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09/05/2018 Paulo e as "Obras da Lei" - Portal da Teologia | Portal da Teologia

Paulo e as “Obras da Lei”


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gamaliel April 13, 2018

Em algumas ocasiões nos escritos da Nova Aliança o apóstolo Paulo utiliza a expressão “obras
da lei” (carta aos Romanos cap. 03 e aos Gálatas cap. 02 e 03). Em todas essas citações a
expressão é usada negativamente, sendo algo a ser evitado por todo servo verdadeiro de Deus
através de Yeshua (Jesus). Porém, a má interpretação e a descontextualização dos textos
paulinos onde essa expressão é mencionada, gerou e tem gerado nos meios teológicos cristãos
(e também judaicos) um falso conceito que Paulo era contrário à Torá e a sua obediência. Tal
conceito errôneo gerou na teologia cristã uma pré-concepção ANTINOMISTA (anti-Lei ou anti-
Torá) e também ANTISSEMITA, onde todos os textos neo-testamentários são interpretados
partindo-se desse pressuposto. Não só isso, mas o meio judaico tradicional aceitou do
cristianismo a percepção e interpretação do fariseu Shaul (Paulo), gerando também no judaísmo
o falso conceito que Paulo foi contra a Torá e a guarda dos mandamentos. Além disso, uma
grande confusão surge quando confrontamos a interpretação cristã clássica de Paulo em relação
à Lei de Moisés, com alguns de seus ensinamentos sobre a Lei, tais como Rm 7:12-14, e outros.
Como ele pode dizer que a Lei é santa, espiritual e boa, e em outras passagens se referir a ela
como “maldição”? Teria ele se rebelado contra seu mestre e salvador (Yeshua), ao afirmar que a
lei foi abolida? (Pois Yeshua foi claro ao afirmar que: “não vim ABOLIR a Lei ou os profetas. Vim
torná-los plenos! – Mt 5:17). Teria sido o apóstolo Paulo acometido por algum tipo de
esquizofrenia ou bipolaridade? Certamente que não! O problema não está em Paulo, mas sim,
na forma de se LER Paulo.

A expressão “Obras da Lei” é mais antiga do que o próprio Paulo. Ela já foi utilizada pela
comunidade de Qumran quase dois séculos antes de Cristo, como atestam os pergaminhos do
Mar Morto descobertos no século passado. Em um dos rolos temos o título “Mikssát Maassêi ha
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Torá“, ou  “As importantes obras da Lei”. Devido a este nome, esse pergaminho é simplesmente
conhecido como “MMT ou 4QMMT”. Nele, há mais de 20 regras haláchquicas sobre purificação,
incluindo citações de mandamentos da Torá e principalmente INTERPRETAÇÕES e
COMPLEMENTOS de tais mandamentos Mosaicos. Há também regras que excluíam as oferendas
dos gentios e os próprios gentios de participarem das atividades do Templo em Jerusalém. O
estudo deste documento trouxe grande luz à interpretação do Apóstolo Paulo e seu
posicionamento em relação à Torá ou Lei de Moisés.

Fragmento do pergaminho 4QMMT, também


chamado de “Importantes Obras da Lei” –
Qumran – Israel, séc. II a.C.

Baseados no testemunho do próprio Paulo e


em alguns de seus discursos de defesa,
sabemos que ele não era contra os
mandamentos da Torá. Os próprios apóstolos,
em Jerusalém, dão um testemunho sólido e
irrefutável da conduta de Paulo em relação à
Lei de Moisés: “…e saberão todos que não é
verdade o que se diz a teu respeito (que pregas
contra a Lei) e que, pelo contrário, andas
também, tu mesmo, GUARDANDO a
lei.”(At 21:24). Já que Paulo não era contra a
Torá, como ele poderia ser contra as “Obras da
Torá”? Bem, com a leitura do antigo
documento judaico da seita do Mar Morto e
interpretando os ensinos de Paulo em seu
contexto original, concluímos que Paulo não
era contra a Torá ou a obediência a ela, mas
sim, contra as INTERPOLAÇÕES E
INTERPRETAÇÕES legalísticas que eram
contrários à própria Torá (os quais são
descritos no documento “Mikssat Maassêi ha
Torá“). Ao usar a expressão “Obras da Lei”,
Paulo refere-se a uma ideologia muito comum entre judeus e gentios simpatizantes do
judaísmo, a saber, que a simples obediência ao mandamento justificaria o praticante
perante Deus. Isso é também chamado de “legalismo”. O legalismo é a desobediência a Deus
utilizando-se para isso a própria Torá.

