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SESE as f Entendendo OS TIPOS HUMANOS E te _ José Jorge de Morais Zacharias a > mas JOSE JORGE DE MORAIS ZACHARIAS ENTENDENDO OS TIPOS HUMANOS Tipologia de C. G. Jung ‘Série ENTENDENDO tendendo a depressto, Fabiola Luz ntendendo o medo e o panico, Flavia Gusmao Eid + Entendendo 0 humor, Aracéli Martins + Entendendoostipos humanos, José Jorge de Morais Zacharias ‘+ Bntendendo a orientapdo profissional, Kathia M. Costa Neiva Série coordenada por Maria Elei 8. Barbosa Aracdli Martins Stella Lanz © PAULUS - 1995 Rua Francisco Cruz, 229 (04117-091 Sao Paulo (Brasil) Fax (011) 575-7403 Tel. (11) 572-2362 ISBN 85.349.0467-7 sl moonrise APRESENTACAO 1A SERIE ENTENDENDO Esta série destina-se ao leitor que desejaam- pliar seus conhecimentos e compreender os as- ipectos basicos das varias manifestacoes da psi- que humana, tanto naquelas dimensdes que nos mergulham no sofrimento quanto nos im- pulsosda forgacriadora em busca defelicidade. Quem ndo quiser defrontar-secom um deles desconhecerd 0 outro, pois sao todos aspectos que compartilham de uma mesma unidade. Assim, o trabalho que agora PAULUS Editora nos apresenta ndo pretende apenas enfocar os “problemas” da psique. O propdsito do conjun- to destes pequenos livros é, ao longo de sua publicagdo, ir colocando o leitor diante das caracteristicas fundamentais de temas psicolo- gicos que, cada vez mais, ganham espaco em nossas conversas, artigos de jornais, na litera- tura.e no teatro. Em linguagem clara, e com a incluso de um ntimero minimo de termos 5 téonicos, serdo abordados temas como a de- ressdo, a criatividade, os sonhos, o suicidio, 0 senso de humor e outros. Ovocabulario da psicologia acabou entran- do no dominio do grande piiblico. Mas esta apropriagao nao produziu um melhor conheci- mento, no sentido de estimular a criatividade humana, ou de auxiliar na solugdo de nossos temores e sofrimentos. Na maioria das vezes, 0 uso do vocabuldrio psicolégico em nossas con- versas se dé, na melhor das hipsteses, para ex- Primir preocupagdo ou desconhecimentoe, na maioria das vezes, para rotular determinados comportamentos, imobilizando com essas “de- finicoes" pessoas que imaginamos “doentes” Entendendo olha essas situagdes por den- tro, sem pretender apresentar uma descrigdo exaustiva e pormenorizada dos temas, pois 0 que se propée é oferecer ao leitor leigo, ¢ tam. bém ao aluno de psicotogia, meios para com. Preender um pouco mais os dinamismos da Psique através do significado humano de cada tema, abrindo assim perspectivas onde, as ve- zes, 05 caminhos parecem fechar-se. Entender apsique é wm dos requisitos do conhecimento para poder ajudar, ampliar possibilidades ¢ empregar melhor nossas energias vitais, 6 996089 0026.6 eee eer ee IntTRopucAo HISTORIA DO PENSAMENTO TIPOLOGICO Ha muito tempo 0 homem tem a idéia de classificaras pessoas em determinados tipos de comportamentos e atitudes. Como nem todas as pessoas agem da mesma maneira diante dos mesmos eventos, ¢ algumas agem de maneira semelhante a ‘outras, numerosos sistemas de tipologia foram sendo criados ao longé do tempo para classificar e explicar semelhancas e diferengas entre as pessoas. Dessa forma foi criado um conjunto complexo de representagdes simbdlicas magicolreligiosas c filos6ficas para ofere- cer uma classificagao satisfatoria para as diferencas e semelhangas. Podemos tomar como exemploo siste- ma do zodfaco chinés, que teve sua ori- gem quando o imperador Huang Ti intro- duziu o calendario lunar em 2637 a.C. Esse calendério incluia uma antiga lenda em que um Senhor Buda (ndo o Sidarta Gautama), antes de despedir-se do mun- do, convocou todos os animais para que viessem a sua presenga. Vieram somente doze animais, e foram chegando na se- guinte ordem: rato, boi, tigre, coelho, dra- gao, serpente, cavalo, carneiro, macaco, galo, cdo e javali. Como recompensa por terem vindo, ele lhes deu o dominio sobre cada um dos doze anos de um ciclo. As- sim, quem nascesse no ano do rato teria tragos de personalidade proprios do ani- mal simbélico do seu ano. Dizem os chi. neses que o animal do seu ano de nasci- mento é 0 animal que se esconde em seu coragao. Outro sistema bastante conhecido en- trends 6 osistema Yoruba. Nareligiaodos Orixds, cada pessoa é filha de um Orixa. Assim sendo, a pessoa adquire caracteris- 8 009.000 970-0090 eerie SNES ticas de personalidade de seu Orixd de cabega. Por exemplo: os filhos de Ogum tendem a ser impulsivos e voluntariosos, 0s filhos de Oxum tendem a ser sedutores ‘ecarinhosos, eassim por diante. Temos af uma outra forma de tipologia, nao deter- minada pelo ano de nascimento, mas por um proceso mégico-religioso identifica- doatravés do jogo de If ou jogo de biizios. No entanto, o sistema mais conhecido mundialmente € 0 da Astrologia, que flo- resceu entre os caldeus, na Mesopotamia. Baseados no movimento do soi, da lua e dos planetas no cinturao de constelagées conhecido como Zodfaco, podemos defi- nir um signo solar para cada pessoa. Este signo forneceré dados sobre astaracteris- ticas de personalidade de uma determina- da pessoa. Por exemplo: Se uma pessoa € dosigno de Cancer, ela deverd ser sensivel e emotiva; se de Touro, tendera a ser um tanto determinada e inflexivel; se de Ledo, ser4 autoritaria e egocéntrica. Os signos do Zodfaco sao clasificados segundo os elementos constituintes da matéria —ter- 9 a, ar, égua e fogo —, havendo trés signos para cada elemento. O elemento ao qual o signo de uma pessoa pertence também influencia bastante os tragos de persona- lidade que ela ira demonstrar. Esse conceito de quatro elementos foi muito bem incorporado @ medicina hi- pocriitica (Hipdcrates, 400 a.C.), em que se acreditava que as pessoas reagiam a secreg6es organicas ou humores: fleuma, sangue, bilis amarela e bilis negra. Essa teoria foi mais tarde aperfeigoada por Galeno, que classificou os quatro tempe- ramentos humanos: fleumético, sangiif- neo, colérico e melancélico. O que carac- terizaria a classificacao de uma pessoaem um ou em outro grupo seria a maior quantidade de um dos humores em circu- lag&o no corpo. Atualmente muitos ainda se utilizam desse sistema de definigao de tipos, como por exemplo a pedagogia Waldorf, de Rudolf Steiner, e muitos dos grupos de orientagao protestante norte-americanos. Entretanto, a teoria classica de Hipé- 10 crates apresenta uma desvantagem fun- damental, a suposigo de tipos puros, nos quais os temperamentos s&o tao clara- mente