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CHECKLIST PARA DESENVOLVIMENTO DE MATERIAL DIDÁTICO


ACESSÍVEL PARA DEFICIENTES VISUAIS

A. P. SCARIOT1; M. C. ROSITO2

RESUMO: A inclusão de alunos com necessidades especiais na escola já é um tema bastante


discutido no ambiente acadêmico, uma vez que estes alunos são cada vez mais comuns nas
salas de aula de ensino regular. Porém, muitos professores não sabem como desenvolver um
material que esteja acessível para este perfil de aluno. Em vista deste cenário, esta pesquisa
teve como objetivo desenvolver um guia para a acessibilização de materiais didáticos para
alunos com deficiência visual. Desta forma, foram estudados a acessibilidade dos recursos
disponibilizados por alguns dos principais softwares aplicativos utilizados para elaboração de
material didático disponível em meio digital. Esta análise permitiu identificar quais são os
recursos disponibilizados por estes aplicativos que são lidos pelos leitores de tela.
PALAVRAS-CHAVE: inclusão social, materiais didáticos acessíveis.

INTRODUÇÃO

A deficiência é definida como obstáculos de caráter físico, intelectual ou sensorial de


longo prazo, que em interação com diversas barreiras, atrapalham a participação plena e
efetiva das pessoas na sociedade e em suas atividades diárias (Chaves et al., 2010).
Preocupando-se com as pessoas com necessidades especiais (PNEs), pensa-se na
acessibilidade, que é a inclusão de pessoas com qualquer espécie de deficiência – física,
motora, auditiva, sensorial, entre outras – na sociedade (Sonza, 2010).
Na população brasileira existem, aproximadamente, 25 milhões de pessoas com algum
tipo de deficiência, o que corresponde a 14,5% do total da população. Desses, 48%
apresentam deficiência visual, sendo o maior percentual no índice entre diferentes
deficiências (Chaves et al., 2010). Devido a este elevado número de pessoas com
necessidades especiais, observa-se a necessidade de pesquisar soluções e formas de integrar-
los na sociedade, tal como no mercado de trabalho ou num ambiente escolar.

1
Estudante do Curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, IFRS campus Bento Gonçalves
2
Prof. Mestre, IFRS campus Bento Gonçalves.
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A inclusão de alunos com necessidades especiais na escola já é um tema bastante


discutido no ambiente acadêmico, uma vez que estes alunos são cada vez mais comuns nas
salas de aula de ensino regular. Deve-se pensar que para um PNE, dessa forma, algumas
atividades consideradas fáceis podem merecer maior atenção do professor, tal como
disponibilizar um material de aula para um aluno com deficiência visual. Os recursos de
tecnologia assistiva, tal como os leitores de tela, podem auxiliar no processo de ensino e
aprendizagem destes alunos. Porém, muitos professores não sabem como desenvolver um
material que esteja acessível para este perfil de aluno. Ainda, observa-se que não há consenso
entre os pesquisadores sobre o desenvolvimento de manual que contenha informações ou
regras para a elaboração de materiais didáticos acessíveis.
Em vista deste cenário, esta pesquisa tem como objetivo desenvolver um guia para a
acessibilização de materiais didáticos para alunos com deficiência visual. Desta forma, foram
estudados a acessibilidade dos recursos disponibilizados por alguns dos principais softwares
aplicativos utilizados para elaboração de material didático disponível em meio digital
(editores de texto, planilhas eletrônicas e apresentação de slides). Esta análise permitiu
identificar quais são os recursos disponibilizados por estes aplicativos que são, efetivamente,
lidos pelos softwares leitores de tela. Após esta análise, foi possível propor um checklist para
o desenvolvimento de material didático acessível para alunos com deficiência visual.

