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CarituLo QUINTO COMUNICACAO HUMANA E RELACOES INTERPESSOAIS Qs quatco primeiros capilulos foram consagrados -exclusi- vamente a Kurt Lewin. Até aqui o leitor pade seguir a evolu. gfio do sevi pensamento c dos suns pesquisa, conslatar a que Ponto scus trabalhos © scus experimentos cm psicologia social Mmarcam uma ruplura com o passado ¢ un progresso decisivo na Histéria das Ciéncins Sociais. Por outro lado, tomamos conhecimento de como Kurt Lewin, desde sua chegada & Amé- rica, preocupou-se cm definir cicntilicamente aquilo que ele foi 9 primeira a chamor de “dinimica dos grupos’, Com esta fi- nalidade questionou ¢ cedefiniu os metodologias e as (carias tradiciongis em psicologin social. Uma vez definidos de modo sees as exigéncias de validade ¢ os esquemas de expe- rimentacio, Kurt Lewin langou-se, simultancaniente, \ explora Gio de trés problemns-cliaves que-o levaram a descabertas sobre a génese ca dinimica dos agcupamentos humanos, consideradas alualmente pentais (65), (71); (86), (92) (94), (99). * Os trés prdximos capftulos tratardo sucessivamente destes trés problemas, De inicio cstabelecercmos a colaboragio dada por Lewin & compitensdo de cada um destes problemas. Des- facaremos, depols, os progressos realizados a partir de Lewin. 0 Ieitor poder4, enti, descobrir como um grande numero das hipéteses de Kurt Lewin continuam a inspirar os pesquisad ores em psicologia social, Algumns de suns hipdéteses foram explicl- {ndas posteriormente, outras solfreram miodificagdes ou foram reformuladas, mas na maloria dos casos clas foram verifivadas. ‘Os trés capftulos seguintes tentario mositac que as descobertas mais definitivas em psicalogia soclal apés a morte de Lewin foram ecalizadas a partir de esqucmas guestaltistas ¢ no Interior de projetos de pesquisas-acdes sobre os micro-fendmenos ve grupo. O halango dos dados adquiridos desde Lewin sobre estes és: problemas-chaves, & saber: a comunicagio humana, o npren- 64 GERALD BERNARD MAILi of dizado da autenticidade, o exercicio da Sutoridule em grupo de trabalho; cstabelecerd concretamente para o juwor a que ponto as intuigdes de Lewin foram geniais ¢ o§ cuminhos por cle aber- tos, ticos cm promessas de descobertas, UMA INTUICAO DE GENIO As descobertas de Kurt Lewin sobre a comunicagiio humana ‘corrcram quase por acaso. Siluagdes semelhantes ja haviam Se apresentado muitas e muitas vezcs desde guic seres humanos tentam trabalhar em grupo, Foi preciso o génio de Lewin, sua capacidade de atengao, de vigilancia c seu acompanhamenta dos Processos em causa no grupo de trabalho, para identificar com Tanta perspicdcia © penctragdo o obstéculo fundamental & inte- gracio dos agrupamentos humanos ¢ A sua criatividade, if Vejamos agora, refeltas & reconstituldas, as circunstdncias Coneretas desta descoberta de Lewin, tal como foram cvocadas Por seus colabaradores bem préximos, testemunhas oculaces do acantecimento (14), (114). Kurt Lewin conseguira desde ha algum tempo agrupac em torno dele uma equipe de pesquisado- res ¢ organizar com eles seu Centro de Pesquisas cm Dinamica dos Grupos, no M.LT. Os. projetos de pesquisas cm curso cram humerosos, os recursos flnancciros abundantes, o ardor e o fervor ao trabalho evidenjes. Todos parcciam altamente mo- \lvados ¢ aparentemente som restrigio adeptos dat hipdteses de Lewin sobre a génese ¢ a dinamica dos grupos quc, cm con- junto, tentavam entiio verificar experlmentalmente. Todavia, nos momentos de auto-avaliagio de seu trabalho, realizado perio- dicamente, tinham deplorado por diversas vezes a falta de i tegcagdo real da equipe, o ritmo lento e artificial do encami- nhamento de seus trabalhos, os parcos recursos inventivos ¢ a fraca engenhosidade manifestados na exploragio dos problemas estudados. Kurt Lewin, que participaya ficlmente destes encon- {ros de auto-critica, havia falado pouco até aqucla dala ¢, se- gundo secu hdbito, escutara com uma atengdo constantc a cx- pressfio de descontentamento dos colaboradores, Um dia, en- trelanto, no momento em que a auto-avaliagdo parecia uma vez mais encaminhar-se para uma constatagfio negativa, Kurt Lewin, em tom modesto, quase -se desculpando, a titulo de Sugestio, enunciou a seguinte hipdtese: “se a integragdo entre nds nao se “realiza c se, paralclamente, nossas pesquisas progridem (io pou- co, tal fato pode ocorrer em razio de bloqueios que existiriam entre nés ao nfyel de nossas comunicagécs", A hipdtese ¢ 0 DINAMICA B GENESE DOS GRUPOS 6s diagndéstico podem parecer banais em nossos dias. Mas na épaci cla foi formutaca pela primeira vez, desde que seres humanos se aplicavam a trabalhar cm grupo. Desta hipdtesc Kurt Lewin quis cxtrapolar uma implicagdo imediata, “Se minha hipstese ¢ valida, teremos que consentir cm questionar nossos modos aluais de comunicagio ¢, se preciso, aprender modos mais fun- cionais de comunicar entre nds, E isto 36 sera possivel, cm minha opiniio, se paralelamente As nossas sessdes de trabalho, Mantivermos encontros nos quais nos recncontrariamas todos juntos, fora de todo contexto de trabalho, preocupados tio so- mente.em nos comunicar de modo auténtico. Para_que este prendizado sejq_valido ¢ favoreca realmente _a_cvalugio de Hiossa_equipe de. trabalho uma, condigio, me parece essencial: ould: _£slar de acordo. en) participar e¢ com vontade de ler a comunicar de modo auténtico". “Pela primeira vez, nu histéria da humanidade, um grupo de pessons, implicadas na realizagio de uma mesma tarefa, di- riginm a auto-avaliagho de scu traballio de grupo nfo sobre o contetido de suas discussdcs e de suns decisOes, mas, segundo a expresséo de Lewin, sobre os processos de suas trocas. Como o capitulo seguinte seri sobre "to aprendizado da autenticidade', torna-sé mais funcional cntiio destacar tudd o que esta primeira experiéncia, nunca antes tentada, de sensibilizagdo para as re- lagdcs huinanas, comportava de implicagdes para a psicopeda- gogia do trabalho em grupo, No momento lembraremos que Lewin ¢ seus colaborado! desd& que conscntiram em dialogar tOmuaram, consciéncia de relagdes interpessonis, aparen- téineite confiantes ¢ po cram de fato: inauténticas pelo fato de nao terem como base conitinicagées abertas entree eles. ‘Nao ‘somente existia entre cles e neles fontes insuspeitdveis de bloqueios, mas estes bloqucios, criando zonas de siléncio, com- Prometiam as préprias comunicagdes que chegavam a estabe- lecer-se entre cles. Estas corriam constantemente o risca de serem filiradas cin virtude de nio serem preparadas num climu de confianga, Desde que conseguiram assinalar as fontes de bloqucio ¢ de filtragem em suas comunicagdes, suas celagdes interpessoais évalutram, tornando-se mais auténticas, ¢ deu-se a integragiio éntre cles no plano do trabalho, A coesiio e a solidaricdade resultantes mudaram profundamente a atmosfera de suas ses- socs do trabalho. Estas conseguiram, a parde deste momento, ritmos creseentes de produtividade ¢ de eriativi 66 GERALD BERNARD MAILINOT NECESSIDADES INTERPESSOAIS A experiéncia preparada por Lewin ¢ tentada por ele no M.LT. com seus colaboradores mostrou-se concludente. Eles descobriram que a produtividade de um grupo ¢ sua eficléncia estio esireitamente relacionadas nfo somente com a competén- cla de seus membros, mas