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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas


Tópicos de Pesquisa em Estética, Crítica e
História das Artes Cênicas

A Exposição Ma - Espace-Temps du Japon:


Um olhar culturalista.
Almando Storck Junior

Ouro Preto/MG
Abril/2018
INTRODUÇÃO

DESENVOLVIMENTO

A exposição Ma: Espace-Temps du Japon, realizada em Paris no ano de 1978 (Figura


1), teve como origem uma sugestão do secretário da Embaixada da França no Japão, para
realização de um evento sobre o “espaço japonês”. Essa iniciativa afinava-se com a política
adotada pelo Ministro da Cultura da França da época,
Michel Guy, de fomentar culturalmente Paris no momento
em que o seu lugar de centro irradiador da cultura estava
sendo ameaçado pela cidade de Nova York. Incluída nessa
estratégia, estava a construção do Centro George Pompidou.
Para o lado japonês, com o país em franco desenvolvimento,
era a oportunidade de mostrar um Japão moderno. Deve-se
lembrar de que as exposições do Japão realizadas no
Ocidente tinham, até então, a arte tradicional japonesa como Figura 2 - Cartilha para expectadores.
.
temática, representada por elementos como kimono, kataná (espada), xilogravuras do Monte
Fuji, leques e gueixas, que haviam atraído fortemente os ocidentais, sobretudo na fase do
impressionismo. Os organizadores do evento sentiram uma necessidade de mostrar o Japão
moderno do pós-guerra, afastado dos estereótipos criados no passado. A exposição trouxe, por
um lado, o interesse dos ocidentais no tema e o consequente surgimento de pesquisadores sobre
o assunto e, por outro, a consciência japonesa da necessidade de explicar o que é o Ma. Em
razão disso, houve várias tentativas de verbalizar o que é o Ma por parte dos próprios japoneses,
em universos distintos, como arquitetura, música, dança ou arte (OKANO 2017, p.153). O
objetivo do evento era apresentar o Ma como uma característica da cultura japonesa, de modo
compreensível para o olhar regido pela lógica
ocidental. Para os japoneses, Ma é um modus
operandi vivo no seu cotidiano, apresentando-
se em todos os aspectos da sua cultura, de
maneira que a construção do conhecimento a
respeito do Ma se faz mais pela percepção que
pela razão, não havendo explicações lógicas
Figura 1 – Um dos espaços da exposição. sobre o assunto. O próprio Isozaki reconhece
que esse novo olhar, pelo qual foi organizada a exposição de Paris, é uma reconstrução de
elementos nipônicos, desconhecida até então pelos japoneses. A exposição constituiu, dessa
forma, um exemplo de desenvolvimento de algo novo por meio do confronto entre um tema
japonês e olhar ocidental, ou seja, do modo de “querer ver” de um olhar extraposto, que traz
como consequência um “significado em estado de maior completude” (OKANO 2007, p. 25).
O ma é uma tradição na cultura nipônica, porém muitas vezes é confundida como um
costume. Uma das características das tradições é a invariabilidade, ou seja, da imutabilidade,
daquilo que não pode variar; o passado, real ou forjado, a que elas se referem impõem práticas
fixas, como a repetição. Os costumes têm a dupla função de motor e volante, não impede as
inovações e pode mudar até certo ponto, seu lugar nas relações é de dar a qualquer mudança
desejada a confirmação da tradição, continuidade histórica e direitos naturais (HOBSBAWN,
p. 10). Porém a ideia de repetição dentro da tradição japonesa não teria a mesma função no
ocidente, ou seja, no intuito de copiar algo ou alguém, mas com o intuito de manutenção do
belo, o oriente reconhece a experiência estética como mais intuitiva e perceptiva do que racional
e lógica, e que buscar uma ordem, linearidade ou lógica pode ser limitante e, até mesmo, falso.
Talvez a estética, na vida tradicional japonesa, fosse algo tão natural e dominante que a tentativa
de definição seria desnecessária (SINZATO, p. 106).
O filósofo palestino Edward Said, cunhou o termo orientalismo para tratar da visão
ocidental sobre o oriente, e como, segunda a ótica do discurso de Foucault, o olhar ocidental
ainda impõe poder sobre demais culturas, pois sem examinar o orientalismo como um discurso,
não se pode entender a disciplina enormemente sistemática por meio da qual a cultura europeia
conseguiu administrar - e até produzir - o Oriente política, sociológica, ideológica, científica e
imaginativamente durante o período pós-iluminismo (SAID, p.15).

[...] o orientalismo depende. para a sua estratégia, dessa superioridade posicional flexível, que
põe o ocidental em toda urna série relações possíveis com o Oriente, sem que ele perca jamais
a vantagem relativa (SAID, p.19)

(a exclusão do extremo oriente da ótica do orientalismo, p. 28)

Hay los Orientes y los Occidentes... Se trata de hecho de ver cómo reaccionan los orientales y
los occidentales frente a las mismas nociones: cómo reaccionan en práctica, en el área del
“performativo”. Esto es muy revelador1 (GROTOWSKI, p. 63).

1
Existem os Orientes e os Ocidentes... É uma questão de ver como o Oriente e o Ocidente reagem as mesmas
noções: como reagem na prática, na área do "performativo". Isso é muito revelador.
CONCLUSÃO
REFERENCIAS

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