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1 - SCHENEIDER & SCHMITT - O Uso Do Método Comparativo Nas Ciências Sociais
1 - SCHENEIDER & SCHMITT - O Uso Do Método Comparativo Nas Ciências Sociais
In icia lm en te, p r ocu r a r em os r efletir a cer ca d a s r ela ções exis ten tes en tr e a
com p a r a çã o e a exp lica çã o s ociológica em a lgu m a s d a s a b or d a gen s clá s s ica s d a
s ociologia (Com te, Du r k h eim e Web er ). Pr op om os , a s egu ir , u m b r eve r oteir o d e
qu es tões r ela tiva s à op er a cion a liza çã o d o m étod o com p a r a tivo. Por fim ,
d is cu tir em os u m exem p lo con cr eto d e a p lica çã o d o m étod o com p a r a tivo,
tom a n d o com o r efer ên cia a ob r a d e Ba r r igton Moor e J r ., “As origen s s ociais d a
ditadura e da democracia”.
Atribui-s e a Com te, com ju s tiça , a or igem d a S ociologia ou Fís ica S ocia l,
com o ele m es m o p r efer iu ch a m a r a ciên cia in cu m b id a d e es tu d a r os fen ôm en os
s ocia is . As con s id er a ções qu e s e s egu em b u s ca m r ecu p er a r s u a s for m u la ções
a cer ca d a Fís ica S ocia l, s eu ca m p o d e es tu d os e m etod ologia d e in ves tiga çã o,
d a n d o es p ecia l a ten çã o à s p r op os ições d o a u tor a cer ca d o u s o d a com p a r a çã o n a
análise sociológica.
3 . Durante muitos anos Comte foi um dos principais discípulosde Saint Simon.
4 . Com t e d efin e a Fís ica S ocia l com o s en d o “…a ciên cia qu e tem por objetivo próprio o es tu d o d os
fen ôm en os s ociais , con s id erad os com o m es m o es pírito qu e os fen ôm en os as tron ôm icos , fís icos ,
qu ím icos e fis iológicos , is to é, com o realid ad es s u bm etid as a leis n atu rais in variáveis ...”. Boa p a r t e
d a s cit a ções u t iliza d a s n es s a s eçã o d es s e a r t igo for a m r et ir a d a s d a ob r a “Cu rs o d e Filos ofia
Positiva” d e Com t e. Pa r a fa cilit a r o a ces s o d o leit or a es s e m a t er ia l for n ecem os a qu i, s em p r e qu e
p os s ível, a p a gin a çã o u t iliza d a n a colet â n ea or ga n iza d a p or E va r is t o d e Mor a es Filh o. Ver :
MORAE S FILHO, E va r is t o (or g). Comte: s ociologia . S ã o Pa u lo: Át ica , 1 9 8 3 . Pa r a a qu eles t r ech os d a
ob r a n ã o in clu íd os n o volu m e or ga n iza d o p or Mor a es Filh o, r ecor r em os à cit a çã o d o t ext o or igin a l
de Comte. Ver: COMTE, A. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
5 . Ver: MORAES FILHO, op. cit., p. 64.
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Ain d a n o qu e s e r efer e a o m étod o, Com te n os for n ece d ois cor olá r ios
fu n d a m en ta is a es te p r in cíp io lógico-ind u tivo a n ter ior m en te exp os to: (i) d eve-se
a fa s ta r a s ca u s a s en qu a n to p r eocu p a çã o d a Fís ica S ocia l e, (ii) b u s ca r n o m étod o
histórico, através da filiação gradual, o complemento lógico ao positivismo. Quanto
a o p r im eir o cor olá r io, Com te a fa s tou d e s u a s p r eocu p a ções a b u s ca das
ca u s a lid a d es (p r in cíp io fu n d a m en ta l d o p en s a m en to d e Du r k h eim ). Pa r a ele, o
ob jetivo d a Filos ofia Pos itiva er a o d e s u b m eter os fen ôm en os à leis in va r iá veis e
não procurar suas causas, fossem elas primárias ou finais. Segundo Comte:
“A verd ad eira ciên cia con s is te, tod a ela, n as relações exatas
es tab elecid as en tre os fatos ob s ervad os , a fim d e d ed u z ir, d o
m en or n ú m ero p os s ível d e fen ôm en os fu n d am en tais , a s érie m ais
exten s a d e fen ôm en os s ecu n d ários , ren u n cian d o ab s olu tam en te à
vã p es qu is a d as cau s a e d as essências. Numa palavra, a revolução
fu n d am en tal qu e caracteriz a a vitalid ad e d e n os s a in teligên cia
con s is te es s en cialm en te em s u b s titu ir, em tod a p arte, a in aces s ível
determinação das causas propriamente ditas pela simples pesquisa
das leis (…) a determinação do como à do porque”9 .
