremos ficar bem longe do ‘‘caminho largo’? Ent&o, devemos estar precavidos contra falsos profetas, pois haverao de surgir. Eles come- garam a aparecer jd nos dias dos apédstolos. Desde aquele tempo as sementes do erro tém sido lancadas. Desde entao, eles tem aparecido continuamente. Precisamos estar preparados contra eles, mantendo-nos sempre em guarda, Esta é uma adverténcia de que muito precisamos. H4 milhares de pessoas que parecem estar sempre prontas a crer em qualquer coisa que ouvirem, desde que venha dos labios de alguém que tenha o tftulo de ministro religioso. Esquecem-se que um clérigo pode errar, tanto quanto um leigo. Eles nao sao infaliveis. O que eles ensinam precisa ser confrontado com os ensinamentos das Sagradas Escrituras. $6 de- vemos seguir tais ministros, e crer no que ensinam enquanto as doutrinas 50 Mateus 7.13-20 por eles ensinadas concordarem com a Biblia, e nem um minuto a mais. Devemos fazer prova deles, pelos ‘‘seus frutos’’. Sa doutrina e vida santa sao sinais caracterfsticos dos verdadeiros profetas. Lembremo- -nos disto. Os erros dos nossos ministros nao justificam os nossos prdprios erros. ‘‘Se um cego guiar outro cego, cairao ambos no bar- ranco’”’ (Mt 15.14). Qual a melhor salvaguarda contra falsos ensinamentos? Sem som- bra de dtivida, a resposta € 0 estudo regular da Palavra de Deus, sempre acompanhado de uma orac&o que rogue a iluminacao do Espfrito Santo. A Biblia foi-nos outorgada para ser uma l4mpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos (SI 119.105). Deus nao permitird que quem a ler corretamente caia em algum erro irremedidvel. A negligéncia para com a Bfblia é que faz tantas pessoas se tornarem presas féceis do pri- meiro falso mestre que aparecer. Tais pessoas querem nos fazer acreditar que no sao ‘‘estudados”’, e nem tém a “‘pretensfio’’ de terem opinides bem formadas. A verdade é que sao preguicosos, negligenciam a lei- tura da Biblia, e nao querem ter o trabalho de pensar por si mesmos. N§o existe nada que forneca tantos seguidores para os falsos profetas do que a preguiga espiritual, disfargada sob uma capa de humildade. Que todos nés possamos sempre ter em mente a adverténcia do Senhor! O mundo, o diabo e a carne nao sao os unicos perigos no ca- minho do crist&o. H4 ainda um outro: o ‘“‘falso profeta’’, o lobo disfargado em pele de ovelha. Feliz é quem estuda a Bfblia e ora, e sabe a diferenga entre a verdade e 0 engodo, na religiao! Existe uma diferenga, e nés deveriamos reconhecé-la muito bem, fazendo uso do conhecimento que nos foi outorgado, A Inutilidade da Profissao Religiosa Sem a Pratica; Os Dois Construtores Leia Mateus 7.2]-29 O Senhor Jesus encerra 0 Serm&o da Montanha com uma apli- cacio penetrante. A sua admoestacao abrange desde os falsos profetas até os ‘‘professos’’ cristéios, desde falsos mestres até ouvintes negligen- tes. Eis aqui uma palavra para todos, Que nés possamos aplicd-la aos nossos préprios coragées! A primeira lig&o aqui, é a inutilidade de uma profissdo mera- mente externa do cristianismo, Nem todos os que dizem ‘‘Senhor, Senhor’’ entrarao no reino dos céus. Nem todos os que professam o cristinianismo, ou se dizem crist&os, serao salvos. Mateus 7.21-29 51 Prestemos atencio a este fato: para salvar uma alma é preciso muito mais do que a maioria das pessoas parece julgar necessdrio. Po- demos até ter sido batizados em nome de Cristo, e nos orgulhar presungosamente em nossos privilégios eclesidsticos. Podemos ser do- nos de grande conhecimento intelectual, e estar bem satisfeitos com a nossa condi¢éo. Podemos até mesmo ser pregadores e mestres sobre outrem, e fazer ‘‘muitas obras maravilhosas’’ em conexdo com a igreja a que pertencemos. Mas, durante todo esse tempo, temos praticado a vontade do Pai celeste? Temos verdadeiramente nos arrependido? Te- mos realmente confiado em Cristo e vivido vidas santas e humildes? Se assim nfo for, a despeito de todos os nossos privilégios, e do nosso professo cristianismo, perderemos © céu afinal, e seremos rejeitados para todo o sempre. Ouviremos aquelas terrfveis palavras: ‘‘Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqiiidade’’. O dia do jufzo final haver4 de revelar coisas muito estranhas. As esperancas de muitos dos que foram considerados grandes cristios, quando em vida, serao totalmente vas. A corrupcao de sua religifio seré desmascarada e langada ao oprdbrio, perante os olhos do mundo inteiro. E entfo ficard provado que, para ser salvo, é necessério muito mais do que apenas ‘‘uma profissao de fé”’. Devemos praticar o nosso cris- tianismo, tanto quanto profess4-lo. Que nés com freqiiéncia nos lem- bremos desse grande dia do jufzo, e nos julguemos a nés mesmos, para n&o sermos julgados e condenados (1 Co 11.31) pelo Senhor, Sem im- portar 0 que mais sejamos, que 0 nosso alvo consista em sermos reais, verdadeiros e sinceros. A segunda ligao, nesta passagem, é um impressionante quadro das duas classes de ouvintes — os que ouvem, mas nao praticam; e os que nao apenas ouvem, mas pdem em pratica o que ouvem, com 0s seus respectivos destinos tragados até o fim. Quem ouve o ensino cristéo ¢ poe em pratica o que ouve, 6 como o ‘‘homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha’’. Ele nio se contenta em apenas ouvir exortagGes ao arrependimento, exortagdes a confiar em Cristo e a viver uma vida santa. Ele de fato se arrepende. Ele realmente cré. Ele realmente abandona a prdtica do mal, aprende a fazer 0 bem, abomina tudo que é pecaminoso e apega-se ao que é bom. Ele nfo sé é um ouvinte, mas também é um praticante (Tg 1.22). E qual é 0 resultado de tudo isso? Em tempos de provagio, a sua religiao nao o desampara. Os diltivios de enfermidade, tristeza, po- breza, desapontamento e desolacdes desabam sobre ele, mas em vao. A sua alma permanece inabaldvel. A sua f€ nfo cede terreno, Nunca € destitufda de conforto. A sua religiao talvez Ihe tenha custado tribu- lagSes, em tempos passados. Os seus alicerces podem ter sido obtidos 52 Mateus 7.21-29 com muito esforco e lagrimas. Para descobrir 0 seu interesse pessoal na pessoa de Cristo, talvez ele tenha passado muitos dias de buscas in- cessantes, muitas horas de luta em orac&o. Porém, os seus labores nao foram em vio. Agora ele colhe uma rica recompensa. A religi&io ver- dadeira é aquela que é capaz de resistir A provacdo. O homem que ouve o ensino cristo, mas nunca passa da mera fase do ouvir, assemelha-se a ‘‘um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia’’. Contenta-se unicamente em ouvir e aprovar; porém, nao vai além disso. Por ter alguns sentimentos, convicgdes ¢ desejos de natureza espiritual ele imagina que vai tudo bem com sua alma. E nessas coisas que ele confia. Ele nunca rompe, de fato, com o pecado ou pie de lado o espfrito mundano. Ele, na verdade, nunca se apropria de Cristo, Nunca toma realmente a sua cruz. E ouvinte da verdade, mas nada mais. E qual é o fim da religiosidade desse homem? Ela é demolida inteiramente, sob a primeira torrente de tribulagdes. Na hora de maior necessidade, a sua religiio o desampara completamente, como uma fonte que seca durante o vero, Ela o deixa em seco, como um barco nau- fragado sobre um banco de areia — um escandalo para a igreja, uma zombaria na boca do incrédulo e uma miséria para si mesmo. A grande verdade € que, 0 que custa pouco, vale pouco! Uma religido que nada nos custa, e que n&o consista em outra coisa, senao em ouvir sermées, sempre provard ser uma atividade inutil, por fim. assim que termina 0 Serm&o do Monte. Jamais se tinha pre- gado um sermio como este anteriormente. Talvez jamais se pregou outro igual desde entdo, Cuidemos para que ele tenha uma influéncia dura- doura e permanente sobre nossa alma. Ele foi dirigido tanto a nés como Aqueles que primeiro o ouviram. Nés somos os que terfio de prestar contas pelas ligdes deste sermio, ligdes que nos sondam o coracio. O que pensamos a respeito destas ligdes no é questo de pouca importancia. A palavra que Jesus tem proferido, essa mesma palavra nos julgaré no Ultimo dia (Jo 12.48). Curas de Lepra, de Paralisia e de Febre Leia Mateus 81-15 No oitavo capitulo do evangelho de Mateus sao descritos nada menos do que cinco milagres efetuados por nosso Senhor. Nisto hé uma maravilhosa concordancia. Convinha que o maior sermao jamais pre- gado, fosse imediatamente seguido por uma forte prova de que o pregador Mateus 8.1-15 53 era o Filho de Deus. Aqueles que ouviram 0 Serm&o do Monte foram forgados a confessar que, assim como ‘‘jamais alguém falou como este homem”’, assim, também, ninguém jamais fez tais prodigios. Nos versfculos que acabamos de ler encontramos trés grandes milagres. Um leproso é curado com um toque da mio de Jesus. Um paralitico 6 curado por uma palavra. E uma mulher, doente com febre, recebe de volta, em um instante, a satide e o vigor. Em face destes trés milagres, podemos perceber trés notéveis ligdes. Examinemos estas ligdes, guardando-as no coragio. Antes de tudo, aprendamos qudao grande é 0 poder de nosso Se- nhor Jesus Cristo. A lepra é uma das mais tem{veis entre as enfermidades que podem afetar o corpo de uma pessoa. O portador dessa doenca assemelhava-se a um morto-vivo. Era uma doenga que os médicos con- sideravam incurdvel (2 Rs 5.7). Mesmo assim, Jesus disse: ‘‘Fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra’”. Curar uma pessoa da paralisia, sem ao menos té-la visto, apenas dizendo uma palavra, € fa- zer algo que as nossas mentes nem mesmo podem conceber. Ainda assim, Jesus ordenou, e a cura se deu imediatamente. Dar a uma mulher aca- mada pela febre, nao apenas 0 alivio da febre, mas, também, o imediato restabelecimento de suas forcas para trabalhar, é algo que ultrapassa as habilidades de qualquer médico. No entanto, Jesus ‘‘tomou pela mfo’’ a sogra de Pedro e ‘‘ a febre a deixou’’. ‘‘Ela se levantou e passou a servi-lo.’’ Estas sio obras de quem é todo-poderoso. Nao hi como escapar & conclusio légica: “Isto é 0 dedo de Deus’’ (Ex 8.19). Encontramos aqui uma base bem ampla para a fé crist@! No evan- gelho somos instrufdos a vir a Jesus, a confiar nEle, a viver a vida de fé em Jesus. Somos encorajados a depender de Jesus, a langar sobre Ele todos os nossos cuidados, a apoiar nEle todo o peso de nossas al- mas. Podemos fazé-lo sem qualquer dtivida ou temor. Jesus pode suportar tudo. Ele é uma rocha inabaldével. Ele € 0 Todo-poderoso. Um antigo santo do Senhor declarou: ‘‘A minha f€ pode repousar com seguranga sobre nenhum outro apoio, sendo a onipoténcia de Cristo’’. Ele pode dar vida aos mortos, poder aos fracos e multiplicar ‘‘as forgas ao que nao tem nenhum vigor’’ (Is 40.29). Confiemos nEle e nao toleremos qualquer receio. O mundo est4 repleto de armadilhas. Nossos coragdes sao fracos, mas com Jesus nada é impossfvel. Ademais, aprendamos qudo misericordioso e compassivo é nosso Senhor Jesus Cristo. As circunstancias dos trés casos que ora consi- deramos eram todas diferentes. Ele ouviu a triste peticgéo do leproso: “‘Senhor, se quiseres, podes purificar-me’’. Falaram-Lhe do servo do centurido, mas Jesus nunca o viu pessoalmente. Ele viu a sogra de Pe- dro ‘tacamada e ardendo em febre’’, porém, ndo lemos que ela tenha 54 Mateus 8.1-15 dito uma tinica palavra. Nao obstante, em cada caso 0 coracao de nosso Senhor Jesus Cristo mostra-se 0 mesmo. Ele prontamente demonstrou misericérdia ¢ a disposigaéo de curar. Cada uma dessas pessoas recebeu a sua terna compaixdo, e cada uma recebeu a cura efetiva. Eis aqui um outro fortfssimo fundamento para a nossa fé! O nosso grande Sumo Sacerdote é extremamente gracioso. Ele pode “‘compadecer-se das nossas fraquezas’’ (Hb 4.15). Ele jamais se cansa de nos fazer o bem. Ele sabe que néds somos um povo fraco e débil, em meio a um mundo atribulado e cansado. Ele est4 téo pronto a ser paciente conosco e a nos ajudar, como estava a 2000 anos atrés. Hoje continua sendo uma verdade, tanto quanto nos tempos antigos, que Ele “ta ninguém despreza”’ (J6 36.5). Nenhum coragAo pode sensibilizar-se tanto por nés quanto 0 coragdo de Cristo. Em tiltimo lugar, aprendamos qudo preciosa é a graga divina da fé. Pouco sabemos a respeito do centuriao descrito nestes versiculos. O nome dele, sua nacionalidade, sua histéria passada, nada disso nos € informado. Entretanto, sabemos de uma coisa — que ele creu em Je- sus. Declarou ele: ‘‘Senhor, néo sou digno de que entres em minha casa; mas apenas manda com uma palavra, € © meu rapaz seré curado’’. Lembremo-nos de que ele creu, enquanto os escribas ¢ os fariseus eram incrédulos. Embora nascido gentio, ele creu, enquanto 0 povo de Israel estava espiritualmente cego. A respeito dele, nosso Senhor proferiu uma palavra de elogio que tem sido lida por todo o mundo, desde aqueles dias até hoje: ‘Nem mesmo em Israel achei {6 como esta’’. Apeguemo-nos com firmeza a esta ligéo, Ela merece ser relem- brada. Crer no poder de Cristo e na sua boa vontade em ajudar, e fazer uso pratico dessa nossa crenga, é um dom raro e precioso. Devemos sempre estar agradecidos por termos este dom. Estarmos dispostos a vir a Jesus nao tendo outra esperanga, e reconhecendo a nossa condi¢ao de pecadores perdidos, e entregar as nossas almas as mfos dEle, é um grande privilégio. Que nés sempre demos gragas ao Senhor se temos essa disposic&o, pois é um dom de Deus. Essa fé é melhor do que todos os demais dons ou conhecimentos neste mundo. Muitos humildes pagaos agora convertidos, que de nada sabem sendo da doenca do pecado na alma, mas que confiam em Jesus, haver&o de assentar-se no céu, en- quanto que muitos doutores em teologia sero rejeitados para sempre. Verdadeiramente abencoados sao os que créem! O que cada um de nés sabe a respeito dessa f6? Esta 6 uma grande questo. O nosso conhecimento pode ser pequeno; mas, ser4 que re- almente cremos? Nossas oportunidades para contribuir e trabalhar pela causa de Cristo podem ser poucas; mas, cremos? Talvez nado possamos pregar, nem escrever um livro, e nem mesmo argumentar em favor do Mateus 8.1-15 55 evangelho; mas, cremos? Que jamais descansemos enquanto nao pu- dermos responder afirmativamente a essa pergunta! A f€ em Jesus Cristo, para os filhos deste mundo, parece ser algo tao simples e insignificante. Eles néo véem na fé nada de grande ou importante. Entretanto, a fé em Cristo € preciosfssima aos olhos de Deus, e tal como tudo que é precioso, é rara. E pela fé que vive o cristo verdadeiro. Ele permanece na f6. E pela f€ que © cristo vence o mundo. Sem essa fé, ninguém pode ser salvo. Cristo e os Professos Cristiaos; A Tempestade Acalmada Leia Mateus 8.16-27 Na primeira parte destes versfculos, encontramos um notdvel exemplo da sabedoria de nosso Senhor ao tratar com os que manifes- tam a disposi¢ao de se tornarem seus discfpuios, Este trecho langa tanta luz sobre um assunto freqiientemente mal compreendido em nossos dias, que merece consideracao especial. Um certo escriba ofereceu-se para seguir nosso Senhor por onde quer que Ele fosse. & uma proposta admirdvel, quando consideramos aclasse social que aquele homem pertencia e a ocasiao em que foi pro- ferida. Mas, a proposicao recebe uma resposta igualmente admirdvel, que nao foi diretamente aceita, embora também nao fosse manifesta- mente rejeitada. Nosso Senhor tio somente faz uma réplica solene: ‘‘as Taposas tém seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem nao tem onde reclinar a cabega’’. Um outro discfpulo de nosso Senhor se apresenta em seguida, pedindo que lhe fosse permitido sepultar 0 pai, antes de assumir total- mente og deveres de discfpulo. A primeira vista, tal pedido parece natural ¢ legitimo, Entretanto, a resposta dos labios de nosso Senhor nao foi menos solene do que a primeira: ‘‘Segue-me, e deixa aos mortos 0 se- pultar os seus préprios mortos’’. Hi algo de profundamente impressionante em ambas as respos- tas. Elas deveriam ser devidamente consideradas por todos os que se professam cristéos. O ensinamento é bem claro: as pessoas que mani- festam o desejo de vir a frente, e se professam verdadeiros disc{pulos de Cristo, deveriam ser claramente advertidas a ‘‘calcular 0 custo’’ antes de comegarem. Serd que esto preparados para suportar as difi- culdades? Esto prontos a carregar a cruz? Se assim nao 6 , tais pessoas ainda nao est&o aptas para comegar. As respostas de Jesus nos ensinam 56 Mateus 8.16-27 claramente que hd ocasides em que o cristdo precisa literalmente de- sistir de tudo por amor a Cristo e, se necessério, mesmo deveres tio importantes, como 0 sepultamento de pai ou mae, devem ser deixados ao encargo de outras pessoas. Sempre haverd quem esteja pronto a com- parecer em nosso lugar; mas tais deveres em tempo nenhum podem ser comparados ao dever maior, que é 0 de pregar o evangelho e tra- balhar pela causa de Cristo no mundo, Seria bom se estas palavras fossem mais constantemente relem- bradas nas igrejas. Bem podemos temer que esta ligfo esteja sendo por demais negligenciada pelos ministros do evangelho, e que muitas pes- soas estejam sendo admitidas 4 plena comunhio na igreja, sem jamais serem advertidas a ‘‘calcular 0 custo’’. De fato, nada tem feito maior dano ao cristianismo do que a prdtica de encher as fileiras do exército