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BIBLIOTECA GARIOCA A\s TROPAS ~ DA Mopersc Ao AS TROPAS DA MODERACAO € um livro inspirado de Alcir Lenharo! Originalmente, 0 livro veio a publico no ano de 1979, tornando-se referéncia fundamental para o estudo da histéria do Brasil. A rigor, a pesquisa tinha sido elaborada entre os anos de 1974 e 1977, como parte das atividades do programa de pés-graduagao da USP, quando o autor obteve seu grau de mestre. Atualmente, Alcir Lenharo é professor titular da UNICANP, tornando-se autor de outros livros e ensaios. Esta obra, reeditada em boa hora pela Prefeitura do Rio de Janeiro, através de iniciativa da Biblioteca Carioca, caracteriza o surto de comércio de abastecimento ocorrido no Brasil, na época da Independéncia, retratando, ao lado disso, o universo social do tropeiro. Com efeito, o autor termina por investigar a importancia que os interesses regionais assumiram na conjuntura politica da primeira metade do século XIX. O processo de diversificagao da economia interna, especialmente do Sul de Minas, garantiu a ascensao de grupos sociais, como comerciantes nativos e atravessadores, ligados ao abastecimento da Corte, filiando-se, em geral, 4 tendéncia dos liberais moderados, em detrimento dos tradicionais setores do poder ligados a burocracia do Estado e agentes monopolistas vinculados ao comércio colonial. Alcir Lenharo relaciona, assim, os interesses sociais envolvidos em torno do comércio de abastecimento e o seu papel politico na construgao do Estado nacional no Brasil. A\s TROPAS DA MopERACAO O abastecimento da Corte na formago politica do Brasil: 1808-1842 Alcir Lenharo 2 edigdo Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes Departamento Geral de Documentacao ¢ Informagao Cultural Divisao de Editoragao Colegao BIBLIOTECA CARIOCA Volume 25 Organizador Afonso Carlos Marques dos Santos Copyright® Alcir Lenharo, 1992 Direitos desta edicao reservados a0 Departamento Geral de Documentagao ¢ Informagao Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes. Proibida a reproducdo, total ou parcial, e por qualquer meio, sem expressa autorizagao. Impresso no Brasil - Printed in Brazil ISBN 85-85096-27-6 L563 Ficha catalografica elaborada pela Divisio de Processamento Técnico do CI/DGDI/DEB Lenbaro, Alcir ‘As tropas da moderagao (0 abaste- cimento da Corte na formagio politica do Brasil - 1808-1842) / Alcir Lenharo. ~ 2.ed. — Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cul- tura, Turismo e Esportes, Departamento Geral de Documentagao e Informagao Cul- tural, Divisio de Editoragao, 1993. 136-p. - (Biblioteca Carioca; v. 25) 1, Brasil — Hist6ria — Império. 2. Brasil - Histéria - Império — Comércio Sul de Minas ~ Rio de Janeiro. 3. Rio de Janeiro (cidade) séc. XIX — Comércio de abastecimento — As- pectos sociais. 4, Sitiantes e tropeiros, séc. ‘XIX - Aspectos sociais. 1. Titulo. II. Titulo. O abastecimento da Corte na formagao politica do Brasil. IIL. Série. CDD 981.04 PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Cesar Maia SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA, TURISMO E ESPORTES Helena Severo DEPARTAMENTO GERAL DE DOCUMENTACAO E INFORMACAO CULTURAL Graga Salgado DIVISAO DE EDITORACAO Heloisa Frossard CONSELHO EDITORIAL Presidente Afonso Carlos Marques dos Santos Membros Helena Corréa Machado Paulo Roberto de Araujo Santos Sandra Horta Marques da Costa Samira Nahid de Mesquita Mauricio de Almeida Abreu Maria Augusta F. Machado da Silva Evelyn Furquim Werneck Lima Eliana Rezende Furtado de Mendonca Maria Isabel de Matos Falcio Edigdo € revisdo de texto: Ana Lucia Machado de Oliveira, Célia Almeida Cotrim ¢ Diva Maria Dias Graciosa Da Divisio de Editoragao do CT/DGDI Capa e projeto grafico da colegao: Ivone Barros Arte-final da capa: Vera Camisio Do Centro de