Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
08/11/201207h05
No começo, o que fica no papel são alguns rabiscos sobrepostos em várias camadas. A
mão tenta equilibrar o lápis, ainda sem muita firmeza, e o limite físico da folha é quase
sempre ultrapassado. Tudo é espaço para expressão e não há limites para o
movimento. Uma parede vazia, o assento de um sofá e até o próprio corpo viram lugares
para o registro dos primeiros traços da criança. Se a mãe não ficar de olho, logo o braço
ganha um protótipo de tatuagem ou o tapete, uma pintura abstrata.
Quando dá seus primeiros passos no desenho –que neste momento inicial recebe o nome
de garatuja– a criança está mais interessada no efeito surpreendente que produz ao
passar o lápis sobre o papel do que em representar qualquer coisa. Predomina a
imaginação.
Para Lourdes, os pais também não devem ficar o tempo todo perguntando o significado
do desenho, elogiando-o ou criticando-o. "O ideal é deixar a criança à vontade para criar
o que quiser e, sozinha, manifestar a vontade de falar ou não sobre o resultado com o
adulto".
Evolução
"O desenvolvimento da criança permite que ela faça desenhos que se estruturam
progressivamente de modo mais elaborado. No entanto, o desenvolvimento intelectual e
o físico são condições necessárias à evolução do traço, mas não suficientes, pois, na
falta de oportunidades para desenhar e de orientações adequadas, o desenho fica
estagnado ou estereotipado", diz Rosa Iavelberg, especialista em desenho e professora
da Faculdade de Educação da USP.
De acordo com Teresa Ruas, terapeuta ocupacional especializada em desenvolvimento
infantil, diversos comportamentos expressam aspectos importantes do
desenvolvimento: a forma como a criança pega o lápis, como explora a extensão do
papel, a escolha, a identificação e a nomeação das cores, a designação do que foi
desenhado.
Teresa afirma que não se pode esquecer das influências ambientais e da personalidade
da criança. "Tem aquela que adora desenhar e tem aquela que não gosta muito".
Segundo ela, a preferência ou não pelo desenho não tem um significado, apenas mostra
que cada pessoa é um individuo único e difere da outra em termos de características,
desejos e motivações.
Segundo Rosa, da USP, o desenho permite que ela se manifeste de maneira autoral, crie
realidades e participe de trocas simbólicas com outras crianças e adultos por meio dessa
linguagem.
"Ela aperfeiçoa seus desenhos e pinturas porque cada novo trabalho tem como ponto de
partida as experiências anteriores. Ao mesmo tempo em que se projeta no que cria, a
criança incorpora experiências de participação social por intermédio da sua arte, porque
faz interlocução com quem lê suas produções, com o que produzem seus colegas e, se
tiver oportunidade, com desenhos e pinturas de artistas”, diz Rosa. Quando é estimulada
a desenhar, desenvolve percepção, emoção e inteligência.
Deve-se oferecer à criança contato com materiais bem diversificados. Papéis de várias
texturas, pincéis, lápis e canetas de espessuras diferentes, tintas coloridas, a variedade
estimula novas ideias e perspectivas. A cada oportunidade de testar um novo material,
um novo posicionamento diante da atividade surgirá.
"O potencial de criação que uma criança tem é enorme e ela não tem preconceitos
quando se expressa", declara Soraya Lucato, educadora e artista plástica que trouxe para
o Brasil o Cloliê, método que utiliza a pintura para incentivar a livre expressão.
Normalmente, é o adulto quem diz “não é assim que se faz”, “você pintou o sol de azul,
mas ele é amarelo”, “você esqueceu a porta da casa, toda casa tem porta”. “E se ele não
quiser mesmo colocar a porta no desenho?”, questiona Soraya. "De repente, não é
mesmo para ninguém entrar nessa casa, de repente a entrada é pelo telhado ou por uma
passagem secreta".
Portanto, resista à tentação de impor regras e padrões quando seu filho estiver
exercitando o desenho. Deixe-o o mais livre possível na atividade. "Quem padroniza,
limita. A criança fica feliz quando não é cobrada, diz a socióloga Lourdes. Segundo
Soraya, a partir do momento em que a criança descobre o próprio traço e que é capaz de
fazer coisas sem compromisso estético, além de romper barreiras no desenho, leva isso
para a vida, como experiência.