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Mineração
Mining
Influência da durabilidade no
comportamento geotécnico dos
filitos da Mina Pau Branco
Influence of slake durability on geotechnical
behavior of phyllites of Pau Branco Mine
Abstract
1. Introdução
O Quadrilátero Ferrífero - Minas predizer a deterioração potencial da du- ação antrópica. A durabilidade pode,
Gerais é uma região bastante interes- rabilidade dos materiais, sob influência dessa forma, auxiliar na caracterização
sante para o estudo de estabilidade de dos processos intempéricos. dos materiais rochosos, principalmente
taludes, devido à presença de rochas A American Association for Tes- aqueles que estão expostos na face do
com alto grau de fraturamento, de sig- ting and Materials (ASTM, 1990) define talude, onde alterações físico-químicas
nificativas descontinuidades estruturais durabilidade, para rochas ornamentais, são intensas.
e de espessos perfis de alteração. Tal como sendo a medida da capacidade da No caso dos filitos existentes no
presença leva à ocorrência de proble- referida rocha de manter as característi- Talude Oeste da Mina Pau Branco,
mas geotécnicos. Essas características, cas essenciais e distintivas de estabilida- pertencente à V & M, a ocorrência de
aliadas ao clima tropical úmido, mar- de, resistência à degradação em que a fraturamento acentuado e dobramen-
cado pelas chuvas intensas, aceleram os rocha pode manter suas características, tos, aliados ao clima regional, leva à
processos de alteração das rochas, di- em uso, num determinado tempo. Esse formação de rochas com baixa resis-
minuindo sua resistência e durabilidade tempo poderá ser maior ou menor e irá tência, fato este que favorece os meca-
com o tempo. depender do ambiente e do uso da rocha nismos de instabilização.
O intemperismo e a própria extra- em questão. Ressalta-se que a durabilidade é
ção de um bem mineral podem induzir De forma análoga, o conceito de uma propriedade intrínseca do material
mudanças nas propriedades físicas das durabilidade pode ser aplicado no estu- e está condicionada às propriedades fí-
rochas, tais como os seus parâmetros de do de estabilidade de taludes constituí- sicas e químicas inerentes à mineralogia
resistência. Essa mudança na resistência dos por rochas brandas. No contexto, tal da rocha e às alterações preexistentes.
em curto prazo é denominada durabili- propriedade pode ser definida como sen- Trata-se de um importante parâmetro
dade e esse parâmetro pode ser definido do a resistência apresentada pela rocha à de engenharia, especialmente no que se
através de um índice de durabilidade, atuação dos processos intempéricos, que refere a obras envolvendo rochas de bai-
(Gökceoglu et al., 2000), utilizado para podem ser intensificados ou não pela xa resistência.
2. Materiais e métodos
A Mina Pau Branco, pertencen- mundo, devido à localização privile- Cauê, sobreposta ao filito da Formação
te ao Grupo V&M, constituída por giada da zona de extração, na serra Batatal.
frentes de lavra de minério de ferro, da Moeda, particularmente no flanco O presente estudo deu enfoque aos
situa-se a aproximadamente 23km da ocidental do sinclinal da Moeda. A filitos sericíticos e dolomíticos existentes
cidade de Brumadinho. Seu acesso é Empresa extrai e beneficia três tipos no Talude Oeste da Mina, os quais apre-
feito pela BR-040, a 30km da capital de minérios de ferro: hematita, goethi- sentam, de forma geral, elevados graus
Belo Horizonte. ta e itabirito. de alteração e baixa resistência. As Tabe-
A região está inserida na porção As rochas da Mina Pau Branco las 1 e 2 apresentam, respectivamente, os
sudoeste do Quadrilátero Ferrífero e pertencem aos Grupos Itabira e Caraça, graus de alteração e de resistência utiliza-
o minério de ferro extraído na Mina Supergrupo Minas, sendo que a zona mi- dos na classificação de materiais rocho-
Pau Branco está entre os mais ricos do neralizada da mina situa-se na Formação sos, segundo ISRM, 1981.
Índices físicos
Os índices físicos das rochas deter- (ABNT, NBR 6508, 1984). determinados antes e após execução dos
minados em laboratório auxiliam na sua • Peso específico natural (g). ensaios de durabilidade (“Slake Durabi-
caracterização e classificação. Nesse tra- • Peso específico seco (gd). lity Test”), no intuito de verificar quais
balho, foram obtidos os seguintes índices • Índice de vazios (e). propriedades são influenciadas pelo refe-
físicos: • Porosidade (n). rido ensaio.
• Massa específica dos grãos GS Os referidos índices físicos foram
W1 Rocha sã
W2 Rocha pouco alterada
W3 Rocha moderadamente alterada
W4 Rocha muito alterada
W5 Rocha completamente alterada Tabela 1
Graus de alteração das rochas
W6 Solo residual
(adaptado de ISRM, 1981).
