Você está na página 1de 24
CLAUDIO NARANJO, M.D. Os Nove Tipos de Personalidade Um Estudo do Carater Humano Através do Eneagrama |. Tradugéo de Claudia Gerpe Duarte Earth, escultura em baixo-selevo de autoria de Totila Albert, 1962 Representaciio artistica de Kelly Rivera AGRADECIMENTOS. Partes deste Hivro foram previamente publicadas nas se- guintes edigbes Gateways Books: Ennea-type Structures: Self Analysis for the Seeker © 1990, 1991 de Claudio Naranjo. *Protoanalysis" € uma marca de servico registrada do Arica Instinute, Inc. Editor ¢ Gerente de Projetos da Gateways: Iven Lourie Projeto da capa de Nancy Christie. ‘Trabalho artistico da capa: Desenho de Kelly Rivera baseado 1a escultura em baixo-televo Earth de Totila Alber, 1962. CCitagées de Karen Homey reimpressas de Newrosis and Human Growth de Karen Horney, com permissio de WW. Norton & Co,, Inc, Copyright 1950 de W. W. Norton & Co., Inc., eenovado © 1991 por Jeffrey Rubin ¢ Stephanie St ‘Theodore-Milion de Disorders of Personali reimpresso com permissio de John Wiley & S por John Wiley & Sons, Inc. CitagBes de Cath de Portraits of Homoeopathic Medicines, wol. 1, © 1986, por Catherine R. Coulter, vol. 2, © 1988 por Catherine R. Coulter, ambos publicados por North Atlantic Books, reimpressos com permissio de Catherine R. Couker. “Bsses sito os obstdculos: as trevas da insensatez, da auto-afirmagao, da luxtiria, do édio, do apego. A escuridao da insensatez & 0 campo dos outros... 0 fardo da sujeicdo ao sofrimento tem sua raiz nesses obstdicutios.” PATANJALI — LIVRO “Assim, amitide acontece com homens particulares, ‘Que por algum sinal imperfeito da naturexa neles extstente, Carregando, eu digo, a estampa de um defeito Sendo a dparéncia da natureza, ou a esirela da fortuna, Suas virtudes ouitras, sejam elas tdo puras quanio a graca, Tao infinitas quanio 0 homem pode arrostar, Irao na condenagao geral ser desmoralizados Por esse defeito particular: uma particula infinita de impureza Corrompe a substncia mais nobre, Rebatxando-a ao nivel de sua propria degradacéo.” ‘SHAKESPEARE (HAMLET — ATO 1 —~ CENA IV) “A introspecedo 6 0 primeiro passo em diregdo & transfor ‘magi, e infiro que, depois de conbecer @ si mesmo, ninguém pode continuar sendo o mesmo.” ‘THOMAS MANN — ON HIMSELF (©1996 by Cliudio Naranjo ‘Tinulo original CHARACTER AND NEUROSIS: AN INTEGRATIVE VIEW Direitos em lingua pormguesa para o Brasil, adquiridos de CLAUDIO NARANJO por EDITORA OBJETIVA LTDA., Revisao Sendra Passato. Tereza Fatima da Rocha 1997 1098765432 Em Memoria DE KAREN HORNEY “Suave rebelde” da psicandlise, foi a primeira a perceber o que muitos estdio descobrindo hoje e esta viva neste livro através de seu insight do cardter e da sua fo na auto-andilise. Através da sua influéncia indireta, comecei a me tornar um verdadeiro psicoterapeuta, e sou grato a ela por trazer Fritz Perls para os Estados Unidos. SUMARIO Profaicio de Frank Barron Prfimbulo do Autor . A Guisa de Hameo: um Panorama Teérico 1 — A Raiva e o Perfeccionismo 2 — A Avareza € 0 Desapego Patolégico 3 — A Inveja e o Cariter Masoquista Depressive 4 — 0 Carites Sadico ¢ 2 Luxtria 5 —AGula, o.Embuste e a ‘Personalidade Narcisista” 6 — 0 Orgulho e a Personalidade Histiénica 7 —A Vaidade, a Inautenticidade ¢ a “rlenacso" Para o Mercado. eaAcusaglo ..... 9 — A Inércia Espiritual e a Disposicao Excessivamente Ajustaca 10 — SugestBes Para um Posterior Trabalho Sobre o Eu Apéndice ~ Comentérios Para 0 Diagndstion Diferencial Ene Agus Tipos de Personalidade Notas Biograficas . re B a 4B 85 4 148 183 210 236 264 359) 369 373 PREFACIO Frank Barron Claudio Naranjo sempre esteve associado na minha mente & surpresa € a um toque de mistério. No inicio, eu simplesmente sabia que existia alguém no remoto Chile res- Ponsavel pelas visitas que eu recebia no Institute of Personality ‘Assessment and Research em Berkeley. Os visiantes invaria- velmente nao eram psicbiogos e eram chilenos; eles tocavam a campainha da porta do Instituto e pediam para me ver, dizendo que isso thes fora sugerido pelo Dr. Claudio Naranjo. Invariavelmente eles se mostravam interessados nas minhas idéias a respeito de simplicidade e complexidade, simetria € assimetria, Alguns eram artistas, outros arquitetos, nenhum era psicélogo ou psiquiatra. Eles chegavam com uma certa regula- B ridade, cle um em um, a ponto de as recepcionistas se acostu- ‘marem a me chamar no intercomunicador ¢ dizer: “E outro ar- _gumas pessoas interessantes ¢ inteligentes que se sentiam curio- sas com relacao ao mesmo tipo de coisas que me interessivam, Um dia entZo, quando eu lecionava em Harvard, Claudio em pessoa apareceu, sem ser anunciado, for the Study of Personality. Ele parecia muito timido, apresen- tou-se modestamente, e quase que imediatamente ficamos amigos. Percebi de imediato que ele era tinico ¢ impossivel de caracterizar. Varios anos depois, quando ele estava em Ber- keley, que fosse sujeito de uma experiéncia dow ble-blind que eu estava fazendo, comparando os efeitos do Alcool, da psilocibina e da mescalina em varios comportamen- tos, inclusive na pintura com os dedos. Claudio foi um dos aforunados, ¢ logo cle se absorveu