Pesquisa e Comunicagao Social/SMCT 1 edigao Sao Paulo: Simbolo, 1979 23 edigao 1993 Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes Departamento Geral de Documentagao ¢ Informagao Cultural Rua Afonso Cavalcanti, 455 sl. 201 Cidade Nova — Rio de Janeiro ~ CEP 20211-110. Tel.: 273-9390 SUMARIO PREFACIO DA 14 EDIGAO, 7 AS TROPAS DA MODERACAO, 15 INTRODUCAO, 19 1, O ABASTECIMENTO DA CORTE APOS 1808, 33 2. ESTRADAS E INTEGRAGAO DO CENTRO-SUL, 47 3. SUBSISTENCIA E INTEGRAGAO, 60 4, 5. A PROJECAO SOCIAL E POLITICA DOS A CONEXAO MERCANTIL SUL DE MINAS-RIO DE JANEIRO, 75 "SITIANTES" E TROPEIROS, 91 CONSIDERACOES FINAIS, 115 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS, 121 POSFACIO DO AUTOR PARA A 2% EDICAO, 131 © AUTOR, 133 PREFACIO DA 12 EDIGAO Este livro traz uma contribuigao nova para o estudo da sociedade brasileira, na época da Independéncia, tanto mais valiosa quando enfrenta, com paciéncia e forga, a dificuldade enorme que representa para o historiador a extrema dispersdo das fontes que se propés consultar para recriar, numa perspectiva ampla, o surto do comércio de abastecimento da Corte e 0 papel politico que os interesses regionais do Sul de Minas desempenharam no processo de construg4o do Estado brasileiro, nas primeiras décadas do século passado. O autor delimita cronologicamente o seu estudo de modo a abordar uma conjuntura, a seu ver, curta e transitéria, favoravel a diversificagao da economia interna do Sul de Minas e, concomitantemente 4 ascensdo social de novos setores das camadas dominantes, a dos produtores mineiros, que emergem nos primeiros anos da Regéncia, nao somente na praca, mas também no cenirio politico da Corte. Este momento favoravel 4 produgdo » de géneros de abastecimento e a integragao de um mercado 1 interno ja vinha florescendo nas ltimas décadas do século XVIII; teria o seu papel no processo de expansag da lavoura do café, que, por sua vez, veio cercear e sufoca-lo*. O estudo da producio de géneros alimenticios e de consumo seria um tema de per si significativo e cheio de implicagées para a formagao do nosso meio social; oferece um interesse ainda maior quando focalizado neste periodo de transicdo da Colénia para o Império, como demonstra Maria Thereza Schérer Petrone em uma obra pioneira, onde estyda o papel de Sao Paulo no comércio de abastecimento da Corte®. A dificuldade de organizar a producao dos géneros de abastecimento e 0 modo como se fazia a sua comercializacao na economia colonial tem-sido continuamente lembrada por nossos historiadores. As implicagdes sociais deste fendmeno continuam pouco estudadas, embora seja um dos assuntos mais importantes para a hist6ria das tensoes, dos conflitos e da propria estrutura da sociedade brasileira. Este setor das atividades econémicas foi uma verdadeira arena de livre proveito para diferentes grupos das classes dominantes da Colénia, e nado apenas para burocratas e T MAXWELL, K. 1978. 2 Ibidem, p. 130 e 134. 3 PETRONE, M.T-S. 1976. 8 Preficio monopolistas do Reino, pois também oferecia um meio de ascensao social para atravessadores e comerciantes nativos, em geral acobertados por figuras proeminentes da burocracia Portuguesa, tais como governadores ou ouvidores. Por outro lado, era neste setor preciso da economia que se tornava mais aguda a concorréncia do trabalho escravo com 0 trabalho livre, mascarada pela forca dos preconceitos contra qualquer forma de trabalho manual, que também contribuia para a decadéncia do artesanato e marcava de forma decisiva as relagdes sociais de trabalho nas aglomeragoées urbanas. O autor nado descuida em seu livro deste aspecto de grande importancia para nossa Hist6ria Social. No capitulo.5, estuda a coexisténcia de trabalho livre e escravo na formagio das tropas, aprofundando-se na anflise de todas as implicagdes que trazia