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Foi feito o levantamento das es- Em alguns destes locais, mesmo resultados dos ensaios de durabilidade,
truturas geológicas nos taludes de inte- quando a análise cinemática prevê um de modo a verificar se, naqueles locais,
resse. Nesses taludes, foram definidos modo de ruptura pelas descontinuida- onde a ruptura se dá pela rocha, a dura-
pontos de amostragem para realização des, verificou-se que a ruptura se dava bilidade seria um índice capaz de prever
de ensaios de durabilidade. Análises pelo material. Evidentemente, são locais esse modo de ruptura, já que o grau de
cinemáticas, nesses pontos de amostra- onde o material rochoso possui grau de alteração e mesmo o grau de resistência
gem, foram realizadas, de modo a defi- alteração acentuado e, portanto, baixa são parâmetros bem mais subjetivos. Já o
nir um possível mecanismo de ruptura, resistência. índice de durabilidade é representado por
segundo as descontinuidades, em cada Os resultados das análises cine- faixas de valores e sua obtenção é simples
um desses locais. máticas foram confrontados com os e objetiva.
O ensaio de durabilidade (SDT) alteração. A secagem dos fragmentos é bilidade nos parâmetros geotécnicos dos
consistiu em submeter dez fragmentos de realizada em estufas. Após esse proces- materiais, bem como nos mecanismos
rocha, cada um pesando entre 40 e 60g, so, pode-se seguir outra umidificação e de ruptura que ocorreram no talude. As
a dois ciclos normalizados de secagem e ação mecânica. amostras foram preparadas de acordo
umidificação, de dez minutos cada um, O índice de durabilidade (Id2) cor- com ISRM (1979) e ASTM (1990).
além da ação mecânica. Os fragmentos responde à percentagem de rocha seca O croqui e a foto do equipamen-
são colocados dentro de redes metálicas que fica retida nos tambores de rede me- to para o ensaio de durabilidade são
cilíndricas com 2mm de abertura, par- tálica em dois ciclos completos de umidi- apresentados nas Figuras 1 e 2, respec-
cialmente imersos na água, girando a ficação e secagem. tivamente. O índice de durabilidade é
uma velocidade de 20rpm, em torno de Para os ensaios de durabilidade, fo- determinado através da relação entre as
um eixo horizontal. O choque dos frag- ram selecionadas amostras de filitos do massas final e inicial do ensaio e é ex-
mentos de rocha entre si e o contato com Talude Oeste da Mina Pau Branco, no presso através da relação apresentada na
a água favorecem a sua desagregação e intuito de avaliar a influência da dura- Equação 1.
Croqui do equipamento
para ensaio de durabilidade.
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Influência da durabilidade no comportamento geotécnico dos filitos da Mina Pau Branco
Figura 2
Equipamento para ensaio
de durabilidade.
3. Resultados e discussão
Índices físicos
Os resultados obtidos, para os ín- com o ensaio de durabilidade. Pode-se água na rocha, o que, consequentemen-
dices físicos, são apresentados na Tabela dizer que a redução do peso específico te, favorecerá sua desintegração com o
4. Os ensaios de caracterização foram seco e o aumento na porosidade são tempo, influenciando, assim, na estabi-
realizados em 8 amostras, entre filitos reflexos da degradação provocada pela lidade do maciço rochoso.
sericíticos (A1, A5, A6, A7 e A8) e filitos perda de material devido à percolação Ressalta-se que a pequena variação
dolomíticos (A2, A3 e A4). e ao movimento giratório durante o nos índices físicos é devida ao pequeno
Verifica-se, pela Tabela 4, que ensaio de durabilidade. O aumento da número de ciclos a que as amostras fo-
houve variação de alguns índices físicos porosidade favorece a percolação de ram submetidas.
Índices Amostra A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8
físicos (W/R) nota 1 (W3/R2) (W3/R2) (W4/R1) (W2/R2) (W4/R0) (W2/R2) (W3/R3) (W2/R4)
Antes 2,75 2,79 2,70 2,80 2,69 2,79 2,77 2,78
Gs
Após 2,75 2,79 2,69 2,80 2,65 2,79 2,77 2,78
g
- 20,02 20,69 19,10 22,98 18,95 22,04 21,54 22,65
(kN/m3)
gd Antes 18,98 19,65 18,12 22,05 16,98 21,14 21,01 21,80
(kN/m3) Após 18,65 19,12 17,44 21,74 15,69 20,66 20,58 21,35
Antes 30,98 29,57 32,89 21,25 36,88 24,23 24,15 21,58
n (%) Tabela 4
Após 32,18 31,47 35,17 22,36 40,79 25,95 25,70 23,20
Índices físicos obtidos para os filitos
Antes 0,45 0,42 0,49 0,27 0,58 0,32 0,32 0,28 dos pontos de amostragem A1 a A8,
e
Após 0,47 0,46 0,54 0,29 0,69 0,35 0,35 0,30 antes e após realização do ensaio de
(W/R) - grau de alteração/grau de resistência. durabilidade.