sobretudo com solidariedade de suas relagdes interpessoais, t . Mais adlantc, o préprio Lewin (92) e alguns de seus dis- “efpulos (17), (31), (33), (42), tentariio fazer novas experién- clas sobre este fendmeno c destacar as implicagGes desta clesco- berta, Mas quem levard mals longe a exploragio c¢ a andlise da dindmica dos grupos de traballio seré um psicélogo america- no, professor em Harvard, W, C. Schutz. O resultado de seus trabalhos & publicado em 1958 cm um Ilvro que inclui ao mesmo tempo uma teoria dos comportamentos interpessoais ¢ um instrumento por ele preparado que permite avatiar a qua- lidade funcional da teoria (137), © que devemios reter aqui ¢ que marca um progresso no- lavel sobre as teorins esbogadns por Lewin e¢ que repousavam apenas sobre dados forgosamente provisérios naquelc momento, so as luzes trozidas por Schutz sobre a interdependéncia c a estrcita correlagio [que existe em todo grupo dé trabalho entre seu grau de integrhgio © seu nivel de criatividade. Mas onde Schutz inova réalnfente’é através de sua teoria das “necessida- des interpessoais”.. Com este conceito Schuiz pretende espe- cllichr o seguinte: os membros de um grupo nfo conscutem em integrar-se senfio a partir do momento em que certas necessida- des fundamentals siio satisfeltas pelo grupo. Estas necessidades, para Schutz, sfo fundamentals porque todo scr humano, que sc retinc em um grupo cuelauer, as experimenta ainda que cm graus diversos. Por outro lado, estas necessidades, segundo ele, $4o interpessoais no sentido de que somente em grupo e pelo grupo elas podem ser satisfeltas adequadamente, Ao longo de demoradas o sistematicns pesquisas, Schutz conscgue identificar como fundamentais trés necessidades inter- joals. Estas necessidadcs serlam: a necessidade de, inclusio, a necessidade de controle e a necessidade de afcicho. Que en- tende ele por estes trés termos? 1. Schutz define a necessidade de inclusdo como a neces- sidade que cxperimenta todo membro novo de um grupo em DINAMICA E OfNESE DOS GRUPOS 67 se pereeber € cm sc sentir accito, integendo, valorizado total- mente por aqueles aos quais se junta. Tentard também, segun- do modalidacles determinadas pela série de varidveis individuais, verificar seu grau de accitagio, procurando provas de que niio é ignorado, isolado ou rejeitado por aqueles que pereebe como 9s preferides do grupo. E sobretudo no momento das tomadas de decisio, nota Schutz, que esta necessidade procura ser sa- tisfeila da maneira mais imperiosa, Um membro sente-so defi- nitivamente inclufdo no grupo ao se perceber como um partici- pante integral de cada uma das fases do processo de tomada de decisio. Esta. necessidade 6, portanto, a expressdo do deseja que experimenta todo membro de um grupo de possuir um Status positive ¢ permanente no interior do grupo, cm nao se sentir cim nenhuny momento marginalizado pelo grupo, Segundo o grau de maturidade social de cada individuo, segundo seu nfvel de socinlizagio, a necessidade de inclusiio condicionard © determinard altitudes em grupo mais ou menos adultas, mais ou menos evolufdas. Os individuos menos soclali- zados procuram integrar-se ao grupo adotando altitudes de de- pendéncia, sobretudo cm relagiio aqueles membros que possucm um status privilegiado, Eo caso dos membros socialmente in- fantis.. Por. outro lado, aqueles que nfo superaram a fase da (pica da adolescéncia tentam impor-se ao grupo através atitides de confra-dependéncia © forgar assim sua inclusdo no grupo. Enfim, os individuos melhor socializados, segundo Schutz, sfio os unicos que cncontrany em suas relagdes interpes- soais cada vez mais positives, uma satisfagiio adequada A sua necessidade de inclusfic, adotando para com os outros membros do grupo atitudes no mesmo tempo de autonomia ¢ de interde- pendeéncia, 2. Para Schutz, a necessidade de controle consiste, para cada membro, em se definir para si mesmo suas préprias res- ponsabilidades no grupo ¢ também as de cada um que com ele forma © grupo. Hm outeas palavras, € a necessidade que expe- rimenta cada novo membre de se sentir totalmente responsdvel por aquilo que constitui o grupo: suas estruturas, suas ativida- des, scus objelivos, scu crescimento, seus progresses. O grupo ao qual ele adere, do qual participa, est4 sob controle © de quem? Quem tem autoridade sobre quem, em qué e por que? Tado membre novo busea {ndices ¢ critérios que the perinitany responder estas questGes ¢, pouco a pouco, sentir-se seguro A 68 GERALD DERKARD MAILILOT medida que consegue delincar de modo articulado as estruturas do grupo ¢ as linhas de autoridule. Todo membro de um grupo deseja e¢ sente a necessidade de que a existéncia ¢ a dinimica do grupo nfo escapem tolal- mente a seu controle, Também aqui, conforme scu grau de socializagHo, esta necessidade se cxpressard ¢ tentard satisfazer- -se de modo mais ou menos evvlulcto. Os menos sociallzados, aqueles que hé pouco, no plano da inclusdo, mostravam-se de- pendentes, adotardo atitudes infantis ao exprimir sua necessidade de controle, Tenderfio a demitir-se de toda responsabilidade ¢ a delegd-la a outros, Aqueles que percebem como dotados de poder carismiatico, Em conseqiiéncta, adotam aqucias atitudes que Schutz qualifica de abdicaceras. Aqueles que sc sentem rejeitados ¢ miantidos & margem Jas responsabilidades no grupo, tenderdo a cobicar o poder en querer, se preciso, assumir sozi- nhos © controle do grupo. Estes ‘illimos adotam em grupo, cada vez que Ihes sfo confiadas responsabilidades, atitudes de autocratas, Alguns chegam mesmo a ambicionar a responsabili- dade primeira ¢ absoluta do grupo. Os mais socializados, enfim, os possuidores de m ide social, lém tendéncia a se mostrar desmocratas, isto é, a pensar ¢ a querer o controle do grupo em termos de responsabilidades partilhadas. 3. A terceira c Ultima necessidade interpessoal, conside- tada como fundamental por Schutz em toda dindmica de grupo, éa necessidnde de afcigho, Este iermo niio ¢ muito feliz. Tem-se prestado, muitas vezes, a minbigitidades ¢ equivocos. A tecessi- dade de afcigao que senicm cm yraus diversos ¢ segundo moda- lidades diferentes, por vezes opestas, os individuos que deve ou querem viver ou trabalhar cm gcupo, consiste, segundo Schulz, em querer obter provas de ser totalmente valorizadus pelo grupo, Em outras palavras, ¢ © seereto descjo de todo indivi- dwo em grupo de ser percebido como insubstitufvel no grupo: cada wim procura recolher sinais concludentes ou convergentes de que os oulros membros nfo ;oderiam imaginar o grupo sem ele. Nao somente nquele que se junta a um grupo aspira a ser respeitado ou estimado por sua compelténcia ou por seus reeur- $05, MAS A sec accilo como i humana, nao apenas pelo que tem, mas também pelo que & Para Schutz, a expressiio desta necessidade de ufcigdo 6 for- temente condicionada e determisada pelo grau de maturidade social do individuo, Alguns, os :ncsmos qué ha pouca mostra- vam-se dependentes no plano d.a-inclusao, ¢ abdicadorcs cm DINAMICA £& GENESE DOS GRUPOS 69 relagado ao controle, tentam satisfazer suas necessidades de afcto através de relagées privilegiadas, exclusivas ¢ geralmente posses- sivas. Adotam entio atitudes infantis, esperando ser percebidos e€ accitos no papel de crianga mimada do grupo, ndo desejando senao