profundamente em sua Pintura, uma nova ocupagio para ele. (Ble também compés algumas miisicas para o piano e as tocou enquanto estava sob a mesma influéncia benéfica.) Um pouco mais tarde eu estava \do um artigo sobre esse e outros experimentos para American, e pergunteithe se poderia usar uma das ilustragdes, se possivel com a do sujeito, Ble riu e respondeu: “Frank, é claro que vocé pode, ¢ vocé pode imprimir meu perfil MMPI ao lado dela, se desefar.” Tendo em mente 0 formidavel esforco que o Dr. Naranjo fez para incorporar as abordagens tipolégicas & personalidade, eu acho que esse é um caso revelador. Ble leva a tipologia obrigagao & qualidade de membro de algum grupo. Ele é um tipologista que nao pensa em fungio de grupos ou diagnds- ticos, emby infmicas € no estaticas; sua estrutura € apro- priadamente simples e simétrica, mas a diferenciacZo interna & a7 ' complexa ¢ de certo modo aberta, ou 0 que eu chamaria de assimétrica Sinto-me tentado a continuar a contar hist6rias a respeito de Claudio, mas talvez.eu deva me ater a uma narrativa de suas idas ¢ vindas a servigo desse extraordinério trabalho como psicélogo da personalidade. Ble s6 ficou em Harvard alguns dias naquela primeira visita, ¢ estava 14 porque trouxera sua mie a Boston para fazer uma cirurgia ocular especializada na Phipps Clinic. Minha mulher ¢ eu passamos 2 conhecé-la bem, durante 0 tempo em que ela ficou hospi do, €-aprendi aiguma coisa sobre a hist6ria educacional de Claudio, bem como sobre as honras ¢ homenagens que the foram outorgadas: um ano em Paris com uma bolsa de miisica obtida em funcao de suas primeiras composicdes no piano, seu trabalho de campo na medicina antropolégica na América do Sul, seu lugar como lider cultural na democracia do Chile antes queas trevas do autoritarismo se abatessem sobre o pais. A Sra. Naranjo era uma dams extremamente fina; foi um verdadeiro prazer conhecéta, Claudio apareceu pela segunda vez na minha vida quan- do veio para Berkeley em 1962 com uma bolsa de estudos da Fulbright. Ble comecara em Harvard, onde foi aluno de Gordon Allport e recebeu a influéncia de David McClelland, bem como naturais, Richard Schultes; depois ele foi para a Universidade de Illinois passar varios meses aprendendo anilise de fatores com Raymond B. Cattell e conduzindo seus primeitos estudos das dimens6es da personalidade. Ele estava interessado em passat algun tempo conosco no Instituto, ¢ ficamos satisfeitos em acomodi-lo, Ele estava extremamente envolvido com 0 universo dos compuradores € com a promessa dessa nova tecnologia para 0 estudo da personalidade, e, com efeito, ele dacle de Mlinois a doacio do hoje em 1965, quando Claudio voltou através de uma bolsa de 45 cestudos Guggenheim, eu estava trabalhando no meu “Inver tory of Personal Philosophy", um questiondrio de 200 itens Construido em parte a partir do resumo de fatores nos valores Ge Cattell (no volume inicial “Description and Measurement of Bu tinha amostras de cerca de 400 homens ¢ 400 ‘mulheres, ¢ Claudio empreendeu uma colaboracao comigo na anflise de fatores desses dados. Mas o trabalho nao foi publica do, em parte porque Claudio teve que partir antes que pudés- Semos compéo completamente. Ele talvez estivesse em busca die algo maior. Ele havia cecidido visitar os indios nas floresias Gos Andes colombianos em busca de conhecimento a respeito {das priticas religiosas desses indios sobre 0 uso do banisterio- psis capt (ag Misteriosamente, como sempre, 0 Dr. Naranjo voou part Bogotd e parti em directo a floresta, Uma jomada de uma 5e- mana conduziu-o a0 rio Putumayo, onde ele alugou uma pito- ga com um miotor de popa em guia, viajando em direga0 205, adios Kofan, Ele levou consigo poucos presentes, apenas Um frasco de LSD que eu Ihe dera (que me fora presenteadlo por ‘Timothy Leary) antes de ele partir. Bu sei que ele se tomou amigo do principal xamai do local, ¢ rocou parte daquele pro- “Gute da tecnologia quimica da civilizagao por um grande costo de banisteriopsis capi. Eu digo que sei porque, entre outras coisas, chegou certo dia ao meu escritério em Berkeley im ces- to bem grande cheio de gallos e fothas secas da planta, que eu rapidamente levei para © Centro de Dinamica Bioquimica da niversidade. L4, os quimicos Tony Sargent e Alexander Schul- gin realizaram as andlises quimicas adequadas, Mats tarde, Sar gent, Shulgin e Naranjo publicaram uma disseragio teérica de fgrinde importinca na publicagio cienfica tritinkca, Nate (1969. 