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Amor Conjugal Emanuel Swedenborg PDF
Amor Conjugal Emanuel Swedenborg PDF
C on j u g a l
(As Delícias da Sabedoria sobre o Amor Conjugal;
em seguida vem as V olúpias da Loucura do Amor
Escortatório)
Emanuel Sw edenborg
Publicado em latim,Amsterdã,1768
1963
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Índice
Preliminares sobre as alegrias do céu e sobre as núpcias no céu ........................................ 3
Dos casamentos no céu................................................................................................... 28
Do estado dos esposos depois da morte ........................................................................... 42
Do amor verdadeiramente conjugal ................................................................................ 53
Da origem do amor conjugal pelo casamento do bem e da verdade ................................. 79
Do casamento do Senhor e da igreja e de sua correspondência ........................................ 97
Do casto e do não-casto ................................................................................................ 114
Da conjunção das almas e das mentes pelo casamento, a qual é entendida por estas
palavras do Senhor: eles não sao mais dois mas uma só carne....................................... 130
Da mudança de estado da vida nos homens e nas mulheres pelo casamento .................. 149
Universais concernentes aos casamentos....................................................................... 165
Das causas das frieza, das separações e dos divórcios nos casamentos........................... 183
Das causas de amor aparente, de amizade aparente e de favor nos casamentos.............. 208
Dos esponsais e das núpcias ......................................................................................... 225
Dos casamentos reiterados............................................................................................ 243
Da poligamia................................................................................................................ 256
Do ciúme...................................................................................................................... 274
Da conjunção do amor conjugal com o amor dos filhos................................................. 291
Da oposição do amor escortatório e do amor conjugal................................................... 313
Da fornicação............................................................................................................... 328
Da concubinagem......................................................................................................... 341
Dos adultérios, de seus gêneros e de seus graus............................................................. 351
Do prazer libidinoso da defloraçao ............................................................................... 369
Do desejo libidinoso de variedades ............................................................................... 373
Do desejo libidinoso da violaçao................................................................................... 376
Do desejo libidinoso de seduzir inocentes ..................................................................... 378
Da correspondência das escortações com a violaçao do casamento espiritual................. 380
Da imputaçao de um e outro amor, o escortatório e o conjugal...................................... 384
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1 - "Prevejo que muitos dos que lerão o que vai seguir, e os M emoráveis
colocados em seguida aos Capítulos, crerão que são invenções da imaginação;
todavia afirmo em verdade que não são coisas inventadas, mas que são coisas
que verdadeiramente aconteceram e foram vistas, não em um certo estado da
mente entorpecida, mas em um estado de plena vigília, pois aprouve ao Senhor
manifestar-Se a mim,e me enviar para ensinar as coisas que devem ser da N ova
Igreja, que é entendida no Apocalipse pela N ova Jerusalém; para isso, Ele abriu
os interiores da minha mente e do meu espírito; por isso me foi dado estar no
M undo Espiritual com os Anjos, e ao mesmo tempo no M undo N atural com
os H omens,e isto agora desde vinte e cinco anos".
2 - U m dia vi sob o Céu O riental um Anjo que voava, tendo na mão e à boca
uma trombeta,e a tocava para o Setentrião,para o O cidente e para o M eio-dia;
estava vestido com uma Clâmide, que pelo vôo flutuava para trás, e estava
cintado com uma faixa que lançava como que chama e luz pelos carbúnculos e
safiras; voava com o corpo inclinado e descia lentamente para a terra perto do
lugar onde eu estava; logo que tocou a terra endireitando-se sobre os pés, foi
para cá e para lá, e então me tendo visto, dirigiu seus passos para mim; eu
estava em espírito; e, nesse estado, permanecia sobre uma colina na Plaga
M eridional; e quando chegou perto de mim, lhe dirigi a palavra, dizendo: "O
que há agora,então? ouvi o som da trombeta,e te vi descer através dos ares". O
Anjo respondeu: Fui enviado para convocar os mais célebres em erudição, os
mais perspicazes em gênio,e os mais eminentes em reputação de sabedoria que,
saídos dos R einos do M undo Cristão, estão sobre a extensão desta terra, a fim
de que se reunam sobre esta colina onde estás, e declarem do fundo do coração
o que no M undo pensaram, compreenderam e apreciaram a respeito da Alegria
Celeste e da Felicidade Eterna. Eis qual foi o motivo da minha missão: alguns
recém-vindos do M undo, tendo sido admitidos em nossa Sociedade Celeste,
que está no O riente, contaram que, em todo o M undo Cristão, não há um
único homem que saiba o que é a Alegria Celeste e a Felicidade Eterna, nem
por conseqüência que é o Céu. M eus irmãos e consociados ficaram
extremamente surpreendidos, e me disseram: Desce, chama e convoca os mais
sábios no M undo dos espíritos onde são a princípio reunidos todos os M ortais
depois de sua saída do M undo N atural, a fim de que, pelo que sair da boca de
um grande número de sábios,fiquemos certos se é uma verdade que há entre os
Cristãos uma tal obscuridade ou uma tal ignorância tenebrosa sobre a vida
futura“. E disse: "Espera um pouco, e verás Coortes de sábios que se dirigem
para aqui; o Senhor preparará para eles uma Sala de Assembléia". Esperei, e eis
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que, depois de uma meia hora, vi duas companhias vindo do Setentrião, duas
do O cidente, e duas do M eio-dia, e à medida que chegavam, eram
introduzidos pelo Anjo da trombeta em uma Sala preparada; e aí tomavam os
lugares que lhes eram designados segundo as plagas. H avia seis T ropas ou
Coortes; tinha vindo do O riente uma sétima que, por causa de sua luz, não era
vista pelas outras. Q uando estavam reunidas, o Anjo expôs o motivo da
convocação, e pediu que as Coortes, segundo sua colocação, manifestassem sua
sabedoria sobre o assunto da Alegria Celeste e da Felicidade Eterna; e então
cada Coorte se formou em círculo; com as faces voltadas para as faces, para se
relembrar este assunto segundo as idéias recebidas no M undo precedente, e
examiná-lo agora, e depois do exame e da deliberação declarar o seu
sentimento.
3 - Depois da deliberação a Primeira Coorte, que era do Setentrião, disse "A
Alegria Celeste e a Felicidade Eterna são um com a vida mesma do Céu, é por
isso que, quem quer que entre no Céu entra quanto à sua vida nas alegrias do
Céu, absolutamente do mesmo modo que aquele que entra em uma sala de
núpcias,entra nas alegrias que aí se desfrutam; o Céu diante de nossa vista, não
está acima de nós, assim, em um lugar? e é lá, e não noutro lugar, que há
felicidade sobre felicidade e volúpias sobre volúpias; o homem é introduzido
nessas delícias quanto a toda percepção da mente e quanto a toda sensação do
corpo segundo a plenitude das alegrias desse lugar, quando é introduzido no
Céu; a felicidade celeste, que é eterna também, não é portanto outra cousa
senão a admissão no Céu, e admissão pela G raça Divina". Depois que a
Primeira Coorte assim falou, a Segunda do Setentrião tirou de sua sabedoria
este sentimento: "A Alegria Celeste e a Felicidade Eterna não são outra cousa
senão R euniões muito alegres com os Anjos e Conversações muito agradáveis
com eles, pelas quais as fisionomias expandidas são mantidas na alegria, e todas
as bocas em risos graciosos, excitadas por palavras agradáveis e assuntos
divertidos; e que poderão ser as alegrias celestes, senão as variedades destes
prazeres durante a eternidade?" A T erceira Coorte, que era a Primeira dos
sábios da Plaga O cidental, se exprimiu assim segundo os pensamentos de suas
afeições:“O que é a Alegria Celeste e a Felicidade Eterna,senão Banquetes com
Abrahão, Isaac e Jacob, em cujas mesas estarão M anjares delicados e
rebuscados, e V inhos generosos e excelentes; e, depois dos repastos, Jogos e
Coros de jovens virgens e de homens jovens dançando ao som de sinfonias e de
flautas entrecortadas por cânticos, melodiosos; e enfim, à noite, representações
teatrais; e, depois destas representações, novos repastos, e assim cada dia,
durante a eternidade". Depois a Q uarta Coorte, que era a Segunda da Plaga
O cidental, enunciou seu sentimento, dizendo: "Examinamos várias idéias a
respeito da Alegria Celeste e da Felicidade Eterna, e exploramos diversas
alegrias e as comparamos entre si, e concluímos que as Alegrias Celestes são
Alegrias Paradisíacas; o Céu é outra cousa mais do que um Paraíso, que se
estende do O riente ao O cidente, e do M eio-dia ao Setentrião? N o meio destas
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árvores e destas flores está a magnífica Arvore da V ida, em torno da qual estão
assentados os bem-aventurados, alimentando-se de frutas de um sabor delicado,
e ornados com grinaldas de flores de um odor muito suave; estas árvores e estas
flores sob a influência de uma primavera perpétua nascem e renascem cada dia
com uma variedade infinita; e por este nascimento e esta floração perpétuas, e
ao mesmo tempo por esta temperatura eternamente primaveril, os espíritos
(animi) continuamente renovados não podem deixar de aspirar e respirar
Alegrias renovadas cada dia, e assim reentrar na flor da idade, e por isso no
estado primitivo, em que Adão e sua esposa foram criados, e por conseqüência
ser recolocados em seu Paraíso, transferido da T erra para o Céu". A Q uinta
Coorte, que era a Primeira dos mais perspicazes em gênio da Plaga M eridional,
se exprimiu assim: "As Alegrias Celestes e a Felicidade Eterna não são outra
cousa senão Dominações sobreeminentes e T esouros imensos, e por
conseguinte uma magnificência mais que real, e um esplendor acima de todo
brilho; que as Alegrias do Céu, e o gozo dessas alegrias, que é a felicidade
eterna, sejam tais, é o que vimos claramente por aqueles que, no M undo
precedente, gozaram dessas vantagens; e, além disso, pelo fato de que os bem-
aventurados no Céu devem reinar com o Senhor, e ser reis e príncipes, porque
são filhos d'Aquele que é o.R ei dos reis e o Senhor dos senhores, e pelo fato de
que estarão sentados em tronos, e os Anjos os servirão. V imos claramente à
magnificência do Céu,pelo fato de que a N ova Jerusalém,pela qual é descrita a
glória do Céu,terá portas,cada uma das quais será uma Pérola, e terá Praças de
ouro puro, e uma M uralha cuja fundação será de pedras preciosas; que por
conseqüência quem quer que tenha sido recebido no Céu tem um Palácio
resplandecente de ouro e cousas de um grande preço, e que a Dominação aí
passa sucessivamente e em ordem de um a outro; e como sabemos que em
semelhantes cousas há alegrias inatas e uma felicidade inerente, e elas são
promessas irrevogáveis de Deus,não podemos tirar de outra parte o estado mais
feliz da vida celeste".Depois desta Coorte, a Sexta, que, era a Segunda da Plaga
M eridional, elevou a voz e disse: "A Alegria do Céu e a Felicidade Eterna não
são outra cousa senão uma perpétua glorificação de Deus, uma festa que dura
eternamente, e um culto de grande beatitude com cantos e gritos de alegria; e
assim uma constante elevação do coração para Deus, com plena confiança na
aceitação das preces e dos louvores por esta Divina munificência de beatitude.
Alguns desta Coorte ajuntaram que esta G lorificação se fará com magníficas
iluminações, com suaves perfumes e pomposas procissões à testa das quais
marcharão, com uma grande T rombeta, o soberano Pontífice, seguido dos
Primazes e Porta-maças, grandes e pequenos, e atrás deles H omens levando
palmas e mulheres tendo estatuetas de ouro nas mãos.
4 - A Sétima Coorte, que não era vista pelas outras por causa de sua luz, era do
O riente do Céu; compunha-se de Anjos da mesma Sociedade a que pertencia o
Anjo da trombeta; tendo sabido em seu Céu que, no M undo Cristão não havia
um único homem que soubesse o que era a Alegria do Céu e a Felicidade
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Eterna, estes Anjos tinham dito entre si: "Isso não pode ser verdade
absolutamente; é impossível que haja entre os cristãos uma tão grande
obscuridade, e um tal embotamento das mentes; desçamos nós também, e
saibamos se é verdade; e, se é a verdade, certamente é um prodígio". Então
estes Anjos disseram ao Anjo da trombeta: "T u sabes que todo homem que
desejou o Céu, e pensou alguma cousa de positivo a respeito das alegrias do
Céu, é introduzido depois da morte nas alegrias de sua imaginação; e que
depois que aprendeu pela experiência o que são essas alegrias, isto é, que são
segundo as vãs idéias de sua mente, e segundo os delírios de sua fantasia, é
afastado delas e instruído; é o que acontece no M undo dos Espíritos à maior
parte daqueles que, na vida precedente meditaram sobre o Céu, e que segundo
certas idéias assentadas a respeito das alegrias celestes, desejaram possuí-las".
Depois de ter ouvido estas palavras, o Anjo da trombeta disse às seis Coortes de
Sábios do M undo Cristão que ele tinha convocado: "Segui-me, e eu vos
introduzirei nas vossas Alegrias, por conseqüência no Céu". Depois de
pronunciar estas palavras, o Anjo seguiu em frente, e, em primeiro lugar, foi
seguido pela Coorte daqueles que se tinham persuadido de que as Alegrias
Celestes eram unicamente reuniões muito alegres e conversações muito
agradáveis. O Anjo os introduziu em Assembléias da Plaga Setentrional, que
não tinham tido, no mundo precedente, outras noções a respeito das Alegrias
do Céu. H avia lá uma Casa espaçosa na qual os que eram assim tinham sido
reunidos; esta Casa tinha mais de cinqüenta salas, distinguidas segundo os
diversos gêneros de palestras; em umas se falava do que se tinha visto e ouvido
nas praças públicas e nas ruas; em outras, se tratava de diversos assuntos
agradáveis sobre o belo sexo, entremeando-os com gracejos, multiplicados ao
ponto de espalhar o riso da alegria sobre todas as faces da Assembléia; em outras
salas, ocupavam-se de N ovidades das Cortes, dos M inistérios, do Estado
político,de diferentes cousas, que tinham transpirado dos Conselhos secretos, e
se faziam raciocínios e conjeturas sobre os acontecimentos; em outras, se falava
do comércio; em outras, de literatura; em outras, do que se relaciona com a
Prudência civil e a V ida moral; em outras, de cousas Eclesiásticas e de Seitas; e
assim por diante. Foi-me dado fazer uma inspeção nesta Casa, e vi pessoas que
corriam de sala em sala, procurando companhia conforme suas afeições e por
conseqüência conforme sua alegria; e, nas companhias, vi três espécies de
pessoas; umas ansiosas por falar, outras desejosas de perguntar, e outras ávidas
de ouvir. H avia quatro portas na Casa, uma para cada Plaga, e notei que
muitos deixavam as companhias e se apressavam para sair; segui alguns deles até
à porta O riental, e vi alguns outros assentados com ar triste perto desta porta;
aproximei-me, e lhes perguntei por que estavam sentados assim tristes, e eles
me responderam: "As portas desta Casa são conservadas fechadas para os que
querem sair; e eis que agora é o terceiro dia desde que entramos aqui; e que
aqui temos vivido, conforme o nosso desejo, em companhias e em
conversações; e estas conversas contínuas nos fatigam de tal modo, que mal
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podemos suportar ouvir o seu próprio burburinho; é por isso que levados pelo
enfado, viemos para esta porta, e temos, batido; mas nos responderam: "As
portas desta Casa se abrem, não para os que querem sair, mas para os que
querem entrar; ficai e gozai as alegrias do Céu"!Por estas respostas, concluímos
que ficaremos aqui eternamente; desde esse momento a tristeza se apoderou de
nossas mentes, e agora o nosso peito começa a se cerrar, e a ansiedade a se
apoderar de nós". Então o Anjo tomou a palavra e lhes disse: "Este estado é a
morte de vossas alegrias que acreditastes serem unicamente celestes, quando
entretanto não são mais do que acessórios das alegrias celestes". E eles disseram
ao Anjo: “O que é então a Alegria Celeste?" E o Anjo respondeu em poucas
palavras: "É o prazer de fazer alguma cousa que seja útil a si mesmo e aos
outros; e o prazer do uso tira do Amor a sua essência, e da Sabedoria a sua
existência; o prazer do uso que tira sua origem do Amor pela Sabedoria é a
alma e a vida de todas as Alegrias Celestes. H á nos Céus R euniões muito
agradáveis, que alegram as mentes dos Anjos, divertem suas mentes exteriores
(animi), deleitam seus corações, e recreiam seus corpos; mas não as gozam
senão depois de terem feito usos em suas funções e em suas obras, por isto há
alma e vida em todas as suas alegrias e em todos os seus divertimentos; mas que
se tire esta alma ou esta vida, e as alegrias acessórias deixam progressivamente
de ser alegrias, e se tornam a princípio indiferentes, e em seguida como nada, e
por fim não são mais que tristezas e ansiedades". Depois que ele assim falou, a
porta se abriu, e os que estavam sentados perto dela saíram precipitadamente; e
fugiram para suas casas, indo cada um para sua função e seu trabalho; e foram
aliviados.