para o "universo social do tropeiro". Tive oportunidade de acompanhar a elaboragio deste trabalho desde seu principio, pois nasceu de um projeto de pesquisa integrada sobre "Estado e sociedade na época da Independéncia: o papel dos comerciantes portugueses do Rio de Janeiro", que orientei no curso de pés-graduacgao do Departamento de Hist6ria da USP. Este projeto, financiado pela FAPESP, deu bons frutos, pois, juntamente com o presente trabalho de Alcir Lenharo € com ele estreitamente relacionados, vieram a lume duas outras teses de mestrado: a de Lenira Menezes Martinho sobre o papel politico dos caixeiros portugueses e a organizacao interna das ‘irmas comerciais, e o de Riva Gorenstein sobre 0 enraizamento dos negociantes portugueses de grosso trafo na Corte ena economia do Centro-Sul (ambos no prelo)*. Neste livro, Alcir Lenharo se propée analisar as implicagées sociais e politicas dos interesses ligados ao comércio de abastecimento da Corte e o seu papel no processo de centralizagio do poder politico e administrativo, em trés momentos ou etapas bem distintos: 0 primeiro, de iniciativa da propria Corte, € o da politica joanina de integragao e garantia do setor de abastecimento, feita através de uma série de medidas de incentivo, financiamentos, abertura de estradas, distribuicao de terras e de titulos honorificos. Foi a penetracdo dos comerciantes portugueses -pelo interior da provincia, seguindo os antigos caminhos do ouro. O segundo momento, grosso modo correspondente ao periodo do Primeiro Reinado, foi o da ascensdo social dos produtores mineiros, o de sua penetragdo na praca do Rio de Janeiro: € quando se definem os seus interesses politicos regionais, com 0 surto da imprensa local das cidades do Sul-de Minas, e o aparecimento de seus primeiros lideres politicos. Estes, apésa abdicagao de Pedro I, passam a ter uma atuagao mais significativa no cenario politico do Rio de Janeiro. Aderem aos liberais MARTINHO, LM. 1977; GORENSTEIN, R. 1978. Preficio moderados e procuram deslocar o centro de decisGes politicas do Pago, monopolizado por burocratas e comerciantes de origem portuguesa, para a Camara dos Deputados’. O terceiro momento focalizado pelo autor corresponde ao da fundagao do partido conservador e A politica centralizadora e escravocrata do "Regresso", quando se da a cooptacao destes novos setores emergentes pela antiga oligarquia do Pago, agora enriquecida pelo café e enraizada no Vale do Paraiba, Politica de abastecimento e construgao de Estado tém sido ultimamente objetos de alguns livros e de ensaios, entre os quais 0 de Charles Tilly sobre as crises de abastecimento e a manugen¢ao da ordem publica, no contexto do Antigo Regime europeu”. No Brasil, desde cedo as crises de abastecimento foram pretexto para intervengées da Coroa, fosse apenas na tentativa de organizar a produgdo, concentrando-a em determinadas areas do litoral baiano, a fim de garantir o abastecimento das frotas ou no sentido de permitir e de articular em momentos de crise mais aguda o socorro de uma capitania por outras; estas intervencdes das autoridades centrais também se faziam necess4rias por ocasiao de motins contra a carestia e novos impostos, que mascaravam, em geral, os motins de fome no Brasil colonial, como seria por exemplo em 1711 0 episédio do Maneta, na Bahia, ou a revolta de Pitangui em Minas, em 1720. As mesmas crises se reproduzem durante o Império com levantes de escravos na regido cafeeira e também no Nordeste, como seria 0 caso da Praieira, "Ronco do Abelha" e o "Quebra-Quilos"... As crises periédicas de abastecimento deram, pois, motivo para as primeiras intervencdes do poder central junto ao mandonismo local. Pode-se imaginar outras coordenadas com as quais trabalhar o problema da construgdo do Estado no Brasil, tais como a das presses