CIÊNCIA
=
Fenômenos + Observação = Dedução + Leis Invariáveis
10. “... além da aptidão quanto às deduções, desenvolvidas na fase matemática, a possibilidade de exploração direta
que manifesta a fase astronômica, a apreciação experimental própria da fase físico-química, e, enfim, o método
comparativo, emanado da fase biológica....” Ver: MORAES FILHO, op. cit., p. 85.
11 . Ver: MORAES FILHO, op. cit., p. 85.
12 . Ver: MORAES FILHO, op. cit., p. 83.
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13. S egu n d o Com t e, n a S ociologia , em vir t u d e d a in cid ên cia d a s p a ixões s ob r e o in ves t iga d or , o
espírito positivo ainda se encontra fragilizado. Isso requer um esforço extra dos pesquisadores para
qu e r es gu a r d em com ext r em o cu id a d o s u a s p os ições em r ela çã o a os ob jet os n o m om en t o d a
observação.
14. Ver: MORAES FILHO, op. cit., p. 92.
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ca u s a lid a d e. Pa r a Ra gin & Za r et, "A qu es tão cen tral n ão é o fato d e Du rk h eim ter s e
u tiliz ad o d e an alogias orgân icas ; ele ad otou os pres s u pos tos m eta-teóricos d a
B iologia por acred itar qu e a em ergên cia h ierárqu ica, a explicação h olís tica e a
classificação, aplicavam-se tanto à sociologia como à Biologia” 23.
3º "…s e a d ed u ção for pos s ível e s e a verificação é bem s u ced id a, pod er-se-á
encarar a prova como terminada"33.
aqu ilo qu e u m d icion ário d as com bin ações d a qu ím ica orgân ica
s ign ifica para o con h ecim en to biogen ético d os rein os an im al e
vegetal. Tan to n u m cas o com o n ou tro, ter-se-á realiz ad o u m
im p ortan te e ú til trab alh o p relim in ar. Tod avia, e, tan to n u m cas o
com o n ou tro, torn ar-se-á im p os s ível ch egar algu m d ia a d ed u z ir a
realid ad e d a vid a a p artir d es tas “leis e fatores ”. Não p or
s u b s is tirem , ain d a, n os fen ôm en os vitais , d eterm in ad as “forças ”
s u p eriores e m is terios as (...) m as s im p les m en te p orqu e, p ara o
con h ecim en to d a realid ad e, s ó n os in teres s a a con s telação em qu e
es tes fatores (h ip otéticos ) s e agru p am , form an d o u m fen ôm en o
cu ltu ral h is toricam en te s ign ificativo p ara n ós ; e tam b ém p orqu e, s e
p reten d erm os “exp licar cau s alm en te es tes agru p am en tos
in d ivid u ais , teríam os d e n os rep ortar con s tan tem en te a outros
agru p am en tos igu alm en te in d ivid u ais , a p artir d os qu ais os
exp licás s em os , em b ora u tiliz an d o, n atu ralm en te, os citad os
(hipotéticos) conceitos denominados leis”39
39. Ver : WE BE R, Ma x. A ob jet ivid a d e d o con h ecim en t o n a ciên cia s ocia l e n a ciên cia p olít ica -
1904. In: WEBER, op.cit., 1992. p. 126-127.
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42. Ver : WE BE R, Ma x. A ob jet ivid a d e d o con h ecim en t o n a ciên cia s ocia l e n a ciên cia p olít ica -
1904. In: WEBER, Max., op. cit., 1992, p. 140.
43. Ver : CAS TRO, A.M. e DIAS , E . In t r od u ç ã o a o p e n s a m e n t o s oc i ol óg i c o. Rio d e J a n eir o:
Eldorado, Tijuca, 1987. p. 140.