6 - Em seguida o Anjo se dirigiu aos que se tinham formado da Alegria do Céu
e da Felicidade Eterna esta idéia, que eram Banquetes com Abrahão, Isaac e
Jacob; e, depois das refeições, jogos e espetáculos, e de novo refeições, e assim
durante a eternidade; e lhes disse: "Segui-me e eu vos introduzirei nas
felicidades de vossas alegrias". E os fez entrar, através de um bosque, em um
campo coberto por um estrado, sobre o qual haviam colocado mesas, quinze de
um lado e quinze do outro; e eles perguntaram: "Por que tantas mesas?" e o
Anjo respondeu: "A primeira mesa é a de Abrahão; a segunda, a de Isaac; a
terceira,a de Jacob; e perto destas estão em ordem as mesas dos doze Apóstolos;
do outro lado estão outras tantas mesas para suas esposas, as três primeiras são
as de Sarah esposa de Abrahão, de R ebeca esposa de Isaac, e Leah e R achel
esposas, de Jacob; e as outras doze, as das esposas dos doze apóstolos". Alguns
instantes depois, todas as mesas apareceram cobertas de iguarias e os pequenos
espaços, entre os pratos, ornados de pequenas pirâmides carregadas de toda
espécie de doces. O s que deviam tomar parte no banquete estavam em pé, em
torno das mesas, na expectativa de verem chegar os seus Presidentes; depois de
alguns momentos de espera, foram vistos entrar em ordem de marcha desde
Abrahão até ao último dos Apóstolos; e em seguida cada um deles, se
aproximou de sua mesa, colocando-se à cabeceira sobre um leito; e daí,
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seguiram com sua Coorte; e no caminho o Anjo lhes ensinou o que é a Alegria
Celeste e por conseguinte a Felicidade Eterna. "N ão são as delícias paradisíacas
externas, a não ser que haja ao mesmo tempo Delícias Paradisíacas internas; as
delícias paradisíacas externas são unicamente dos sentidos do corpo, mas as
delícias paradisíacas internas são delícias,das afeições da alma; se estas não estão
naquelas, não há vida celeste, porque não há alma nas delícias externas; e toda
delícia sem sua alma correspondente definha e se entorpece pela continuidade,
e fatiga, mais que o trabalho, a mente exterior (animus). N os Céus há por toda
parte jardins paradisíacos, e os Anjos ai encontram também alegrias, e quanto
mais aí colocam a delícia da alma, tanto mais estas alegrias são para eles
alegrias".A essas palavras todos perguntaram o que é a delícia da alma, e donde
vem; o Anjo respondeu: "A delícia da alma vem do amor e da sabedoria
procedentes do Senhor,e como é este amor que age, e age pela sabedoria, é por
isso que a sede de um e da outra está na ação, e a ação é o uso; esta delícia
influi do Senhor na alma, e desce pelos superiores e pelos inferiores da mente a
todas as cousas do corpo, e aí se completa; daí a alegria tornar-se alegria, e
torna-se eterna pelo Eterno de Q ue procede. V istes, Jardins Paradisíacos, e eu
vos asseguro que neles não há a menor cousa, nem mesmo a menor folha, que
não provenha do casamento do amor e da sabedoria no uso; se portanto, o
homem está neste casamento,está no Paraíso Celeste,e assim no Céu.
9 - Em seguida o Anjo condutor voltou à Casa para junto dos que se tinham
firmemente persuadido de que a Alegria Celeste e a Felicidade Eterna são uma
perpétua G lorificação de Deus e uma Festa que dura toda a eternidade; e isso
porque no M undo tinham crido que então veriam a Deus, e porque a vida do
Céu,por causa do culto a Deus, é chamada um Sabbath perpétuo. O Anjo lhes
disse: "Segui-me, e eu vos introduzirei em vossa alegria". E os fez entrar em
uma cidadezinha, no meio da qual havia um T emplo, e cujas casas eram todas
denominadas casas sagradas. N esta cidade, viram uma afluência de espíritos de
todos os quadrantes da região circunvizinha, e entre eles um grande número de
Padres que recebiam os que chegavam,saudavam-nos e lhes apertavam as mãos,
os conduziam às portas do T emplo, e de lá para algumas moradas sagradas em
torno do T emplo, e os iniciavam no culto contínuo de Deus, dizendo: "Esta
Cidade é o vestíbulo do Céu, e o T emplo desta cidade é a entrada para o
magnífico e vastíssimo T emplo, que está no Céu, onde Deus é glorificado
durante a eternidade pelas preces e os louvores dos Anjos; as ordenanças, aqui e
no Céu,são que é preciso primeiro entrar no T emplo, e aí permanecer três dias
e três noites; e depois desta iniciação, é preciso entrar nas casas desta cidade,
que são outras tantas moradas santificadas para nós, e passar de uma para a
outra; e aí, em comunhão com os que nelas estão reunidos, orar, exclamar em
altas vozes, e recitar orações; tende muito cuidado de não pensar em vós
mesmos e de não dizer aos vossos consociados senão cousas santas, piedosas e
religiosas". O Anjo introduziu portanto a sua coorte no T emplo; ele estava
cheio com uma multidão muito compacta, composta de muita gente que no
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M undo tinha estado em grande dignidade,e também com muita gente do povo
miúdo; e tinham sido colocados guardas nas portas, a fim de que não fosse
permitido a pessoa alguma sair antes de ter ficado aí três dias; e o Anjo disse:
"Faz agora dois dias que estes entraram; examinai-os, e vereis como eles
glorificam a Deus".E eles os examinaram e viram a maior parte dormindo, e os
que estavam acordados não cessavam de bocejar; alguns tendo, por uma
contínua elevação de seus pensamentos para Deus, sem nenhuma volta ao
corpo, a face como que separada do corpo, pois apareciam assim a eles mesmos
e por conseguinte também aos outros; outros tendo olhares esgazeados à força
de voltá-los continuamente para cima; em uma palavra, tendo todos o coração
cerrado e o espírito abatido pelo tédio,e se afastavam do púlpito e exclamavam:
"O s nossos ouvidos estão aturdidos; acabai esses sermões, não ouvimos mais
nenhuma palavra, e o som da vossa voz se nos tornou fastidioso". E então se
levantaram e correram em massa para as portas,forçando-as e se lançaram sobre
os guardas e os expulsaram. O s Padres vendo isso, os seguiram e se puseram ao
lado deles, pregando e pregando, orando, suspirando dizendo: "Celebrai a
Festa, glorificai a Deus, santificai-vos; neste vestíbulo do Céu, nós vos
iniciaremos na G lorificação eterna de Deus no magnífico e vastíssimo T emplo
que está no Céu, e assim no gozo da felicidade eterna". M as eles não
compreendiam estas palavras, e mal as ouviam, por causa do abatimento da
mente pela suspensão e pela cessação, durante dois dias de todas as atividades
domésticas e públicas. Entretanto, como eles se esforçavam por escapar aos
padres, os padres os agarravam pelos braços, e também pelas roupas, os
empurravam para as moradas sagradas onde os sermões deviam ser pregados;
mas era em vão, e gritavam: "Deixem-nos, sentimos no corpo como que um
desfalecimento".N esse instante,eis que apareceram quatro H omens vestidos de
branco e com tiaras; um deles tinha sido Arcebispo no M undo, e os outros três
tinham sido Bispos; tinham se tornado Anjos; chamaram os Padres; e,
dirigindo-lhes a palavra, disseram: "N ós vos vimos do Céu com estas ovelhas;
como as apascentais? V ós as apascentais até enlouquecê-las; não sabeis o que é
entendido pela glorificação de Deus; é entendido produzir frutos de amor, isto
é, fazer fielmente, sinceramente e cuidadosamente o trabalho de sua função,
pois isto pertence ao amor de Deus e ao amor do próximo, e isto é o liame da
sociedade e o bem da sociedade; por isto Deus é glorificado, e o é então pelo
culto que se lhe presta em tempos determinados; não lestes estas palavras do
Senhor: "N isto é G lorificado meu Pai, que deis muito fruto, e que vos torneis
meus discípulos? (João, X V , 8)". V ós, Padres, podeis estar na glorificação do
Culto, porque é a vossa função, e nela encontrais honra, glória e remuneração;
mas vós, entretanto, não poderíeis estar, mais do que eles, nesta glorificação, se
ao mesmo tempo com vossa função não houvesse honra,glória e remuneração".
Depois de ter assim falado, os Bispos ordenaram aos guardas da porta que
deixassem cada um entrar e sair; há, com efeito, uma multidão de homens que
não pensou em uma alegria Celeste que não fosse o culto perpétuo de Deus,
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"A idéia do Céu era constantemente para mim uma idéia de lugar e não do
amor; é por isso que, quando cheguei a este mundo, desejei com vivo ardor o
Céu; e vi espíritos que subiam, e eu os segui, e fui admitido, mas não além de
alguns passos; ora, quando quis alegrar minha mente (animus) com a idéia das
alegrias e das beatitudes celestes, pela luz do Céu, que era branca como a neve,
e cuja essência se diz ser a sabedoria, a minha mente foi tomada de estupor e
por conseqüência os meus olhos foram cobertos de obscuridade, e eu comecei a
ficar insensato; e em breve, pelo calor do Céu, que correspondia à brancura
resplandecente desta luz, e cuja essência se diz ser o amor, meu coração
palpitou, a ansiedade se apoderou de mim, e fiquei atormentado por uma dor
interior, e me lancei por terra, estendido sobre o dorso; e, enquanto estava
assim deitado, um guarda veio da Corte com a ordem de me fazer transportar
docemente para a minha luz e o meu calor; quando para aí voltei, o meu
espírito e o meu coração me voltaram". O Q uarto disse: "Eu também, a
respeito do Céu, estava na idéia do lugar e não da idéia do amor, e desde que
cheguei ao M undo espiritual, perguntei aos sábios se era permitido subir ao
Céu; eles me disseram que isso era permitido a cada um, que era preciso tomar
cuidado para não ser expulso; esta resposta me fez rir, e eu subi, acreditando,
eu como os outros, que todos no M undo inteiro podem receber as alegrias do
Céu em sua plenitude; mas com efeito desde que entrei me achei quase sem
vida, e não podendo suportar a dor e o tormento que sentia na cabeça e no
corpo, me lancei por terra, e rolava como uma serpente aproximada do fogo, e
rastejei até a um precipício e me lancei nele; e em seguida fui levantado pelos
que estavam em baixo, e levado para uma hospedaria, onde a saúde me foi
restabelecida". O s cinco outros contaram também cousas admiráveis que lhes
tinham acontecido quando subiram ao Céu; e comparavam as mudanças de
estado de sua vida com o estado dos peixes tirados da água para o ar, e com o
estado dos pássaros no éter; e disseram que depois dessas duras provas não
tinham mais desejado o Céu, mas unicamente uma vida conforme à dos seus
semelhantes, em qualquer lugar que fosse; acrescentaram: "Sabemos que no
M undo dos espíritos, onde estamos, todos são preparados, primeiro, os bons
para o Céu e os maus para o Inferno; e que, quando estão preparados vêem os
caminhos abertos para eles em direção às Sociedades de seus semelhantes, com
os quais devem permanecer durante a eternidade; e que então entram nesses
caminhos com prazer, porque são os caminhos do seu amor". T odos os da
primeira Convocação, ouvindo estas declarações, confessaram também que não
tinham tido igualmente outra idéia do Céu senão como de um lugar, onde se
saboreia de boca cheia durante toda eternidade alegrias de que se é inundado.
Em seguida o Anjo da trombeta lhes disse:"V edes agora que as Alegrias do Céu
e a Felicidade eterna não pertencem ao lugar, mas pertencem ao estado de vida
do homem; ora o estado da vida celeste vem do amor e da sabedoria; e como o
uso é o continente de um e da outra,o estado da vida celeste vem da conjunção
do amor e da sabedoria no uso; é o mesmo se se disser da Caridade, da Fé e da
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seis altas colunas de pedra lazuli, o teto (era) de lâminas de ouro, (tinha) altas
janelas de um cristal extremamente transparente, as suas esquadrias (eram)
também de ouro. Em seguida, foram introduzidos no interior do Palácio, e
conduzidos de apartamento em apartamento; e viram ornamentos de uma
beleza inefável; nos tetos (havia) decorações de uma cinzeladura inimitável;
perto das paredes, (havia) mesas de prata damasquinada de ouro, sobre as quais
estavam diversos utensílios de pedras preciosas e de pérolas finas em formas
celestes; e muitas outras cousas que ninguém viu sobre a terra, e as quais, em
conseqüência, ninguém podia acreditar que existissem no Céu. Como a vista
destes objetos magníficos lhes produzia admiração, o Anjo lhes disse: "N ão,
fiqueis surpreendidos; os objetos que vistes não são feitos nem fabricados pela
mão dos Anjos, mas são compostos pelo Artífice do U niverso, e dados de
presente a nosso Príncipe; é por isso que aqui a Arte arquitetônica está em sua
arte mesma, e dela são derivadas todas as regras desta arte no M undo". O Anjo
acrescentou: "Poderíeis presumir que tais cousas encantam os nossos olhos e os
deslumbram a ponto de nos fazer crer que estão nelas as alegrias do nosso Céu;
mas como não pomos os nossos corações unicamente nessas cousas, pois elas
são acessórios para as alegrias de nossos corações, resulta que quanto mais as
contemplamos como acessórios, e como obras de Deus, tanto mais
contemplamos nelas a Divina O nipotência e a Divina Clemência".
13 - Em seguida o Anjo lhes disse: "Ainda não é M eio-dia, vinde comigo ao
Jardim de nosso Príncipe, ele é contíguo a este Palácio". E eles foram, e na
entrada ele lhes disse: "Eis um Jardim mais magnífico do que os outros jardins
desta Sociedade Celeste". E eles responderam: "Q ue dizes? N ão há aqui um
jardim,nós só vemos uma única Arvore, e em seus galhos e em seu cimo frutos
de ouro e como que folhas de prata, e seus bordos ornados de esmeraldas; e sob
esta Arvore crianças com suas amas". Então o Anjo disse com uma voz
inspirada: "Esta Arvore está no meio do Jardim, e é chamada por nós a Arvore
de nosso Céu, e por alguns a Arvore da vida. M as avançai e aproximai-vos, e
vossos olhos serão abertos, e vereis o Jardim". E fizeram assim; e seus olhos
foram abertos, e eles viam Amores carregadas de frutos saborosos, cercadas de
vinhas com seus cachos, cujas extremidades se inclinavam com seus frutos para
a Arvore da vida que estava no meio. Estas árvores estavam plantadas em uma
série contínua, que partia e se prolongava em curvas ou voltas contínuas como
os de uma hélice sem fim; era uma H élice perfeita de árvores, na qual as
espécies seguiam as espécies sem interrupção segundo a excelência dos frutos; o
começo da formação das voltas era separado da Arvore do meio por um
intervalo considerável,e o intervalo brilhava com um clarão de luz, pelo qual as
árvores da volta resplandeciam com um esplendor sucessivo e contínuo desde as
primeiras às últimas; as primeiras destas árvores eram as mais excelentes de
todas, abundantemente carregadas dos melhores frutos; eram chamadas árvores
paradisíacas; e não se viu delas em parte alguma, porque não há e não pode
haver delas nas terras do M undo natural; e em seguida a estas árvores, estavam
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ser traçadas por nenhuma arte, nem descritas por nenhuma expressão; as
travessas e os pratos eram de prata, cinzelada em formas semelhantes nos
bordos e nos fundos, com seus suportes; as taças eram pedras preciosas
transparentes; tal era a coberta da mesa.
15 - O ra, eis qual era a vestimenta do Príncipe e de seus M inistros: o Príncipe
estava vestido com um hábito comprido cor de púrpura, recamado de estrelas
bordadas cor de prata; sob o hábito, trazia uma túnica de seda brilhante cor de
jacinto; esta túnica era aberta no peito, onde se via a parte anterior de uma
espécie de cinto com a Insígnia de sua Sociedade; a Insígnia era uma Á guia
cobrindo seus filhotes no cimo de uma árvore; era de ouro brilhante, cercada
de diamantes. O s Conselheiros Assistentes não estavam vestidos de outro
modo, mas sem esta Insígnia, em lugar dela tinham safiras gravadas que
pendiam de um colar de ouro no seu pescoço. O s cortesãos tinham hábitos de
cor castanho-claro, sobre os quais havia em relevo flores em torno de aguietas;
as túnicas sob estes hábitos eram de seda cor de opala; da mesma eram também
as vestes que cobriam as coxas e as pernas.T al era seu Costume.
16 - O s Conselheiros Assistentes, os Conselheiros Camaristas e os
G overnadores ficaram em pé, em torno da mesa, e à ordem do Príncipe
juntaram as mãos, e pronunciaram ao mesmo tempo em voz baixa um louvor
votivo ao Senhor; e em seguida, a um sinal do Príncipe, se puseram à mesa em
leitos; e o Príncipe disse aos recém-vindos: "Ponde-vos à mesa também,
comigo; eis, aí estão os vossos lugares". E eles se puseram à mesa; e oficiais da
corte, enviados de antemão pelo Príncipe para os servir, mantinham-se em pé
atrás deles; e então o Príncipe lhes disse: "T omai cada um o prato de cima de
seu suporte, e em seguida cada um prato junto da Pirâmide". E eles os
tomaram; e eis que em seguida novos pratos e novos pratos fundos foram vistos
substituindo-os, e suas taças estavam cheias com o vinho da fonte que jorrava
da grande Pirâmide; e comeram e beberam. Q uando estavam meio saciados, o
Príncipe dirigiu a Palavra aos dez convidados, e disse: "Fui informado de que
na terra, que está sob este Céu, fostes convocados para conhecer os vossos
pensamentos sobre as Alegrias do Céu, e sobre a Felicidade eterna que elas
produzem, e vós os havíeis manifestado de diferentes maneiras, cada um
segundo os prazeres dos sentidos do seu corpo.M as,e o que são os prazeres dos
sentidos do corpo sem os prazeres da alma? É a alma que faz que eles sejam
prazeres; os prazeres da alma sã , o em si mesmos beatitudes não perceptíveis,
mas se tornam cada vez mais perceptíveis conforme descem nos pensamentos
da mente, e por estes pensamentos nas sensações do corpo; nos pensamentos da
mente, são percebidas como felicidade, nas sensações do corpo como
divertimento,e no corpo mesmo como volúpias; e outras tomadas em conjunto
constituem a Felicidade eterna; mas esta Felicidade que não resulta senão das
últimas, sós, não é eterna, é uma felicidade temporária que acaba e passa, e que
por vezes se torna infelicidade. V istes agora que todas as vossas alegrias são
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também alegrias do Céu, e muito acima do que jamais pudestes imaginar; mas
não obstante estas alegrias não afetam interiormente as nossas mentes (animi)
H á três coisas que influem como uma só do Senhor em nossas almas; estas três
cousas como uma só, ou este trino são o amor, a sabedoria e o uso; todavia, o
amor, e a sabedoria não existem senão de uma maneira ideal, quando não estão
senão na afeição e no pensamento da mente; mas no uso eles existem em
realidade, porque estão ao mesmo tempo no ato e na obra do corpo; e onde
existem em realidade, aí também subsistem; e pois que o amor e a sabedoria
existem e subsistem no uso, é o uso que nos afeta, e o uso consiste em executar
fielmente, e, sinceramente, e cuidadosamente os trabalhos de sua função; o
amor do uso, e por conseguinte a aplicação do uso, impede a mente de se
espalhar por aqui e por ali, de errar vagamente, e de se encher de todas as
cobiças que influem do corpo e do mundo pelos sentidos com atrativos
sedutores, e pelas quais os veros da R eligião e os veros da M oral com seus bens
são dissipados a todos os ventos; mas a aplicação da mente ao uso contêm e liga
em conjunto estes veros,e dispõe a mente em uma forma susceptível de receber
a sabedoria por estes veros; e então expulsa para os lados os brinquedos e os
divertimentos das falsidades e das vaidades. M as aprendereis mais sobre este
assunto com os sábios de nossa Sociedade, que vos enviarei esta tarde". O
Príncipe tendo assim falado se levantou, e com ele todos os convivas, e disse:
"Paz!" e deu ordem ao Anjo, seu condutor, que os levasse aos seus
apartamentos,e lhes prestasse todas as honras da civilidade, e chamasse também
homens polidos e afáveis para os entreter agradavelmente sobre diferentes
alegrias desta sociedade.
17 - Q uando entraram esta ordem foi executada; e os que tinham sido
chamados da cidade,para os entreter agradavelmente sobre as diferentes alegrias
da Sociedade, chegaram, e após as saudações, tiveram com eles agradáveis
conversações, em quanto passeavam; mas o Anjo, seu condutor, disse: "Estes
dez homens foram convidados ao nosso Céu, para ver as suas Alegrias, e por
conseguinte receber uma nova idéia da Felicidade eterna; falai-lhes portanto
sobre as alegrias deste Céu, alguma cousa que afete aos sentidos do corpo;
depois virão Sábios que falarão do que faz com que estas alegrias produzam
satisfação e felicidade". A estas palavras, os que tinham sido chamados da
cidade relataram as particularidades seguintes: "1. H á aqui dias de festa
indicados pelo Príncipe, a fim de que as mentes (animi) se refaçam da fadiga
que o ardor da emulação terá causado a alguns; nesses dias há nas praças
públicas Concertos de harmonia musical e de cantos, e fora da cidade jogos e
espetáculos; então nas Praças públicas são instaladas O rquestras cercadas de
grades formadas; com cepas entrelaçadas de que pendem cachos de uvas; no
interior dessas grades sobre três ordens de elevação estão sentados os músicos
com instrumentos de cordas, e com instrumentos de sopro, de sons diversos,
altos e baixos, fortes e suaves, e dos lados estão os Cantores e as Cantoras, e
recreiam os cidadãos com árias e cantos muito agradáveis, em coro e em solo,
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variados por intervalos quanto às espécies; isto dura nestes dias de festa desde a
manhã até ao meio-dia, e continua depois do meio-dia até à tarde. 2. Além
disso cada manhã, das casas que cercam as Praças, ouve-se Cantos muito suaves
de virgens e de meninos; toda a cidade vibra com eles; é uma única afeição do
amor espiritual que é cantado em cada manhã, isto é, que ressoa pelas
modificações do som da voz ou pelas modulações; e esta afeição no canto é
percebida como se fosse a afeição mesma; ela influi nas almas dos que a ouvem
e excita estas almas à correspondência, tal é o canto celeste; as cantoras dizem
que o som de seu canto parece se inspirar e se animar do interior, e se exaltar
agradavelmente a medida que é recebido por aqueles que o ouvem. Acabado
este canto, as janelas das casas da Praça, e ao mesmo tempo as das casas das
ruas,são fechadas, e as portas também; e então toda a cidade fica em silêncio, e
em parte alguma ouve-se barulho, e não se vê pessoa alguma indo de cá para lá;
todos então estão ocupados no desempenho das funções do seu estado. 3. M as
ao meio-dia as portas são abertas, e depois do meio-dia, em alguns lugares, as
janelas o são também; e se olha os brinquedos das crianças dos dois sexos nas
ruas, sob a direção de suas amas e de seus professores sentados sob os pórticos
das casas. 4. Aos lados da cidade, nas suas extremidades, há diferentes jogos de
rapazes e de adolescentes, jogos de corridas, jogos de bola, jogos de raquetes,
exercícios públicos entre rapazes, a saber, quem será mais veloz, e quem será
mais lento, em falar em agir, e em perceber, e para os mais velozes algumas
folhas de louro como prêmio, além de vários outros jogos próprios para
exercitar as aptidões ocultas nas crianças. 5. Além disso, fora da cidade, em
teatros há espetáculos de comediantes que representam diversos feitos de
honestidade e de virtude na vida moral; entre eles há também histriões por
causa das relações". E um dos dez perguntou o que significavam estas palavras:
Por causa das relações; e eles responderam: "N enhuma virtude pode ser
apresentada de maneira frisante com o que tem de honesto e de belo, senão por
(meio de) relativos desde seus máxima até seus mínima; os histriões
representam seus mínima até que se tornem nulos; mas lhes é proibido por
uma lei,apresentar a não ser de uma maneira figurada e como de longe; alguma
cousa do oposto, que é chamado desonesto e indecente; se isso foi proibido, é
porque nada de honesto e de bom de uma virtude qualquer passa por graus
sucessivos ao desonesto e ao mau; mas vai unicamente a seus mínima até que
isso pereça e quando isso perece o oposto começa; é por isso que o Céu, onde
tudo é honesto e bom, nada tem de comum com o Inferno, onde tudo é
desonesto e mau".
18 - Durante esta conversa acorreu um servidor e anunciou que oito Sábios se
apresentavam por ordem do Príncipe e queriam entrar; a essa notícia o Anjo
saiu, e os recebeu e os introduziu; e em seguida os Sábios, após as fórmulas de
cordialidade e polidez, falaram a princípio dos começos e dos acréscimos da
sabedoria, aos quais entremearam diversas cousas sobre sua duração, dizendo
que nos anjos a sabedoria não tem fim e não descontinua, mas cresce e
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não é inspirado.
24 - Q uando estavam reunidos, o Sacerdote subiu em um púlpito e
pronunciou um discurso cheio do espírito de sabedoria; esse discurso tratava da
Santidade da Escritura Santa, e da conjunção do Senhor com um e outro
M undo, o Espiritual e o N atural, por esta Escritura; na ilustração em que
estava, ele convenceu plenamente que este Livro Santo foi ditado por Jehovah,
o Senhor,e que por conseqüência Ele M esmo está nesse Livro,de tal modo que
Ele M esmo é aí a Sabedoria, mas que a Sabedoria que é o Senhor M esmo nesse
Livro, fica escondida sob o sentido da letra, e não se manifesta senão aos que
estão nos veros da doutrina e ao mesmo tempo nos bens da vida, e assim, que
estão no Senhor e em quem o Senhor está; a esse discurso ele acrescentou uma
prece votiva, e desceu. Enquanto os ouvintes saíam, o Anjo pediu ao Sacerdote
para dizer algumas palavras de paz a seus dez companheiros; e este se
aproximou deles, e conversaram durante uma meia hora; e lhes falou da
T rindade Divina, dizendo-lhes que ela está em Jesus Cristo, em quem habita
corporalmente toda a Plenitude da Divindade, conforme à declaração do
Apóstolo Paulo; e em seguida lhes falou da U nião da Caridade e da Fé; disse,
porém,"a U nião da Caridade e da V erdade" porque a Fé é a V erdade.
25 - Depois de ter agradecido, eles voltaram para casa; e o Anjo lhes disse:
"H oje é o terceiro dia depois que subistes a esta sociedade deste Céu, e fostes
preparados pelo Senhor para ficar aqui três dias, é por conseguinte tempo de
nos separarmos; assim' tirai as vestimentas que vos foram enviadas pelo
Príncipe,e retomai as vossas".E quando as retomaram,foram inspirados com o
desejo de se retirar, e se retiraram e desceram, acompanhados pelo Anjo, até ao
lugar da assembléia, e aí, deram graças ao Senhor por se ter dignado torná-los
felizes, fazendo-os conhecer, e por conseguinte compreender, o que são as
Alegrias do Céu e o que é a Felicidade eterna.
26 - "De novo afirmo em verdade, que estas cousas aconteceram e foram ditas,
como acaba de ser relatado; as primeiras, no M undo dos Espíritos, que fica no
meio entre o Céu e o Inferno, e as seguintes, na Sociedade do Céu, a que
pertencia o Anjo da trombeta, que serviu de condutor. Q uem teria sabido no
M undo Cristão alguma cousa sobre o Céu, e sobre as Alegrias e a Felicidade
que lá estão, cuja ciência é também a ciência da salvação, se não aprouvesse ao
Senhor abrir à alguém a V ista de seu espírito, e lhe mostrar e ensinar? Q ue
cousas semelhantes existem no M undo espiritual, isso é bem evidente pelas que
foram vistas e ouvidas pelo Apóstolo João, as quais foram descritas no
Apocalipse se; assim, ele viu o Filho do H omem no meio de sete Candelabros,
um T abernáculo, um T emplo, uma Arca, um Altar no Céu; um Livro selado
com sete selos, este livro aberto e Cavalos que saíam dele; quatro animais em
torno de um T rono; doze mil eleitos de cada T ribo; gafanhotos que subiam do
abismo; um Dragão e seu combate contra M iguel; uma M ulher que deu à luz
um Filho homem, e que fugiu para o deserto por causa do Dragão; duas bestas
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subindo, uma do mar, a outra da terra; uma M ulher sentada sobre uma B esta
escarlate; o Dragão lançado em um tanque de fogo e enxofre; um Cavalo
branco, e uma grande Ceia; um N ovo Céu e uma N ova T erra, e a Santa
Jerusalém descendo do Céu, descrita quanto a suas portas, à sua muralha e aos
fundamentos de sua muralha; depois um R io de água da vida,e Arvores de vida
que davam fruto cada mês; além de várias cousas que foram todas vistas por
João, e vistas enquanto ele estava, quanto a seu espírito, no M undo espiritual e
no Céu; além das que foram vistas pelos Apóstolos depois da ressurreição do
Senhor, e das que foram vistas em seguida por Pedro (Atos dos Apóst. X I);
depois,as que foram vistas e ouvidas por Paulo. Além disso, as que foram vistas
pelos Profetas; por exemplo: Ezequiel viu quatro Animais, que eram
Q uerubins, (Cap. I e X ); um N ovo T emplo e uma nova T erra, e um Anjo que
os media, (Cap. X L-X LV III); ele foi transportado a Jerusalém, e viu aí
abominações; e foi também transportado à Caldéia, no cativeiro, (Cap. V III e
X I). A mesma cousa aconteceu a Z acarias; ele viu um H omem a cavalo entre
murtas, (Cap. 1, 8 e seg.); viu quatro cornos, (Cap. I, 18); e em seguida um
H omem com um cordel de medir à mão, (Cap. II, 2); viu um Candelabro e
duas oliveiras, (Cap. IV , 1 e seg.); viu um R olo que voava e um Éfode, (V , 1 e
6); viu quatro Carros saindo dentre duas montanhas, e Cavalos, (V I, 1 e seg.).
Deu-se o mesmo com Daniel; viu quatro B estas subindo do mar, (V II, 1 e
seg.); depois,os combates,de um Carneiro e de um Bode,(V III, 11 e seg.); viu
o Anjo G abriel, e teve com ele uma longa conversa, (IX ) . O servo de Eliseu
viu Carros e Cavalos de fogo em torno de Eliseu, e os viu quando seus olhos
foram abertos, (II R eis V I, 17). Por estes exemplos e vários outros que estão na
Palavra, é constante que as cousas que existem no M undo Espiritual
apareceram a vários antes e depois do advento do Senhor; que há portanto de
admirar que elas apareçam ainda no presente quando a igreja começa, ou a
N ova Jerusalém descendo do Senhor pelo céu.
28
27 - Q ue nos Céus haja Casamentos é o que não pode entrar na fé dos que
imaginam que o homem depois da morte é uma Alma ou um Espírito, e não
concebem uma Alma ou um Espírito senão como um éter ou sopro leve; que
imaginam também que o homem não viverá como homem senão depois do
Julgamento Final; e que, em geral, nada sabem do M undo Espiritual, no qual
estão os Anjos e os Espíritos, assim, onde estão os Céus e os infernos; e como
este M undo é desconhecido, e se ignora completamente que os Anjos do Céu
são H omens em uma forma perfeita, e semelhantemente os Espíritos Infernais,
mas em uma forma imperfeita, é por isso que não pode ser revelada cousa
alguma sobre os Casamentos no M undo Espiritual; com efeito, ter-se-ia dito:
"Como uma alma pode ser conjunta com uma alma, ou um sopro com um
sopro como um esposo com uma esposa sobre a terra?" Sem falar de várias
outras objeções que, no momento em que fossem feitas, tirariam e dissipariam
a crença nos Casamentos na outra vida. M as agora que várias cousas foram
reveladas sobre esse M undo, e que Ele, também, foi descrito tal qual é, o que
foi feito no T ratado "do Céu e do Inferno” e também no "Apocalipse
R evelado”,a afirmação de que há, lá, Casamentos pode ser confirmada, mesmo
diante da razão, pelas proposições seguintes: I. O H omem vive H omem depois
da morte.II.Então o M asculino é M asculino,e o Feminino é Feminino.III.O
Amor de cada um permanece depois da M orte. IV . E principalmente o Amor
do sexo; e, nos que vão para o Céu, isto é, nos que nas terras se tornaram
espirituais, o Amor Conjugal. V . Estas cousas confirmadas por demonstração
ocular. V I. Por conseqüência há casamentos nos Céus. V II. As N úpcias
Espirituais são entendidas por estas palavras do Senhor, que após a ressurreição
não se é dado em casamento. Estas proposições vão ser agora explicadas em sua
ordem.
28 - 1. O H omem vive H omem depois da morte. Q ue o homem vive homem
depois da morte,ignorou-se isso no M undo até ao presente, pelas razões de que
se acaba de falar; e o que é de admirar, ignorou-se mesmo no M undo Cristão,
onde há a Palavra, e por conseqüência ilustração a respeito da vida eterna, e
onde o Senhor M esmo ensina que "todos os mortos ressuscitarão, e que Deus
não é Deus de mortos, mas de vivos". (M ateus X X II, 31 e 32; Lucas X X , 37 e
38). Além disso quanto às afeições e aos pensamentos de seu mental, o homem
está no meio de anjos e de espíritos e foi de tal modo consociado a eles,que não
pode ser separado deles sem morrer imediatamente. E ainda é mais de admirar
que se ignore isso, quando entre tanto todo homem, que morreu desde a
29
primeira criação foi e vai depois de sua morte para os seus, ou, como se diz na
Palavra, foi recolhido para os seus; e além disso, o homem tem uma percepção
comum, que é a mesma cousa que o influxo do Céu nos interiores de sua
mente pelo qual percebe interiormente em si mesmo os veros e por assim dizer
os vê, principalmente este vero que o homem vive depois da morte, feliz se
bem viveu,e infeliz se viveu mal.Com efeito,quem é que não pensa assim, por
pouco que eleve a mente acima do corpo e do pensamento mais próximo dos
sentidos do corpo, o que acontece quando está interiormente no Culto Divino,
e quando está estendido moribundo em seu leito e espera o último momento;
semelhantemente quando ouve falar dos que estão mortos e de sua sorte?
Contei sobre estes milhares de cousas; por exemplo, disse a certas pessoas qual
era a sorte de seus irmãos, de seus cônjuges, de seus amigos; escrevi também
sobre a sorte dos Ingleses, dos H olandeses, dos Católicos-romanos, dos judeus,
dos gentios, e semelhantemente sobre a sorte de Lutero, de Calvino, e de
M elanchton; e até ao presente jamais ouvi alguém me dizer:"Como podem eles
ter uma tal sorte, visto como ainda não saíram de seus túmulos, por que o
julgamento final ainda não foi feito? Será que, durante esse tempo, não são eles
almas que são sopros, e estão em Q ualquer parte, ou em um O nde não se sabe
(in quodam Pu seu U bi)?" N ão ouvi ainda pessoa alguma me falar nesta
linguagem; daí pude concluir que cada um em si mesmo percebe que vive
homem depois da morte. Q ual é a pessoa que tendo amado seu cônjuge e seus
filhos, não diz em si mesmo, quando eles morrem ou estão mortos, se está em
um pensamento elevado acima dos sensuais do corpo, que eles estão na mão de
Deus, que os reverá após sua morte, e que será de novo unida a eles em uma
vida de amor e de alegria?
29 - Q uem é que, segundo a razão, não pode ver, se quer ver, que o homem
depois da morte não é um Sopro, do qual não se pode fazer idéia senão como
de um vapor, ou de um ar e de um éter, que isto é ou contêm em si a alma do
homem,a qual deseja e espera a conjunção com seu corpo a fim de poder gozar
dos sentidos e dos prazeres dos sentidos, como precedentemente no M undo?
Q uem é que não pode ver que, se acontecesse assim com o homem após a
morte, seu estado seria mais vil que o dos peixes, dos pássaros e dos animais da
terra, cujas almas não vivem, e por conseqüência não estão em uma semelhante
ansiedade de desejo e de espera? Se o homem após a morte fosse um tal Sopro,
e assim um vapor, então ou ele esvoaçaria no U niverso, ou segundo certas
tradições estaria reservado em uma Q ualquer porta (in Pu), ou com os Pais nos
limbos até ao Julgamento final.Q uem é que não pode, pela razão, concluir que
os que viveram desde a primeira criação, que se acredita ter tido lugar há seis
mil anos, estariam ainda em um semelhante estado inquieto, e
progressivamente mais inquieto, porque toda espera proveniente de um desejo
produz a inquietação, e aumenta de um tempo a outro tempo; que por
conseqüência esses, ou esvoaçariam ainda no U niverso, ou estariam ainda
encerrados na Q ualquer parte (in Pu), e assim, em uma extrema miséria;
30
que é o mesmo que seu espírito que vive depois da morte, é a forma de seu
amor, e não igualmente o homem exterior no M undo, porque este desde a
infância aprendeu a esconder os desejos de seu amor, e mesmo a fingir e a
mostrar outros desejos que não os seus.
36 - Se o Amor de cada um permanece nele depois da morte, é porque o Amor
é a vida do homem, como acaba de ser dito, n. 34, e que por conseguinte é o
homem mesmo. O homem também é seu Pensamento, por conseqüência sua
Inteligência e sua Sabedoria, mas estas fazem um com seu Amor; pois é por seu
Amor e segundo seu Amor que o homem pensa,e que fala e age mesmo, se está
no livre1 (*); daí pode ver que o Amor é o Ser ou a essência da vida do homem,
e que o Pensamento é o Existir ou a existência de sua vida segundo o ser ou a
essência; é por isso que a linguagem e a ação, que decorrem do Pensamento,
decorrem não do pensamento, mas do Amor pelo pensamento; por numerosas
experiências me foi dado saber que o homem depois da morte não é seu
Pensamento, mas é sua Afeição e conseqüentemente seu pensamento, ou é seu
Amor e conseqüentemente sua inteligência; além disso também, que o homem
depois da morte se desfaz de tudo que não concorda com seu Amor, e que
mesmo, progressivamente se reveste com a face, o som de voz, a linguagem, os
gestos e os costumes do amor de sua vida; daí vem que o Céu inteiro foi posto
em ordem segundo todas as variedades das afeições do Amor do bem, e o
Inferno inteiro segundo todas as afeições do amor do mal.
37 - IV . E principalmente o Amor do sexo; e, nos que vão para o Céu, isto é,
nos que nas terras se tornaram espirituais, o Amor conjugal. Q ue o Amor do
sexo no homem permanece depois da morte, é porque então o macho é macho
e a fêmea é fêmea,e que o masculino do macho é masculino no todo e em cada
parte,igualmente o feminino na fêmea,e que há o conjuntivo em cada cousa, e
mesmo nos muito singulares de cada coisa que lhes pertence; ora como este
conjuntivo aí foi posto por criação, e por conseguinte ai está perpetuamente,
segue-se que um deseja a conjunção com o outro e a aspira; o Amor,
considerado em si mesmo, não é outra cousa mais que um desejo e por
conseguinte um esforço para a conjunção, e o amor conjugal, para a conjunção
em um; pois o homem macho e o homem fêmea são criados de tal sorte que de
dois eles podem se tornar um, então tomados em conjunto são o H omem em
sua plenitude; mas sem esta conjunção, eles são dois, um e outro sendo como
um homem dividido ou uma metade de homem. Agora, como este conjuntivo
está escondido intimamente em cada cousa do macho e em cada cousa da
fêmea, e como a faculdade e o desejo pela conjunção em um está em cada
cousa, segue-se que o Amor mútuo e recíproco do sexo permanece nos homens
depois da morte.
38 - Foi dito o Amor do sexo e o Amor conjugal, porque o Amor do sexo é
diferente do Amor conjugal; o Amor do sexo está no homem N atural, mas o
1
Em liberdade; sem constrangimento.
34
afeição; também se diz no Céu, que cada um é vestido por sua Afeição. O
M arido parecia de uma idade média entre a adolescência e a juventude; e em
seus olhos brilhava uma luz cintilante derivada da sabedoria do amor; por esta
luz a sua face era intimamente como radiante, e pela radiação que dela
provinha a pele em sua superfície externa era como cintilante,de sorte que toda
sua face era uma beleza resplandecente; estava vestido com uma túnica
comprida, e por cima tinha uma vestimenta de cor jacinto, serrada por um
cinto de ouro, sobre o qual havia três pedras preciosas, duas safiras dos lados e
um carbúnculo no meio; as suas meias eram de linho resplandecente,
entremeado com fios de prata, e seu calçado era de veludo; tal era a Forma
representativa do Amor Conjugal no M arido. M as na Esposa, eis o que ela era:
A sua face foi vista por mim, e não foi vista; foi vista como a beleza mesma, e
não foi vista porque essa beleza era inexprimível; pois havia em sua face o
esplendor de uma luz inflamada, tal como é a luz para os Anjos do terceiro
Céu; e esta luz tornou a minha vista perturbada; por isso fiquei por assim dizer
estupefato; ela tendo percebido isso, me falou dizendo: "Q ue vês? R espondi:
"N ão vejo senão o Amor Conjugal e sua forma; mas vejo, e não vejo". A estas
palavras ela se desviou obliquamente de seu marido; e então pude olhá-la mais
atentamente; seus olhos brilhavam com a luz de seu Céu, a qual, como acaba
de ser dito, é inflamada e provém do amor da sabedoria; pois nesse Céu as
Esposas amam os M aridos por sua sabedoria e em sua sabedoria, e os M aridos
amam as Esposas por este amor e neste amor para com eles, e assim eles são
unidos; daí vinha sua beleza, que é tal, que nenhum pintor a poderia imitar
nem a apresentar em sua forma; pois não teria cousa alguma tão brilhante em
seu colorido, e cousa alguma tão bela poderia ser expressa por sua arte; os seus
cabelos estavam decentemente arranjados segundo a correspondência com sua
beleza, e flores em diadema estavam colocadas neles; tinha um colar de
carbúnculos, de onde pendia um conjunto de rosas em crisólitos; e seus
braceletes eram de pérolas; estava vestida com uma túnica escalarte, e sob essa
túnica seu peito estava coberto com uma vestimenta púrpura presa na frente
por broches de rubis; mas o que me surpreendia, é que as cores variavam
segundo o aspecto em relação ao marido; e também segundo este aspecto elas
brilhavam, ora mais ora menos; mais, em um aspecto mútuo; e menos, em um
aspecto oblíquo. Depois que vi estas coisas, eles me falaram de novo; e quando
o M arido falava, era ao mesmo tempo como pela esposa; e quando a Esposa
falava,era ao mesmo tempo como pelo marido; pois tal era a união das mentes,
de que decorrem as palavras; e então eu ouvi também o som do Amor
Conjugal,que era interiormente simultâneo, e procedia também das delícias do
estado de paz e da inocência. Enfim eles disseram: "Fomos chamados e vamos
partir". E no mesmo instante apareceram de novo; levados em um carro como
precedentemente; e foram levados por um caminho pavimentado através de
tabuleiros matizados de flores, cujos canteiros continham oliveiras e árvores
carregadas de laranjas; e quando chegaram perto de seu Céu, ao encontro deles
38
delícias finais deste amor, lá, nasciam filhos; e se não nasciam, que utilidade
podiam ter. O s Espíritos Angélicos responderam que delas nasciam filhos
espirituais, mas não filhos naturais. E eles perguntaram o que eram filhos
espirituais; e os outros responderam: "Dois esposos pelas delícias finais ficam
cada vez mais unidos no casamento do bem e do vero, e o casamento do bem e
do vero é o casamento do amor e da sabedoria; ora, o amor e a sabedoria são os
filhos que nascem deste Casamento; e como o marido aí é a sabedoria, e a
esposa o amor dessa sabedoria,e como todos dois são espirituais, por isso lá não
podem ser concebidos e engendrados senão filhos espirituais; daí vêem que os
Anjos, após as delícias, não ficam tristes, como alguns homens nas terras, mas
ficam alegres; e isso resulta de um contínuo influxo de novas forças pelas
precedentes, as quais servem a sua renovação e ao mesmo tempo à sua
ilustração; pois todos os que vão para o Céu, voltam à primavera de sua
juventude, e às forças dessa idade, e aí permanecem eternamente". Depois de
ter ouvido isso,os três N oviços disseram:"N ão se lê na Palavra que no Céu não
há núpcias porque lá todos são Anjos?" A esta pergunta, os Espíritos Angélicos
responderam: "Elevai os vossos olhos para o Céu, e recebereis uma resposta". E
eles perguntaram porque deviam elevar os olhos para o Céu. Disseram: Porque
de lá nos vêm todas as interpretações da Palavra; a Palavra é inteiramente
espiritual; e os Anjos sendo espirituais, ensinarão o entendimento espiritual
dela".E pouco tempo depois,o Céu se abriu acima de sua cabeça,-e dois Anjos
se apresentaram à sua vista,e disseram: "H á N úpcias nos Céus como nas terras,
mas não para outros que não sejam os que estão no Casamento do bem e do
vero, e outros que não sejam esses não são Anjos; é porque lá é entendido por
N úpcias espirituais, as que concernem ao casamento do bem e do vero; estas (a
saber, as núpcias espirituais) têm lugar nas terras, e não depois do trespasse,
assim não nos Céus; como se diz das cinco virgens insensatas, convidadas
também para as núpcias, onde não puderam entrar porque não havia nelas
casamento do bem e do vero, pois elas não tinham azeite, mas unicamente as
lâmpadas; pelo azeite é entendido o bem, e pelas lâmpadas o vero; e ser dado
em casamento é entrar no Céu, onde há o casamento do bem e do vero". O s
três N oviços tendo ouvido estas palavras, ficaram cheios de alegria; e cheios do
desejo do Céu e de esperança de núpcias celestes; disseram: "N ós nos
aplicaremos à moralidade e à decência da vida, a fim de que nossos votos sejam
cumpridos".
42
com as bestas e, os pássaros, e estes animais são naturais; mas o Amor Conjugal
é um Amor espiritual, e é particular e próprio dos homens, porque os homens
foram criados e por conseqüência nascem para se tornarem espirituais; tanto
mais,portanto,o homem se torna espiritual, tanto mais se despoja do Amor do
sexo,e se reveste do Amor conjugal. N o começo do casamento o Amor do sexo
se apresenta como conjunto ao Amor conjugal, mas na progressão do
casamento eles são separados, e então naqueles que são espirituais o Amor do
sexo é destruído e o Amor conjugal é insinuado, mas naqueles que são naturais,
acontece o contrário. Pelo que acaba de ser dito, é evidente que o Amor do
Sexo, sendo um amor com várias, é em si natural e mesmo animal, é impuro e
incasto, e sendo vago e ilimitado, é escortatório; mas dá-se interiormente ao
contrário com o Amor conjugal. Q ue o Amor conjugal seja espiritual, e
propriamente humano,ver-se-á claramente no que segue.
47 - (bis) III.O s dois esposos ordinariamente depois da morte se encontram, se
reconhecem, de novo se consorciam, e durante algum tempo vivem juntos, o
que acontece no Primeiro Estado, assim, enquanto estão nos externos como no
M undo. H á dois Estados por que o homem passa depois da morte, o estado
Externo e o estado Interno; passa primeiro pelo estado externo, e mais tarde
pelo interno; e durante o estado externo, o marido e a esposa, se um e outro
estão mortos, se encontram, se reconhecem, e, se viveram de acordo no
M undo, eles se consorciam, e durante algum tempo vivem juntos; e enquanto
estão neste estado,um não conhece a inclinação do outro a seu respeito,porque
esta inclinação se esconde nos internos; mas mais tarde, quando atingem o
estado interno, a inclinação se manifesta; se é concordante e simpática, eles
continuam a vida conjugal; mas se é discordante e antipática, rompem o
casamento. Se um H omem teve várias esposas, ele se conjunta com elas pela
ordem, enquanto está no estado externo; mas quando entra no estado interno,
no qual percebe as inclinações do amor, tais quais são, então ou adota uma das
esposas,ou as abandona todas; pois no M undo espiritual, do mesmo modo que
no M undo natural, não é permitido a cristão algum ter várias esposas, porque
isso macula e profana a religião; a mesma cousa acontece com uma mulher que
teve vários maridos; mas entretanto as mulheres não se juntam a seus maridos,
unicamente se apresentam, e os maridos se juntam a elas. Saiba-se que os
M aridos conhecem raramente suas esposas, mas as esposas, conhecem muito
bem os maridos; e isso porque as mulheres têm uma percepção interior do
amor,e os homens tem unicamente uma percepção exterior.