221, 537. Poseriormente, The Lancet (B de margo de +1969) ira aclamar iss0 na pagina editorial como um importante ‘avango no nosso entendimento da biogusmica da esquizofrenia, ‘Depois da sua estada com os indios cotombianos, Claudio segulu viagem, depois de sabe-se 14 que aventuras de alma e 16 corpo, em diregtio 2 sua casa em Santiago, onde ele page em alguns estudos extraordinatios sobre seus efeitos em ‘sujeitos europeus (agora publicado em Hallucinogens and Shamanism de Hares). Digo extraordindrios porque ele des- cobriu que as imagens arquetipicas da flora ¢ da fauna exéticas, como as plantas tropicais, os jaguares € as cobras, bastante conhecidos dos indios porém desconhecidos dos homens brancos, apareceram nos sonhos alucinogenicos de seus suje- tos. Essa técnica permaneceu desde ento jobre © problema da meméria ancestral e 0 relacio- a experiéncia desta vida com os potenciais latentes nao experimentados para imagens arquetipicas ( Frank, “Torwards an Ecology of Consciousness", 95-113, 1972). No nosso préximo capitulo, porque isso parece ser mais uum pequeno romance do que uma introducio a uma realizaco intelectual extremamente séria de um importante psicSlogo € Psiquiatra tipolégico, o Dr. Naranjo retorna a Berkeley para continuar seu trabalho, Mas vou passar por cima de alguns eventos fascinantes para chegar a0 que viria a ser o inicio da grande realizago apresentada neste livro. Cero dia, CI entrou no meu escrit6rio e anunciou que itia deixar Berkeley ‘um pouco antes do que havia planejado, porque recebera um, chamado... no sentido de uma necessidade espiritual.. para que fosse estudar com um mestre sufista que aparecera no Chile e que estava reunindo pessoas no deserto para seu ensinamen- to, na cidade de Arica. O Dr. Naranjo me disse que a coisa mais importante para ele naquela ocasido era ir para Ja e aprender com 0 mestre sufista. Nessa época, eu jé havia aprendido a nao me surpreender, de modo que apenas perguntei se eu poderia ajucar de alguma maneira. Ele me resporideu que sim, que no havia acomodagSes apropriadas em Arica, e algumnas dezenas de pessoas dos Estados Unidos estariam indo para ld. Nao me embro agora se foi ele ou se fui eu quem teve a idéia das ” clipulas geodésicas de Buckminster Fuller, que podiam ser des- pachadas numa forma compacta ¢ montadas no deserto. Consegui descobrir uma cipula Fuller na vizinhanga, total- mente ocupada ¢ proporcionando abrigo para alunos de uma escola experimental escondida na floresta em algum ponto entre Berkeley e Santa Graz, e partimos para a floresta por um 1e imagino deva ter sido de alguma maneira tio aparece na portz de qualquer pessoa), ¢ logo ele havia provi- denciado a compra € 0 embarque de seis ciipulas para o Chile. Arica iria se tomar famosa de outras maneiras, ¢ no geograficamente, mas essa € outra histéria, e & chegado o resentou realmente sua necessidade, € © ponto central, fatores, por um lado, e 0 diagnés- ico, por outro, nos trouxeram a um ponto no qual as comrespondéncias entre os dois conjuntos de resultados cla- mam por um entendimento. E mais do que isso, as extensas teotias clinicas dos terapeutas que nao aderem a nenhuma das precisa se fundlir com as perspectivas psic ‘Uma estrutura conceitual adequada precisa abrir novos cami- nnhos para a compreensio de pessoas em relacionamento umas ‘com as outras, de modo que © assediado eu obtenha pelo ‘menos um vislumbre do que esté acontecendo na outra pessoa. Na minha dissertagzo de doutorado em Berkeley (’Psychote- rapy asa Special Case of Personal Interaction”) eu fizera esfor- os nessa direco, casando resultados nas mesmas dimensoes tanto para o paciente quanto para o terapeuta, e Timothy Leary 1B iria em breve tentar a mesma espécie de sintese através da sua dia do reflexo interpessoal em miiltiplos niveis de comunica- Ao (The Interpersonal Diagnosis of Personality, Ronald Press, 1957). Mas esses esforgos nao alcancaram uma caracrerologia diddica estabelecida, e € precisamente isso que € necessério. No presente traball rf. Naranjo nfo apenas tem o interpes- soal daramente a sua frente, como também coloca a motivagio a importincia da motivagio de deficiéncia na determinago das atitudes neuréticas. E a motivacio, afinal de contas, por mais, omitida que ela possa estar na interpretago comum dos fatores da personalidade, € 0 sine qua non de uma visio abrangente nao apenas da realidade individual como também da social. Considero este livro, que é uma obra profissional e dificil, jaranjo esté qualificado, realmente qualificado como ninguém mais esti, para lidar com as profundezas da mente, ‘com suas manifestagdes mensurfveis, com as necessidades so- ciais psiquistrico-diagnésticas e com 2 multiplicidade de abor dagens que pociem ser chamadas de terapéuticas (ou indivi- duadoras, ou que visam a modificagao do comportamento, ou que trazem uma nova, mais profunda e mais ampla expt do eu). Hle pos em aio suas habilidades e sua experiér dificil tarefa de integrar as diversas abordagens parciais cuja falta todos sentimos, ¢ ele enxergou novas conexées que fazem do seu trabalho uma contribuiglo eminentemente criativa Acredito que eu possa prometer ao leitor cuidadoso deste livro algumas surpresas, sem mais mistérios do que os que sto necessirios e adequados. Trata-se de um trabalho no qual toda uma vida de exploracio ¢ planejamento corajosos ¢ habilidosos atinge sua plenitude ¢ € comunicada de uma forma ao mesmo tempo simples e complexa, simétrica ¢ assimétrica: complexa- mente simétrica como um Eneagrama ¢ totalmente assimétrica como 2 vida e 0 tempo. 19 PREAMBULO Aaquele que sabe, ¢ sabe que cle & é abo. ‘Que ele sefa seguido, Apenas pela presenca dele o homem pode ser transformado, (Recital Sarmouni) ‘Devo a Frank Barron a idéia do subtitulo do livro, & prevejo que meus leitores considerario Gbvia sua propriedade, ‘embora seu espitito mio tenha sido © de concentrar-se em qestdes controversas. Tenho explorado muitas escolas de for- ma imparcial, e creio que minha contribuicao mais especifica cencerra uma nabureza integrativa. A visio que apresento em todos os capitulos do livro poderia ser chamada tanto de cog- nitiva quanto de psicodinamica, sendo também uma perspec- tiva na qual a personalidade é encarada como um sistema de tragos. Creio que s6 podemos separar artficialmente as carac- Teristicas das causas e das maneiras de ver as coisas,* assim co- mo também considero artifical separar uma visto de aprendi- 2 zado social dessas caracteristicas de uma visio relacionada com © objeto que considere a intemalizacio da figura dos pais dos primeitos sentimentos com relacio a eles. ‘Além de constinsir uma exploracio clinica do mesmo campo geralmente investigado pelos te6ricos da personalidade que abracam a abordagem matemitica bem como a exploracao psicodindmica das caracteristicas da personalidade e suas inter- conexdes, ¢ além de incluir uma reflexio sobre as orientagées do caréter como estilos de defesa ¢ estilos de avaliagaio que estio ligados a ilus6es particulares relacionadas com a realiza- fo, a interpretagio que apresento aqui também pode set cha. mada de uma visio transpessoal ou espiritual do carder € da neurose ou, altemativamente, uma visto existencial — consi- jue ela equipara (como seré visto) 0 obscurecimento com a perda do ser. sintese tio abrangente, declarar que a perspectiva destas pagi- nas no surgi. como conseqiiéncia de um propésito ambicioso, tinea das concepgdes com as quais eu me familiarizei no de- corer da minha aventura intelectual pessoal na pesquisa da personalidade, durante minha exposiclo a uma influéncia externa a psicologia académica. Em retrospecto, posso ver que as questoes da personalidade e dos tipos: ‘um continuo caso amoroso durante os ti minha vida, ¢ nisso um elemento vocacional parece ter conver gido com um elemento do destino — mais surpreendente devido ao fato de que depois de eu ter abandonado campo cle parece ter me arrastado novamente para ele, por tris, por assim dizer, sem uma intengio deliberada da minha parte, como conseqtiéncia da manurago espontanea de um enten- dimento derivado da influéncia ativa de um mestre sufista da chamada tradigao do “Quarto Caminho" Desde 0 inicio dos meus estudos psicol6gicos, interessei- me profundamente pelos tipos humanos. Embora meu interes- 2 se original de me tomar um estudante de medicina fosse puramente cientifico e tena sido.a descoberta de Jung que me Jevou a permanecer na area quando fiquei desapontado com a pesquisa da sabedoria através da neurofisiologia, meu ver dadeiro mergulho nas esferas da psicoterapia e da psicologia ‘ocorreu um ano depois, quando ingressei no curso de psiquia- tria de Ignacio Matte-Blanco. Matte-Blanco? — fundador do Instituto Psicanalitico de Santiago ¢ diretor da Clinica Psiquia- trica de orientago psicaralitica da Universidade do Chile — ‘era um homem de vastos interesses a quem preciso agradecer ‘Jo apenas por uma inspiradora educagio psicanalitica, mas também por me ter posto em contato com a psiquiatria exis- tencial e, o que ndo é menos pertinente a este livro, por apresentado intimamente pacientes eram do tipo somiatico. A idéia de Sheldon de que tés dimensdes do tempera: ‘mento humano estio intimamente relacionadas com as ¢s- tuturas do corpo que derivam das trés camadas originais do embrio humano exerceu um profundo impacto na’ maneira como eu interpretava as coisas naquela ocasiaio. Essa foi para mim 2 época de explorar as triplicidades e as trindades. A inspiraco para esse meu interesse particular de toda uma vida {foi o impacto simultineo de Gurdjieff, iniciado de uma escola Gurdjieff Gundador do Instituto para o Desenvolvimento Har- monioso do Homem) falava da *Lei de Trés” — um principio césmico segundo o qual é pos uma forca negativa e uma forca neutralizadota em todos os tipos de fendmenos no processo de vir a ser — Totila Albert vvisualizava 0 Pai, a Mae e 0 Filho como “trés componentes” no 2B nes da perigosa obsolescéncia da nossa sociedade patriarcal Considerando a marca de uma verdade profundamente vivida tanto nas declaragdes de Gurdjieff quanto nas de Totila Albert, foi natural para rim sentir-me atraido pela visio de Sheldon; porque assim como as nogdes transmitidas pelos dois primeiros — procedentes da tradi¢ao ¢ da revelacio pessoal, respectivamente — pareciam se legitimar reciprocamente, tam- bém essa formago visiondria conjunta parecia legitimar € ser s descobertas cientificas de Shel- entre as descobertas de Sheldon “O 6vulo fecundado jé contém seus trés componentes ‘numa forma latente. No revestimento externo, o ectoderma, que di origem 4 pele, aos 6rgios sensoriais do sistema nervoso. central € estabelece 0 elo com o macrocosmo, podemos encontrar © principio patemo. No revestimento interno, 0 endoderma, 2 partir do qual se desenvolvem a maioria dos Grgios internos € que constitui o elo com a terra, encontramos, © principio matemno, Na camada do meio, o mesoderma, que € constituido por um revestimento voltado para 0 