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46. Ver: WEBER, Max. Estudos críticos sobre a lógica das ciências da cultura. In: WEBER, op. cit.,
1992, p. 207
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Com base n o qu e foi exp os to a n ter ior m en te, a cer ca d os p r in cíp ios
fu n d a m en ta is da exp lica çã o s ociológica , ca b e p er gu n ta r : qu a l o p a p el d a
com p a r a çã o n a m etod ologia p r op os ta p or Web er ? Nã o ign or a n d o a s d ifer en tes
leitu r a s exis ten tes a cer ca d a s b a s es ep is tem ológica s d a s ociologia web er ia n a , n os
p a r ece im p or ta n te r es ga ta r a qu i a in ter p r eta çã o p r op os ta p or Flor es ta n Fer n a n d es
em seu livro “Fundamentos empíricos da explicação sociológica”:
53. Fica cla r a a qu i a in flu ên cia d a p er s p ect iva d u r k h eim ia n a . Ver : CARDOS O, C. F. e BRIGNOLI,
H. P. Os m é t od os d a h i s t ór i a : in t r od u çã o a os p r ob lem a s , m ét od os e t écn ica s d a h is t ór ia
demográfica, econômica e social. São José: Universidad de Costa Rica, 1975.
33
54. Ver: TARGA, L. R. P. Comentário sobre a utilização do método comparativo em análise regional.
Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 265-271, 1991.
55. Refer in d o-s e à con s t r u çã o d o con h ecim en t o n a ch a m a d a h is t ór ia n a t u r a l, Rob er t o Ma ch a d o,
baseando-s e em Fou ca u lt , id en t ifica d ois t ip os d ifer en cia d os d e com p a r a çã o: o "s is t em a " e o
"m ét od o". "O qu e d is tin gu e es s as d u as técn icas é qu e elas partem d e critérios d iferen tes para
es tabelecer a clas s ificação. En qu an to o s is tem a privilegia u m ou vários elem en tos e relacion a através
d eles tod os os in d ivíd u os , o m étod o com para, a partir d e tod os os elem en tos , u m con ju n to fin ito d e
s eres vivos ". Gu a r d a d a s a s d ifer en ça s exis t en t es en t r e ca m p os d is t in t os d o con h ecim en t o,
entendemos que esses dois tipos de utilização do método comparativo estão presentes, também no
con t ext o d a s ciên cia s s ocia is ob ed ecen d o, n o en t a n t o, n ã o a u m a lógica cla s s ifica t ór ia , m a s, sim, a
u m a p er s p ect iva d e t ip o r ela cion a l. Ver : MACHADO, Rob er t o. Ci ê n c i a e s a be r : a t r a jet ór ia d a
arqueologia de Foucault. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1982. p.128.
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p or ta n to, a exis tên cia d e u m cer to gr a u d e s im u lta n eid a d e en tr e es tes d is tin tos
procedimentos:
(iii) A generalização:
O que faz com que um estudo comparado não se torne uma mera coleção de
ca s os in ter es s a n tes ? Fa la n d o a r es p eito d a s gen er a liza ções , Ba r r in gton Moor e J r .
comenta:
59. Os casos da Rússia e da Alemanha não se constituiram enquanto objeto específico de análise mas são usados, ao
longo de toda a obra, como contraponto aos demais países estudados.
60. Ver: MOORE JR., Barrington, op.cit. p. 2-3
39
“...p ara qu alqu er p aís con s id erad o é p recis o d es cob rir as lin h as
d e con d icion am en to, qu e n em s em p re s e aju s tam facilm en te às
teorias d e caráter m ais geral. Con trariam en te, u m a d ed icação
m u ito in ten s a à teoria con tém s em p re o p erigo d e s e con ced er
exces s iva im p ortân cia aos fatos qu e s e aju s tam a u m a teoria,
para além de dua importância na história de cada país.”62
Com Barrington Moore Jr. fica apontada assim uma abordagem comparativa
for tem en te vin cu la d a a o ca s o es p ecífico, tom a d o em s u a s in gu la r id a d e, m a s qu e
tem com o r es u lta d o a con s tr u çã o d e tip ologia s m a is a m p la s , qu e tem p or ob jetivo
p os s ib ilita r , d e u m la d o, u m a r eleitu r a d e exp lica ções p r evia m en te a ceita s , d e
ou tr o, u m a r u p tu r a , ta n to com a s in ter p r eta ções gen er a liza n tes com o com a s
abordagens históricas excessivamente descritivas e empiricistas.
BIBLIOGRAFIA: