Mem�rias P�stumas de Br�s Cubas, de 1881, � considerada a obra divisora de �guas
n�o s� da literatura brasileira, marcando o in�cio da est�tica realista, como tamb�m da literatura machadiana, pois estabelece a ruptura do escritor com os padr�es rom�nticos. Ao substituir a linearidade da narrativa, a prefer�ncia pela a��o e a leve caracteriza��o das personagens por uma l�gica independente da cronologia, que permite ao narrador viajar pelo tempo sem perder o rumo dos acontecimentos, torna poss�vel a inser��o de cuidadosas reflex�es em qualquer um dos cap�tulos, ou permite a condu��o dos acontecimentos sem ficar � merc� da necessidade de encadear os assuntos um ap�s outro. Por�m, a grande ruptura ocorre na prefer�ncia do autor n�o pelo enredo, mas pela caracteriza��o das personagens, analisadas atrav�s de seus aspectos comportamentais, isto �, atrav�s da postura que assumem diante dos acontecimentos e da sociedade em que vivem. A obra � narrada em primeira pessoa, por um morto que se prop�e analisar a si e aos outros. Come�a de sua morte e seu del�rio e num salto retorna � inf�ncia, relatando seus amores adolescentes pela prostituta espanhola Marcela, e a ruptura do caso amoroso, quando o pai decide envi�-lo � Europa. Seu envolvimento com Virg�lia, esposa de Lobo Neves, aborda o problema banal de um caso de adult�rio e � motivo de in�meras reflex�es do narrador. Importante tamb�m � a amizade do narrador com Quincas Borba, fil�sofo mentor da teoria do humanitismo, cuja s�ntese est� na frase: "Ao vencedor, as batatas". Nessa viagem que Br�s Cubas faz em torno de sua pr�pria vida, as constantes de Machado de Assis v�o sendo marcadas: pessimismo, ironia e humor, principalmente no �ltimo cap�tulo, quando afirma com profundo niilismo: "N�o transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa mis�ria".