ectoderma ¢ com 0 fato de que, depois da of Temperament de Sheldon, da anilise de grupos utilizada por Sheldon. Nao seri dificil compreender que passei 2 estudar a anélise de fatores a ler avidamente a pesquisa realizada pelos dois principais enten- didos em suas aplicagbes & pesquisa da personalidade na época — Hans Fysenk da Inglaterra e Raymond Cattell dos BUA. A. grande divergéncia entre as respostas dos dois relacionadas com as dimensdes subjacentes da personalidade representou um estimulo adicional para 0 prosseguimento das inves- tigagdes. Os resultados de Eysenk pareciam excessivamente simples pois, segundo ele, a personalidade podia ser descrita em fungio de apenas trés variaveis: a inteligéncia, 0 neurot cismo e a extroversto/introversio, Nao havia espago aqui para a distingio de Sheldon entre uma extroversio ativa € uma ‘exttoversio emocional (ou expressiva), que parecia to verda- deira para a vida. Cattell, por outro lado, extrait 16 fatores da anilise do material do a-se a impressto de que eles podertam ter sido 15 ou 18, visto que seu conjunto carecia de uma coeréncia intrinseca que poderia ser comparada a elegincia matemitica. ‘Aconieceu que meu interesse num envolvimento mais ativo na pesquisa da personalidade coincidiu com um period de desconforto como aprendiz da psicoterapia psicanalitica (quando senti que © que eu era capaz de oferecer nio ia 20 encontro das necessidades e elevadas expectativas dos meus clientes) € coincidiu também com uma disponibilidade de ajuda de pesquisa sob a forma de alunos de interessados em realizar projetos sob minha orientagio na época determinada para suas ices. Como meu compro- miso com o Institute of Medical Anthropology na época cenvolvia a obtigacao de estudar o processo de desumanizacao que se tornara claro como um aspecto da “educagao” médica, © que envolvia, por sua vez, o desenvolvimento de instrumen- tos adequados de teste, isso também contribuiu para uma mu- danga profissional de tempo parcial. cS como uma ocasiio de s que fiz a Harvard A Universidade de Ohio em Columbus descobertas no campo do treinamento da percepeao) aguearam ‘meu apetite por uma peregrinagio acaclémica mais ext a. qual, posteriormente, tive a sorte de ser capar de real Uma bolsa de estudos Fulbright, em 1963, possi que eu passasse mais do que meio ano na Universidad Harvard novamente como aluno de Gosdon Allport, David McClelland e outros. Mais especialmente, eu era um “bolsista visitante’ no Centro de Estudos da Personalidade, onde a heranca de Henry Mumay era forte, ¢ conhecer Murray em pessoa foi certamente um incentiva aclicional para que eu ficas- se familiarizado com suas contribuigé Permaneci durante os meses seguintes (como original: mente planejado) com o Dr. Raymond B. Cattell na Uni dade de Illinois em Urbana. Ev vinha me correspondendo hi algum tempo corn © Dr. Gatell (desde que eu the fizera consulta a respeito da refatoracdo do 16PF na América do fora uma espécie de a D ipulo dele a distancia, mesmo antes de vir a estabelecer contato com ele por correspondéncia — uma vez que depois de ler seu livro sobre a andlise dos fatores me vi absorvido por ele como um fandtico religioso em busca de um entendimento mais profundo da mente através da estatistica. Estive muito ocupado nos meses que passei em Urbana, aprendendo, pensando sobre minha pesquisa ¢ visi- tando pessoas como os Drs. Osgoode Mowrer. Antes de parti, aceitei o convite do Ds. Cattell para que me tornasse sécio do seu empreendimento particular, o IPAT (Institute of Personality and Ability Testing), na qualidade de representante da América lo Sul. Isso parecia um complemento adequado para o traba- Iho que eu estivera realizando por conta propria até entio, 26 embora ele tenha gerado poucas novidades porque eu me apaixonei pela Califémnia pouco depois, Isso aconteceu em decoréncia de uma carta convite do Dr. Frank Barron, na época no campus de Berkeley, quando minha estada em Harvard se aproximava do fim, Bu conhecera Dr. Frank Barron na primeira vez em que cnizei a porta do Centro de Estudos da Personalidade, no campus de Harvard, durante minha viagem anterior aos EUA, quando eu iniciava minha breve visita académica e ele estava atuando como substitute de Gordon Allport, que estava na época de licenga.’Eu estava famtliarizado com o trabalho de Barron sobre a criatividade ¢ até usara uma adaptacao do seu teste de simplicidade/complexidade (do qual eu ouvira falar através da Scientific American), de modo que quando vi 0 nome dele na placa em frente @ porta de entrada, indaguei ide de uma visita. Um rapport imediato e a muitas areas de afinidade iriarn amadurecer € se nsformar numa amizade que foi um fator que Fundamentou seu convite para que eu passasse algum tempo no, stitute for Personality Assessment and Rescarch em Berkeley tes de voltar para o Chile quanto minha resoluczo verdadei- ramente profética de aceité-to. Mas Berkeley nio seria apenas mais uma aventura aca- démica: apaixonei-me pelo lugar e por sua atmosfera, e decidi que um dia iria véltar ld. Tive a oportunidade de fazer isso cerca de um ano depois como um bolsists Guggenheim, e uma ver mais o IPAR