de Cristo com qualquer voluntério que esteja disposto a fazer uma pe- quena profissao de fé, e que possa falar fluentemente de sua experiéncia teligiosa. Infelizmente se tem esquecido que os niimeros apenas nao significam poder. Pode haver uma grande quantidade de mera religio- sidade externa, enquanto h4 muito pouco da verdadeira graca. Nunca nos esquegamos disto. Cuidemos para nada esconder aos recém- -convertidos e as pessoas que agora est&io comegando a buscar a Deus. Nio deixemos que se enganem com falsas expectativas. Podemos dizer- -lhe que receber&o uma coroa de gléria no fim, mas que nés também digamos, néo menos claramente, que existe uma cruz para ser carre- gada dia apés dia. Na Ultima parte destes versfculos, aprendemos que a fé salva- dora com freqiéncia esté permeada de muita fraqueza e instabilidade. Esta é uma lig&o que nos deixa humilhados, mas que é deveras salutar. O texto nos apresenta Jesus e os discfpulos atravessando o mar da Galiléia em uma embarcacdo. Surge uma tempestade, e 0 barco esté em perigo de se encher de égua pela violéncia das ondas. Enquanto isso, nosso Senhor est4 dormindo. Os discfpulos atemorizados acordam Jesus e clamam por socorro. Ele atende ao pedido e faz acalmar as 4guas com uma palavra, de modo que ‘‘fez-se grande bonanca’’. Ao mesmo tempo, Ele gentilmente censura a ansiedade de seus discipulos: ‘‘Por que sois timidos, homens de pequena fé?”” Temos aqui um retrato muito nftido do corag&o de milhares de crentes! Hé tantos que, mesmo possuindo suficiente fé e amor para aban- donar tudo por causa de Cristo, e segui-Lo para onde quer que v4, ainda assim, esto cheios de temores na hora da provagao! Quantos tém graca suficiente para se voltarem a Jesus em cada dificuldade, clamando: ‘‘Se- nhor, salva-nos’’, ainda nao tém graca suficiente para ficarem quietos na hora dificil e confiarem que tudo est4 bem? Verdadeiramente, o crente Mateus 8. 16-27 57 tem razio de estar sempre cingido de humildade (1 Pe 5.5). Que a oracio: “‘Senhor, aumenta-nos a fé’’, sempre faca parte das nossas petigdes didrias. Talvez nunca conheceremos a fraqueza da nossa fé, enquanto nao formos postos na fornalha da tribulagio e da ansiedade. Felizes os que descobrem, por experiéncia, que a sua fé é capaz de resistir ao fogo, e que podem, como J6, dizer:‘‘Ainda que ele me mate, nele esperarei’’ (J6 13.15). Temos grandes razdes para agradecer a Deus por Jesus, 0 nosso grande Sumo Sacerdote, pois Ele é muito compassivo e terno de co- ragéo. Ele conhece a nossa estrutura. Ele leva em conta as nossas enfermidades. Ele nao langa fora o seu povo por causa de defeitos. Ele se compadece mesmo dos que repreende. A oragdo, mesmo de “‘pe- quena fé’’, é ouvida e obtém resposta. Expulsao de Deménios na Terra dos Gadarenos Leia Mateus 8.28-34 O assunto destes sete versiculos é profundo e misterioso. A ex- pulsdo do deménio é aqui descrita com especial abundancia de detalhes. Esta é uma das passagens que lancam uma forte luz sobre um assunto dificil e obscuro, Vamos deixar bem estabelecido em nossa mente que o diabo existe. Esta € uma terrfvel verdade, mas que é muito desconsiderada. Existe um espfrito invisfvel sempre préximo a nds, poderoso e cheio de ma- lfcia interminavel contra as nossas almas. Desde o princfpio da criagdo ele tem-se esforcado por prejudicar o homem. Até que o Senhor Jesus venha pela segunda vez e o prenda, o diabo jamais cessard de tentar e fazer dano. Nos dias em que nosso Senhor estava sobre a terra, é evidente que o diabo tinha um poder peculiar sobre os corpos de certos homens e mulheres, como também sobre suas almas. Mesmo em nos- sos dias existe mais dessa possessio demonfaca corporal do que alguns supdem existir, embora em um grau evidentemente menor do que quando Cristo veio na carne. Porém, nunca nos deverfamos esquecer que 0 diabo est4 sempre bem perto de nés em espfrito, ¢ sempre pronto a nos as- saltar 0 corac&o com tentagdes, Em seguida, que nés nos conscientizemos de que 0 poder do diabo é limitado, Embora ele seja tio poderoso, existe Alguém ainda mais poderoso. Embora seja tio perspicaz e tao determinado em seu intuito de prejudicar a humanidade, ele sé pode agir com permissao. Estes mes- mos versiculos nos mostram que os espiritos malignos s6 podem ir de 58 Mateus 8.28-34 um lugar para outro e causar destruigo até ao tempo que lhes foi per- mitido pelo Senhor dos Senhores: ‘‘Viestes aqui atormentar-nos antes do tempo?”’, eles disseram. Mesmo a petig&o que fizeram a Jesus nos mostra que eles nao podiam causar dano nem mesmo aos porcos, a me- nos que Jesus, 0 Filho de Deus, lhes desse permissao. ‘‘Manda-nos para a manada dos porcos”’, eles disseram. Assim, deixemos firmemente estabelecido em nossas mentes que nosso Senhor Jesus Cristo é 0 grande Libertador do homem do poder do diabo. Ele néo somente pode ‘‘remir-nos de toda iniqiiidade’’, mas também deste ‘‘presente mundo mau’’ e do diabo. Desde a muito foi profetizado que Ele haveria de esmagar a cabeca da serpente. Jesus co- mecou a esmagar a cabeca da serpente quando nasceu da virgem Maria. Ele triunfou sobre a cabega da serpente quando morreu na cruz. Ele mostrou o seu total dominio sobre Satands ‘‘curando a todos os opri- midos do diabo’’, quando estava sobre a terra (At 10.38). O nosso grande recurso, em todos os ataques do diabo, é clamarmos ao Senhor Jesus buscarmos a sua ajuda. Ele pode romper as cadeias que Satands langa & nossa volta, e nos libertar. Ele pode expulsar qualquer deménio que nos atormente 0 coragao, téo certo como nos dias da antigilidade. Seria tealmente uma l4stima saber que o diabo existe e est4 sempre perto de nds, se nao soubéssemos que Cristo ‘‘pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles’’ (Hb 7.25). Que nds nao deixemos esta passagem sem observar o doloroso mundanismo dos gadarenos, entre os quais foi operado o milagre da expulsao de deménios. Os gadarenos rogaram ao Senhor Jesus ‘‘que se retirasse da terra deles’’. Eles nao se sensibilizavam com nada, a no ser com a perda de seus porcos. Pouco importava que duas pobres criaturas, com duas almas imortais, tivessem sido libertadas da escra- vidio de Satan4s. Para eles também nao importava que estivesse ali entre eles Alguém muito superior ao diabo, a saber, Jesus Cristo, 0 Filho de Deus. Nao se importaram com nada, sendo que a manada de porcos tinha se afogado, e ‘‘que se Ihes desfizera a esperanca do lu- cro’. Na ignordncia, os gadarenos consideraram a Jesus como alguém que se colocava entre eles e os seus lucros, e s6 desejavam ficar livres dEle. Existe um niimero demasiadamente grande de pessoas como os gadarenos. Ha milhares de pessoas que nao dao a minima importancia a Cristo ou a Satands, desde que possam ganhar mais dinheiro, e des- frutar um pouco mais das coisas deste mundo. Que nés possamos estar livres desse espfrito! Contra ele, que nds possamos sempre vigiar e orar! Ele é muito comum e¢ terrivelmente contagioso. A cada nova manha Mateus 8.28-34 59 relembremo-nos de que temos almas a serem salvas, ¢ que um dia mor- reremos e teremos de enfrentar o julgamento divino. Cuidemos em nao amar 0 mundo mais do que a Cristo. Que nds tomemos cuidado de nao estorvar a salvagao de outras pessoas, por temor de que 0 processo da religiao verdadeira possa diminuir nossos ganhos ou nos trazer proble- mas. A Cura do Paralitico; A Chamada de Mateus, 0 Publicano Leia Mateus 9.1-13 Observemos, na primeira parte desta passagem, 0 conhecimento que nosso Senhor tem dos pensamentos dos homens. Alguns dos escri- bas acharam defeito nas palavras de Jesus ao paralitico. Diziam secretamente, consigo: ‘‘Este blasfema’’. Provavelmente imaginavam que ninguém soubesse o que se passava em suas mentes. Ainda pre- cisavam aprender o fato que o Filho de Deus pode ler os coragdes e discernir os espiritos. O seu pensamento malicioso foi publicamente desmascarado. Eles foram abertamente expostos 4 vergonha. Nisto hé uma importante lig&o para nés: ‘‘Todas as cousas esto descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar con- tas’’ (Hb 4.13). Nada pode ser ocultado de Jesus Cristo. O que pensamos as ocultas, quando ninguém nos vé? O que pensamos quando estamos na igreja, parecendo tao sérios e respeitosos? Sobre 0 que estamos pen- sando neste exato momento, enquanto estas palavras passam diante de nossos olhos? Jesus sabe. Jesus vé. Jesus registra tudo. Jesus um dia nos chamard para a prestagao de contas. Est4 escrito que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgaré os segredos dos homens, de acordo com o evangelho (Rm 2.16). Sem diivida alguma, devemos ser muito hu- mildes quando consideramos estas coisas. Deverfamos cada dia agradecer a Deus que o sangue de Cristo pode purificar de todo pecado. Deve- rfamos sempre clamar: ‘‘As palavras dos meus labios e o meditar do meu coracao sejam agrad4veis na tua presenga, Senhor, rocha minha e redentor meu!’’ (SI 19.14), Em segundo lugar, observemos a maravilhosa chamada do apéstolo Mateus para ser um discfpulo de Cristo. Encontramos sentado na coletoria de impostos 0 homem que mais tarde escreveria 0 primeiro evangelho. Vemo-lo absorvido em sua ocupago secular, talvez nao pen- sando em outra coisa sendo em dinheiro e lucro, Subitamente, entretanto, recebe o chamado para seguir a Jesus e tornar-se seu discipulo. Mateus 60 Mateus 9.1-13 obedece imediatamente, apressa-se, nfo se detém (SI 119.60) e obedece a ordem de Cristo. Ele se levanta e segue a Jesus. Que seja um principio bem estabelecido em nossa religiao que para Cristo nada é imposstvel. Ele pode tomar um coletor de impostos e transformé4-lo em apéstolo. Ele pode mudar qualquer coragao humano e fazer novas todas as coisas. Que nés nunca desesperemos da salvacaéo de quem quer que seja. Continuemos orando, testemunhando e traba- Ihando para o bem das almas dos piores homens. ‘‘A voz do Senhor é poderosa’’ (SI 29.4). Quando Ele diz, pelo poder do Espfrito, ‘‘segue- -me”’, Ele pode fazer os mais endurecidos e os mais pecaminosos obedecerem. Observemos a decisdo de Mateus. Ele nao esperou por uma oca- siio mais oportuna (At 24.25). Em conseqiiéncia obteve uma grande recompensa. Ele escreveu um livro que se tornou conhecido em todo o mundo. Tornou-se uma béngdo para outras pessoas, além de ser aben- goado na sua prépria alma. Ele deixou atrdés de si um nome que é mais conhecido do que o nome de principes e reis. O homem mais rico do mundo ao morrer € logo esquecido. Porém, enquanto durar o mundo, milhdes de pessoas conhecerao o nome de Mateus, o publicano. Em diltimo lugar, notemos a preciosa declaracdo de nosso Se- nhor a respeito de sua propria missdo. Os fariseus acharam falta nEle, porquanto permitia que publicanos ¢ pecadores estivessem em sua com- panhia. Em sua cegueira orgulhosa, eles imaginavam que um mestre enviado do céu jamais deveria entrar em contato com tais pessoas. Eles ignoravam totalmente o grandioso desfgnio pelo qual o Messias viera a este mundo — para ser Salvador, médico; para curar as almas enfer- mas pelo pecado. Eles receberam dos lébios de nosso Senhor uma reprimenda, seguida de palavras abengoadas: ‘‘ndo vim chamar justos, e, sim, pecadores ao arrependimento’’. Certifiquemo-nos de que compreendemos perfeitamente a doutrina contida nestas palavras. O que é primariamente necessdrio para se ter interesse em Cristo é sentirmos profundamente a nossa prépria corrup¢ao, € estarmos dispostos a ir a Jesus para sermos libertos. Nao devemos ficar longe de Cristo, como muitos ignorantemente o fazem, somente porque nos sentimos maus, fmpios ¢ indignos. Devemos lembrar que Ele veio ao mundo para salvar pecadores; e, se nos reconhecemos como tais, isto € bom. Feliz é quem realmente entende que a principal qua- lificagéo para ir a Cristo € um profundo senso de pecado! Finalmente, se, pela graca de Deus, realmente entendemos a glo- tiosa verdade de que Jesus Cristo veio para chamar pecadores, entio, que jamais nos esquecamos disso. Nao cultivemos a ilusio de que cren- tes verdadeiros possam atingir um tal estado de perfeigao neste mundo, Mateus 9, 1-13 61 ao ponto de nao mais precisarem da mediacio e intercessHo de Cristo. Eramos pecadores quando viemos a Cristo; e pobres e necessitados pe- cadores continuaremos sendo, enquanto vivermos, recebendo toda a graca de que dispomos, a cada momento, da plenitude de Cristo. Mesmo na hora da nossa morte, veremos que ainda somos pecadores, e estaremos to dependentes do sangue de Cristo, quanto no primeiro dia em que cremos, Vinho Novo e Odres Novos; A Ressurreicdo da Filha de Jairo Leia Mateus 9,14-26 Observemos, nesta passagem, 0 gracioso nome pelo qual o Se- nhor Jesus fala de si mesmo. Ele chama a si mesmo de ‘‘o noivo’’. O que o noivo representa para a sua noiva, o Senhor Jesus re- presenta para as almas de todos os que nEle créem. Ele os ama com amor profundo e eterno. Ele os toma para que vivam em uniao consigo mesmo. Eles sao um em Cristo, e Cristo une-se a eles. Ele paga todos os débitos deles para com Deus. Ele thes supre todas as necessidades diérias. Ele simpatiza com eles em todas as dificuldades. Ele suporta com paciéncia todas as infirmezas deles, e nao os rejeita por causa de algumas poucas fraquezas. Ele os considera parte de si mesmo. Os que perseguem e prejudicam os discfpulos de Cristo, estéo perseguindo a Ele mesmo. A gléria que recebeu da parte do Pai, um dia Ele haveré de compartilhar com seus remidos e, onde Ele estiver, ali estarao também eles. Tais sio os privilégios de todos os verdadeiros cristéos. Eles sio a noiva do Cordeiro (Ap 19.7). Essa é a porgao a qual a fé d4 acesso. Por meio desta fé, Deus une as nossas pobres almas pecaminosas a um precioso Noivo e, aqueles a quem Deus assim une, jamais serio sepa- rados. Verdadeiramente abencoados s&o os que créem! Em segundo lugar, observemos como é sdbio o princtpio que o Senhor estabelece para o tratamento de seus novos disctpulos. Houve alguns que acharam errado 0 fato de os seguidores de Nosso Senhor nao jejuarem, como faziam os discfpulos de Joao Batista. Nosso Senhor defende seus discipulos com um argumento cheio de profunda sabedo- ria. Ele mostra que o jejum ndo seria apropriado, enquanto Ele, que era 0 Noivo, estivesse em companhia deles. Mas isso nao é tudo. Jesus vai mais além, a fim de mostrar, mediante duas pardbolas, que os jo- vens principiantes na escola do cristianismo, devem ser tratados com gentileza. Eles precisam ser ensinados gradativamente, conforme 0 pos- 62 Mateus 9.14-26 sam suportar, N&éo podemos esperar que possam receber tudo de uma vez. Negligenciar esta regra seria uma tolice tao grande quanto guardar “‘vinho novo em odres velhos’’, ou pér ‘‘remendo de pano novo em vestido velho’’. Nisto ha uma fonte de profunda sabedoria, que todos farfamos bem em relembrar, para o ensino espiritual dos que tém pouca expe- riéncia, Devemos ter 0 cuidado de nao pdr excessiva importancia as questdes secundarias da religidéo. Nao devemos nos apressar em exigir imediata conformidade a uma norma rfgida quanto a coisas indiferen- tes, enquanto os princfpios elementares do arrependimento e da fé nao tiverem sido devidamente apreendidos. Devemos orar por graca e bom senso cristéo para nos guiarem neste assunto. O tato no relacionamento com os novos discfpulos de Cristo é um dom raro, mas muito provei- toso. Saber sobre o que devemos insistir desde o principio, como absolutamente necessdrio, e 0 que reservar para o futuro, quando o discfpulo tiver alcangado um conhecimento mais perfeito, é uma das maiores qualificagdes de um instrutor de almas. Em seguida, observemos quanto encorajamento nosso Senhor dé, mesmo a fé mais humilde. Nesta passagem, lemos que certa mulher, afligida por uma grave enfermidade, veio por detrés do Senhor Jesus, em meio a multiddo, e Lhe tocou ‘‘na orla da veste’’, na esperanca de que, se assim 0 fizesse, seria curada do seu flagelo. A mulher nao pro- feriu uma palavra, pedindo auxilio. Ela no fez qualquer ptiblica confisséo de fé. E, no entanto, confiava que, se ao menos tocasse nas vestes de Jesus, ficaria curada. Foi 0 que sucedeu. Oculta naquele seu ato havia uma preciosa semente de fé em Jesus, elogiada por nosso Senhor. A mulher foi curada instantaneamente, e voltou para casa em paz. Nas palavras de um antigo escritor: ‘‘Veio em tremores, mas saiu em triunfo’. Guardemos na mente esta histéria. Ela pode nos ajudar podero- samente em alguma hora de necessidade. Nossa fé talvez seja fraca. Nossa coragem pode ser pequena. A nossa apreensao do evangelho e de suas promessas talvez seja frégil e estremecida. Porém, a grande pergunta, afinal, é esta: ‘‘Na realidade confiamos somente em Cristo? Olhamos para Jesus, e somente para Jesus para receber perdo e paz?”’ Se assim acontece conosco, isso € bom sinal. Embora nao possamos tocar nas suas vestes, podemos tocar no coracao de Jesus. Uma fé as- sim salva a alma. A fé fraca é menos consoladora do que a fé vigorosa. A fé fraca ird nos levar para o céu com muito menos regozijo do que terfamos se tivéssemos a total confianca. Mas a fé, embora fraca, dé- -nos os beneficios de Cristo, tanto quanto a fé mais vigorosa. Quem ao menos tocar nas vestes de Jesus, sob hipétese nenhuma perecerd. Mateus 9.14-26 63 Em ultimo lugar, observemos nesta passagem o poder infinito de nosso Senhor. Ele devolve a vida a uma pessoa morta. Quao admiravel deve ter sido aquela cena! Quem, ao ter visto uma pessoa morrer, po- deré esquecer-se da imobilidade, do siléncio e da frieza, quando o félego da vida abandona o corpo? Quem pode esquecer o horrivel sentimento de que uma coisa terrivel aconteceu e que um enorme abismo foi aberto entre nds e a pessoa falecida? Eis, porém, que nosso Senhor entra no quarto onde jaz 0 corpo da menina, e chama de volta 0 espfrito ao seu taberndculo terrestre. O pulso comega a bater novamente. Os olhos véem outra vez. A respiragio novamente vem e vai. A filha do chefe da si- nagoga est4 viva novamente, restitufda a seu pai e me. Manifestara-se ali a verdadeira onipoténcia! Ninguém poderia ter realizado tal feito, senao Aquele que no princfpio criou o homem, e que tem todo o poder no céu e€ na terra. Este € um aspecto da verdade que nunca poderemos conhecer bem demais. Quanto mais claramente vemos o poder de Cristo, tanto mais aptos estamos para experimentar a paz do evangelho. Nossa con- dig&io poderd ser penosa. Nosso corac4o pode ser fraco. Talvez sintamos grande dificuldade em prosseguir a jornada, neste mundo. Nossa fé pode parecer-nos demasiado fraca para nos conduzir até o céu. Porém, me- ditando a respeito de Jesus tomemos coragem, e nao nos deixemos arrastar pelo desanimo. Maior é Aquele que é por nés do que todos quantos sao contra nés. Nosso Salvador pode ressuscitar os mortos. Nosso Salvador é Todo-poderoso. A Cura de Dois Cegos; Jesus Se Compadece da Multidaéo; O Dever dos Discipulos Lela Mateus 9.27-38 Neste texto hd quatro ligGes que merecem atengSo especial. Va- mos examind-las sucessivamente. Antes de tudo, marquemos bem que, aigumas vezes, uma fé po- derosa em Cristo pode ser encontrada onde menos se suspeitaria. Quem poderia imaginar que dois cegos pudessem chamar nosso Senhor de ‘‘Fi- lho de Davi’’? Naturalmente, eles néo podem ter visto os milagres tealizados por Jesus. S6 podem ter tomado conhecimento dEle mediante © que outras pessoas lhes diziam. Porém, os olhos de seu entendimento foram iluminados, embora seus olhos fisicos continuassem em trevas. E assim perceberam a verdade que os escribas e os fariseus nao foram capazes de perceber. Compreenderam que Jesus de Nazaré era o Mes- sias. Creram que Ele podia cur4-los. 64 Mateus 9.27-38 Um exemplo assim mostra-nos que jamais deverfamos desespe- tar da salvagdo eterna de qualquer pessoa, somente porque tal pessoa vive em circunstancias que sio desfavordveis & sua conversdo. A graca divina 6 mais forte do que as circunstncias. A vida piedosa nao de- pende meramente de condigées vantajosas aparentes. O Espfrito Santo pode proporcionar fé e manté-la em ativo exercicio, sem dinheiro ou educagiio formal, mas apenas utilizando-se de escassos meios de graga. Sem o Espirito Santo, um homem pode conhecer todos os mistérios, e viver sob a plena influéncia do evangelho, e, ainda assim, estar per- dido, Veremos cenas muito estranhas no tiltimo dia. Pessoas de condi¢ao humilde mostrarao terem crido no Filho de Davi, ao passo que homens ticos, cheios de erudicao universitéria, mostrarao ter vivido e morrido como os fariseus, na mais dura incredulidade. Muitos dos que agora so ultimos, seréo primeiros, e muitos dos que agora sao primeiros, sero dltimos (Mt 20.16). A seguir destaquemos 0 fato que nosso Senhor Jesus Cristo tinha uma grande experiéncia com enfermidades e doengas. ‘‘Percorria Jesus todas as cidades e povoados’’, fazendo o bem. Ele foi testemunha ocu- lar de todos os males herdados pela carne. Ele viu doengas de todo tipo, variedade e descricio. Entrou em contato com toda sorte de doencas e sofrimentos ffsicos. E, por mais repugnantes que fossem, nao se sen- tiu repelido por ter que tratar com qualquer das pobres vitimas desses sofrimentos, Nenhuma doenga era por demais repelente para Ele a cu- rar, Ele curava ‘‘toda sorte de doencas e enfermidades’’, Podemos obter grande consolo desse fato. Cada um de nds habita em um corpo débil e fraégil. Nunca sabemos quanto sofrimento ainda Pprecisaremos contemplar, enquanto nos assentamos a beira do leito de enfermidades de amigos e parentes queridos, Nunca sabemos quantos sofrimentos teremos nés mesmos de passar, antes de morrermos. No entanto, armemo-nos, a todo instante, com o precioso pensamento que Jesus é especialmente apto para ser o Amigo dos doentes. Este nosso grande Sumo Sacerdote, a quem devemos recorrer para termos perdao © paz com Deus, est4 tio eminentemente qualificado para se compa- decer de um corpo dolorido, como também para sarar uma consciéncia culpada. Os olhos dAquele que € o Rei dos reis muitas vezes se com- padeceram dos enfermos, Este mundo pouco ou nada se importa com os doentes, e geralmente procura manter-se afastado. Mas o Senhor Jesus tem cuidado especial pelos enfermos, Ele é 0 primeiro a visité-los a dizer-Ihes: ‘‘Eis que estou a porta e bato’’. Felizes so aqueles que Lhe ouvem a voz e deixam-No entrar! Assinalamos, em seguida, a terna preocupagdo de nosso Senhor pelas almas negligenciadas. Quando estava neste mundo, Jesus viu ‘‘mul- Mateus 9.27-38 65 tiddes”’ que vagavam, como ‘‘ovelhas que nio tém pastor’’, e o seu coracaio moveu-se de compaixdo, Ele as via negligenciadas por aqueles que, na época, deveriam ter sido seus mestres. Ele via a uma multidio de pessoas ignorantes, sem esperanca, desamparadas, morrendo sem estarem preparadas para morrer. Esta visio levou Jesus a profunda com- paixdo. Aquele corago amoroso nao podia ver essas coisas sem comover-se. Quais s&o os nossos sentimentos, quando vemos pessoas nessa mesma condicao? Esta é a pergunta que deveria surgir em nossa mente. Hé um grande numero de pessoas nessas condigdes, que podemos ver por toda a parte. H4 milhdes de id6latras e pagiios na terra, milhdes de iludidos islamitas, milhdes de catélicos supersticiosos romanos. H4 também milhares de protestantes ignorantes, vivendo bem junto a nds. Sentimo-nos grandemente preocupados com tais almas? Sentimos pro- fundamente a caréncia espiritual dessas pessoas? Ansiamos por vé-las aliviadas dessas caréncias? Estas séo perguntas sérias e que exigem res- posta. E facil desprezar as missdes aos pagiios, bem como aqueles que trabalham em favor dos incrédulos. Porém, quem nao sente profunda- mente pela alma dos nfo convertidos, certamente nfo pode ter a mente de Cristo (1 Co 2.16). Destaquemos, em ultimo lugar, que hd um solene dever para to- dos os crentes, que desejam fazer o bem a porgdo ainda nao-convertida da humanidade. Eles sio incumbidos de sempre orar para que o Senhor levante mais homens para o trabalho da conversao das almas. Parece mesmo que essa peticao deve fazer parte das nossas oragées difrias: “‘Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara”’, Se sabemos orar, tomemos como uma questo da consciéncia ja- mais nos esquecermos dessa solene incumbéncia que nos foi dada por nosso Senhor. Fixemos bem em nossa mente que esta é uma das mais seguras maneiras de se praticar o bem e refrear o mal. O trabalho pes- soal, em favor de almas, é bom. Contribuir com a obra missionédria é bom. Mas o melhor de tudo é orar. Pela oragiio alcangamos Aquele, sem 0 qual todo o trabalho e o dinheiro disponfvel sao em vio. Me- diante a orac%io obtemos a ajuda do Espfrito Santo. O dinheiro pode financiar. As universidades podem conferir erudicéo. As congregacdes podem eleger obreiros, e as autoridades eclesidsticas orden4-los, Po- rém, somente o Espfrito Santo pode fazer os verdadeiros ministros do evangelho ou levantar obreiros leigos para a seara espiritual, obreiros que nao tém de que se envergonhar. Nunca, jamais nos esquecamos de que, se desejamos fazer o bem a humanidade, nosso primeiro dever 6 orar! 66 Mateus 10.1-15 O Envio dos Primeiros Pregadores Cristéos Leia Mateus 10,1-15 Este capftulo é particularmente solene. Temos aqui a primeira ordenagio que teve lugar na igreja de Cristo. O Senhor Jesus escolhe e envia os seus doze apéstolos. Temos aqui a primeira incumbéncia conferida a ministros cristéos recém-consagrados, O Senhor Jesus mesmo foi quem os ordenou. Nunca houve uma ordenacao tao importante! Hé trés ligdes que se salientam com proeminéncia nos primeiros quinze versfculos deste capitulo. Vamos examiné-las pela ordem. Em primeiro lugar, somos ensinados que nem todos os ministros do evangelho sdo, necessariamente, homens bons, Vemos nosso Senhor escolhendo a Judas Iscariotes para ser um dos seus apdéstolos. Nao po- demos