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FUNDAGKO EDITORA DA UNESP (lia Anconio Rabel Corio Plo Jost Bead Sue Roberta Andeé Kern PEDRO ABELARDO Logica para principiantes Tradugio do original em lacim Carlos Arthur Ribeiro do Nascimento 2* edigio |Editora NESP 2 Pada Abela 17 Teacemos, em primeiso lugae, da abtagio® Assen, ddeve-se saber que a matin ea forma apresenta rmisturadss uma com a outes, mas a 320 do ex poder de ora considerar a materia por si mesma, ors dicigi a atengio s6 para a forma, ora conceberambas misturadas, Por certo, dois primeieos sia por abstragio, pois absteaem algo dos que esto reunidos para considerseem sua prdpria nate ean. Mas 0 terceio é por conjungio. Por exemplo, a substin- «ia deste homem tanto € coepo, animal, ¢ homem, como re- vestida de formas infinitas: quando disijo a atengio para ela na esstncia material da substincia,afastadas todas as formas, tenho uma inteleesio por absteasso. Em seguida, quando atenso nela apenas para 2 corporeidade que lige 3 substincia, ‘também esea inceleegio ~ embora se d8 por conjungio em re- Ingo primneiea, que atentava apenas para a natureza da subs- tfincia — se faz também por abstracio quanto 3s outeas for- sms além da corporeidade, para nenhuma das quais atento, tal como a animagio, a sensbiliside,a racionalidade, a brancura, (Ora, tas intelecgBes por abstragio pareceriam,ealvez, fal- 88 ow Hs porque percebem a coisa de modo diferente de ‘como subsiste. Com efeito, sma ver que atentam para.a mi- téria por si mesma ou para a forma separadamence, na medids ‘em que nenhuma delas subsiste em separado, parecern na ver~ dade conceber a coisa de modo diferente do que € ¢ serem, por isso, vazis, Mas nfo € assim. De fat, se algaéay intelige coisa de modo diferente de como se apeesenta, de tal manci= 4 que atente para ela naquela naturezs ox propriedade que cla no tem, esa intleccio & cectamente vazia. Mas iss0 nfo (66 Ch. Tr de inl, p.745-7 igi par princes se passa na absttagio. Com efsito, quando ateneo pass este Ihontem apenas na natureza de substinsia ou de corpo e fo também na de animal, de homem ou de gramsico, evidente- rente nada intel senio © que esténela, mas nfo atento pats tudo 0 que ela tem. E quand digo que atento para eh apenas enquanto cla cem est algo, aquele “apenas” referee seni, 1 20 odode subir, pois, de outta sore, inteee= fo sera vazs, De fata, a coisa nfo tem apenas isso, mas é sentada apenas como tendo isso, Entretanto,dizse que de cer mansiza €ineigida de modo diferente daqusle como & fo evdearemente num outro estado do que 6, como foi dita antes (7.73), mae esse estado de modo diferente, piso mods Aegis do mods de usin, Cons efi, cata coisa inccigidsseparadamente ds outa, mas nfo como separa, pois, efi, ela rf existe em separndos a materia €percebida ppuamencee forma simplemente, quando nem ain é pa mente nema outta simplesnvence, de modo que al pare2a ou simplicidade everton 3 iceigtncia da coisa eo 3 sua sub- siscncia de ral mancira que, por certo, sho modos de intl gir eno de subsstr, As ves, as sensagbos também agem 20 contririo quanta aes compostos como, por exemplo, shou vee uma estitua, metade de ouro emetade de prata,posso dis- cetnir ssparadamente o ouro €a prata que estio unidos, isto 6 examinando, ora 0 ouro, //oraa prata por si mesma dis indo coisas unidas, mas milo como separads, pois nfo sio separadas. Assim, a intelecgio também atenta, por abstragio, separadamente pata os nfo-separados, pois, de outra sorts, Todavia, ealvez possa see corset a intaleegTo que, de un Indo, considera 0s que est50 unidos como separidos ede out 83 Patio Abad tro, como unidas ¢ inverssmente. De fato, tanto a unio {quanto a dvisfo das coisas pode ser tomada em dois senti- clos. Na verdade, dizemos que certs cosas esto unidas entre si por alguma semelhanga, como estes dois homens nisso que sig homens ou gramiticos, a0 passo que outas esto unidas| por uina certa aposigio e agregacfo, tal como a forma ea mis téria ou ovinho ea fgua, A intlecgio concebeas coisas assim tunidas entee si, como divididas de um modo e unidas de ou tro, Por isso, Boécio® atcibui a espleito esta capacidade de poder, pela sua razio, compor os separados e desunir os com- ‘postos, sem se afastar contudo, em ambos os casos, da natt= teza da coisa, mas persebendo spenas aquilo que est na na tureza da coisa. Se assim nfo fora, nfo se tataria de exzio isto 6 sea inteligSncia se desviasse do estado mas de opinia da coisa. Mas a esta altura surge uma guste relativa ad previso do erfi- «; se que ela € vazia quando jé possui no espirito a forma da obra Futura, enquanta a coisa ainda no se apreseita assim, ‘Se admitirmos iso, seremos forsados a dizer que também & ‘vaziaa previsio que Deus teve antes dx criagio das suas obras ‘Mas se alguém disser isso quanco 20 eftto, isto, que no rea- lizatiaefetivamente o que ceria previsto, entdo é filso que & previsio tivesse sido vazia. Da, se alguém disser que cla € va- 2a porque ainda nfo concordaria com 0 estado futuro di coi sa, n6s certamente nfo admitcemos essas péssimas palavras, mas nfo contradicemos 3 opinifo. De fato,€ verdade que o sstado fucuro do mundo ainda nfo era macerialmente, en santa ele o dispunha inzeligivelmente como ainda fututo fo to dell, 748. & ” igi pr prince ‘Todavia, nfo costumamos dizer que © pensamento ou a pre~ visio de alguém slo vazias, a nfo ser que carega de efeito, nem dizemos que se pensa em vio 3 nfo se aquile que no eealiza- mos efecivamente, Por conseguints, modificando as palavras, digamos que nfo évazia apeeviso que nfo pensa em vio, mas que concebe a que sind no é materilmente como se subsis- tlsse,o que certamente é natural a todas as previsdes. Na ver~ dade, 0 pensamento quanto 20 que € faruro € chamado de previsio, quanto ao que & passado, de meméria © quanto 20 {que € presente denomina-se propriamente inteligéncia, Entre~ tanto, se alguém disser que aquele que pensa, 20 prever a fes~ pita de um estado fututo como se fosse a respeito de algo jé cexistente, se engana, este mesmo que julga que se deve dizer {que alguém se engana, mais se engana, Com efeito, nfo se en= ‘gana aquele que prev Futura, a nfo ser que eeia que jé ase sim como ele prevé. De fata, 2 concepsio de uma coisa nfo-existente nfo leva alguém a se enganar, mas sim a Fé que the é preseada, Na verdsde, embora eu pense num cor racio- ral, som acreditar em cl, nfo me engano, Assim também, aquele que prev: porque aquilo que// pensa como jf existen= tc, nfo julga que exista deste modo, mas o penst como pre= sente di maneita como o coloea como presente no futuro. Certamente, toda concepsio do espirito & como se fosse espeito da presente, Assim, se eu considerar Sderates como ‘uma crianga que foi ot como um velho que sers, junto a ele camo que de modo preseate, a meninice ou a velhice porque atenta para ele no presente quanto a uma propriedade passa~ clo ou farura. Todavia, ninguém diz que eal meméria€ vazia porque azenta no passade o que concebe come presente, Mas 8 Pao Abad Aiscutie-se-A mais completamente a respeito disso no comen= tito sobre o Peri Hermencae Essa questio, no que diz respeito a Deus, € ainda mais bbem resolvida se comada como se referindo i sua substincia, que, sendo a nica imusivel e simples, nfo se alters pes con cepgbes das coisas ou por outras formas. Pos, ainda que o costume da linguagem humana presuina falar do Ceiador como que dis criaturas, como, por exemplo, 20 dizer que cle & presciente ou inteligente, nada, porém, de diverso dele mes- smo deve inteigir-se ou pode ser nele, por exemplo, nem a in- telecgio nem outes forma. E, por isso, coda questo respeito da intelecgiasem relagio a Deus 6 supérflvs. Mas, a falaemos verdade mais expressamente, prover o fatueo para ele nada mais € da que o Futuro nfo estar oculto pasa ele, ue a ver- adeira e420 em si mesma ‘Agora, porém, que muito foi mosteadoarespeito da natu- reza dy abscragio,wllamos ds inges dos anwrsis, as quais € recessirio que se fagam sempre por abstragio. Com efeita, guano ougo “komen” ous “brancara” ow “rane”, a0 me lem bro, por forga do nome, de todss as naturezas ou proprieda- des que estio nae coisas subordinadas, mas por meio de “bo- sen” tenho apenas a concepgio, embora confusa, no distin- 2, de animal e de acional mortal, fo porém dos demas aci- dentes. De fato, a inteleegbes dos singulaces também se fax zom por abstragio, uma ver que se diz, por exemple: esta subscincia, este corpa, este anima}, este homem, esta brancu- 1a, este branco. Na verdade, por meio de “te homem” atento {5 Cheque vai ic bio ne leer Pr Heme a espe ps, 26 de Bok. ssinalada a marge 86 igi por printer apenas pata oatazeza do bomen, mas reer a sm cetco sujeic, 20 passa que por meio de “Soman” atento para aquela aesma natutezasimplesmente em si mesma, nfo referids qualquer dos homes. Partinto,ineleegio dos univers com razo, denominads sold, nua pus isola, sem dir vida, dis sensagbes, porque nfo perce 3 coisa como sensi- ‘el nua, quanta 3 abstragfo de coda ou de aga formas, © completamente purs, quanto 3 dstingfo porque nenbuma coisa, quer sja matin, quer sea forma, €cercfiada nla, r2- Zio pela qual chamamos antes (p76) uma concepsio desse tipo de confus aso que pris, paseo, portant, & rsa das guests po= tas por Bro arp ds hares das eps, 0 que jf pode mos fazer facilments, 6 que foi eevlada a macureza de todos [Assim prnina dessns quest&es erase 05 géneros e238 = pécies subsistem, isto &, significam algo verdadeiramente ‘enistente ou se esto postos apenas na //inteleegio exe isto &, se eset coloeados numa opiniio vazia sem a coist, tal como estes nomes de quimera e hircocervo que no engen- ram wma inteligtacta sacs, ‘iso press espondr qu, na verdade, sigaificam pela deno~ sminagio coisas verdadsiramence existentes, isto 6, as mesmas gue os nomes singulares e que, de modo algum, esto colocae clos numa opinifa vazi; contudo, de certa maneira, consis- tem, como ficou estabelecido, numa intelecgioisolada, nua © * Quimera design um monstr fibuloo com cabs de leo, corpo de cobra cade de dro iecoero, un ute, compost de bode cer. (NT) a Ped Aber purs. Nada obsta, porém, se quem propde uma questio, oma, 0 perguntar,algumas palaveas de um modo e quem responde as toma de outro modo ao responder, como se aquele que responde dissesse: Perguntas se estio colocados apenas na intelecglo, exe. que podes eomar da manera como estabelecemas acima (p.87) ¢ que € verdade, As pala- vras podem também ser comadas de modo sbsolutamence gual em toda parce, tanto por quem responde quanto por quem pergunta, e entio sirgies uma s6 questo, nfo através de opostos, dos membros anteriores das dune questées dale teas, isto fo ¢, de nave, sees to colocados ou nio nas intlecg6es isoladas, nuns e paras (O mesimo pode ser dito quanto 3 spunda que & a seguinte: porais, isto €, wana sistentes, se sigificam aqueles subsistentes que sfo corporais ou 0s que sf0 porsis. Certamente, como diz Boge, rudo 0 que 6 05 subsistentes sfo corporsis ot vez quese concede que signi corpéree ou incoxpSreo quer tomenos tals noms por corpo substancial ow corpo, quer por aquilo que pode ser per- «ebido por um sentido corpéreo— tal como o homem, a ma- deira,a brancura ~ou nfo pode —coma.a aim, ajustiga. Cor péreo pode também ser tomado por se perguntasse assim: Uma vez que significam subsiscentes, sera (que 0s significam separados ou nio-separados? Com efeito, «quem investiga bem a verdade da coisa no atenta apenas para ‘© que pode ser dito verdadeiramence, mas pata tudo 0 que pode ser opinado, Donde, ainda que seja certo para algaém que nada subsise, exceto o que & separado, uma vez que po= 69 Boeth de Par ed, p.460, 1 88 igi pr priate dleria haver a apiniso de que howvesse algo de outro, nio sem razio questiona-se também a esse respeito. E, de fato, essa llsima acepsi0 de corpéreo parece corresponde mais 3 per- _gunta, de tl modo que se perguate sobre o que € separado ou nfo-separaco, Mas talvez quanda Boécio diz que tudo © que é, ou € corpéreo ox incorpéreo, 0 incorpéreo parece ser si~ pérfluo, js que neahum existente 6 incorpéreo sto, nfo-se- parado, Nein 0 que € introduzido quanto 3 ordem das ques~ fe Se 4 ndo ser, porventra, bes parece valer © que q nisto que, assim como corpéreo e incorpéreo dividem os (0, assim também parece que sgunta dissesse assim: Vejo que subsistentes na ouera significa como se aquele que pee dos existentes, une se dizem coxposas e outros incorporais; quis estes lunivetsais? A ele se responde: De um certo modo, os corpo~ lzemos que sio 0s que sio significados pelos sis, isto & /f separados na sua