definidos que seria possivel carac- terizar pessoas reais e classificé-las corre- tamente. Issotornaessa tipologia hipocré- tico-galenaabrangentee genéricademais, justamente pela rigideze falta de dinamis- ‘mo entre os tipos. Podemos dizer que nao existem tipos puros, ou seja, uma pessoa sangliinea pode ter momentos de melan- colia ou tornar-se fleumatica em determi- nada situagao. No periodo que separa o periodo grego do séc. XIX surgiram outros sistemas de classificaco tipolgica com base em su- perstigdes e esteredtipos sociajs. Dentre eles podemos citar a quiromancia, a and- lise do temperamento pelas linhas das mos; a fisiognomonia, que buscava defi- nir 0 comportamento através da configu- ragao e expressio facial de alguém; e a grafologia, que buscava entender a per- sonalidade através da anéllise da letra. Va- le ressaltar que a grafologia tem se de- i senvolvido muito nos tltimos anos no sentido de se criar um instrumento cienti- fico aceitavel para a andlise da personali- dade, e jé tem sido muito utilizada na area de recursos humanos das empresas. No séc. XVII, La Bruyére (1645-1696) descreve tipos cujas caracteristicas ainda hoje sao mantidas pelos esterestipos so- ciais. Por exemplo, acredita-se que pes- soas gordas sao afaveis, bem humoradase tolerantes, ao passo que pessoas altas e magras so mais nervosas, contemplati- vas ¢ intelectuais, Em pleno séc. XIX, Cesare Lombroso ficou conhecido por criar a Antropologia Criminal, sistema de classificacao personal no qual se afirmava que 0 criminoso nato possufa um tipo fisico e psiquico especial. Lombroso identificava esses tipos fisicos com a anélise do formato da caixa cra- niana, especialmente com uma parte que ele denominou de “fossa occipital média”, encontrada nos criminosos. Atualmente as teorias de Lombroso esto esquecidas porfalta de fundamentagiio empfricacom- probatéria. 12 As teorias modernas podem ser classi- ficadas em trés principios de organizacao: 1°- Classificagao dos tipos somaticos, em que o principio orientador é a diferen- ciago na estrutura fisica (corpo); 2°- Classificagao dos tipos somato-psiqui- cos, em que 0 principio orientador éa interagdo da estrutura fisica com a estrutura dinamico-funcional e estru- turas ps{quicas correspondentes; 3° - Classificacao dos tipos pstquicos, em que o principio orientador € a diferen- ca entre estruturas psiquicas. Como exemplo de classificagao de ti- pos com base em elementos somaticos, podemoscitara Escola Constitycionalista Ttaliana, representada por De Giovanni e Viola. Essa tipologia est baseada na rela- go entre tronco e membros, criando os tipos megalosplancnico (gordo e baixo), normoplancnico (atlético)e microsplanc- nico (alto e magro). Exemplificando tipologias somato-psf- quicas, podemos apontar a obra de Franz 13 Joseph Gall (1758-1828) comoa primeira tentativa de correlacionar mente e corpo. Ele criou a frenologia, um sistema que buscava ser possivel localizar sinais de tipo de atividade mental de alguém atra- vés do estudo do formato da caixa cra- niana. Gall foi o precursor dos estudos de localizagao cerebral, ¢ influenciou a An- tropologia Criminal de Lombroso. Outra obra importante é 0 trabalho de Ernest Kretschmer (1925) que, partindo das definigdes psiquidtricas classicas de Emil Kraepelin (1895) —a esquizofrenia ea psicose manfaco-depressiva —, desen- volveu uma tipologia somato-psiquica. Assim temos uma definigao de tipo fisico (Picnico, atlético, leptoss6mico e displa- sico) acompanhada de sua definigao psi- quica correlata (cicléide ou esquizdide). Segundo Kretschmer, a constituicao fisi- ca corresponde a determinados tragos de personalidade, ea pessoa podera ser clas- sificada em um dos dois campos de defini- cdo de Kraepelin. Outro grande pesquisador de tipologia 14 ed somato-psiquica foi W. H. Sheldon (1898- 1977). Ele acreditava que a unidade psi- cossomética advinha principalmente de atividades endécrinas. Para avaliagao ti- polégica ele criou uma escala de sete pon- tos para cada um dos trés aspectos de somatotipos. Saoeles: endomérfico, meso- mérfico e ectomérfico, correspondendo respectivamente aos temperamentos visce- rot6nico, somatoténico e cerebroténico. Podemos notar trés tipos basicos: endo- mérfico-visceroténico (baixo e gordo), mesomérfico-somatoténico (atlético) e ectomérfico-cerebroténico (alto emagro). Nas descrigées anteriores, apresenta- mos tipologias que se baseiam em aspec- tos fisicos (tipologias somaticas) e na interagao entre aspectos fisicos e psiqui- cos (tipologias somato-psiquicas). A se- guir, trataremos da tipologia desenvolvi- dapor Carl Gustav Jung (1875-1961), como © grande exemplo de tipologia estrita- mente psiquica. 15 Esse modelo surgiu com a tentativa de compreensao do conflito pessoal e teérico entre Jung ¢ Freud, e deste tiltimo com Adler. Ao longo de dez anos, Jung proce- deuaum detalhado estudo dos tipos abor- dados na literatura, na estética, na filoso- fia, na religido e na psicopatologia. Agrandecontribuigao da tipologiajun- guiana éa introdugao doconceito de ener- gia psfquica e a ateng’o ao modo como uma pessoa se orienta preferencialmente no mundo. Essas contribuigées so inova- doras em relagao aos sistemas anteriores, nos quais as classificagdes eram baseadas na observa¢ao de padrées de comporta- mento temperamental ou emocional. 16 Capfruo 1 ORIGENS DA TIPOLOGIA JUNGUIANA A origem da tipologia junguiana, dife- rentemente dos estudos tipolégicos ante- riores, surge como um dos principais fru- tos do desenvolvimento dos estudos sobre oinconsciente eo consciente, e das desco- bertas cientificas e pessoais de dois gran- des pesquisadores da alma humana, Sigmund Freud e Carl Gustav Jurjg. ‘A possibilidade da existéncia’ do in- consciente era uma realidade desde os antigos hindus, com 0 conceito de karma (um elemento presente na vida das pesso- as que determina certos eventos e no en- tanto é desconhecido a propria pessoa). Santo Agostinho (354-430) comenta que “nao consigoapreender tudo quantosou”. 7 EEE ES Dentre os filésofos mais modernos, foi Gotfried von Leibnitz (1646-1716) quem primeiro formulou claramente o incons- ciente, referindo-se “as pequenas percep- gdes de que ndo somos conscientes”. Po- demos ainda citar Kant, von Schelling, Hegel, Schopenhauer, Carus, von Hart. mann e Nietzsche. Além dos filésofos, outro grupo foi muito importante na codificagao do in- consciente. Foi o dos hipnotizadores. Mesmer (1734-1815), idealizador da téc- nica do mesmerismo, magnetismo ani mal ou hipnotismo; Charcot e Janet, vol- tados para o estudo da histeria. Dentre os psicélogos podemos apontar o trabalho de Francis Galton (1822-1911), que desenvolveu o teste de associacao de palavras, reelaboradomais tarde por Jung, € que influenciou Freud no desenvolvi mento da técnica de associacaolivre. Além dele podemos citar Theodore Flournoy que, de sua pesquisa com a médium Catherine Muller, chegou a conclusaio de que inconsciente tem uma capacidade 18 mitopoética, qual sejaa de criar hist6rias, contos, mitos e personagens de profunda expressao literaria. No final do séc. XIX muita coisa ja se sabia sobre o inconsciente. Por exemplo: que muitos processos de pensamento e percepgao ocorrem sob o limiar da cons- ia; que oinconscientearmazena lem- brancas e percepgdes intimeras; que 0 inconsciente incorpora atividades auto- miticas criadas com esforgo no conscien- te e, ainda, a existéncia de uma fungo mitopoética, na qual o inconsciente pro- duz mitos, histérias, sonhos, simbolos e alucinagées. O inconsciente é dindmico e interacional ¢, além disso tudo, desco- briu-se que existem subpersonalidades auténomas sob a consciéncia. Toda essa série de antecedentes prepa- rou o caminho para que Freud pudesse desenvolver sua pesquisa e criar sua teo- ria do inconsciente. A influéncia de Charcote Breuernopensamentode Freud foi muito marcante, e assim vem a luz 0 sistema da psicandlise. Freud aproveitou 19 muito de seus antecessores, mas foi muito além de seus mestres Charcot e Breuer, desenvolvendo um caminho proprio. Na época em que se associou a Freud, Jung era médico assistente no hospital de Burghélzli, na Suiga, sob orientagao de Bleuler. Ele ja havia publicado seu traba- Iho “Estudos sobre a associacao de pala- vras”, quando leu “A interpretagao dos sonhos” de Freud. Jung aproximou-se de Freud por afinidade cientifica, o que os le- vou a uma afinidade pessoal e a uma s6- lida amizade, ainda hoje erroneamente interpretada como discipulado. Jung achegou-se a Freud como colabo- rador, pois muitas de suas idéias acerca da fenomenologia da psique j4 estavam articuladas (como a teoria dos complexos € 0 conceito de energia psiquica). Ele expés intimeras vezes sua dificuldade em aceitar a teoria da sexualidade, ao que Freudrebatia, insistindo na inexperiéncia do amigo. Outro ponto conflitante era quanto & natureza do simbolo, que para Freud era um sinal de algo bem conheci- 20 do, ao passo que para Jung o simbolo indicava algo inespecifico ou indetermi- nado. Por volta de 1909 Jung jé havia se irritado o suficiente com Freud, pois ten- tava deixar bem claro queera um cientista independente e nao seu principal ajudan- te. Constelava-se em Jung 0 conceito de inconsciente coletive que, uma vez for- mulado, levou-o ao rompimento definiti- vo com Freud. Apés 0 rompimento com Freud, Jung entrou em um periodo de crise (1913- 1918), da qual emergiu sua maior contri- buicao para a psicologia. Foram anos de muito sofrimento e também de muitas descobertas. f Jung compreendeu que, além das com- plicagdes pessoais existentes, havia uma dimensdo cientifica a serlevada em conta. O fato de dois pesquisadores sérios e ho- nestos discordarem acerca de um mesmo ponto ja é por sium problema psicolégico sério. Procurarmos saber quem esteve certo ou errado é reduzir muito a questo, 21 Jung sempre admirou as qualidades de Freud, e acreditava que essa disputa se baseava em diferengas fundamentais dos constructos hipotéticos de cada um e na maneira como cada um via a realidade. Jung achou ser possivel estudar o por- qué das diferengas de compreensio da psique tanto do sistema de Adler, quanto do sistema de Freud e do seu préprio sistema. Ele reconhecia verdades na teo- ria do poder de Adler, bem como na de Freud ¢ em sua prépria teoria. Assim, aplicou as teorias de Adler e Freud a um caso real de neurose e concluiu que os dois sistemas sao titeis para compreender aneurose, mas so incompativeis entre si. Esse estudo levou Jung a formular a se- guinte questa sera que existem pelo menos dois tipos diferentes de pessoas, um dos guais se interessa mais pelo objeto e 0 outro por si mesmo?" (Obras comple- tas, vol. VII, § 36) Essa questo levou Jung a identificar pelomenos dois tipos de pessoas, os extro- 22 vertidos eos introvertidos, respectivamen- te. A possibilidade de se estabelecer, em bases cientificas, uma tipologia funcio- nal, ajudaria em muito a compreender varios problemas levantados até entdo. Auxiliaria a construgao de uma teoria adequada sobre as relagdes consciente/ inconsciente, compreenderia de maneira cientifica 0 que os antigos sistemas tipolégicos mégico/religosos tentaram codificar, ofereceria um sistema dinami- coffuncional alternativo ao sistema de Sheldon e Kretschmer e, por tiltimo, po- deria explicar as causas das divergéncias entre Freud, Adler e Jung. 23 CapiruLo 2 TIPOS PSICOLOGICOS A obra “Tipos psicolégicos” foi pu- blicada em 1921, apés dez anos de obser- vacdo e pesquisa, e representa a primeira grande obra de Jung apés o rompimento com Freud. (Este trabalho constituiré, mais tarde, o volume VI das “Obras com- pletas” de Jung.) Primeiramente Jung definiu duas ati- tudes, a introversio ea extroversao. Logo apés definiu as fungdes psiquicas — sen- sago, intuigdo, pensamento e sentimen- to —, além dos conceitos de funeao prin- cipal, auxiliar e inferior. Vamos explicar melhor cada uma delas a seguir. 24 EXTROVERSAO LATITUDES INTROVERSAO TRRACIONAIS [ ane 11. FUNGOES pensamento RACIONAIS [ Sotimento I. Atitudes Por atitudes estamos definindo qual rumo toma a energia psiquica, ou seja, ondeuma determinada pessoa foca prefe- rencialmente sua atengdo. Aatengao pode estar voltada para fora, para 0 mundo concreto de pessoas, coisas ¢ fatos, ou vol- tada para si mesmo, o mundo iftterno de representacées ¢ impressOes pessoais. Extroversdo As pessoas que tém uma atitude extro- vertida geralmente focam sua atengo no mundo externo de fatos, coisas € pessoas. Essas pessoas orientam-se de acordo 25 com 0 ambiente externo e sao muito sus- cetiveis a cle. A experiéncia imediata tem predominancia sobre os aspectos subjeti: vos. O interesse est voltado para o mun- do externo, que é ao mesmo tempo orientador e campo de ago. Tais pessoas tém facilidade em acomodar: do e caminhar com ele, quer seja um caminho adequado ou nao se no mun- Geralmente os extrovertidos apresen- tamuma disposicao para a impulsividade, uma espécie de “vamos viver a vida agora e depois pensaremos sobre ela”. Preferem falar a escrever, ver e ouvir a ler. Tendem a conhecer uma série de assuntos pela superficie, mas sentem dificuldade em aprofundar seu conhecimento especifico sfo mais generalistas do que especialis- tas, Acham faci suas relagdes nfio costumam ser muito profundas. Correm 0 risco de ser envolvidos de- mais pelo mundo externo e suas exigén- cias, ficando assim muito distantes de suas proprias necessidades pessoais, 0 26 que lhes causa muitos transtornos eabor- recimentos. Uma pessoa é considerada extroverti da por ser esta a sua disposigao mais habitual, e pelo fato de sua fungao dife- renciada manifestar-se de maneira extro- vertida, ficando a fungao auxiliar numa disposicao introvertida. Por exemplo, uma pessoa com fortes caracteristicas de extroversdo tem a ten- déncia de assumir mais compromissos do que realmente pode dar conta, e s6 perce- de isso quando j4 no suporta tantas exi- géncias externas. Introversao { As pessoas introvertidas orientam-se por fatores subjetivos. No introvertido o foco de atengao ¢ deslocado para o seu mundo interno de impressdes, emogoes € pensamentos — os seus proprios proces- sos internos, Embora em nossa cultura haja muito preconceito quanto a uma atitude introvertida, devemosressaltarque 27 ‘oaspecto subjetivo da realidade é tao real quanto os aspectos objetivos. O introvertido tende a apresentar certa hesitagdo frente a uma decisdo, uma espé- cie de “vamos analisar e compreender a vida antes de vivé-la”. Possui maior facili- dade em escrever do que em falar, apren- de melhor lendo do que ouvindo e vendo. E mais especialista do que generalista, prefere conhecer muito sobre poucos as. suntos do que o contrario, aprecia poucas mas profundas amizades e seu circulo de amigos tende a ser pequeno. Nao se deve confundir a introversio com timidez. Esta caracteriza-se por uma ansiedade constante de nao ser aceito pelo grupo a quese dirige. Extrovertidos introvertidos podem ser timidos. Podemos tomar a obra de arte como exemplo de diferengas entre 0 foco de aten¢ao no mundo externo e interno. Se pedirmos para dois pintores reproduzi- remem suas telas um determinado mode- lo humano — e supondo que um deles reproduza um retrato fiel e 0 outro uma 28 interpretagao impressionista do modelo , podemos dizer que o primeiro repro- duziu o que objetivamente percebeu do mundo externo, ad passo que o segundo reproduziu a experiéncia interna motiva- da pelo modelo. Um grande problema é quando o in- trovertido se deixa absorver totalmente pelo seu mundo interior, negando-se a entrar em contato com o mundo exterior. Se tomarmos como exemplo a convi- véncia entre os tipos poderemos exem- plificar um pouco essa questao. E dito popular que os opostos se atra- em, e isso é fato, atraem-se por comple- mentaridade (o que um no tem sobra no outro). No entanto, outro tipo de atragao também é verdadeiro, a atracao porseme- Thanga ou identificagdo. Conviver com pessoas parecidas conosco édecertomodo cémodo, e aparecem poucas dreas de con- flito; porém, a possibilidade de aprendi zado € muito pouca (aprendemos mais com pessoas e opinides diferentes do que 29 com iguais). Conviver com pessoas muito diferentes tipologicamente requer uma boa dose de humildade e paciéncia. Isso porquesempreachamos que onossomodo de ver 0 mundo eas coisas ou pessoas é 0 mais correto, e os outros estao sempre errados. Isso ocorre porque cu s6 posso ver o mundo de acordo com o meu perfil tipolégico; é como se cada pessoa pos- suisse um par de éculos de lentes colori- das, algumas de mesma core outras de cor diferente. Para exemplificar, tomemos um casal de introvertidos. Eles vao comemorar seu aniversario de casamento e oferecer um jantar para os amigos. Suponhamos que residam numa casa grande. Provavelmen- te convidardo mais dois casais, amigos de muitos anos, para um jantarintimista,em que nao faltara uma longa e séria conver- sagio quando estiverem degustando ocafé na sala de estar. Vamos tomar agora, como exemplo, um casal de extrovertidos. Eles vao come- morar seu aniversario de casamento com 30 uma grande festa para todos os amigos. Suponhamos queresidam numa casa nao téo grande, mas mesmo assim provavel- mente convidardo umas sessenta pessoas entre amigos, colegas e conhecidos para uma festa bem descontrafda, em que se falar de muita coisa com muita gente. O terceiro exemplo que gostaria de ex- por € 0 do casal em que ela ¢ introvertida e ele um extrovertido. Suponhamos que é domingo e a esposa resolveu preparar para o almoco aquele prato especial, re- ceita de familia ha trés geragdes, e o ma- rido foi jogar futebol com 0 time do bair- ro. Ahora do almogo, ela o est aguardan- do com a refeicdo especial, e ele chega com todo o time para “tomar umd cerve- ja". Ela parece desapontada e fecha-se em um canto. Ele nao entende a atitude da esposa, pois afinal, que mal hd em trazer os amigos do time para uma cervejinha? Afinal, o time ganhou! Quando os amigos vao embora, ela esta amargurada e pensa que ele nao gosta mais dela. Ele, por sua vez, nao entende a distncia da esposa e 31 comegaaachar que ela estd ficandomuito chata e que talvez fosse melhor sair e almogar com outra pessoa. Este é um exemplo construido para demonstrar as possiveis implicagdes da tipologia na vida didria. No exemplo aci- ma, a alta freqiiéncia desse tipo de acon- tecimentos pode levar ao desgaste da rela- ao entre o casal. I. Fungées psiquicas Fung6es irracionais (ou fungées de percepgio) Por fung6es irracionais estamos defi- nindo as duas maneiras possiveis de rece- ber informagao sobre algo, ou seja, de que maneira uma determinada pessoa prefere receber informagées do meio, para poder processé-las e agir no meio. Posterior- mente alguns autores sugeriram a deno- minagao de fungées de percepgao. Ha duas maneiras de receber informagées: ou diretamente dos érgaos dos sentidos 32 ou criando uma idéia concreta sobre a informagio; ou recebendo-as de modo a nao se fixar nas caracteristicas concretas da informagao, mas nas possibilidades futuras da mesma. Assim, temos a sensa- (Ao e a intuicao, respectivamente. Sensagao ‘A fungao sensagao privilegia os érgaos dos sentidos. E a fung’o que nos diz que algo existe. As pessoas que preferem rece- ber informagées através da sensa¢ao sao pessoas voltadas para o aqui-agora, mos- trando-se praticas e realistas. Tendem a aceitar as coisas como lhes parecem ser, no utilizando muito a imaginagao. Pre- ferem manter as coisas funtionando, ao invés de criar novos caminhos. Preferem ver as partes em vez do todo, aprendem melhor uma tarefa a ser executada quan- do os passos praticos para tal sao explici- tados. Apresentam bom controle psico- motor e preferem relacionar-se com coi- sas concretas e objetivas. 33 Sanne Por exemplo, sao pessoas tipo sensa- ¢4o aquelas que, entrando em um ambi- ente completamente novo, podem descre- ver detalhadamente os objetos que com- poem esse lugar. Intuigdo Outra maneira de receber informagoes € através da intuigdo. Essa maneira de receber informago nao se fixa no dado concreto, no aqui-agora, mas vai além, buscando o significado intrinseco das coi- sas e suas possibilidades futuras. O intuitivo vé o todo e nao apenas as partes. Quando uma tarefa Ihe é designa- da, ele precisa compreender o todo para poderrealizé-la a contento. Prefere plane- jar do que executar, e esta sempre adiante de seu tempo quanto a projetos e possibi- | lidades. Sao pessoas mais criativas e ino- vadoras do que 0 tipo sensacao; mostram- se, no entanto, indbeis para lidar com a realidade concreta de maneira pratica ¢ i com a rotina de uma atividade qualquer. Eocaso daquela pessoa que, indoa um 34 shopping center, esquece onde deixou es- tacionado 0 carro. Podemos exemplificar a relagio das duas fungdes da seguinte maneira: Imagi- nemos quealguém tem um terreno e dese- ja construir uma casa. Consultando um arquiteto, este far o projetomais adequa- do para o terreno, que poderé ser um projeto bastante arrojado. Feito isso, 0 projeto deverd ir para o engenheiro e para omestre-de-obras, que executaraoacons- trugdo da casa. O arquiteto esta exemplificando 0 tipo intuigAo, que planeja e vé as possibilida- des futuras. Para ele, assim que o projeto ficou pronto, a casa também ficou. Por isso é comum vermos pessoas tipo intui- cAoiniciarem um projeto, e tao logo esteja pronto, abandonarem sua execugéio para outro, partindo para um novo projeto. O engenheiro e o mestre-de-obras exempli- ficam 0 tipo sensacao, pois vao trabalhar com a realidade e com os passos para a realizacao da obra. Caso pedissemos para o engenheiro ou 35 omestre-de-obras projetar a casa, esta se- ria muito simples e sem as possibilidades estéticas que o terreno oferece. Seria uma reprodugao de algum empreendimento ja realizado por eles. Caso pedissemos para oarquiteto cons- truir a casa, assentar os tijolos um a um, provavelmente a primeira parede tende- riaa cair, pois 0 tipo intuigao ¢ inabil com objetos e tarefas concretas, sua coordena- co motora é inclusive um tanto prejudi- cada. Dificilmente encontraremosum tipo intui¢&o como relojoeiro, ou um tipo sen- sag4o trabalhando com teorias. Fungées racionais (ou fungées de julgamento) As fungdesracionais siodefinidas como sendo aquelas que determinam dois mo- dos possiveis de tomada de posicao, ou seja, de que maneira uma pessoa prefere avaliar as informagées recebidas do meio ambiente e como prefere tomar decisées. Duas sao as possibilidades: ou através de uma anilise légica eracional, baseadaem 36 estruturas gerais de pensamento; ou atra- vés de uma avaliacao valorativa pessoal. Assim, temos 0 pensamento e o sentimen- to, respectivamente. (Alguns autores pre- ferem o termo fungées de julgamento.) Pensamento As pessoas que preferem tomar deci- ses com base no pensamento procuram orientar-se por uma lei geral aplicdvel As situagdes, sem permitir a interferéncia de valores pessoais. Estdo atentas & causali- dade légica de seus atos e eventos. Inclu- em em sua avaliacao os prés e contras de uma mesma situago e buscam um pa- dro objetivo da verdade. Apreciam a or- ganizagdo e a légica, baseando seus julga- mentos em padrées universais e coeren- tes. Como sao naturalmente voltadas para a razAo, muitas vezes sao imparciais em seus julgamentos; porém conseguem uma anilise isenta de interferéncias pessoais e com significado geral. Essas pessoas lidam melhor com tare- fas (processos légicos e formais) do que 37 Ce eet com pessoas, pois nao conseguem lidar com valores pessoais, sejam os seus ou 0s de outros. Sentimento O sentimento nao deve ser confundido com emogao ouafeto, poisa emogao pode surgirem uma pessoa de qualquer um dos tipos psicolégicos. A emogao é um afeto de grande intensidade eenergia que, quan- do nos assalta, altera fungdes organicas como batimento cardfaco eritmo respira- torio. A fungao sentimento nada tema ver com essas reagées fisicas, pois est ligada a.uma dimensao valorativa das pessoas e coisas —éa busca de valores pessoais e nao universais, como ocorre com a fun- 40 pensamento. As pessoas que preferem tomar deci sées com base no sentimento estdo se utilizando dos seus préprios valores pes- soais (ou de outros), mesmo que essas decisdes nao tenham logica e objetividade alguma do ponto de vista da causalidade e das leis gerais. Sempre levarao emcontao 38 que sentemem relacadoaalguém ouauma situagdo. Como valorizam as impresses pessoais, estéonaturalmente voltadas pa- raas relages interpessoais e preocupam- se com os sentimentos e valores dos ou- tros; assim as idiossincrasias humanas so respeitadas. Tendem a serreceptivas e boas para kidar com as pessoas, além de posstirem uma forte atracao pela historia e pelas tradicées. Para compreender melhor essa polari- dade de fungdes tomemos como exemplo ‘© caso de alguém que esta sendo julgado por um crime que cometeu. Alguém que fosse um tipo pensamento estaria interes- sado em saber exatamente o tipo de crime cometido e quais os caminhps legais para que 0 processo chegue a termo. Por outro lado, um tipo pensamento estaria interes- sado em saber as condigdes em que 0 crime teria ocorrido e qual a situagao pes- soal docriminosg, anterior e no momento do crime. Caso os valores pessoais de quem julga sejam de compreensao e defe- sa dos valores humanos, haveré uma 39 tendéncia em entender a situagao de for- ma mais branda; caso o crime em questo tenha atingido em cheio os valores pesso- ais de quem julga, a condenagdo sera imediata e mais intensa do que uma pos- sivel andlise legal do tipo pensamento. Quando esses dois tipos esto vivendo juntos, freqiientemente um acusara 0 ou- tro de defeitos que possuem de maneira inversa. Por exemplo, uma esposa senti- mento dedicar-se-a aos trabalhos de casa que demonstram cuidadoecarinho (como uma boa refeigdo), e esperar4 do marido uma constante observagao de aceitagao e elogio. Por outro lado, o marido tipo pen- samento acha que o que ela faz é perfeita- mente razodvel para uma esposa fazer, € nao percebe nisso nada além do cumpri- mento de uma regra geral da sociedade. E légico que ela faca essas coisas, assim como € légico que ele saia para trabalhar fora e ganhe dinheiro para o sustento da casa, Assim, um poder esperar do outro © que 0 outro nao sabe oferecer, criando certo ntimero de desgastes no relaciona- mento. 