receber, Desejam sccretamente estabelecer em grupo re- Jagdes Miperpessoais. Aqueles que, 00 Contrdrio, se sentem rejel- tados ou ignorados pelo grupo, cedem a mecanismos que os psicanalistns chamariam de bom grado, mecanismos de for- magdo reacional. Estes adotam, como uma reagfio de defesa contra as necessidades de afeigio que experimentam, altitudes adolescentes de aparente indiferenga ou frieza calculada, Pre- conizam, ‘quando nao reclamam, relagdes unicamente formais ¢ estritamente funcionais entre os membros, Nao querem ou niio podem dar nem receber. Furtam-se assim a toda tentativa de estabelecer a solidaricdade Interpessoal sobre uma base mais profunda de amizade, Ocultam: sistematicamente sua necessidade de afcigio © mostra como Jiipopessouis. Enfim, os n altrulstas, os mais socializados, nio obedecem nem a mecanis- mos de defesa nem a mecanismos de compensagdo. Desejam ser aceitos totalmente ¢ afcigoados ao grupo pclo que sic, Mas neles esta necessidade de afcigiio encontra plena satisfagio nos lagos de solidaricdade e de fraternidade que se estabelecem entra eles ¢ os oulros membros do grupo. Somente-eftes, porque tor- naram-se capazes de dar ¢ de receber afeigao, dstabelecem suas relagdes em nivel autenticamente dnterpessoal, | EXPRESSAO DE SI E TROCAS COM O OUTRO As teorias de Schutz sobre as necessidades interpessoais maccam uni cvidenie progresso sobre alguinas das descobertas de Lewin, Schutz, entre outros, conseguiu explicar-nos expe- rimentalmente o que Lewin havia pereebido de modo intuitivo, a saber! coma ¢ porque wm grupo que nao concluiu sua inte- gracio é incapaz de criatividade duradoura, Por outro lado Schutz no conscguiu ir além do nivel das relagdes literpessoais. Com a ajuda de instrumentos validados por cle, diagnosticou com muito ucerto ¢ no sem mérilo, que h4 uma equagio cnire a integragdo de um grupo, a solidariedade interpessoal do seus membros @ a satisfagio cm grupo c pelo grupo das necessidades de incluso, de controle e de afeigio de scus membros. Mas eis o que Ihe escapou e que Lewin havia pressentido antes dele: us relagdes interpessoais nfo podem tornar-se_mais_posilivas, mais socializadas ¢ 6 grupo Iritegrar-Se-de modo ‘definitive, en- 710 GERALD BERNARD MAILIIOT wanto subsistirem enice_os. membros. fontes de bloqueios ¢ de filtragens em suas comunicagdes, A génese de um grupo & sua dinamica. sig determinadas, cm wltima andlise, pelo griu «lc autenticidade das comunicagées que se iniciam e sé estabelecem éntre seus membros, Jd se acella como um dado de réalidade que somente em um clima de grupo em que as comunicacdes sio aberlas, aulénticas, as neecssidades interpessoais podem éncontrar, satisfagics adequidas, Lewin teve o grande mérito ya partir desta descaberta, orientar suns préprias pesqu no MILT, para a comunicagto immana (86), (89), (90), (92), (95), (105). Desde entio os tedricas ¢ os priticos di dinamica dos grupos nao cessaram de orientar sistematicamente seus traballios ¢ sus observagdes sobre esto problema a fim de conhecé-lo de modo sempre mals cientifico (3), (5), (12), (17), (33), (116), (121), (126), (126). Gragas a este es- forgo combinado ¢ proton ado, os dados adquiridos sfio nume- tosos, Todos tém centrado o estudo sobre a expressdo de si na troca com o outro: como comunicar com o outro para que © didlogo se estabeleca, Els aqui os dados: A explicaglo cientiica da_natureza da_consunicagia Aumana data das descobertas da cib Foi no M.LT. que elas se realizaram em estreita colaboragdo com o “Researcit center for group dynamics", Waviam sido iniciados quando Lewin ainda vivid ¢ prosseguiram apds sua morte com a ajuda de um dos mals dediendos de seus discfpulos; A. Havelas. Pauco a pouco tornou-se possfvel definir o que €, cssencialmente, & comunicagdo humana, Ela sé -existe realmente, quanda se estabelece entre duas mais pessoas um contaro psicoldgico. Nao & suticiente qi i desejo de comunicagio sc, fafem, se escutem nesmo se compreendam, & preciso me A _comunicagio humana entre elas existira quando e¢ todo o tempo em que conscgulrem se reencontrar. 2. As pesquisns assinaladas’ acima permitiram distinguir entre varios tipos. de_conumilcagd mana, A comunicagdo varla segundo os Instrumentos utilizados para estaBelecer o con- dato com o outro, segundo pesséas ém pracesso de comuni- cago, enfim, segundo os Objetivos em vista, A. Os instrumentos, Quanto aos instrinmentos empregados, a comunicagio pode Ser verbal se alguém utiliza a linguagem oral ou eserita para DINAMICA E GENESE DOS ORUPOS va iniciar ¢ estabelecer 0 contato com o outra. A comunicagio verbal @ a mnis freqliente, a mais habitual, pelo menos no Ocidente. Entre os povos latinos, sobretudo, ela tem tendéncia a tornar-se o instrumento preferida, senao exclusivo, de comu- -nicagio com o outro. ‘Todo recurso a outro instrumento que permita ou favoresa. 9 contato com o outro, é classificade pelo lermo gentrica de comunicagio ndo verbal. Pertencem a este tipo de communi aig To Os pes ®5 expressdes faciais, as posturas. Mesmo os silén- + clos c as auséneins no interior de cerios contextos podem tornar- -se signifleativos © carregados de mensigens para o outro c, segundo as situagGes, ora podem ser percebidos pela outro como express6es de coragem, ora como omissées ou covardias. Comunicagdo verbal ¢ comunicagio nio verbal nilo estao sempre, sincronizadas e sintonizadas no mesmo individuo. As VYezes o ndo-verbal est4 em dissonancia com o verbal, trai, o eu fntimo que 9 verbal tenta camuflar, Talleyrand j4 aconse- Ihava aos diplomatas:’ “'as_palavras nos foram dadas para en- cobrir nossos pensamentos". Geslos bruscos, cortantes, acom- panham multas vezcs palavras melosas, doces, que dissimulamt mal um estado de irritagao interior. Ent&o, como integrar o on @ o nflo-verbal em uma Micsma comunicagiio? Sobre este ponto descobertas recentes mostraram-se decisivas para a comlpreensiio da autenticidade fas comunieagées humanas. A comunicacio hu a que pre- tende ser exclusivamente verbal carre o risea de intelectunlizar- -se, de so tornar cerebrina, Por outro lado, a comunicagio ai pretendesse dissociar-se de todo recurso A linguagem seria iftcilmente inteligfvel ao outro, pelo fato de nado recorrer a uma simbolizagio na expressio de si, No Ocidente, a partir de Lewin, a dindmica dos grupos tem contribuide muito para revatorizar a comunicagio nao-verbal © a expressiio corporal do Individuo, Ela poce estabelecer que somente uma comuni gio ue seja verbal e¢ nfio-verbal ao mesmo tempo tem condigées de ser adequada, A integragaio funcional ¢ orginica destes dois modos de expressio do cu choca-se, sobretudo no plano no verbal, contra tabus © proibigées coletivas ou ainda contra re- sisténcias emotivas cuja fonte é geralmente a personalidade pro- funda do individuo em causa. O capitulo seguinte tentard ana- lisar como cada um deve descobrir por si mesmo, ¢ adotar moclos de expressio nfo verbal do cu que sejam, neste mamen- to de seu processo de transformagio de suis relagdes com a 72 GERALD DERNARD MAILINOT outro, accitdvcis tanto para ele como para o outro e accitavei: ao contexto cultural em que este relacionamento interpessowl se insere © se atualiza, Esta integragio nao poder nunca ser considerada definitivamente udquirida, Para permanecer funcio- nal ela exige