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Aes Crrstituirtes de 1988 Asumbleia Theionck Constituinte Prasbia -DFE LF-_ FX EF SE ~~ Bw ~RBZ_ a 2a Bo BC BC BD BH Bw BA |B DOACAO CNDM - Conseino Nacional dos Dreitos da Mulher ‘Ministero da Jusica - Edtici Sede sala 458 - Esplanada dos Ministéros CEP: 70064 -Brasiha - DF - Tel. 061) 226-8015." 122 ¢ 224-3448 > Sa, >, Sa & O.Consette scion Carta das ae -onselho Nacional dos Direitos da 4 & & & & & & ih Mulheres her, em vembro de 1985, lancou a Campanha Mi Constituinte. Desde entao, o CNDM percorr ouviu as mulheres brasileiras e ampliou os canais de comunicagao entre o movimento social e os mecanismos de deciséo politica, buscando fontes de inspiragao para a nova legalidade que se quer agora. Nessa Campanha, uma certeza consolidou-s CONSTITUINTE PRA VALER TEM QUE TER PALAVRA DE MULHER. Parands, mulheres, 0 exercicio pleno da cidadania significa, sim, o direito a representacao, a voz 4 vez na vida publica, mas implica, a0 mesmo tempo, a dignidade na vida cotidiana, que a lei pode inspirar e deve assegurar, 0 direito a educacao, 4 saude, 4 seguranga, a vivéncia familiar sem trauma: O voto das mulheres traz consigo essa dupla exigéncia: um sistema politico igualitério e uma vida civil nao autoritari Nos, mulheres, estamos conscientes que este pais 80 serd verdadeiramente democratico e seus cidadaos e cidadas verdadeiramente livres quando, sem prejuizo de sexo, ra¢a, cor, classe, orientacao sexual, credo politico ou religioso, condi¢ao fisica ou idade, for garantido igual tratamento e igual oportunidade de acesso as ruas, palanques, oficinas, fabricas, escritorios, assemblelas e palacios. Nesse importante momento, em que toda a sociedade se mobiliza para uma reconstituicao de seus ordenamentos, gostariamos de lembrar, para que ndo se repita, o que mulheres jd disseram no passado: "Se nao for dada a devida atencao as mulheres, estamos decididas a fomentar uma rebeliao, endo nos sentiremos obrigadas a cumprir leis para as quais ndo tivemos voz nem representacéo” (Abigail Adams, 1776). Hoje, dois séculos apés estas palavras, no momento em que a sociedade brasileira se volta para mulheres, maioria ainda discriminada, exigimos tra. tamento especial a causa que defendemos. Confiamos que os constituintes brasileiros, mulheres e homens, sobre os quais pesa a grande responsabilidade de refletir as aspiracdes de um povo sofrido e ansioso por melhores condi¢des de vida, incorporem as propostas desta histérica Campanha do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Eis o que nés, mulheres, reunidas num Encontro Nacional, no dia 26 de agosto de 1986, queremos: | - Principios gerais Para a efetivagao do principio de igualdade 6 fundamental que a futura Constituigao Brasileira: + - Estabelega preceito que revogue automaticamente 1t6das as disposi¢des legais que impliquem em classificagdes discriminatérias; 2 - Determine que a afronta ao principio de iqualdade constituird crime inafiangavel; 3 - Acate, sem reservas, as convengdes e tratados interacionais de que o pais é signatario, no que diz respeito & eliminagao de todas as formas de diseriminagao; 4-- Oreconhecimento da titularidade do direito de agao aos movimentos sociais organizados, sindicatos, associagdes e entidades da sociedade civil, na defesa dos, interesses coletivos. Leis complementares e demais normas deverao gerantira aplicabilidade desse principio. il - Reivindicagées especificas Familia ‘Anova Constituigéo deveré inspirar diversas mudangas na lagislagao civil, estabelecendo: 1 - Aplena igualdade entre os cdnjuges no que diz respeito aos direitos e deveres quanto a direcao da sociedade conjugal, a administracdo dos bens do casal, a responsabllidade em relagao aos filhos, & fixagdo do domicilio da familia, a0 patrio poder; 2- Aplena igualdade entre o casal no que concerne a0 registro de filhos; 3- Aplena igualdade entre os fihos nao importando ovinculo existente entre os pais; 4- Aprotecdo da familia, seja ela institufda civil ou naturalmente, 5 - Acesso da mulher rural a titularidade de terras em Planos de Reforma Agrdiria qualquer que seja seu estado civil 6 - Amaternidade e a paternidade constituem valores sociais fundamentais, devendo o Estado assegurar os mecanismos do seu desempenhno; 7 - Aleicoibird a violéncia na constancia das relagdes familiares, bem como o abandono dos filhos menores. Trabalho A legislagao trabalhista usando por base o principio constitucional de isonomia deve garantir: 1 - Salério igual para trabalho igual; 2 - Iqualdade no avesso ao mercado de trabalho ena ascensdo profissional; 3 - Extensdo dos direitos trabalhistas e previdenciérios de forma plena as empregadas domésticas @ as trabalhadoras rurais; 4 - Iqualdade de tratamento previdenciadrio entre homens e mulheres, devendo ser principio orientador da legislagao trabalhista a protegao & materidade e ao aleitamento atraves de medidas como: ~ a garantia do emprego & mulher gestante; ~ extenséo do direito a creche no local de trabalho e moradia para as criangas de 0 a6 anos, filhos de mulheres e homens trabalhacores; 5 - Estabilidade para a mulher gestante; 6 - Licenga ao pal nos periodos natal e pés-natal 7.- Licenga especial as pessoas no momento da adogao, sem prejuizo do emprego e do salario, independentemente da idade do adotado; 8 - Protecéo a velhice com integralidade salarial em casos de aposentadoria ou pensao por morte; 9 - Eliminagao do limite de idade para prestagao de concursos publicos; 10 - Direito do marido ou companheito a usutruir dos beneficios previdenciarios decorrentes da contribuigio da esposa ou companheira; 11 - Extensao dos direitos previdenciarios dos trabalhadores urbanos aos trabalhadores rurais, homens emulheres. 12 - Direito de aposentadoria especial aos trabalhadores rurais: 50 anos de idade para as mulheres 55 anos para os homens, bem como aposentadoria por tempo de servigo aos 25 anos para as mulheres e 30 para ‘os homens, com salario integral; 13 - Direito de sindicalizagao para os funcionarios publicos; 14 - Salério familia compativel com a realidade, ‘extensivo aos menores de 18 anos. Saude 1 - O principio "a satide é um direito de todos e dever do Estado", na especificidade “mulher’, deve garantir que as aces de satide prestadas a populago sejam entendidas como atos de co-participagao entre todos 0 Estado, envolvendo direitos e deveres de ambos. 1.1 - Criagao de um Sistema Unico de Saude constituido a partir de uma nova politica nacional de satide e implementado por servicas ptiblicos de saude coletiva e assisténcia médica integrados; submetendo-se 08 servicos privados as diretrizes e controle do Estado; 1.2- O Sistema Unico de Satide deve ser gerido efiscalizad ela populacdo organizada, que, através de Conselhos Comunitarios, deverd participar das decisoes sobre Programas ¢ Financiamentos. 2.- Garantia de Assisténcia Integral a Saude da Mulher em todas as fases da sua vida, independentemente de sua condicao biolégica de procriadora, através de programas governamentais discutidos, implementados e controlados com a participagao das mulheres. 3 - Proibigéo de toda e qualquer experimentago. com mulheres ¢ homens de substancias, drogas, meios anticoncepcionais que atentem contra a salide e nao sejam de pleno conhecimento dos usuérios nem fiscalizados pelo poder publico e a populacao. 3.1 - Fiscalizagao da producdo, venda, distribuicao e comercializagao de meios quimicos e hormonais de contracepgao, proibindo a comercializagao de drogas em fase de experimentagao por empresas nacionais ou multinacionais. 4 - Garantia a todos os cidadaos, homens e mulheres, contribuintes ou sujeitos de direito, da igualdade de tratamento em todas as ages da Previdéncia Social. 5 - Sera vedada ao Estado e as entidades nacionais e estrangeiras toda e qualquer aco impositiva que interfira no exercicio da sexualidade. Da mesma forma, serd vedada a0 Estado e as entidades nacionais e estrangeiras, publicas ou privadas, promover o controle da netalidade. 6 - Sera garantido a mulher o direito de conhecer e decidir sobre seu préprio corpo. 7 - Sera garantido & mulher o direito de amamentar seus filhos a0 seio. 8 - O Estado reconhecera a maternidade e & paternidade relevante fungao social, garantindo aos pais ‘os meios necessérios a educagao, creche, satide, alimentagao e seguranca de seus lilhos. 9 - Garantia de livre op¢ao pela matemidade, compreendendo-se tanto a assisténcia ao pré-natal, parto e pés:parto, como o ditelto de evitar ou interromper a gravidez sem prejuizo para a satide da mulher. 10 - E dever do Estado oferecer condigdes de acesso gfatuito aos métodos anticoncepcionais, usando metodologia educativa para esclarecer os resultados, indicagées, contra-indicagdes, vantagens desvantagens, alargando a possibilidade de escolha adequada a individualidade de cada mulher e, 20 momento especifico, de sua historia de vida. Educag¢éo e Cultura 1 - Aeducacao, direito de todos e dever do Estado, visa ao pleno desenvolvimento da pessoa, dentro dos ideais de defesa da democracia, do aprimoramento dos direitos humanos, da liberdade e da convivéncia solidaria. 1.1 - A educagéio dara énfase a igualdade dos sexos, alluta contra o racismo e todas as formas de discriminagao, afirmando as caracteristicas multiculturais multiaciais do povo brasileiro; 1.2 - O ensino da histéria da Atrica e da cultura afro-brasileira devera ser obrigatorio desde a educacao basica. 2- A educerdo é prioridade nacional e cabe ao Estado resp unsabllizar-se para que seja universal publica, gratuita, em todos os niveis e periodos, desde ‘ primeiro ano da crianca. 2.1 - E dever do Estado combater o analfabetismo. 3 - Os recursos puiblicos deverdo destinar-se exclusivamente & escola publica, objetivando a qualidade do ensino, sua expansao e manutengao. 3.1 - Cabe ao Estado atengo especial & formacao dos agentes da educacao e as condigdes em que exerce seu trabalho visando & qualidade do ensino, 4 - O Estado deverd dar atengao especial aos alunos portadores de deficiéncias fisicas ou mentais. 5 - Caberd ao Estado garantir o acesso da mulher, rural e urbana, a cursos de formacao, reciclagem e atualizacao profissional. 6 - E dever do Estado zelar para que a educacao e os meios de comunicagao estejam a servigo de uma cultura igualitaria. 6.1 - O Estado garantiré perante a sociedade imagem social da mulher, como trabalhadora, mae e cidada responsavel pelas destinos da nacao, em igualdade de condigdes como homem, independentemente da origem étnico-racial. 7 - O Estado assegurara a liberdade de pensamento e expresso; a liberdade de produgao, distribuic&o e divulgago do produto cultural pelos meios de Comunicacao social, desde que nao veiculem preconceitos e esteredtipos discriminatérios. 8 - Deverdo ser incorporados aos estudos ¢ estatisticas oficiais dados relativos a sexo, raga e cor. Violéncia 1- Criminalizagao de quaisquer atos que envolvam agressées fisicas, psicologicas ou sexuais & mulher, fora e dentro do lar 2- Consideragao do crime sexual como “crime contra a pessoa" € nao como “crime contra os costumes’, independentemente de sexo, orientacao sexual, raca, idade, credo religioso, ocupagao, condigao fisica ou mental ou convicgao politica. 3 - Considerar como estupro qualquer ato ou relagao sexual forgada, independente do relacionamento do agressor com a vitima, de ser esta Ultima virgem ‘ou nao e do local em que ocorra. 4 - Aleinao dara tratamento nem prevera penalidade diferenciados aos crimes de estupro e atentado violento ‘@o pudor. 5 - Sera eliminada da lei a expressao “mulher honesta’ 6 - Sera garantida pelo Estado a assisténcia médica, Juridica, sociale psicol6gica a todas as vitimas de violencia, 7 - Sera punido 0 explorador ou exploradora sexual da mulher e todo aquele que a induzir & prostituigao. 8 - Sera retirado da lei o crime de adultério, 9 - Seré responsabilidade do Estado a criagéo e manutengéo de albergues para mulheres ameacadas de morte, bem como 0 auxilio a sua subsisténcia e de seus filhos. 10 - A comprovagao de conjungao carnal em caso de estupro podera realizat-se mediante laudo emitido por qualquer médico, da rede publica ou privada. 11 - Amuther tera plena autonomia para registrar queixas, independentemente da autorizagao do marido. 12 - Criagao de Delegacias Especializadas no atendimento a mulher em todos os municipios do pals, mesmo naqueles nos quais nao se disponha de uma delegada mulher. Questées Nacionais e Internacionais 1 - Garantia de integracao ao texto constitucional dos Tratados e Convengées Internacionais, dos quais 0 Brasil 6 subscritor, que consagrem os direitos fundamentais, humanos e sociais, entre os quais os que proibem tratamento discriminatério, com exigibilidade do seu cumprimento. 2 Reforma agréria com a distribuicao de terra aos que nela trabalham, com a garantia de assisténcia técnica e crédito necessarios. 3 - Soberania na negociacao da divida externa, resguardando os interesses nacionais e do povo brasileiro. 4 - Reforma tributéria de forma a beneficiar os municfpios. 5 - Liberdade e autonomia sindicais. € - Direito de greve extensivo a todas as categorias profissionais: 7 - Politica responsével de protegao ao meio ambiente. 8 - Politica de desenvolvimento tecnolégico com a preservacao do meio ambiente e da soberania nacional 9 - Definigao de uma politica que mantenha alintegridade das populagdes indigenas, impedindo ‘© genocicio a que vam sendo submetidas. 10 - Democratizacao do Estado e das instituigdes, mediante revogacao da Lei de Seguranca Nacional ede toda a legislacao repressiva, 11 - Acesso &s fichas de informagao individual mantidas pelos érgaos de informacao do governo. 12 - Paz nas relagdes internacionais, apoio as manifestagdes contra corrida armamentista e impedimento & experimentagao nuclear no Brasil 13 - Politica externa baseada no principio de autodeterminacao dos povos e de nao ingeréncia, vedada qualquer participagao em agressdes externas, salvo para a detesa do territdrio nacional 14 - Politica de nao relacionamento de qualquer espécie com paises que praticam o preconceito racial 15 - Respeito ao principio de independéncia entre os trés poderes: Legislative, Executivo e Judiciario, buscando-se o principio de que todo 0 poder emana do povo. CONSTITUINTE PRA VALER TEM QUE TER DIREITOS. DAMULHER.

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