48 - (bis) IV . M as sucessivamente, à medida que se despojam dos externos, e
que entram nos internos percebem em que inclinação estiveram mutuamente,
um em relação, ao outro, e por conseguinte se podem viver juntos, ou não.
Isto não tem necessidade de ser mais explicado, pois é uma conseqüência do
que foi mostrado no Artigo precedente; bastará ilustrar aqui como o homem
depois da morte se despoja dos externos e se reveste dos internos. Cada um
45
afeições e aos pensamentos; que pode então resultar, senão que há semelhantes
comunicações; e que, como o Amor conjugal é casto, puro e santo, as
comunicações são mesmo completas? M as, sobre este assunto, pode se ver
maiores detalhes no M emorável n. 44. Se as comunicações são então mais
agradáveis e mais felizes, é porque este Amor, quando se torna o Amor do
espírito, torna-se interior e mais puro, e por conseguinte mais perceptível, e
todo prazer aumenta segundo a percepção, e aumenta até ao ponto em que sua
beatitude é discernida em seu prazer.
52 - Se os Casamentos nos Céus não têm prolificação, mas em lugar desta há
uma prolificação espiritual, que é a do Amor e da Sabedoria, é porque nos que
estão no M undo espiritual, falta o terceiro (princípio) que é o natural, e este
terceiro é o continente dos espirituais; ora os espirituais sem seu continente não
tem a consistência, como a têm as cousas que são procriadas no M undo
natural; e as espirituais consideradas em si mesmos, se referem ao Amor e à
Sabedoria; é por isso que o amor e a sabedoria são as cousas que nascem dos
casamentos dos habitantes dos Céus. Diz-se que o amor e a sabedoria nascem,
porque o amor conjugal aperfeiçoa o Anjo, pois o une a seu consorte, donde
resulta que se torna cada vez mais homem, pois, como foi dito acima, dois
Esposos no Céu não são dois mas um único Anjo; é por isso que pela união
conjugal eles se enchem do humano, que consiste em querer se tornar sábio, e
em amar o que pertence à sabedoria.53 - V III. É isso o que acontece nos que
vão para o Céu, mas é diferente para os que vão para o Inferno. Q ue depois da
morte seja dada ao homem uma esposa conveniente, e que estes, gozem de
comunicações agradáveis e felizes mas sem outra prolificação que não seja uma
prolificação espiritual, isso deve ser entendido a respeito dos que são recebidos
no Céu e se tornam Anjos; a razão é que estes são espirituais, e por conseguinte
santos. M as os que vão para o Inferno são todos naturais, e os casamentos
puramente naturais não são casamentos, mas são conjunções que provém de
uma paixão incasta, N o que segue, quando se tratar do casto e do incasto, e
mais adiante quando se tratar do Amor escortatório, se dirá o que são essas
conjunções.
54 - Ao que foi relatado até aqui sobre o Estado dos esposos depois da morte, é
preciso acrescentar os detalhes seguintes: 1. T odos os Esposos, que são
puramente naturais são separados depois da morte; e isso porque neles o amor
do casamento é frio, e o amor do adultério é quente; entretanto, depois da
separação, às vezes eles se consorciam como esposos com outros, mas pouco
tempo depois se afastam mutuamente um do outro, o que muitas vezes é
repetido várias vezes; e enfim o homem se liga a alguma prostituta, e a mulher
a algum adúltero, o que se efetua em uma prisão infernal de que se falou no
Apocalipse R evelado n. 153, p. X , onde a promiscuidade é interdita a um e a
outro sob pena de castigo. 2. O s Esposos, dos quais um é espiritual e o outro
natural, são separados também depois da morte, e é dado ao Espiritual um
48
crescimento de seu brilho, pois a nossa Luz procede do Senhor como Sol, e por
conseguinte, considerada em si mesma, ela é a Sabedoria". Então,
acompanhado pelos dois Anjos, dirigi meus passos segundo o crescimento do
brilho da luz,e subi por senda escarpada até ao cimo de uma Colina,que estava
na Plaga meridional; e lá,havia uma Porta magnífica; e o guarda, tendo visto os
Anjos comigo, a abriu; e eis que vimos um pórtico de palmeiras e de loureiros,
para o qual dirigimos os nossos passos; o Pórtico fazia uma volta e terminava
em um jardim no meio do qual estava o T emplo da Sabedoria. Aí, quando
dirigi o olhar em torno de mim, vi pequenos Edifícios parecendo-se com o
T emplo, nos quais estavam Sábios; aproximamo-nos de um desses edifícios, e à
entrada falamos ao que o habitava,e lhe expusemos a causa de nossa vinda,e de
que maneira tínhamos chegado, e ele nos disse: "Sede bem vindos, entrai
assentai-vos e consociemo-nos por conversações de sabedoria". V i que o
Edifício,por dentro,era dividido em dois,e entretanto era um; era dividido em
dois por uma antepara transparente, mas parecia como um pela transparência
da antepara, que era como de cristal muito puro, perguntei porque isso era
assim; ele me disse: "N ão estou só, minha esposa está comigo; e nós somos
dois, entretanto não somos dois mas uma só carne". M as repliquei: "Sei que és
um sábio; e o que é que o sábio ou a sabedoria tem de comum com a mulher?
A estas palavras, o nosso hóspede, tomado por uma espécie de indignação,
mudou de fisionomia, e estendeu a mão; e eis que se apresentaram
imediatamente outros sábios dos edifícios vizinhos, aos quais ele disse,
sorrindo: “O nosso estrangeiro me disse aqui, interrogando-me: O que é que o
sábio ou a sabedoria tem de comum com a mulher?" R iram-se todos desta
pergunta, e disseram: “O que é o sábio ou a sabedoria sem a mulher, ou sem o
amor? A esposa é o amor da sabedoria do sábio". M as o nosso hóspede disse:
"Consociemo-nos agora por alguma conversação sobre a sabedoria; falemos das
causas, e em primeiro lugar da causa da Beleza feminina". E então eles falaram
em ordem, e o primeiro deu por causa que as mulheres foram criadas pelo
Senhor afeições da sabedoria dos homens, e a afeição da sabedoria é a Beleza
mesma. O segundo deu por causa, que a mulher foi criada pelo Senhor por
meio da sabedoria do homem, pois que ela o foi segundo o homem, e por
conseguinte é a forma da sabedoria, forma inspirada pela afeição do amor; e
como a afeição do amor é a vida mesma, a mulher é a vida da sabedoria,
enquanto que o homem é a sabedoria; e a vida da sabedoria é a Beleza mesma.
O terceiro deu por causa, que as mulheres receberam como dom a percepção
das delícias do amor conjugal, e, como todo seu corpo é o órgão desta
percepção, não pode deixar de ser que a habitação dessas delícias do amor
conjugal com sua percepção, seja a Beleza. U m quarto deu por causa, que o
Senhor tirou do homem a beleza e a elegância da vida e as fez passar para a
mulher, e por conseqüência, sem a reunião com sua beleza e sua elegância na
mulher, o homem é selvagem, áspero, seco, e não amável, não é sábio senão
para si mesmo, e isso é insensato; mas quando o homem, está unido com sua
52
beleza e sua elegância da vida na esposa ele se torna agradável, gracioso, vivo e
amável, e por conseqüência sábio. U m quinto deu por causa, que as mulheres
foram criadas Belezas,não para elas mesmas, mas para os homens, a fim de que
os homens, duros por si mesmo, se adocem; que suas mentes (animi) severas
por si mesmas, se abrandem; e que seus corações, frios por si mesmo, se
aqueçam; e os homens tornam-se tais, quando se tornam unia só carne com
suas esposas. U m sexto deu por causa, que pelo Senhor o U niverso foi criado
obra muito perfeita, mas que nele não foi criado nada mais perfeito que a
mulher bela de face e decente de costumes,a fim de que o homem renda graças
ao Senhor por esta munificência, e lhe prove seu reconhecimento pela recepção
da sabedoria que procede d'Ele". Depois que estas razões e várias outras
semelhantes foram dadas, a Esposa apareceu, através da antepara de cristal, e
disse ao M arido: "Fala, eu te peço". E enquanto ele falava, no discurso era
percebida a vida da sabedoria procedente da Esposa pois seu amor estava no
som da linguagem; assim esta verdade foi provada pela experiência. Depois
disso, visitamos o T emplo da Sabedoria, e também os lugares paradisíacos que
o cercavam; e cheios da alegria que ai sentimos, fomos embora, e passamos
através do Pórtico até à porta, e descemos pelo caminho pelo qual tínhamos
subido.
53
Do amor verdadeiramente
conjugal
57 - O Amor conjugal é de uma variedade infinita; não é em um tal como é em
outro; parece, na verdade, semelhante em muitos, mas parece assim diante do
julgamento do corpo, e o homem discerne pouco de semelhantes cousas por
esse julgamento, porque ele é grosseiro e embotado; pelo julgamento do corpo
é entendido o julgamento da mente segundo os sentidos externos; mas diante
dos que vêem segundo o julgamento do espírito, as diferenças se manifestam, e
mais distintamente diante dos que podem elevar mais alto a vista deste
julgamento, o que se faz subtraindo-o aos sentidos, e elevando-o a uma luz
superior; estes por fim podem se confirmar pelo entendimento e assim ver que
o Amor conjugal não é em um tal como é em outro. M as, entretanto, seja
quem for, não pode ver as variedades infinitas deste Amor em alguma luz do
entendimento mesmo elevado, a menos que saiba primeiro o que é esse Amor
em sua essência mesma e em sua integridade, assim o que ele era quando foi
posto por Deus no homem ao mesmo tempo que a vida; se este estado, que foi
o seu estado mais perfeito, não é conhecido, todas as pesquisas para
descobrir-lhe as diferenças são vãs; pois não há ponto algum sólido, de onde as
diferenças sejam deduzidas como de um princípio, nem ao qual elas se refiram
com a um fim,e possam por conseguinte se manifestar com verdade e não com
falsidade.É por esta razão que aqui vamos começar por descrever este Amor em
sua essência real; e como era, quando foi infundido por Deus no homem ao
mesmo tempo que a vida; começaremos a descrevê-lo tal como foi em seu
estado primitivo; e como nesse estado era verdadeiramente conjugal, este
Parágrafo tem por título: Do Amor V erdadeiramente Conjugal; mas esta
descrição será feita nesta ordem: 1 - H á um Amor verdadeiramente conjugal
que hoje é tão raro, que não se sabe o que ele é, e que apenas se sabe que ele
existe.II - A origem deste Amor vem do Casamento do bem e do vero. III - H á
correspondência deste Amor com o Casamento do Senhor e da Igreja. IV -Este
Amor, considerado segundo sua origem e sua correspondência, é celeste,
espiritual, santo, puro e limpo, mais do que todos os outros amores que pelo
Senhor estão nos anjos do Céu, e nos homens da Igreja. V - Ele é mesmo o
Amor fundamental de todos os amores celestes e espirituais, e por conseqüência
de todos os amores naturais. V I N este amor foram reunidas todas as alegrias e
todas as delícias, desde as primeiras até às últimas. V II - M as a este amor não
vêm e não podem estar senão aqueles que se dirigem ao Senhor, e que amam os
veros da Igreja e praticam seus bens. V III - Este Amor era o Amor dos amores
entre os Antigos, que viveram nos séculos do ouro, da prata e do bronze; mas
em seguida foi progressivamente se apagando. A explicação destes Artigos vai
seguir-se:
54
quanto aos externos; e quando os externos faltam,os internos são invadidos por
um frio que expulsa os prazeres deste amor tanto da mente como do corpo, e
em seguida tanto do corpo como da mente; e isso até que nada mais reste da
reminiscência do primitivo estado de seu casamento, nem por conseqüência
deste estado. O ra, como isto acontece hoje com a maioria, é evidente que não
se sabe o que é o amor verdadeiramente conjugal, e que apenas se sabe que ele
existe. É inteiramente diferente com os que são espirituais; para eles o primeiro
estado é uma iniciação a felicidades perpétuas, que crescem gradativamente,
conforme o espiritual-racional da mente, e por ele o natural-sensual do corpo,
de um se conjunta e se une com o do outro; mas estes,são raros.
60 - II. A origem deste Amor vem do Casamento do B em e do V ero. T odo
homem inteligente reconhece que todas as cousas no U niverso se referem ao
bem e ao vero, porque isto é um vero universal; não se pode também deixar de
reconhecer que em todas e em cada uma das cousas do universo o bem está
conjunto ao vero, e o vero ao bem, porque isso também é um vero universal
que está ligado com o outro. Se todas as cousas no universo se referem ao bem
e ao vero, e si o bem está conjunto ao vero, e o vero ao bem, é porque um e
outro procedem do Senhor, e procedem d'Ele como um. As cousas que
procedem do Senhor são o Amor e a Sabedoria porque estes dois são o Senhor,
assim segundo Ele; e todas as cousas que pertencem ao amor são chamadas
bens, e todas as que pertencem à sabedoria são chamados veros; e pois que dele
como criador procedem o Amor e a Sabedoria, segue-se que estes dois estão nas
cousas criadas.Isto pode ser ilustrado pelo Calor e a Luz,que procedem do Sol,
todas as cousas da terra procedem deles, pois elas germinam segundo sua
presença e segundo sua conjunção; ora, o Calor natural corresponde ao Calor
espiritual, que é o Amor, e a Luz natural corresponde à Luz espiritual que é a
Sabedoria.
61 - Q ue o Amar Conjugal procede do Casamento do bem e do vero, é o que
será demonstrado na Lição seguinte ou Parágrafo seguinte; se faz menção disso
aqui apenas para fazer ver que este Amor é celeste, espiritual e santo, porque é
de uma origem celeste espiritual e santa. A fim de que se veja que a origem do
Amor Conjugal vem do Casamento do bem e do vero, importa falar disso aqui
sucintamente; acaba de ser dito que em todas e em cada uma das cousas.
criadas há uma conjunção do bem e do vero; ora, não há conjunção a não ser
que seja recíproca, pois a conjunção de uma parte e não reciprocamente de
outra, se dissolve por si mesma; quando portanto há conjunção do bem e do
vero, e essa conjunção é recíproca, resulta daí que há o vero do bem ou o vero
segundo o bem, e há o bem do vero ou o bem segundo o vero; que o vero do
bem ou o vero segundo o bem esteja no M acho, e que seja o M asculino
mesmo, e que o bem do vero ou o bem segundo o vero esteja na Fêmea e que
seja o Feminino mesmo, além disso também, que haja uma união conjugal
entre estes dois, ver-se-á na Lição que segue; isto é referido aqui, a fim de que
56
supremo, porque estes Anjos são chamados celestes; e espiritual, nos Anjos
abaixo deste Céu, porque estes Anjos são chamados espirituais; estes anjos são
assim chamados porque os Anjos celestes são Amores e em conseqüência
Sabedorias, e os Anjos espirituais são Sabedorias e em conseqüência Amores;
semelhante é o seu conjugal.O ra, pois que o Amor conjugal está nos Anjos dos
Céus, tanto superiores como inferiores, conforme foi mostrado no Primeiro
Parágrafo sobre os Casamentos no Céu, vê-se que este Amor é santo e puro. Se
este Amor, considerado em sua essência segundo sua derivação, é santo e puro
mais do que todos os outros amores dos anjos e dos homens, é porque ele é
como a cabeça dos outros amores. Q uanto à supremacia deste amor, se dirá
alguma cousa no Artigo que vai seguir.
65 - V . Ele é mesmo o Amor fundamental de todos os amores celestes e
espirituais, e por conseqüência de todos os amores naturais. Q ue o Amor
conjugal, considerado em sua essência, seja o Amor fundamental de todos os
amores do Céu e da Igreja, é porque sua origem vem do Casamento do bem e
do vero, e deste Casamento procedem todos os amores que fazem o Céu e a
Igreja no homem; o bem deste casamento constitui o amor, e seu vero constitui
a sabedoria; e quando o amor se aproxima da sabedoria ou se conjunta com ela,
o amor então se torna amor; e quando reciprocamente a sabedoria se aproxima
do amor e se conjunta com ela, a sabedoria então se torna sabedoria. O Amor
verdadeiramente conjugal não é outra cousa senão a conjunção do amor e da
sabedoria; dois Esposos entre os quais ou nos quais há este amor são a sua efígie
e a sua forma; nos Céus, onde as faces dos Anjos são os tipos reais das afeições
do seu amor, todos são também semelhanças do Amor conjugal pois ele está
neles no comum e em toda parte, como já foi mostrado; ora, pois que dois
Esposos são este Amor em efígie e em forma, segue-se que todo amor, que
procede da forma do amor mesmo, é sua semelhança; é por isso que se o Amor
conjugal é celeste e espiritual, os amores, que dele procedem, são também
celestes e espirituais; o Amor conjugal é portanto como um pai, e todos os
outros amores são como uma descendência; daí vem que dos Casamentos dos
Anjos nos Céus são engendradas descendências espirituais,que são as do amor e
da sabedoria,ou do bem e do vero; a respeito desta geração,ver acima o n.51.