questionamentos continuos ¢ uma capacidade jan atrofinda de aprendizagem, de flexibilidade, de autonomia uma grande liberdade interior. B. As pessoas, Quanto as pessoas implicadas & preciso distinguir entre comunicagda a dois ou coniunicagio de grupo. As comunica- gGes a dois Poses Scr pessoais, quando constituem um encon- tro entre dols seres que se perecbem em relagio de reciproci- dade ou de complementaricdude, como na amizade, no amor ou na fraternidade. Esta comunicagao, se auténtica, tende a durat e aspiru A permanéneia. Mas jengdes a dois 1 odem.serautént comunicagées a d snita 1 sagdes verticais: o profissinns: \’a, o consullante recebe. O pri- meiro deve dar provas de ce seténcia ¢ de consciéucia, o s¢- gundo possui direitos a sciv us profissionais adequados, Este tipo de comunicagiio entre duas pesso: por sua propria na- lureza, nfio poderia ser senio tempordria ¢ proviséria pela boa razio de que tende a fazer evyoluir o consultants ¢ a tornd-lo auténomo em relagio aa profissional consultada. As comunicagGes de grupo podem ser distinguidas entre comunicagées jnira-grupo, quando se estabelecem entre os mem- bros de um mesmo’ grupo, ¢ comunicagces fer-grupos, quando constiluem: contatos ¢ trocas entre dois ou varios grupos. C. Os objetives. Quanto aos objeiivos, podemos distinguit entre comun ¢4o consumatéria ¢ comunicagao instrumental. A comuicag eonsimatdrta tem por fim exclusive a iroca com o outro, Ela pode apresentar-se sob formas prosaica, “falar por falar”, ou adotar formas evolufdas, como o caso do espirito criativo que, habitado por um sonho constante, sente a imperiosa necessidade de comunicar ao outro scu wniverso pessoal. Mas sejam quais forem as modalidades pelas quais ela se manifesta, a comuni- DINAMICA EB GENESE DOS GRUPOS 73 cacio consumatéria é sempre acompanhada de gratuidade ¢ de espontancidade. A comumicagdo instriomental, ao contrdrio, 6 sempre wlili- l4ria ¢ comporta sempre segundus-iniengdes. A troca com o° outro é procurada, preparadi ¢ estabelecida para fins de mani- Pulngdo, mais ou menos confessdveis. Estio neste caso as men- sigens publicitérins ou ainda os slogans da propaganda politica, Na comunicagao consumasérin_o outro. ¢ percebido como um sujejla. ao.encontra de Vi om_quem sc deseja_ co- inicars.na, nal, o outro & percebido como xplorar, a seduzir ou a enganar, com, a objetivo erlos ganhos_o satisfazer alguns interesses, Algumas implicagdes podem desde logo serem destacadas sob forma de teoremas: qe: 1. Quanto mais © contato psicolégico se estabe- ce em profundidade, mais a comunicagio humana terd possibilidades de ser auténtica. 2. Quanto mais a expressiio de si conseguir in- legrar a comunicagdo verbal ¢ a ndo-verbal, mais a (roca com © outro terd condigées de ser autanticn. 3. Quanto mais u comunicagio se cstabelecer de pessoa n pessoa para além dos perscnagens, das mascaras, dos status ¢ das fungées, mais teri possi- bilidade de ser auténtica. 4. Quanto mais as comunicagdes Intra:grupo forem abertas, positivas e solidfrias, mais as comu- nicagées inter-grupos terdo possibilidade, em conse- qgiiéncia, de serem puténticas ¢ de nio servirem de evasdo ou de compensagio n uma falta de comuni- cagées internas cm scu proprio grupo. is us comunicugdes humanas fo- rem. consumatériis (isto é, encontros de sujcito a sujeito), menos clus serio instrumentais (isto é, ma- nipulagées do outro) ¢ mais possibilidades terdo de +se lornarem alocéniricas ¢ auténticas, VIAS DE ACESSO AO OUTRO, As distdncias fisicas entre os seres ¢ entre og agrupamentos hunmanos forum quase abolidas pela técnica moderna, sobretudo 74 GERALD HERNARD MAILINOT apés ns descobertas Incspernadas da cletrénica, Tornou-se possf- vel cm nossos dins entrar em comunicagiio com o outro a dis- tAucla, gragas aos media de comunicagdo. Estes Ultimos torna- ram-se cada vez mals possantes, cada vez mais adequados ao ponto de, presentementc, sobre o planeta Terra existirem cado vez mais seres humanos em proximidade f[fsica uns dos outros. Mas a comunicagfo humana nfo pode se iniciar nem se estabélecer, enquanto subsistirem disrdicias psicoldgtcas a trans- or entre aqueles que qucrem entrar em comunicagio. Sobre ‘este ponto a dindmica dos grupos, durante ¢ apés o tempo de Lewin, multipticou suas pesquisas. Os dados adquiridos entio permitiram definir operacionalmente os requisitos ¢ os pressu- postos de toda comunicagio humana. Constitui um pré-requisito para todos que quciram entrar em comunicacio, assinalar ¢ Hontificar as vias de acesso ao outro, accitd-las e nelas se en- gajar. As vias de_acesso no outro sfio chamadas canais de co- _municagdo, Entretanto niio @ suticiente saber como ter acesso go outro, mas também quando ele pode scr ou tornar-se recep- livo ds mensagens que Ihcs silo dirigidas. Perecber objetivamente o$ momentos psicoldgicos ¢ as ocasides de receplividade do outro 6 uma arte que poucos seres humanos conseguem dominar definitivamente ¢ que supde capacidndes de empatin excepcionais. Alguns canais de comunicagdes sio formais, oficiais, arti- culaddg. Nestes cnsos, o outro niio se torna neessivel senio “através de caminhos mtidamente definidos, cujas entradas sao. reguladas por um processo mais ou menos rfgido, FE o caso do protocolo que precisamos respeitar para entrar em cotlato cont os grandes deste mundo ou os personagens-chaves de certos melos organizados. Quanto maior for a disparidade de status ‘existente entre dois Interlocutores, mais aquele cujo status & inferior dever& preocupar-se em descobrir as vias formais atra- vés das quais poderA aproximar-se daquele cujo status ¢ privi- Ieglado, Outros canais de comunicacgdo siio espomdnecos. fo caso de interlocutores cntre os quais ns Cointnlengdes sAo aber- las, conflantes ¢ que se percebem acessiveis constantemente- umn ao outro, Enfim podem existir canais de comunicagdes clavides- fines. Eles aparecem nos melos organizados onde o autoridade se exerce de modo autocratico. Cedo ou tarde, para sobreviver As arblitraricdades do poder, aqueles que devem viver ou tra- - balhar em contextos semelhantes, tentam descobrir ou estabe- lecer com a autoridade absoluta contatos no oficiais a flm de se manterem nas bons gragas ou cont vida, DINAMICA E GENESE DOS GRUPOS 715 Canals ¢ mettia de comunicagiio constituem uma rede de co- municacdo cada vez que. sho, estruturados ¢ articulados de modo i tornar aqueles que estio agrupados no interior de um deter- minado meio, acessiveis uns aos outros, Em uma rede, media ‘e canals estado ligados entre si, interdependentes. Segundo o grou de organizagio ou de estratificagio do meio, aqueles que af teabalham ow viyem terdo uma consciéncia mais ou menos explicita dos caminhos ¢ das diregdes que devem seguir para atingit o outro ¢ comunicar-se uns com os outros. RELAGOFS IGUALITARIAS E RELAGOES HIERARQUIZADAS Quanto mais forem expontineas as vins de ACeSso nO outro ¢ menos formais os cannis de comunicagiio, mais a comunicacio cont ele tém possibilidade de tornar-se adequada ¢ auténtica, Esta conclusiio esta na origem dos trabalhos do espceialista cin dinamica dos grupos, A. Bavelas, jA citado, sobre os diversos tipos de redes de comunicagio (12). Bavelas conseguiu isolar quatro tipos distintos de redes de comunicagio, ituagdes de grupo eles se ori- ginam ¢ se articulam. De fato dstes quatro tipos de redes niio podem ser observados senao em ‘grupo e cm grupo de trabalho. 