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Capftulo 8 DIARIO DE CAMPO: REFLEXOES EPISTEMOLOGICAS E METODOLOGICAS Katia Reina Fries Introducao (0 termo “rio de campo” € usualmente vtilizado pars referirse a ume tence especitia de registro de dados muito liza nas pesquisssqualitativas que wilizam pineipalmente solver ena ‘Sua ovigem semonta as extados antrpoligicos de Mal owak, no info do cul, que observava os nat vos das has “Trobrind, no Oceano Pacifico. Confoume Minaya (1993:138). 2 prtica da observa fi logo contstada pela soiologia de teadgoquanitativa que denominava de empirstse“impes- sionists” a observagies antropolipieas. Foi arnvés da etno- ‘metodologiae da fenomenologia sciolgica que a observagio recuperou seu lugar de destague nas pesquisa scioliyicas,€ ‘desde eno, costuma-s tila oermo "wabalo d= eampo” para ‘esignaras pesquisis que tlizam ese ipo de metoologa "Na Picologa, a ptca da observago tar fez pate ‘desde coda das metodologias de shordagem darealdadepsico}- se, Coohican (1997) ela que apsiologa do deenvolvimento ‘vale bastante dos dros das observages de otiiano de ‘rang, Atéo fal doséeulo XIX, praticament to exstiam; 2 168 ecesidade de ranscende as inerminivis discusses sobre se ascriangasnaciam com fendi nats, oes, como fim Rousseau, como una tabula ras” como pontifcava Locke, «© colocar o tema num perspectivacenifca produ 0 que se pode chamar de “bidlogos de bebés”. Estes primeirs relatos {foram realizados com os priprios Filho dos pesqusadores ¢ construdos como dirios de obervagescoidianss sobre seu crescimentoe desenvolvimento; eram preferencialment est dos longtanas, ‘Jean Page alvezsjao mais famosa destespesquisadores 1 Pricoogia. Ele uilizoainicialmentedicios de observages ‘otidianas sobre o desenvolvimento dos fos ara conse ¢ exemplificaraspects desu tori do desenvolvimento cognitive. ‘Aabordagem bhavirsta também deve muito ess ti ‘2, aplicada sob contol experimental, o pretender teorizar por exempl, sobre os efeitos no eomportament animale humana da dminstapto do reforgo eda png io, pode er uilizado como uma estatgia didi pedagSgica No ‘nso clnio de enfermagem,o diode campo & uma pra iri em algumas iseplna tesrico-piticas como o relat das expergncias de esti. Nesta perspectva uma esti pra autoreflexo das ages tanto doaluno como do professr, seus alto bites, suas conquits sas itis as emocbes que pet sam a relago com pacientes e com equip de trabalho, Como refere Freitag (1998), a8 anos feta no dito de campo refletem a dalica desencadeada pelo proprio pro ‘ceo pedagigic, como toma de conscitnci de si mesmat0) Portanto, a impotincia da observagdo da elidade ct diana paraaconsrugio do conheciment cinco situa aobse ‘vas partcipante na dscusso epistemoligicae metodoligica dentro das cigncas humana e soci, Dest forma, buscaremos 170 situar & mesma no cendro ds discussto contemporinea sobre {ates dis temas, para depois sprofundarmos um peo mais 30 bre as quests propramente metodolicas e apseatar exe los da wilizago de anager de eampo em divenaspesuias Campo epistemolégico/metodolégico ‘A utilizaso de dirt de campo nas pesuiss deve ser situa numa primeira discusso sobre oestatto ds realidad mas ‘Pesquisas das cincias soit, paras quis a obsevagto const {ui uma tenia pivlegiada de coleta de das. ’h primcita vista, todas as léncias se aropiam da obser ago de fendmenos pa a constr de scuscaneimentos. Mesmo nas cignciasnaturi, que pivizam os moos expe ments econtoledevariveis, observes mtg o conju ds téenicas de coleta de dadosdispontves pra» pesuisador registrar sue