40 Captruto 3 CARACTERISTICAS GERAIS DOS TIPOS PSICOLOGICOS DE C. G. JUNG Como resumo geral, vamos apresentar algumas caracteristicas relativas a cada uma das atitudes e fungdes descritas ante- riormente. Sao descrigdes feitas por Isa- bel Briggs-Myers e adaptadas no Brasil pela professora e doutora Anna Mathilde Pacheco e Chaves Nagelschmidé Extrovertidos — Impulsivos. — Nao podem compreender a vida antes de vivé-la. — Atitude relaxada e confiante. — Atengao voltada para o exterior. 41 — Seu mundo real é 0 externo. — Vao da agao a consideragao e voltam a agao. — Dedicam-se exageradamente a exigén- cias externas, —Acessiveis e sociaveis, preferem o mun- do das coisas e pessoas ao mundo das. idéias. — Expansivos e menos impressionveis. —Descarregam as emogées i medida que elas vem. — Tendéncia a superficialidade intelec- tual. Introvertidos — Hesitantes. — Nao podem viver antes de compreen- der a vida. — Atitude reservada e questionadora. — Atengao voltada para o interior. —Seu mundo real é 0 interno, suas idéias. — Vao das consideragées para a agéo e voltam para as consideragées. 2 eT 0.000 —Defendem-se 0 possivel das exigéncias externas em favor da vida interior. — Impenetraveis e taciturnos, ficam mais & vontade no mundo das idéias do que no mundo das pessoas e coisas. — Internos e apaixonados. — Retém suas emogées e as guardam co- mo sendo explosivas. —Tendéncia a nao-praticidade. — Discretos no que fazem. Tipos sensagio —Encaram a vida buscando estimulagio dos sentidos. — Estao cientes do ambiente sensorial. — Sio rapidos em perceber, dacrificando a inspiragao. — Amantes do prazer e consumistas. — Sentem-se satisfeitos. — Sao observadores e imitativos. — Dependentes do ambiente fisico. —Relutam em sacrificar prazeres presen- tes em fungao de ganhos futuros. 43 — Vivem no “aqui-agora”. —Nao toleram a rotina de uma atividade. —Correm o perigo de serem frivolos. — Preferem iniciar projetos ao invés de — Aceitam bem as atribuigdes de rotina. conclut-los. —Correm o perigo de serem inconstantes Tipos intuigS0 e falta-lhes persisténcia. —Enearam a vida com expectativa e ins- Tipos pensamento piragao —Valorizam a légica sobre o sentimento. — Impessoais, sentem mais interesse por coisas do que por relacionamento hu- —Aceitam as impressées dos sentidos so- mente quando relacionadas a inspira- — Ignoram sentimentos incompativeis com julgamentos racionais. — Preferem mais o empreendimento do que 0 alcance de objetivos. —Sao muito independentes doambiente | —Criticismo intelectual acentuado. fisico. | —Oferecem suportea ciénciae tecnologia. 44 45 40 do momento. int —Desenvolvema imaginagao, sacrifican- aap cpcrat ule ginadd ae ttdo do a percepgao. que amenizé-la. Fond Moneixos ¢ inventores, — Mais capacidade de execugao do que — Pouca capacidade para viver e aprovei- contato social. tar o presente. — Questionam as conclusées dos outros, — Sao incanséveis. achando-se sempre certog. — Forte desejo de oportunidades e possi- — Raépidos e profissionais, carecem de bilidades. amizades. —Sio inventivos, originais e indiferentes — Organizam fatos e idéias de maneira aos padroes sociais. t logica. Tipos sentimento —Valorizam mais os sentimentos do que a logica. — Mais interessados nas pessoas do que nas coisas. — Preferem dizer a verdade de maneira indireta — Mais capacitados para o contato social do que para habilidades de execucao. —Tendem a concordar com os que estao @ sua volta, aceitando a opiniao dos outros para manter a harmonia, — Amigaveis e socidveis, encontram difi- culdade em ser objetivos e profissio- nais. —Acham dificil comecar uma frase ou or- ganizar as idéias para poder expé-las. —Ignoram pensamentos ofensivos a ava- liagdes feitas com base nos sentimen- tos e valores pessoais. — Buscam apoiar movimentos que séo considerados bons pela comunidade, envolvem-se em movimentos sociais ¢ comunitarios 46 CapiruLo 4 A ESTRUTURA CRUCIFORME Aestrutura das quatro fungées da psi- que representa a totalidade da personali- dade, abrangendooconsciente eo incons- ciente em relagdio complementar. A configuracao simbélica das quatro fungGes (sensacao, intuigaio, pensamento sentimento) tem aparecido de varias maneiras em diversas épocas e civiliza- g6es. Na Biblia podemos citar o exemplo da arquitetura da “Nova Jerusalém” (Apo- calipse 21,16), que é quadrangular; ou aindaa visao de Ezequiel, em que os qua- troanimais simbélicos representama pre- senga de Javé (anjo, ledo, touro e 4guia), que no periodo cristéo passam a simboli- 7 —_—____—_—_—_—————— Zar os quatro evangelistas (Mateus, Mar- cos, Lucas e Joao). O sistema cruciforme da tipologia jun- guiana resgata os conhecimentos simbéli- cos da antigitidade em referéncia aos qua- tro elementos da natureza e aos quatro temperamentos da medicina hipocratica, como ja foi descrito anteriormente. Podemos apontar também comoexem- plo na literatura védica os quatro rostos de Brahma, as quatro estrelas reais dos persas, 0s quatro pontos cardeais, a vigé- sima primeira carta do Taré (o mundo), bem como as quatro fases da lua. Podemos aproveitar a idéia das fases lunares para exemplificar a tipologia de Jung. As lunagées se dividem em lua nova, quarto crescente, lua cheia e quarto min- guante. Na lua cheia, ela esta plena de luz dominando 0 céu; no quarto crescente a luminosidade esta mediana, tendendo a crescer; no quarto minguante a lumino- sidade esté mediana tendendo a diminuir e, na lua nova (lua negra) nao ha luz, e ela est sombria e sinistra, reina soberana 48 | | | | sobre as trevas e sobre o mundo nao co- nhecido. Associando, por analogia, a luz com a consciéncia (0 mundo conhecido), e as trevas com o inconsciente (o mundo des- conhecido), teremos uma clara visdo das quatro fungées da psique. A fungao de maior luminosidade (lua cheia) chamaremos de funcdo principal; de luminosidade mediana, tendendo a maior luz (quarto crescente), chamare- mos de fungdo auxiliar; e a funcéo sem luminosidade (lua nova) chamaremos de fungao inferior. 49 A fase de maior luz, ou seja, a fungao psiquica principal e mais diferenciada, éa que est mais subordinada ao controle da consciéncia. E semelhante a lateralidade: preferimos uma das maos para escrever embora tenhamos a outra, privilegiamos uma das mos, e por isso mesmo ela seré muito mais 4gil e mais facilmente coorde- nada pela vontade consciente. A fungao principal pode manifestar-se de maneira introvertida ou extrovertida. Esta é a fun- cdo mais desenvolvida e a mais utilizada na vida diaria. A fase de luz mediana, ou seja, a fungaio psiquica diferenciada com menos intens! dade do que a funcdo principal, 6a fungao auxiliar. Embora sendo de natureza dife- rente da func&o principal, nao lhe é anta- gonica, oferecendo um segundo ponto de vista a ser considerado. Assim como te- mos uma visao bifocal, essa fungao auxi- liar contribuira para uma compreensio mais ampla de uma situacdo qualquer. E interessante notar que nos sistemas anti- gos de tipologia sempre havia um segun- 50 do ponto de vista a ser considerado (o sig- no ascendente, ocompanheiro de estrada ou 0 Orixé adjunto). A fungdo auxiliar nao pode ser da mes- ma natureza da fungao principal, pois caso contrério seriam opositérias e have- ria a auséncia de uma fungao de natureza complementar. Sempre que a funcao prin- cipal for irracional, a fungao auxiliar se1 racional, e vice-versa. ‘A fungéio correspondente ao quarto minguante € a fungao oposta a fungaio auxiliar e j4 se encontra abaixo do limiar da consciéncia. O controle do ego sobre ela é bem menor. A fase de trevas (lua nova ou negra) é representativa da fungio inferior, ame- nos diferenciada das quatro fungdes, mais primitiva, arcaica e desadaptada; corres- ponde ao lado sombrio da personalidade constitui a porta de acesso ao inconsci- ente. Opée-se a fungao principal e apre- senta uma atitude inversa a primeira. Representa o nosso lado nao desenvolvi- do, em que a inabilidade se manifesta de sl rr es—e maneira instintivae por vezes destrutivae perigosa. Quando uma determinada fun- cdo esta localizada na posigao “fungao inferior” numa determinada pessoa, po- demos dizer que todas as caracteristicas e qualidades j4 descritas de cada fungao sao as mesmas, s6 que manifestas inversa- mente e de maneira mais primitiva. Muitas vezes, devido a uma unilate- ralidade excessiva da consciéncia, privile- giando unicamente as fungées principal e auxiliar, hd o risco da invasao da fungao inferior com caracteristicas do complexo da “sombra". Assim, se uma pessoa é tipo sentimento, polida e preocupada com as pessoas quase que todo o tempo, de repen- te pode tornar-se Aspera e extremamente critica e cdustica, desestruturando rela- Ges pessoais que para ela sio muito ca- ras. A esse processo Jung chamou de “enantiodromia”, termo utilizado por Galeno e que quer dizer “cair para o lado contrario”, Um exemplo bem comum é 0 caso do tipo intuigdo introvertida, que passa o 52 | | | | | tempo elaborando mil idéias e planos ge- niais, mas ndo consegue caminhar sem esbarrar nos objetos em seu caminho. Se a fungdo principal é introvertida, a fungo inferior é extrovertida, além de serem da mesma natureza (se a fung&o superior forracional, ainferior também o sera). Jung nos diz que é praticamente im- possfvel alguém desenvolver todasas suas fungdes psicolégicas simultaneamente. Isso se deve as exigéncias sociais e as circunstancias da vida de cada um. Essas exigéncias nos obrigam & diferenciagao da fungio com a qual se esté mais bem equipado pela natureza, e que ira assegu- rar o melhor sucesso social.;Geralmente identificamo-nos com a ftngao mais favorecida (¢ a mais desenvolvida), e isso € 0 que da origem aos tipos psicolégicos. A soberania de uma das fungées é ex- clusiva, pois é aquela com a qual o ego mais se identifica. A fungao auxiliar nao chega a atingir a desenvoltura da primei- ra, pois se assim fosse teriamos uma am- 53 bigiiidade de diregdes, 0 que nao é satis- fatério para a adaptacdo da pessoa ao mundo. E importante uma segunda visao e ndio um conflito de diregdes. A fungao inferior se ope a fungao principal, influenciando-a de modo secre- toe contrario a seus interesses, ao mesmo. tempo em que a fungdo superior reprime violentamente a inferior. Tomando como exemplo o tipo pensa- mento, na pratica o que ocorre é que esse tipo no dé muita importancia ao seu sen- timento (valores pessoais); assim como 0 tipo sensago nao valoriza suas intuigées, © tipo sentimento expulsa da consciéncia os pensamentos que lhe desagradam, e 0 tipo intuitivo ignora o que esta bem a frente dele. A principal caracteristica da fungio inferior é a autonomia, pois ela nao esta subordinada a autoridade da consciéncia (ego), e por isso mesmo pode agir de maneira independente da vontade da pes- soa e prejudicar sensivelmente os planos desta. A fun¢ao inferior é menos desenvol- 54 vida e, quando emerge na consciéncia, manifesta-se de maneira infantil e primi- tiva, obrigando a pessoa a confrontar-se com outros aspectos de sua personalidade antes rejeitados. FUNGAO SUPERIOR consciente FUNCAO AUXILIAR inconsciente FUNCAO INFERIOR Este sistema quaternario cruciforme favorece umavisio dinamica dos tiposem que, diferentemente das tipologias de Krets- chmere Gall, incluitracos de personalida- de opostos entre si, colocando-os em ins- tancias psiquicas que, embora diversas, desempenham papelativo na interrelagéo de uns com os outros. A conceituagao do dinamismo consciente-inconsciente e a presenca de todas as polaridades cria um sistema de trocas entre as instancias atra- vés dos movimentos da energia psfquica. 35 Por exemplo, uma pessoa tipo pensa- mento tera seu ponto fraco no sentimen- to. Se tomarmos como ilustragao o filme “Anjo azul’, veremos a hist6ria de um professor (tipo pensamento) que se apai- xona por uma dangarina (manifestacio da anima na fungao sentimento inferior), € essa paixao faz.com que ele destrua toda asua vida académica e social; ela o trans- forma em um palhago. Muitos instrumentos de pesquisa fo- ram criados para o estudo e avaliacaio dos tipos psicolégicos. Dentre eles podemos citar como os mais importantes o “Gray- Wheelwright” e o “Myers-Briggs Type Indicator” (MBTI), conhecidos mundial- mente, ¢ inclusive utilizados para muitas Pesquisas no Brasil, principalmente no departamento de Psicologia Social da Universidade de Sao Paulo, sob orienta- 40 da professora doutora Anna Mathilde Pacheco e Chaves Nagelschmidt. Pode- mos ainda citar o Questionario de Avalia- ¢4o Tipolégica (QUATD, criado para in- vestigacaio em tipologia. Embora tenhamos todos esses instru- mentos para a investigacao tipol6gica, 0 mais importante da tipologia de Jung é nao nos fixarmos no tipo, mas no dina- mismo da psique, pois a tipologia nao é estrutural, mas funcional e fenomeno- légica. Ela sugere como uma pessoa se relaciona consigo ¢ com o mundo, ecomo esse relacionamento eu-mundo se proces- sa e se transforma no tempo e no espaco, ainda que a pessoa mantenha suas carac- teristicas tipolégicas ao longo da vida. Cariruto 5 POSSIBILIDADES EM TIPOLOGIA Ateoria dos tipos psicol6gicos pode ser utilizada em varios campos, tanto na cli- nica quanto nas areas de educagao e orga- nizagao. Aplicagées clinicas Em aconselhamento psicolégico indi- vidual, em que a identificacao dos tipos psicolégicos auxiliaré a compreensao das dificuldades de adaptagao da pessoa em sua prépria vida, seja no relacionamento com grupos ou com individuos. Emaconselhamento de casal, em queo estudo da tipologia de cada um dos conju- ges oferecera subsidios para que se com- 58 preenda a origem dos conflitos conjugais ese possa analisar os processos transferen- ciais em jogo. Em psicoterapia, em que a identifica- cdo tipol6gica facilitaré oencaminhamen- todo proceso terapéutico. Identificando- se a funcdo principal e sua atitude (intro ou extroversao), este sera o canal de aces- so ao cliente. A partir disso, o caminho psicoldgico de acesso ao inconsciente se estabelece da seguinte maneira: fungao principal, fungao auxiliar, fungao oposta a auxiliar e por tiltimo a fungao inferior. Segundo Jung seria violento para o pa- ciente se o terapeuta tentasse abordar sua fungdo inferior diretamente. Por exem- plo, no caso de um cliente tipo pensamen- to, forgar o contato com a fuungao senti- mento, pois esta se mostrara ameacadora e suscitaré as defesas do ego. Aplicagdes em educagao Aidentificagao tipolégica fornecerdele- mentos para o planejamento educacional de um grupo, ou de varios simultanea- 59 mente. Um planejamento educacional que procure atender as varias formas de se conhecer o mundo tender a ser melhor aproveitado por alunos de diferentes ti- pos psicol6gicos. Podemos localizar dificuldades indivi- duais de aprendizagem com o exame tipolégico do aluno, pois teremos uma visio mais clara de suas “portas de aces- so” (funcdo principal, auxiliar e atitude predominante), e qual a melhor maneira de levar um determinado contetido até ele. Por outro lado, de posse do conheci- mento das diferengas tipolégicas, ou dos estilos cognitivos, as escolas poder cri- ar programas de ensino-aprendizagem mais adequados ao real aproveitamento de seus alunos. Em termos genéricos, para que possa- mos atender todas as fungdes em educa- go, um contetido deve incluir: uma con- figuracao logico-te6rica de possibilidades futuras (pensamento-intuigao), uma con- figuragao logico-pratica de utilidade con- 60 creta (pensamento-sensa¢ao), uma confi- guragio criativo-pessoal de possibilida- des inovadoras (intuigdo-sentimento) e uma configuragio pratico-pessoal de pos- sibilidades concretas e sociais. >” Outra possibilidade de utilizagao da tipologia em educagao é quanto a orienta- co vocacional e profissional. Cada uma das dezesseis possiveis descrigées tipo- logicas oferece uma gama de possibilida- des e capacidades especificas, que ofere- cerao maior ou menor adaptabilidade a determinadas carreiras e profissdes. Aplicagées organizacionais Nas organizagées, a tipologia poderd orientar a organizagao de giipos de tra- balho, quanto ao tipo de tarefa a ser feita equantoa dinamica do grupoem questao. Atipologia também ¢ util para identifi- car a origem de conflitos em grupos de trabalho e oferece propostas para sua so- lugio. Pode ser muito util, ainda, nos proces- sos de desenvolvimento profissional, iden- 6 ——————————— ————$——— tificando capacidades a serem trabalha- das e apoiando propostas de reorganiza- a0 de fungées e tarefas. Em Areas sociais, a tipologia se apre- sentacomoum poderoso instrumento te6- rico para a andlise institucional, definin- do o perfil de uma carreira ou de uma instituigao. Outro campo da dea social € a utilizago na definigao de padrées ti- poldgicos em grupos sociais, que permit rio maior compreensao dos movimentos sociais e da interacao de diferentes gru- pos, bem como auxiliar a mediagio entre partes conflitantes. 62 CarituLo 6 CARACTERISTICAS FREQUENTEMENTE ____ ASSOCIADAS A CADA TIPO Sensagao extrovertida com pensamento auxiliar Bom na resolugao imediata de proble- mas objetivos; procura aproveitar as si- tuagées sem preocupar-se muito, Tendén- cia a apreciar coisas mecanjcas ¢ espor- tes, de preferéncia rodeado de amigos. Adaptavel e tolerante, geralmente é con- servador quanto a atitudes. Nao gosta de explicagées longas e dé-se melhor com coisas reais que podem ser trabalhadas, manuseadas, montadas ou desmontadas. Por exemplo, um jogador de futebol que aprecia a integragdo com o time. 63 Sensagio extrovertida com sentimento auxiliar Expansivo, complacente, receptivo amigavel. Tende a divertir-se com as coi- sas, tornando-as agradaveis para todos os que ocercam. Apreciaos esporteseo fazer as coisas acontecer, utilizando para isso seu forte entusiasmo, Acha mais facil lem- brar-se de fatos do que de teorias. Dé-se melhor em situagdes que exijam sélido bom senso e habilidade pratica, tantocorn coisas como com pessoas. Por exemplo, aquele que gosta muito de atividades so- ciais do tipo m&os & obra. Pensamento extrovertido com sensacao Pratico, realista e simplista, tendendo para a administragao ou mecanica. Nao tem interesse em assuntos para os quais no vé utilidade, mas pode a eles aplicar- se quando necessério. Gosta de organizar e apoiar atividades em funcionamento. Pode ser bom administrador, especial- 64 mente se se lembrar de considerar os pontos de vista dos outros. Por exemplo, o administrador metédico e ligado em tudo © que acontece & sua volta. Sentimento extrovertido: AY com sensagao auxiliar Afetuoso, comunicativo, consciencio- so e cooperador nato. Membro ativo de grupos. Necessita de harmonia ao seu redor, e 6 muito bom para crié-la. Sempre procura fazer algo de bom para alguém. Trabalha melhor com elogio ¢ encoraja- mento. Seu principal interesse é em coi- sas que afetam diretamente a vida das pessoas. Por exemplo, o ativista em agoes de cunho social-humanitario. Intui¢do extrovertida com sentimento auxiliar Entusiasta afetuoso, vivaz, engenhoso ¢ imaginativo, capaz de fazer quase qual- quer coisa que o interesse. Sempre rapido com uma solugdo para qualquer dificul- 65

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