externas, no sentido de integracdo do pais no liberalismo ocidental, apés 1822, ou da importagao das instituigdes politicas do colonialismo europeu. No entanto, uma das trilhas mais importantes a serem exploradas continua a ser 0 estudo dos momentos de cooptagéo do mandonismo local pelo poder central, que podem ser captados através de uma anilise da politica tibutaria do Império ou do estudo da politica de controle dos cargos piblicos, No caso do presente livro, 0 autor teve como principal preocupacdo articular, na andlise da politica integradora e centralizadora da Corte, aspectos varios como diversificagao das classes dominantes, participagdo politica, representacao, regionalismo econémico. Num estilo torturado e inquieto que lhe é peculiar, o autor sabe esmiugar nas particularidades as suas implicagdes mais amplas: é com esta sensibilidade de historiador social que explora 5 CASTRO, P-P. de. A experiéncia republicana: 1831-1840. In HOLANDA, $B. de. 1972. 6 TILLLY, Charles. The formation of national states in Western Europe. Princeton University Press, 1975. 10 Prefacio a sua documentagdo. Aproveita, por exemplo, um relato das localidades em que Pedro I se hospedou, durante uma viagem ao Vale do Paraiba, para reviver as figuras dos oligarcas do comércio da Corte, que iam obtendo sesmarias no interior e se enraizando na terra por aliancas de casamento com familias locais: Fernando Carneiro Ledo, Jacinto Nogueira da Gama, Paulo Fernandes Viana, Joao Rodrigues Pereira de Almeida. Com 0 mesmo cuidado e riqueza de pormenores localiza, na praca do Rio de Janeiro, os comerciantes intermedidrios dos produtores mineiros "instalados com armazéns na praia dos Mineiros e nas ruas do Sabao, Sado Pedro e das Violas, da rua Direita para baixo, por onde s6 em casos mui extraordin4rios transitam seges, carrocas". Ali compravam dos tropeiros os seus produtos para revendé-los em consignagdo, oferecendo facilidades de acesso ao mercado, pastagens, caixeiros, servigos de tropa. Com o mesmo culto pelo pormenor sugestivo, descreve cuidadosamente uma das primeiras firmas mineiras a se instalar na Corte. Traz também dados minuciosos sobre a natureza das fortunas dos capitalistas mineiros e o seu modo de operar, seja como credores e abastecedores das primeiras fazendas de café, como foi 0 caso dos Leite Ribeiro e Teixeira Leite de Sdo Joao del-Rei, ou ainda como traficantes de escravos. Analisaa organizac4o doméstica das firmas, os seus negécios enredados nas relagdes familiares, mais "a complementaridade entre fazenda, rancho, venda, pastagens, postos em servigo de modo integrado". Identifica alguns dos principais invernistas mineiros como Anténio Francisco de Azevedo, Francisco José Melo e Sousa ou José Custédio Dias, de Alfenas, que procuravam intervir na politica de abastecimento da Corte. Os primeiros sintomas da penetracdo dos produtores mineiros no mercado da Corte s4o pressentidos no jogo dos interesses regionais, que v4o se imiscuindo no cené4rio politico e na prépria politica central de abastecimento. Em 1828, Bernardo Pereira de Vasconcelos discursava no parlamento sobre a importancia de isentar produtores e tropeiros mineiros dos rigores do recrutamento militar, outros politicos, representantes de interesses mineiros como os padres José Custédio Dias e José Bento defendiam a liberalizacéo do comércio de abastecimento da carne... O préprio Evaristo da Veiga, em seu jornal Aurora Fluminense, tomava o partido de interesses monetarios regionais do Sul de Minas contra os bilhetes do Banco do Brasil, que queriam manter depreciados... Alcir Lenharo também recria o burburinho quotidiano das principais estradas de acesso a Corte, descrevendo ao lado dos “camaradas" as figuras dos "proprietérios-tropeiros", um pouco ambiguas na escala de valores da sociedade escravocrata