abriu suas portas para mim, dessa feita como Pesquisador Adjunto, Embora minha estada no [PAR durante a época em que eu era um bolsista Guggenheim (de 1955 a 1966) fosse o final de uma longa peregrinacio académica, minha busca da ver- dade nunca fora completamente intelectual ¢ a sede de uma resposta mais experiencia! talvez. no pudesse deixar de ser estimulada quando se visitava o Estado Alterado da Califomia no inicio da década de 60 Particalarmente relevante entre as, 27 influéncias provenientes da esfera da “revolugao da conscién- rsonificada na esfera da psicologia pelo ta) foi a de Fritz Perls — fundador da ilo de Karen Homey —que abordagem de holistica ¢ existencial. Apesar de ser principalmente um fenomenologista clinico com uma inclina- ‘¢do bastante antite6rica (na ocasiio), obtive muito enter dimento a partir da impressio da sua estimulante presenca, De modo semethante, eu poderia dizer que meu pensamento existencial na medida em que minha pritica elinica tem sido implicitamente existencial em consequéneia da maneira como eu fui mais significativamente ajudado, Preciso fazer urna mengao especial 2 Horney, uma ver que a terapia horneyana foi a que mais influenciou tanto minha cura antes da gestalt quanto minha maneira de praticar a psicoterapia (também antes da gestald), Ela chegou a mim através de Hector Femandez, Provost, de quem eu fai um primeiro sujeito de experiéncia na questio de uma auto-anilise supervisionada e sistematica que foi mais significativa do que minha andlise kleiniana anterior no Instituto Psicanalitico do Chile. Alguns anos antes do nosso encontro, Hector Fernandez havia passado por um proceso de profunda mudanga —~ proceso esse que ele chamou de “auto-anilise” mas que poderia ser visto como tendo sido, num grau considerdvel, espontineo ¢ inspirado. Como Homey fora para ele 0 catali- sador, ele se tomou um apéstolo de Homey que hucidamente ‘estendeu-se sobre as idéias dela enquanto fazia comentirios sobre os continuos periédicos de um grupo de cerca de dez de nés no final da década de 50, Posso dizera meu respeito algo que nunca owvi ninguém dizer: Karen Homey € minha escritora predileta de livros de psicologia. # verdade que Freud foi um profeta, um agente de mudanga sociocultural de grande magnitude; no entanto, ele, que brilhou durante anos no meu cfu intelectual como uma figura paterna, € alguém cujas obras n&o consigo ler hoje em 28 dia sem algum embarago. Perls escreveu que “de obtive confusio; de Reich, desfacatez; de Homey, em to humano sem terminologia’? Greio que o fato de Homey ter a simplicidade fala algo da sua grandeza sutil e certamente no grandiosa, Estou feliz, por ver, agora que a psicandlise esta revendo algumas de suas opinides anteriores, que ela est comegando, até certo ponto, 2 ser novamente lembrada, mas acho que 0 verdadeiro valor do trabalho dela ainda esta por ser descoberto. Ao chamar atencio para ela com a dedicatoria deste livro, nto apenas quero mencioné-la de um modo geral, como também reconhe- ‘com que ela fez uma aparicio espontinea nas paginas ivro. Mas continuando minha hist6ria: chegou finalmente o dia, em 1969, em que o buscador experimental dentro de mim teve precedéncia sobre o investigador intelec- tual, Quando eu me preparava para empreender a peregrina- ida, me senti levado a compartilhar sob a forma (© que eu havia aprendido até entao? mas nao ‘meu trabalho sobre a personalidade ou os tipos ‘Minha procura nessa érea parecia naquele momento Imagino que meus leitores ficardo surpresos se eu disser neste ponto que, apesar do vasto cunfculo acima descrito, a principal influgncia deste livro nao procede de nenhuma das fontes até aqui mencionadas. Fla se origina, ao contrétio, de onde eu menos esperava: de alguém que iniciaimente me foi referido como um mestre sufista € em cuja orientacio experimental eu fiquei suficientemente interessado a ponto de deixar minha vida académica para tris — parecendo, na época, talvez para sempre. Devo interpolar aqui em prol do contexto que, 2 seme- Ihanga de muitos que foram profundamente afetados pela heranga de Gurdjieff, eu ficara desapontado com a extensio com que a escola de Gurdjieff transmitia uma lishagem viva. Em minha busca, eu me voltara na dirego do sufismo € me tomara parte de um grupo sob a orientacdo de Idries Shah na 2 época em que amigos de meu pais natal me convidaram para conhecer tum mestre espiritual mergulhado nas origens daquele “ctistianismo esotérico” que Gurdjieff chamava de 0 “Quarto Caminho®. Eles me escreveram sobre suas experiéncias depois de terem conhecido Oscar Ichazo e sugeriram que eu 0 conhe- cesse durante uma de minhas visitas intermitentes. Segui o conselho deles, efiquel entusiasmado ao encontrar alguém que se declarava, como Gurdjieff, um emissario da escola especifica nna qual minha busca estivera concentrada nos anos anteriores, a escola a respeito da qual Gurdjieff escreveu no final de Encontros com Homens Notdveis ¢ Roy Davidson? escreveu em seu relatério de viagem a uma comunidade Sarmoun no Kush indiano. Guardo para uma posterior autobiografia a hist6ria do meu aprendizado particular a partir de entio, ¢ mencionarei aqui apenas 0 que & mais relevante para o tema deste livr: durante uma série de palestras abertas patrocinadas pela Associacio Chilena de Psicologia, entio sob 2 direcao do meu amigo ¢ antigo supervisor Hector Femandez, ouvi Ichaz0 apresentar una idéia da personalidacie que parecia congruente com a de Gurdjieff, mas cujos detalhes iam além dela, Durante essas palestras sobre o que ele chamou de “pro- to-analise’, Ichazo acatou 0 pedido do Dr. Femandez de que ele fizesse uma demonstrago pritica do método. Ble entrevis- tou os pacientes do Dr. Femandez durante alguns minutos € apresentou um relatério de tal modo preciso que ficamos im- pressionados, embora nao conseguissemos compreender, con- tudo, a brusca transicao entre 0 breve interrogatério de Ichazo © suas claboradas percepgdes, Parece-me agora que se meu contato com Ichazo tivesse se rompido nesse ponto, eu nunca teria aprendido a fazer a mesma coisa através de um aguga- mento da intuico caracterol6gica ¢ das informagées caractero- logicas. Adquiri essa habilidade quase um ano depois, princi- palmente como um subproduto da experiéncia profundamenté transformadora pela qual passei quando voltei a0 Chile para tum longo retiro sob a orientagio de Ichazo em Arica. 30 Embora nenhuma outra teoria fosse apresentada durante © perfodo de tempo pasado em Arica durante a segunda metade da década de 70, 0 conhecimento intimo de mais de quarenta companheiros certamente contribuiu para o fato de que, no final de ito solitirio profundamente transforma- dor inserido durante esse periodo, eu me tomei de repente capaz de perceber a estrutura da personalidade dos outros como um bom caticaturista percebe os tragos essenciais das feicdes de uma pessoa. E a esse despertar de um “olho clinico” que devo tudo que fui capaz de aprender a partir de ento a respeito dos tipos de personalidade e sobre a personalidade ‘em geral, bem comoa experiencia intelectual de uma crescente coalescéncia das informagdes sobre 0 assunto que adquiri, Eu poderia dizer que o eneagrama do Sarmouni"! atuou como um, ima na minha mente que reuniu as partes do conhecimento icol6gico que, até envio, estavam separadas, um fator cata- lisador € organizador que fez com que 0 caos relativo das informagbes adquirisse um padrdo mais preciso. Quando meu perfodo de peregrinacio em Arica cedeu lugar a uma poca de intenso envolvimento em uma combi- nagio de terapia, ensinamento e orientacio espiritual que teve inicio para mim em 1971, foi apenas natural que eu procurasse incorporar minha formacdo anterior ao recente aprendizado. No contexto de © que poderia ser chamado de grupo de meditagio € psicoterapia, tive a ocasiao de descobrir como as idgias centrais da protoandlise ¢, mais especificamente, sua caracterologia nénupla, serviram como umn primeiro ponto de cristalizagdo esponténea para interpretagdes anteriores, bem como para um estabelecimento gradual de associagdes entre minhas continuas observagdes (@ luz da protoanilise) ¢ as observacées cléssicas tipicas da literatura psicol6gica.” Mais tarde, 0 trabalho com um grupo que se tomou 0 inicio do SAT Institute, na California, representou uma oportu- nidade mais profongada tanto para observar 0 cariter quanto para estabelecer a ponte entre a perspectiva do “Quarto Cami- 3 ho” € a psicologia académica. Considerando o sigilo com 0 ‘qual essas ideias psicolégicas estavam sendo apresentadas por Ichazo depois domeu envolvimento com ele, também fiz desse sigilo uma exigéncia para a admissio aos grupos nos quais eu —na década que se seguiu a 1970. Por niio considerar que um acordo verbal representasse uma obrigacio suficiente, cheguei 10 ponto de exigir de cada participante um contrato por escrito, ‘no qual um dos itens fazia referéncia a0 compromisso de nao revelar algumas das idéias e.priticas espirituais ensinadas do SAT. No final da década de 70, connudo, laqueles que hhaviam se comprometido a guardar para si esses ensinamentos ea fazer apenas implicitamente referencia a essa visio em seu trabalho comecaram a oferecer “Cursos de Eneagrama’, inicial- mente na regio de Berkeley, ¢ depois em outros lugares. Da mesma maneira como a divulgacio dos cursos de eneagrama foi um estimulo para que eu comecasse a pensar ‘em publicar minhas observagdes, a publicagto do primeiro livro sobre o assunto fez com que minha intengao se tomasse definitiva, Como no caso de varias dissertagdes de doutorado ‘meu ensinamento em 1972, mas havia muita coisa nele com que eu nfo concordava, Além disso, eu achava que era de mau gosto que seus autores tivessem tomado a iniciativa de publicar algo que teria pouco interesse para seus leitores editores sem seu componente original. Depois que este preambulo foi escri- to, muitos livros populares sobre os tipos do eneagrama apare- ‘ceram no mercado, e apresentei apenas uma amostra dos mais, importantes: 0 de Palmer, o de Riso € 0 de Molina, Considero 0 de Palmer o mais informativo, embora eu esperasse uma maior contribuigio original; o de Riso é mais original, porém menos , e discordo de muitas de suas declarages; a inclinagao axiolégica de Molina representou, na rinha opinifio, a contri- buigio