esstncia, © os incorporais ‘quanto designagio do nome universal, porque nfo 0s deno~ srinam separada ¢ deceeminadamente, mas confusamente, ima suficientemente (p.76). Daf tam- ‘bém os prprias nomes universaisserem chamados corpére~ fs quanto A natarezs das coisas ¢ incorpéreos quanto 20 mado de significasio, porque, embora denominem o que € separado, nfo 0 denominam separada e determinadamente 1A tere gust, «saber, se s¢ enconteams nos seasicis ete ncorpéreos porque, de fato,0 r0. modo, divide-se por ser € ecorte de se conceder ques incorpéreo, tomado dem c io ser no sensivel, como também © lembrames acima (p51). Diz-se que os universaissubsistem nos sensieis isto 6, que significam a substincia intrinseca existente na coisa sensivel em virtude das formas exteriores e que, signifieando 89 Pais Abad ‘essa substincia que subsiste em ato na coisa sensivel, mani- festam-na contado, coma naturalmente separads da coisa sensfvel, como estabelecemos acim de acordo com Plstio (p81). Porisso, Bosco” afirma que os génceos eas espécies inteligern-se, mas nfo sfo, & parte dos sensfveis, evidente- mente porque as coisas dos gtnetos das espécies, quanto & sua natureza, s¥o tidas em ateagio eacionalmente em si, 8 pat- ce de coda sensibilidade, porque poderiam verdadeitamente subsistic em si mesmas, una vez que as formas exteriores, p= las quais chegam 3s sensagbes, enham sido temovidas. Pois, concedemas gue todos os géneras ou espécies enconttam-se nas coisas sensiveis. Mas, porque sta intelecsia era sempre chamada de isolads da sensagio, les nfo pareciam de modo algum estar nas coisas sensei Por isso, perguntava-se com sy2io se poderiam alguma vez estar nas sensives; e respon dese, quanto a eertos deles, que estio, mas de tal mancira agus, como fei dito, permanecem naturalmente d paete da sen sibilidae, Podemos, entrecanto, eamat a segunda questio corpéreo.e incorpéreo por sensiel ¢ nlo-sensiel a fim de que a ordem clas questdesseja mais adequada e, uma vee que se dizia que a incelecgio dos universis € isolada ca sensagio, como se afit= ‘mou (p.87), indagou-se corretamente se seriam sensfeis ou _ndo-sensieis:¢ coma se respondesse que alguns dele sia sen= slveis quanto A natured dis coisas, mas que os mesos s50 o-sensiveis quanto 30 modo de significa ~ isto &, porque pio designam as coisas seasfveis que denominam do modo come slo sentidas, uer dizer, como separadas, nem a sensacio 70 Beet fe Poh, ed p26, 14 90 Lig pr preter as dlcecta pela maifesag dels —restavaa questo de se de- tominam apenas os Frprios senses ou se mbm signifi- camalgo de outro; a que se respond que significa, 2 mes ios sents ¢aquelaconcepsto comum x0 fempo, 8 que Prisciano scribui principalmente 3 mente divna EE rlacinades em dee. Cam relgfo a0 que nés entendemos aqui como a gurte gust, como lembearos acima (p.52), solugio € esta: que // nds, de modo algum, admitimos que idas as suas haja nomes universais quando, tendo sist dest coisas, eles jf nfo sfo predicéveis de vétios, porquanco nem ‘fo comuns aquaisquer coisas, como o nome da ross, quando jfnfo peedaram mais rosa, o gual, entretanto, ainda € entio significativ em virtude da ineeleegio, emboracarega de deno- rminaglo, pois, de outra sorte, nfo averia a proposigio: nio Jf nenhuma rosa. Era, porém, natural que surgissem quest6es a cespeito das palavias universais © nfo das singulares, porque ni havia ea vids quanto 3 significagio das singulares. Com cfeito, 0 seu modo de significar esa bem de acardo com o estado das coisas. As quais, assim como sio em si separadas, assim ‘fo significadss por cles separadamente e a inteleesfo deles apreende uma coisa determinada, o que nfo cabe aos univer- sais, Além disso, ona vez que os universais no sigificam as jsas enquanto separadas, no pareciam também signifi- las unids, jf que nfo hé nenhuma coisa na qual se unam, como também ensinamos acima (p.70-2). Assim, uma vez «que avia tanta divida quanto 205 universais, Porfirio resolvew tratar apenas dos universss,excluindo os singulares da sua in tengfo por como que serem bastante claros em si mesmos ain dda que deles trate incidenealmente, por causa diqueles. 9

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