resulados, demos considera “naturis os endmenos que observamos nas ‘ites humana esos, tal alo fz 0 bseradornas ci ‘jas naturals Ocampo das iénia sociais, quem no homem seu tema de esd, apresentise como ua realiade complet mene divera do campo ds cigs natuas. Com eth quem tefenda que os endmenossoiais também psem ser considers tds fendmenos naturis, mas a mai parte des psquisadores da ‘atualdade considera os fenémenosumanos come parte dare dade hstica cata, ou sj, una ealidade cxnstuda dentro ‘deum determina tempo e expagoe submetia, ortano, uma ‘onfa tansformagio. Para Sct (apudMinay, 199, p 139: Hi uma deren seni m extra dos bjt, os ensamentos ow sonstvtos meatal Formados pels Ec canes is ri) O malo Mo “significa” nada pars as moléalas, tomes ¢ le ‘ros que ale exit O capo de oservato do en ‘ka sca eatetano, quer dre aide svi tr um sipnftcadoespecicn «una erat de evince {rover Rano gene go Pe eto ‘Trabalho de campo e coleta de dados Como tcnca de eso, o dri de campo € pare inte ante da observago panicipant, que consitu algo mais do que uma simples tercade colt de dad. Pra Fermando Rey (199), ‘ue discut epstemologia da pesquisa quaitativa em prcoo i. arepresentagoda pesquisa como trabalho de campo enftiza ®t comunicagio como proceso que arcu pesquisa qultatva ‘em seus diferentes momentos, ea presenyspartcinagto do pes- _uisdor dentro da institu, comuniede ou grapo de psoas quest investgando que he permite o aces fonts importan {esd informaeo “informal ‘© wan de campo eherene-se de uma simples colets {de dads quand pressupe a partcpagto do pesqusador noc: {ino dos sujeitos estas, posslbltndorees de comune ‘le observago das mais varadas formas de expresso desea Sujets, o qu certamente font excepcionl para produto de conhecimentos no bio da picologia. Traalho de campo ésquee que permite conatonteratvo do pesquisadorpesquissdo mum coatento relevant ara i ‘mo. Diferentemente a olta de dads, o trabalho de campo re Preseniaum proceso permanente de estabclecimenio de reaps € de consingo de conhecmento no prérin ceri em qu est dams fendeno £ impotant também assinalar que, em decorénca desta visto da realidad, pra ciacis natura “dado” tem um ‘satreza completamente distin do que par as cincas soi Rey (1999 cemeorda que! Tibetan msn dtl, pcs cones ‘ko como un cad je qu repent ajo sidney poedencn es emp Lan doe ‘ir "respetado por el investigador para garanizar el ‘Frac ov de sive (18 Esse cnestfabordagem do dado pressupe a coespon enca cnr a consrusi teria o fos, ene ainerretaebo (a ealidade, el perspectva que acompan hstorcamente tons fons de cmp, © dado & fomado ub nes ‘ica quand & considera o resultado da apices de ns tment nica, sem amino dopsausadr ‘tna ese carter djevo dos dos emeontaponisbo cater subj ds iis, chegou a restringiro ws da poe prin cheragte no campo de pesgisaem scoop mesmo quan to o proceimento metadagico sguia todos os enschos ‘xistentes sabre como realizar uma “obserardo cific”, Pare tee go doming exes de avestcn pe te lunches pr comertoo Be se emer on eco det ivetigacon (1999, p13) (trabalho de campo, portant, é visto come essencial par ‘desenvolvimento da iniciavae da bagagem intdectua do pes (uisadr, na medida em que esse se v8 obrigayprovorado a SInbora sts prpis iia rete ao que ests acontecendo no ‘endo da pesquisa clea de datos 60 momento de conta om inom 20st tert se sentdonerpetag abu posterior {ena capa da interpretago dos resultados. Na coleta de dados tradicional, pesquisador tem um papel otalmentepassivo, ae com frequéncia se identifica com a aplicago de insrumentos, Nu msiora dos casos ao hs minima possbiiade de registra ‘femme observagdesimprevisas que podem ser relevantes para quaificagso dos prpcos instruments liza, Rey (1999) insist qe pesquisador no trabalho de campo ‘st exposto penmanentemente ao novo, com o qual er que de senvoverconceitoseexpicaes que Ihe den sentido process fundamental para a contrueao do conhecimenta. O trabalho de camporevela-se totalmente congrventeanveletooigico com 0s principis principios da epistemologia qualitativa autor arescenta que 0 pesqusidor no deve refugiarse os dos para evita asides, poe afima que os dados no S30 ‘subtitulos das ides e sim seus filtres, Lema ea pes quis quaniativa do dado isolou da ideis com 0 objetivo de reservar uma supostsobjetivdad, Rey afrma também qu a ands e interpreta de rsa ‘aos definida como um process no defini pels dads, mas . odie que oy anscende€ que fo nezesariamenc tem sua rig nels. foot de ideas no se encntasomente nos dados, mas, fudanenamente, 0 con front entre o curso do pensamento, ispirado por mils vias. Confront que desencadeia a produgdo de moves iia, caja legtimidade 6 pode ser een dentro do proceso de pena ‘mento no qual foram grads no por so comespondéncia cm 1s dos prduzidos no cendro onde apareeram, Mara Teresa A, Arilaga (In: Anguera tl, 195) agrega ‘esa dcussio uma refed sobre 0s tipo de dads de campo: 10s que se coleta es que se produz, Apesar de parecer Aicotomizaco simpli autora considera que esse tipo de ae zag € igi e real. Quando o pesquisaor observa o con Potamento de outros ou o proprio, est coletando dads, port, quando se iterpoa pessoas através deenrevista ou questions se produzem dads novos que no exisiamanerormente Actes centa que, no campo da metodoogiaqualtativa hi consenso em Shontaiconeeuar ox dados/nfrmagSes como comstuidos 0 process da penis pats de uma marco terico ou metals Foo exintenteindepentemente de qe tenam sito coletados cu produzidos. ‘Oabatho de campo onde opesquisador participa cnt rage cm sexu, linguagem e com os suites desua peat ccrrevela-s um meio eficaz de contemplar @ mulipiidade de pesto da eliade socal comrades, a poi ds vo ave das linguagens. permit maior apreensio da ealidade ‘social tal qual ela se apresenta Considerar exa discus sobre a ubjetviacbjetivide Ses nos impo a necessidade de eim0s soe eas inforages 0s imp formas mcor prcsnetrsfomag se hm nacltrae no nivel eotdiano da dos 08 tapes de repress da vid social ed conser Tomes, valores crengas ds grupos soca, quanto 0s apectos ‘este set, pensamos qe eo den at aprecndidos por formas de coeta de dads alt so psn ser ap edo trent esrtados, com questions, qu sbaleanariam des endmenosda relia Creverseus aspects menos complet 0 relacionamento pesquisadoripesquisado: tum encontro de subjetividades Nad Rio (198), mag em gu far ees step damp tag ariiantensclai nue para enriquecer a dscisdo que tem silo feta até fhoment nse batho acerca do registro de dads © a posigho oposauaador tipo derelcinament rete aes steitos de pesquisa. ‘Um merguo tot do pesgusador na cultura pesquisa, como avogara Malinowski? Toen-s um “atv”, um "seme Thante"? so € possvel?Funilaizaese com o ambiente, mas ‘ante um ael de estranhamentopermanerie? Que posig t= mar quando a pesquisa tunis, diferenemente das realzadas pelos precursores dessa abordagem referents, ocarem no pr ‘ro contexto em que vive opesqusador? (Os proissionsis envolvidos om seus projets de pesqui, 2o tomar como tema de stud outros segtenios socioeconmi- £05, cas rticas e cosdinos geramente 6 coahscem sper

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