REFERENCIAL TEÓRICO

A deficiência visual é a diminuição irreversível da resposta visual, por motivos


congênitos ou hereditários, mesmo após tratamento clínico e/ou cirúrgico (SIMÕES &
FRUG, 2010). Pode ser dividida em dois grupos, visão subnormal ou baixa visão e cegueira.
A visão subnormal é a diminuição leve, moderada, severa ou profunda da resposta visual, mas
que usa ou pode usar a visão para planejar ou executar suas tarefas. A cegueira: é a ausência
total da resposta visual, na qual não se pode ver ou se podem ver apenas flashes de luzes que
não ajudam a distinguir objetos, pessoas ou lugares.
Qualquer preparação de um ambiente que tenha acessibilidade digital necessita de
algumas adaptações. Para os deficientes visuais, a principal adequação é a instalação de
programas específicos em computadores com placas de som e com fones de ouvido ou
caixinhas de som (CHAVES et al., 2010). Como interfaces para usuários deficientes visuais
(dv’s) existem: Leitores de tela (são responsáveis pela captura das informações apresentadas
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na tela e por transmiti-las ao sintetizador de voz); Sintetizadores de voz (converte texto em


voz) e os ampliadores de tela (amplia o conteúdo da tela).

ESTUDO SOBRE A ACESSIBILIDADE DOS SOFWTARES APLICATIVOS

Objetivando-se desenvolver os guias para acessibilização de materiais didáticos para


alunos deficientes visuais, foram realizados testes com diferentes software aplicativos, muito
utilizados pelos professores na elaboração de tais materiais. Foram realizados os aplicativos
Microsoft Office Word, Microsoft Office Excel e Microsoft Office PowerPoint, todos na
versão 2007. Para a análise da acessibilidade dos materiais produzidos por estes softwares,
foram selecionados quatro testadores: um vidente, um deficiente visual com baixa-visão e
dois deficientes visuais cegos. Os testes foram realizados nos meses de julho e agosto de
2010, onde cada avaliador testou os três aplicativos com alguns dos principais leitores de
telas: JAWS 9.0, NVDA 9.0 e Virtual Vision 6.0.
Um formulário de avaliação foi desenvolvido para cada tipo de aplicativo. O objetivo
deste documento foi de nortear os testes realizados, permitindo, dessa forma, testar a maior
quantidade de recursos que são disponibilizados na elaboração de um material de mídia digital
(tal como a formatação em negrito, uso de marcadores ou de figuras). Os recursos foram
escolhidos de acordo com as funcionalidades disponíveis no aplicativo. Para cada um dos
recursos testados, o testador teve que informar qual foi o comportamento do leitor de telas
frente a este elemento (NFD: Não faz diferença para os leitores de tela; NC: Não é compatível
com os leitores de tela; TC: Totalmente compatível com os leitores de tela; PC: Parcialmente
compatível com os leitores de tela) e fazer uma breve descrição do fenômeno ocorrido.
O formulário de testes para o software Microsoft Word foi dividido em quatro
categorias, de acordo com o tipo de recurso disponível por essa ferramenta, são eles: Menu
Fonte, Menu Inserir, Menu Layout e Menu Referências. Para o Menu Fonte, foram testados
os seguintes recursos: tamanho da fonte, tipo de fonte, texto em negrito, texto sublinhado,
texto em itálico, realce do texto, cor, alinhamento, espaçamento do parágrafo e marcadores.
Para o Menu Inserir, foram testados o comportamento dos seguintes elementos: imagem,
gráfico, tabela, hiperlink, formas, SmartArt, cabeçalho e rodapé, caixa de texto, WordArt,
símbolos, equação (fórmulas), número da página e letra capitular. Já para o item Layout da
Página, foram testados os recursos a seguir: bordas, marca d’água e colunas. Por fim, no item
Referências, foi testada a nota de rodapé.
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Para o aplicativo Microsoft PowerPoint foram identificados as seguintes categorias:


Fonte, Inserir e Animações. No Menu Fonte, foram testados o tamanho da fonte, o tipo da
fonte, texto em negrito, texto sublinhado, texto em itálico, cor do texto, alinhamento,
espaçamento do parágrafo e marcadores. No Menu Inserir, os testadores avaliaram o
comportamento dos três leitores perante uma imagem, gráfico, tabela, hiperlink, cabeçalho e
rodapé, número do slide, WordArt, SmartArt, formas e símbolos. O Menu Animações foi
dividido em animações sonoras e animações visuais.
Para o Microsoft Excel, as categorias foram identificadas como Menu Fonte e Inserir,
sendo que são apenas duas, pois a principal funcionalidade desse aplicativo é a realização de
tabelas. No item Fonte, foram testados os seguintes recursos: tamanho da fonte, tipo de fonte,
texto em negrito, texto sublinhado, texto em itálico, realce do texto, cor e tamanho da célula.
No Menu Inserir, foram testados: gráfico, tabela, tabela com AutoSoma (fórmulas), símbolos,
hiperlink, bordas, nome das planilhas, número da página e cabeçalho e rodapé.
Com base nas respostas obtidas nesses três formulários, foi possível identificar o
comportamento de cada software aplicativo frente aos principais leitores de tela. Sendo assim,
observamos a necessidade de criar um checklist que auxiliasse o professor na elaboração dos
seus materiais, objetivando que esses documentos estejam acessíveis a todos os alunos.

CHECKLIST PARA DESENVOLVIMENTO DE MATERIAL DIDÁTICO


ACESSÍVEL PARA DEFICIENTES VISUAIS

Após a realização dos testes com diferentes softwares aplicativos utilizados pelos
professores e alunos, observamos a necessidade de desenvolver um checklist para cada tipo de
aplicativo. Entretanto, devido à limitação de tempo desta pesquisa, optou-se por desenvolver
apenas o checklist para desenvolvimento de materiais didáticos para alunos deficientes visuais
produzidos por softwares editores de texto (Quadro1).
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Quadro 1. Checklist para desenvolvimento de materiais didáticos para DVs.


Resposta
Observações Está acessível
Regra Em
Sim Não N/A do Avaliador quando...
Parte
1) Há marcadores no
texto? Os marcadores não
Exemplos: são necessários para
 Marcador 1; o entendimento do
 Marcador 2; texto.
 Marcador 3.
2) Há cabeçalho e Não há cabeçalho e
rodapé no texto? rodapé.
3) O texto possui Não há caixas de
caixas de texto? texto e sim, bordas.
Não há colunas, e o
4) Há colunas no
texto está o mais
texto?
simples possível.
1) Não tem notas de
rodapé;
2) Tem notas de
5) Há notas de
rodapé e o
rodapé no texto?
deficiente visual
usa o JAWS ou
NVDA.
1) Tem número da
6) Há número da página;
página no texto? 2) Não tem número
da página.
7) Há imagem no
texto?
Os WordArts e Uma imagem tem a
SmartArts foram descrição.
anexados a esta
categoria.
O gráfico está em
8) Possui gráfico? O
formato de imagem
gráfico é feito no
e devidamente
próprio Office?
descrito.
A tabela é
9) Há tabela no
organizada e não
texto?
muito extensa.
10) Há fórmulas ou
Não há símbolos ou
símbolos no
fórmulas.
texto?

Com relação a regra 1, caso os marcadores sejam indispensáveis para o entendimento do


