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SUSTENTABILIDADE 2 eséngraxante VERD uma REALIDADE | Jonathan Melo Bergamasehi Quando falamos em desen- ‘graxe industrial, j@ pensamos fem superficies com contami nantes indesejados para a con tinuacao do processo produti vo, € que s3o dificels de serem completamente limpas. Geralmente, essa “suja” eta- a, 80 importante no pro- cess0, & alocada ld no fundo das fébricas, onde os odores ‘ou sensacdes térmicas possam ser confinades. Desde pecas metélicas ou plisticas desengraxadas em bateladas ou em linhas con ‘inuas até nas grandes chapas ‘estampadas ou usinadas é de ‘grande importancia estarem ‘completamente limpas para as préximas etapas da producio, por exemplo, tratamentos superficiais de protecdo e/ou pintura, Particularmente, @ galvanoplastia ¢ muito sensive a limpeza das pe¢as, pois mesmo uma camada molecular de dleos, graxas ou gor- duras (como as das ma0s dos operérios) pode prejudicar 2 aderéncia do revestimento, Assim, podemos imaginar que a etapa de desengraxe 6 um legitimo caso onde apenas os produtos quimicos “malfeitores", aqueles chamados inimigos da natureza, s80 capazes de atuar. Entretanto, com a engenharia de processo industrial mundial estando em um patamar to desenvolvide, @ a pesquisa em quimica aplicada ser to difundida nos centros académicos @ teenolégicos, no ‘eriamos, entdo, uma solugio viavel menos agressiva 20 desengraxe? Deixemos para discutir essa pergunta mais a frente, Agencias nacionais ¢ internacionais de protecso ambi- ental e de seguranca a sadide humana recomendam a substituicdo de desengraxantes, detergentes ou qual tans aie 8 ‘quer produto que cause efei ‘0s adversos a saiide humana ‘ou a0 meio ambiente por produtes de baixo impacto. Um dos grandes objetivos da ONY (Organizagao das Nacdes Unidas) escother 2011 como o {Ano Internacional da Quimica (AlQ) é exatamente incentivar estas recomendacées a se tor- narem realidade, Especificamente para 0 caso de desengraxantes, desde 0 final do século xx salventes corganicos clorados, como 0 ‘rieloroetileno, que apresen- tam problemas de destruigio da camada de o26nio, vem sendo substituides por desen- graxantes aquosos [1]. Tam- bém leis de proibiglo e/ou restri¢ao de produgéo, bem como do comérci, dificultam a operacionalidade destes solventes. ‘As desvantagens deste tipo de desengraxante esto diretamente relacionadas & sade, 3 seguranca @ problemas ambientais associados aos. solventes utilizados. A maioria dos solventes clorados ¢ suspeita de sor cancerigeno @ tem limitado a exposicao do ‘operador 205 produtos altamente controlados pela (OSHA (Occupational Safety and Health Administration) ‘Também a Enverinmental Protection Agency (EPA) vern depositando restrigdes sistemsticas ao uso de solventes clorados (2. Encorajados por politicas governamentais © pesquisas com financiamento de érgios publices, tais como a cita: da EPA, 0s desengraxantes clorados estao cedendo lugar para os desengraxantes aquosos. Dentre os principals desengraxantes aquosos, os que possuem mais destaque sdo 05 desengraxantes alcalinos e, mais recentemente, 0s desengraxantes terpénicos, Discutamos primero os desengraxantes alcalinos: 0 pro- cesso de desengraxe industrial aquoso alcalino utiliza ha décadas 0 mesmo principio elucidado pelo quimico francs Michel Chevreul no século X0X, saponificacio de {le0s por alcali Estas reacées de saponificacao, além de utilizarem solucoes de altissimo pH (11-13), ecorrem, geralmente, em altas temperaturas, cerca de 60-80°C, Estas solugdes alcalinas, se nao tratadas adequadamente fem estagbes de tratamento de efluentes, s80 muito agressivas ao meio ambiente. Como dito, © pH destes desengroxantes 6 extremamente basico, o que prejudice (05 ecossistemas, Além disso, por serem aquosos trabalharem a temperaturas proximas a da ebuligio da gua (100°C a tatm), 2 presenca de vapores superaquecides no ambiente de trabalho € muito alta, © que apresenta riscos de queimadura e alto grau de irrtabllidade da pele ¢ de mucosas dos operadores: ‘Alem disso, esses vapores so altamente prejudiciais 20 sistema respiratorio, geralmente, os operdrios usam méscaras improprias ou simplesmente no as usam. Recentemente, em um estudo sueco, publicado pela Thaindian News, sobre les6es profisionais, além das ‘observacbes de lesdes profissionais em operdrios de metalirgicas expostos a um desengraxante alcalino, descobriu que os vapores destas substancias de altos valores de pH também podem destruir partes do teor de matéria organica dos dentes ‘Outra desvantagem do uso de desengraxante alcaline festd relacionada as lentas intervencées no sistema, Dependendo do volume do tanque de desengraxe, tempo para esfriar ¢ reaquecer a solusao, por exemplo, para uma manutencio ou emergéncia, pode chegar a 8 hhoras. Em um sistema a frio, essas intervencoes seriam imediatas. Deste modo, 2 soluctc ideal para diminuicao dos problemas apresentades seria um produto biodegra davel, obtido de fontes naturais e renovaveis e que ‘rabalhasse em temperatura ambiente, Com isso, a temperatura da regido proxima ao desengraxe e da ‘abrica em geral seria diminuida, proporcionando menor Indice de iritabilidade © menor risco de quelmaduras. Essa solugao existe e ja € uma realidade na indiistria brasileira: s8o 0s desengraxantes terpénicos, conhecidos como “desengraxantes verdes”. s terpenos sao alternativas para solventes clorados alcalinos, pois nao so agressives ao meio ambiente 1n30 exister relatos de doencas ocupacionais causadas por terpenes. Eles so os principais constituintes dos eos essenciais, misturas de compostos extraldos de fontes naturais. Estes dleos, por exemplo, 0 dleo de limao, tém sido usados por séculos na limpeza e emulsi- ficagao de sujidades de ambientes. 0s desengraxantes terpénicos, geralmente extraidos de citricos, apresentam um odor caracteristico, suave © agradavel. $80 ecoeficientes, minimizam os riscos de poluigo ambiental, promovendo bem-estar dos funcionarios envolvides com a pracesso, que nde ficam expostos a temperaturas elevadas nas. proximidades dos tanques de desengraxe. Tembém, trabalhando fem temperatura ambiente, 0 ar da fabrica passa a ser mais fresco, diminuindo © desconforto, reduzindo 0 absentelsmo @ permitindo intervencdes imediatas no sistema, Nao existem indicios ou relatos de irritagao da pele causada por desengraxamtes terpénicos. Do mesmo modo, no existem evidéncias, em humanos, de toxicidade e de atividade carcinogénica por acao dos terpenas, Pelo contrario, ha estudos que avaliam os seus efeitos anticancerigenos [3]. Nos Estados Unidos, 2 maioria deles € definida como nao-t6xica pelo TSCA (Toxic Substance Control Act) ¢ pela Agencia Internacional de Pesquisa de Cancer, € o NTP (National Toxicology Program) n30 0s lista como cancerigenos [4]. FDA (Food and Drug Administration) lista 0 d-limeneno, principal componente das misturas terpénicas como GRAS (Gener uso na alimentagao humana, por apresentar baixa ou ly recognized as safe), iberando-o para enhuma tox de. Também no so listados no EPA como perigosos ou toxicos. A eliminac3o da energia para aquecer a solucao do desengraxante terpénico 86 & permitida devido a sua alta capacidade de solvancia. Mesmo em concentracbes baixas os terpenos agem emulsificando os mais abran- ‘gentes tipos de dleas e graxas. Outra propriedade con: veniente dos desengraxantes terpénicos € a eficiente separacdo Agua/dleo apds © desengraxe, pois, como dito, © dleo nao é saponificad e, sim, emulsionado. Além disso, devido ao efluente gerado ser biodegra- davel, este pode ser tratado biologicamente. Somando a vantagem de ser uma solucso de pH neutro, o efluente 6 mn Ste 18 6 passivel de tratamentos tradicionais em ETE’s, onde se utilizam sais de aluminio ou ferro, cal ¢ floculantes. Hoje, industrias brasileias e multinacionais vem im: plantando essa “soluggo verde" @ cada vez mais in- corporando 0 conceito de sustentabilidade. uma das solugbes adotadas ¢ a modificacao de terpenos e terpendides. Fsta mistura de terpenos modificados per- mite obter fragbes com alta eficiéncia no proceso de desengraxe © maior reutilizacdo das solucoes quando comparado com desengraxantes similares do mercado, ‘Assim, o desengraxante terpénico ¢ uma realidade e vem se apresentando como uma solucao simples, econémica cesustentavel na substituigao do desengraxante alcalino. ‘Além dos. positives impactos socioambientais, esta substituigao € mais que uma solucao eficaz, ¢ uma alternativa para reducso do consumo de energia -geracao de créditos de carbono, REFERENCIAS, [1] Alvarez, FR, Shaul 6M, Krishnan, ER, Perrin, DLL ‘@ Rahman Mt. Fate of Terpene Compounds in Activated Sludge Wastewater Treatment Systems; Journal of the Air & Waste Management Association., 6, 734-739, (1999); [2 1 Lavoug, J, Bégin, D. © Gérin, My Technical ccupation Health and Environmental Aspects of Metal Degreasing with Aqueous Cleaners; riish Occupational Hygiene Society, 47, 441-459, (2003); BB] Elson, C; Maltzman, T; Boston, 1; Tanner, M.e Gould, M; Anti-carcinogenie activity of dlimonene during the initiation and promotion/progression stages of DMBA. induced rat mammary carcinogenesis; Carcinagenesis 9, 331-232 (1987); [4] Missick P, Health and safety Impacts of citrus: based terpenes in printed circuit board cleaning; The ‘Massachusetts Toxics Use Reduction Institute, University fof Massachusetts Lowell, Technical Report n° 6, 1993; Jonathan Melo Be Integrante da equipe do Laboratério de Pesquisa © Dosenvolvimento da ODC Indstria Comercio de Insuinos Naturais Lida jonathan@odesnet.be

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