do Império, porém bem caracteristicas de uma fase inicial de ascensao social dos produtores do Sul de Minas. Prefacio 11 Em 1818, vislumbra a passagem do tropeiro Narciso Antonio, que voltava do Rio com trés camaradas e cinco escravos, " de idade de 48 anos, estatura ordindria, olhos pardos, sobrancelhas delgadas". Encontra-o novamente em 1825, mais préspero, com 64 anos de idade, voltando do Rio pela estrada da Policia, acompanhado de 14 camaradas e levando 34 escravos novos para vender pelo caminho. Politica, valores ideolégicos e trama de negécios regionais comp6em este estudo que reconstréi, num estilo minucioso e colorido, peculiaridades originais da sociedade da Independéncia, trazendo para 0 leitor dados inéditos sobre um assunto pouco conhecido. S40 Paulo, 18 de marco de 1979 Maria Odila da Silva Dias Professora titular de Historia do Brasil Departamento de Histéria da FFLCH / USP A Zulmira, minha mae; a Madalena e Nivaldo, meus irmGos. A\s TROPAS pA MopEeRACAO (..) e s6 se fala com respeito da Casa de Braganga, mostrando todos o maior desejo de permanecerem unidos ao Rio de Janeiro, tnica ci- dade onde os cultivadores da regido acham escoadouro para as pro- dugdées de suas terras. August de Saint-Hilaire . INTRODUGAO +> . Os estudos hist6ricos relativos ao abastecimento urbano tém produ- zido algumas obras de cardter. monogr4fico que incidem especial- mente sobre o abastecimento das Gerais no século XVIII". Outros trabalhos, também monograficos, tém escolhido o ciclo do muar em Sao Paulo como tema de pesquisa, fornecendo subsidios para os estudos de abastecimento. Entre eles, O bardo de Iguape, de Maria Thereza Schérer Petrone, dimensiona as caracteristicas do mercado interno no Centro-Sul, tomando o Rio de Janeiro como o pélo orde- nador do fluxo de géneros de primeira necessidade’. Apareceram, recentemente, duas contripuigdes que alteram de modo substancial o panorama desses estudos”, Trata-se de duas obras que tomam o abastecimento como objeto de investigacao. Otexto de Maria Yedda Linhares estuda o abastecimento em longa dura¢ao, alinhavando-o com.a expansao da economia exportadora. Constitui uma estimulante incursdo pela histéria do abastecimento no Brasil, acompanhada de um grande esforco de periodizacao. Ja o livro de Katia Mattoso, além de estudar o abastecimento de Salvador como objeto em si, utiliza-o também como recurso meto- dolégico para pesquisar a geografia, a economia € a sociedade de Salvador e do Recéncavo. Trata-se, portanto, de um estudo que elege 0 abastecimento também como instrumento de percep¢ao e analise de outros niveis do real histérico. Algumas das caracteristicas evidenciadas nestes estudos apre- sentados também sao componentes do presente livro. Enfoca-se aqui, preferencialmente, a problemitica do abastecimento urbano. Estuda- se a estruturacdo dos meios de distribuig4o, nao se perdendo de vista o alcance das bases s6cio-econémicas da produ¢a4o e buscando-se recuperar a historicidade do fendmeno estudado. A especificidade deste livro procede do esforgo em analisar 0 abastecimento como uma. tematica politica. Escapando dos parametros da Hist6éria Econémica, buscou-se estudar a formagao de um setor social novo oriundo da produgio e distribuigao de géneros de primeira necessidade para 0 consumo interno. Mais que isso, procurou-se demonstrar 0 modo como este setor da classe proprietaria do Centro-Sul articulou-se politicamente em nivel regional e se projetou no espago da Corte. Tal movimento tomou impulso a partir da Independéncia, quando novos setores sociais perceberam alargadas as possibilidades de participagao. No caso dos representantes politicos do setor abastecedor, tiveram facili tada sua.caminhada rumo 4 Corte através da prépria pratica mercantil 19

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