A guarda do mandamento, sem a Fé e o coração circunciso, não beneficia em nada ao homem.


Pelo contrário, afasta o homem de Deus ao passar a falsa ideia que a simples guarda do
mandamento (sem a correta kavaná – intenção do coração e fé) justifica o praticante. Esse é o
conteúdo da exortação divina através do profeta Isaías:

“De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? — diz o SENHOR. Estou farto dos
holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de
novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes.(…) Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para
mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das
congregações; não posso suportar INIQUIDADE associada ao ajuntamento solene. (…) Pelo que,
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quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações,
não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a
maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem;
atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das
viúvas.” (Is 1:11-17).

Nota-se que Deus não está sendo contrário a tais mandamentos, pois Ele mesmo os deu ao
povo como ESTATUTO PERPÉTUO, sendo mandamentos para a VIDA. (Dt 30:19-20). Porém,
apenas a prática de tais preceitos sem a busca por um coração circuncidado e com sede de
justiça, faz com que tal obediência não seja recebida por Deus. Na verdade, tal prática é
prejudicial ao homem. É isso que o próprio Paulo quer dizer quando usa a expressão “LETRA”,
referindo-se à cega obediência da Torá sem um estado interior e exterior  condizentes: “…o
qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito;
porque a letra mata, mas o espírito vivifica”. (2 Co 3:6). Assim, contrariando a interpretação
normativa cristã dessa passagem, Paulo não estava atestando que a Torá “mata” (pois estaria
condenando a si mesmo), mas sim, que a FORMA como a Torá é guardada e interpretada é que
pode roubar a vida do homem.

Portanto, a mesma Torá (Lei) que é benção para uns, pode ser maldição para outros:  “E o
mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte”
(Rm 7:10). Paulo aqui atesta que já fora escravo da LETRA e das “OBRAS DA LEI”, pois sua busca
pela pureza da religião e zelo pelas tradições endureceram-lhe e cegaram-lhe o coração,
impedindo-o discernir o Messias contido na própria Torá. Na verdade, a aceitação ou não da
obediência do homem em relação à Lei de Deus dependerá da fé e do estado do coração do
ofertante (Rm 2:28-29). A fé SEMPRE DEVE VIR ANTES do mandamento, e não o contrário (Rm
4:9-15). É como eu sempre digo: “Não obedeço para ser SALVO, obedeço pois SOU salvo.” Essa
frase expressa o contraste de MOTIVAÇÃO ao se obedecer a Deus.

No pergaminho MMT do Mar Morto, são ordenados exclusivamente os mandamentos e


interpretações de mandamentos sem nenhuma ênfase à mudança de atitude ou de um coração
correto diante de Deus. Além disso, são declaradas “halachôt” (dogmas) que humilhavam os
gentios e os afastavam do templo (como o tal ‘muro da separação’ que Paulo se refere em Ef
2:14). A essa “falsa obediência” e aos dogmas que afastavam os gentios do Reino de Deus, Paulo
deu o nome de “OBRAS DA LEI” ou simplesmente “LETRA”.

Paulo não poderia ser contra a obediência a Torá, pois usou seu próprio testemunho para
atestar o contrário (At 24:14, 25:8). Ele também atesta que a Lei é espiritual e boa, e o
mandamento, santo, justo e bom (Rm 7:12-14). Não é a Torá o problema, mas sim, o LUGAR
onde a mesma está escrita. Na chamada NOVA ALIANÇA, Deus utiliza a obra de Seu ungido para
escrever a LEI (Torá) no coração do Seu povo (Jr 31:31). Assim, todo servo do Deus de Israel e
discípulo de Yeshua deve fazer a si mesmo a seguinte pergunta: Onde está a Lei de Deus na
minha vida? Ou ela ainda está em pedras, longe e externa à minha natureza, ou está escrita em
meu coração, sendo parte da minha natureza. Quem tem ouvidos… ouça!

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