66 - A mesma cousa é evidentemente manifestada pela criação dos homens por
este amor, e por sua formação em seguida por este amor: o M acho foi criado
para que se torne sabedoria pelo Amor de ser sábio, e a Fêmea foi criada para
que se torne o Amor do macho por sua sabedoria, assim segundo a sabedoria
que está nele; daí é evidente que dois Esposos são as formas mesmas e as efígies
mesmas do casamento do amor e da sabedoria, ou do bem e do vero. É
importante que se saiba que não há bem nem vero, que não esteja em uma
substância como em seu objeto; os bens e os veros abstratos não existem, pois,
não estão em parte alguma, uma vez que não tem sede; e mesmo não podem
aparecer, muito menos, como voando; são portanto unicamente entidades
58
(entia), a respeito dos quais a razão parece pensar abstratamente, mas não o
pode entretanto, a menos que os suponha em objetos; pois toda idéia do
homem, mesmo sublimada, é substância, isto é, ligada a substâncias: além
disso, é preciso que se saiba que não há substância, a não ser que tenha uma
forma; uma substância não formada não é cousa alguma, porque não se pode
dizer dela coisa alguma, e um sujeito sem predicados é também uma entidade
que não tem existência alguma na razão (ens nullius rationis). Estas
considerações filosóficas foram acrescentadas, a fim de que desta maneira se
possa ver também que dois Esposos, que estão no Amor verdadeiramente
conjugal,são na realidade formas do Casamento do bem e do vero, ou do amor
e da sabedoria.
67 - Como os amores naturais decorrem dos amores espirituais, e os amores
espirituais decorrem dos amores celestes, é por isso que se diz que o Amor
conjugal é o amor fundamental de todos os amores celestes e espirituais, e por
conseqüência de todos os amores naturais. O s amores naturais se referem aos
amores de si e do mundo; mas os amores espirituais se referem ao amor a
respeito do próximo, e os amores celestes ao amor para com o Senhor; e como
tais são as relações dos amores, vê-se claramente em que ordem eles se seguem,
e em que ordem estão no homem; quando estão nesta ordem, então os amores
naturais vivem pelos amores espirituais e os espirituais pelos celestes, e todos
nesta ordem vivem pelo Senhor,de que procedem.
68 - V I. N este amor foram reunidas todas as alegrias e todas as delícias, desde
as primeiras até às últimas. T odos os prazeres, quaisquer que sejam, que são
sentidos pelo homem, pertencem a seu amor; por eles o amor se manifesta e
mesmo existe e vive; que os prazeres se exaltem no mesmo grau que se exalta o
amor, e também conforme as afeições que sobrevêm tocam de perto o amor
reinante, isso é notório. Agora, uma vez que o amor conjugal é o amor
fundamental de todos os amores, e que foi inscrito nos singularíssimos do
homem, como foi mostrado acima, segue-se que os prazeres deste amor
ultrapassam os prazeres de todos os amores, e que ele dá também prazer aos
outros amores segundo sua presença e sua conjunção com eles; pois ele dá
expansão aos íntimos da mente e ao, mesmo tempo aos íntimos do corpo, à
medida em que a veia deliciosa de sua fonte neles corre e os abre. Q ue neste
amor tenham sido reunidos todos os prazeres desde os primeiros até aos
últimos, é devido à excelência de seu U so em comparação com o de todos os
outros; seu U so é a propagação do gênero humano, e por conseguinte a do Céu
Angélico; e como este uso tem sido o fim dos fins da criação, segue-se que
todas as beatitudes, todas as doçuras, todos os prazeres, todos os encantos e
todas as volúpias que podiam ser reunidas no homem pelo Senhor Criador,
foram reunidas neste amor.Q ue os prazeres seguem o uso, isso é evidente pelos
prazeres dos cinco Sentidos, a V ista, o O uvido, o O lfato, o Paladar e o T ato;
cada um destes sentidos tem seus prazeres com variações segundo seus usos
59
particulares; com muito mais forte razão o Sentido do amor conjugal, cujo U so
é o complexo de todos os outros usos.
69 - Sei que há poucos que reconhecerão que no Amor conjugal foram
reunidas todas as alegrias e todas as delícias desde as primeiras até às últimas; e
isso, porque o amor verdadeiramente conjugal, em que elas foram reunidas, é
hoje tão raro,que não se sabe o que ele é e apenas se sabe que existe, segundo o
que foi explicado e confirmado acima, nos nº 58, 59, pois estas alegrias e estas
delícias não existem em um amor conjugal que não seja o amor conjugal real; e
como este é tão raro nas terras, é impossível descrever suas felicidades
sobreeminentes de outro modo que não seja pela boca dos Anjos, por que eles
estão neste amor: Eles me disseram que suas delícias íntimas, que pertencem à
alma, na qual influi primeiro o conjugal do amor e da sabedoria ou do bem e
do vero, procedendo do Senhor, não são perceptíveis e por conseguinte são
inefáveis porque são ao mesmo tempo as delícias da paz e da inocência; mas em
sua descida estas mesmas delícias tornam-se cada vez mais perceptíveis, nos
superiores da mente como felicidades, no peito como prazeres que derivam daí,
e do peito se espalham em todas e cada uma das partes do corpo, e enfim se
unem nos últimos em delícia das delícias; além disso, os anjos contaram
maravilhas, acrescentando que as variedades destas delícias nas almas dos
Esposos, e pelas almas em suas mentes, e pelas mentes no peito, são infinitas, e
também eternas, e que elas são exaltadas nos maridos segundo a sabedoria; e
isso, porque vivem eternamente na flor da idade, e porque não tem maior
felicidade do que tornar-se cada vez mais sábios. M as quanto a vários outros
detalhes saídos da boca dos Anjos a respeito destas delícias, ver-se-á nos
M emoráveis, principalmente naqueles que vão seguir no fim de alguns
capítulos.
70 - V II. M as a este amor não vêm e não podem estar sendo os que se dirigem
ao Senhor, e que amam os veros da Igreja e praticam os seus bens. Se a este
amor não vêm senão os que se dirigem ao Senhor, é porque os Casamentos
M onogâmicas, que são os de um só marido com uma única esposa,
correspondem ao Casamento do Senhor e da Igreja, e sua origem vem do
Casamento do bem e do vero, ver acima os nº. 60 e 62. Q ue desta origem e
desta correspondência, segue-se que o Amor verdadeiramente conjugal vem do
Senhor, e está nos que se dirigem diretamente a Ele, isso não pode ser
plenamente confirmado,a não ser que se trate em particular destes dois arcanos
o que será feito nos dois Capítulos que seguem imediatamente a este; um sobre
a origem do Amor conjugal pelo Casamento do bem e do vero; e o outro sobre
o Casamento do Senhor e da Igreja, e sobre sua correspondência; que daí
resulta que o Amor conjugal é o homem segundo o Estado da Igreja nele, é
também o que se verá nesses Capítulos.
71 - Se no Amor verdadeiramente conjugal não podem estar senão os que o
recebem do Senhor, isto é, que se dirigem a Ele diretamente, e vivem por Ele a
60
vida da Igreja, é porque este Amor, considerado segundo sua origem e sua
correspondência, é mais celeste, espiritual, santo, puro e limpo, do que todo
outro amor que existem nos anjos do Céu e nos homens da Igreja,como acima,
n. à; e estes atributos do amor verdadeiramente conjugal não podem existir
senão nos que foram conjuntos ao Senhor, e consociados por Ele aos anjos do
Céu; pois estes fogem dos amores extraconjugais, isto é, das conjunções com
outros que não sejam a própria esposa ou o próprio marido, como fugiriam da
perda da alma e dos pântanos do inferno; e quanto mais os esposos fogem
dessas conjunções, mesmo quanto aos desejos libidinosos da vontade e por
conseguinte às intenções, tanto mais este amor é purificado neles, e se torna
progressivamente espiritual, primeiro quando ainda vivem nas terras, e em
seguida no Céu; nenhum amor pode jamais tornar-se puro nos homens, nem
nos anjos, assim este amor também não o pode; mas como a intenção, que
pertence à vontade, é principalmente considerada pelo Senhor, é por isso que
quanto mais o homem está nesta intenção e nela persevera, tanto mais é
iniciado na pureza e na santidade deste amor, e nisso faz progressos
sucessivamente. Se no Amor conjugal espiritual não podem estar senão os que
são tais pelo Senhor, é porque o Céu está neste amor, e o homem natural, em
quem este amor não tira seu encanto senão da carne, não pode se aproximar do
Céu, nem de anjo algum, nem mesmo de homem algum em que haja este
amor, pois é o Amor fundamental de todos os amores celestes e espirituais, ver
acima ns. 65, 66 e 67. Q ue seja assim, é o que me foi confirmado pela
experiência. N o M undo espiritual, vi gênios, que estavam preparados para o
Inferno se aproximarem de um Anjo que estava em delícias com sua esposa a
medida que se aproximavam, estando a uma certa distância, se tornaram como
fúrias, e procuraram para asilo cavernas e fossos, nos quais se lançaram. Q ue os
maus espíritos amem o homogêneo de sua afeição, por mais imundo que seja e
tenham aversão pelos espíritos do Céu, como por seu heterogêneo porque este
heterogêneo é puro, pode-se concluir do que foi referido nos Preliminares n.
10.
72 - Se a este amor não vêm e não podem estar senão os que amam os veros da
Igreja, e praticam os seus bens, é porque os outros não são recebidos pelo
Senhor; pois aqueles estão em conjunção com o Senhor, e por conseqüência
podem ser mantidos por Ele neste Amor. H á duas cousas que fazem a Igreja e
por conseguinte o Céu no homem, o V ero da fé e o B em da vida; o V ero da fé
faz a presença do Senhor, e o Bem da V ida segundo os veros da fé faz a
conjunção com Ele, e assim a Igreja e o Céu. Se o V ero da fé faz a presença, é
porque ele pertence a luz, a Luz espiritual não é outra coisa; se o Bem da vida
faz a conjunção, é porque pertence ao calor, o Calor espiritual não é outra
cousa também, pois é o amor, e o bem da vida pertence ao amor; ora, sabe-se
que toda luz, mesmo a do inverno, faz a presença, e que o calor unido à luz faz
a conjunção,` pois os jardins e os canteiros aparecem qualquer que seja a luz,
mas não florescem e não frutificam senão quando o calor se conjunta a luz. Daí
61
resulta claramente esta conclusão, que pelo Senhor são gratificados com o
Amor verdadeiramente conjugal, não os que sabem unicamente os veros da
Igreja,mas os que os sabem e praticam seus bens.
73 - V III. Este Amor foi o Amor dos amores entre os Antigos que viveram nos
séculos de ouro, de prata e de bronze. Q ue o Amor conjugal entre os
Antiqüíssimos e entre os Antigos, que viveram nos primeiros Séculos assim
chamados tenha sido o Amor dos amores, não se pode saber pela H istória,
porque não existem escritos deles, e os que existem são de Autores que viveram
depois desses Séculos; pois estes fazem menção deles, e descrevem também a
pureza e a integridade de sua vida, e igualmente o declínio progressivo desta
pureza e desta integridade, tal como é o do O uro até ao Ferro; mas o último
Século ou Idade de Ferro, que começou no tempo desses Escritores, pode ser
conhecido em parte pelas H istórias da vida de alguns R eis, de alguns Juizes, e
de alguns Sábios que, na G récia e em outros lugares, foram chamados Sophi:
que este Século entretanto não duraria, como dura em si mesmo o ferro, mas
que se tornaria como o ferro misturado com a argila, os quais não têm
coerência,é o que foi predito por Daniel,cap.11,43.O ra,como esses Séculos,
que tiram seus nomes do ouro, da prata, e do bronze, tinham passado, antes do
tempo cujos escritos nos restam, e assim é impossível adquirir nas terras um
conhecimento dos Casamentos dos homens daqueles séculos, aprouve ao
Senhor dar-me esse conhecimento por um caminho espiritual, conduzindo-me
aos Céus onde estão seus domicílios, a fim de que aprendesse de sua boca, o
que tinham sido entre eles os Casamentos, quando viviam em seu Século; pois
todos, quaisquer que sejam, que depois da Criação saíram do M undo natural,
estão no M undo espiritual e todos aí são tais quais foram quanto a seus amores,
e aí permanecem eternamente. Como estas particularidades são dignas de ser
conhecidas e relatadas, e como confirmam a santidade dos casamentos, vou
dá-las ao público tal como me foram mostradas em espírito, no estado de
vigília, e relembrados em seguida à minha memória por um Anjo, e assim
descritas: e como são relatos do M undo espiritual, tais como os que são
colocados no fim dos Capítulos, desejei dividi-los em Seis M emoráveis segundo
as Progressões das Idades.
74 - "Estes Seis M emoráveis do M undo espiritual sobre o Amor Conjugal,
revelam o que foi este Amor nas Primeiras Idades, e o que foi depois dessas
idades e o que é hoje. Por aí se vê que este Amor retirou-se progressivamente
de sua santidade e de sua pureza, até ao ponto de tornar-se escortatório; mas
que entretanto há esperança de que seja reconduzido a sua primitiva e antiga
Santidade".