1. Duas destas quatro redes sido definidas como horizon- fais. Elas tém de especifico o seguinte: estes dois lipos de redes nio podem aparecer, nem se estabelecer, senfio em clima de grupo igualitirio, isto ¢, unicamente no interior de grupos cm que cada individuo se percebe como membre participante, go- zando de um status de perfeita igualdade cm relagio aos outros membros. f A. Bavelas denomina a primeira destas duns redes horizontais de rede em cfreilo. Scgundo ele, esta constitul uma téde peftéita que nfo pode existir seniio cm grupo ou estruturas de trabalho e de poder que sejam realmente democriticas. as razdes. Com cfeito, para_o lider demoératico, exercer a autoridade consiste essencialmente em -tornar-se ao fe, mesmo {tempo um catajizador ¢ um coordenad { -para o grupa, isto é, em estat constantemente preo-t 76 GERALD BERNARD MAILIOT cupado cm abrir_e_manter- abertas as_comunicacécs cn todos os membros. Assim, pouco a pouco, fodos se tornam acessfycis a todos e¢ a integragio dos membros pode realizar-so sobre uma base de complemen! dade ¢ néio de subordinagao. B. A segunda rede horizontal 6 chamada rede fn_cadela. Ela é ilpica dos grupos “laissez-fafre’ em que a autoridade se exerce de modo bonachio. © lider & passivo, recusa-se a assumir seus papéis suas responsnbilidades, as comunicagées niio se esta- belecem seniio ao nivel das afinidades ou das atra- Ses apirentadas entre os membros. Fatalmente al- guns membros sc encontram ¢xclufdos ou se lornam marginallzados das interagSes que ocorrem no grupo. * WNio podendo concluir-se a integrag&o do grupo, nem existir a solldaricdade entre os membros, as comu- nicagdces nfio conseguem tornar-se funcionais ¢ ustéo + sempre acompanhadas de cquivocos e ambigilidades, (ornando, por este motivo, fe interpessoais ¢ comprometendo grupo. <— : 2. As outras duas redes sfio chamadas por Bavelas de redes verticais, Podem ser..abseryadas nos. p pos J em que ns relagScs interpessoais sio hicrarquizadas, as ide‘ autoridade definidas de modo piramidal: no alto da pirie “na autoridade primeira se exerce de ‘modo absoluto. As relug6es entre o§ membros sao hierarquizadas na medida em que se tra- duzem em termos de subordinagio ¢ de dominacgdo. Os status Jespectivos dos. membros estabelecé¢m nitidamentc em termos de. fungoes, de dircitos, de previlégios, de_prestfgio, quem tem auto- -tidade sobre quem, em qué ¢ porque. A. Bavelas chama a primeira rede vertical, a de_ei.y. Este tipo de rede caracteriza as comu- icagGes no interior de um grupo aparentemente de- mocrdtico em vias de tornar-se autocr&tico. _As_¢¢ municagées. antes. abertas ¢ ¢spontineas, tornam-se fechadas ¢ artificiais com a _tomad: econsciéncia ‘de alguns membros de que um dent les esforcn-se. ‘em tomar o controle do grupo, cobicgando. para cle © poder absolufo. - DINAMICA EB GENESE DOS GRUPOS 77 B. Enfim, existe uma segunda rede vertical denominada_rede em roda. Esta rede ¢ espectfica dos grupos autocraticas fn los quals a au- toridade ost4 concentrada fos de apenas um, qué_a exerce de_modo arbitrério_e segundo seu "bel prazer. Todas as comunicagées entre os mem- bros séio controladas por cle. A comunicagdéo néo somentc s¢ estabelece de modo vertical entre a au- toridade ¢ os membros, mas muito cedo tenderd a traduzir-se através de mensagens em sentido unico, ¢ a coinunigacdo ndo se estabelecer4. geralmente. se nfo de cima para’ baixo. O que concluir © destacar como implicagies? B preciso nfio esquecer que os dados adquiridos por Bavelas nfo sfo v4- lidos sendo para os grupos de trabalho, Por outro lado, parece deimonstrado que, neste contexto muito preciso, quanto mals a autoridade _se_exeree de modo _democrdtico, mais o clima de ¢.mantém, igualltarl an nlégragiio de um gru Itmos'de criatividade COMPONENTES ESSENCIAIS Para quem quer entrar cm comunicagfo com o outro, cons- titul um requistito que cle tenha sabido assinalar e identificar as vias de acesso mais seguras c, se preciso, haja reduzido ou Aabolido, gragas aos icios funcionais ¢ adequadas, as distincias fisicas cntre ele c o outro. Mus a comunicagio sé se cstabele- cerd em seguida, se um.cmissor ¢ um receplor_conscg' mitir Uma mensagem com a ajuda de um cddigo ¢ modalidades adaptadas | arr de Kiir Lewin a dinfimica dos gru as co componcn- tes essenciais de toda comunicagao humana (25), (101), (106), (136). 1. © emissor & aquele que toma a iniciativa da comuni- cagio. Ele deve ser capaz de perceber e de discernir quando, em qué © como o outro lhe é acessivel, Enfim, ele deve poder transmilir sua mensagem em termos que scjam inteligiveis para 78 GERALD BERNARD MAILULOT 9 outro. Assim, seus comportamentos ¢ suas atitudes ao longo da comunicagio devem, para scr funcionals, obedecer as Icis psicolégicas da motivagio, da percepgdo ¢ da expressiio. 2. O recepror 4 aquele a quem se dirlge a mensagem. Ele a cnptaré no medida cm que cstiver. psicologicamente sincroni- gado © sintonizado com o emissor. Além disto se ele quiser favorecer a tomada de contato iniclada pelo emissor, deverd estar psicologicamente em estado de abertura para outro. De outro modo ele poderd entender a mensagem, compreendé-la, mas nfo capté-la ou accitd-la. As leis psicoléglcas que fazem de um individuo, ao longo, de uma comunicagiio, um receptor adequado siio, de Infcio, as lels da motivagao, em seguida, da percepgio e, enfim, as Icis da impressfo. 3. A mensagem constitui o contetido da comunicagio. Se ela consiste wnicamente numa informagfio, cntfo trata-se de uma mensagem fdeacional. Sc, por outro lado, ela exprime um sentimento ou wm ressentinvento, trata-se de uma mensagem afe- fiva, Conforme se trate de uma mensagem positiva ou negativa, ela cstard carrepada de ternurn ou de agressividade. Ela pode enfim comportar elementos tanto Intelectuals como afetivos, A mensagem € neste caso chamada viral, porque quer transmilir uma informa¢ao de importancia considerada vital pelo receptor. 4, © cddigo & constituido pelo grupo de simbolos ullliza- dos para formular a mensagem de tal modo que cla faga sen- tido para o receptor. A linguagem, escrita ou oral, é scm duvi- da o cddigo mais freqlcntemente utilizado. Mas a musica, a pintura, a escultura, a danga, a mimica, o teatro, o cinema, a televistio sfo outros taritos cédigos que nos permitem transmitir mensagens. Os cédigos dudio-visuals sio sem duvida alguma os mais adequados produzidos pela técnica moderna, A dindmica dos grupos aprendeu a distinguir entre cddigo pubic e cédigo secreto,, O-emissor recorrerA a um cddigo pit- ico quando desejat que sua mensngem scja captada pelo maior namero poss{vel de receptores. Ultilizara um conjunto de sfimbo- los intcligiveis para todos aqueles que ele quer atingir. Se, ao contrdrlo, sua mensogem nado se destina senfo a uma pessoa ou algumas pessoas, elo deverd utilizar um cddigo secreto de modo a cifrar sua mensagem cm termos Inteliglveis somente pelos te- + ceptores de posse da chave que Ihes permita decifrar o signifi- cado da mensagem. DINAMICA E GENESE DOS GRUPOS 719 S. Destague ou camuflagem: o quinto componente csscn- cial de toda comunicagiio humana consiste no conjunto das de- cis6cs que o emissor deve tomar, antes de ertrar em comunt §40, quanto no conleido da mensagem ¢ quanto ao cédigo uti- lizada. Assim cabe a ele decidir o modo de apresentagiio, a tonalidade afetive ordem ¢ W apresentagfio da mensagem. Se ele utiliza um eddigo piblico, para melhor atingir seus interlo- cutores ¢ ir ao seu encontro, sua preocupagio sera a de pér em destaque a mensagem emiltida. Assim, a encenagio no teatro, a técnica do grande plano na televisio, a orquestragio na dpera, Se, no contrario, o emissor usa um cédigo secreto, deverd ca- muflar sta mensagem de modo a na-la imperceptivel e inde- cifrdvel para todos aqueles aos quais ela nfo & destinada. BLOQUEIOS, FILTRAGENS E RUIDOS Quando a comunicagio se estabelece mal, ou niio se estabe- lece, entre pessoas ou centre grupos, resultam alguns fendmenos psiquicos. Eles foram observados e¢ estudados sistematicamente pelos Pesculsadores da dinamica dos grupos. Vejamos como foram definidos (12), (14), (25), (33), (75), (90), (136). Quando a comunicagiio é completamente intgrrompida, ha bloqueio, Ao contrdrio, quando nio é comunicada sendo uma Parte do que os interlocutores sabem, pensam ou dentem, a co- municagiio subsiste mas acompanha-se de filtragemn. Bloqucios ou filtragens podem ser provisdrios: certs au- lores falam entio de panc, bruma, nebulosidade, queda de visi- bilidade entre emissor ¢ receptor, ou ainda de rufdo. Os blo- queios provisérios, de modo paradoxal a primeira vista, parecem comprometer menos a evolugio da comunicagio que ns filtra- gens provisérias. Eis a raziio, Desde que surge um bloqucio, ele obriga os interlocutores a questionar suns comunicacées ¢ geralmente lhes permite reaté-las c restabclecé-las em um clima mais aberto 6 uma base mais auténtica, cada interlocutor tendo tomado consciéncia do que neles ¢ entre eles constitul obstaculo & suas trocas. Em caso de fillragem, cnirclanto, porque a co- municagio subsiste enquanto a confianga diminui, cla tende a acompanhar-se de reticéncias ¢ de restrigées mentais, degradan- do-se ¢ degencrando pouco a pouco cm troca de mensagens cada vez mais ambfguas ¢ equivocas. Assim a° ¢omunicagio corre o risco de tornar-se artificial, provavelmente de modo irre- versivel. 80 GERALD WERNARD MAILINOT ‘Quando os bioqueios ¢ as filtragens tornam-se permanentes, o observador vé apurecer enirc os interlocutores muros ou bar- relras psicolégicas. Zonas de siléncio se cstabelecem entre cles, ou, quando muito, zonas de trecas superficlais que recobrem, quando nfo dio lugar, uma proliferagdo de zonas de conflitos 6 de tensdes. As fontes quo originam os bloqucios ¢ as filtra- gens em vias de se cristalizar, sio geralmente inconscientes para e580AS OU para os grupos cujas comunicagdes estio sendo pre- judicadas, Deste modo nao é senfo raramente que eles conse- guem tanspor ¢ restabelecer por eles mesmos o contato psico-~ ldégico rompido ou inexistents com outro. Parece que somente uma experiéncla de matureza catdrtica poderia tormd-los licidos o incité-los a se liberarem daquilo que neles, habitualmente, os impede de comunicar de modo adequado com o outro. _. Qualquer que seja sua duragio, os bloqucios © as filiragens perturbam as percepgdes de si ¢ dos outros, tornam falsas as atiludes ¢ os comportamentos int-.ypessoais, Se bloqueios e fil- tragens aparecem uo grupo de trabalho, as discussdes ¢ as de liberagées provecam, entilo, abordagens penosas, agravadas ge- ralmente por conflitos de prestfgio. Conseqilentemente, as deci- s6cs tomadas em semelhante clima sfo taramente uma expressio de um acordo de grupo e as renlizagdes que se seguem sao fatalmente convencionais e estereotipadas. Quanto mais estes bloqueios ou estas filtragens persistem, mais as relagées entro colegas ou com o responsdvel do grupo arriscam tornar-se sis- tematicamente negativas, Inouténticas, em conseqliéncia de mal- entendidos, equivocos ou ressentimentos que aparecem como irredutlveis. PERTURBACOES E DISTORGOES PROVISORIAS Os mesmos pesquisadores que conseguiram definir opera- cionalmente em que consistem os fendmenos de bloqueio e de filtragem na comunicagio preocuparam-se em identificar suas fontes ‘mais freqiientes. Cedo descobriram que algumas causas de bloqueios e filwragens podem estar em jogo em toda comu- nicagio humana, cnquanto outras sflo espeelficas de certos con- textos sociais, entre oulros os grupos de trabalho estruturados de modo autocritico. No momento nao trataremos senfio de bloqueios ¢ filtragens que provocam perturbagées ou distorgdes provisérlas e tempordrias. Seis possiveis fontes de bloqucios e de filtragens, comuns a toda comunicagiio humana, foram Identificadas. El-las: DINAMICA E GANESH DOS GRUPOS 81 1. Do lado do emissor, os bloquelos ow as filtragens podem ser devidos a inibigdes interiores. A mensagem a transmuillr evo-. ca nele lembrangas penosas, néo climinadas ou n&o assimiladas. E © caso entre outros dos individuos cujo passado fol trauma- lizado. Sc o passado 6 evocado, eles so tornam incapazes de $e cOmunicarem com o outro, ou se o fazem, 6 de modo impes- soal, desencorajando assim toda explorag4o deste tema de sua vida como indiscreto, quando nfo intolerdvel, 2. O emissor pode também experimentar bloqucios « fil- (cagens em stas comunicagdes por razGes extrinsecas. Assim; pode sentir-se constcangido a permanecer em siléncio ow a nao falar sendo com reticéncia e circunspecg¢fo em virtude de fabus exteriores. Esses tabus exteriores, expressio mais ou menos ex- plicita de proibigées colctivas, de censuras ou de pressées de grupo, o cmissor os percebe instintivamente ou og descobre as suas custas. Cedo ou tarde, todo ser humano que se sensibilize em relagdo ao seu melo pode estabelecer, por sua conta, o inven- larlo do que pode comunicar ao outro, os temas permitidos, os temas tolerados ec os temas proibidos. Lewin, como j4 notamos ¢ salientamos no capitulo precedente, definia as zonas de trocas acessiveis a cada individuo, seu espago vital ou seu espago de movimento livre (91), Os antropdlogos culturais, de seu lado, falam dd “joking relation-ships". Definem assim a zona de re- lagGes interpessoais, variando cm cada individuo, no interior da qual a comunicagao se estabelece de um modo irénico ou hu- moristico, em razio dos tabus exteriores. No interior desta zona, alguns temas nunca so cvocados: Os que siio tolerados 9 sHo em termos yelados, em tom de graccjo. Assim as comu- nicagSes entre um genro ¢ sua sogra, entre uma nora e seu sogro, e 3. No que se refere ao cddigo, os bloqueios ou as filtragens podem ocorrer por causa das diferengas culturais. Os mal-en- tendidos surgem pelo fato dos interlocutores em presenga supo- rem gratuitamente que ulilizam o mesmo cédigo, quando, de fato, em virlude de sistemas de valores ou de esquemas de re- feréncia diferentes, os s{mbolos utilizados tm para eles cono- tagGes subjetivas ou coletivas distintas ou mesmo contrdrias. 