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TOPOLOGIA GERAL

Mauricio A. Vilches

Departamento de Análise - IME


UERJ
2

Copyright by Mauricio A. Vilches


Todos os direitos reservados
Proibida a reprodução parcial ou total
3

PREFÁCIO

Provavelmente a Topologia é a mais novas das linhas da Matemática clá-


ssica, pois a Topologia aparece no século XV II com o nome de Analyse
Situs, isto é análise da posição. Muitos autores concordam que o primeiro
a tentar estudar propriedades topológicas foi Leibniz, em 1679. Posterior-
mente, Euler em 1736 publica a solução do problema das pontes da cidade
de Köenigsberg, institulado ”Solutio problematis ad geometriam situs per-
tinentis”. As bases da Topologia moderna foram estabelicidas no Con-
gresso Internacional de Matemática de 1909, em Roma, onde Riesz propõe
um carater axiomático da Topologia, baseado na teoria dos conjuntos, sem
o conceito de distância subjacente. Em 1914, Hausdorff define os conjuntos
abertos através de axiomas, sem consideraçãoes métricas. Existem outras
vertentes onde a topologia encontrou novos impulsos para seu desenvol-
vimento, por exemplo, na Análise Funcional e nas Equações Diferenciais
Ordinárias, através de Banach e Poincaré, respectivamente.
A Topologia utiliza os mesmos objetos que a Geometria, com a seguinte
diferença: não interessa a distância, os ângulos nem a configuração dos
pontos. Na Topologia, objetos que possam transformar-se em outros, atra-
vés de funções contı́nuas reversı́veis, são equivalentes e indistinguiveis.
Por exemplo, cı́rculos e elipses, esferas e paralelelpı́pedos.
A Topologia é pré-requisito básico em quase todas as áreas da Matemática
moderna, da Geometria Diferencial à Álgebra e é fonte atual de eferves-
cente pesquisa.

Mauricio A. Vilches
Rio de Janeiro
4
Conteúdo

1 ESPAÇOS TOPOLÓGICOS 9
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2 Topologias e Conjuntos Abertos . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.4 Conjuntos Fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.5 Bases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.6 Sub-bases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.7 Topologia Relativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.8 Pontos e Conjuntos Notáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.9 Topologia Métrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.10 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.11 Espaços Métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.12 Abertos e Fechados em Espaços Métricos . . . . . . . . . . . 32
1.13 Espaços Vetoriais Normados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.14 Espaços Vetoriais com Produto Interno . . . . . . . . . . . . . 34
1.15 Topologia de Zariski . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
1.15.1 Topologia de Zariski em Anéis . . . . . . . . . . . . . 36
1.16 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

2 FUNÇÕES EM ESPAÇOS TOPOLÓGICOS 43


2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.2 Funções Contı́nuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.3 Continuidade em Espaços Métricos . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.4 Topologia Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.5 Topologia Produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.6 Funções Abertas e Fechadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

3 HOMEOMORFISMOS 59
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.2 Homeomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.3 Exemplos de Homeomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
3.4 Grupos de Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

5
6 CONTEÚDO

3.5 Homeomorfismos Locais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73


3.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

4 TOPOLOGIA QUOCIENTE 79
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.2 Topologia Quociente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.2.1 Espaço Projetivo Real . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.2.2 Faixa de Möebius . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.3 Espaços Quocientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
4.3.1 O Cı́rculo como Espaço Quociente . . . . . . . . . . . 84
4.3.2 O Cilindro como Espaço Quociente . . . . . . . . . . 85
4.3.3 A Faixa de Möebius como Espaço Quociente . . . . . 85
4.3.4 A Esfera como Espaço Quociente . . . . . . . . . . . . 86
4.3.5 O Toro como Espaço Quociente . . . . . . . . . . . . . 87
4.3.6 A Garrafa de Klein . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
4.3.7 O Cone e Suspensão de um Conjunto . . . . . . . . . 89
4.4 Teoremas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
4.5 Ações de Grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
4.5.1 Espaço Projetivo Complexo . . . . . . . . . . . . . . . 97
4.6 G-espaços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
4.6.1 O Cı́rculo como Z-espaço . . . . . . . . . . . . . . . . 101
4.6.2 O Toro como Z × Z -espaço . . . . . . . . . . . . . . . 102
4.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

5 COMPACIDADE 107
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
5.2 Compacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
5.3 Compacidade em Espaços Métricos . . . . . . . . . . . . . . . 112
5.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

6 AXIOMAS DE SEPARAÇÃO 119


6.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
6.2 Espaços de Fréchet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
6.3 Espaços de Hausdorff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
6.4 Topologia Quociente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
6.5 Homeomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
6.6 Variedades Topológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
6.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

7 CONEXIDADE 139
7.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
7.2 Conexidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
7.3 Aplicacões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
7.4 Conexidade por Caminhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
CONTEÚDO 7

7.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149

Bibliografia 152
8 CONTEÚDO
Capı́tulo 1

ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

1.1 Introdução
A seguir apresentaremos a definição de Topologia que é, essencialmente,
a generalização de algumas das propriedades intrı́nsecas dos intervalos
abertos em R.
Se espera do leitor conhecimentos básicos da Teorı́a de Conjuntos. As
notações que utilizaremos, são as usuais da Teorı́a de Conjuntos.

1.2 Topologias e Conjuntos Abertos


Seja X um conjunto não vazio.
Notações
Denotemos por P(X) a famı́lia de todos os subconjuntos de X e por
Ac = X − A o complementar de A em X.

Definição 1.1. Uma topologia sobre X é uma famı́lia T ⊂ P(X) tal que:
1. X, ∅ ∈ T.

2. Dada uma famı́lia arbitrária {Aα ∈ T / α ∈ Γ}, então:


[
Aα ∈ T.
α∈Γ

3. Dados B1 , B2 , . . . , Bn ∈ T, então:

\
n
Bi ∈ T.
i=1

9
10 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Observações 1.1.

1. Em outras palavras, uma topologia é uma famı́lia de subconjuntos


de X tais que o conjunto vazio e o conjunto X devem pertencer à to-
pologia; a reunião arbitrária de elementos da topologia deve perten-
cer à topologia e a interseção finita de elementos da topologia deve
pertencer à topologia.

2. Os elementos de T são ditos conjuntos abertos de X ou simples-


mente abertos de X.

3. O par X, T é chamado espaço topológico.

1.3 Exemplos
A seguir apresentaremos uma série de exemplos que utilizaremos em to-
dos os capı́tulos seguintes.
[1] Todo conjunto X não vazio possui as seguintes topologias:

1. Tind = {X, ∅}, chamada topologia indiscreta. Logo, os únicos subcon-


juntos abertos de X são ∅ e X.

2. Tdis = P(X), chamada topologia discreta. Logo, todos os subconjuntos


de X são abertos.

3. Se X tem mais de 2 elementos, então:

Tind 6= Tdis .

[2] Seja X = {a, b, c}. Verifiquemos se as seguintes famı́lias de subconjun-


tos de X são uma topologia em X.

1. T1 = {∅, X, {a}}.

2. T2 = {∅, X, {a}, {b}}.

3. T3 = {∅, X, {a}, {b}, {a, b}}.

Claramente, T1 e T3 são topologias para X. T2 não é uma topologia em X,


pois:

{a} ∪ {b} ∈
/ T2 .
1.3. EXEMPLOS 11

[3] Seja X = {a, b}. A topologia:

Tsier = {∅, X, {a}}

é dita de Sierpinski.

[4] Seja X = R e definamos a seguinte topologia:

T = {∅, A ⊂ R},

onde A ∈ T se, e somente se para todo x ∈ A existe um intervalo aberto


(a, b) tal que:

x ∈ (a, b) ⊂ A.

1. Claramente ∅, R ∈ T.
2. Seja {Aα ∈ T / α ∈ Γ}, então:
[
Aα ∈ T.
α∈Γ
[
De fato, seja x ∈ Aα , então existe α0 ∈ Γ tal que x ∈ Aα0 ∈ T; logo,
α∈Γ
existe (a, b) e:
[
x ∈ (a, b) ⊂ Aα0 ⊂ Aα .
α∈Γ

3. Sejam B1 , B2 ∈ T; então, dado x ∈ B1 ∩ B2 temos que x ∈ B1 ∈ T


e x ∈ B2 ∈ T, logo existem (a1 , b1 ) e (a2 , b2 ) tais que x ∈ (a1 , b1 ) ⊂ B1 e
x ∈ (a2 , b2 ) ⊂ B2 . Se denotamos por a = max{a1 , a2 } e b = min{b1 , b2 },
temos:

x ∈ (a, b) ⊂ B1 ∩ B2 .

\
n
Por indução: Se B1 , B2 , . . . , Bn ∈ T, então Bi ∈ T.
i=1

Observação 1.1. Esta topologia é chamada euclidiana ou usual e será de-


notada por Tus .

[5] Seja X = R2 e definamos a seguinte topologia:

T = {∅, A ⊂ R2 },
12 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

onde A ∈ T se, e somente se para todo (x, y) ∈ A existe um retângulo


aberto (a, b) × (c, d) tal que:

(x, y) ∈ (a, b) × (c, d) ⊂ A.

Observação 1.2. De forma análoga ao exemplo anterior, T é uma topologia


e é também chamada euclidiana ou usual e será denotada por Tus . Não é
difı́cil ver que esta topologia pode ser estendida a Rn .

[6] Seja R2 e consideremos a famı́lia:

Tk = {∅, R2 , Gk / k ∈ R},

onde:

Gk = {(x, y) ∈ R2 / x > y + k}.



Então, R2 , Tk , é um espaço topológico.
1. ∅, R2 ∈ Tk , por definição.
2. Seja Gk ∈ Tk tal que k ∈ M ⊂ R:
Se M é limitado inferiormente, seja m = inf M , então:
[
Gk = Gm ∈ T k .
k∈M

[
De fato, seja (x, y) ∈ Gk ; então, existe k ∈ M tal que (x, y) ∈ Gk , isto é
k∈M
x − y > k ≥ m; logo, (x, y) ∈ Gm e
[
Gk ⊂ Gm .
k∈M

Seja (x, y) ∈ Gm ; então, x − y > m; logo, existe k ∈ M tal que x − y > k,


caso contrário x − y seria uma cota inferior de M maior que m; então:
[
Gm ⊂ Gk .
k∈M

Se M não é limitado inferiormente, então:


[
Gk = R2 .
k∈M
1.3. EXEMPLOS 13

De fato, seja (x, y) ∈ R2 , então, existe k ∈ M tal que x − y > k; caso


contrário, M seria limitado inferiormente por x − y, logo (x, y) ∈ Gk .
3. Sejam Gk1 , Gk2 ∈ Tk e considere k1 = max{k1 , k2 }; então, Gk1 ⊂ Gk2 e:

G k 1 ∩ Gk 2 = Gk 1 ∈ T k .

[7] Seja X um conjunto não vazio e:

T = {A ⊂ X / Ac é finito ou é X}.

T é uma topologia para X.


1. Claramente, X e ∅ pertencem a T.
2. Seja {Aα ∈ T / α ∈ Γ}; então:
[
Aα ∈ T.
α∈Γ

De fato:
[ c \
Aα = Acα ,
α∈Γ α∈Γ

como Acα é finito, a interseção é finita ou é todo X.


3. Sejam B1 , B2 , . . . , Bn ∈ T, então:
\
n c [
n
Bi = Bic ,
i=1 i=1

a união é finita ou todo X, pois cada conjunto é finito ou todo X.

Observação 1.3. Esta topologia é chamada de cofinita e denotada Tcof . Se


X é finito, então Tcof = Tdis .

Seja X = R com a topologia Tcof . O conjunto (−∞, 1) não é aberto nesta


topologia, pois seu complementar é [1, +∞) e não é finito nem igual a R.
Mas, o conjunto (−∞, 1)∪(1, +∞) é aberto. Nesta topologia os abertos são
da forma:
[
n
A=R− {xi / xi ∈ R}.
i=1

Seja X = R com a topologia Tus . Se A ⊂ R é finito, então A não é aberto.


Analogamente em Rn .
14 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

1.4 Conjuntos Fechados


Os conjuntos fechados são os duais dos conjuntos abertos, num espaço to-
pológico. Veremos que a topologia num espaço topológico, também pode
ser caracterizada atraves dos conjuntos fechados.

Definição 1.2. Seja F ⊂ X. F é dito fechado em X se F c ∈ T.

Isto é, um conjunto é fechado se, e somente se seu complementar é um


conjunto aberto.

Exemplo 1.1.
[1] X e ∅ são fechados em X.

[2] Seja X, Tsier ; então os fechados de X são ∅, X e {b}.
[3] Considere X = {a, b, c} com a T3 do exemplo [??]. Determinemos os
conjuntos fechados de X.
Primeiramente X e ∅ são fechados em X. Os conjuntos {a} e {b} não são
fechados; de fato:

{a}c = {b, c} ∈
/ T3
{b} = {a, c} ∈
c
/ T3 .

Por outro lado {c}, {a, c} e {b, c} são fechados em X:

{c}c = {a, b} ∈ T3
{a, c}c = {b} ∈ T3
{b, c}c = {a} ∈ T3 .

Teorema 1.1. Seja X, T espaço topológico e F a famı́lia de conjuntos fe-
chados; então:

1. X, ∅ ∈ F.

2. Sejam F1 , F2 , . . . , Fn conjuntos fechados em X; então:

[
n
Fi
i=1

é fechado em X.
1.4. CONJUNTOS FECHADOS 15

3. Sejam Fα ∈ F, arbitrários tal que α ∈ Γ, então:


\
Fα ∈ F.
α∈Γ

A prova é imediata. De fato:

[
n c \
n
Fi = Fic ∈ T
i=1 i=1

\ c [
Fα = Fαc ∈ T.
α∈Γ α∈Γ

Exemplo 1.2.

Seja R, Tus ; então todo conjunto finito é fechado.
De fato, dado x ∈ R, então {x} é fechado em R pois:

{x}c = (−∞, x) ∪ (x, +∞);

logo se A = {x1 , x2 , . . . xn } temos que:


[
n
A= {xi }.
i=1

O exemplo anterior vale em Rn .

Observações 1.2.

1. A propriedade de ser aberto ou fechado é independente uma da ou-


tra.

2. Um conjunto pode ser simultaneamante fechado e aberto, aberto e


não fechado, fechado e não aberto ou nehum dos dois.

3. A união infinita de conjuntos fechados pode não ser um conjunto


fechado. Por exemplo, para todo subconjunto B ⊂ X, temos:
[
B= {b}.
b∈B
16 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

4. Uma topologia num espaço topológico também pode ser caracteri-


zada, pelos seus conjuntos fechados.

Exemplo 1.3.
[1] Se X tem a topologia discreta, todo subconjunto de X é aberto e fe-
chado.
[2] Seja X = R − {0} com a topologia euclidiana; então os conjuntos
(−∞, 0) e (0, +∞) são abertos. Como cada um deles é complementar do
outro, também são fechados.
[3] O conjunto Q ⊂ R não é aberto nem fechado com a topologia usual e
nem com a topologia cofinita de R.

Definição 1.3. Sejam T1 e T2 topologias sobre X. Se T1 ⊂ T2 , então dize-


mos que a topologia T2 é mais fina que T1 .

Exemplo 1.4.
[1] Em R2 , Tcof é menos fina que a Tus . De fato, seja A ∈ Tcof ; então Ac é
finito; logo Ac é fechado em Tus e A é aberto em Tus .
[2] As topologias sobre um conjunto nem sempre podem ser comparadas.
Por exemplo:
Seja X = {a, b} com as topologias: T1 = {∅, {a}, X} e T2 = {∅, {b}, X}.
então T1 e T2 não podem ser comparadas.
Para toda topologia T sobre X temos:

Tind ⊂ T ⊂ Tdis .

No exemplo [1], temos:

Tind ⊂ T1 ⊂ T3 ⊂ Tdis .

1.5 Bases
Muitas vezes para introduzir uma topologia num conjunto não é necessá-
rio descrever todos os conjuntos abertos da topologia, mas apenas alguns
conjuntos especiais, os chamados abertos básicos da topologia.

Sejam X, T um espaço topológico e B uma famı́lia de subconjuntos de
X tal que B ⊂ T.
1.5. BASES 17

Definição 1.4. B é uma base para T se para todo A ∈ T, temos que:


[
A= B.
B∈B

Observações 1.3.

1. Como B ⊂ T, então toda união de elementos de B também pertence


a T. Os elementos de B são ditos abertos básicos da topologia.

2. Se B é uma base de T, dizemos que B gera a topologia T, ou que T


é a topologia gerada por B.

3. Para todo A ∈ T existe B ∈ B tal que B ⊂ A. De fato, seja x ∈ A;


como A ∈ T e B é uma base de T, então:
[
A= Bα ,
α∈Γ

onde Bα ∈ B. Logo, existe α ∈ Γ tal que:

x ∈ Bα ⊂ A.

O seguinte teorema é um ótimo critério para verificar se uma famı́lia de


subconjuntos é uma base.

Teorema 1.2. Seja B ⊂ T. A famı́lia B é uma base de T se, e somente se

[
1. X = B.
B∈B

2. Para todo B1 B2 ∈ B, se x ∈ B1 ∩ B2 , então, existe B ∈ B tal que:

x ∈ B ⊂ B1 ∩ B2 .

Prova : Se B é uma base de alguma topologia T, então X é aberto; logo se


escreve como união de abertos básicos. Se B1 , B2 ∈ B, então B1 , B2 são
abertos e B1 ∩ B2 é aberto; logo se x ∈ B1 ∩ B2 , existe um aberto B ∈ B tal
que x ∈ B ⊂ B1 ∩ B2 .
18 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Reciprocamente, se B satisfaz 1 e 2 e se exitir uma topologia que tem B


como base, todo aberto nesta topologia pode ser escrito como união ar-
bitrária de elementos de B. Definamos:

T = {U ⊂ X / U é união arbitrária de elementos de B}.

Devemos provar que T é uma topologia sobre X. Claramente ∅ ∈ T; por


outro lado X ∈ T, pelo ı́tem 1. [
Sejam Aα ∈ T, arbitrários; cada Aα = Bα,µ , onde Bα,µ ∈ B; então:

[[ µ [
A= Bα,µ = Bα,µ ∈ T.
α µ α,µ

[ [
Agora consideremos A1 e A2 ∈ T, então A1 = Bα e A2 = Bµ , então:
[  [  α
[
µ

A1 ∩ A2 = Bα ∩ Bµ = Bα ∩ Bµ .
α µ α,µ

Se x ∈ A1 ∩ A2 , existe pelo menos um par de ı́ndices (α, µ) tal que


x ∈ Bα ∩ Bµ ; por 2 existe B ∈ B tal que:

x ∈ B ⊂ Bα ∩ Bµ ⊂ A1 ∩ A2 ;

logo, A1 ∩ A2 é aberto. O caso geral segue por indução.

Definição 1.5. Os conjuntos B ∈ B tal que x ∈ B são chamados vizi-


nhanças do ponto x.

Exemplo 1.5.
[1] Uma topologia é base de si própria.
[2] Para Tind , a base é B = {X}.
[3] Para Tdis , a base é B = {{x} / x ∈ X}.
[4] Logo, bases diferentes podem gerar a mesma topologia.
[5] (Fundamental) Seja X = R e a, b ∈ R tal que a < b, então:

B = {(a, b)}

gera a topologia usual ou euclidiana de R.


De fato:
1.6. SUB-BASES 19
[
1. R = (a, b).
a<b

2. Para todo x ∈ R, (x − 1, x + 1) ∈ B.
3. Para todo x ∈ R tal que x ∈ (a1 , b1 ) ∩ (a2 , b2 ), temos:

x ∈ (a, b) ⊂ (a1 , b1 ) ∩ (a2 , b2 ),

onde a = max{a1 , a2 } e b = min{b1 , b2 }.

[6] Sejam R, B a base da topologia euclidiana e B0 = {[a, b) / a < b}. Su-


ponha que B0 é uma base. (Veja os exercı́cios). Então estas bases geram
topologias diferentes.
Seja (a, b) ∈ B; para todo x ∈ (a, b), existe [x, b) ∈ B0 tal que:

x ∈ [x, b) ⊂ (a, b).

Por outro lado, dado [x, d) ∈ B0 , não existe (a, b) ∈ B tal que:

x ∈ (a, b) ⊂ [x, d).


Logo, as bases geram topologias diferentes.

1.6 Sub-bases

Seja X, T um espaço topológico e S uma famı́lia de subconjuntos de X
tal que S ⊂ T.

Definição 1.6. S é uma sub-base de T se a coleção de interseções finitas


de elementos de S é uma base de T.

Proposição 1.1. Sejam X um cojunto não vazio e S uma famı́lia de ele-


mentos de X tais que para todo x ∈ X existe A ∈ S tal que x ∈ A. Seja B
a coleção de interseções finitas de elementos de S. Então, a famı́lia T for-
mada por ∅, X e as uniões arbitrárias de elementos de B é uma topologia
para X e é a menor topologia que contém S.
Prova :
Claramente ∅, X ∈ T e toda união de elementos de T pertence a T. Mos-
traremos que qualquer interseção finita de elementos de T está em T, ou
melhor, provaremos que se A, B ∈ T, então A ∩ B ∈ T:
Se A ou B é vazio, está provada a proposição.
20 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

1. Suponha que A e B são não vazios. Então:


[ [
A= Aα , B = Bβ ,
α β

onde Aα , Bβ ∈ B. Logo:
[  [  [

A∩B = Aα ∩ Bβ = Aα ∩ Bβ .
α β α, β

Por outro lado Aα e Bβ são interseções finitas de elementos de S, logo


Aα ∩ Bβ é uma interseção finita de elementos de S e, A ∩ B ∈ T.
2. Claramente S ⊂ T.
3. Se T0 é outra topologia em X que também contém S, então B ⊂ T0 ; logo,
T0 deve conter as uniões arbitrárias de elementos B, isto é T ⊂ T0 . Então
T é a menor topologia sobre X que contém S, isto é, S é uma sub-base de
X.

Observação 1.4. Em geral S não é uma base de T, pois os elementos de T


não podem ser escritos, necessariamente, como uniões de elementos de S.

Exemplo 1.6.

[1] Toda topologia é sub-base de si mesma.


[2] S = {(−∞, a), (b, +∞) / a, b ∈ R} é uma sub-base para a topologia
usual de R.
[3] S = {(−∞, a], [b, +∞) / a, b ∈ R} é uma sub-base para a topologia
discreta de R.
 
[4] Sejam X, T1 e Y, T2 espaços topológicos; então:

S = {U × Y, X × V / U ∈ T1 , V ∈ T2 }

é uma sub-base para a topologia produto em X × Y .

1.7 Topologia Relativa


Uma questão natural que surge das últimas definições é: fixada uma to-
pologia num conjunto, um subconjunto não vazio herda de alguma forma
esta estrutura?
1.7. TOPOLOGIA RELATIVA 21

Definição 1.7. Seja X, T um espaço topológico e ∅ =
6 Y ⊂ X, então:

1.
TY = {A ∩ Y / A ∈ T},

é uma topologia sobre Y chamada topologia relativa a Y .


 
2. O par Y, TY é dito subespaço topológico de X, T .

3. Os elementos de TY são ditos abertos relativos.

Observação 1.5. Em geral, os abertos relativos não são abertos no espaço


total. Veja os exemplos.

Exemplo 1.7.
[1] Seja R com a topologia usual e consideremos Q ⊂ R com a topologia
relativa, então A = {x ∈ Q / 0 < x < 1} é aberto em Q pois A = (0, 1) ∩ Q
e A não é aberto em R.

[2] Seja R com a topologia usual. N e Z ⊂ R são subespacos topológicos


tais que a topologia relativa é a topologia discreta. De fato, se n ∈ Z então:
1 1
{n} = Z ∩ n − , n + .
2 2
[3] Seja R = R ∪ {+∞} ∪ {−∞} com a topologia gerada por:

{+∞} ∪ (a, +∞) e {−∞} ∪ (−∞, a).

A topologia T gerada por estes conjuntos é dita topologia estendida.


[4] Seja Y = R ⊂ R com a topologia relativa; então TY é a topologia eucli-
diana.
 
Proposição 1.2. Seja Y, TY subespaço topológico de X, T .

1. Seja B = {Bγ / γ ∈ Γ} uma base de T; então BY = {Bγ ∩ Y / γ ∈ Γ}


é uma base para BY .

2. A ⊂ Y é fechado se, e somente se A = Y ∩ F , onde F ⊂ X é fechado.

3. Se A é fechado (aberto) em Y e Y é fechado (aberto) em X, então A é


fechado (aberto) em X.
22 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Prova :
1. Imediata.

2. Se A ⊂ Y é fechado, então A = Y − W , onde W é aberto em Y ; logo


W = Y ∩ U , onde U é aberto em X; por outro lado:

A = Y − Y ∩ U = Y ∩ U c.

Reciprocamente, se A = Y ∩ F , onde F ⊂ X é fechado, então:

Y − A = Y ∩ F c;

logo, A é fechado em Y .
3. Como A = Y ∩ F e ambos são fechados em X, então A é fechado em
X

Exemplo 1.8.
[1] Seja R2 com a topologia usual. O conjunto

S 1 = {(x, y) ∈ R2 / x2 + y 2 = 1} ⊂ R2
com a topologia relativa é dito cı́rculo unitário. Os abertos relativos em S 1
são os arcos abertos de cı́rculos.

Figura 1.1: Abertos relativos de S 1

[2] Em geral, seja Rn+1 com a topologia usual. O conjunto:


X
n
S = {(x1 , . . . , xn , xn+1 ) ∈ R
n n+1
/ x2i = 1}
i=1

com a topologia induzida, é chamado esfera unitária.


1.8. PONTOS E CONJUNTOS NOTÁVEIS 23

1.8 Pontos e Conjuntos Notáveis


Nesta seção estudaremos alternativas para determinar se um conjunto é
aberto, e/ou fechado.

Definições 1.1. Seja X, T um espaço topológico e A ⊂ X

1. x ∈ X é um ponto interior a A se existe U vizinhança de x tal que:

x ∈ U ⊂ A.


O conjunto de todos os pontos interiores a A é denotado por: A ou
Int(A).

2. x ∈ X é um ponto exterior a A se é interior a Ac .

O conjunto de todos os pontos exteriores a A é denotado por: Ext A.

3. x ∈ X é um ponto aderente a A se para toda vizinhança U de x


temos:

A ∩ U 6= ∅.

O conjunto de todos os pontos aderentes a A é denotado por: A. O


conjunto A é dito fecho de A.

4. x ∈ X é um ponto de acumulação de A se para toda vizinhança U


de x temos:


A − {x} ∩ U 6= ∅.

O conjunto de todos os pontos de acumulação a A é denotado por:


A0 .

5. x ∈ X é um ponto da fronteira de A se é aderente a A e a Ac . O


conjunto de todos os pontos da fronteira de A é denotado por: ∂A.

6. x ∈ X é um ponto isolado de A se {x} é vizinhança de x

7. Um conjunto onde todos os pontos são isolados é dito discreto.


24 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

8. A ⊂ X é dito denso em X se:

A = X.

Observações 1.4.

1. Se A ⊂ X, então X = A ∪ ∂ A ∪ Ext A, onde as uniões são disjuntas.

∅ = ∅ e X = X. A ⊂ A e, por definição, é um conjunto aberto.

2. x ∈/ A se, e somente se existe uma vizinhança U de x tal que U ∩A = ∅,


isto é:

 ◦
x∈
/A ⇔ x ∈ Ac .

c ◦  ◦
3. Logo, A = Ac = Ext A e como X = A ∪ ∂A ∪ Ext A, onde as
uniões são disjuntas, temos:


A = A ∪ ∂A,

sendo a união disjunta.

c ◦ 
4. O conjunto A é fechado. De fato, A = Ac que é aberto.

5. Para todo A ⊂ X, temos A ⊂ A. De fato, se x ∈ / A, então existe U


vizinhança de x tal que U ∩ A = ∅, isto é x ∈ U ⊂ Ac ; logo x ∈
/ A.

6. Para todo A, B ⊂ X, temos: se A ⊂ B, então A ⊂ B.

De fato, se x ∈/ B, então existe U vizinhança de x tal que U ∩ B = ∅,


isto é x ∈ U ⊂ B c ; como B c ⊂ Ac , então x ∈
/ A ⊂ A.

7. ∂ A é um conjunto fechado, pois:

c ◦ ◦
∂A = A ∪ Ac

que é aberto:

8. ∂ ∂ A = ∅.
1.8. PONTOS E CONJUNTOS NOTÁVEIS 25

Exemplo 1.9.

[1] Sejam R com a topologia usual e A = (0, 1) ∪ {2}; então:



A = (0, 1), Ext A = (−∞, 0] ∪ [1, 2) ∪ (2, +∞), A = [0, 1] ∪ {2}, A0 = [0, 1] e
∂ A = {0} ∪ {1}.

[2] Sejam N, Z e Q ⊂ R e R com a topologia usual; então:


◦ ◦
N e Z são discretos. Z = ∅ e Z = ∂ Z = Z. Q = ∅, pois nenhum intervalo
aberto pode ser formado apenas por racionais.
∂ Q = R, pois todo intervalo aberto contem racionais e irracionais.
Q = R, isto é, Q é denso em R. De fato, suponha que Q 6= R, então existe
x ∈ R − Q. Como R − Q é aberto, existe (a, b) tal que:

x ∈ (a, b) ⊂ R − Q.

Por outro lado, todo intervalo contém números racionais, logo existe q ∈ Q
tal que q ∈ (a, b) ⊂ R − Q; logo q ∈ R − Q, o que é uma contradição.
Por outro lado Q 0 = R.

Proposição 1.3. Sejam X, T e A ⊂ X:

1. A é fechado se, e somente se A = A.

2. A = A.

Prova :

1. Suponha A fechado; então Ac é aberto. Se x ∈/ A, então x ∈ Ac , logo


existe U vizinhança de x tal que x ∈ U ⊂ Ac ; então U ∩ A = ∅ isto é
x∈/ A; logo A ⊂ A.

A = A ⇔ se x ∈ / A, então existe uma vizinhança U de x tal que


U ∩ A = ∅ ⇔ x ∈ U ⊂ Ac isto é Ac é aberto ⇔ A é fechado.

2. Como A é fechado, pelo ı́tem anterior A = A.


26 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Teorema 1.3. Seja X, T e A ⊂ X; então A é o menor conjunto fechado
que contem A, isto é:
\
A= F / A ⊂ F e F é fechado .

Prova :
T T  c S  c
(⊂) Se x ∈ / F , então x ∈ F = F que é aberto; logo,
existe pelo menos um F c tal que x ∈ F c ; como F c é aberto, existe U
vizinhança de x tal que x ∈ U ⊂ F c ⊂ Ac ; então U ∩ A = ∅; logo x ∈
/ A.
T
(⊃) A é fechado e A ⊂ A; então F} ⊂ A .

Exemplo 1.10.

[1] Seja X, Tsier ; então {b} = {b} e {a} = X.

[2] Seja X, T onde T é a topologia discreta. Como todos os subconjuntos
de X são fechados, o único conjunto denso em X é X.
[3] Seja X = {a, b, c, d, e} com a seguinte topologia:

T = {∅, X, {a}, {c, d}, {a, c, d}, {b, c, d, e}}.

Pelo teorema temos que:

{b} = {b, e}, {a, c} = X e {b, d} = {b, c, d, e}.

Logo, o menor fechado que contém {b} é {b, e}. Note que {a, c} é denso
em X.
 ◦
Teorema 1.4. Sejam X, T e A ⊂ X; então A é o maior conjunto aberto
contido em A, isto é:
◦ [
A= U / U ⊂ A e U é aberto .

Prova :
◦ ◦ ◦ S
(⊂) A é aberto e A ⊂ A; então A ⊂ U .
S
(⊃) Seja x ∈ U , então existe pelo menos um U tal que x ∈ U ⊂ A, isto

é x ∈ A.


Proposição 1.4. Sejam X, T e A ⊂ X.
1.8. PONTOS E CONJUNTOS NOTÁVEIS 27

1. A = A ∪ A0 . Em particular, A é fechado se, e somente se A0 ⊂ A.


◦ c ◦
2. A = Ac . Em particular, A é aberto se, e somente se A = A.

Prova :

1. Por definição A0 ⊂ A; por outro lado A ⊂ A, então A ∪ A0 ⊂ A.


Reciprocamente, seja x ∈ A. Se x ∈ A está provado.

Se x ∈ / A, então toda vizinhança U de x é tal que U − {x} ∩ A 6= ∅,
isto é, x ∈ A0 .

2. Se U ⊂ A, então Ac ⊂ U c e os conjuntos abertos U ⊂ A são exata-


mente os complementares dos conjuntos F fechados tais que Ac ⊂ F .
Pelo teorema anterior:

◦ [
A= U / U ⊂ A e U é aberto
[
= F c / Ac ⊂ F e F é fechado
\ c

= F / A ⊂ F e F é fechado
c c

c
= Ac .

Exemplo 1.11.

[1] Seja X, Tsier ; então:
◦ ◦
{b} = ∅, {a} = {a}. {b}0 = ∅ e {a}0 = {b}. ∂ {b} = ∂ {a} = b.

[2] Seja X, Tind ; então:

Para todo A ⊂ X tal que A 6= X, temos que A = ∅. Para todo A ⊂ X não
vazio, A = X. Se A tem mais de um elemento, temos A0 = X e {x}0 = {x}c
e ∂ A = X.

[3] Seja X, Tdis ; então:

Para todo A ⊂ X temos que: A = A, A = A, A0 = ∅ e ∂ A = ∅

[4] Seja X, Tcof ; então:

Para todo A ∈ / Tcof temos que A = ∅. Se A é infinito, A = X. Para todo
A ⊂ X tal que A é infinito, A0 = X e se A é finito, A0 = ∅. Para todo A ⊂ X
aberto tal que X é infinito, ∂ A = X − A; caso contrário ∂ A = X.
28 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

 ◦
[5] Considere R, Tcof e A = [0, 1]. Então A = ∅ e A = A0 = ∂ A = R.

[6] Seja X, Tind ; para todo A ⊂ X tal que A 6= X, temos que ∂ A = X.

[7] Seja X, Tdis ; para todo A ⊂ X temos que ∂ A = ∅.

Proposição 1.5. São equivalentes as seguintes condições:

1. A é denso em X.

2. Se F é fechado e A ⊂ F , então F = X.

3. Todo aberto básico não vazio de X contém elementos de A.



4. Ac = ∅.

Prova :
1) ⇒ 2) Se A ⊂ F , então X = A ⊂ F = F , logo F = X.

2) ⇒ 3) Seja U aberto básico não vazio tal que U ∩ A = ∅; então


A ⊂ U c 6= X, o que é uma contradição pois U c é fechado.

3) ⇒ 4) Suponha que Int Ac 6= ∅; como Int Ac é aberto, então existe U


aberto básico não vazio tal que U ⊂ Int Ac ; como Int Ac ⊂ Ac , U ⊂ Ac e
U ∩ A = ∅; logo U não contém pontos de A.

4) ⇒ 1)
 c
c c ◦
A = Ac = Ac = ∅.

Logo, A = X.

Seja Y subespaço de X e denotemos por AY o conjunto A como subcon-


junto de Y ; então:

◦ ◦
1. AY = A ∩ Y .

2. AY = A ∩ Y .

3. A0 Y = A0 ∩ Y .
1.9. TOPOLOGIA MÉTRICA 29

Exemplo 1.12.

Seja R com a topologia usual e Y = [0, 1) ∪ (1, 3) ∪ {5} com a topologia


relativa. Então:
(1, 3) = (1, 3) ∩ Y ; por outro lado, (1, 3) = [1, 3] ∩ Y ; logo (1, 3) é aberto e
fechado em Y . Logo,

[
(1, 3)Y = (1, 3)Y = (1, 3).

[
[0, 1) = [0, 1] ∩ Y ; logo [0, 1) é fechado em Y . Logo, [0, 1)Y = (0, 1).

1.9 Topologia Métrica

1.10 Introdução
Uma importante classe de exemplos de espaços topológicos é a dos espa-
ços métricos.

1.11 Espaços Métricos


Seja um conjunto M 6= ∅.

Definição 1.8. Uma métrica ou distância sobre M é uma função:

d : M × M −→ R,

tal que, para todo x, y, z ∈ M , tem-se:

1. d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 se, e somente se x = y.

2. Simetria: d(x, y) = d(y, x).

3. Desigualdade triangular:

d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z).

4. O par (M, d) é chamado espaço métrico.


30 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Exemplo 1.13.

[1] (M, d) é um espaço métrico com a métrica:


(
0 se x 6= y
d(x, y) =
1 se x = y.

d é dita métrica discreta.


[2] (R, d) é uma espaço métrico com d(x, y) = |x − y|, onde | | é o valor
absoluto em R.
[3] Rn como espaço métrico. Em Rn podemos definir as seguintes métri-
cas:

v
u n
uX
d1 (x, y) = t (xi − yi )2 ,
i=1

X
n
d2 (x, y) = |xi − yi |,
i=1

d3 (x, y) = max |xi − yi |,


1≤i≤n

onde x = (x1 , x2 , . . . , xn ) e y = (y1 , y2 , . . . , yn ) ∈ Rn . As provas que d1 e


d2 são métricas são imediatas. Por outro lado, a desigualdade triangular
para d3 segue de:

|xi − zi | ≤ |xi − yi | + |yi − zi | ≤ d3 (x, y) + d3 (y, z).

[4] Seja B(M, R) o conjunto de todas as funções limitadas f : M −→ R.


Como a soma e a diferença de funções limitadas é limitada, então:

d(f, g) = sup |f (x) − g(x)|,


x∈M

é uma métrica em B(M, R). A única propriedade não trivial é a desigul-


dade triangular. Seja x ∈ M , utilizando a desigualdade triangular em
(R, | |). Para todo x ∈ M temos: |f (x) − h(x)| ≤ |f (x) − g(x)| + |g(x) − h(x)|,
então:
1.11. ESPAÇOS MÉTRICOS 31

|f (x) − h(x)| ≤ |f (x) − g(x)| + |g(x) − h(x)|


≤ sup |f (x) − g(x)| + sup |g(x) − ghx)|
x∈M x∈M
≤ d(f, g) + d(g, h).

Considerando o supremo em ambos os lados na última desigualdade, te-


mos que:

d(f, h) ≤ d(f, g) + d(g, h).

Pois, o lado direito da desiguldade não depende de x ∈ M .

Definição 1.9. Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espaços méricos. f : M1 −→ M2 é


uma isometria se é bijetiva e:

d2 (f (x), f (y)) = d1 (x, y),

para todo x, y ∈ M1 .

Exemplo 1.14.
[1] Seja R com a distância usual e f : R −→ R definida por f (x) = x/2. A
função f é bijetiva, por outro lado:

|f (x) − f (y)| = 1/2 |x − y|.

Logo, não é uma isometria.


[2] Sejam (Rn , d1 ), a ∈ Rn e Ta : Rn −→ Rn definida por Ta (v) = v + a,
então f é uma isometria.
De fato, Ta é claramente bijetiva, e:

d1 (Ta (x), Ta (y)) = d1 (v + a, w + a)


v
u n
uX
= t ((xi − ai ) − (yi − ai ))2
i=1
v
u n
uX
= t (xi − yi )2
i=1

= d1 (x, y).

Se mudamos para as outras métricas de Rn , f é isometria?


32 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

1.12 Abertos e Fechados em Espaços Métricos


Seja (M, d) um espaço métrico e r ∈ R tal que r > 0.

Definição 1.10. Uma bola aberta em M de centro x0 e raio r é denotada e


definida por:

B(x0 , r) = {x ∈ M / d(x, x0 ) < r}.

Definimos B(x, 0) = ∅. Se r ≤ s, então B(x0 , r) ⊂ B(x0 , s).

Exemplo 1.15.
[1] Seja M = R, com d = | |; então:

B(x0 , r) = (x0 − r, x0 + r);

isto é, as bolas abertas são os intervalos abertos.


[2] Seja M = R, com d1 ; então:

B((x0 , y0 ), r) = {(x, y) / (x − x0 )2 + (y − y0 )2 < r2 };

isto é, um disco aberto centrado em (x0 , y0 ).

Proposição 1.6. As bolas abertas num espaço métrico formam uma base
para uma topologia no espaço métrico.
[
Prova : 1. Claramente: M = B(x, 1).
x∈M

2. Seja z ∈ B(x, rx ) ∩ B(y, ry ); seja r = min{rx − d(x, z), ry − d(y, z)}; então

B(z, r) ⊂ B(x, rx ) ∩ B(y, ry ).

De fato, r > 0 e se w ∈ B(z, r); temos:

d(w, x) ≤ d(w, z) + d(z, x) < r + d(z, x) ≤ rx − d(z, x) + d(z, x) = rx ;

logo, w ∈ B(x, rx ). De forma análoga, w ∈ B(y, ry ).

Observação 1.6. A topologia gerada por esta base é chamada topologia


métrica gerada pela distância d, e será denotada por Td .
1.13. ESPAÇOS VETORIAIS NORMADOS 33

Definição 1.11. O espaço topológico X, T é dito metrizável se T é uma
topologia métrica.

Exemplo 1.16.

[1] Seja M, d , onde d é a métrica discreta; então B(x, 1/2) = {x}; logo Td
é a topologia discreta.

[2] Se X possui mais de 2 pontos, X, Tind não é metrizável.

Proposição 1.7. Sejam (M, d) um espaço métrico, y0 ∈ M e ∅ 6= A ⊂ M .


Definamos a distância entre o ponto y0 é o conjunto A por:

d(y0 , A) = inf {d(y0 , x) / x ∈ A}.

Então, d(y, A) = 0 se, e somente se y ∈ A. Logo,

A = {y / d(y, A) = 0}.

Prova : Se y ∈ A se, e somente se existe B(y, r) tal que B(y, r) ∩ A 6= ∅


se, e somente se existe ar ∈ A tal que d(y, ar ) < r se, e somente se existe
d(y, A) = 0.

1.13 Espaços Vetoriais Normados


Seja V um R-espaço vetorial.

Definição 1.12. Uma norma sobre V é uma função:

k k : V × V −→ R,

tal que, para todo x, y ∈ V e λ ∈ R, tem-se:

1. Se x 6= 0, então kxk 6= 0.

2. kλ xk = |λ| kxk.

3. kx + yk ≤ kxk + kyk.

O par (E, k k) é chamado espaço vetorial normado.


34 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Exemplo 1.17.

[1] (Rn , k ki ) é um espaço vetorial normado com as seguintes normas:

v
u n
uX
kxk1 = t x2i ,
i=1

X
n
kxk2 = |xi |,
i=1
kxk3 = max |xi |,
1≤i≤n

onde x = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn .
[2] B(M, R) é um espaço vetorial, sendo:

kf k = sup |f (x)|,
x∈M

uma norma em B(M, R).


Seja (E, k k) um espaço vetorial normado. Definindo:

d∗ (x, y) = kx − yk,

temos que (E, d∗ ) é um espaço métrico. d∗ é chamada métrica proveniente


da norma k k.

1.14 Espaços Vetoriais com Produto Interno


Seja V um R-espaço vetorial.

Definição 1.13. Um produto interno sobre V é uma função:

< >: V × V −→ R,
tal que, para todo x, y, z ∈ V e λ ∈ R, tem-se:

1. Se x 6= 0, então < x, x >> 0.

2. < λ x, y >= λ < x, y >.

3. < x, y >=< y, x >.


1.15. TOPOLOGIA DE ZARISKI 35

4. < x + y, z >=< x, z > + < y, z >.

Seja (E, < >) um espaço vetorial com produto interno. Definindo:

kxk∗ = < x, x >,

temos que (E, k k∗ )) é um espaço vetorial normado. k k∗ é chamada


norma proveniente do produto interno < >.
Nem toda norma num espaço vetorial provém de um produto interno.

1.15 Topologia de Zariski


A topologia de Zariski é fundamental para o estudo de diferentes áreas da
Álgebra, como por exemplo, Álgebra Comutativa e Geometria Algébrica.
Seja K = R ou C. Consideremos a famı́lia dos polinômios de n-variáveis
em K. Isto é:

{fi / fi ∈ K[x1 , x2 , , . . . , xn ], i ∈ I}.

e seja:

Z(fi ) = {x ∈ Kn / fi (x) = 0, i ∈ I}.

Exemplo 1.18.

Se f (x, y) = x2 + y 2 − 1, então Z(f ) = S 1 .


Note que Z(cte) = ∅ e Z(0) = K.
Sejam Z(fi ) e Z(gj ). Denotemos hij = fi gj ∈ K[x1 , x2 , , . . . , xn ] tal que i ∈ I
e j ∈ J. Afirmamos que Z(fi ) ∪ Z(gj ) = Z(fi gj ). De fato, se hij (x) = 0
para todo i ∈ I e j ∈ J, então:

0 = hij (x) = fi gj (x) = fi (x) gj (x)

para todo i ∈ I e j ∈ J; logo fi (x) = 0 para todo i ∈ I ou gj (x) = 0 para


todo j ∈ J.
c
Denotemos por D(fi ) = Z(fi ) e B = {D(fi ) / i ∈ I}. A famı́lia B forma
uma base para uma topologia em Kn .

Definição 1.14. A topologia que gera B em Kn é chamada de Zariski.


36 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Os Z(fi ) são os fechados na topologia de Zariski. Em R, a topologia de


Zariski é a topologia cofinita. De fato, todo subconjunto finito em R é
conjunto solução para algum polinômio de uma variável real.
Por exemplo, se R = {r1 , r2 , . . . , rn }, então:

f (x) = (x − r1 ) (x − r2 ) . . . (x − rn )

é um polinômio que tem como conjunto solução R. Por outro lado o con-
junto de soluções de um polinômio de uma variável de grau n possui no
máximo n elementos.
Se n > 1 a topologia de Zariski não é a cofinita.
Por exemplo, a reta y = 1 é solução do polinômio f (x, y) = x − 1 que não
é um conjunto finito em R2 .

1.15.1 Topologia de Zariski em Anéis

Seja A um anel e denotemos por Spec(A) o conjunto de todos os ideais


primos de A. Consideremos a seguinte famı́lia de subconjuntos:

V (I) = {p / p ∈ Spec(A), I ⊂ p},

onde I é um ideal de A.

1. V (0) = Spec(A) e V (A) = ∅. Por outro lado:

V (I) ∪ V (J) = V (IJ)

\ X 
V (Iα ) = V Iα
α∈Γ α∈Γ

2. Definimos sobre Spec(A) a topologia de Zariski, como a topologia


que tem como conjuntos fechados os V (I).

3. Se denotamos por D(I) = Spec(A) − V (I) os abertos da topologia de


Zariski, é possı́vel provar que se I é um ideal principal, a base para
a topologia de Zariski é:

B = {D(I) / I é um ideal principal}.


1.16. EXERCÍCIOS 37

1.16 Exercı́cios
1. Quantas topologias podem ser definidas no conjunto

X = {a, b, c, d} ?

2. Verifique a famı́lia:

Tn = {∅, N, An / n ∈ N},

onde:

An = {1, 2, 3, . . . , n}

é uma topologia em N.

3. Seja X, T . Se para todo x ∈ X, {x} ∈ T, verifique que T = Tdis .

4. Seja X, T e Y = X ∪ {a}, a ∈
/ X. Defina:

T(Y ) = {U ∪ {a} / U ∈ T}.



Y, T(Y ) é um espaço topológico?

5. Seja X com a topologia cofinita. Verifique que os fechados de X são


X, ∅ e os subconjuntos finitos de X.

6. Ache exemplo de um espaço topológico em que os conjuntos abertos


são também conjuntos fechados. Não considere a topologia discreta
ou a indiscreta.

7. Sejam T1 e T2 duas topologias sobre o conjunto não vazio X. Consi-


dere:

(a) T1 ∩ T2 a famı́lia formada por abertos comuns a ambas as topo-


logias.
(b) T1 ∪ T2 a famı́lia formada pela reunião dos abertos a ambas as
topologias.

As famı́lias definidas são topologias sobre X? No caso negativo, ache


um contra-exemplo.
38 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

8. Seja X = R e a, b ∈ R tal que a < b. Verifique que:

B = {[a, b)}

gera a topologia chamada do limite inferior em R e é denotada por


Tlinf .

9. Seja X = R e a, b ∈ Q tal que a < b. Então:

B = {(a, b)}
√ √
gera a topologia usual de R? Determine (0, 2) e (1, 2), nesta topo-
logia.
 
10. Sejam X, T1 e Y, T2 espaços topológicos. Verifique que:

B = {U × V / U ∈ T1 , V ∈ T2 }

é uma base para uma topologia de X × Y . Esta topologia é chamada


produto.

11. Se a, b, c, d ∈ R e B = {(a, b) × (c, d) / a < b, c < d}. Verifique que B


é uma base para a topologia usual em R2 .

12. Seja X = {1, 2, 3, 4, 5}. Verifique que não existe nenhuma topologia
em X que tenha como base:

B = {{1, 2}, {2, 4, 5}, {3, 4, 5}}.

13. Seja X = {a, b, c, d, e, f } com a seguinte topologia:

T = {∅, X, {a}, {c, d}, {a, c, d}, {b, c, d, e, f }}.

Verifique que:

B = {{a}, {c, d}, {b, c, d, e, f }}

é uma base para T.

14. Verifique que B = {[a, b] / a, b ∈ R} é uma base para a topologia


discreta em R.
1.16. EXERCÍCIOS 39

15. Seja X, T e A ⊂ X. Verifique que:

(a) ∂ A ⊂ A, se e somente se A é fechado.


(b) ∂ A = ∅, se e somente se A é aberto e fechado.
(c) ∂ A ∩ A = ∅, se e somente se A é aberto.

16. Seja p ∈ X e defina a seguinte topologia em X:

T = {∅, A ∈ P(X) / p ∈ A}.

Verifique que T é uma topologia e que {p} é denso em X.


17. Verifique que A = X − Ac


18. Seja A = {p + q 2 /, p, q ∈ Z}. O conjunto A é denso em R?

19. Seja X um espaço topologico, A ⊂ X é dito totalmente não denso


em X se Int A = ∅. Considere R com a topologia usual:

(a) Verifique que Z é totalmente não denso em R.

1
(b) Verifique que { / n ∈ N} é totalmente não denso em R.
n
(c) Seja A ⊂ X aberto, ∂A é totalmente não denso em X?

20. Verifique se são métricas:

(a) d1 (x, y) = (x − y)2 , x, y ∈ R.


(b) d2 (x, y) = |x3 − y 3 |, x, y ∈ R.
|x − y|
(c) d3 (x, y) = , x, y ∈ R.
1 + |x − y|

Nos casos afirmativos, descreva os abertos.

21. Verifique que em Rn , temos: d3 ≤ d1 ≤ d2 ≤ n d3 .



22. Seja C 0 [a, b] o conjunto das funções contı́nuas f : [a, b] −→ R. De-
fina:
40 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Z b
d1 (f, g) = |f (x) − g(x)| dx
s
a
Z b
d2 (f, g) = |f (x) − g(x)|2 dx
a


Verifique que d1 e d2 são métricas em C 0 [a, b] .

23. Determine a topologia definida pela métrica discreta.

24. Determine, geometricamente, as bolas abertas em Rn com as métri-


cas definidas anteriormente.

25. Seja (M, d) um espaço métrico:

(a) Seja r > 0 e:

B[x0 , r] = {x ∈ M / d(x, x0 ) ≤ r}.

Verifique que B[x0 , r] é um conjunto fechado.


(b) Seja F ⊂ M finito. Verifique que F é fechado.

26. Seja (M, d) um espaço métrico. Defina:

d1 = k d, d2 = d + k e d3 = d/k,

onde k ∈ R − {0}.

(a) Verifique se d1 , d2 e d3 são métricas.


(b) Verifique se d1 , d2 e d3 geram a mesma topologia.

27. Seja (M, d) um espaço métrico. Defina:

d(x, y)
d1 (x, y) = .
1 + d(x, y)

(a) Verifique d1 é uma métrica.


(b) Verifique que d1 e d geram a mesma topologia.

28. Se f é uma isometria, então f −1 é uma isometria?


1.16. EXERCÍCIOS 41
 
29. Sejam M, d1 e N, d2 espaços métricos. Definamos em M × N :

d((x1 , y1 ), (x2 , y2 )) = d1 (x1 , x2 ) + d2 (y1 , y2 ),

onde (x1 , y1 ), (x2 , y2 ) ∈ M × N . Verifique que d é uma métrica em


M × N . Esta métrica é dita métrica produto.

30. Se B 1 (x, r) é uma bola aberta em M e B 2 (y, s) é uma bola aberta em


N , então:

B = {B 1 (x, r) × B 2 (y, s)},

é uma base para uma topologia em M × N .



31. Sejam x = xn n∈N uma seqüência em R e:

X

(a) l = {x /
p
|xn |p < +∞}, 1 ≤ p < +∞.
n=1

(b) l = {x / sup{xn / n ∈ N} < +∞}.

Definamos em lp e em l∞ , respectivamente:

X
∞ 1/p
kxkp = |xn |
p

n=1
kxk∞ = sup {|xn |}.
n∈N

 
Verifique que lp , k kp e l∞ , k k∞ são espaços vetoriais norma-
dos.
 
32. Sejam E, k k1 e F, k k2 espaços vetoriais normados. Definamos
em E × F :

k(u, v)k = kuk1 + kvk2 ,

onde (u, v) ∈ E × F . Verifique que k k é uma norma em E × F . Esta


norma é dita norma produto.

33. Sejam x = xn n∈N uma seqüência em R e considere lp e l∞ como no
exercı́cio [31]:
 
34. Verifique se lp , k kp e l∞ , k k∞ são espaços vetoriais com pro-
duto interno.
42 CAPÍTULO 1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

35. Sejam V1 e V2 espaços vetoriais com produtos internos < , >1 e <
, >2 , respectivamente. Definamos em V1 × V2 :

< (u1 , v1 ), (u2 , v2 ) >=< u1 , u2 >1 + < v1 , v2 >2 ,

onde (u1 , v1 ), (u2 , v2 ) ∈ V1 × V2 . Verifique que < , > é um produto


interno em V1 × V2 .
Capı́tulo 2

FUNÇÕES EM ESPAÇOS
TOPOLÓGICOS

2.1 Introdução
A continuidade de uma função é um dos conceitos centrais em quase todas
as áreas da Matemática. E é o primeiro passo para tentar distinguir objetos
diferentes em Topologia.

2.2 Funções Contı́nuas


 
Sejam X, T1 e Y, T2 espaços topológicos.

Definição 2.1. A função f : X −→ Y é contı́nua se para todo V ∈ T2 temos


que:

f −1 V ∈ T1 .

f é contı́nua se a imagem inversa dos abertos de Y são abertos em X.

Observação 2.1. Uma função contı́nua


 não leva, necessariamente, abertos
em abertos. Por exemplo se Y, T2 é tal que T2 não é a topologia discreta,
ou se Y tem mais de dois elementos e T2 não é a topologia indiscreta.

Exemplo 2.1.

[1] Toda função constante é contı́nua. De fato, seja f : X −→ Y tal que


f (x) = y0 para todo x ∈ X e V ⊂ Y aberto, então:

43
44 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES EM ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

(
X se y0 ∈ V
f −1 V =
∅ se y0 ∈ / V.

Em ambos os casos f −1 V é aberto, logo f contı́nua.
[2] Seja X tal que T1 e T2 são topologias em X. A função identidade:
 
id : X, T1 −→ X, T2

é contı́nua se, e somente se T2 ⊂ T1 .


 
De fato, considere X = R, Tus e Y = R, Tlinf , então:

id−1 [a, b) = [a, b) ∈
/ Tus .
 
[3] Sejam X, T e Y, Tind . Toda função

f : X −→ Y

é contı́nua.
 
[4] Sejam X, Tdis e Y, T . Toda função

f : X −→ Y

é contı́nua.

Corolário 2.1. Seja Y ⊂ X. A topologia relativa TY pode ser caracterizada


como a menor topologia sobre Y tal que a função inclusão:

i : Y −→ X

é contı́nua.

De fato, se U ∈ T, a continuidade de i implica em que i−1 U = U ∩ Y
deve ser aberto em Y ; logo qualquer topologia onde i for contı́nua deve
conter TY .

  
Proposição 2.1. Sejam X, T1 , Y, T2 e Z, T3 espaços topológicos.

1. Se f : X −→ Y e g : Y −→ Z são contı́nuas, então:

g ◦ f : X −→ Z

é contı́nua.
2.2. FUNÇÕES CONTÍNUAS 45

2. Se f : X −→ Y é contı́nua e A ⊂ X é subespaço topológico, então:

f |A : A −→ Y

é contı́nua.

3. Se f : X −→ Y é contı́nua e f X ⊂ Y é subespaço topológico,
então:


f : X −→ f X

é contı́nua.

Prova :

−1
1. Segue do seguinte fato: g ◦ f = f −1 ◦ g −1

2. Note que f |A = f ◦i, onde i : A −→ X é a inclusão; pelo ı́tem anterior


f |A é contı́nua.
   
3. f −1 V ∩ f X = f −1 V ∩ f −1 f X = f −1 V .

 
Teorema 2.1. Sejam X, T1 e Y, T2 espaços topológicos e f : X −→ Y .
As seguintes condições são equivalentes:

1. f é contı́nua.

2. Para todo F ⊂ Y fechado, f −1 F é fechado em X.

3. A imagem inversa por f de qualquer elemento da base (subbase) de


Y é aberto em X (não necessariamente um aberto básico ou subbási-
co de X).

4. Para todo x ∈ X e para toda W vizinhança de f (x) em Y , existe U


vizinhança de x em X tal que:


f U ⊂ W.
46 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES EM ESPAÇOS TOPOLÓGICOS
 
5. f A ⊂ f A , para todo A ⊂ X.

 
6. f −1 B ⊂ f −1 B , para todo B ⊂ Y .

Prova :
 
1) ⇔ 2) De fato, f −1 Y − A = X − f −1 A , para todo A ⊂ Y .
1) ⇔ 3) Seja B uma base da topologia de Y e B ∈ B; como f é contı́nua,
f −1 B é aberto em X. A prova da recı́proca segue de que todo aberto
V ∈ T2 pode ser escrito como:
[
V = Bα ,
α∈Γ

e que:
[  [ −1 
f −1 Bα = f Bα .
α∈Γ α∈Γ

1) ⇒ 4) Como f contı́nua eW é aberto (é vizinhança de f (x)), considera-


mos o conjunto U = f −1 W que é vizinhança de x e:

f U ⊂ W.

4) ⇒ 5) Seja A ⊂ X e x ∈ A; provaremos que f (x) ∈ f A . Denotemos
por Ux a vizinhança de x tal que f Ux ⊂ W , onde W é vizinhança de f (x).
Se x ∈ A, então Ux ∩ A 6= ∅; logo:
   
∅ 6= f Ux ∩ A ⊂ f Ux ∩ f A ⊂ W ∩ f A ;

então f (x) ∈ f A .

5) ⇒ 6) Seja A = f −1 B ; então:
   
f A ⊂ f A = f f −1 B = B ∩ f X ⊂ B.

Logo, A ⊂ f −1 B
6) ⇒ 2) Seja F ⊂ Y fechado, então:
  
f −1 F ⊂ f 1− F = f −1 F .
  
Logo, f −1 F = f −1 F e f −1 F é fechado.
2.2. FUNÇÕES CONTÍNUAS 47

Observação 2.2. Pelo teorema, basta utilizar os abertos básicos da topo-


logia para estudar a continuidade de uma função. A função f é dita
contı́nua no ponto x0 ∈ X se o item [4] do teorema anterior vale para
x0 .

Exemplo 2.2.
Seja R com topologia usual. Verifique que f (x) = x2 é contı́nua.

Pela propiedade anterior, basta provar que f −1 (a, b) é aberto.
Temos três casos:
1. Se 0 < a < b, então:
 √ √ √ √
f −1 (a, b) = (− b, − a) ∪ ( a, b).

2. Se a < 0 < b, então:


 √ √
f −1 (a, b) = (− b, b).

3. Se a < b < 0, então:



f −1 (a, b) = ∅.

4. Nos três casos, os conjuntos f −1 (a, b) são abertos; logo f é contı́nua.
O seguinte corolário é fundamental em diversas áreas e é conhecido como
teorema de colagem.

Corolário 2.2. Seja X, T tal que X = A ∪ B, onde A e B são conjuntos
fechados (abertos) em X. Se f : A −→ Y e g : B −→ Y são funções
contı́nuas tais que f (x) = g(x) para todo x ∈ A ∩ B, então a função h :
X −→ Y definida por:
(
f (x) se x ∈ A
h(x) =
g(x) se x ∈ B

é contı́nua.

Prova : Seja F ⊂ Y fechado; então:

 
h−1 F = h−1 F ) ∩ A ∪ B
   
= f −1 F ∩ A ∪ g −1 F ∩ B
 
= f −1 F ∪ g −1 F .
 
Como f −1 F e g −1 F são fechados, então h contı́nua.
48 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES EM ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

Exemplo 2.3.

Seja R com a topologia usual e


(
x se 0 ≤ x ≤ 1
f (x) =
2−x se 1 ≤ x ≥ 2.

Logo, f é contı́nua.

Proposição 2.2. Seja X, T . Então f : X −→ R é contı́nua se, e somente se
para todo b ∈ R ambos os conjuntos:

{x / f (x) > b} e {x / f (x) < b}

são abertos.

Prova : Seja R, Tus . Consideramos (b, +∞) e (−∞, b) elementos da sub-
base da topologia euclidiana; logo:


f −1 (b, +∞) = {x / f (x) > b}

f −1 (−∞, b) = {x / f (x) < b}.

Observação 2.3. A condição que ambos os conjuntos sejam abertos não


pode ser ignorada. Por exemplo, consideremos a função caracterı́stica de
A, χA : R −→ R não é contı́nua.
De fato, considere A = (0, 1); então {x / χA (x) < 1} não é aberto e todos
{x / χA (x) > b} são abertos, Logo, na proposição ambos os conjuntos de-
vem ser abertos.

2.3 Continuidade em Espaços Métricos


 
Sejam M, d1 e M, d2 espaços métricos; então:

f : M −→ N

é contı́nua em x ∈ M , se para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que d1 (x, y) < δ
implica em que d2 (f (x), f (y)) < ε. Isto é:

f B 1 (x, δ) ⊂ B 2 (f (x), ε).
2.3. CONTINUIDADE EM ESPAÇOS MÉTRICOS 49

Proposição 2.3. Sejam (M, d) um espaço métrico, R com a topologia usual,


y0 ∈ M e A ⊂ M . A função f : M −→ R definida por f (y) = d(y, A) é
contı́nua. Veja a proposição 1.7.

Prova : Sejam x, y ∈ M ; então, para cada a ∈ A temos d(x, a) ≤ d(x, y) +


d(y, a), logo:

d(x, A) = inf {d(x, a) / a ∈ A} ≤ d(x, y) + inf {d(y, a) / a ∈ A}


≤ d(x, y) + d(y, A).

Então d(x, A) − d(y, A) ≤ d(x, y). Analogamente, mudando x por y e vice-


versa, obtemos:

|d(x, A) − d(y, A)| ≤ d(x, y).

Observações 2.1.
 
1. Sejam V, k k1 e W, k k2 espaços vetoriais normados de dimensão
finita. Então, toda aplicação linear f : V −→ W é contı́nua.
 
2. Sejam M, d1 e M, d2 espaços métricos; então:

f : M −→ N

é uniformemente contı́nua, se para todo x, y ∈ M e ε > 0, existe


δ(ε) > 0 tal que d1 (x, y) < δ(ε); implica em d2 (f (x), f (y)) < ε.

3. Uniformemente contı́nua implica contı́nua. A reciproca é falsa, basta


considerar:

f : (0, +∞) −→ (0, +∞)

definida por f (x) = 1/x é contı́nua e não uniformemente contı́nua.

4. A função f (y) = d(y, A) é uniformemente contı́nua.


 
5. Sejam V, k k1 e W, k k2 espaços vetoriais normados de dimensão
finita. Toda aplicação linear f : V −→ W é uniformemente contı́nua.
50 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES EM ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

2.4 Topologia Inicial



Sejam Y, T2 , X um conjunto não vazio e f : X −→ Y uma função. É
possı́vel achar
 uma topologia para X tal que f seja contı́nua? Por exemplo
se X, Tdis , então f é contı́nua.
Seja X um conjunto não vazio e:

Sf = {f −1 V / V ∈ T2 }.

Sf é uma subbase para uma topologia T(f ) sobre X que torna f contı́nua.

Definição 2.2. T(f ) é dita topologia inicial para f .

2.5 Topologia Produto


 
Sejam X, T1 , Y, T2 e X × Y . Denotemos por:

pr1 : X × Y −→ X
pr2 : X × Y −→ Y

as respectivas projeções canônicas, onde pr1 (x, y) = x e pr2 (x, y) = y.


pr1−1 U = U × Y,

pr2−1 V = X × V,
 
pr1−1 U ∩ pr2−1 V = U × V.

Note que:

 
Spr = {pr1−1 U , pr2−1 V / U ∈ T1 , V ∈ T2 } e
Bpr = {U × V / U ∈ T1 , V ∈ T2 }

são a subbase e a base que geram uma topologia sobre X × Y , que torna
as projeções contı́nuas. Esta topologia é dita topologia produto.
Esta é a menor topologia com esta propriedade. Isto é, W ⊂ X ×Y é aberto
se para todo x ∈ W existe U × V , U aberto em X e V aberto em Y tal que
x ∈ U × V ⊂ W.
2.5. TOPOLOGIA PRODUTO 51

XxV V UxV

UxY

Figura 2.1: Elementos de S e B.

Observação 2.4. Todos os argumentos desta seção são válidos para uma
quantidade finita de espaços topológicos.

Exemplo 2.4.
[1] Rn = R × R × . . . × R tem a topologia produto induzida pela topologia
de R. Se consideramos em R a topologia usual, então a topologia em Rn
também é a topologia euclidiana ou usual.
[2] S n ⊂ Rn+1 é um conjunto fechado. De fato, seja Rn com topologia usual
e consideremos a função f : Rn+1 −→ R definida por:

f (x1 , x2 , . . . , xn , xn+1 ) = x21 + x22 + . . . + x2n + x2n+1 − 1.



f é contı́nua e S n = f −1 {0} ; logo, S n é fechado.
[3] O cilindro S 1 × R tem a topologia produto induzida pela topologia de
R3 .
[4] Seja S 1 com a topologia induzida de R2 ; então T 2 = S 1 × S 1 com a
topologia produto, é dito toro.

Figura 2.2: O toro T 2 = S 1 × S 1


52 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES EM ESPAÇOS TOPOLÓGICOS
  
Proposição 2.4. Sejam X, T1 , Y, T2 , Z, T3 espaços topológicos, o es-
paço topológico produto Y × Z, Tp , f1 : X −→ Y e f2 : X −→ Z e
definamos:

f : X −→ Y × Z
por f (x) = (f1 (x), f2 (x)). Então, f é contı́nua se, e somente se f1 e f2 são
contı́nuas.

Prova : Sejam pr1 : Y × Z −→ Y e pr2 : Y × Z −→ Z as respectivas


projeções. Como fi = pri ◦ f , se f é contı́nua, então fi = pri ◦ f são
contı́nuas (i = 1, 2).
Reciprocamente, se as fi são contı́nuas, seja U × V um aberto básico de
Y × Z; então:
  
f −1 U × V = f1−1 U ∩ f2−1 V ;
logo, f é contı́nua.
   
Proposição 2.5. Sejam X, T1 , Y, T2 , Z, T3 , H, T4 espaços topológi-
cos, X × Y, Tp , Z × H, Tp espaços topológicos produto, f1 : X −→ Z e
f2 : Y −→ H. Definamos:

f1 × f2 : X × Y −→ Z × H
por (f1 × f2 )(x, y) = (f1 (x), f2 (y)). Se f1 e f2 são contı́nuas, então f1 × f2 é
contı́nua.

Prova : Sejam pr1 : X × Y −→ X e pr2 : X × Y −→ Y as respectivas


projeções. Como:

f1 ◦ pr1 : X × Y −→ Z
f2 ◦ pr2 : X × Y −→ H
são contı́nuas, então f1 × f2 é contı́nua.
 
Proposição 2.6. Sejam X, T1 um espaço topológico e E, k k um R-
espaço vetorial normado. Como E possui uma estrutura algébrica, dadas
f, g : X −→ E podemos definir a nova função:

f + g :X −→ E

x −→ f + g (x) = f (x) + g(x).
Se f e g são contı́nuas, então f + g é contı́nua.
2.6. FUNÇÕES ABERTAS E FECHADAS 53

Prova : Sejam h : X −→ E ×E tal que h(x) = (f (x), g(x)) e S : E ×E −→ E


tal que S(v1 , v2 ) = v1 + v2 ; a função S é contı́nua. Então f + g = S ◦ h, é
contı́nua.

Proposição 2.7. Sejam f : X −→ E e α : X −→ R e definamos a nova


função:

α f :X −→ E
x −→ α f )(x) = α(x) f (x)).

Se f e α são contı́nuas, então α f é contı́nua.

Prova : Sejam h : X −→ R×E tal que h(x) = (α(x), f (x)) e m : R×E −→ E


tal que m(λ, v) = λ v; a função m é contı́nua. Então α f = m ◦ h, é contı́nua.

Observação 2.5. A prova de que S e m são contı́nuas segue do fato de


serem ambas contrações. Veja [EL2].

2.6 Funções Abertas e Fechadas


 
Sejam X, T1 e Y, T2 espaços topológicos.

Definição 2.3. A função:

f : X −→ Y,

é aberta (fechada) se para todo U aberto (fechado) em X, temos que f U
é aberto (fechado) em Y .

Observamos que se f for aberta, não necessariamente f é contı́nua. Veja


os seguintes exemplos.

Exemplo 2.5.

[1] A função identidade:


 
id : X, T1 −→ X, T2

é aberta (fechada) se, e somente se T1 ⊂ T2 , mas não é contı́nua quando


T1 6= T2 .
[2] As projeções de um espaço produto são abertas.
54 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES EM ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

[3] As projeções não são fechadas. Por exemplo, seja R com a topologia
usual e considere as projeções pri : R2 −→ R, (i = 1, 2) e o conjunto:

H = {(x, y) ∈ R2 / x y = 1}.

Figura 2.3: H e a projeção R − {0}

H é fechado em R2 e pri (H) = R − {0}, que é aberto.


[4] Se X = {a, b} com a topologia discreta, então f : X −→ R definida por
f (a) = 0 e f (b) = 1 é contı́nua, fechada e não aberta.
Seja f : X −→ Y bijetiva. Então f é aberta se, e somente se f é fechada. De
fato. Seja U ⊂ X aberto; logo U c = F é fechado e

f (F ) = f (X − U ) = Y − f (U );

logo, f é fechada.

Proposição 2.8. Seja f : X −→ Y . São equivalentes as condições:

1. f é aberta.


◦ 
2. f (A) ⊂ \
f (A) , para todo A ⊂ X.

3. f leva abertos básicos de X em abertos básicos de Y

4. Para todo x ∈ X e toda U ⊂ X vizinhança de x, existe W ⊂ Y tal


que:

f (x) ∈ W ⊂ f (U ).
2.6. FUNÇÕES ABERTAS E FECHADAS 55

Prova :

◦ ◦ ◦ 
1) ⇒ 2) A ⊂ A; então f (A) ⊂ f (A); por outro lado f (A) é aberto e \
f (A)


\ 
é o maior aberto contido em f (A); logo f (A) ⊂ f (A) .

2) ⇒ 3) Seja U aberto básico de X; U = U ; então:

◦ 
f (U ) = f (U ) ⊂ \
f (A) ⊂ f (U );

logo, f (U ) é aberto básico.


3) ⇒ 4) Para cada x ∈ X, seja U vizinhança de x; existe V aberto básico
tal que x ∈ V ⊂ U . Considere W = f (V ).
4) ⇒ 1) Seja U ⊂ X aberto; para todo y ∈ f (U ) existe vizinhança Wy de y
tal que Wy ⊂ f (U ); logo:
[
f (U ) = Wy ;
y∈f (U )

então, f é aberta.

Proposição 2.9. f : X −→ Y é fechada se, e somente se f (A) ⊂ f (A).

Prova : Se f é fechada, então f (A) é fechado e f (A) ⊂ f (A), logo:

f (A) ⊂ f (A) = f (A).

Reciprocamente, seja F ⊂ X fechado; logo:

f (F ) ⊂ f (F ) ⊂ f (F ) = f (F );

então, f (F ) = f (F ) e f (F ) é fechado.
56 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES EM ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

2.7 Exercı́cios
1. Sejam X = {1, 2, 3, 4, 5} e Y = {a, b} com as seguintes topologias:

(a) T1 = {∅, X, {1}, {3, 4}, {1, 3, 4}} e T2 = {∅, Y, {a}}, respectiva-
mente. Ache todas as funções contı́nuas entre X e Y .
(b) T1 = {∅, X, {2}, {3, 4}, {2, 3, 4}} e T2 = {∅, Y, {b}}, respectiva-
mente. Ache todas as funções contı́nuas entre Y e X.

2. Seja X = {1/n / n ∈ N} ⊂ R com a topologia induzida pela topologia


usual de R. A função:


f :X −→ R, Tus
1/n −→ (−1)n n

é contı́nua?

3. Seja R com a topologia usual, as funçõs definidas por:


(
x2 se x ≤ 0
(a) f (x) =
x 3
se x ≤ 0
(
x2 + 4 se −4 ≤ x ≤ 0
(b) f (x) =
x − 3 se 0 ≤ x ≤ 4

são contı́nuas?

4. Verifique que a função f (y) = d(y, A) é uniformemente contı́nua.

5. Sejam X, Y espaços topológicos, A, B ⊂ X conjuntos fechados tais


que X = A ∪ B, f : A −→ Y e g : B −→ Y funçãoes contı́nuas. Se
f |A∩B = g|A∩B , verifique que:
(
f (x) se x∈A
h(x) =
g(x) se x∈B

é contı́nua.
  
6. Sejam X, T1 , Y, T2 , Z, T3 espaços topológicos e considere as
funçõesf : X −→ Y e f : Y −→ Z:

(a) Se f e g são abertas (fechadas), enão g ◦ f é aberta (fechada).


2.7. EXERCÍCIOS 57

(b) Se g ◦ f é aberta (fechada) e f é contı́nua e sobrejetiva, então g é


aberta (fechada)?
(c) Se g ◦ f é aberta (fechada) e g é contı́nua e injetiva, então f é
aberta (fechada)?

 
7. Sejam X, T1 , Y, T2 espaços topol
 ógicos. Prove que f é aberta se,
−1 −1
e somente se f ∂B ⊂ ∂f B , para todo B ⊂ Y .

8. Verifique que são equivalentes:

(a) f é fechada.
(b) Se U ∈ T1 , então {y ∈ Y / f −1 (y) ⊂ U } ∈ T2 .
(c) Se F ⊂ X é fechado, então {y ∈ Y / f −1 (y) ∩ F 6= ∅} é fechado
em Y .
 
9. Toda função f : R, Tcof −→ R, Tus é fechada? Justifique sua
resposta.
 
10. Toda função f : R, Tcof −→ R, Tcof é aberta e fechada? Justifique
sua resposta.

11. Seja X = {1, 2, 3, 4} com a topologia de base

{∅, {1}, {4}, {1, 2}, {1, 3}}.

Determine todas as funções abertas e contı́nuas de X em X.


12. Sejam X, Y espaços topológicos e f : X −→ Y injetiva. Verifique que
são equivalêntes:

(a) f −1 é contı́nua.
(b) f é aberta.
(c) f é fechada.

13. Sejam X um espaço topológico, R com a topologia usual, A ⊂ X e


definamos a função χA : A −→ R chamada caracterı́stica de A por:
(
1 se a ∈ A
χA (x) =
0 se a ∈
/A
Verifique que χA é contı́nua se, e somente se A é aberto e fechado em
X.
58 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES EM ESPAÇOS TOPOLÓGICOS

14. Seja R com a topologia usual e denotemos por Ra o conjunto R com


a topologia:

{∅, R} ∪ {(−a, a) / a ∈ R, a > 1}.

(a) Verifique que f : R −→ Ra tal que f (x) = x2 é contı́nua.

(b) f : Ra −→ R tal que f (x) = x2 é contı́nua?

15. Seja M (n, R) com a topologia usual, defina T : M (n, R) −→ M (n, R)


por T (A) = At , onde At é a matriz transposta de A. Verifique que T
é contı́nua.

16. Sejam Rn e M (n, R) com a topologia usual, definamos a seguinte


função F : M (n, R) × Rn −→ Rn definida por F (A, x) = A x, con-
siderando x como uma matriz n × 1. Verifique que F é contı́nua.

17. Sejam M , N espaços métricos e K ⊂ M um conjunto fechado e li-


mitado, denotemos por C(M, N ) = {f : M −→ N / f contı́nua}, se
V ⊂ N é aberto:

U(K, V ) = {h ∈ C(M, N ) / h(K) ⊂ V }.

(a) Verifique que U(K, V ) é uma subbase para uma topologia em


C(M, N ).
(b) Estude o caso M = N = R com a métrica usual..
Capı́tulo 3

HOMEOMORFISMOS

3.1 Introdução
Um dos problemas centrais em Topologia é poder decidir se dois espaços
são diferentes ou não.
Por exemplo, não é trivial dizer sob o ponto de vista da Topologia se uma
esfera é diferente de um cilindro, se uma esfera é diferente de um toro ou
se Rn é diferente de Rm , se n 6= m.
Neste capı́tulo começaremos com os primeiros conceitos que nos permi-
tirão responder a algumas destas questões fundamentais.

3.2 Homeomorfismos
Sejam X e Y espaços topológicos.

Definição 3.1. f : X −→ Y é um homeomorfismo se f é bijetiva, contı́nua


e f −1 é contı́nua.

Notação: Se X e Y são homeomorfos utilizamos a seguinte notação:

X∼
= Y.

Observações 3.1.

1. A composta de homeomorfismos é um homeomorfismo. Ser home-


omorfo é uma relação de equivalência na famı́lia dos espaços to-
pológicos.

59
60 CAPÍTULO 3. HOMEOMORFISMOS

2. Veremos nos próximos parágrafos que os espaços topológicos ho-


meomorfos possuem as mesmas propriedades topológicas. Isto é, se
consideramos as classes de equivalência, teremos que espaços home-
omorfos são essencialmente iguais em topologia.

3. Uma função bijetiva e contı́nua não é necessariamente um homeo-


morfismo. Veja o seguinte exemplo.

Exemplo 3.1.

Sejam S 1 ⊂ R2 e [0, 2 π) ⊂ R com as respectivas topologias induzidas pelas


topologias usuais. Definamos:

f : [0,2 π) −→ S 1
t −→ (cos(t), sen(t)).

f é contı́nua e bijetiva. Por outro lado,

f −1 : S 1 −→ [0, 2 π)

é descontı́nua em p = (1, 0).


De fato:
1
Seja ε = π; para cada n ∈ N, seja tn = 2 π − ∈ [0, 2 π) e zn = f (tn ), logo
n
1
kzn − pk < , pois o arco tn é maior que a corda.
n

tn p

zn

Figura 3.1:

Então f −1 (zn ) = tn e:
3.2. HOMEOMORFISMOS 61

1
|f −1 (zn ) − f −1 (p)| = |tn | = 2 π − > π = ε,
n
para todo n ∈ N. Logo, f é uma bijeção contı́nua que não é um homeo-
morfismo.
A seguir apresentaremos os primeiros exemplos de homeomorfismos. Al-
guns detalhes serão deixados para o leitor.

Exemplo 3.2.

[1] Seja R com a topologia usual. Então, todo intervalo aberto (a, b), com a
topologia induzida pela topologia usual de R, é homeomorfo a R.
De fato:
Seja f : (a, b) −→ (−1, 1) definida por:

2 t − (b + a)
f (t) = ,
b−a

f é bijetiva, contı́nua e sua inversa:

(b − a) y + (a + b)
f −1 (y) = ,
2
também é contı́nua. Logo, (a, b) ∼
= (−1, 1).
Definamos f : R −→ (−1, 1) por:
t
f (t) = ,
1 + |t|

f é bijetiva, contı́nua e sua inversa:


y
f −1 (y) = ,
1 − |y|

também é contı́nua. Logo, R ∼


= (−1, 1). Pela transitividade do homeomor-
fismo, temos que:

R∼
= (a, b).

[2] Seja Rn com a topologia usual e H = {(x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn / xn = 0} ⊂


Rn . Então

H∼
= Rn−1 .
62 CAPÍTULO 3. HOMEOMORFISMOS

Definamos f : H −→ Rn−1 por f (x1 , x2 , . . . , xn−1 , 0) = (x1 , x2 , . . . , xn−1 ).


Então, f é contı́nua e bijetiva.
Definamos f −1 : Rn−1 −→ H por

f −1 (x1 , x2 , . . . , xn−1 ) = (x1 , x2 , . . . , xn−1 , 0).

Então, f −1 é contı́nua. Logo:

H∼
= Rn−1 .

[3] Seja E, k k um espaço vetorial normado; então:

As translações :

Ta : E −→ E
v −→ v + a

a ∈ E, são homeomorfismos.
As homotetias:

hλ : E −→ E
v −→ λ v

λ ∈ R − {0}, são homeomorfismos.


Para todo r > 0 e todo v ∈ E:

E∼
= B(v, r).

De fato:
Ta são bijetivas, contı́nuas e as inversas Ta−1 = T−a , que são contı́nuas.
hλ são bijetivas, contı́nuas e as inversas h−1
λ = hλ−1 , que são contı́nuas.

Definimos o homeomorfismo Φ : E −→ E por:



Φ(x) = Tw ◦ hs/r ◦ T−v (x) = s/r (x − v) + w.

Note que Φ(v) = w e Φ B(v,r) é um homeomorfismo tal que Φ B(v, r) =
B(w, s). Então:

B(v, r) ∼
= B(w, s)
3.2. HOMEOMORFISMOS 63

para todo v, w ∈ E e r, s > 0. Agora definamos f : E −→ B(v, 1) por:


u
f (u) =
1 + kuk

que é contı́nua e bijetiva com inversa contı́nua:


w
f −1 (w) = ;
1 − kwk

logo, f é um homeomorfismo.
Pela transitividade do homeomorfismo, temos que:

E∼
= B(v, r).

[3] Sejam R2n e Cn ambos com a topologia usual. Então:

R2n ∼
= Cn ,

para todo n ≥ 1.

Se z ∈ C, z = x + i y, onde x, y ∈ R. Por outro lado, Cn = C × C × . . . × C


(n-vezes) e R2n = R × R × . . . × R (2n-vezes). Definamos:

f :C × C × . . . × C −→ R × R × . . . × R × R
(z1 , z2 , . . . , zn ) −→ (x1 , y1 , x2 , y2 , . . . , xn , yn ).

f é, claramente, um homeomorfismo. Logo:

Cn ∼
= R2n .

Teorema 3.1. Seja f : X −→ Y bijetiva. São equivalentes as condições:

1. f homeomorfismo.

2. f é contı́nua e aberta.

3. f é contı́nua e fechada.

4. f (A) = f (A), para todo A ⊂ X.


64 CAPÍTULO 3. HOMEOMORFISMOS

Prova :
1) ⇔ 2) f −1 é contı́nua se, e somente se para todo aberto U ⊂ X:
−1
f −1 (U ) = f (U )

é aberto em Y .
2) ⇔ 3) Segue do parágrafo anterior.
3) ⇔ 4) Como f é contı́nua, f (A) ⊂ f (A); como f é fechada, f (A) ⊂ f (A).

Corolário 3.1. Seja f : X −→ Y . O gráfico de f é definido por:

G(f ) = {(x, f (x)) / x ∈ X} ⊂ X × Y.

Considere G(f ) com a topologia induzida pela topologia produto. Então


f é contı́nua se, e somente se X ∼
= G(f ).
Prova : De fato, definamos h : X −→ X × Y por h(x) = (x, f (x)) que é
contı́nua; então h : X −→ G(f ) é bijetiva e contı́nua. Por outro lado, se
U ⊂ X é aberto:

h(U ) = {(x, f (x)) / x ∈ U } = U × Y ∩ G(f ),

que um aberto relativo. Reciprocamente, f = pr2 ◦ h.

Corolário 3.2. Sejam f : X −→ Y homeomorfismo e A ⊂ X; então:

1. A ∼
= f (A).

2. X − A ∼
= Y − f (A).

Prova: Imediata.

3.3 Exemplos de Homeomorfismos


[1] Seja A ⊂ R2 com a topologia induzida, definido por:
p
A = {(x, y) ∈ R2 / 0 < a ≤ x2 + y 2 ≤ b}.

A é um anel; então:

A∼
= S 1 × [a, b].
3.3. EXEMPLOS DE HOMEOMORFISMOS 65

Figura 3.2: O anel A

Definamos f : A −→ S 1 × [a, b] e f −1 : S 1 × [a, b] −→ A por:

x y p 
f (x, y) = ( p ,p ), x2 + y 2 e f −1 ((x, y), t) = (t x, t y),
2
x +y 2 2
x +y 2

claramente f e f −1 são bijetivas e contı́nuas; logo f é um homeomorfismo.

[2] Sejam S 1 e o quadrado Q = {(x, y) / max{|x|, |y|} = 1} em R2 com a


topologia induzida pela topologia usual de R2 ; então:

S1 ∼
= Q.

u v
a b

z w
d c

Figura 3.3: Homeomorfismo entre S 1 e Q

Definamos f : S 1 −→ Q levando o arco ab de S 1 no segmento uv de Q, o


arco bc e S 1 no segmento vw de Q, o arco cd e S 1 no segmento wz de Q e o
arco da e S 1 no segmento zu de Q, isto é:
x y x y
f (x, y) = , e f −1 (x, y) = , ,
m m r r
p
onde m = max{|x|, |y|} e r = x2 + y 2 ; claramente f e f −1 são bijetivas e
contı́nuas; logo f é um homeomorfismo.
66 CAPÍTULO 3. HOMEOMORFISMOS

De forma análoga, temos que:

S2 ∼
= C,

onde S 2 ⊂ R3 e C = {(x, y, z) / max{|x|, |y|, |z|} = 1} é o cubo unitário.

Figura 3.4: Homeomorfismo entre S 2 e C

[3] Consideremos S n ⊂ Rn+1 e o conjunto

E = {(x1 , . . . , xn+1 ) ∈ Rn+1 / a21 x21 + . . . a2n+1 x2n+1 = 1} ⊂ Rn+1 ,


onde ai ∈ R − {0}, ambos com topologia induzida pela topologia usual de
Rn+1 . Então, S n ∼
= E.

E
n
S

Figura 3.5: Homeomorfismo radial entre S 2 e E

Seja f : S n −→ E definida por:


x1 xn+1 
f (x1 , . . . , xn+1 ) = ,..., .
a1 an+1

f é bem definida, bijetiva e contı́nua. Definamos f −1 : E −→ S n por:


3.3. EXEMPLOS DE HOMEOMORFISMOS 67


f −1 (x1 , . . . , xn+1 ) = a1 x1 , . . . , an+1 xn+1 .

f −1 é bem definida e contı́nua. Logo, S n é homeomorfo a E.


Então, S n e E são topologicamente ”iguais”.

Figura 3.6: Espaços homeomorfos a S 2

[4] Consideremos R2 − {(0, 0)} ⊂ R2 com topologia induzida pela topolo-


gia usual de R2 e os conjuntos

H = {(x, y, z) ∈ R3 / x2 + y 2 − z 2 = 1}, e S 1 × R,

com topologia induzida pela topologia usual de R3 . Então:

R2 − {(0, 0)} ∼
=H∼
= S 1 × R.

Seja f : R2 − {(0, 0) −→ S 1 × R definida por:


x y p 
f (x, y) = p , p , ln( x2 + y 2 ) .
x2 + y 2 x2 + y 2

f é bem definida, bijetiva e contı́nua. Definamos f −1 : S 1 × R −→ R2 −


{(0, 0) por:

f −1 (x, y, t) = x et , y et .

g é bem definida, contı́nua e inversa de f . Logo:

R2 − {(0, 0)} ∼
= S 1 × R.

Por outro lado, definamos h : S 1 × R −→ H por:


68 CAPÍTULO 3. HOMEOMORFISMOS

√ √ 
h(x, y, t) = x 1 + t2 , y 1 + t2 , t .

h é bem definida, bijetiva e contı́nua. Definamos h−1 : H −→ S 1 × R por:


x y 
h−1 (x, y, z) = √ ,√ ,z .
1 + z2 1 + z2

h−1 é bem definida e contı́nua. Logo:

H∼
= S 1 × R.

Figura 3.7: H e S 1 × R

[5] Seja S n ⊂ Rn+1 com a topologia induzida pela topologia usual de Rn+1 .
Consideremos Rn+1 ∼ = Rn ×R; então (x, t) ∈ S n se, e somente se kxk = 1−t2
. Denotemos por:

S−n = {(x, t) ∈ S n / t ≤ 0} e S+n = {(x, t) ∈ S n / 0 ≤ t}.

Os conjuntos S−n e S+n são ditos hemisférios de S n . Note que

S n = S−n ∪ S+n e S−n ∩ S+n = E.

O conjunto E é chamado equador de S n ; é claro que:

E∼
= S n−1 .

Isto é, podemos considerar S n−1 como o equador de S n .


3.3. EXEMPLOS DE HOMEOMORFISMOS 69

Figura 3.8: S n−1 como equador de S n

Consideremos a projeção:

p : Rn × R −→ Rn
(x, t) −→ x.

Se (x, t) ∈ S n , k(x, t)k = 1, logo kp(x, t)k ≤ 1; então p(S n ) ⊂ B[x, 1] ⊂ Rn .


Via projeção, temos que

S−n ∼
= B[x, 1] ∼
= S+n .

De fato, a função:

q : B[x, 1] −→ S+n
p
x −→ (x, 1 − kxk2 )


é bem definida, contı́nua bijetiva e com inversa contı́nua p S n .
+
70 CAPÍTULO 3. HOMEOMORFISMOS

Figura 3.9: S−n , B[x, 1] e S+n

[6] Projeção Estereográfica : Seja S n ⊂ Rn+1 com a topologia induzida pela


topologia usual de Rn+1 e p = (0, 0, . . . , 0, 1), então:

S n − {p} ∼
= Rn .

De fato. Seja Φ : S n − {p} −→ Rn definida da seguinte forma, dado x ∈


S n − {p}; considere a semi-reta px ∈ Rn+1 ; então Φ(x) = y, onde y é a
interseção de px com o semi-plano definido por xn+1 = 0, homeomorfo a
Rn :

(
px = p + t (x − p), t ∈ [0, 1]
xn+1 = 0,

1
logo, 1 + t (xn+1 − 1) = 0 e t = ; então:
1 − xn+1

1
Φ(x) = (x1 , x2 , . . . , xn ).
1 − xn+1
3.4. GRUPOS DE MATRIZES 71

Φ ( z)
Φ ( x)

Figura 3.10: Definição de Φ

Φ é bijetiva e contı́nua e:

−1 2 y1 2 yn kyk2 − 1 
Φ (y) = ,..., , ;
1 + kyk2 1 + kyk2 1 + kyk2

kΦ−1 (y)k2 = 1 e Φ−1 é contı́nua.

3.4 Grupos de Matrizes


Da Álgebra Linear sabemos que o conjunto formado pelas matrizes de
ordem n × m, tendo como entradas elementos de K = R ou C, é um K-
espaço vetorial. Fixemos K = R; o caso complexo é análogo. Denotemos
este espaço vetorial por:

Mn×m R .

Seja A = (aij ) ∈ Mn×m R . Definamos:


Ψ : Mn×m R −→ Rn×m
A −→ (a11 , a12 , . . . , a1n , . . . , am1 , . . . , amn ).

Ψ é claramente um isomorfismo
 de espaços vetoriais. Via o isomorfismo
Ψ, o espaço Mn×m R herda toda a estrutura linear e topológica de Rn×m .
Utilizaremos
 a métrica usual de Rn×m para introduzir uma topologia em
Mn×m R .

De fato, dada A = (aij ) ∈ Mn×m R , definamos:
72 CAPÍTULO 3. HOMEOMORFISMOS

X
n 1/2
kAk1 = kΨ(A)k = a2ij .
i,j=1

k k1 é uma norma em Mn×m R que o torna um espaço vetorial normado.

Logo, um espaço topológico. Note que kAk1 = AAt , onde At é a ma-
triz transposta de A. É imediato que Ψ é bijetiva, contı́nua com inversa
contı́nua. Logo:

Mn×m R ∼ = Rn×m .
 
Denotemos por Mn R = Mn×n R ; então:

Mn R ∼
2
= Rn .

Seja R com a topologia usual. A função:



det : Mn R −→ R,
definida indutivamente:

1. Se n = 1, det((a11 )) = a11 .

2. Se n > 1, seja A = (aij ) e:

X
n
det(A) = (−1)i+1 ai1 det(A[i,1] ),
i=1

onde 1 ≤ i, j ≤ n e A[i,j] é a matriz (n − 1) × (n − 1), que se obtem


omitindo a i-ésima linha e a j-ésima coluna de A.

A função det é multilinear, logo contı́nua.


Seja Gl(n, R) o conjunto
 das matrizes invertı́veis de ordem n. Gl(n, R) é
aberto em Mn R . De fato:

Gl(n, R) = det−1 ({0}c ).

Gl(n, R) é também um grupo, chamado grupo linear geral real.


Denotemos por O(n) ⊂ Gl(n, R), definido por:

A ∈ O(n) ⇔ AAt = I,

onde I é matriz identidade. Logo, A ∈ O(n) ⇔ det(A) = ±1. O(n) é um


grupo, chamado ortogonal.
3.5. HOMEOMORFISMOS LOCAIS 73

Denotemos por SO(n) ⊂ O(n) definido por:

A ∈ SO(n) ⇔ det(A) = 1.

SO(n) é um grupo,
 chamado ortogonal especial. O(n) e SO(n) são fecha-
dos em Mn R . De fato:

SO(n) = det−1 ({1})


O(n) = det−1 ({−1, 1}).

O(n) é isomorfo a SO(n) × {−1, 1}. De fato:

f :O(n) −→ SO(n) × {−1, 1}


A −→ (A/det(A), det(A)).

f é um isomorfismo de grupos.
Seja K = C, denotemos por C∗ = C − {0}. De forma análoga ao caso real,
definimos:


Gl(n, C) = det−1 C∗
U (n) = {A ∈ Gl(n, C) / A∗ A = I}
SU (n) = det−1 ({1}).

De forma análoga, os grupos Gl(n, C), U (n) e SU (n) são ditos, linear com-
plexo, unitário e especial unitário, respectivamente.
U (n) é isomorfo a SU (n) × S 1 . De fato:

f :U (n) −→ SU (n) × S 1
A −→ (A/det(A), det(A)).

f é um isomorfismo de grupos.

3.5 Homeomorfismos Locais


Definição 3.2. Seja f : X −→ Y . f é dito homeomorfismo local se para
todo x ∈ X existe U ⊂ X vizinhança de x tal que f (U ) = V é aberto em Y
e f : U −→ V é um homeomorfismo.
74 CAPÍTULO 3. HOMEOMORFISMOS

Sejam U ⊂ X, V ⊂ Y abertos e f : U −→ V um homeomorfismo; então


para todo aberto U 0 ⊂ U , temos que f (U 0 ) é aberto em V , logo é aberto em
Y.

Proposição 3.1. Se f : X −→ Y é um homeomorfismo local, então f é


aberta.
Prova : Seja A ⊂ X aberto; para cada x ∈ A existe Ux ⊂ A vizinhança de x
tal que:

f : Ux −→ Vx ,

onde f (Ux ) = Vx . Seja Ux0 = Ux ∩A. Pela observação anterior f (Ux0 ) é aberto
em Y . Como:

[
A= Ux0
x∈A
[  [
f (A) = f Ux0 = f (Ux0 )
x∈A x∈A

que é aberto em Y . Logo, f é aberta.

Observação 3.1. Homeomorfismo implica homeomorfismo local. A recı́proca


é falsa.

Exemplo 3.3.

Seja R com a topologia usual e S 1 ⊂ C com a topologia induzida pela


topologia usual de C. Então:

f :R −→ S 1
x −→ e2πix

é um homeomorfismo local.
1. Consideremos os seguintes subconjuntos do cı́rculo: S1 = {(x, y) ∈
S 1 / y > 0}, S2 = {(x, y) ∈ S 1 / y < 0}, S3 = {(x, y) ∈ S 1 / x > 0} e
S4 = {(x, y) ∈ S 1 / x < 0}.
3.5. HOMEOMORFISMOS LOCAIS 75

S1

S4
S3

S2

Figura 3.11:

2. Consideremos os seguintes sub-intervalos: I1 = (n, n + 1/2), I2 = (n −


1/2, n),
I3 = (n − 1/4, n + 1/4) e I4 = (n + 1/4, n + 3/4), n ∈ Z.
3. Definamos: p1 : S1 −→ (−1, 1) por p1 (x, y) = x.
4. A função p1 é um√
homeomorfismo. De fato, p1 possui a seguinte inversa
contı́nua q1 (t) = (t, 1 − t2 ).
5. Denotemos por fi = f |Ii . Consideremos:

p1 ◦ f1 : I1 −→ (−1, 1).

Como e2πix = (cos(2πx), sen(2πx)), então p1 ◦ f1 (x) = cos(2πx). Logo,
pelas propiedades básicas de Trigonometria p1 ◦ f1 é um homeomorfismo:
1

1 1.5

-1

Figura 3.12: Homeomorfismo p1 ◦ f

 
6. Logo, p−1 −1
1 ◦ p1 ◦f1 : I1 −→ S1 é um homeomorfismo e f1 = p1 ◦ p1 ◦f1
é um homeomorfismo.
7. Definamos: p2 : S2 −→ (−1, 1) por p2 (x, y) = y.
8. A função p2 é um homeomorfismo.
√ De fato, p2 possui a seguinte inversa
contı́nua q2 (t) = (t, − 1 − t2 ).
76 CAPÍTULO 3. HOMEOMORFISMOS

−1

9. De forma análoga,
 p 2 ◦ p 2 ◦ f2 : I2 −→ S2 é um homeomorfismo e
−1
f2 = p2 ◦ p2 ◦ f2 é um homeomorfismo.
10. De forma análoga as anteriores, verifica-se que I3 ∼
= S3 e I 4 ∼
= S4 .
11. Como intervalos destes tipos cobrem R. Por exemplo:
[
R= (n, n + 1/2).
n∈Z

Então, f é um homeomorfismo local.

Observação 3.2. Este exemplo mostra (por que?) que, em geral, um ho-
meomorfismo local não é homeomorfismo. Em particular, f é uma função
aberta (não fechada).

Exemplo 3.4.

De forma totalmente análoga:

f :R2 −→ S 1 × R
(x, y) −→ (e2πix , y)

e:

f :R2 −→ S 1 × S 1
(x, y) −→ (e2πix , e2πiy )

são homeomorfismos locais.


3.6. EXERCÍCIOS 77

3.6 Exercı́cios
1. Sejam X = {a, b, c, d} com a topologia {∅, X, {a}, {c, d}, {a, c, d}}
e Y = {α, β, γ, δ}, defina uma topologia em Y tal que X e Y sejam
homeomorfos.

2. Sejam X × {y} e {x} × Y ⊂ X × Y . Verifique que para todo y ∈ Y e


para todo x ∈ X, temos:

X × {y} ∼
=X e {x} × Y ∼
= Y.

Em particular, Rn ∼
= Rn × {0} ⊂ Rn+1 .
 
3. Verifique que R, Tus não é homeomorfo a R, Tcof .
 
4. Sejam M, d1 e M, d2 espaços métricos.  Dizemos que
 as métricas
d1 e d2 são equivalentes se id : M, Td1 −→ M, Td2 é um homeo-
morfismo.

(a) Verifique que se M = Rn , então d1 , d2 e d3 definidas anterior-


mente são equivalentes.

(b) Seja M = R2 , d1 , d2 e d3 . Utilizando as bolas, de uma explicação


geométrica da equivalência destas métricas.

5. Verifique que [0, 1] e [0, 1) não são homomorfos provando que não
existe função f : [0, 1] −→ [0, 1) contı́nua e sobrejetiva.
 
6. Sejam M, d1 e M, d2 espaços métricos. Verifique se a seguinte
afirmação é verdadeira ou false: f : M1 −→ M2 é uma isometria se, e
somente se f é um homemorfismo.

7. Verifique que as isometrias são homeomorfismos.

8. N e Q com a topologia induzida pela topologia usual de R, são ho-


meomorfos?

9. Considerando R2 com a topologia usual, verifique se os seguintes


subespaços são homeomorfos:

(a) [0, 2] e [0, 1] ∪ [2, 3]


78 CAPÍTULO 3. HOMEOMORFISMOS

(b) {(x, y) ∈ R2 / x, y ≥ 0} e {(x, y) ∈ R2 / y ≥ 0}.

(c) {(x, y) ∈ R2 / x2 = y} e {(x, y) ∈ R2 / y = x2 }.

(d) {(x, y) ∈ R2 / x3 = y} e {(x, y) ∈ R2 / y = x2 }.

10. Verifique que com as topologias usuais os conjuntos R2 − {(0, 0)} e


{(x, y) ∈ R2 / x2 + y 2 > 1} são homeomorfos.

11. Verifique que com as topologias usuais R3 − S 1 e R3 − {(1, 1, 1)} são


homeomorfos.

12. Sejam R com a toplogia usual, f, g : R −→ R funções contı́nuas


tais que f (x) < g(x), para todo x ∈ R. Verifique que os conjuntos
{(x, y) ∈ R2 / f (x) ≤ y ≤ g(x)} e {(x, y) ∈ R2 / y ∈ [0, 1]} são homeo-
morfos.

13. Seja X, T1 um espaço topológico e denotemos por:

G(X) = {f : X −→ X / f é homeomorfismo}.

Verifique que:

(a) G(X) é um grupo com a composta de funções,

(b) Se X = [0, 1] e Y = (0, 1) com a topologia induzida pela usual


de R, defina:

ψ :G(X) −→ G(Y )

f −→ f Y

ψ é um isomorfismo de grupos? (Note que X e Y não são ho-


meomorfos)

14. G(X) é abeliano? Caso a resposta seja negativa, quando é abeliano?


Capı́tulo 4

TOPOLOGIA QUOCIENTE

4.1 Introdução
A Topologia quociente é a fonte dos mais importantes para construir e-
xemplos de espaços topológicos, que constituirão a parte central desta no-
tas. Neste capı́tulo introduziremos os exemplos clássicos na Matemática,
como a faixa de Möebius, os espaços projetivos reais e complexos e a gar-
rafa de Klein.

4.2 Topologia Quociente



Sejam X, T , Y um conjunto não vazio e f : X −→ Y sobrejetiva. Defina-
mos em Y a seguinte topologia:

Tf = {V ⊂ Y / f −1 (V ) ∈ T}.

Claramente, Tf é uma topologia sobre Y .

Definição 4.1. Tf é dita topologia quociente em Y induzida por f .

Exemplo 4.1.

[1] Seja f : X −→ Y constante. Determine Tf .


Considere y0 ∈ Y e suponha que f (x) = y0 para todo x ∈ X. Seja U ∈ Tf .
Se y0 ∈ U , então f −1 (U ) = X e se y0 ∈
/ U , então f −1 (U ) = ∅. Isto é,
qualquer subconjunto de Y é aberto, logo Tf é a topologia discreta sobre
Y.
[2] Seja X = {a, b, c} e R com a topologia usual; definamos f : R −→ X
por:

79
80 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE



a se x > 0
f (x) = b se x < 0


c se x = 0.

Então, Tf = {X, ∅, {a}, {b}, {a, b}} é a topologia quociente em X induzida


por f .

Proposição 4.1. A topologia quociente Tf é a mais fina sobre Y que torna


f contı́nua.

Prova : De fato, sendo TY outra topologia em Y e se para todo V ∈ TY


temos que f −1 (V ) é aberto em X, então V ∈ Tf .

 
Definição 4.2. Sejam X, T , Y, TY e f : X −→ Y sobrejetiva. A função
sobrejetiva f que induz a topologia quociente é chamada uma identi-
ficação se TY = Tf .

Observações 4.1.

1. Se f é uma identificação, V é aberto em Y se, e somente se f −1 (V ) é


aberto em X.


2. Se f é uma identificação, para todo P ⊂
 Y temos que f f −1 (P ) = P ,
mas se S ⊂ X, em geral S ⊂ f −1 f (S) .

3. Nem toda função bijetiva e contı́nua é uma identificação. Por exem-


plo:

 
id : X, T1 −→ X, T2

é uma identificação se, e somente se T1 = T2 .

4. A composta de identificações é uma identificação.


4.2. TOPOLOGIA QUOCIENTE 81

4.2.1 Espaço Projetivo Real


Seja S n ⊂ Rn+1 com a topologia induzida pela topologia usual de Rn+1 .
Definamos o conjunto dos pares não ordenados:

PRn = {{x, −x} / x ∈ S n },

onde −x é o antipodal de x. De forma natural temos a função sobrejetiva:

Π : S n −→ RPn


tal que Π(x) = {x, −x}. O par RPn , TΠ é dito espaço projetivo real de
dimensão n.

4.2.2 Faixa de Möebius


Considere o cilindro C = {(x, y, z) / x2 + y 2 = 1, |z| ≤ 1} com a topologia
induzida por R3 . Definamos o conjunto dos pares não ordenados:

M = {{c, −c} / c ∈ C}.

De forma natural, temos a seguinte função sobrejetiva:

Π : C −→ M


tal que Π(p) = {p, −p}. O par M, TΠ é dito faixa de Möebius. Seja
p = (x, y, z) ∈ C e f : M −→ R3 definida por:

f ({p, −p}) = ((x2 − y 2 ) (2 + x z), 2 x y (2 + x z), x y)

f é injetiva, contı́nua; logo M ∼


= f (M ) ⊂ R3 com a topologia induzida.

De fato, pelo teorema 4.1 anterior, definimos F : R3 −→ R3 por:

F (x, y, z) = f (x, y, z)

que é contı́nua.
82 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE

Figura 4.1: Faixa de Möebius

Proposição 4.2.

1. Sejam X e Y espaços topológicos, f : X −→ Y uma função sobreje-


tiva, contı́nua e aberta (fechada); então f é uma identificação.

2. Sejam X e Y espaços topológicos, f : X −→ Y uma função contı́nua.


Se existe uma função g : Y −→ X tal que f ◦ g = idY , então f é uma
identificação.

Prova :

1. Seja TY uma topologia em Y ; como f é contı́nua, então TY ⊂ Tf .


Como f é aberta, para todo U ∈ Tf , U = f f −1 (U ) é aberto em TY ;
logo TY = Tf .

2. Como f ◦ g = idY então f é sobrejetiva. Seja A ⊂ Y tal que f −1 (A)


seja aberto; então A = (f ◦ g)−1 (A) = g −1 f −1 (A) é aberto em Y ;
logo f é uma identificação.

Exemplo 4.2.

[1] A função:

pr1 :R2 −→ R
(x, y) −→ x

é uma identificação. Analogamente para pr2 (x, y) = y.


4.3. ESPAÇOS QUOCIENTES 83

[2] A função:

f :R −→ S 1
x −→ e2πix

é sobrejetiva, contı́nua e aberta; pela proposição [4.2] é uma identificação.


[3] Analogamente:

f :R2 −→ S 1 × S 2
(x, y) −→ (e2πix , e2πiy )

é uma identificação.

Teorema 4.1. (Propriedade Universal da Topologia Quociente) Sejam X,


Z espaços topológicos e f : X −→ Y uma identificação. Então, g : Y −→ Z
é contı́nua se, e somente se g ◦ f é contı́nua.

f
X /Y
~~
~~
g◦f
~~~ g
 ~~
Z

Prova : Se g é contı́nua e f contı́nua, então g ◦ f é contı́nua. Reciproca-


−1
mente, seja W ⊂ Z aberto; então g ◦ f (W ) é aberto em X. Como g ◦
−1 −1

f (W ) = f g (W ) , pela definição da topologia quociente, g −1 (W ) é
−1

aberto em Y ; logo g é contı́nua.

4.3 Espaços Quocientes


Funções sobrejetivas podem ser obtidas de forma natural utilizando clas-
ses de equivalência de alguma relação de equivalência.

Sejam ∼ uma relação de equivalência sobre X e X ∼ o conjunto das clas-
ses de equivalência em X. Definamos:


Π :X −→ X ∼
x −→ [x]

onde [x] é a classe de equivalência que contém x; Π é dita projeção canônica


e é naturalmente sobrejetiva.
84 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE
  
Definição 4.3. Seja X, T um espaço topológico. O par X ∼, TΠ é dito
espaço quociente de X.

A projeção canônica:


Π :X −→ X ∼
x −→ [x]
 
é naturalmente uma identifição. Note que V ⊂ X ∼ é aberto ⇔

Π−1 V = {x ∈ X / [x] ∈ V }

é aberto em X.

A seguir apresentaremos vários exemplos de homeomorfismos, a maioria


bastante intuitivos. Nos próximos parágrafos, teremos ferramentas sufici-
entes para provar estes homeomorfismos. Por enquanto, ficaremos apenas
com a parte geométrica.

4.3.1 O Cı́rculo como Espaço Quociente


Seja I = [0, 1] ⊂ R com a topologia induzida pela topologia usual de R.
Consideremos em I a relação de equivalência:

x∼y ⇔ {x, y} = {0, 1}, ou x = y.

Se x ∈ (0, 1); então [x] = {x}. Se x = 0; então [0] = {0, 1}. Se x = 1, então
[1] = {0, 1}; logo [0] = [1].

1 1

[0]=[1]

0 0

Figura 4.2: Construção de S 1


 
Logo, Π : I −→ I ∼ é uma identificação. Note que Π é bijetiva salvo
para x = 0 e x = 1 e:
4.3. ESPAÇOS QUOCIENTES 85

 
I ∼ ∼= S 1.

Nos seguintes exemplos, as setas indicam o sentido dos pontos que estão
na mesma classe de equivalência.

4.3.2 O Cilindro como Espaço Quociente


Seja I 2 ⊂ R2 com a topologia induzida pela topologia usual de R2 . Consi-
deremos em I 2 a relação de equivalência:

(x, y) ∼ (x1 , y1 ) ⇔ (x, y) = (x1 , y1 ) ou {x, x1 } = {0, 1} e y = y1 ,

para todo (x, y), (x1 , y1 ) ∈ I 2


Observe que se x 6= 0, 1, então [(x, y)] = {(x, y)} e [(0, y)] = [(1, y)].  Em

particular, [(0, 0)] = [(0, 1)] e [(0, 1)] = [(1, 1)]. Então Π : I 2 −→ I 2 ∼ é
uma identificação. Note que Π é bijetiva salvo para (0, y) e (1, y) e
 
I2 ∼ ∼= S 1 × I.

Figura 4.3: Construção de S 1 × I

4.3.3 A Faixa de Möebius como Espaço Quociente


Seja I 2 ⊂ R2 com a topologia induzida pela topologia usual de R2 . Consi-
deremos em I 2 a relação de equivalência:

(x, y) ∼ (x1 , y1 ) ⇔ (x, y) = (x1 , y1 ) ou (0, y) ∼ (1, 1 − y),

para todo (x, y), (x1 , y1 ) ∈ I 2


86 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE

Observe que se x 6= 0, 1, então [(x, y)] = {(x, y)} e [(0, y)] = [(1, 1 − y)].
 Em
particular, [(0, 0)] = [(1, 1)] e [(0, 1)] = [(1, 0)]. Então, Π : I −→ I ∼ é
2 2

uma identificação. Note que Π é bijetiva salvo para (0, y) e (1, 1 − y) e


 
I2 ∼ ∼= M,

onde M é a faixa de Möebius.

(0,b)
(0,1-a)

(0,a)

(0,1-b)

Figura 4.4: Construção da Faixa de Möebius

Nos próximos capı́tulos, verificaremos que a faixa de Möebius é homeo-


morfo a uma superfı́cie parametrizada em R3 :

Figura 4.5: Faixa de Möebius

4.3.4 A Esfera como Espaço Quociente


I 2 ⊂ R2 com a topologia induzida pela topologia usual de R2 . Considere-
mos em I 2 a relação de equivalência:

(x, y) ∼ (x1 , y1 ) ⇔ (x, y) = (x1 , y1 ) ou (0, y) ∼ (x, 0) e (x, 1) ∼ (1, y),


4.3. ESPAÇOS QUOCIENTES 87

para todo (x, y), (x1 , y1 ) ∈ I 2

Se x, y 6= 0, 1, então [(x, y)] = {(x, y)}, [(x, 0)] = [(0, y)] e [(x, 1)] = [(1, y)].
Em particular, [(0, 0)] = [(1, 0)] = [(0, 1)] = [(1, 1)].
 
Então, Π : I 2 −→ I 2 ∼ é uma identificação. Note que Π é bijetiva salvo
para (0, y), (1, y), (x, 0) e (x, 1) e

 
I2 ∼ ∼= S 2.

Figura 4.6: Construção de S 2

4.3.5 O Toro como Espaço Quociente


Seja I 2 ⊂ R2 com a topologia induzida pela topologia usual de R2 . Consi-
deremos em I 2 a relação de equivalência:

(x, y) ∼ (x1 , y1 ) ⇔ (x, y) = (x1 , y1 ) ou (0, y) ∼ (1, y) e (x, 0) ∼ (x, 1),

para todo (x, y), (x1 , y1 ) ∈ I 2

Observe que se x, y 6= 0, 1, então [(x, y)] = {(x, y)} e [(0, y)] = [(1, y)] e se
y = 0, então [(x, 0)] = [(x, 1)].

Em particular, [(0, 0)] = [(1, 0)] = [(0, 1)] = [(1, 1)].


 
Então, Π : I 2 −→ I 2 ∼ é uma identificação. Note que Π é bijetiva salvo
para (0, y), (1, y), (x, 0) e (x, 1) e

 
I2 ∼ ∼= S 1 × S 1.
88 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE

Figura 4.7: Construção do toro

As possı́veis vizinhanças de pontos no toro:

Figura 4.8: Projeção das vizinhanças no toro

Nos próximos capı́tulos, verificaremos que o toro é homeomorfa a uma


superfı́cie parametrizada em R3 :

Figura 4.9: O toro

4.3.6 A Garrafa de Klein


Seja I 2 ⊂ R2 com a topologia induzida pela topologia usual de R2 . Consi-
deremos em I 2 a seguinte relação de equivalência:
4.3. ESPAÇOS QUOCIENTES 89

(x, y) ∼ (x1 , y1 ) ⇔ (x, y) = (x1 , y1 ), ou (0, y) ∼ (1, y) e (x, 0) ∼ (1 − x, 1),

para todo (x, y), (x1 , y1 ) ∈ I 2


Se x, y 6= 0, 1, então [(x, y)] = {(x, y)} e [(0, y)] = [(1, y)] e [(x, 0)] = [(1 −
x, 1)]. Em particular, [(0, 0)] = [(1, 0)] = [(0, 1)] = [(1, 1)].
 
Então, Π : I 2 −→ I 2 ∼ é uma identificação. Note que Π é bijetiva salvo
para (0, y), (1, y), (x, 0) e (1 − x, 1).
 
I 2 ∼ é chamada garrafa de Klein. Note que a garrafa de Klein contém
uma faixa de Möebius.

Figura 4.10: Construção da Garrafa de Klein

Figura 4.11: Garrafa de Klein

4.3.7 O Cone e Suspensão de um Conjunto



Sejam X, T e I = [0, 1] ⊂ R com a topologia induzida  pela topologia
usual de R. O cone sobre X é denotado por CX = X × I ∼, onde:
90 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE

(x, t) ∼ (x0 , t0 ) ⇔ t = t0 = 1.

A classe de equivalência [(x, 1)] é dita vértice de CX.

Observação 4.1. Intuitivamente CX é obtido de X × I onde identificamos


X × {1} a um ponto. O subsepaço {[x, 0] / x ∈ X} ⊂ CX é naturalmente
homeomorfo a X.

I Xx I CX

Figura 4.12: O cone sobre X.

Seja f : X −→ Y contı́nua. Então Cf : CX −→ CY tal que:

Cf ([x, t]) = [f (x), t]

é contı́nua. De fato, basta considerar o diagrama comutativo:

h
X × I −−−→ Y × I
 

Π1 y
Π
y 2
Cf
CX −−−→ CY

onde h(x, t) = (f (x), t).


Seja J = [−1, 1] ⊂ R com a topologia induzida pela
 topologia usual de R.
A suspensão de X é denotada por SX = X × J ∼, onde:

(x, t) ∼ (x0 , t0 ) ⇔ t = t0 = 0 ou t = t0 = 1.

Observação 4.2. Intuitivamente SX é obtido de X × I onde identificamos


X × {−1} com X × {1} a um ponto. O subsepaço {[x, t] / t ≥ 0} ⊂ CX é
naturalmente homeomorfo a CX.
4.4. TEOREMAS 91

XxJ SX

-1

Figura 4.13: Suspensão de X.

Seja f : X −→ Y contı́nua. Então:

Sf : SX −→ SY

tal que Sf ([x, t]) = [f (x), t] é contı́nua.


Seja S n ⊂ Rn+1 ; então:

CS n ∼
= B[0, 1] e SS n ∼
= S n+1 , ∀n ∈ N.

De fato, considere o seguinte diagrama comutativo:

Sn × J
Π / SS n
ttt
tt
tt
p
 tz t h
S n+1
Onde Π é a projeção canônica e:

 p

((1 − t) x0 , . . . , (1 − t) xn , 1 − (1 − t)
2 se t ≥ 0
p(x0 , . . . , xn , t) =

 p
((1 + t) x0 , . . . , (1 + t) xn , − 1 − (1 − t)2 se t < 0.

e h é definida por h(pN ) = pN , h(pS ) = pS e h([x]) = p(x). Os detalhes são


deixados de exercı́cio.

4.4 Teoremas
Definição 4.4. Sejam f : X −→ Y , ∼ e w relações de equivalência em X
e Y respectivamente. Dizemos que f preserva as relações de equivalência
se para todos x1 , x2 ∈ X tais que x1 ∼ x2 , então f (x1 ) w f (x2 ).
92 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE

Lema 4.1. Sejam f : X −→ Y , ∼ e w relações de equivalências em X e Y


respectivamente. Se f é contı́nua e preserva as relações, então existe uma
única F , contı́nua que torna o seguinte diagrama comutativo:
f
X −−−→ Y
 

Π1 y
Π
y 2
  F  
X ∼ −−−→ Y w

Alem disso, se f é uma identifição, então F é uma identificação.

Prova : Definamos F ([x]) = [f (x)].


1. A função F é bem definida. De fato, seja [x] = [x1 ]; então x ∼ x1 e
f (x) w f (x1 ); logo

[f (x)] = [f (x1 )],

isto é F ([x]) = F ([x1 ]).


2. Pela definição, F ◦ Π1 = Π2 ◦ f .
3. Suponhaque existe G tal que o diagrama comuta. Existe pelo menos
um [x] ∈ X ∼ tal que F ([x]) 6=G([x]), comoΠ1 é sobrejetiva, existe pelo
menos um x ∈ X tal que G ◦ Π1 (x) 6= Π2 ◦ f (x). Isto é uma contradição,
pois o diagrama comuta.
4. Como Π1 , Π2 e f são contı́nuas., pelo teorema [4.1], F é contı́nua.

Teorema 4.2. Sejam X e Y espaços topológicos e f : X −→ Y contı́nua e


sobrejetiva. Se ∼ é uma relação de equivalência definida em X tal que:

x ∼ x1 ⇔ f (x) = f (x1 ),
 
então, existe F : X ∼ −→ Y contı́nua e bijetiva.

Prova : Consideremos:

X FF
FF f
FF
Π FF
FF
  #
X ∼ F /Y

1. Pelo lema [4.1], definimos F ([x]) = f (x). Logo, F é contı́nua e sobreje-


tiva.
4.4. TEOREMAS 93

2. Se F ([x]) = F ([x1 ]), então (F ◦ Π)(x) = (F ◦ Π)(x1 ), isto é f (x) = f (x1 )


⇔ x ∼ x1 ; logo [x] = [x1 ]. Então F é bijetiva.
O seguinte corolário é muito útil para reconhecer espaços quocentes ho-
meomorfos a espaços já conhecidos.

Corolário 4.1. Com as hipotéses do teorema 4.2, são equivalentes as se-


guintes afirmações:

1. f é uma identifição.

2. F é um homeomorfismo.

Prova : 1) ⇒ 2) Pelo teorema[4.2], basta provar que F é aberta. De fato,


observe que para todo A ⊂ X ∼ temos que Π−1 (A) = f −1 (F (A)).
 
2) ⇒ 1) U ⊂ X ∼ é aberto ⇔ Π−1 (U ) é aberto em X ⇔ f −1 F (U ) é
aberto em X ⇔ F (U ) é aberto em Y , pois Y tem a topologia quociente
induzida por f .

Corolário 4.2. Nas hipótese do teorema [4.2], se f é um homeomorfismo,


então:
   
X ∼ ∼= Y w .

Prova : Seja
f
X −−−→ Y
 

Π1 y
Π
y 2
  F  
X ∼ −−−→ Y w

1. Pelo teorema [4.2], definamos F por F ([x]) = [f (x)].


2. F é bijetiva e contı́nua.
3. F −1 é contı́nua, pois F −1 ◦ Π1 = Π2 ◦ f −1 e f −1 é contı́nua.

Exemplo 4.3.
Sejam X = (0, +∞) e Y = R. Consideremos Y com a topologia usual e X
com a topologia induzida. Definamos:

x1 ∼ x 2 ⇔ existe n ∈ N tal que x 1 = en x2


y1 w y2 ⇔ existe n ∈ N tal que y1 = n + y2 .
94 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE

Seja f : X −→ Y tal que f (x) = ln(x); f é homeomorfismo. Por outro lado:

x1 ∼ x 2 ⇔ existe n ∈ N tal que x 1 = en x2

Então,

ln(x1 ) = ln(en x2 ) = ln(en ) + ln(x2 ) = n + ln(x2 ),

logo f (x1 ) w f (x2 ). Pelo teorema:

   
X ∼ ∼= Y w ∼= S 1.

4.5 Ações de Grupos



Sejam X 6= ∅ um conjunto e G, ∗ um grupo.

Definição 4.5. O grupo G, ∗ atua pela esquerda sobre X se existe uma
função:

~ :G × X −→ X
(g, x) −→ g ~ x,

tal que:

1. e ~ x = x, para todo x ∈ X e e ∈ G a identidade de G.


 
2. g1 ~ g2 ~ x = g1 ∗ g2 ~ x, para todo x ∈ X e g1 , g2 ∈ G.

3. Em tal caso, X é dito G-conjunto.

Exemplo 4.4.
[1] Sejam X um espaço topológico e

G = {f : X −→ X / f é um homeomorfismo}.

G é um grupo não comutativo com a composta de funções. Definamos:

~ :G × X −→ X
(f, x) −→ f ~ x = f (x).
4.5. AÇÕES DE GRUPOS 95

Então, X é um G-conjunto.
[2] Seja G o grupo gerado pelos homeomorfismos h, g : R2 −→ R2 defini-
dos por:

h(x, y) = (x + 1, y) e g(x, y) = (−x, y + 1),

respectivamente. Logo, como no exemplo anterior:

~ :G × R2 −→ R2
(f, (x, y)) −→ f ~ (x, y) = f (x, y).

Então, R2 é um G-conjunto.

[3] Sejam X = S n e Z2 , · . Definamos:

~ :Z2 × S n −→ S n
(±1, x) −→ ±1 ~ x = ±x,

onde −x é o antipodal de x. Então, S n é um Z2 -conjunto.



[4] Sejam X = R e Z, + . Definamos:

~ :Z × R −→ R
(n, x) −→ n ~ x = n + x.

Então, R é um Z-conjunto.

[5] Sejam X = R2 e Z2 , + . Definamos:

~ :Z2 × R2 −→ R2
((n, m), (x, y)) −→ (n, m) ~ (x, y) = (n + x, m + y).

Então, R2 é um Z2 -conjunto.
  
[6] Sejam X = {(x, y) ∈ R2 / y ∈ − 1/2, 1/2 } e Z, + . Definamos:

~ :Z × X −→ X
(n, (x, y)) −→ n ~ (x, y) = (n + x, (−1)n y).

Então, X é um Z-conjunto.
[7] Seja S 1 ⊂ C; então S 1 tem uma estrutura de grupo multiplicativo indu-
zida por C.
96 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE

De fato, se e2πit , e2πis ∈ S 1 , então e2πit ·e2πis = e2πi(t+s) . Consideremos S 2n+1


como subconjunto de Cn+1 :

S 2n+1 = {(z1 , z2 , . . . , zn+1 ) ∈ Cn+1 / kz1 k2 + kz2 k2 + . . . + kzn+1 k2 = 1}.

Definimos:

~ : S 1 × S 2n+1 −→ S 2n+1 ,

onde:

e2πit ~ (z1 , z2 , . . . , zn+1 ) = (e2πit z1 , e2πit z2 , . . . , e2πit zn+1 ).

Logo, S 2n+1 é um S 1 -conjunto.


[8] Seja S n−1 ⊂ Rn e G = O(n) o grupo ortogonal. Definamos:

~ :O(n) × S n−1 −→ S n−1


(A, x) −→ n ~ x = Ax.
~

kAxk
~ = 1; logo está bem definida e S n−1 é um O(n)-conjunto.

Proposição 4.3. Seja X um G-conjunto. Para todo g ∈ G definamos:

θg : X −→ X,

por θg (x) = g ~ x; então θg é bijetiva.

Prova : Note que θe = idX e que para todo g, h ∈ G, temos θg ◦ θh = θg∗h .


Logo,

θg ◦ θg−1 = θg∗g−1 = θe = idX e θg−1 ◦ θg = θg−1 ∗g = θe = idX .

Então θg−1 = θg−1 .

Definição 4.6. Seja X um G-conjunto. Definimos:

1. O estabilizador de x ∈ X por:

Gx = {g ∈ G / g ~ x = x}.

Gx é um subgrupo de G.
4.5. AÇÕES DE GRUPOS 97

2. A órbita de x ∈ X por:

Gx = {g ~ x / g ∈ G}.

Exemplo 4.5.
Consideremos S 3 como um S 1 -conjunto, com a ação:

~ :S 1 × S 3 −→ S 3
(e2πit , (z1 , z2 )) −→ n ~ (z1 , z2 ) = (e2πit z1 , e2πit z2 ).

Seja (z1 , z2 ) ∈ S 3 ; então o estabilizador do ponto (z1 , z2 ) é:

1
S(z 1 ,z2 )
= {e2πit / t ∈ Z}.

Se X é um G-conjunto, podemos definir sobre X a seguinte relação de


equivalência:

x∼y ⇔ existe g ∈ G tal que g ~ x = y,

isto é:

x ∼ y ⇔ y ∈ Gx.

Denotemos X/ ∼ por X/G o conjunto das classes de equivalência desta


relação. Se X é um G-conjunto, temos a projeção canônica, que é sobreje-
tiva:

Π : X −→ X/G.

Logo, se X é um G-conjunto que é espaço topológico, podemos dar a X/G


a topologia quociente.

4.5.1 Espaço Projetivo Complexo


Seja S 2n+1 ⊂ Cn+1 e S 1 ⊂ C; então S 1 tem a estrutura de grupo multi-
plicativo induzida por C. Definimos e denotamos o n-espaço projetivo
complexo, por:

CPn = S 2n+1 S 1 ,

onde x ∼ y se, e somente se x = λ y, para algum λ ∈ S 1 .


98 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE

Exemplo 4.6.
[1] Note que ∼ identifica cada cı́rculo de S 2n+1 a um ponto.
[2] CP1 ∼
= S 2 . Isto é:

S 3 /S 1 ∼
= S 2.

4.6 G-espaços
Seja X um espaço topológico que é um G-conjunto.

Definição 4.7. X é dito G-espaço se θg é contı́nua, para todo g ∈ G.

Exemplo 4.7.

[1] S n Z2 é um Z2 -espaço.
[2] R/Z é um Z-espaço.
[3] R2 /Z2 é um Z2 -espaço.
[4]. CPn é um S 1 -espaço.
[5] Seja G o grupo gerado pelos homeomorfismos h, g : R2 −→ R2 defini-
dos por:

h(x, y) = (x + 1, y) e g(x, y) = (−x, y + 1),



respectivamente; então R2 G é um G-espaço. Note que G não é isomorfo
a Z × Z.
Se X é um G-espaço, a função θg é um homeomorfismo, para todo g ∈ G.
Se X é um G-espaço, então existe um homomorfismo de grupos:

Ψ : G −→ Homeo(X)
g −→ θg .

Proposição 4.4. Se X é um G-espaço a projeção canônica:

Π : X −→ X/G

é aberta.
Prova : Seja U ⊂ X aberto. Devemos provar que Π(U ) é aberto em X/G, o
que é equivalente a provar que Π−1 Π(U ) é aberto em X. De fato:
4.6. G-ESPAÇOS 99


Π−1 Π(U ) = {x ∈ X / Π(x) ∈ Π(U )}
= {x ∈ X / Gx = Gy, para algum y ∈ U }
= {x ∈ X / x = g ~ y, para algum y ∈ U e g ∈ G}
= {x ∈ X / x ∈ g ~ U, para algum g ∈ G}
[
= g~U
g∈G
[
= θg (U ),
g∈G

que é aberto, pois θg é um homeomorfismo.

 
Lema 4.2. Sejam X um G-espaço e Y um H-espaço, onde G, ∗ e H, ◦
são tais que:

~ :G × X −→ X
} :H × Y −→ Y
θg : X −→ X, homeomorfismo
θh : Y −→ Y, homeomorfismo
ΠX : X −→ X/G, sobrejetiva e contı́nua
ΠY : Y −→ Y /H, sobrejetiva e contı́nua.

Sejam X um G-espaço e Y um H-espaço. Então X × Y é um G × H-espaço.


Prova : Com as notações anteriores, definamos:

  
 : G × H × X × Y −→ X × Y
((g, h), (x, y) −→ (g, h) (x, y) = (g ~ x, h } y)

 
Θ(g,h) : X × Y −→ X × Y
(x, y) −→ (θg (x), θh (y)).


Não é difı́cil provar que X × Y é um G × H -espaço e Θ(g,h) é um homeo-
morfismo.
100 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE

Proposição 4.5. Com as notações anteriores:


   
X ×Y G×H ∼
= X/G × Y /H .

Prova :
Definamos F ([x, y]) = ([x], [y]), isto é, F ◦ (Π1 , Π2 ) = Π:

(Π1 ,Π2 )
X ×Y / X × Y /G × H
lll
lllll
Π ll
 lv ll F
X/G × Y /H

F é naturalmente bem definida e bijetiva.


 
F é contı́nua. Sejam [U ] × [V ] ∈ X/G ×
 Y /H aberto;
 devemos provar
−1
que f [U ] × [V ] é aberto em X × Y G × H , isto é, peladefinição
de topologia quociente, devemos provar que Π−1 f −1 [U ] × [V ] é aberto
em X × Y . F ◦ Π = (ΠX , ΠY ), então Π−1 ◦ F −1 = (F ◦ Π)−1 = (Π−1 −1
X , ΠY );
logo:

Π−1 f −1 [U ] × [V ] = Π−1 −1
X ([U ]) × ΠY ([V ]),

que é aberto, pela definição da topologia quociente.

Exemplo 4.8.

Sejam X = R2 e G = Z2 . Definamos:

~ :Z2 × R2 −→ R2
((n, m), (x, y)) −→ (n, m) ~ (x, y) = (n + x, m + y).

Então, R2 é um Z2 -espaço, e:
  
= S1 × S1 ∼
=R Z×R Z∼
R2 Z2 ∼ = T 2.

Observação 4.3. Agora estamos em condições de verificar alguns dos ho-


meomorfismos vistos anteriormente.
4.6. G-ESPAÇOS 101

4.6.1 O Cı́rculo como Z-espaço


Seja R com a topologia usual e S 1 ⊂ C com a topologia induzida pela usual
de C; então:

R/Z ∼
= S 1.

Seja f : R −→ S 1 definida por f (x) = e2πix . Sabemos que f é um homeo-


morfismo local.
Veja o exemplo [3.3] .
Observemos que se consideramos R como grupo aditivo e S 1 como grupo
multiplicativo (multiplicação induzida por C). Então:

f (x + y) = e2πi(x+y) = e2πix e2πiy = f (x) f (y),

isto é, f é um homomorfismo de grupos com núcleo Z. Para todo x, y ∈ R,


f (x) = f (y) ⇔ x − y ∈ Z.
R é um Z-espaço com a operação n ~ x = n + x. Logo, x ∼ y ⇔ existe
n ∈ Z tal que y = n + x ⇔ f (x) = f (y). Então, f é uma identificação; pelo
corolário [4.1] temos:

f
R / S1
{ =
F {{{
{
{{
Π
 {
R Z

Logo F é um homeomorfismo, onde F ([x]) = f (x), logo:

R/Z ∼
=F S 1 .

Seja I = [0, 1] ⊂ R com a topologia usual e S 1 ⊂ C com a topologia indu-


zida pela usual de C, então:

S1 ∼
= I/ ∼ ,

onde x ∼ y ⇔ x = y ou {x, y} = {0, 1}.


Seja f : I −→ S 1 tal que é definida por f (x) = e2πix . Analogamante ao
exemplo anterior, f é uma identificação; pelo corolário [4.1], temos:

f
I / S1
zz=
F zz
Π
zzz
 z
I ∼
102 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE

Logo F 0 é um homeomorfismo:

S1 ∼
=F 0 I/ ∼ .

Então:

R/Z ∼
=F S 1 ∼
=F 0 I/ ∼ .

4.6.2 O Toro como Z × Z -espaço


De forma análoga, consideramos:

f :R × R −→ S 1 × S 1
(x, y) −→ (e2πix , e2πiy )

Temos que:

R2 /Z2 ∼
= S 1 × S 1.

Seja T 2 é o toro de revolução em R3 , parametrizado por:

x(t, s) = (R + r cos(2πs)) cos(2πt)


y(t, s) = (R + r cos(2πs)) sen(2πt)
z(t, s) = r sen(2πt),

onde R > r > 0 e (t, s) ∈ R2 .


Consideramos f : R2 −→ T 2 definido por f (t, s) = (x(t, s), y(t, s), z(t, s)).
Não é difı́cil ver que

f (t1 , s1 ) = f (t2 , s2 ) ⇔ (t1 − t2 , s1 − s2 ) ∈ Z2 .

Por um argumento totalmente análogo ao anterior, obtemos um homeo-


morfismo:

R2 /Z2 ∼
= T 2.

Seja I 2 ⊂ R2 com a topologia induzida pela topologia usual de R2 e para


todo (x, y),
(x1 , y1 ) ∈ I 2 , consideremos a relação de equivalência:

(x, y) ∼ (x1 , y1 ) ⇔ (x, y) = (x1 , y1 ) ou (0, y) ∼ (1, y) e (x, 0) ∼ (x, 1).


4.6. G-ESPAÇOS 103

O homeomorfismo:

I 2/ ∼ ∼
= T2

fica para os próximos capı́tulos.


104 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE

4.7 Exercı́cios
1. Seja R com a topologia gerada pelos intervalos semi-abertos [a, b) e
f : R −→ [0, +∞) definida por f (x) = x2 , qual é a topologia quoci-
ente indizida por f ?

 
2. Seja X = [−1, 1] × {1} ∪ [−1, 1] × {−1} com a topologia in-
duzida pela usual de R2 e ∼ relação de equivalênciadefinida por
(−1, 1) ∼ (−1, −1) e (1, 1) ∼ (1, −1). Considere X/ ∼ com a topo-
logia quociente, verifique que:


X/ ∼ ∼
= S 1,

S 1 com a topologia induzida pela usual de R2 .

3. Seja R com a topologia usual, defina x ∼ y se e, somentese x−y ∈ Q.


Que topologia induz a relação de equivâlencia ∼ em R Q.

4. Seja X = S 1 , considere a relação de equivalência z ∼ −z, para todo


z ∈ S 1 . O quociente X ∼ é homeorfo a S 1 ?

5. Seja X = S 1 , considere a relação


 de equivalência z ∼ e2π i/3 z, para
todo z ∈ S . O quociente X ∼ é homeorfo a S 1 ?
1

6. Seja X = S 2 −{p, q}, tal que p, q ∈ S 2 . Verifique que X é homeomorfo


a S 1 × I.

7. Seja X = S 1 × I, considere a relação


 de equivalência (z, 0) ∼ 2(z, 1),
para todo z ∈ S . Verifique que X ∼ é homeomorfo ao toro T .
1

8. Seja S 1 ⊂ C e X = S 1 × S 1 ; em X considere a relação de equivalência


(z, w) ∼ (−z, w), onde w é o conjudado
 complexo de w; para todo
(z, e) ∈ S × S . Verifique que X ∼ é homeomorfo a garrafa de
1 1

Klein.


9. Seja R, T , onde T é a topologia definida por: U ∈ T se, e somente
se 0 ∈ U . Seja ∼ a relação
 de equivalência definida por x ∼ −x.
Verifique que R/ ∼ com a topologia quociente é homeomorfo a
[0, +∞) com a topologia induzida por T.
4.7. EXERCÍCIOS 105

10. Seja Rn com a topologia de Zariski e ∼ relação de equivalência defi-


nida por

(x1 , x2 , x3 , . . . , xn ) ∼ (y1 , y2 , y3 , . . . , yn ) ⇐⇒ xi = y i ,


para todo i = 1, 2, . . . , n. Verifique que Rn / ∼ com a topologia
quociente é homeomorfo a Rn−1 com a topologia de Zariski.

11. Verifique que RP0 ∼


= {p}.

12. Verifique que RP1 ∼


= S 1.

13. Verifique que CP1 ∼


= S 2.
 
14. Sejam p1 : X −→ X ∼1 e p2 : X −→ X ∼2 aplicações quocientes.
Com um contraexemplo, verifique que o produto cartesiano

 
p1 × p2 : X× : X −→ X ∼1 × X ∼2

não é uma aplicação quociente.

15. Sejam pλ : Xλ −→ Yλ são funções contı́nuas, abertas e sobrejetivas;


para todo λ ∈ Λ. Defina Πλ p : Πλ Xλ −→ Πλ Yλ , onde Πλ é o produto
cartesiano de espaços topologicos. Prove que Πλ p é uma aplicação
quociente.

16. Seja f : X −→ Y uma aplicação sobrejetiva e B uma base da topolo-


gia de X. f B é base da topologia quociente?

17. Prove que se G é um grupo finito, então a aplicação Π é fechada.

18. Ache exemplos de G-espaços, onde G seja um grupo finito.

19. Para todo x, y ∈ X. Prove que Gx = Gy ou são disjuntas.

[
20. Prove que X = Gx, (união disjunta).
x∈X
106 CAPÍTULO 4. TOPOLOGIA QUOCIENTE

21. Seja G o grupo gerado pelos homeomorfismos h, g : R2 −→ R2 defi-


nidos por:

h(x, y) = (x + 1, y) e g(x, y) = (−x, y + 1),

respectivamente, Verifique que R2 /G é homeomorfo à garrafa de


Klein.

22. Seja X 6= ∅ e h : X × X −→ [0, +∞) tal que satisfaz h(x, x) = 0,


h(x, y) = h(y, x) e h(x, y) ≤ h(x, z) + h(z, y), para todo x, y, z ∈ X.
Defina:

x ∼ y ⇐⇒ h(x, y) = 0.

(a) Verifique que ∼ é uma relação de equivalência.



(b) Verifique que X ∼ é um espaço métrico, com a métrica:

d(Π(x), Π(y) = h(x, y),


onde Π : X −→ X ∼ é a projeção canônica.

(c) Qual é a topologia em X ∼ induzida por d?
Capı́tulo 5

COMPACIDADE

5.1 Introdução
Do Cálculo sabemos que funções contı́nuas definidas sobre conjuntos li-
mitados e fechados possuem um ponto de máximo e um de mı́nimo ab-
soluto (Teorema de Weierstrass) e da Análise conhecemos o teorema de
Heine-Borel sobre intervalos encaixados.
As formulações de compacidade em espaços topológicos envolve muito
mais do que o conceito de fechado e limitado, os quais não são equivalen-
tes.
A importância principal da compacidade é que ela nos permite obter pro-
priedades globais a partir de propriedades locais. Existem várias formas
de introduzir o conceito de compacidade em espaços topológicos. Nós
escolhemos a seguinte.

5.2 Compacidade
Seja X um espaço topológico e S ⊂ X.

Definição 5.1.

1. Uma cobertura de S é uma famı́lia de subconjuntos U = {Ui ⊂


X / i ∈ J} tal que:
[
S⊂ Ui .
i∈J

2. Se J é finito, a cobertura é dita finita.

107
108 CAPÍTULO 5. COMPACIDADE

3. A cobertura é dita aberta se os Ui ∈ U são conjuntos abertos.

4. Se S = X, então U é uma cobertura se:


[
X= Ui .
i∈J

Exemplo 5.1.
Seja R com a topologia usual.
Se (0, 1) ⊂ R; então, U = {[1/n, 1 − 1/n] / n ∈ N} é uma cobertura não
aberta de (0, 1).
Se [0, 5] ⊂ R; então, U = {(n − 1, n + 1) / n ∈ Z} é uma cobertura aberta de
[0, 1].
Por ouro lado¿ U = {(n, n + 1) / n ∈ Z} é uma cobertura aberta de R.

Definição 5.2. Sejam U = {Ui ⊂ X / i ∈ J} e V = {Vk ⊂ X / k ∈ K}


coberturas de S ⊂ X. Se para todo k ∈ K existe i ∈ J tal que Ui = Vk ,
então, dizemos que V é uma subcobertura de U.

Exemplo 5.2.
Seja R com a topologia usual.
Se [0, 5] ⊂ R com a cobertura U = {(n − 1, n + 1) / n ∈ Z}, temos que
{(−1, 1), (1, 2), (1, 3), (3, 5), (3, 6)} é uma subcobertura finita de [0, 5]
Se U = {(r, r+3) / r ∈ R}, então V = {(n, n+3) / n ∈ Z} é um subcobertura
aberta de R.

Observação 5.1. A seguir e nos próximos capı́tulos, somente considera-


remos coberturas abertas.

Definição 5.3. Um subconjunto S ⊂ X é dito compacto, se toda cobertura


de S admite uma cobertura finita.

Em particular, o espaço X é compacto, se todo cobertura de X admite uma


subcobertura finita.
Os conjuntos finitos, em qualquer espaço topológico, são compactos. A
união e a inteseção finita de compactos é um compacto.
5.2. COMPACIDADE 109

Exemplo 5.3.

[1] Seja X, Tind . Todo A ⊂ X é compacto.

[2] Seja X, Tdis . X é compacto se, e somente se X é finito.

[3] Se S ⊂ X é discreto infinito, então S não é compacto. Em particular, N


e Z não são compactos.

[4] R não é compacto, pois U = {(n, n + 2) / n ∈ Z} não possui uma subco-


bertura finita.

Proposição 5.1. São equivalentes as condições:

1. X é compacto.

2. (Propriedade da interseção finita) Se {Fα ⊂ X / α ∈ J} é tal que os


conjuntos Fα são fechados e:
\
Fα = ∅,
α∈J

então existe uma subfamı́lia finita {Fα1 , Fα2 , . . . , Fαn } tal que:

\
n
Fαi = ∅.
i=1

Prova : A prova segue diretamente das leis de de Morgan. Por exemplo:


\ [
Fα = ∅ é equivalente a Fαc = X.
α∈J α∈J

Proposição 5.2. Seja f : X −→ Y contı́nua. Se S ⊂ X é compacto, então


f (S) é compacto em Y .

Prova : Seja V = {Vi / i ∈ J} um recobrimento de f (S); então: 2] Para todo


a, b ∈ R, [a, b] ⊂ R é compacto.
De fato, o intervalo [0, 1] é compacto

{f −1 (Vi ) / i ∈ J}

é uma cobertura de S; como S é compacto, existe subcobertura finita:


110 CAPÍTULO 5. COMPACIDADE

{f −1 (Vk ) / k ∈ K},

onde K é finito. Como f (f −1 (Vk )) ⊂ Vk , então {Vk / k ∈ K} é uma subco-


bertura finita de f (S).

Exemplo 5.4.

[1] Para todo a, b ∈ R, (a, b) ⊂ R não é compacto.


De fato, o intervalo (0, 1) não é compacto em R, basta considerar o reco-
1 
brimento U = { , 1 / n ≥ 2}. Como (0, 1) ' (a, b), temos que (a, b) não é
n
compacto.

Corolário 5.1.

1. Se X é compacto e f : X −→ Y é contı́nua e sobrejetiva, então Y é


compacto. Em particular, se Y tem a topologia quociente induzida
por f , então Y é compacto.

2. Se X ∼
= Y , então X é compacto se, e somente se Y é compacto.

Exemplo 5.5.

O traço de uma curva contı́nua γ : [a, b] −→ X é compacto. Em particular,


seja f : [a, b] −→ R2 definida por f (t) = (cos(t), sen(t)) tal que b − a ≥ 2π.
Então S 1 = f ([a, b]) é compacto em R2 .
Nem todo subconjunto de um espaço compacto é compacto. (0, 1) ⊂ [0, 1]
não é compacto.

Proposição 5.3. Se X é compacto e F ⊂ X é fechado, então F é compacto.

Prova : Seja U = {Ui / i ∈ J} uma cobertura de F , onde cada Ui é aberto


em X; então U ∪ {X − F } é uma cobertura de X; como X compacto, possui
um subcobertura finita, que pode ser:

{Ui / i ∈ K} ou {Ui / i ∈ K} ∪ {X − F },

onde K é finito. Logo {Ui / i ∈ K} é um subcobertura finita de F .

Proposição 5.4. X e Y são compactos se, e somente se X × Y é compacto.


5.2. COMPACIDADE 111

Prova : Se X × Y é compacto, como as projeções são contı́nuas, então X e


Y são compactos.
Reciprocamente, seja W = {Wj / j ∈ J} uma cobertura aberta de X × Y ;
por definição:
[ 
Wj = Uj,k × Vj,k ,
k∈K

onde Uj,k é aberto em X e Vj,k é aberto em Y , então:

U = {Uj,k × Vj,k / j ∈ J, k ∈ K}

é uma cobertura aberta de X × Y .


Por outro lado, para cada x ∈ X, temos que Y ∼ = {x} × Y ; logo {x} × Y é
compacto; como U também é uma cobertura de {x} × Y , então admite um
subcobrimento finito {Ui × Vi / i = 1, 2, . . . , n}, onde n = n(x). Seja:

\
n(x)
Ux = Ui .
i=1

{Ux / x ∈ X} é uma cobertura aberta de X; como é compacto, admite uma


subcobertura finita {Uxi / i = 1, 2, . . . , m}; então:

{Uxi × Vki / i = 1, 2, . . . , m, ki = 1, 2, . . . , n(x)}

é uma cobertura finita de X × Y , isto é, para cada i e ki , existe j ∈ J e


k ∈ K tal que:

Uxi × Vki ⊂ Uj,k × Vj,k ⊂ Wj .

Logo, existe subcobertura finita de W, provando que X × Y é compacto.

Corolário 5.2. X1 , X2 , . . . , Xn são compactos se, e somente se X1 ×X2 . . .×


Xn é compacto.

Exemplo 5.6.
[1] Rn não é compacto.
[2] Se I = [0, 1], então I n = I × I × . . . × I é compacto.
[3] O toro T 2 = S 1 × S 1 é compacto.
[4] Em geral, T n = S 1 × S 1 × . . . × S 1 é compacto.
[5] O toro não é homeomorfo ao cilindro S 1 × R.
112 CAPÍTULO 5. COMPACIDADE

5.3 Compacidade em Espaços Métricos


 
Proposição 5.5. Sejam M, d1 e N, d2 espaços métricos. Se M é com-
pacto e f : M −→ N é contı́nua, então f é uniformemente contı́nua.

Prova : Como f é contı́nua, para todo ε > 0 existe δx > 0 tal que se
d1 (x, y) < 2 δx , então:

d2 (f (x), f (y)) < ε/2.

Seja B = {Bδx (x) / x ∈ X}; B é uma cobertura aberta de X; por com-


pacidade, admite um cobertura finita {Bδxi (xi ) / i = 1, 2, . . . , n}. Denote-
mos por δ = min{δxi (x) / i = 1, 2, . . . , n}, então dados x, y ∈ X tais que
d1 (x, y) < δ, temos d2 (f (x), f (y)) < ε. Isto é, se x ∈ Bδxi (xi ) para algum i,
d1 (x, xi ) < δxi e:

d(y, xi ) ≤ d(y, x) + d(x, xi ) < 2 δx , logo d2 (f (y), f (xi )) < ε/2,

d2 (f (x), f (y)) ≤ d2 (f (x), f (xi )) + d2 (f (xi ), f (y)) < ε/2 + ε/2 = ε.


Proposição 5.6. Seja M, d um espaço métrico. Se A ⊂ M é compacto,
então A é fechado e limitado.

Prova : Provemos que A é fechado. Se x ∈ A e x ∈ / A, então para todo


y ∈ A, existe ε > 0 tal que d(x, y) = 2 ε; logo A possui uma cober-
tura {Bε (y) / y ∈ A}; como A é compacto, existe uma cobertura finita
{Bεi (y) / i = 1, . . . n}; então Bεi (x) ∩ Bεi (y) 6= ∅ o que é uma contradição,
pois x ∈ A; logo A = A. Por outro lado, para todo x0 ∈ M :

A ⊂ B1 (x0 ) ∪ B2 (x0 ) ∪ B3 (x0 ) ∪ . . .


[
j
A⊂ Bni (x0 );
i=1

logo, é limitado.
Em geral, a recı́proca desta proposição é falsa. De fato, consideremos M
com a métrica discreta etal que A ⊂ M é infinito; então A é fechado e
limitado, pois A ⊂ B2 (x) = M para todo x ∈ M e não é compacto. No
caso M = Rn temos:
5.3. COMPACIDADE EM ESPAÇOS MÉTRICOS 113

Proposição 5.7. (Heine-Borel) Um subconjunto é fechado e limitado em


Rn se, e somente se é compacto.

Prova : Seja A ⊂ Rn fechado e limitado. Se A é limitado, existe k > 0 tal


que kxk ≤ k, para todo x ∈ A; logo A ⊂ [−k, k]n = [−k, k] × [−k, k] × . . . ×
[−k, k].
Por outro lado, [−k, k] é compacto, pois [−k, k] ∼
= [0, 1]. Logo, A é fechado
contido num compacto; então, A é compacto.

Exemplo 5.7.

[1] S n é compacta.
[2] PRn é compacto.
[3] O toro e a esfera não são homeomorfos a R2 .
[4] O toro e a esfera não são homeomorfos ao cilindro S 1 × R.
[5] A faixa de Moebius é compacta.
[6] Os grupos O(n) e SO(n) são compactos.
De fato,√sabemos que são fechados e para toda A ∈ O(n), temos que
kAk1 = n. Logo, O(n) é limitado.

Corolário 5.3. (Weirstrass) Seja X um espaço topológico compacto e f :


X −→ R contı́nua; então existem x0 , x1 ∈ X tais que:

f (x0 ) ≤ f (x) ≤ f (x1 ),


para todo x ∈ X.

Prova : Como f é contı́nua, f (X) é compacto em R, logo é fechado e li-


mitado; como f (X) é limitado, existe M = sup{f (x) / x ∈ X} e L =
inf{f (x) / x ∈ X}; além disso é fechado; então M, L ∈ f (X). De fato,
suponha que M ∈ / f (X), como f (X) = f (X), então existe ε > 0 tal que
(M − ε, M + ε) ∩ f (X) = ∅. Isto é, para todo x ∈ X, f (x) ≤ M − ε o que é
uma contradição. Analogamente para L. Logo, existe x0 , x1 ∈ X tais que
M = f (x1 ) e L = f (x0 ), e:

f (x0 ) ≤ f (x) ≤ f (x1 ),

para todo x ∈ X.
Seja A ⊂ X um conjunto limitado, definimos e denotamos o diâmetro de
A por:
114 CAPÍTULO 5. COMPACIDADE

d(A) = sup{d(x, y) / x, y ∈ A}.

O número δ > 0 é dito de Lebesgue da cobertura {Ui / i ∈ J} de X, se para


todo A ⊂ X com d(A) < δ, então existe i0 ∈ I tal que:

A ⊂ Ui0 .

O número de Lebesgue de uma cobertura pode não existir.


De fato, considere a cobertura {(−∞, 0), (0, +∞)} de R − {0}. Não é difı́cil
ver que para todo δ > 0, se pode escolher 0 < r < δ/2; tal que d({−r, r}) <
δ e {−r, r} não pertence a nenhum elemento da cobertura.

Lema 5.1. (Lebesgue) Todo conjunto compacto num espaço métrico pos-
sui um número de Lebesgue.

Prova : Sejam K compacto, {Ui / i ∈ J} uma cobertura de K e x ∈ K.


Escolhemos o número r(x) > 0 tal que B(x, r(x)) ⊂ Ui para algum i ∈ J;
então {B(x, r(x)/2) / x ∈ X} é uma cobertura de X, como X compacto,
admite subcobertura finita B(x1 , r(x1 )), B(x2 , r(x2 )) , . . ., B(xn , r(xn )). Seja

δ = min{r(x1 ), r(x2 ), . . . , r(xn )}.

O número δ > 0 é o número de Lebesgue. De fato, seja B(x, δ) para algum


x ∈ X; então, existe i ∈ {1, 2 . . . , n} tal que x ∈ B(xi , r(xi )/2). Por outro
lado, se y ∈ B(x, δ), temos que:

d(y, xi ) ≤ d(y, x) + d(x, xi ) ≤ δ + r(xi )/2 ≤ r(xi ).

Logo, B(x, δ) ⊂ B(xi , r(xi )/2) ⊂ Uj , para algum Uj ∈ {Ui / i ∈ J}.


5.4. EXERCÍCIOS 115

5.4 Exercı́cios
1. Rn , (n = 2, 3) com a topologia usual. Verifique se os seguintes con-
juntos são ou não compactos.

(a) {(x, y) / x > 1}.

(b) {(x, y) / x = y}.

(c) {(x, y) / x y ≤ 0}.

(d) {(x, y, z) / x2 + y 2 + z 2 ≥ 4}.

2. Seja R com a topologia usual. Verifique que conjunto A = {1/n / n ∈


N} não é compacto.

3. Seja R com a topologia usual. O conjunto B = {(−1)n /n / n ∈ N} ∪


{0} é compacto?

4. Sejam Rn com a topologia usual, A ⊂ Rn e x0 ∈ Rn . Sabemos que a


distância de x0 a A ér:

d(x0 , A) = inf {kx0 − xk / x ∈ A}.

(a) Se A é fechado, existe q ∈ Rn tal que d(p, A) = d(p, q)?

(b) Verifique que f (p) = d(p, A) é uniformemente contı́nua.

5. Seja Rn com a topologia usual e A, B ⊂ Rn . Defina a distância de A


a B por:

d(A, B) = inf {kx − yk / x ∈ A, y ∈ B}.

(a) d(A, B) = inf{d(p, B) / p ∈ A}?

(b) Que ocorre no item anterior se A e B são compactos?


116 CAPÍTULO 5. COMPACIDADE

6. Sejam X compacto, An ⊂ X tais que An 6= ∅ e An+1 ⊂ An , para todo


n ∈ N. Verifique que:
\
An 6= ∅.
n

7. Seja X um espaço métrico compacto e f : X −→ X contı́nua. Verifi-


que que existe A ⊂ tal que A 6= ∅ e f (A) = A.

(Utilize o exercı́cio anterior e defina A1 = f (X) e An+1 = f (An ), ,


para todo n ∈ N).

8. Seja Y ⊂ X um subespaço. Y é compacto se, e somente se Y é com-


pacto com a topologia induzida.

9. Seja f : X −→ Y contı́nua
 e L ⊂ X um conjunto compacto. Ache um
exemplo tal que f L não seja compacto.

10. Seja f : X −→ Y contı́nuae K ⊂ Y um conjunto compacto. Ache


um exemplo
 tal que f −1 K não é compacto. De condições para que
f −1 K seja compacto.

11. Seja X não enumerável. Definamos a seguinte topologia em X: U é


aberto se, e somente se U = ∅ ou U c é enumerável. Verifique que X
com esta topologia, não é compacto.

12. Ache um exemplo de um espaço topológico, onde os subconjuntos


compactos não são fechados.

13. Ache um exemplo de um espaço topológico, onde a clausura dos


subconjuntos compactos não são compactos.

14. Seja S 1 , A ⊂ R, onde A{(x, y) / y = x2 } ambos com a topologia indu-


zida, S 1 é homeomorfo a A?

15. Seja R com a topologia usual. De um exemplo de uma função f :


R −→ R contı́nua, injetiva tal que f R não é fechado.
 
16. Ache exemplos de X, T1 compacto, Y, T2 e f : X −→ Y bijeção
contı́nua tal que não seja homeomorfismo.

17. Seja f : X −→ Y um homeomorfismo local tal que X é compacacto.


Verifique que f −1 (y) ⊂ X, para todo y ∈ Y é finito.
5.4. EXERCÍCIOS 117

18. Suponha que todo subconjunto compacto de um espaço topológico


X é fechado. Se A ⊂ X é finito, então é fechado?

19. Seja R com a topologia usual, defina:

T = {∅} ∪ {U ⊂ R / U c é compacto em R}.

(a) Verifique que T é uma topologia para R.

(b) Verifique que R é compacto em (R, T ).

20. Considere o espaço métrico l2 , definido nos exercı́cios do primeiro


capı́tulo. Verifique que as bolas fechadas de l2 não são compactas.
118 CAPÍTULO 5. COMPACIDADE
Capı́tulo 6

AXIOMAS DE SEPARAÇÃO

6.1 Introdução

Consideremos M, d um espaço métrico com mais de dois elementos.
Sempre podemos escolher ε > 0 tal que d(x, y) = 2 ε com x, y ∈ M e
x 6= y, então Bε (x) ∩ Bε (y) = ∅.
Esta propriedade natural dos espaços métricos, que nos permite diferen-
ciar os pontos dos espaços, não é válida, em geral, em espaços topológicos
arbitrários.
Neste parágrafo estudaremos que tipo de espaços possuem esta proprie-
dade, que por exemplo, é fundamental para provar a unicidade do limite
de uma sequência em espaços métricos. Veja [EL2].

6.2 Espaços de Fréchet



Seja X, T um espaço topológico

Definição 6.1. X é um espaço de Fréchet ou T1 se para todo x, y ∈ X tal


que x 6= y, existe U ∈ T tal que x ∈ U e y ∈
/ U.

Exemplo 6.1.

[1] X, Tdis e os espaços topológicos metrizavéis são T1 .

[2] X, Tind não é T1 .

Proposição 6.1. X é T1 se, e somente se {x} é fechado em X, para todo


x ∈ X.
Prova : Suponha que X é T1 . Seja x ∈ X e y ∈ X − {x}; então existe Uy
vizinhança de y tal que x ∈
/ Uy ; logo:

119
120 CAPÍTULO 6. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO

[
Uy = X − {x},
y∈{x}c

isto é, X − {x} é aberto. Reciprocamente, se {x} e {y} são fechados em X;


então X − {x} e X − {y} são abertos, y ∈
/ X − {x} e x ∈ / X − {y}; logo X é
T1 .

6.3 Espaços de Hausdorff



Seja X, T um espaço topológico

Definição 6.2. X é um espaço de Hausdorff ou T2 se para todo x, y ∈ X


tal que x 6= y, existem U, V ∈ T, x ∈ U e y ∈ V tais que U ∩ V = ∅.

Observação 6.1. T2 implica T1 . A reciproca é falsa. Veja os seguintes exem-


plos:

Exemplo 6.2.

[1] R, Tus é de Hausdorff

[2] X, Tdis e os espaços topológicos metrizavéis são de Hausdorff.

[3] X, Tind não é de Hausdorff.

[4] R, Tcof não é de Hausdorff. De fato. Para todo U, V ∈ Tcof , temos
U ∩ V 6= ∅. De fato, sejam U = R  − F1 e V = R − F2 , onde F1 e F2 são
finitos; então U ∩ V = R − F1 ∪ F2 ; como F1 ∪ F2 é finito, então U ∩ V 6= ∅;
logo não pode ser de Hausdorff. Note que R, Tcof é T1 .

[5] Utilizando propriedades dos anéis de polinômios é possı́vel verificar


que topologia de Zariski não é de Hausdorff.

Teorema 6.1. São equivalentes as seguintes condições:

1. X é de Hausdorff.

2. Se x ∈ X, para todo y 6= x existe uma vizinhança U de x tal que


y∈/ U.
6.3. ESPAÇOS DE HAUSDORFF 121

3. Para todo x ∈ X temos que:


\
{U / U vizinhança de x} = {x}.

4. A diagonal ∆ = {(x, x) / x ∈ X} é um conjunto fechado em X × X.

Prova : 1) ⇒ 2) Dados x 6= y, existem U e V vizinhanças de x e y respecti-


vamente, tais que U ∩ V = ∅; logo y 6∈ U .
2) ⇒ 3) Se y 6= x existe uma vizinhança U de x tal que y ∈
/ U ; então:
\
y∈ / {U / U vizinhança de x}.

3) ⇒ 4) Provaremos que ∆c é aberto.


T
Seja (x, y) ∈
/ ∆; então x 6= y; como {x} = {U / U vizinhança
c de x}, existe
U tal que x ∈ U e y ∈ / U . Por outro lado, U ∩ U = ∅, então (x, y) ∈
c
U × U ⊂ ∆c .
4) ⇒ 1) Dados x 6= y, então (x, y) ∈  ∈ ∆ que é aberto; logo
/ ∆, isto é (x, y) c

existe vizinhança U × V de (x, y) tal que U × V ∩ ∆ = ∅.


U × V ∩ ∆ 6= ∅ ⇔ existe x ∈ X tal que (x, x) ∈ ∆
⇔ x∈U ex∈V
⇔ U ∩ V 6= ∅.

Logo; x ∈ U e y ∈ V , U ∩ V = ∅.

Corolário 6.1.

1. Se X é de Hausdorff e Y ⊂ X é um subespaco, então Y é de Haus-


dorff.

2. Se Y é de Hausdorff e f : X −→ Y é contı́nua e injetiva, então X é


de Hausdorff.

3. Se X e Y são de Hausdorff, então X × Y é de Hausdorff.

Prova : 1. Denotemos por ∆Y a diagonal de Y , então



∆Y = ∆ ∩ Y × Y .
122 CAPÍTULO 6. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO

Logo ∆Y é fechado em Y × Y e Y é de Hausdorff.


2. Como f é contı́nua e injetiva:

∆X = (f × f )−1 ∆Y .

Logo ∆X é fechada em X × X e X é de Hausdorff.


3. Se X e Y são de Hausdorff, definamos:

f : X × X × Y × Y −→ X × Y × X × Y
(x, x1 , y, y1 ) −→ (x, y, x1 , y1 ).

f é um homeomorfismo e:

f ∆X × ∆Y = ∆X×Y .

Logo, ∆X×Y é fechado em X × Y × X × Y e X × Y é de Hausdorff.

Teorema 6.2. Se X é de Hausdorff e A ⊂ X é compacto, então A é fechado.


Prova : Se A = ∅ ou A = X nada temos a provar. Sejam A 6= ∅, X e x ∈ Ac ;
para todo a ∈ A existem Ua e Va vizinhanças de x e a respectivamente, tais
que Ua ∩ Va = ∅.
Por outro lado, {Va / a ∈ A} é um recobrimento aberto de A; como A é
compacto, existe um subrecobrimento finito {Vai / i = 1, 2, . . . , n}. Consi-
deremos:
\
n
U= Uai .
i=1

U é vizinhança de x tal que U ∩ Vai = ∅ para todo i; logo U ⊂ Ac , isto é,


para cada x ∈ Ac existe um aberto tal que x ∈ U ⊂ Ac , logo Ac é aberto e A
fechado.

Observação 6.2. A condição de ser de Hausdorff e de compacidade são


essenciais no teorema anterior. Vejamos os seguintes exemplos:
6.3. ESPAÇOS DE HAUSDORFF 123

Exemplo 6.3.

[1] Considere X = {a, b, c} com a seguinte topologia T = {∅, {a}, {b, c}}.
Então A = {c} é compacto e Ac = {a, b} ∈
/ T, logo A não é fechado. Note
que X não é de Hausdorff.
[2] Seja X = N com a topologia dada no exercı́cio [2], ı́tem 2. Seja A = {1},
A é compacto e A = N pois para todo aberto An temos A ∩ An = {1}. Isto
é, para todo n ∈ N, n ∈ A e N não é compacto. De fato:
[
N= Gn ,
n∈N

onde Gn = {1, n}. Logo, o fecho de um compacto pode não ser compacto.


Corolário 6.2. Sejam T1e T2 topologias em X tal que T1 ⊂ T2 . Se X, T1
é de Hausdorff e X, T2 é compact, então T1 = T2 .

Prova : Seja U ∈ T2 ; logo F = U c é fechado em T2 ; então F é compacto


em T2 . Por outro lado, como T1 ⊂ T2 , todo recobrimento aberto de X
em T1 é um recobrimento
 aberto de X em T2 ; então F é compacto em T1 .
Como X, T1 é de Hausdorff, segue que F é fechado em T1 ; logo U ∈ T1
e T2 ⊂ T1 .

Proposição 6.2. Sejam X espaço topológico, Y espaço de Hausdorff e:

f, g : X −→ Y

contı́nuas. Então:

1. {x ∈ X / f (x) = g(x)} é fechado em Y .



2. Se D ⊂ X é denso e f D = g D então f = g em X.

3. O gráfico de f é fechado em X × Y .

4. Se f é injetiva, então X é de Hausdorff.

Prova :
1) Seja h : X −→ X × Y onde h(x) = (f (x), g(x)); h é contı́nua e:

{x ∈ X / f (x) = g(x)} = h−1 (∆)


124 CAPÍTULO 6. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO

e ∆ é fechado em X × Y .
2) Segue, de imediato, pois {x ∈ D / f (x) = g(x)} ⊂ {x ∈ X / f (x) = g(x)}.
Como {x ∈ X / f (x) = g(x)} é fechado e D é denso, então:

{x ∈ D / f (x) = g(x)} = {x ∈ X / f (x) = g(x)}.

3) Seja k : X × Y −→ Y × Y onde k(x, y) = (f (x), y); k é contı́nua e:

G(f ) = k −1 (∆)

e ∆ é fechado em X × Y .
4) A função f −1 : f (X) −→ X é uma bijeção fechada do espaço f (X) que
é de Hausdorff.

Observação 6.3.

O ı́tem 1 da proposição [6.2], não é válido sem a hipótese de ser de Haus-


dorff. Por exemplo, considere f = id e g = −id tal que
 
f, g : R, Tind −→ R, Tind ,

 contı́nuas e {x ∈ X / f (x) = g(x)} = {0}, que não é fechado em3


ambas são
R, Tind . Note que as curvas contı́nuas e os planos são fechados em R
com a topologia usual.

Proposição 6.3. Se X é compacto, Y é de Hausdorff e f : X −→ Y é


contı́nua, então f é fechada.

Prova : Seja F ⊂ X fechado; logo é compacto; então f (F ) é compacto, o


que implica f (F ) é fechado em Y e f fechada.

Corolário 6.3. Sejam X compacto, Y espaço de Hausdorff e f : X −→ Y


contı́nua. São equivalentes:

1. f é um homeomorfismo.

2. f bijetiva.
6.4. TOPOLOGIA QUOCIENTE 125

Prova : Se f é um homeomorfismo, então é bijetiva. Reciprocamente. Se f


é bijetiva, então f é aberta e fechada; logo é um homeomorfismo.
A condição de compaciade
 éessencial no corolário [6.3]. De fato, considere
os espaços R, Tus , R, Tdis e a função identidade:
 
id : R, Tdis −→ R, Tus

que é contı́nua, bijetiva e não é um homeomorfismo.

Corolário 6.4. Sejam X compacto, Y espaço de Hausdorff e f : X −→ Y


contı́nua e injetiva então:

X∼
= f (X).

6.4 Topologia Quociente


Em geral, é falso, que espaços quocientes de um espaço de Hausdorff se-
jam de Hausdorff.

Exemplo 6.4.
Seja R com a topologia usual e definamos a seguinte relação de equi-
valência:

x ∼ y ⇔ x = y ou {x, y} ⊂ (0, 1).


 
Consideremos X ∼ com a topologia quociente e Π a correspondente
projeção canônica. Se x0 ∈ (0, 1), então Π−1 ([x
 0 ]) = (0, 1), que não é fe-
chado
  em R; logo {[x 0 ]} não é fechado em X ∼ , o qual implica em que
X ∼ não pode ser de Hausdorff.

Teorema 6.3. Seja X compacto, de Hausdorff e f : X −→ Y uma identifi-


cação. Se f é fechada, então Y é de Hausdorff (compacto).

Prova : Sejam y1 , y2 ∈ Y tal que y1 6= y2 , então f −1 (y1 ) e f −1 (y2 ) são


compactos disjuntos. Seja x ∈ f −1 (y1 ) e b ∈ f −1 (y2 ), então existem Ux,b
e Vx,b abertos disjuntos tais que x ∈ Ux,b e b ∈ Vx,b . Por outro lado,
{Vx,b / b ∈ f −1 (y2 )} é uma cobertura de f −1 (y2 ); logo existe uma subco-
bertura finita {Vx,b / b ∈ B}, onde B ⊂ f −1 (y2 ) e B finito. Sejam:
\ [
Ux = Ux,b e Vx = Vx,b ,
b∈B b∈B
126 CAPÍTULO 6. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO

Ux e Vx são abertos tais que Ux ∩ Vx = ∅ e x ∈ Ux , f −1 (y2 ) ⊂ Vx . Por


outro lado, {Ux / x ∈ f −1 (y1 )} é uma cobertura de f −1 (y1 ), logo existe uma
subcobertura finita {Ux / x ∈ A}, onde A ⊂ f −1 (y1 ) e A finito. Sejam:
[ \
U= Ux e V = Vx ,
x∈A x∈B

U e V são abertos disjuntos tais que f −1 (y1 ) ⊂ U e f −1 (y2 ) ⊂ V ; como f é


fechada, então f (U c ) e f (V c ) são fechados em Y . Denotemos por:
c c
W1 = f (U c ) e W2 = f (V c ) .

W1 e W2 são abertos tais que y1 ∈ W1 , pois f −1 (y1 ) ⊂ U e y2 ∈ W1 , pois


f −1 (y2 ) ⊂ V . Se y ∈ W1 ∩ W2 , então y ∈
/ f −1 (U c ) e y ∈
/ f −1 (V c ); logo
−1 −1 −1
f (y) ∩ U = ∅ e f (y) ∩ V = ∅ donde f (y) ⊂ U ∩ V = ∅ e W1 ∩ W2 = ∅.
c c

Corolário 6.5. Seja X compacto, de Hausdorff e A ⊂ X fechado. Defina-


mos em X a relação de equivalência:

x ∼ y ⇔ x = y ou {x, y} ⊂ A.
 
Então X ∼ é compacto e de Hausdorff.

Prova : Seja F ⊂ X fechado e Π a projeção canônica. Se F ∩ A = ∅, então


Π(F ) = F . Se F ∩ A 6= ∅, então Π(F ) = Π(F − A) ∪ Π(F ∩ A) que é fechado.
De fato:

Π−1 Π(F − A) ∪ Π(F ∩ A) = (F − A) ∪ A = F ∪ A.
Logo, Π é fechada.
 
É comum na literatura denotar-se X ∼ por X A.

Corolário 6.6. Se X é um G-espaço compacto, de Hausdorff e G é finito,


então X/G é compacto e de Hausdorff.

Prova : Seja F ⊂ X fechado, então:


 [
Π−1 Π(F ) = θg (F ),
g∈G

 canônica. θg é um homeomorfismo, para todo g ∈ G;


onde Π é a projeção
−1
então Π Π(F ) é fechado e Π(F ) é fechado; logo Π é fechada.
6.5. HOMEOMORFISMOS 127

Proposição 6.4. Se X é compacto, Y é de Hausdorff e f : X −→ Y contı́nua


sobrejetiva, então f é uma identificação.

Prova : Seja K ⊂ X fechado, então K é compacto em X, logo f (K) é


compacto em Y , como Y é de Hausdorff, f (K) é fechado em Y e f é uma
função fechada e pela proposição [4.2], f é uma identificação.

Exemplo 6.5.

[1] S n ,n ≥ 1 é compacto e de Hausdorff.


[2] O toro T 2 é compacto e de Hausdorff. Em geral, T n é compacto e de
Hausdorff
[3] O espaçøprojetivo real RPn e CPn são compactos e de Hausdorff.
[4] A faixa de Moebius é compacta e de Hausdorff.
[5] A garrafa de Klein é compacta e de Hausdorff.

6.5 Homeomorfismos
Nas seguintes aplicações utilizaremos o corolário [6.3]:

Corolário 6.7. Sejam X compacto, Y de Hausdorff ∼ uma relação de equi-


valência em X ef : X −→ Y contı́nua e sobrejetiva tal que x ∼ x1 ⇔
f (x) = f (x1 ). Então
X∼ = Y.

A) Seja S n−1 × {0} ⊂ S n−1 × I, então:


 
B[0, 1] ∼
= S n−1 × I S n−1 × {0} .

De fato, definamos f : S n−1 × I −→ B[0, 1] por f (x, t) = t x.


Por outro lado f (x1 , t1 ) = f (x2 , t2 ) ⇔ x 6= 0 ou x1 = x2 e t1 = t2 = 0, f
é contı́nua e sobrejetiva. Logo, por passagem ao quocientes, f induz uma
bijeção contı́nua F tal que F ◦ Π = f .
 n−1 
Denotemos por X = S n−1 × I S × {0} , temos o seguinte diagrama
comutativo:

S n−1 × I
Π / B[0, 1]
r 8
rrrr
f
rr
 rrrr F
X
128 CAPÍTULO 6. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO

Como X é compacto e B[0, 1] é de Hausdorff, então F é um homeomor-


fismo o qual é definido por F ([(x, t)]) = f (x, t).

B) Seja T 2 o toro de revolução. Então:


  
T2 ∼
= S1 × S1 ∼
= I2 ∼ ∼= R2 Z2 .

Pelo exemplo C em [4.3], provaremos que:


 
T2 ∼
= I2 ∼ ,

onde T 2 é o toro de revolução em R3 .


T 2 ⊂ R3 é parametrizado por:

x(t, s) = (R + r cos(2πs)) cos(2πt)


y(t, s) = (R + r cos(2πs)) sen(2πt)
z(t, s) = r sen(2πt),
onde R > r > 0 e (t, s) ∈ R2 . Seja I = [0, 1] e consideramos I 2 ⊂ R2 com a
topologia usual e a relação de equivalência definida em I 2 por:

(s, 0) ∼ (s, 1) e (0, t) ∼ (1, t)


 
para todo (s, t) ∈ I 2 . Consideremos I 2 ∼ com a topologia quociente e
definamos:

f : I × I −→ T 2

por f (s, t) = (x(s, t), y(s, t), z(s, t)). Note que: para todo t , s ∈ I,

f (0, s) = (R + r cos(2πt), 0, 0) = f (1, s)


f (t, 0) = ((R + r) cos(2πt), (R + r) sen(2πt), r sen(2πt)) = f (t, 1)
f (0, 0) = f (1, 0) = f (0, 1) = f (1, 1) = (r + R, 0, 0).
f é bem definida, contı́nua e sobrejetiva. Como f é periódica, então (s, 0) ∼
(s, 1) e (0, t) ∼ (1, t) ⇔ f (s, t) = f (s1 , t1 ). Logo, por passagem ao quocien-
tes, f induz uma bijeção contı́nua F tal que F ◦ Π = f . Em outras palavras,
temos o seguinte diagrama comutativo:

f
I2 / T2
yy<
yy
Π
yyyF
 y
I2 ∼
6.5. HOMEOMORFISMOS 129
 
Como I 2 ∼ é compacto e T 2 é de Hausdorff, então F é um homeomor-
fismo. Note que F ([t1 , t2 ]) = f (t1 , t2 ). Logo, provamos que:
  
T2 ∼
= S1 × S1 ∼
= I2 ∼ ∼= R2 Z2 .

Em geral, com argumentos análogos aos anteriores, se consideramos o toro


n-dimensional Tn = S 1 × S 1 × . . . × S 1 , (n vezes), temos que:

Tn ∼
= Rn Zn ∼
= I n/ ∼ .

C) Seja X = Rn+1∗ , isto é Rn+1 menos a origem, definamos em X a seguinte


relação de equivalência:

x ∼ y ⇔ existe λ ∈ R∗ tal que x = λ y.


 
Seja X = X ∼ , então:

X∼
= RPn .

Considere S n ⊂ Rn+1 com a topologia induzida pela topologia usual de


Rn+1 . Seja f : S n −→ X definida por f = Π ◦ i, onde i : S n −→ Rn+1 ∗ é a
inclusão e Π : Rn+1
∗ −→ X é a projeção can ônica. f é contı́nua e sobrejetiva.
Logo, temos o seguinte diagrama comutativo:

f
Sn / RPn
y y<
yyy
Π y
 yyy F
X

Como S n é compacta e RPn é de Hausdorff, então F é um homeomorfismo


F . É claro que RP0 é um ponto e RP1 ∼= S 1 . De fato, basta considerar a
função f : S 1 −→ S 1 tal que f (z) = z 2 , por argumentos análogos aos
anteriores, temos o seguinte diagrama comutativo:

f
S1 / S1
zz=
zz
Π zz
 zz F
RP1

Logo, temos que RP1 ∼


= S 1.

D) Seja X = Cn+1∗ , isto é Cn+1 menos a origem, definamos em X a seguinte


relação de equivalência:

z1 ∼ z2 ⇔ existe λ ∈ C∗ tal que z1 = λ z2 .


130 CAPÍTULO 6. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO
 
Seja X = X ∼ , então:

X∼
= CPn .

Considere S 2n+1 ⊂ Cn+1 com a topologia induzida pela topologia usual de


Cn+1 . Seja f : S 2n+1 −→ X definida por f = Π ◦ i, onde i : S 2n+1 −→ X é a
inclusão e Π : Cn+1
∗ −→ X é a projeção canônica. f é contı́nua e sobrejetiva.
Logo, temos o seguinte diagrama comutativo:

f
S 2n+1 / CPn
vv:
v
vv
Π
vvv F
 vv
X

Como S 2n+1 é compacta e CPn é de Hausdorff, então F é um homeomor-


fismo e:

X∼
= CPn .

F) Seja O(n) o grupo ortogonal real e denotemos por H o subgrupo de


O(n) definido por: A ∈ H se, e somente se:
 
1 0
A= ,
0 B

onde B ∈ O(n − 1). Não é difı́cil ver que H e O(n − 1) são homeomorfos.
Definamos em O(n) a seguinte relação de equivalência:

A1 ∼ A2 ⇔ existe A ∈ H tal que A1 = A2 A.

Afirmamos que:

O(n) O(n − 1) ∼
= S n−1 .

Definamos f : O(n) −→ S n−1 por:


 
1
 .. 
f (A) = A  . 
0

f é bem definida e sobrejetiva, pois para todo v ∈ S n−1 , existe uma rotação
A tal que A e1 = v. Verifique! f é claramente contı́nua.
Sejam A1 ∼ A2 , então A1 = A2 A, para algum A ∈ O(n − 1); logo:
6.5. HOMEOMORFISMOS 131

     
1 1 1
 ..   ..   .. 
f (A1 ) = A1  .  = A2 A  .  = A2  .  = f (A2 ).
0 0 0

Logo, temos o seguinte diagrama comutativo:

f
O(n) / S n−1
ppp7
ppp
Π
pppppF
 p
O(n)/O(n − 1)

F ([A]) = f (A). Como O(n) é compacto, então O(n)/O(n−1) é compacto, F


é contı́nua e bijetiva e S n−1 é de Hausdorff, enão F é um homeomorfismo
e:

O(n) O(n − 1) ∼
= S n−1 .

G) Seja M a faixa de Moebius, então:

M∼
= F,

onde F é a superfı́cie parametrizada em R3 , por:

x(t, s) = (x2 − y 2 ) (2 + x z)
y(t, s) = 2 x y (2 + x z)
z(t, s) = y z,

onde (t, s) ∈ R2 .
 
Lembremos que M = C ∼ , onde C = {(x, y, z) / x2 + y 2 = 1, |z| ≤ 1}.
Seja p = (x, y, z) ∈ C e f : C −→ R3 definida por:

f (p) = ((x2 − y 2 ) (2 + x z), 2 x y (2 + x z), x y).

Note que f (p) = f (x, y, z) = f (−x, −y, −z) = f (−p). A função f é injetiva,
contı́nua, M compacto e f (M ) ⊂ R3 de Hausdorff; logo

M∼
= f (M ) = F.
132 CAPÍTULO 6. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO

6.6 Variedades Topológicas


As variedades topológicas são uma das classes mais importantes dos espa-
ços topológicos. A ideia central deste capı́tulo é estudar as variedades to-
pológicas, que são a generalização natural das superfı́cies para dimensão
n > 2.

Definição 6.3. X é dito localmente euclidiano se é localmente homeo-


morfo a Rn , para algum n ≥ 1.

Isto é, X é um espaço localmente euclidiano se, e somente se para todo


p ∈ X, existem uma vizinhança U ⊂ X de p, um aberto W ⊂ Rn e um
homeomorfismo:

φ : U ⊂−→ W ⊂ Rn .

Definição 6.4. Se X é localmente homeomorfo a Rn , dizemos que X tem


dimensão n.
Se X é uma variedade topológica de dimensão n. Todo ponto de X possui
uma vizinhança homeomorfa a uma aberto de Rn ; isto é todo x ∈ X possui
uma vizinhança U e um homeomorfismo:

h : U −→ Dn ,

onde Dn ⊂ Rn é o disco unitário.

x U

Figura 6.1: Variedade de dimensão 2

Definição 6.5. X é dita variedade topológica de dimensão n ou uma n-


variedade topológica se é um espaço topológico de Hausdorff, de base
enumerável e que é localmente euclidiano, isto é, localmente homeomorfo
a Rn .
6.6. VARIEDADES TOPOLÓGICAS 133

Observações 6.1.

1. Os abertos de X homeomorfos aos abertos de Rn formam uma base


para X.

2. Se n = 2, então X é dita superfı́cie topológica.

3. Se X e Y são variedades de dimensão n e m, respectivamente, então


X × Y é uma variedade de dimensão n + m. (Verifique!).

Exemplo 6.6.

[1] A esfera S n é uma variedade topológica de dimensão n. Segue de ime-


diato, basta considerar a projeção stereográfica.
[2] Tn = S 1 × . . . × S 1 (n-vezes) é uma variedad topológica de dimensão n.
[3] Os espaçõs projetivos reais e complexos são variedades topológicas de
dimensão n e 2 n, respectivamente.
[4] A garrafa de Klein é uma superfı́cie topológica.
[5] A Faixa de Möebius não é uma superfı́cie topológica. Por que?
134 CAPÍTULO 6. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO

6.7 Exercı́cios
1. Seja X = {a, b, c, d, e} com a topologia

T = {∅, X, {a}, {c, d}, {a, c, d}, {b, c, d, e}}.

(X, T ) é de Hausdorff?

2. Seja X 6= ∅, para a ∈ X fixo, defina a topologia:

T = {∅} ∪ {U ⊂ X / a ∈ U }.

(X, T ) é de Hausdorff?

3. Se X é de Hausdorff e f : X −→ Y é uma bijeção fechada. Verifique


que Y é de Hausdorff.

4. Seja X, onde a topologia em X é definida por: U é aberto se, e so-


mente se U = ∅ ou U c é finito. X é de Hausdorff?

5. Se X é de Hausdorff e A ⊂ X finito tal que A0 = ∅. Verifique que A é


fechado.

6. Seja X = {(x, 1) ∈ R2 / x ∈ R} ∪ {(x, −1) ∈ R2 / x ∈ R}. Verifique


que X não é de Hausdorff com a topologia induzida pela topologia
usual de R2 .
 
7. Ache exemplos de X, T1 espaço topologico, Y, T2 de Hausdorff e
f : X −→ Y bijeção contı́nua tal que não seja homeomorfismo.

8. Verifique que CP0 é um ponto e CP1 ∼


= S 2.

9. Se X é de Hausdorff. X é dito 0-dimensional se X possui uma base


cujos elementos são abertos e fechados.

  
(a) R, Tus , Q, Tus e Z, Tus são 0-dimensionais?

(b) Se X e Y são 0-dimensionais, então X × Y é 0-dimensional?


6.7. EXERCÍCIOS 135

10. Seja X um espaço topológico e {xn } uma sequência de elementos de


X. O ponto L ∈ X é dito limite se para toda vizinhança U de L existe
N ∈ N tal que xn ∈ U , para todo n > N . Verifique que se X é de
Hausdorff, então toda sequência que converge tem um único ponto
de limite.

11. Seja X um espaço topológico Hausdorff. X é dito regular se para


todo x ∈ X e todo subconjunto fechado A tal que x ∈/ A, existe uma
vizinhança U de x e V aberto tal que A ⊂ V , então U ∩ V = ∅.
Verifique que são equivalentes:

(a) X é regular.

(b) Para todo x ∈ X e U vizinhança de X, existe V uma vizinhança


de x tal que x ∈ V ⊂ V ⊂ U .

(c) Para todo x ∈ X e A fechado em X, existe V uma vizinhança de


x tal que V ∩ A = ∅.

12. Um subespaço de um espaço regular é regular?

13. Verifique que todo espaço topológico de Hausdorff compacto é re-


gular.

14. Verifique que todo espaço métrico é regular.

15. Todos os conjuntos abertos de Rn são variedades topológicas de di-


mensão n.

16. G é um grupo topológico se:

(a) Se G é um espaço topológico Hausdorff.


(b) (G, ·) é um grupo.

(c) G possui uma topologia tal que:

· : G × G −→ G e inv :G −→ G
(g1 , g2 ) −→ g1 · g2 g −→ g −1

são contı́nuas. Onde G×G tem a estrutura de espaço topológico


com a topologia produto.
136 CAPÍTULO 6. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO

(a) Verifique que o grupo (Z, +) com a topologia T = {∅, Z, Un },


onde Un = [n, +∞). Então Z não é um grupo topológico com
esta topologia.
(b) Todo subgrupo de G com a topologia relativa é um grupo to-
pológico?
(c) Verifique que os grupos (R, +) e (R, ·) com a topologia usual são
grupos topológicos.
(d) Seja S 1 ⊂ C. Verifique que S 1 herda uma estrutura de grupo
multiplicativo de C que o torna S 1 um grupo topologico com-
pacto.
(e) Os grupos de matrizes GL(n, R) e GL(n, C) com a multiplicação
de matrizes e a topologia euclidiana são grupos topológicos.

17. Verifique que se G é um grupo topológico:

(a) Todo subgrupo de G com a topologia relativa é um grupo to-


pológico.
(b) O produto cartesiano finito de grupos topológicos é um grupo
topológico. Logo, o toro S 1 × S 1 é um grupo topológico com-
pacto.

18. Seja G um grupo topológico; para todo a ∈ G:

(a) Denotamos e definimos a translação à equerda:

La : G −→ G
g −→ a · g.

(b) Denotamos e definimos a translação à direita:

Ra : G −→ G
g −→ g · a.

Verifique que as funções La e Ra são homeomorfismos tais que para


todo a ∈ G:

L−1
a = La−1 e Ra−1 = Ra−1 .
6.7. EXERCÍCIOS 137

19. Seja G um grupo topológico; para todo a ∈ G. Verifique que:

(a) La ◦ Lg = La·g e L−1


a = La−1 .

(b) Ra ◦ Rg = Rg·a e Ra−1 = Ra−1 .

(c) La ◦ Rg = Rg ◦ La

20. Sejam G um grupo topológico e H ⊂ G. H é subgrupo topológico


de G se:

(a) H é um subgrupo de G.
(b) H tem a topologia induzida por G como subespaço topológico.

Sejam G um grupo topológico e H um subgrupo topológico, normal


e fechado. Verifique que G/H é um grupo topológico tal que:

Π : G −→ G/H.

é um homorfismo contı́nuo e aberto.

21. Verifique que toda 1-variedade topológica compacta é homeomorfa


a S 1.
138 CAPÍTULO 6. AXIOMAS DE SEPARAÇÃO
Capı́tulo 7

CONEXIDADE

7.1 Introdução
Neste capı́tulo apresentamos outro conceito fundamental da Topologia, o
qual nos premitirá responder algumas questões planteadas ao inicio do
livro, que ainda estão sem respostas.

7.2 Conexidade
Seja X um espaço topológico não vazio.

Definição 7.1. X é dito conexo se não existem A e B abertos disjuntos não


vazios tais que X = A ∪ B. Caso contrário X é dito desconexo.

Observação 7.1. A ⊂ X é conexo, se é conexo como subespaço de X.

Exemplo 7.1.
[1] {x} e ∅ são sempre conexos.

[2] Em X, Tind , todo subconjunto é conexo.

[3] Em X, Tdis , os únicos conexos não vazios são os conjuntos de um
elemento.

[4] Seja R, Tus ,
i) Q ⊂ R é desconexo. De fato, basta considerar:
√ √
A = (−∞, 2) ∩ Q e B = ( 2, +∞) ∩ Q.

ii) Para todo x ∈ R, então R − {x} é desconexo. De fato, basta considerar:

139
140 CAPÍTULO 7. CONEXIDADE

A = (−∞, x) e B = (x, +∞).



[5] R, Tcof é conexo. De fato, nesta topologiachapter não existem abertos
não vazios disjuntos.

Proposição 7.1. Seja R com a topologia usual. Os únicos conjuntos conexos


em R com mais de um ponto são os intervalos (abertos, fechados, etc).
Prova : Se Y é conexo, então Y é um intervalo. Suponha que Y não é
um intervalo, então existem a, b ∈ Y e c ∈
/ Y tal que a < c < b. Sejam
A = (−∞, c) ∩ Y e B = (c, +∞) ∩ Y ; logo Y = A ∪ B e Y não é conexo.
Se Y é um intervalo, então é conexo. Se Y for desconexo, então existem A
e B abertos disjuntos não vazios tais que Y = A ∪ B. Sejam a ∈ A e b ∈ B
tais que a < b (caso contrário, mudamos os papéis de a e b). Denotemos
por:

α = sup{x / [a, x) ⊂ A}.

Logo α ≤ b; como Y é um intervalo, α ∈ Y . Por outro lado, α ∈ AY = A∩Y .



Como A = Y − B, então A é aberto e fechado em Y ; logo α ∈ A = A e
existe ε > 0 tal que (α − ε, α + ε) ⊂ A, contradição, pois α é um supremo.
Segue de imediato da proposição anterior:

Corolário 7.1. Seja R com a topologia usual. A ⊂ R é conexo se, e somente


se A = ∅, A = {x} ou A é um intervalo.
Prova: Imediata.

Teorema 7.1. São equivalentes:

1. X conexo.

2. Os únicos subconjuntos abertos e fechados em X são X e ∅.


 
3. Não existe função f : X, T −→ {0, 1}, Tdis contı́nua e sobrejetiva.

Prova :
1) ⇒ 2) Se A ⊂ X é aberto, fechado e não vazio ou X, então X = A ∪ Ac ,
então X desconexo.
7.2. CONEXIDADE 141
 
2) ⇒ 3) Suponha que f : X, T −→ {0, 1}, Tdis é contı́nua e sobrejeti-

vaa, logo f −1 (0) 6= ∅, como {0} é aberto e fechado em {0, 1}, Tdis , então
f −1 (0) é aberto e fechado em X.
3) ⇒ 1) Se X = A ∪ B onde A e B são abertos
 disjuntos não vazios, então
A e B são fechados e a função χ : X, T −→ {0, 1}, Tdis definida por:
(
1 se x ∈ A
χ(x) =
0 se x ∈ B

é contı́nua e sobrejetiva.

Exemplo 7.2. Segue do teorema que R, com a topologia usual é conexo.

Corolário 7.2.

1. Se X é conexo e f : X −→ Y é contı́nua, então f (X) é conexo.

2. Seja X ∼
= Y . Então, X é conexo se, e somente se T é conexo.

3. A união arbitrária de subconjuntos conexos de X que tem pelo me-


\ um ponto em comum, é conexa. Isto é. Seja {Aλ /, λ ∈ Γ} tal que
nos
Aλ 6= ∅, então:
λ
[

λ∈Γ

é conexo.

4. Seja A ⊂ X subconjunto conexo. Se B ⊂ X é tal que A ⊂ B ⊂ A,


então B é conexo. Em particular, o fecho de um conexo é conexo.

Prova : 1. Note que f : X −→ f (X) é contı́nua e sobrejetivaa. Se f (X) for


desconexo, existe g : f (X) −→ {0, 1} contı́nua e sobrejetiva; logo g ◦ f :
X −→ {0, 1} contı́nua e sobrejetiva, o que é uma contradição, pois X é
conexo.
2. É imediata.
3. Sejam {Aα / α ∈ I} famı́lia de conexos, e:
[ \
A= Aα , tal que x0 ∈ Aα .
α∈I α∈I
142 CAPÍTULO 7. CONEXIDADE

Suponha que existe f : A −→ {0, 1} contı́nua. Como cada Aα é conexo f Aα
não é sobrejetiva. Por outro lado, como x0 ∈ Aα , para todo α ∈ I; então
f (x) = f (x0 ), para todo x ∈ Aα e α ∈ I; caso contrário f Aα é sobrejetiva.
Logo f não é sobrejetiva.

4. Seja f : X −→ {0, 2} contı́nua; como A é conexo, então f A não é
sobrejetiva. Por outro lado, B = A ∩ B = AB e pela continuidade de f :

f (B) = f (AB ) ⊂ f (A) = f (A);

logo f não é sobrejetiva.

Proposição 7.2. X e Y são conexos se, e somente se X × Y é conexo.

Prova : Sejam X e Y conjuntos conexos tais que X × Y = A ∪ B, onde A e


B são abertos disjuntos.
 Ou A = A1 ×
 Y , A1 ⊂ X aberto ou existe x ∈ X
tal que {x} × Y ∩ A 6= ∅ e {x} × Y ∩ B 6= ∅.

Exemplo 7.3.

[1] S 1 ⊂ R2 com a topologia usual é conexo. De fato; seja f : [0, 1] −→ R2


definida por f (t) = e2πi t que é contı́nua e S 1 = f ([0, 1]. Em particular:

S 1  R,

pois, R − {x} é desconexo e S 1 − {p} é ainda conexo.


[2] O toro T 2 = S 1 × S 1 é conexo. Em geral, T n é conexo.
[3] Rn e I n = [0, 1] × · · · × [0, 1] são conexos.
[4] A faixa de Moebius, o plano projetivo real, o plano projetivo complexo
e a garrafa de Klein são conexos.
[5] Sejam

X = {(x, y) / y = sen(1/x), 0 < x ≤ 1} e Z = {0} × [−1, 1].

O conjunto X é conexo, pois é imagem de (0, 1] por uma função contı́nua,


Z também é conexo; pelo corolário [7.2], X ∪ Z é conexo. Note que em R2 ,
X = X ∪ Z.
7.3. APLICACÕES 143

-1

Figura 7.1: X = X ∪ Z.

[6] Seja a famı́lia Sr1 = {(x, y) ∈ R2 / (x − r)2 + y 2 = r2 }, logo (0, 0) ∈ Sr1


para todo r > 0.

Figura 7.2: A famı́lia Sr1 .

Como cada Sr1 é conexo, pelo corolário [7.2]:


[
D= Sr1 = {(x, y) ∈ R2 / (x − r)2 + y 2 ≤ r2 },
r>0

é conexo.

7.3 Aplicacões
A primeira aplicação que estudaremos é a generalização do teorema do
Valor Intermediário do Cálculo.

Proposição 7.3. Sejam X conexo, R com a topologia usual e f : X −→ R


contı́nua. Sejam x1 , x2 ∈ X tais que f (x1 ) < f (x2 ). Então para todo c ∈ R
tal que f (x1 ) < c < f (x2 ), existe x ∈ X tal que f (x) = c.
144 CAPÍTULO 7. CONEXIDADE

Prova : Se f é contı́nua, então f (X) ⊂ R é conexo, logo f (X) é um in-


tervalo. Se f (x1 ) = a e f (x2 ) = b, então [a, b] ⊂ R; portanto, para todo
c ∈ [a, b] existe x ∈ X tal que f (x) = c.

Corolário 7.3. (Teorema do ponto fixo) Toda f : [0, 1] −→ [0, 1] contı́nua


admite, pelo menos menos um, ponto fixo. Isto é, existe x ∈ [0, 1] tal que
f (x) = x.

Prova : Seja F (x) = f (x) − x; então F (1) ≤ 0 ≤ F (0). Pelo teorema do


valor intermediário, existe x ∈ [0, 1] tal que F (x) = 0.

Corolário 7.4. (Teorema de Borsuk - Ulam para n = 1) Seja f : S 1 −→ R


contı́nua. Existem pontos antipodais que possuem a mesma imagem.
Prova : Utilizando coordenadas polares, podemos denotar os elementos
de S 1 pelo ângulo θ, medido em radianos. Logo, os pontos θ e θ + π são
antı́podas; consideremos a função F (θ) = f (θ) − f (θ + π); então como
f (0) = f (2 π) e F (0) = −F (π), pelo teorema do valor intermediário, existe
θ1 ∈ [0, π] tal que F (θ1 ) = 0.

Proposição 7.4. Seja n > 1 e A ⊂ Rn , A enumerável. Então Rn −A é conexo.

Prova : Sem perda de generalidade, podemos supor que a origem 0 ∈ / A


(caso contrário, por translação, movemos a origem). Seja x ∈ R − A.
n

Provaremos que a origem e cada x, estão contidos num conjunto conexo


de Rn − A e pelo corolário [7.2], Rn − A será conexo. Denotemos por 0x
~ a
semi-reta que liga a origem à x e por L uma reta qualquer que intersecte
~ em único ponto diferente de 0 e x. Para todo z ∈ L, seja LZ = 0z
0x ~ ∪ zx.
~
Pelo corolário [7.2] cada Lx é conexo e LZ ∩ Lz0 = {0, x}.
x

Lz

z
A

Figura 7.3:
7.4. CONEXIDADE POR CAMINHOS 145

Pelo menos um Lz ⊂ Rn − A; caso contrário se Lz ∩ A 6= ∅, para todo z ∈ L,


o ponto de interseção, necessariamente, deve ser diferente para diferentes
z ∈ L. Logo, terı́amos uma correspondência biunı́voca entre L e A, o que
é impossı́vel, pois A é enumerável.

Corolário 7.5. R e Rn , n > 1 não são homeomorfos.


 
Prova : Suponha que Rn ∼ =h R; então Rn − {x} ∼ = R − {h(x)} . Como
Rn − {x} é conexo, R − {h(x)} seria conexo. Portanto não podem ser ho-
meomorfos.

Observação 7.2. Provar que Rn  Rm se n 6= m é, surpreendentemente,


muito mais complicado. Este resultado segue do teorema chamado da
invariância da dimensão, cujo enunciado é: se Rn ∼
= Rm , então n = m.
A prova deste teorema envolve delicados conceitos topológicos que ficam
fora do contexto destas notas.

Definição 7.2. Seja x ∈ X,. A componente conexa de x é a união de todos


os conjuntos conexos que contém a x.

Denotamos por C(x) a componente conexa de x. Pelo corolário [7.2], C(x)


é o maior conexo que contém x. Se X é conexo, então C(x) = X, para todo
x ∈ X.

Proposição 7.5. C(x) é fechado em X.

Prova : Sabemos que C(x) ⊂ C(x), para todo x ∈ X e que C(x) é conexo.
Como C(x) é o maior conexo que contém x, então C(x) ⊂ C(x).

Exemplo 7.4. S n ⊂ Rn∗1 , com a topologia usual, é conexo.


De fato; consideremos o homeomorfismo S n −{p} ∼ = Rn dado pela projeção
estereográfica. Como Rn é conexo, então S n − {p} é conexo e:

S n = S n − {p}.

7.4 Conexidade por Caminhos



Sejam X, T e I = [a, b] ⊂ R um intervalo fechado, com a topologia
induzida pela topologia usual de R.

Definição 7.3. Um caminho em X é uma função α : I −→ X, contı́nua.


146 CAPÍTULO 7. CONEXIDADE

Os pontos α(a) e α(b) são ditos ponto inicial e final do caminho, respectiva-
mente. Um caminho não é um conjunto em X. Por exemplo, considerando
R com a topologia usual, então:

α1 : [0, 1] −→ R e α2 : [0, 1] −→ R,

definidos por α1 (t) = t e α2 (t) = t2 são dois caminhos ligando 0 e 1.

Definição 7.4. X é dito conexo por caminhos ou conexo por arcos, se para
todo x1 , x2 ∈ X, existe caminho ligando x1 a x2 .

Exemplo 7.5.
[1] Rn é conexo por caminhos. Em geral, todo espaço vetorial é conexo por
caminhos.
[2] O grupo O(n) não é conexo por caminhos. De fato, se consideramos
duas matrizes em O(n), tais que uma tenha determinante positivo e a ou-
tra determinante negativo, qualquer caminho contı́nuo ligando estas ma-
trizes, necessariamente deverá passar pela matriz nula.

Proposição 7.6. Seja X conexo por caminhos e f : X −→ Y contı́nua e


sobrejetiva. Então Y é conexo por caminhos.

Prova : Sejam y, y1 ∈ Y ; como f é sobrejetiva, existem x, x1 ∈ X tais que


f (x) = y e f (x1 ) = y1 . Como X é conexo por caminhos, existe α : I −→ X
contı́nua ligando x a x1 ; logo definimos β = f ◦ α, que é um caminho que
liga y a y1 .

Corolário 7.6. Se X ∼
= Y , então X conexo por caminhos se, e somente se
Y conexo por caminhos.

Pelo corolário, podemos sempre considerar I = [0, 1]. Sejam α, β : I −→ X


caminhos tais que α(1) = β(0), isto é, o ponto final de α coincide com o
ponto inicial de β. Nesta condições, podemos definir:

α ∗ β :I −→ X
(
α(2 t) se 0 ≤ t ≤ 1/2
t −→
β(2 t − 1) se 1/2 ≤ t ≤ 1

O caminho α ∗ β é contı́nuo e (α ∗ β)(0) = α(0), (α ∗ β)(1/2) = α(1/2) =


β(1/2) e (α ∗ β)(1) = β(1). Logo, α ∗ β é um caminho em X ligando α(0) a
β(1).
7.4. CONEXIDADE POR CAMINHOS 147

Proposição 7.7. Seja {Xλ /\


λ ∈ Γ} uma famı́lia arbitrária de espaços cone-
xos por caminhos tal que Xλ 6= ∅, então:
λ∈Γ
[
X= Xλ
λ∈Γ

é conexo por caminhos.


\
Prova : Sejam x1 , x2 ∈ X tais que x1 ∈ Xλ1 e x2 ∈ Xλ2 . Se z ∈ Xλ ,
existem α e β caminhos com x1 ∈ Xλ1 e x2 ∈ Xλ2 , ligando x1 a z e x2 a z,
respectivamente. Basta considerar o caminho α ∗ β, que liga x1 a x2 .

Proposição 7.8. Se X e Y são conexos por caminhos, então X × Y é conexo


por caminhos.

Prova : Sejam (x, y), (x1 , y1 ) ∈ X × Y . Denotemos por α : I −→ X e


β : I −→ Y caminhos ligando x a x1 e y a y1 , respectivamente. Logo:

µ :I −→ X × Y
t −→ (α(t), β(t))

é um caminho em X × Y , ligando (x, y) a (x1 , y1 ).

Teorema 7.2. Se X é conexo por caminhos, então X é conexo.

Prova : Sejam x, x1 ∈ X e α um caminho ligando x a x1 . Então, α(I) é


um conjunto conexo que contém x e x1 ; logo x e x1 pertencem a mesma
componente conexa, o que implica que X possui uma única componente
conexa; portanto é conexo.
A reciproca do teorema é falsa. Veja o seguinte exemplo:

Exemplo 7.6.
Sabemos que se:

X = {(x, y) / y = sen(1/x), 0 < x ≤ 1} e Z = {0} × [−1, 1],

o conjunto Y = X ∪ Z é conexo, mas Y não é conexo por caminhos.


Provaremos que não existe caminho α : [0, 1] −→ Y tal que α(0) ∈ X e
α(1) ∈ Z. Suponha que tal caminho existe. Sem perda de generalidade,
podemos supor que α(1) = (0, 1). Consideremos ε = 1/2; pela continui-
dade de α, existe δ > 0 tal que kα(t) − (0, 1)k < 1/2 se 1 − δ ≤ t ≤ 1.
148 CAPÍTULO 7. CONEXIDADE

Figura 7.4:

Note que α([1 − δ, 1]) é conexo. Denotemos por α(1 − δ) = (x0 , y0 ) e


pr1 (x, y) = x a primeira projeção de R2 ; então  pr1 ◦ α : [0, 1] −→ R e
contı́nua e o seguinte conjunto C = pr1 ◦ α ([1 − δ, 1]) é conexo com
0 ∈ C, pois α(1) = (0, 1)); também x0 ∈ C. Por outro lado, C é um inter-
valo e contém [0, x0 ]; logo para todo x1 ∈ (0, x0 ], existe t ∈ [1 − δ, 1] tal que
α(t) = (x1 , sen(1/x1 )). Em particular, se m = 2 n π − π/2, para n grande,
temos que se x1 = 1/m, então 0 < x1 < x0 e sen(1/x1 ) = sen(−π/2) = −1;
logo o ponto (1/m, −1) = α(t), para algum t ∈ [1 − δ, 1], ou seja, o ponto
(1/m, −1) está a uma distância menor que 1/2 do ponto (0, 1). Istoe é uma
contradição, pois (1/m, −1) esta a uma distância de pelo menos 2 do ponto
(0, 1).

Proposição 7.9. Seja Rn com a topologia usual, se A ⊂ Rn é aberto, então


A é conexo por caminhos.

Prova : Seja p ∈ A e denotemos por:

F = {x ∈ A / x pode ser ligados a p por um caminho em A}

Afirmamos que F é aberto. De fato, seja x ∈ F ⊂ A, como A é aberto,


existe ε > 0 tal que D = {y / kx − yk < ε, } é uma vizinhança de x e
x ∈ D ⊂ A. Por outro lado, D é conexo por caminhos, (pois é homeomorfo
a Rn ); logo, todo ponto de D pode ser ligado a p por um caminho em D.
Por tanto, todo ponto de D pode ser ligado a p por um caminho em A. Isto
é, D ⊂ F e F á aberto.
Afirmamos que F é fechado. De fato, seja B = E − F ; logo B é o conjunto
de todos os pontos de A que não podem ser ligados a p por um caminho
em A. Por um argumento análogo ao anterior é possı́vel verificar que B
é aberto e por tanto F é fechado. Logo, F é não vazio, aberto e fechado,
como A é conexo, então A = F .
7.5. EXERCÍCIOS 149

7.5 Exercı́cios
1. Saja X = {a, b, c, d} com a topologia:

T = {∅, X, {a}, {b, c}, {a, b, c}}.

Verifique se (X, T ) é conexo?

2. Rn com a topologia usual. Verifique se os seguintes conjuntos são ou


não conexos.

(a) {(x, y) / x > 1}.

(b) {(x, y) / x = y}.

(c) {(x, y) / x y > 0}.

(d) {(x, y, z) / x2 + y 2 + z 2 > 4}.

(e) {(x, y, z) / x2 + y 2 + z 2 > 4}c .

3. Verifique que o grupo O(n, R) das matrizes reais ortogonais de or-


dem n não é conexo.

4. Determine as componentes conexas de GL(n, R) o grupo das matri-


zes de determinante não nulo.

5. Um espaço topológico X, T tem a propriedade
 do ponto fixo, se
toda função contı́nua de X, T em X, T possui um ponto fixo.

(a) Verifique que os intervalos fechados, com a topologia usual, são


os únicos em possuir a propriedade do ponto fixo.

(b) Se X, T tem a propriedade do ponto fixo e f : X −→ Y ho-
meomorfismo, então (Y, T1 ) tem a propriedade do ponto fixo?

6. Verifique que se A é conexo tal que A ⊂ B ⊂ A, então B é conexo.

7. Verifique que se A e B são conexos tal que A ∩ B 6= ∅, então A ∪ B é


conexo.

8. Se A ∪ B e A ∩ B são conexos, então A e B são conexos?


150 CAPÍTULO 7. CONEXIDADE

9. Seja Y um conjunto ordenado, com a relação de ordem ≤. Denote-


mos por y < y1 se y ≤ y1 e y 6= y1 . Definamos a topologia em Y que
tem como subbase S = {Ly , Ry }, onde:

Ly = {x ∈ Y / x < y} e Ry = {z ∈ Y / y < z}.

Note que se Y = R, então o intervalo (a, b) = Ra ∩ Lb . A topologia


gerada por esta subbase é chamada topologia da ordem e Y é dito
espaço odenado. Verifique que o teorema do valor intermediário,
pode ser estendido a espaços ordenados.

10. Verifique que: total

(a) R  S 1 .

(b) S 1  S n se n > 1.


11. Sejam X, T e R com a topologia usual. Dizemos que f : X −→ R
é localmente constante se, para todo x ∈ X existe U vizinhança de x
tal que f : U −→ R é constante. Verifique que:

(a) Se X é conexo e f localmente constante, então f é constante.

(b) Se toda f : X −→ R é localmente constante, então X é conexo.

12. Seja f : X −→ Y um homeomorfismo local tal que X é compacto e


conexo. Verifique que existe n ∈ N tal que para todo y ∈ Im(f ) a
cardinalidade de f −1 (y) é n.
 
13. Seja R com a topologia usual, então R × Q ∪ Q × R é conexo por
caminhos?

14. Verifique que todo espaço com a topologia indiscreta é conexo por
caminhos.

15. Seja X um espaço topologico e ∼ a seguinte ralação de equivalência:

x∼y ⇔ se existe um caminho ligando x a y em X.



Verifique que X é conexo por caminhos ⇔ X ∼ é conexo por ca-
minhos.
7.5. EXERCÍCIOS 151

16. Verifique que os subconjuntos convexos de Rn são conexo por cami-


nhos.

17. Seja X, T um espaço topológico e α : I −→ X um caminho que liga
um ponto de A ⊂ X a um ponto de Ac . Verifique que α(I) ∩ ∂A 6= ∅.

18. Seja Pn (x) um polinômio de grau ı́mpar, então a equação Pn (x) = 0


tem pelo menos uma solução real.

19. Um espaço topológico X, T é dito totalmente desconexo se as com-
ponentes conexas C(x) = {x}, para todo x ∈ X:

(a) Verifique que Q ⊂ R com a topologia usual é totalmente desco-


nexo.

(b) Se f : R −→ Q contı́nua, verifique que existe a ∈ Q tal que


f (x) = a, para todo x ∈ R.

(c) Se A ⊂ X e X é totalmente desconexo, então A é totalmente


desconexo?

(d) Todo subconjunto enumerável do plano é totalmente descone-


xo?

(e) O produto de espaços totalmente desconexos é totalmente des-


conexo?

20. Seja R2 com a topologia T onde T é a topologia produto T1 × T1 , tal


que T1 tem como base B = {[a, b), a < b, b ∈ Q}, prove que com esta
topologia R2 é uma espaço de Hausdorff totalmente desconexo.
152 CAPÍTULO 7. CONEXIDADE
Bibliografia

[KJ] Jänich K.: Topology, Springer-Verlag

[EL1] Lima E.: Análise em Rn , Projeto Euclides, Impa - Brasil

[EL2] Lima E.: Espaços Métricos, Projeto Euclides, Impa - Brasil

[DD] Dugundji J: Topology, Boston, Allyn & Bacon

[CK] Kosniowski C: A First Course in Algebraic Topology, Cambridge


Univ. Press

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