75 - Primeiro M emorável: U m dia em que eu meditava sobre o Amor
Conjugal, minha mente foi tomada pelo desejo de saber o que tinha sido este
Amor nos que viveram no Século do O uro, e o que tinha sido nos que viveram
nos Séculos seguintes,chamados Século da Prata,do Bronze e do Ferro:e como
62
eu sabia que todos os que viveram bem naqueles Séculos estão no Céu, pedi ao
Senhor para que me fosse permitido conversar e me instruir com eles: e eis que
um anjo se apresentou a mim, e me disse: "Fui enviado pelo Senhor para te
servir de guia e de companheiro de viagem; e primeiramente, te conduzirei e te
acompanharei aos que viveram na Primeira Idade ou Primeiro Século, que é
chamado Século de O uro"; e disse: “O caminho que conduz a eles é escarpado;
passa por uma floresta espessa que ninguém pode atravessar sem o socorro de
um guia dado pelo Senhor". Eu estava em espírito e me preparei para a viagem
e voltamos a face para o O riente, e avançando vi uma M ontanha cuja altura ia
além da região das nuvens.Atravessamos um grande deserto, e chegamos a uma
Floresta formada de diferentes espécies de árvores, cuja espessura produzia uma
grande obscuridade; era a Floresta de que o Anjo tinha falado, mas era cortada
por várias picadas estreitas e o Anjo me disse que eram outros tantos labirintos
de erros, e que se o viajante não tivesse os olhos abertos pelo Senhor, e não
visse O liveiras cercadas de ramos de vinha, e não fosse de O liveira em O liveira,
iria se lançar nos T ártaros que estão nos arredores sobre os lados; esta Floresta é
assim disposta com o fim de defender a passagem; pois nenhuma outra N ação
que não seja a da Primeira Idade habita esta M ontanha. Q uando entramos na
Floresta, os nossos olhos foram abertos, e vimos aqui e ali O liveiras cercadas de
cepas, donde pendiam cachos de uvas de uma cor azul celeste, e as O liveiras
por sua disposição formavam curvas contínuas, nós também fizemos voltas e
voltas seguindo sua direção; e enfim vimos um Bosque formado de Cedros
elevados, e em seus galhos algumas Á guias. A esta vista, o Anjo disse: "Agora
estamos na M ontanha, não muito longe de seu Cume". E continuamos a
caminhar; e eis que depois do Bosque uma Planície de uma extensão circular,
onde pastavam Cordeiros e O velhas novas, que eram formas representativas do
estado de inocência e de paz dos H abitantes da M ontanha. Atravessamos esta
Planície; e eis, T abernáculos e mais T abernáculos em número de vários
milhares, se apresentavam a nossos olhos, adiante e dos lados, tanto quanto a
vista podia abranger; e o Anjo disse: "Agora, estamos no Acampamento; lá está
o Exército do Senhor Jehovah; é assim que eles se chamavam, a eles e a suas
habitações; quando estavam no M undo, estes Antiqüíssimos habitavam em
T abernáculos; é por isso também que habitam assim agora; mas prossigamos o
nosso caminho para o Sul, onde estão os mais sábios dentre eles, a fim de
encontrar algum com quem conversemos". Caminhando vi ao longe três
rapazinhos e três meninas, que estavam sentados à porta de U ma T enda; mas
uns e outros, quando nos aproximamos, foram vistos como homens e mulheres
de uma estatura média; e o Anjo disse: "T odos os habitantes desta M ontanha
aparecem de longe como Crianças, porque estão em um estado de inocência, e
a Infância é a aparência da inocência". Logo que estes homens nos viram,
acorreram e disseram:"Donde sois? e como viestes aqui? As vossas faces não são
faces da nossa M ontanha". M as o Anjo respondeu e contou como a entrada
pela Floresta nos tinha sido permitida, e porque tínhamos vindo. Depois de ter
63
ouvido esta explicação, um dos três H omens nos convidou a entrar em seu
T abernáculo e nos introduziu nele: O H omem estava vestido com um manto
de cor de jacinto e com uma túnica de lã branca, e sua Esposa estava vestida
com um vestido de púrpura, e por baixo uma túnica de fino linho, bordada a
agulha lhe cobria o peito; e como havia no meu pensamento o desejo de
conhecer os Casamentos dos Antiqüíssimos, eu olhava alternativamente para o
M arido e para a Esposa; e percebi, por assim dizer, a unidade de suas almas
sobre suas faces, e disse: "V ós dois, sois um". E o H omem respondeu: "N ós
somos um; a sua vida está em mim, e a minha vida está nela; nós somos dois
Corpos, mas uma única Alma; a união entre nós é como a que existe no Peito
entre as duas tendas que se chamam o Coração e o Pulmão, ela é meu Coração,
e eu sou o seu Pulmão; mas como pelo Coração nós entendemos aqui o Amor e
pelo Pulmão a Sabedoria, ela é o Amor da minha sabedoria, e eu sou a
Sabedoria do seu amor; é por isso que por fora o seu amor vela a minha
sabedoria, e por dentro a minha sabedoria está em seu amor; é daí que a
unidade de nossas Almas se mostra sobre nossas faces, como o disseste". E
então, lhe fiz esta pergunta: "Se tal é a união, será que podes contemplar uma
outra mulher além da tua?" E ele respondeu: "Eu o posso; mas como minha
Esposa está unida à minha Alma, nós a contemplamos os dois juntos, e então
nada de libidinoso pode penetrar; pois quando vejo as esposas dos outros, eu as
vejo por minha Esposa a quem eu amo unicamente; e, como tem ela a
percepção de todas as minhas inclinações, ela dirige, como intermediária, os
meus pensamentos; afasta tudo que é discordante, e introduz ao mesmo tempo
frieza e horror por tudo que é incasto; é por isso que aqui nos é tão impossível
olhar para a Esposa de um outro com desejo libidinoso, como é impossível das
trevas do T ártaro,encarar a luz de nosso Céu; por isso também não existe entre
nós nenhuma idéia do pensamento, nem com mais forte razão nenhuma
expressão da linguagem, para os atrativos de um amor libidinoso". Ele não
pôde pronunciar a palavra escortatório, porque a castidade de seu Céu a isso se
opunha. Então o Anjo que me servia de guia me disse: "Compreendes agora
que a linguagem dos Anjos deste Céu é a linguagem da sabedoria, pois eles
falam segundo as causas".Depois disso dirigi o olhar em torno de mim,e vi seu
T abernáculo como coberto de ouro, e perguntei donde provinha isso. Ele
respondeu: "Isto provém de uma luz inflamada que brilha como ouro, e que
ilumina com seus raios e incide levemente sobre os pavilhões de nosso
T abernáculo, quando falamos sobre o Amor Conjugal; pois o Calor de nosso
Sol que em sua essência é o Amor, se põe então a nu, e tinge com sua cor de
ouro a luz, que em sua essência é a Sabedoria; e isso acontece, porque o Amor
Conjugal, em sua origem, é o jogo da Sabedoria e do Amor; pois o H omem
nasceu para ser sabedoria, e a M ulher para ser amor da sabedoria do homem;
daí provêm as delícias deste jogo no Amor conjugal e por este Amor, entre nós
e nossas esposas. N ós aqui vimos claramente, desde milhares de anos, que estas
delícias, quanto à sua abundância, a seu grau e a sua vontade, aumentam e se
64
amor a outro bem que não seja o seu; se fosse de outro modo, o Casamento
interno, que faz a Igreja, seria destruído, e se tornaria um Casamento
unicamente externo, ao qual corresponde a idolatria e não à Igreja; é por isso
que o Casamento com uma única esposa, nós o chamamos Sacrimônia, mas se
se fizesse entre nós com várias, nós o chamaríamos Sacrilégio". Depois que ele
falou, fomos introduzidos na peça que precede ao quarto de dormir; havia
sobre as paredes vários desenhos feitos com arte, e pequenas imagens que
pareciam fundidas em prata; e eu perguntei o que significavam essas cousas.
Eles disseram: "São pinturas e formas representativas de várias qualidades,
atributos e prazeres que pertencem ao amor conjugal; estas representam a
unidade das almas, aquelas a conjunção das mentes; aquelas outras lá a
concórdia dos corações, aquelas outras as delícias que daí procedem".
Continuando o nosso exame, vimos sobre a parede uma espécie de Íris
composta de três cores, Púrpura, Jacinto e Branco, e notamos que a cor
púrpura atravessava o jacinto e tingia o branco com uma cor azul-celeste, e que
esta cor refluía pelo jacinto na púrpura, e a elevava, por assim dizer, ao brilho
da chama. E o M arido me disse: "Compreendes isso?" E eu respondi: "Instrui-
me". E ele disse: "A cor púrpura, por sua correspondência, significa o Amor
Conjugal da esposa; a cor branca, a inteligência do marido; a cor jacinto, o
começo do amor conjugal na percepção do marido pela esposa; e a cor azul
celeste (azur) de que a cor branca se tingiu, o amor conjugal então no marido;
esta cor que refluía pelo jacinto na púrpura, e a elevava por assim dizer ao
brilho da chama, significa o amor conjugal do marido refluindo sobre a esposa;
T ais cousas são representadas nas paredes quando, pela meditação sobre o
Amor conjugal, sobre sua união mútua, sucessiva e simultânea, nós
consideramos com olhos atentos os íris que aí são pintados". Disse a esse
respeito: "Estas cousas são hoje mais que místicas; pois são aparências
representativas de arcanos do amor conjugal de um único homem com uma
única esposa". E ele respondeu: "Elas são assim, mas para nós, aqui, elas não
são arcanos, nem por conseqüência cousas místicas". Q uando ele assim falou
apareceu de longe um Carro puxado por dois cavalos brancos novos. A vista
disso, o Anjo disse: "Este carro é para nós um sinal de que devemos nos
retirar". Então, quando descíamos os degraus, o nosso hóspede nos deu um
Cacho de uvas brancas aderente a folhas da cepa; e eis que as Folhas se
tornaram de prata; e nós as levamos como um sinal de que tínhamos
conversado com os Povos do Século da Prata.
77 - T erceiro M emorável. N o dia seguinte o Anjo que me tinha conduzido e
acompanhado veio ainda, e me disse,: "Prepara-te, e vamos aos H abitantes
Celestes, no O cidente; eles fazem parte dos homens que viveram na terceira
Idade ou Século do Bronze; suas habitações estão desde o Sul sobre o O cidente
até ao Setentrião,mas não no Setentrião". E, tendo me preparado, eu o segui, e
entramos em seu Céu pelo lado meridional e lá, havia um magnífico Bosque de
palmeiras e de loureiros; nós o atravessamos, e então nos confins mesmo do
67
quereis amar a Deus e ao próximo, e se quereis vos tornar sábios, e ser felizes
pela eternidade, nós vos aconselhamos a viver M onogâmicos; se abandonardes
este Preceito, todo Amor celeste se afastará de vós, e com ele a Sabedoria
interna,e sereis exterminados".N ós obedecemos como filhos,a este preceito de
nossos Pais, e percebemos a sua verdade, que é que, quanto mais alguém ama
uma Esposa, tanto mais se torna celeste e interno; e que, quanto mais alguém
não ama uma Esposa, só, tanto mais se torna material e externo; e este não ama
senão a ele mesmo e às imagens de sua mente, e é um insensato e um louco.
Daí resulta que todos, neste Céu, somos M onogâmicos; e porque somos assim,
todos os limites de nosso Céu são guardados contra os Polígamos, os Adúlteros
e os Escortatórios; se os Polígamos penetram aqui, são lançados nas T revas do
setentrião; si os Adúlteros, são lançados nos Fogos do ocidente; e se os
Escortatórios, são lançados nas Luzes quiméricas do sul". A estas palavras, eu
perguntei o que ele entendia pelas trevas do setentrião, os fogos do ocidente e
as luzes quiméricas do sul; ele respondeu que as T revas do setentrião são as
estupidezes da mente e as ignorâncias das verdades; que os Fogos do ocidente
são os amores do mal; e que as Luzes quiméricas do sul são as falsificações do
vero, as quais são escortações espirituais". Depois disso ele me disse: "Segui-me
ao nosso G abinete de cousas antigas". E nós o seguimos; e ele nos mostrou que
as Escrituras dos Antiqüíssimos eram sobre T abletes de madeiras polidas; e que
a segunda Idade tinha consignado suas escrituras sobre Folhas de Pergaminho,
e nos apresentou uma Folha sobre a qual estavam as R egras dos homens da
primeira Idade, transcritos de suas tábuas de pedra, e entre as quais havia
também o preceito sobre os Casamentos. Depois que vimos estas cousas
M emoráveis da Antigüidade mesma e várias outras, o Anjo disse: "Agora é
tempo de irmos embora". E então, o nosso hóspede foi ao Jardim, e tomou de
uma Arvore alguns ramos, e os ligou em um feixe e nos deu, dizendo: "Estes
ramos são de uma Arvore nativa de nosso Céu, ou própria a nosso Céu, e seu
suco tem um aroma balsâmico". Levamos este feixe, e descemos por um
caminho perto do O riente que não era guardado; e eis que os ramos se
mudaram em Bronze brilhante, e suas extremidades superiores em ouro; era
um sinal de que tínhamos estado em uma nação da T erceira Idade, que é
chamada o Século do Cobre ou do Bronze.
78 - Q uarto M emorável: Dois dias depois, o Anjo me falou de novo, dizendo:
"Acabemos o Período das Idades; nos resta a última Idade, que tem o nome do
Ferro. O povo desta Idade, mora no Setentrião sobre o lado do O cidente
dentro dele ou em largura; todos eles são antigos habitantes da Á sia, que
possuíam a Antiga Palavra, e tinham tirado dela seu culto; por conseqüência
antes da vinda do Senhor ao M undo; isso é evidente pelos Escritos dos Antigos,
nos quais estes tempos são, assim mencionados. Estas mesmas Idades são
entendidas pela estátua,que N abuchadnezar viu em sonho,”cuja Cabeça era de
O uro, o Peito e os Braços, de Prata; o V entre e as Coxas, de Bronze; as Pernas
de Ferro; e os Pés,de Ferro e também de Argila".(Daniel 11,32 e 33). O Anjo
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com bronze,em seus lombos ferro e argila misturados com prata, e em seus pés
ferro e argila misturados com ouro; por esta inversão, de homens foram
mudadas em esculturas de homens, nas quais não há interiormente cousa
alguma coerente; pois o que era o, supremo tornou-se o ínfimo, assim o que
era a cabeça tornou-se o calcanhar, e vice-versa; eles nos aparecem do Céu
semelhantes a histriões que se põem sobre os cotovelos com o corpo invertido,
e andam; ou como bestas que se deitam sobre o dorso e levantam os pés para o
ar, e com a cabeça, que eles escondem na terra, olham o Céu". Atravessamos a
floresta, e entramos no, Deserto, que não era menos assustador; consistia em
montões de pedras, entrecortados de fossos, de onde se lançavam hidras e
víboras, e de onde partiam serpentes voadoras; todo este deserto ia
continuamente se abaixando; e nós descemos por uma longa rampa, e enfim
nos vimos em um V ale habitado pelo povo desta região e desta idade; havia
aqui e ali cabanas que por fim apareceram aproximadas e juntas formando uma
cidade; entramos aí e eis que as casas eram construídas de galhos de árvores
queimados em volta, e ligados com barro; eram cobertos com ardósias negras;
as ruas eram irregulares, muito estreitas no começo, mas alargando-se para
diante, e espaçosas no fim, onde havia praças públicas, daí, tantas as ruas
quantas as praças públicas. Q uando entramos na cidade, se fez espessa treva,
porque o Céu não aparecia; por isso olhamos para cima, e a luz nos foi dada, e
vimos; e então perguntei aos que encontrava: "Será que podeis ver, visto como
o céu acima de vós não aparece?" E eles responderam: "Q ue pergunta fazes tu?
N ós vemos claramente, caminhamos em plena luz". O Anjo, tendo ouvido esta
resposta, me disse: "As trevas são para eles a luz, e a luz é para eles a treva; é
como para os pássaros noturnos, pois eles olham para baixo e não para cima.
Entramos aqui e ali nas cabanas, e vimos em cada uma um homem com sua
mulher, e perguntamos se, nesta cidade todos viviam em suas casas com uma
única esposa; e eles responderam com um assobio: “O que! Com uma única
esposa; Por que não perguntais se é com uma única cortesã? O que é uma
esposa; senão uma cortesã? Segundo nossas leis não nos é permitido viver com
várias mulheres, mas unicamente com uma; entretanto, não é para nós uma
desonra,nem uma indecência viver com várias,mas fora de casa; fazemos glória
disso entre nós; assim gozamos, da licença, e da volúpia que ela produz, mais
do que os polígamos; por que a pluralidade das esposas nos foi recusada,
quando entretanto foi concedida,e o é ainda hoje,em todas as regiões do globo
em torno de nós? O que é a vida com uma única esposa senão um cativeiro e
uma prisão? M as nós, aqui, quebramos os ferrolhos desta prisão, e nos
libertamos da servidão, e recuperamos nossa liberdade; quem pode se irritar
contra um prisioneiro que se escapa quando pode?".N ós lhe respondemos:"T u
falas amigo, como alguém que não tem religião; há alguém, dotado de alguma
razão, que não saiba que os adultérios são profanos e infernais, e que os
casamentos são santos e celestes? N ão estão os adultérios entre os diabos no
inferno, e os casamentos entre os Anjos no Céu? N ão leste o sexto preceito do
73
não é espiritual? E tudo que faz o espírito, ele o faz segundo o casamento do
bem e do vero; não é esse Casamento espiritual que entra no Casamento
natural, isto é, de um M arido e de uma Esposa?" A isso os pretensos sábios
responderam: "V ós tratais este assunto com sutileza e demasiada sublimidade,
passais acima dos racionais para os espirituais; quem pode começar a uma tal
elevação, descer de lá e assim tomar alguma decisão? "Depois, zombando,
acrescentaram: "T alvez tenhais azas de águia, e podeis voar na suprema região
do Céu, e aí fazer tais descobertas? quanto a nós, não o podemos". E então nós
lhes pedimos para dizer do alto ou da região em que voavam as idéias aladas de
suas mentes, se sabiam ou podiam saber, que existe um Amor Conjugal de um
único marido com uma única esposa, no qual foram reunidas todas as
beatitudes, todos os prazeres, todos os encantos, e todas as volúpias do Céu; e
que este amor vem do Senhor segundo a recepção do bem e do vero procedente
d'Ele, assim segundo o estado da Igreja". O uvindo estas palavras, eles se
desviaram e disseram: "Estes homens são loucos, entram no éter com seu
julgamento, e fazendo vãs conjecturas espalham disputas". Em seguida se
voltaram para nós, e disseram: "R esponderemos diretamente às vossas
conjecturas empoladas e aos vossos sonhos". E disseram: “O que é que o Amor
conjugal tem de comum com a R eligião e com a inspiração vinda de Deus? Este
amor não está em cada um segundo o estado de sua potência? N ão está ele
igualmente nos que estão fora da Igreja, como nos que estão na Igreja; entre os
gentios como entre os Cristãos; e mesmos entre os ímpios como entre os
piedosos? A força deste amor não está em cada um segundo o hereditário, ou
segundo a saúde, ou segundo a temperança da vida, ou segundo o calor do
clima? N ão pode ela também ser aumentada e estimulada por drogas? N ão há a
mesma cousa nas bestas, sobretudo nos pássaros que se amam por par? N ão é
este amor carnal? O que é que o carnal tem de comum com o estado espiritual
da Igreja? Será que este amor, quanto ao último efeito com a esposa, difere na
menor cousa do amor quanto a esse efeito com uma cortesã? O prazer não é
semelhante, e a delícia semelhante? É portanto injurioso tirar das cousas santas
da Igreja a origem do amor conjugal". Depois de ter ouvido estas palavras, nós
lhes dissemos: "V ós raciocinais por um delírio de lascividade, e não pelo amor
conjugal; vós não sabeis absolutamente o que é o Amor conjugal, porque este
amor em vós é frio; por vossas palavras, estamos convencidos de que sois do
Século que é chamado e se compõe de ferro e de argila, os quais não tem
coerência, segundo a predição de Daniel, (II, 43); pois fazeis um do Amor
conjugal e do amor escortatório; será que os dois têm mais coerência do que o
ferro e a argila? Acreditam que sois sábios e vos chamam de sábios, entretanto
vós nada sois menos do que sábios". A estas palavras, arrebatados de cólera, eles
gritaram e chamaram a multidão para nos expulsar, mas então, pelo poder que
nos foi dado pelo Senhor, nós estendemos as mãos, e eis que serpentes
voadoras, víboras e hidras, e também dragões do deserto, se apresentaram, e
invadiram e encheram a cidade, o que lançou o terror entre os habitantes que
75
fugiram; e o Anjo me disse: "N esta R egião chegam cada dia recém-vindos da
T erra, e de tempos em tempos os que os precederam são relegados e
precipitados nos abismos do O cidente, que de longe aparecem como Pântanos
de fogo e de enxofre; todos lá,são adúlteros espirituais,e adúlteros naturais".