4. Do lado do receptor, hd bloquelos ou filtragens quando ele ndo capta ou capta mal as mensagens que lhe so enderega- das. ESta falta ou auséncia de receptividade pode-ocorrer por trés razées poss{veis. Be GERALD BERNARD MAILIOT Primelro, o receptor pode ter uma percepgdo seletiva, nio captando sendo as memsagens que possuem para cle, no mo- mento em que sfo eitiltidas, ressondnclas afetlvas ou implicag6es pessoals, Ninguém escapa totalmente a este fendmeno. Mesto os seres mais altrufstas, os mais cstabilizados, os melhores equill- brados, mostram-se momentaneamente ciclicos em sua atengiio © presenga diante do outro, Em seus momentos de euforia, so- mente as mensagens positivas sfio captadas; enquanto que nos momentos de decepgdo, cles se tornam vulnerdycis ¢ hipersen- sibilizndos As mensagens ncgativas. Nestcs momentos de depres- sfio o ser humano pode muito bem entender, até mesmo con- preender, as mensagens que |he sfio dirigidas. Na realidade ele nfo retém ou no presta atengdo senfo as mensagens com as quais J4 est4 emotivamente sintonizado. 5. Excepclonalmente o receptor pode conhecer estados de altenagdo, seja pelo fato de estar absorvido por uma alegria in- tensa que o cumula, seja por s¢ sentir invadido por uma forte angiistia, Torna-se entio incapaz de perceber as mensagens quo the s&o dirigidas, de tal modo est4 perturbado emotivamente. Nao apenas nfo comprecnde como nao escuta mais. 6. Enfim, tratando-se do receptor, ele pode, em ragfio do contexto cullural em que se soclalizou, ter-so tornado exqiusiva- mente sensibilizado para a comunicagdo verbal a ponto Uc niio caplar ou captar mal as mensngens nfo verbais que lhe sao dirigidas. Os pais ¢ os cducadores devem aprender a decifrar as mensagens no verbais carregadas de angustia, de apelos ou de expectativas, que contém, em certos momentos, as expres- ses de rosto dos adolescentes ou das adolescentes que eles pro- curam ajudar, Aqueles que se dedicam nos cuidados dos doen- tes, sobretudo dos doentes mentais, devem preocupar-sc em se tornar perfeltamente receptlvos ds comunicagdes nao verbals de seus pacientes, De outro modo o contato psicolégico pode nto se estabelecer ¢ as mensngens emitidas com a ajuda de um cé- digo nfo verbal escaparcm ao receptor ou nfio lhe parecerem inteligiveis. + fi Nos grupos de tarefa cujas estruturas de trabalho e de poder sto autocrdticas, as redes de comunicagécs humanas centro o responsdvel © os membros do grupo tendem, como jd vimos, a so hlerarquizar de modo vertical ¢ em sentido tinico, de cima para balxo, Poucos sfo os contextos humanos em que os blo- DINAMICA B GANESH bos GRUPOS 83 queios ¢ as fillragens so mals freqllenles ¢ mals carregadas de perturbagées ¢ de distorgées, tanto no plano das percepgdes como no das relagdes interpessoals. Estes bloqucios ¢ cstas fil- tragens tém origem em duas causas especlficas: a hostilidade~ autista no autocrata, a transmissiio seletiva nos membros. 1. Assim se apresenta a hostilidade autista, O autocrata de posse de um poder absoluto sobre os membros de seu grupo tegride muito cedo em suas relagdes com o outro a ponto de tornar-se inconsciente da existéncia dos outros. Seu egocentris- mo ‘dégenern cedo ou tarde em autismo ao ponto em que sé seu intéresse é lel c o grupo nao tem, a scus olhos, razio de existir ou de evoluir senio para sua gléria, As causas deste tipo de regressiio foram longamente analisndas por Lewin © seus discfpulos (97). Elas estio todas contidas no aforisma de Alain: “O poder torna louco; o poder absolulo torna absolutamente louco,” O poder parece ser, para a maior parte dos homens, um vinho embriagador que lhe sobe A cabega e fecha 9 coragiio ao outro, Também o autocrata, prisionciro de scu autismo, torna-se, ao nfvel das comunicagées com os membros de seu grupo, hiper-irritével, nfo respondendo senfo com hostilidade a toda tentativa de tornt-lo consciente da existéncia do outro. Para cle tornou-se inadmissfycl que outros além dele possam ter direitos de exislir, em vez de dispor de sua vida para servi-lo volar-lhe um culto incondicional, 2. A fransmissdo coletiva explica os bloqueios e as filtra- gens observados nos membros de grupos autocraticos. Eis como este fendmeno tende a manifestar-se. O autocrata, reservando para si toda decisfio ¢ assumindo sozinho o controle das estru- turas de poder, desencoraja a liberdade de expressio entre aque- les que trabalham ou vivem com elec. Também estes tltimos, cada vez quo captam uma mensagem que exige uma resposta, recusam-se o! se omitem ou, quando muito, operam uma sele- gio ¢ n&o transmitem ao autocrata sendo uma parte ou o con- trdrio do que sabem, do que pensam ou do que sentem. Sua tinica possibilidade de sobreviver no interior de semclhantes estruluras é geralmente calando o que sabem 9 no transmitindo senfio o que pode alimentar as ilusdes falaciosas que o autocrata quer manter sobre seu poder © sua popularidade. , 84 GERALD DERNAND MALLHIOT DISTANCIAS SOCIAIS E BARREIRAS PSICOLOGICAS Qs bloqueios ¢ as filtragens na comunicagio humana tor- mam-se permanentes ¢ tendem a se cristalizar cada vez que as relagdes inter-pessoais sio prejudicadas pelos preconceitos. As distancias socinis ¢ psicolégieas entre interlocutores tendem entio a se acentuar © a scr percebidas como irredutiveis. Cavam-se, entre cles, valas que parccem intransponfveis; elevam-se barrel- ras c¢ fronteiras psicolégicas que parecem jnsuperdyeis, O outro € percebido como inncesstvel, isto ¢, aquilo que se sabe, que se pensa, qué se sente como incomunicdvel, Em que consiste a distdncia social? Primeiro é& preciso distingui-la com nitidez da distdéucia psicoldgica, Esta ultima é um fendmeno intra-grupo ¢ pode ser descrito assim: 0 outro & percebido como incompativel. Por esta razio é mantido A dis- tancia e a comunicagiio com ele é considerada como impossivel de ser estabelecida. A distancia social, no contraério, & um fenémeno inter-grupo, O outro é mantido A distancia, a uma distancia intranspontvel, pelo simples fato de pertencer a um grupo difercnic, Pode tratar-se, segundo os casos, de diferencas culturais, diferengas de classe, de afastamentos sejn «le nfiveis cducacionais, seja de niveis intelectudis, scja de niveis de escola agio. QO outro & entiio perecbida como estando situndo socialmente a uma dis- tancia inacessivdl. De fato ele sé 6 percebido em termos estal(s- ticos: nio é um individuo irreduttvel, mas o representante dc uma classe, de um grupo, de uma camada, possuindo determi- nado status, ocupando determinada:fungao, lespojado assim de seu mistério pessoal, A distancia social, além de ser o resultado de um processo de despersonalizagio do outro, resulla sempre de uma percepcao vertical do outro. Segundo o sistema de valores que prevalece no meio, certas fungécs sociais ou certas atividades humanas siio valorizadas. Aqucles que ccupam estas fungdes, ou se de- dicam a estas alividades, sfio percebidos de baixo para cima, Eles aparecem ao scu meio aurcolados de atributos, de privilé- gios ou de carismas, que desencadciam no meio o éxtasc au o encantamento, quando niio o temor reverencioso. Quando, ao contrario, uma fungéo social ou uni atividade humana sao jul- gadas desvalorizadas em um contexto cultural, os representantes desto nivel ocupacional s4o percebidos pelo meio de cima para baixo, com meénosprezo, arrogincia ot condescendéncla. Os DINAMICA B GBNESE DOS GRUPOS B5 membros das outras camadas passam a considerar que serla rebaixar-se consentir em comunicar de modo adequado com cles ¢ & facil imaginar. a parte determinante de esnobismo em. suas percepgdes verticais ¢ desvalorizantes do outro (31). Distincias sociais, bloqueies e filtragens permanenics, co- municagio humana prejudicada ou rompida de modo definitive sao outros Lantos fendmenos que encontram sua origem em nos- Sos preconceitos, Dos preconceitos nascem os conformismos c a incapacidade de dialogar com o outro. Os tedricos ¢ os pré- ticos da dindmica dos grupos foram os primeiros a revelar o fato. Gragas a pesquisas astuciosas refizeram por sun conta descober'tas recentes da psicologia social sobre a natureza dos preconceitos. Preocuparam-se sobretudo em verificar ¢ em des- tacar as muiltiplas implicagées destes dados cient{ficos para a inteligéncia dos obstéculos fundamentals A autenticidade das co- municagdes humanas (2),.