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Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.

Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando
não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O
bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse
manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não
demais: mas pelo menos entender que não entendo."
— Clarice Lispector,em “A paixão segundo G.H”, Rio de Janeiro: Rocco, 2009.

"É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me
seja de novo a mentira de que vivo."
— Clarice Lispector, em “A paixão segundo G.H”, Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
"Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma ideia ou um sentimento e
eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às
vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não
se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. […] Deverei continuar a
acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E
também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que
tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um
impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei. "
— Clarice Lispector, em “Aprendendo a viver”. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.

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