texto, este deve ser remodelado para que não seja necessário usá-los, pois alguns leitores de
tela não conseguem ler essa informação. A regra 2 foi criada pensando no cabeçalho e rodapé
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do texto. Assim, caso sejam informações necessárias, elas devem ser colocadas no próprio
texto, ou seja, no primeiro e último parágrafos de cada página ou apenas da primeira página,
conforme o professor desejar. Para a regra 3, observou-se que as caixas de texto não são lidas
pelos leitores. Dessa forma, para substituir as caixas de texto, é aconselhável usar bordas, que
são completamente acessíveis. Na regra 4, identificamos que o melhor é deixar o texto em
uma coluna só, pois alguns leitores necessitam de certas configurações para ler mais que uma
coluna. Quanto mais simples for o texto, mas fácil será para um DV interpretá-lo.
Como há leitores que não lêem as notas de rodapé, segundo a regra 5, é preferível não
usá-las. Caso seja muito necessário, deve-se considerar que alguns leitores de tela não
conseguirão fazer a leitura correta dessa informação, por exemplo, o NVDA só irá ler se o
cursor for controlado pelas setas do teclado. Para a regra 6, observou-se que o número da
página não influencia na questão da acessibilidade, pois antes dos leitores iniciarem a leitura,
eles indicam o número da página. Segundo os testes realizados, os leitores de telas não são
compatíveis com imagens, pois interpretam como se não houvesse nada. Portanto, segundo a
regra 7, deve-se descrever aquilo que está sendo representado pela imagem. Devido aos
leitores de telas não considerarem os SmartArts e WordArts, ou seja, interpretam como se a
página estivesse em branco, da mesma maneira que acontece com a imagem, estes itens
devem ser acessibilizados da mesma maneira, com uma descrição. Outra opção para
acessibilizar o SmartArt é fazer uma tabela com o mesmo conteúdo, e para o WordArt,
modificar o tamanho, a cor e o sombreado do texto, não usando esse recurso.
Para a regra 8, se um gráfico for feito no próprio Office, alguns leitores de telas param
de funcionar. Por isso, o gráfico deve estar sempre em formato de imagem e assim, deve ser
descrito. Para a regra 9, observou-se que uma tabela é lida pelos leitores de forma linear, ou
seja, da esquerda para direita e de cima para baixo. Por isso, desde que esteja organizada e
não seja muito extensa, ela será acessível. Caso seja muito grande, o ideal é descrever item
por item, por exemplo, em uma tabela de preços de sucos, a descrição fica “o suco de uva
custa 2,00 reais”. Finalmente, para a regra 10, identificou-se que os leitores não são
completamente compatíveis com os símbolos. E já que são os símbolos que ajudam a compor
as fórmulas, é melhor não utilizar esses elementos no texto. Uma sugestão seria imprimir a
fórmula ou símbolo e colocar texturas em cima de cada símbolo, para que o DV possa tatear.
Símbolos que estão no teclado, por exemplo, são compatíveis, mas são exceção.
Durante os testes, observamos que alguns itens não fazem diferença para os leitores de
telas e, dessa forma, também são indiferentes para a acessibilidade. São eles: Tamanho da
fonte; Tipo da fonte, porém é sempre aconselhável usar as fontes mais comuns, como garantia
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de compatibilidade com os leitores de tela; Atributos das letras: sublinhado, negrito, itálico,
tachado; Cor da letra; Alinhamento do texto; e Espaçamento e parágrafos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devido ao grande número de deficientes visuais nas escolas, deve-se considerar a


necessidade de guias para a elaboração de materiais didáticos acessíveis. Dessa forma, esta
pesquisa desenvolveu um checklist para elaboração de materiais didáticos para alunos com
deficiência visual, produzidos em softwares editores de texto. A
Devido à limitação de tempo desta pesquisa, nos testes realizados não foram usados
todos os leitores de tela disponíveis atualmente, apenas os mais utilizados. Ainda, foram
testados apenas aplicativos na plataforma Windows.
Para dar continuidade a esta pesquisa pesquisa, identifica-se a necessidade de
elaboração de um checklist para cada aplicativo: editor de texto, planilha e apresentação de
slides, incluindo os testes feitos em ambiente Linux, e com os leitores para o mesmo. Após
isso, o objetivo passará a ser a realização de um componente Addin para algum aplicativo,
objetivando a validação online da acessibilidade do documento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAVES, Andrea Bezerra et al. Caderno da Estação Digital. Acessibilidade. Disponível em:
<http://www.fbb.org.br/upload/biblioteca/documentos/1277214066046.pdf>. Acesso em: set,
2010.

SONZA, Andréa Poletto et al. Acessibilidade. Disponível em:


<http://www.coacyaba.com.br/livroacessibilidade/index.php?title=P%C3%A1gina_principal>
. Acesso em: set, 2010.

SIMÕES, Chrystianne; FRUG, Mauro. Deficiência visual. Disponível em:


<http://ies.portadoresdedeficiencia.vilabol.uol.com.br/DeficienciaVisual.htm>. Acesso em:
jun, 2010.

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