(3), (14), (16), (42), (130), Sobre este ponto as intuigdes de Lewin, se por um lado foram supe- tadas, por oulro mostrarami-se em grande parte de uma justez: not4vel ¢ fornceeram A pesquisa experimental suas hipdéteses mais fecundns (99), (101), JA se tornara acello que os preconceitos consistiam em idéias preconcebidas sobre o outro, idéias falsas, fixas, geralmen- te cstranhamente simplistas com relagio a certos individuos, a certos grupos que os fazem classificar, de antemio, em termos sempre excessivos. Quando so favordveis, os preconceltos che- gam A cnfatuagao, quando sfo desfavoraveis, degencram em in- folerdncia em relagdo ou outro. Os preconceitos nao sio inatos mas adquiridos, Como ent&o explicar que mesmo em um clima democrdtico, os seres mals adultos, mais ¢volufdas sejam to pouco capazes de trocas au- ténticas com 0 outro? & necess4ria teconhecer de inicio que os Preconccilos existem num grau impressionante e espantoso. Os melhores, os mais lucidos, os mais preocupados com a justica social, os mais dedicados ao respcito pelo outro surpreendem-se ao ceder a preconceitos sob a pressdo ¢ a coerciio do meio. Por outro Jado, é um fato que certos seres humanos s&o mais pre- dispostos que outros a ndquirir preconceitos, mais vulnerdvcis que oulros no contdgio © & contaminagdo soci: Sua perso- nalidade parece estruturada por determinismos tals que estes Seres, uma vez os preconceitos adquiridos, tornam-se incapazes de se liberar dos mesmos. Seus preconceitos satisfazem neles necessidades tf0 mérbidas que, mesmo em seus momentos de 86 GERALD DERNARD MAILHIOT tucidez, a cles se agarram desesperadamente. A resposta mais satisfatérla a estas questées parece ser o que se segue. E um fato acelto atualmente que o preconceito 6 um sintoma. Como toda reagio neurética, o preconceito 6 uma resposta a uma frustragioa, no caso, uma frustragde social. Quando ela da orl- em & ansiedade, a frustragio socint desencadeia em alguns o jogo-de trés mecanismos de defesa, assinalados em graus diver- sos, ¢m toda expresso de preconccito, a saber: a generalizagdo gratuita, sem provas em apolo; o deslocamento ou a descarga agressiva sobre bodes expiatérlos; a racionalizagao ou a auto- Justlficag#o. Como no caso da frustragio Individual, os limites de tolerfncla & frustragde social sfo mals ou menos elevados. Privados de suas liberdades fundamentals, og seres mais soclali- zados experimentam uma frustragfo Intolerfvel. Nfo é raro vé-los regredir, entio, a um estdglo anterior A sua sociallzagio ¢ voltarem-se injustamente contra o outro, langando-lho julga- mentos hostis. a Ao contrario, para aqueles que pouco ou nada evolufram socialmente, a menor troca livre ou espontinea com o outro é fonte de ansicdade ¢ causa de frustragio. Sentem também cada vez a necessidade Inconsclente de perceber negativamente o outro através de seus preconcellos para melhor defender-se deles ¢ manté-los A uma Jistfncla segura, Nestes wiltimos, nfo se trata de uma regressdo ocasional a um estigio mais primitivo de sua socializagio, mes de uma fixagio ou de um desvio caracte- rolégico de sua evolugdo social, tendo seu limite de tolerdncia & frustragio social, permanecido muito balxo, O adulto social nfo cede temporarlamente aos preconccitos de secu melo senfio por privagdo de Mberdade. OQ débil social, ao contrérlo, permanece prisionelro de seus preconccitos por medo da liberdade. Como em todo nevrético, seus sintomas, no aso scus preconceltos, permitem ao débil social controlar sua ansledade ou dela escapar cada vez que lhe é necessfrio afron- tar 9 outro em zona de livre troca. O preconcelto proporciona no medo do outro uma tranqgliilidade preeérin, proviséria, mas adquirida to penosamento que o Individuo se torna incapaz de a ela renunclar e recorre A mesma de modo compulsivo. Especificamente, em que a alergia crénica ao outro se dis- tngue das outras ne ere ‘Quals sfo, nesta nevrose, as predis- posig6es caracterolégicas de base que, em uma situagéo de frus- tragio social, ou em fase anslosa,.Jevam-no a apelar violenta- mente para seus preconceitos para fugir A sua angiistia, contra- DINAMICA B GENESR DOS GRUPUS 87 riamente a outros que, por razécs equivalentes, af ndam-se na depressdo ou se refugiam ma obsessio ou na simulagio histérica? Foi neste ponto especffico que as hipdéieses de Kurt Lewin, pondo ci correlagdo o grau de abertura das comunicacdes em um meio com o estilo de autoridade que mele prevalece (71), inspiraram de modo decisivo as pesquisas da psicologia social. Elas mostraramt de modo concludente que os seres mais precon- cejtutosos, aqueles que o sio em estado caracterolégico, niio de .medo situacional, aqueles diagnosticados acima co débeis sociais, (8m todos uma personalidade de tipo autoritdrio, Exter- namente, eles sfio reconhecidos pelos tragos scguintes: desde que constitu{dos em autoridade, tudo Ihes serve como pretexto para afirmar sua auloridade, para dela abusar da mancira mais arbitraria, t@o grande é scu medo de perder seu dominio sobre aqueles que dirigem. Se, ao contrario, nfo possuem nenhuma auteridade sobre quem quer que seja, atingir um status de autoridade hes aparece entio como*o sttpremo bem. Parecem igualmente dispostos a recorrer a todas as int as mais baixas servidécs para satisfazer sua ambigiio de poder, esperando, entio, cstarem em condigdes de controlar suns rela- gSes com o outro ¢ poder manipular os outvos A sun manceira. Para o nutoritfrio, ter a autoridade &€ a mneiea mais segura de escapar oo scu medo do outro. © autoritério € atingido pela fobia do outro, Ele nao pade aceilar nem tolerar que os outros sejam diferentes dele. Toda diferenga no outro, diferenga de idade, de sexo, de cultura ou de religiio o pertuba ¢ o inquicta, Mas como explicar seme- Ihante deterioragao do sentido social? Pesquisas recentes mos- traram (130), o que constitui um paradoxo, que o autorilério ¢ um conformista. Contrariamente ao psicopata que é um a-sacial ou ao revyoltado que & um anti-social, o autoritdrio é um gre- gdrio cuja socializagio niio se realizou totalmente. © autorité- rlo nunca atingiu o nfvel do altrulsmo. Seu conformisimo social tral seu medo do outre, secu piinico dos mais fortes. no niio é, como no adulto social, a expressfio de scu respcita pelo outro. Passivamente, o autoritério conforma-se com todas as pressécs sociais. Ele adota cspontancamente os mitos ec os estercdétipos desta socledade, Em grupo, constitul um elemento estdtico, Fa- vorece a cristalizagfo, a petrificagio, a esclerose das cstruturas sociais, Compraz-se com 0 staf quo mais retrégrado, mais reacionario, na medida cm que nele sc sente integrado e acgito.

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