duvidar de que Aquele que conhecia tao bem os coragdes, conhecia também o cardter de cada um dos homens a quem escolheu. No entanto, Ele incluiu na lista dos apdstolos um homem que era um traidor! Faremos bem em sempre lembrar este fato. A ordenacio para © ministério nao confere a graga salvadora do Espfrito Santo. Homens ordenados nao so necessariamente convertidos. Nao devemos considerd- -los infalfveis, seja na doutrina ou na pratica. Nao podemos fazer deles papas ou {dolos, e, insensatamente, fazé-los ocupar o lugar de Jesus Cristo, Antes, devemos consideré-los como homens ‘‘sujeitos as mes- mas paixGes que nés’’, sujeitos As mesmas fraquezas, e que diariamente necessitam da mesma graca divina. Nao devemos pensar que é imposs{vel que eles pratiquem coisas muito ruins, e nem devemos esperar que es- tejam acima dos danos causados pela bajulagao, cobica e atrativos deste mundo. Devemos testar os ensinamentos desses homens por meio da Palavra de Deus, e imit4-los 4 medida em que eles seguem a Cristo, nunca mais do que isto. Acima de tudo, porém, devemos orar por eles, para que sejam sucessores, nfo de Judas Iscariotes, e, sim, de Tiago e de Joao, E coisa serfssima ser um ministro do evangelho! Os minis- tros precisam de muita orago a seu favor. Em seguida, somos ensinados que a grande obra de um ministro de Jesus Cristo é fazer o bem. Ele é enviado para buscar as ‘‘ovelhas perdidas’’, para proclamar as boas novas, para aliviar os que estao em sofrimento, para diminuir a tristeza e aumentar o regozijo. A vida de um ministro deve caracterizar-se pelo dar, mais do que pelo receber. Este € um padrio de vida elevado, e muito peculiar ao ministério cristo. Portanto, que seja bem. sopesado e cuidadosamente examinado. Antes de tudo, é evidente que a vida de um fiel ministro de Cristo nao Mateus 10.1-15 67 pode ser uma vida facil. Todo ministro de Cristo deve dispor-se a gas- tar seu corpo € mente, seu tempo e energias na tarefa para a qual foi chamado. A preguiga e a frivolidade sio intoleréveis em qualquer pro- fissio; mas so piores ainda, no offcio da sentinela de almas. & também claro que a posig&o dos ministros de Cristo nfo coincide com aquilo que, muitas vezes, pessoas ignorantes lhes atribuem e que, infelizmente, certos ministros reivindicam para si. Eles nfo so ordenados para do- minar, mas para servir. Nao lhes compete tanto exercer dom{fnio sobre a igreja, quanto suprir as necessidades dos seus membros e servi-los (2 Co 1.24). Bom seria para a causa da verdadeira religiaio, se tais coi- sas fossem melhor compreendidas! Metade dos males do cristianismo tém surgido de nogdes equivocadas a respeito do officio do ministro. Em iltimo lugar, somos ensinados que é muito perigoso negli- genciar os oferecimentos do evangelho. ‘‘Menos rigor haverd para Sodoma e Gomorra, no dia do jufzo’’, do que para aqueles que j4 ou- viram a verdade acerca de Cristo, mas nao a receberam. Esta é uma doutrina que tem sido temivelmente negligenciada, embora merega a mais séria considerag&o de nossa parte. Os homens inclinam-se, mui lamentavelmente, por esquecer-se de que nfo é ne- cessério cometer pecados gravissimos para que uma alma fique arruinada para todo o sempre. Basta que a pessoa continue ouvindo o evangelho mas nfo crendo, escutando mas nao arrependendo-se, vindo a igreja mas n&o vindo a Cristo; assim, pouco a pouco acabaré no inferno! To- dos seremos julgados de acordo com a luz que recebemos. Ouvir as boas novas da ‘‘grande salvacdo”’ e, no entanto, negligenci4-las, é um dos piores pecados que se pode cometer (Jo 16.9). O que estamos fazendo com o evangelho? Esta é a indagacao que cada um que lé esta passagem bfblica deve pér, diante de sua prépria consciéncia. Suponhamos que nds mesmos sejamos pessoas decentes e respeitaveis, corretas e morais em todas as relagdes da vida, e cons- tantes na nossa aproximagao formal aos meios de graga. Quanto a essas coisas, tudo estd muito bem. Entretanto, seria isso tudo quanto pode ser dito a nosso respeito? Estamos, realmente acolhendo o amor a ver- dade? Est4 Cristo habitando em nossos coracgdes, pela f€? Em caso contrério, estamos correndo um terrfvel perigo. Estamos sendo muito mais culpados do que os homens de Sodoma, os quais jamais ouviram o evangelho. Podemos um dia descobrir que, a despeito de toda a nossa regularidade, moralidade e corregéo, estamos perdidos para sempre. O fato de termos vivido sob a plena luz dos privilégios cristaos, e ter- mos ouvido a pregacio fiel do evangelho, semana apés semana, sé isto, apenas, nfo nos livraré da condenacaio. Tem que haver a experiéncia pessoal com Cristo. Precisamos receber pessoalmente a verdade de 68 Mateus 10.1-15 Cristo. B preciso existir uma uniao vital com Ele. Devemos nos tornar seus servos e discfpulos. Sem isto, a pregaco do evangelho sé faz aumentar a nossa responsabilidade, torna-nos ainda mais culpados, e por fim nos fard afundar ainda mais profundamente no inferno. Estas sao declaragdes dificeis de se ouvir. Porém, as palavras das Escrituras que temos acabado de ler sao claras e inequivocas. Elas s&o todas ver- dadeiras. Instrugées aos Primeiros Pregadores Cristaos Lela Mateus 10.16-23 As verdades contidas nestes versfculos deveriam ser ponderadas por todos os que procuram fazer o que é direito neste mundo. Para 0 egoista, que com nada mais se importa senfio com o seu préprio bem- -estar e conforto, talvez parega haver bem pouca coisa nestes versfculos. Para 0 ministro do evangelho, bem como para todos quantos buscam salvar almas, estes versiculos deveriam estar repletos de interesse. Nao h4 diivida que neles hé muita coisa que se aplicava de modo especial aos dias dos apéstolos. Mas hé também muita coisa que tem aplicagao para todas as épocas. Antes de mais nada, aprendemos que os que quiserem trabalhar na obra do Senhor devem ser moderados quanto ds suas expectativas. Nao devem pensar que um sucesso universal acompanharé os seus es- forcos. Pelo contrério, devem esperar encontrar muita oposic¢ao. Devem ter em mente o fato que serao odiados, perseguidos e maltratados, e isso até mesmo da parte de seus parentes mais chegados. Freqiiente- mente, sentir-se-o como ovelhas entre os lobos. Tenhamos isto sempre em mente. Sem importar se estivermos pregando, ensinando ou visitando de casa em casa, sem importar se estivermos escrevendo ou dando conselhos, ou qualquer outra coisa que estejamos fazendo, que seja um pensamento constante nfo esperarmos mais do que as Escrituras e a experiéncia garantem. A natureza humana € muito mais infqua e corrupta do que pensamos. O poder do mal é maior do que supomos. & inutil imaginar que todos perceberfo 0 que é melhor para eles, e que acreditarao no que thes dissermos. Isto seria uma expectativa muito alta, e ficarfamos desapontados. Feliz € 0 obreiro de Cristo que compreende essas coisas desde 0 infcio, e que nao tem necessidade de aprendé-las mediante amarga experiéncia. Aqui est4 a Tazo secreta porque muitos tém dado as costas para a boa causa, de- pois de terem parecido to cheios de zelo no principio. Comegaram com Mateus 10.16-23 69 expectativas muito altas. Nao calcularam o prego. Cafram no mesmo equfvoco do grande reformador alemao, que confessou ter-se esquecido do fato que ‘‘o velho Adio era forte demais para o jovem Melancthon’’. Por outra parte, compreendemos que os que desejam fazer 0 bem tém necessidade de orar por sabedoria, bom senso e uma mente sadia. Nosso Senhor diz aos seus discfpulos: para serem ‘‘prudentes como as serpentes e simplices como as pombas’’. Também disse que, se fossem perseguidos em alguma cidade, era legftimo ‘‘fugir para outra’’. Poucas foram as instrugdes dadas por nosso Senhor tao dificeis de praticar corretamente como esta. Jesus demarcou uma linha entre dois extremos, mas é necessério grande discernimento para que a pos- samos definir. Um desses extremos € evitar a perseguicao, mantendo-nos calados e conservando a nossa religiao inteiramente para nés mesmos. Nao devemos errar nessa direcao. O outro extremo € cortejar a perse- guicdo, forcar a nossa religido sobre todas as pessoas que encontramos, sem levar em conta o lugar, a hora ou as circunstancias. Também so- mos advertidos a nao errar nessa diregao. Bem podemos questionar: “Quem, porém, é suficiente para estas cousas?’’ Temos a necessidade de clamar ao Unico e s4bio Deus, rogando-lhe sabedoria. O extremo para o qual a maioria dos homens se inclina nos dias atuais é 0 siléncio, a covardia, deixando os demais imperturbados. Essa suposta prudéncia tende por degenerar em uma conduta caracterizada pela negligéncia, ou mesmo pela mais franca infidelidade. Com dema- siada freqiiéncia estamos dispostos a assumir que, para determinadas pessoas, é inutil tentar fazer o bem. Justificamo-nos em nao envidar esforgos para o bem das almas dessas pessoas, dizendo que seria in- discrigéo, inconveniéncia, ou que seria uma ofensa desnecesséria, ou que isso seria uma agressAo contra as pessoas. Vigiemos e ponhamo- -nos em guarda contra essa atitude. A preguiga e o diabo sao geralmente a verdadeira explicagao para tal atitude. Sem diivida € agraddvel para a carne e o sangue ceder a essa atitude, pois ela nos poupa de muitas dificuldades. Entretanto, aqueles que cedem diante dela geralmente des- perdigam grandes oportunidades de servigo. Por outro lado, é impossivel negarmos que existe um zelo santo e justo, ‘‘porém néo com entendimento” (Rm 10.2). E perfeitamente possivel ofender desnecessariamente as pessoas, cometer grandes equivo- cos e despertar intensa oposicao, que poderia ter sido evitada com um pouco de prudéncia, um procedimento sdbio e 0 exercicio de bom senso. Tenhamos cuidado para nao nos tornarmos culpados a esse respeito. Podemos ter certeza de que a sabedoria crista existe e que é inteira- mente distinta das sutilezas jesufticas e do procedimento carnal. Que todos nés procuremos obter essa sabedoria. Nosso Senhor Jesus Cristo 70 Mateus 10. 16-23 ndo requer de nés que nos desfacamos do nosso bom senso quando pro- curamos trabalhar para Ele. Sempre haverd bastante ofensa na nossa reli- giao cristé, nao importa o que facamos; porém, nfo devemos aumentar as possibilidades disso desnecessariamente. ‘‘Portanto, vede prudente- mente como andais, néo como néscios, e, sim, como s4bios”’ (Ef 5.15). E de temer que os crentes no Senhor Jesus nao oram o suficiente por um espfrito de sabedoria, jufzo e bom senso. Eles tendem a pensar que, se jf receberam a graca divina, entao ja tém tudo quanto precisam. Esquecem-se de que um coracio agraciado deveria orar para ser pleno de sabedoria, assim como do Espfrito Santo (At 6.3). Lembremos que muita graga e bom senso talvez seja uma das mais raras combinacdes que existe. A vida de Davi ¢ 0 ministério do apéstolo Paulo, contudo, sao provas notéveis de que essa combinaciio é possfvel. Nisto, como em todas as demais coisas, nosso Senhor Jesus Cristo, pessoalmente, € 0 nosso mais perfeito exemplo. Ninguém jamais se mostrou to fiel quanto Ele. E, no entanto, ninguém jamais foi tio verdadeiramente sdbio. Fa- gamos de Cristo 0 nosso modelo, e andemos nos passos dEle. Adverténcias aos Primeiros Pregadores Cristaos Lela Mateus 10.24-33 Fazer a obra de Deus neste mundo é uma tarefa muito dificil! Todos quantos a empreendem descobrem isto por experiéncia. E pre- ciso muita coragem, fé, paciéncia e perseveranca. Satands lutaré vigorosamente para manter o seu reino. A natureza humana é deses- peradamente corrupta. Praticar o mal € facil. O dificil é fazer 0 bem. O Senhor Jesus sabia disso muito bem quando enviou os seus discfpulos para pregarem 0 evangelho pela primeira vez, Mesmo que eles nao soubessem 0 que os esperava, Ele o sabia. Ele teve 0 cuidado de Ihes dar uma lista de palavras de encorajamento, para animé-los quando se sentissem abatidos. Mission4rios exaustos no pafs distante, ou ministros que se sentem esgotados, mesmo trabalhando no seu pr6- prio pafs, professores desalentados e evangelistas desanimados, todos fariam bem em estudar com freqiiéncia os nove versiculos desta pas- sagem. Observemos o que eles contém. Os que trabalham na obra de Deus ndo devem esperar ser melhor sucedidos. ‘‘O discipulo no esté acima do seu mestre, nem o servo acima do seu senhor’’, O Senhor Jesus foi caluniado e rejeitado por aqueles a quem viera beneficiar. Nao havia erros em sua doutrina. Nao havia defeitos em seu método de transmitir a instrucio. Mesmo assim Mateus 10.24-33 71 Ele foi odiado e chamado de Belzebu. Poucos creram nEle e se impor- taram com o que Ele dizia, Nao temos o direito de ficar surpresos se nés, cujos melhores esforcos sio permeados de tantas imperfeigdes, somos tratados da mesma maneira que Jesus Cristo 0 foi. Se nfo nos importarmos com 0 mundo, eles também nfo se importarfio conosco. Mas, se intentarmos o bem-estar espiritual dos homens, entéo nos odiarao, como fizeram ao nosso grande Mestre. Os que procuram fazer o bem, devem esperar com paciéncia pelo dia do jufzo. ‘‘Nada h4 encoberto, que nao venha a ser revelado; nem oculto, que néo venha a ser conhecido’’. Precisam contentar-se em se- rem mal compreendidos, difamados, vilipendiados, caluniados e maltratados neste mundo. Nao devem deixar de trabalhar, somente por- que Os seus motivos sao mal interpretados e o cardter deles é ferozmente atacado. Devem lembrar-se continuamente de que todas essas injusticas serao devidamente corrigidas, no tiltimo dia. Os segredos do coracado de todos os homens sero entiio desvendados. Ele ‘‘fard sobressair a tua justiga como a luz, e o teu direito como o sol ao meio-dia’’ (SI 37.6). A pureza das intengdes dos crentes, a sabedoria dos labores deles e a retidao da causa que defendem sero, finalmente, manisfestos diante do mundo inteiro. Por conseguinte, continuemos trabalhando constante e trangiiilamente. Talvez os homens nao nos compreendam, opondo-se com veeméncia a nds. Porém, 0 dia do jufzo j4 se aproxima velozmente. Afinal, a justiga nos ser4 feita. O Senhor, quando voltar ao mundo, ‘‘ndo somente traré a plena luz as cousas ocultas das trevas, mas tam- bém manifestara os desfgnos dos coragdes; € entio cada um receberé o seu louvor da parte de Deus’’ (1 Co 4.5). Os que procuram fazer o bem devem temer mais a Deus do que aos homens. Os homens podem ferir-nos 0 corpo, mas isso €é 0 m4ximo que podem fazer. Nao podem ir mais longe. Mas Deus ‘‘pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo’’. Se andamos pelo ca- minho do nosso dever religioso, podemos ser ameagados com a perda de nossa reputacdo, propriedades e tudo o que torna a vida agraddvel. Se andamos corretamente, nado devemos temer tais ameacas. Assim como Daniel e seus trés amigos, devemos nos submeter a qualquer coisa ne- cesséria para nio desagradar a Deus e ferir a consciéncia. Talvez seja dificil suportar a ira dos homens, mas a ira de Deus é muitissimo pior. O temor ao homem pode fazer-nos cair em alguma armadilha. Mas, precisamos repelir esse temor com um princfpio muito poderoso, a sa- ber, o temor a Deus. O bondoso Coronel Gardiner disse: ‘‘Temo a Deus, Portanto, nfo preciso temer a mais ninguém’’. Os que procuram fazer 0 bem devem trazer na mente o cuidado providencial que Deus tem por seus filhos, Coisa alguma pode aconte- RR Mateus 10.24-33 cer neste mundo sem a permissfo de Deus. Na verdade, nada acontece por acaso, acidente ou sorte. ‘‘Quanto a vés outros, até os cabelos to- dos da cabega estdo contados’’. O caminho do dever pode as vezes nos conduzir a grandes perigos. Nossa satide e a prépria vida podem ser ameagadas, se avancamos no cumprimento do dever. Portanto, que nos consolemos mediante 0 pensamento de que tudo quanto nos circunda esté nas mfos de Deus. Corpo, alma e caréter, tudo est4 entregue aos cuidados do Senhor. Nenhuma enfermidade nos poderé atingir, ninguém nos poderd ferir, a menos que Ele o permita. Podemos dizer confia- damente a tudo quanto nos ameace: ‘‘Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima nao te fosse dada”’ (Jo 19.11). Finalmente, os que procuram fazer o bem devem relembrar con- tinuamente o dia em que se encontrarao com o Senhor para receberem @ parte que lhes cabe. Se desejam que Cristo os reconhega e os con- fesse diante do trono de seu Pai, precisam confessar diante dos homens © seu nome, e nao estar envergonhados dEle. Fazer isso poderé nos custar muita coisa. Pode trazer contra nds riso, escérnio, perseguigao e zombarias. Porém, mesmo que zombem de nés, lembremo-nos de que temos um galardao no céu. Nao nos esquegamos do grande e temfvel dia da prestacao de contas, e no tenhamos receio de mostrar aos ho- mens que amamos a Cristo e que desejamos que eles também O amem, Que estes encorajamentos fiquem entesourados nos coragdes de todos os que trabalham na causa de Cristo, qualquer que seja 0 offcio. O Senhor conhece as dificuldades de seus servos, e disse estas palavras a fim de consolé-los. Ele cuida de todos os que nEle créem, mais es- pecialmente daqueles que trabalham na sua causa e se esforgam por fazer o bem, Que nés todos possamos ser contados entre os obreiros de Cristo. Todo crente pode fazer alguma coisa, se tentar fazé-lo. Sempre hd algo que cada um pode fazer. Que cada um de nés tenha a visio e a vontade de fazer a obra do Senhor. Palavras de Encorajamento aos Primeiros Pregadores Cristaos Leia Mateus 10,34-42 Nestes versiculos, 0 grande Cabega da igreja conclui a primeira incumbéncia que determinou aqueles que estava enviando para divulgar © seu evangelho. Jesus declarou trés grandiosas verdades, que formam uma apropriada conclusao para o seu discurso. Em primeiro lugar, Cristo ordena lembrarmos que 0 evangelho Mateus 10.34-42 73 nem sempre instaurard paz e concérdia onde for anunciado. ‘Nao vim trazer paz, mas espada.”’ O objetivo da primeira vinda de Cristo a terra n&o foi o de inaugurar um reino milenar, dentro do qual todos teriam uma tnica atitude mental; antes, Ele veio trazer o evangelho que ha- veria de provocar divisdes e contendas. N&o temos 0 direito de nos sentir surpreendidos se essa predig&o vai sendo incessantemente cumprida. N&o devemos estranhar se o evangelho chegar a dividir famflias intei- ras, separando até mesmo os parentes mais chegados. Com certeza esse ser 0 resultado do evangelho em muitos casos, por causa da arraigada corrup¢ao do coracéo humano, Enquanto um homem cré e outro per- manece na incredulidade, enquanto um homem resolve desistir de seus pecados, mas outro esté resolvido a continuar no pecado, o resultado da pregacéo do evangelho sera divisio. Nao devemos culpar o evan- gelho, mas, sim, 0 coracio do homem. Nestes ensinamentos hd uma profunda verdade, embora seja cons- tantemente esquecida e negligenciada. Muitos falam em termos vagos acerca de unidade, harmonia e paz na igreja de Cristo, como se devés- semos esperar por essas coisas, e pelas quais tudo o mais devesse ser sacrificado. Tais pessoas fariam bem em relembrar as palavras de nosso Senhor. Nao hd diivida, a unidade e a paz sao béngdos poderosas. De- verfamos buscar alcangé-las, orando por elas ¢ até desistindo de tudo o mais para as obtermos, excetuando a bondade e uma boa consciéncia. Porém, é um sonho vio supormos que as igrejas de Cristo desfrutarao de grande unidade e paz, antes que venha o milénio. Em segundo lugar, nosso Senhor nos diz que os verdadeiros cristaos devem estar preparados para sofrerem tribulagdes neste mundo. Se somos ministros ou ouvintes, se ensinamos ou somos ensinados, nao faz muita diferenca. Temos que levar a nossa ‘‘cruz’’. Devemos estar dispostos a perder até a prépria vida por amor a Cristo, Devemos nos submeter & perda do favor dos homens, suportar as dificuldades e negar an6s mesmos muitas vezes ou, entéo, jamais chegaremos ao céu. En- quanto o mundo, o diabo e os nossos préprios coragdes forem como sao, as coisas tém de ser assim. Descobriremos quo ttil é relembrar-nos dessa ligdo, para entao transmiti-la aos nossos semelhantes. Poucas coisas so mais prejudiciais & religiao do que as expectativas exageradas e fora de proporgdo. Cer- tas pessoas esperam encontrar uma medida de conforto mundano no servigo de Cristo, embora nao tenham 0 direito de esperar. E, nao en- contrando o que esperavam, sentem-se tentadas a desistir, desgostosas,da teligiao, Feliz € quem compreende que, embora o cristianismo traga uma coroa no final da carreira, traz também uma cruz para 0 caminho. Por fim, nosso Senhor nos alegra com a declaragao de que mesmo 74 Mateus 10.34-42 o menor servico prestado aqueles que trabalham em sua causa ser ob- servado e recompensado por Deus. ‘‘E quem der a beber ainda que seja um copo de dgua fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discfpulo, em verdade vos digo que de modo algum perder4 o seu galardio.”” Nesta promessa hé algo maravilhoso. Ela nos ensina que os olhos do nosso grande Mestre esto perenemente fixos sobre aqueles que tra- balham para Ele e procuram fazer o bem. Parece que essas pessoas trabalham sem serem notadas, sem serem consideradas. O trabalho dos pregadores e missiondrios, dos professores e dos que visitam os pobres, pode parecer de pouco valor e insignificante, em compara¢éo com os oficios de reis e parlamentares, de generais e estadistas. Mas nao é in- significante aos olhos de Deus. Ele observa os que se opGem aos seus servos e aqueles que os ajudam, Ele observa quem é décil para seus ministros, como Lfdia agiu com Paulo, e quem pide obstéculos no ca- minho, como Distrefes fez contra o apéstolo Joao. Toda a experiéncia didria dos discfpulos de Cristo fica registrada, enquanto trabalham na seara do Mestre. Tudo fica registrado no grande livro das obras e tudo ser4 revelado no dia do juizo. O copeiro-mér esqueceu-se de José de- pois de ter sido restaurado a seu cargo. Mas o Senhor Jesus jamais se esquece de qualquer do seu povo. Ele diré a muitos, que menos espe- ram por isso, no dia da ressureigdo: ‘‘Tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber’’ (Mt 25.35). Ao encerrarmos 0 estudo deste capftulo, perguntamos a nés mes- mos como consideramos a obra e a causa de Cristo neste mundo. Estamos ajudando ou dificultando essa obra? Estamos ajudando de alguma ma- neira, aos profetas e aos ‘‘justos’’do Senhor? Estamos auxiliando estes pequeninos? Estamos pondo obstdculos no caminho, ou estamos enco- rajando os obreiros do Senhor, procurando anim4-los? Estas sao pergun- tas muito sérias. Os que oferecem o ‘‘copo de dgua fria’’ sempre que tenham oportunidade, agem bem e com sabedoria. Porém, agem ainda melhor aqueles que trabalham ativamente na obra do Senhor. Que to- dos nds nos esforcemos por deixar este mundo melhor do que aquele em que nascemos. Isso é ter a mente de Cristo. Isso é descobrir pes- soalmente o valor das maravilhas contidas neste capitulo. Joao Envia Mensageiros a Jesus Leia Mateus 11.1-15 A primeira coisa que nos chama atengao nesta passagem é a men- sagem que Jodo Batista envia a nosso Senhor Jesus Cristo. Ele mandou Mateus 11.1-15 75 dois dos seus discfpulos perguntarem a Jesus: ‘Es tu aquele que estava para vir, ou havemos de esperar outro?” Essa indagacao nao foi gerada por diivida ou incredulidade de Joao Batista. Farfamos uma grave injustica aquele grande santo do Se- nhor se interpretéssemos a pergunta dessa maneira. Ela foi formulada visando ao beneficio dos discfpulos de Joao. Teve a finalidade de oferecer-lhes a oportunidade de ouvirem dos préprios labios de Cristo a evidéncia de sua missao divina. Sem diivida, Joao Batista sentiu que © seu préprio ministério estava terminado. Alguma coisa, no seu fntimo, The segredava que ele jamais sairia do cércere de Herodes mas, pelo contrério, ali morreria. Jodo lembrou-se dos citimes e invejas, moti- vados pela ignorancia, que haviam surgido entre os seus discfpulos e os de Cristo. Logo, escolheu 0 curso mais provavel para esses citimes serem dissipados para sempre. Enviou alguns de seus seguidores para que estivessem ‘‘ouvindo e vendo”’ por si mesmos 0 que Jesus fazia. A conduta de Jofio Batista nos oferece um extraordindrio exem- plo para ministros, professores e aos pais, quando esto chegando ao final de sua carreira. A principal preocupaciio desses deveria dizer res- peito as almas que eles deixario atrds de si, neste mundo. E o grande desejo deles deveria ser persuadir tais almas a apegarem-se a Cristo. A morte daqueles que nos tém guiado e instrufdo neste mundo sempre deveria produzir tal efeito. Deveria fazer com que nos apegdssemos ainda mais firmemente Aquele que nunca mais morrer4, que continuaré para sempre e tem um ‘“‘sacerdécio imutdvel’’ (Hb 7.24). Outra coisa que requer a nossa atengfo, neste texto, 6 o elevado testemunho dado por nosso Senhor no tocante ao cardter de Joao Ba- tista. Nenhum homem jamais recebeu tamanha aprovacdo como essa que Jesus d4 a seu amigo que fora aprisionado. ‘‘Entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que Jodo Batista.’’ Nos dias de seu ministério piblico, Joio havia confessado ousadamente a Jesus, perante os homens, mostrando ser Ele 0 Cordeiro de Deus. Agora, Jesus declarava abertamente que Jodo Batista era mais do que um mero profeta, Sem diivida, havia alguns que estavam inclinados a fazer pouco caso de Joo Batista, em parte, por ignorancia da natureza do minis- tério de Joao, e, em parte, por nio terem compreendido a finalidade da pergunta que ele mandara fazer a Jesus. Nosso Senhor faz silenciar esses astuciosos com a declaracao que faz a respeito de Joao Batista. Jesus Ihes disse que nao deveriam pensar que Joao fosse um homem timido, vacilante e inst4vel, ‘‘um canico agitado pelo vento’’. Se assim pensassem, estariam totalmente enganados. Joao Batista foi uma teste- munha poderosa e inflexfivel da verdade. Jesus diz que nao deveriam

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