mais substancial, ¢ ele oferece uma leitura mais gratifi- 32 cante do que 2 dos outros autores que escreveram sobre 0 as- , conttido, da afirmagio dele de que os tipos de te constitucionais € que os estados relaciona- dos com os instintos so apenas complicagdes patol6gi Assim como discordei da liberdade que alguns de meus nos tomaram ao oferecer cursos de eneagrama Fora do contexto do SAT (independentemente das justficativas que cles possam ter tido para faz8-10), também me senti critico com relagao & fi berdade que os primeiros popularizadores tomaram a0 publicar ‘um material que faz parte de um corpo de entendimento mais abrangente e que nem Ichazo nem eu optamos por tomar pablico. Posso apemis esperar que chegard a ocasiao em que pos- sa ser dito a respeito da ansiedade de ensinar € publicar dessas| pessoas que “o diabo ndo sabe para quem trabalha” — como rando retrospectivamente, podemos vir a admirar a habilidade artistica através da qual a providéncia divina criou, a partir da animago deles, um movimento de eneagrama suficientemente importante para atrairo interesse de um sistema excessivamen- sobre psicandlise para 0 pitblico em geral, voltei a dedicar-me 0 ensino, aperfeigoando a aplicagao das idéias apresentadas or Ichazo — no apenas com relacéo a0s estigios analiticos, como também aos de modificagio do comportamento — desta feita no mundo latino. No decorrer desses anos de experiéncia, recebi uma confirmacio cada vez maior da visio tradicional, © insight € antistico, ¢ nele 0 terapeuta ou guia intuitive nao fala de acordo com as regras, ¢ sim a partir de uma percepo 33 direta da aberraga0. O provesso proceso no qual passamos a aceita samos a saber algo especifico a respeito ‘pessoa, mas sim o proceso de passarmos realmentea conhecer alguma coisa — 0 que significa conhecé-la a maior parte cdo tempo e de uma maneira coerente com 0 resto do n0860 co- nhecimento. No entanto, quando trabalhamos com um indivi- duo especifico, efetivamente encontramos uma faceta especi- fica da personalidade em primeito plano, em meio 2 sua estra- ura universalmente compartlhacla. A assercio geral de que © reconhecimento de uma paiido dominante possui um gran- de poder terapéutico se repete na minha experiéncia, que me diz que, embora as interpretagdes altemnativas possam, ser igualmente verdadeiras, ¢ particilarmenteimportante acei tar e considerar as interpretacSes orientadas de acordo com uma percepeio da paixio dominante e da fixacio domi- ante, Enquanto Gurdjieff explorou sua injungao 20 insight € toritirio), eu enfatizei cada vez , a facilitago de um proceso de autodiagnéstico apoiado por um bom entendimento da tipo- logia, Enquanto escrevia os nove capitulos que constiniem 0 corpo principal deste livro, eu os imaginei, entre outras coisas, como uma base para 0 autodiagnéstico, € tenho como certo que a autopetcepcio obtida do reconhecimento intermitente desse fato terd uma conseqiléncia terapéutica, ‘© que me levou objetivamente 2 escrever 0 ° fato de minha amiga Marta Huepe ter me concedido seu tempo integral durante suas férias de verdo nos meses de janeito € feverciro de 1988. Além de ela ser uma anfitria maravilhosa em sua bela propriedade campestre em El Arrayan (Santiago, Chi- 1c), seu profundo interesse no assunto e sua empética partici- acto fizeram dela uma ouvinte ideal enquanto eu ditava os cassetes que ela 2 seguir transcrevia. 34 Embora a tarefa de empacotar meus documentos ¢ ano- .98es para a jomada de escrita no Chile em 1988 jé tenha, por 9, constituido um incentivo para a formulacéo de um esboco ivro, essa delineagao original rapidamente se transformou esboco que emergit espontaneamente enquanto eu ditava as palavras, tendo apenas a estrutura global pemaneci- do, O livro comega com uma visio teGrica geral. Nove capitulos sucessivos lidam com nove diferentes estruturas de nenhuma das quais € nova para 2 psicologia, mas cada apresentada sob uma nova perspectiva: como uma “espe zagao da psique” em uma de nove possiveis direcdes, de acordo com a énfase de uma ou outra entre disposigdes moti- vacionais inter-relacionadas. O tiltimo capitulo contém suges- tes para um posterior trabalho com o material apresentado. Embora eu esperasse ori mente a recordagSes para a sio 0 ceme de nove dos capftulos do livro, eu me vali, em vez disso, de descrigGes eléssicas do caréter, e também empreendi uma revisdo das principais fontes médicas e psicol6gicas. Entre esses, eu no apenas inclui as percepgdes de psiquiatras ¢ psicélogos clinicos, como também algumas de homeopatas. Sem desejar me pronunciar a favor ou contra a validade do tratamento homeopitico, do qual no tenho nenhuma expe: ri€ncia, quis incluir-as ricas descrigées de tipos humanos que fazem parte do conhecimento homeopatico e que se aproxi- mam bem de perto dos tipos de carter com os quais eu estou pessoalmente familiarizado. Eu os extra principalmente da sintese magistral sobre 0 assunto realizada por Catherine R. Coulter em Portratts of Homoeopathic Medicines. Embora durante toda minha experiéncia inicial de ensino eu tenha descrito os tipos de cariter através de umn comentario

Você também pode gostar