Os resultados do ensaio de durabili- ISRM (1981). No total, foram realizados de ruptura, os resultados dos pontos de
dade e das análises cinemáticas são apre- 20 testes de durabilidade. amostragem A1 e A5 serão discutidos
sentados na Tabela 5. O índice de durabi- Na Tabela 5, pode-se observar que, em detalhe.
lidade é dado pelo resultado do 2º ciclo, de forma geral, obtiveram-se índices de du- Na Figura 3, a análise cinemática
conforme ISRM (1979) e ASTM (1990). rabilidade menores para rochas com maior prevê a ocorrência de ruptura em cunha
Nessa tabela, são também apresentadas grau de alteração e menor resistência. segundo as descontinuidades F1 e F2,
as classificações dos materiais quanto aos Para ilustrar a relação existente no ponto de amostragem A1. A Figura 4
graus de alteração e resistência, segundo entre o índice de durabilidade e o modo mostra que esse mecanismo de ruptura
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realmente ocorre nesse local. O índice de a classe de durabilidade muito baixa. nenhum modo de ruptura. Isso indica
durabilidade é de 86,18%, o que repre- Nesse caso, a durabilidade muito baixa uma situação de estabilidade, conforme
senta alta durabilidade. é um indicador de que a ruptura ocor- comprovado em campo.
Já a análise cinemática na Figura 5 rerá pelo material, enquanto que a alta De um modo geral, quando o ín-
ilustra o modo de ruptura por flamba- durabilidade do material, no ponto de dice de durabilidade é de muito baixo a
gem, no ponto de amostragem A5, mas amostragem A1, aponta para a impos- baixo, seria um indício de ruptura pelo
a ruptura ocorre pelo material, confor- sibilidade de uma ruptura pela rocha. material, mesmo em caso de existência
me mostrado na Figura 6. Mesmo com Nesse caso, a análise cinemática indi- de condições cinemáticas para a ruptura.
a presença marcante da descontinui- cou o mecanismo de ruptura. Índices de durabilidade altos ou médios
dade de foliação, a ruptura ocorre sem Nos pontos de amostragem A6 e apontariam para a ocorrência de ruptu-
controle estrutural. O índice de durabi- A8, a durabilidade é muito alta e as aná- ra com controle estrutural, caso existam
lidade é igual a 1,89%, representando lises cinemáticas não apontaram para condições cinemáticas favoráveis.
N
+ F2
+
+
W + E
TALUDE
+ FOLIAÇÃO
F1
Figura 3
Análise cinemática,
ponto de amostragem A1. S
Figura 4
Ruptura em cunha,
ponto de amostragem A1.
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++
FOLIAÇÃO
W + E
FOLIAÇÃO
Figura 5
Análise cinemática,
S ponto de amostragem A5.
Figura 6
Ruptura pelo material,
ponto de amostragem A5.
4. Conclusões
Através dos ensaios de durabilida- do degradada tanto pela ação da água, um Id2 baixo, espera-se que a ruptura
de, foi possível verificar que o índice de quando pela ação mecânica a que esta ocorra pela própria rocha. Tal fato é con-
durabilidade apresenta relação com as é submetida. firmado quando se observa os processos
propriedades de resistência e alteração O índice de durabilidade pode ser de instabilização nos taludes do Lado
dos filitos do Talude Oeste. útil para prever se a ruptura se dará pela Oeste da mina.
A variação dos índices físicos rocha intacta ou pela estrutura geológi- Estudos mais detalhados pode-
com o ensaio de durabilidade constitui ca, o que contribui para a definição da riam estabelecer correlações muito in-
importante indicador do processo de metodologia de análise de estabilida- teressantes entre o índice de durabili-
alteração experimentado pelas rochas, de. Se o índice de durabilidade (Id2) for dade e o modo de ruptura do maciço,
o que, consequentemente, influencia na alto, espera-se que as rupturas ocorram confirmando a tendência observada
resistência do maciço, com a rocha sen- segundo estruturas; caso contrário, com nesse trabalho.
5. Referências bibliográficas
ABNT NBR 6508 - Grãos que passam na peneira # 4,8mm, determinação da massa
específica. 1984. 8p.
ASTM D4644 - 08 - Standard test method for slake durability of shales and similar
weak rocks. 1990. 7p.
GÖKCEOLU, C., ULUSAY R., SÖNMEZ, H. Factors affecting the durability of
selected weak and clay-bearing rocks from Turkey, with particular emphasis on
the influence of the number of drying and wetting cycles. Engineering Geology,
v. 57, p. 215-237, 2000.
ISRM. Suggested method for determining water content, porosity, density, absorption
and related properties and swelling and slake durability index properties, 1979,
p. 81-94.
ISRM. Rock characterization testing and monitoring. E.T.Brown, 1981. 211p.