80 - Sexto M emorável. Depois que o Anjo pronunciou estas palavras, olhei
para a extremidade do O cidente, e eis que apareceram como Pântanos de fogo
e enxofre; e lhe perguntei porque os Infernos apareciam assim neste lugar; ele
respondeu: "Aparecem como Pântanos pelas falsificações do vero, porque a
água no sentido espiritual é o vero; e aparece como um fogo em torno e dentro
pelo amor do mal, e como enxofre pelo amor do falso; estes três, o Pântano, o
Fogo e o Enxofre, são aparências, porque são correspondências dos amores
maus em que estão os habitantes. T odos, lá, estão encerrados em eternas
cadeias, e trabalham pelo alimento, a roupa e a cama; quando agem mal, são
severamente e miseravelmente punidos". Fiz ainda esta pergunta ao Anjo: "Por
que disseste que lá estão adúlteros espirituais e naturais? por que não disseste
malfeitores e ímpios?" Ele respondeu: "Porque todos os que consideram como
nada os adultérios,isto é, que acreditam pela confirmação que não são pecados,
e assim os cometem de propósito deliberado, são em seus corações malfeitores e
ímpios; pois o Conjugal humano e a R eligião marcham juntos com o mesmo
passo; toda marcha e todo avanço pela R eligião e na R eligião, é também uma
marcha e um avanço pelo Conjugal e no Conjugal que é particular e próprio
do homem Cristão". T endo lhe perguntado o que é este Conjugal, ele disse: "é
o desejo de viver com uma única Esposa, e este desejo está no homem Cristão
segundo a R eligião". Depois fiquei aflito em meu coração porque os
Casamentos, que nas Idades Antigas tinham sido santíssimos, tivessem tão
horrivelmente se mudado em adultérios; e o Anjo disse: "Acontece hoje o
mesmo com a R eligião, pois o Senhor disse que na Consumação do século
haverá a Abominação da desolação predita em Daniel; e que haverá uma
Aflição grande,tal como não houve desde o começo do mundo (M ateus X X IV ,
15,21).A Abominação da desolação significa a falsificação e a privação total de
todo vero; a Aflição significa o estado da Igreja infestada pelos males e pelos
falsos; e a Consumação do século, a respeito da qual isso é dito, significa o
último tempo ou o fim da Igreja; é agora o fim porque não resta mais vero que
não tenha sido, falsificado; e a falsificação do vero é a escortação espiritual, que
faz um com a escortação natural,porque elas são coerentes".
81 - Q uando falávamos destas coisas e estávamos aflitos, apareceu de repente
um grande clarão de luz que me feriu fortemente os olhos; por isso olhei para
cima,e eis que todo o Céu acima de nós apareceu luminoso; e lá do O riente ao
O cidente em uma longa série se fazia ouvir uma G lorificação; e o Anjo me
disse: "Esta G lorificação é a G lorificação do Senhor por causa do Seu Advento;
é feita pelos Anjos do Céu O riental e do Céu O cidental". N ão se ouvia do Céu
M eridional e do Céu Setentrional senão um doce murmúrio; e como o Anjo
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tinha compreendido tudo, ele me disse primeiro que estas G lorificações e estas
Celebrações do Senhor se faziam pela Palavra, porque então elas se fazem pelo
Senhor, pois o Senhor é a Palavra, isto é, o Divino V ero na Palavra, e ele disse:
"Agora eles glorificam e celebram o Senhor em particular por estas palavras que
foram ditas pelo Profeta Daniel: "T u viste o ferro misturado com a argila do
oleiro; eles se misturarão por semente de homem, mas não terão coerência: e
nestes dias o Deus dos Céus fará surgir um R eino, que pelos séculos não
perecerá; este quebrará e consumirá todos estes R einos, ele porém subsistirá
pelos séculos” (Daniel 11, 43, 44). Depois disso, ouvi como um ruído de
canto, e mais adiante, no O riente, vi um clarão de luz mais resplandecente que
o primeiro; e perguntei ao Anjo quais eram as palavras desta G lorificação; ele
disse que eram estas em Daniel:"V endo eu estava em visões de noite, e eis com
as N uvens do Céu como um Filho do H omem que vinha; e a Ele foi dado
Dominação e R eino, e todos os povos e nações O servirão; a sua Dominação
(será) uma Dominação do século, a qual não passará; e seu R eino, (um R eino)
que não, perecerá" (Daniel V II, 13, 14). Além disso, celebravam o Senhor por
estas palavras do Apocalipse: "A Jesus Cristo seja a glória e a força; eis que ele
vem com as N uvens; Ele é o Alfa e o ômega, o Começo, e o Fim, o Primeiro e
o último, Q ue É, e Q ue Era, e Q ue V em, o T odo Poderoso. Eu, João, ouvi
isto do Filho do H omem,do meio de sete candelabros" (Apoc.I, 5, 6, 7, 8, 10,
11, 12, 13; X X II, 13) e também segundo M ateus X X IV , 30, 31. Dirigi de
novo meus olhos para o Céu O riental, e o lado direito resplandecia de luz, e o
esplendor luminoso entrou na Extensão M eridional, e ouvi um som doce; e
perguntei ao Anjo qual era, lá o assunto da glorificação do Senhor. Ele disse
que eram estas palavras do Apocalipse: "Eu vi um Céu novo e uma T erra nova,
e via a Cidade Santa, Jerusalém N ova, descendo de Deus pelo Céu, enfeitada
como uma N oiva ornada para seu M arido. E o Anjo me falou e disse: V em, eu
te mostrarei a N oiva, do Cordeiro, a Esposa; e me levou em espírito sobre uma
M ontanha grande e elevada,e me mostrou a Cidade,a Santa Jerusalém" (Apoc.
X X I, 1, 2, 9, 10). E também estas: "Eu, Jesus, sou a Estrela brilhante e da
manhã e o Espírito e a N oiva dizem: V em. E Ele diz: Sim, eu venho breve;
Amém !Sim, V em, Senhor Jesus!" (Apoc. X X II, 16, 17, 20). Depois destas
glorificações e várias outras, ouviu-se uma comum G lorificação do O riente ao
O cidente do Céu, e também do Sul ao Setentrião; e perguntei ao Anjo quais
eram então as palavras; e ele disse que eram estas, tomadas nos Profetas: "A fim
de que saiba toda carne, que Eu (sou) Jehovah teu Salvador e teu R edentor"
(Isaías X LIX , 26). "Assim disse Jehovah, o R ei de Israel, e seu R edentor
Jehovah Z ebaoth: Eu, o Primeiro e, Eu o último, e exceto Eu, não há Deus".
(Isaías X LIV , 6). "Dir-se-á naquele dia: Eis nosso Deus, Este, que esperávamos
para que nos libertasse; Este (é) Jehovah que esperávamos". (Isaías X X V , 9).
"U ma vós há do que clama no deserto: Preparai o caminho a Jehovah; eis, o
Senhor Jehovah em forte vem; como Pastor seu, rebanho apascentará". (Isaías
X L, 3, 5, 10, 11). "U m M enino nos nasceu, um Filho nos foi dado, e
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as cousas do Pai são d'Ele, (João III, 35; X V I, 15); que Ele é o Caminho, a
V erdade e a V ida e que ninguém vem ao Pai senão por Ele, (João X IV , 6),
assim por Ele, porque o Pai está n'Ele, e que segundo Paulo, toda a plenitude
da Divindade habita corporal n'Ele, (Col. II, 9); e, além disso, que Ele tem o
Poder sobre toda carne, (João X V II, 2); e que Ele tem todo Poder no Céu e
sobre a T erra, (M at. X X V III, 18); de todas estas passagens resulta que Ele é o
Deus do Céu e da T erra".Ele me perguntou em seguida como eu demonstraria
o Segundo que a Fé salvífica é de crer n'Ele, Eu disse: "Demonstro-o por estas
palavras do Senhor M esmo: É a vontade do Pai, que quem quer que crê no
Filho tenha a vida eterna, (João V I, 40). Deus amou de tal modo o mundo,
que seu Filho U nigênito Ele deu, a fim de que quem quer que crê n'Ele não
pereça, mas tenha a vida eterna, (João III, 15, 16). Q uem crê no Filho tem a
vida eterna, mas quem não crê no Filho não verá a vida, mas a cólera de Deus
permanece sobre ele, (João III, 36) ". Em seguida ele me disse: "Demonstra
também o T erceiro e os seguintes". E eu respondi: "Q ue necessidade há de
demonstrar que é necessário fugir dos males, porque são do diabo e vem do
Diabo; e que é necessário fazer os bens, porque são de Deus e vêm de Deus; e
que o homem deve fazer os bens como por si mesmo, mas crer que são feitos
pelo Senhor nele e por meio dele? Q ue essas três Doutrinas sejam veros, é o
que confirma toda Escritura Santa desde o começo até ao fim. Q ue outra cousa
há, em suma, senão que é preciso fugir dos males fazer os bens, e crer no
Senhor Deus? e, além disso, sem estes três Doutrinais, não há R eligião alguma;
a R eligião não concerne à vida? [E o que é a vida, se não é fugir aos males e
fazer os bens? Como o homem pode fazer estes e fugir daqueles, se não for
como pôr ele mesmo? Se portanto tiras da Igreja estes Doutrinais, tu lhe tiras a
Escritura Santa, e tiras também a R eligião; e quando estas coisas são tiradas, a
Igreja não é a Igreja". Este homem, tendo ouvido estas explicações se retirou, e
meditou; mas foi embora estando sempre indignado.
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influxo segundo sua forma, isso pode ser ilustrado por diversas cousas; por
exemplo,pelo influxo do calor e da luz do Sol nos vegetais de todo gênero; cada
vegetal recebe este influxo segundo sua forma; assim, toda árvore segundo a
sua; todo arbusto segundo a sua, toda planta segundo a sua, toda erva segundo
a sua; o influxo é semelhante em todos, mas a recepção, porque é segundo a
forma,faz que cada espécie fique espécie particular. A mesma cousa pode ainda
ser ilustrada pelo influxo nos Animais de todo gênero segundo a forma de cada
um. Q ue o influxo seja segundo a forma de cada cousa, é o que pode ver
mesmo um homem iletrado, se presta atenção aos diversos instrumentos de
som,tais como os assobios,as flautas,as trompas,as trombetas e os órgãos, pelo
fato deles ressoarem por um mesmo sopro ou influxo do ar segundo suas
formas.
87 - II. N ão há Bem solitário, nem V ero solitário, mas por toda parte eles
foram conjuntos.
Aquele que quer por algum sentido formar uma idéia do Bem, não o pode
conseguir sem acrescentar alguma cousa que o apresente e manifeste; sem isso o
Bem é um Ser (Ens) que não tem nome; aquilo pelo que ele é apresentado e
manifestado se refere ao vero; diz simplesmente o B em, e não ao mesmo tempo
tal ou tal cousa com que ele está, ou define-o de uma maneira abstrata ou sem
algum adjunto coerente, e tu verás que não é cousa alguma, mas que com o
que foi junto, é alguma cousa; e se empregas toda a tua razão, perceberás que o
Bem sem algum adjunto não é suscetível de denominação alguma, nem por
conseqüência de relação alguma, de afeição alguma, nem de estado algum, *em
uma palavra, de qualidade alguma. Dá-se o mesmo com o V ero, se é ouvido
sem que tenha sido junto a ele alguma cousa; que o que foi junto a ele se refere
ao bem, a razão purificada pode vê-lo. M as como os Bem são inumeráveis, e
cada bem sobe ao seu máximo e desce ao seu mínimo como pelos degraus de
uma escada, e mesmo muda de nome segundo sua progressão e, segundo sua
qualidade, é difícil a outros que não aos sábios ver a relação do bem e do vero,
com os objetos,e sua conjunção nos objetos.Q ue entretanto não haja bem sem
vero, nem vero sem bem, é o que vê claramente a percepção comum, quando
de começo se reconhece que todas e cada uma das cousas do U niverso se
referem ao Bem e ao V ero, como foi mostrado no Artigo precedente, n. 84,85.
Q ue não haja bem solitário, nem V ero solitário, isso pode ser ilustrado e ao
mesmo tempo confirmado por diversas considerações; assim, não há Essência
sem forma,nem Forma sem essência; ora,o bem é a essência ou o ser e o vero é
aquilo pelo qual a essência é formada e pelo qual o ser existe.Assim,no homem
há a V ontade e o Entendimento, o Bem pertence à vontade, e o V ero pertence
ao entendimento; ora, a vontade só nada faz senão pelo entendimento; e o
entendimento só não faz alguma cousa senão pela vontade. Assim, há duas
fontes da vida do corpo no homem,o Coração e o Pulmão; o coração não pode
produzir alguma vida sensitiva e motriz sem a respiração, do pulmão, nem o
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89 - Q ue nestes dois, por criação, tenha sido inserida uma inclinação para se
conjuntar em um, é porque um foi formado do outro, a Sabedoria foi formada
do amor de se tornar sábio, ou o vero foi formado do bem, e a Amor da
sabedoria foi formado desta sabedoria, ou o bem do vero foi formado deste
vero; por esta formação pode-se ver que há uma inclinação mútua para se
unirem e para se conjuntarem em um. M as isso tem lugar nos H omens que
estão na Sabedoria real, e nas M ulheres que estão no Amor desta Sabedoria no
M arido, assim naqueles que estão no Amor verdadeiramente conjugal. Q uanto
a Sabedoria que deve estar no homem e que deve ser amada pela Esposa, se
falará dela também mais adiante.
90 - IV .N os seres do R eino Animal o V ero do bem, ou o V ero segundo o bem
é o M asculino, e por ele o B em do vero ou o Bem segundo este vero é o
Feminino.
Q ue do Senhor Criador e Conservador do U niverso influi uma perpétua U nião
do Amor e da Sabedoria, ou o Casamento do bem e do vero e que os seres
criados o recebam cada um segundo sua forma, é o que foi mostrado, ns. 84,
85, 86; mas que segundo este Casamento ou esta U nião o M acho recebe o
V ero da Sabedoria, e que o Bem do amor lhe seja conjunto pelo Senhor
segundo a recepção, e que esta recepção se faça no entendimento, e que por
conseguinte o M acho nasce para se tornar intelectual, a R azão segundo sua luz
pode vê-lo, por cousas nele, sobretudo por sua Afeição, sua Aplicação, seus
Costumes e sua Forma. Por sua Afeição, pelo fato de ser a afeição de saber, de
compreender e de se tornar sábio; a afeição de saber na infância, a afeição de
compreender na adolescência e na primeira juventude, e a afeição de se tornar
sábio depois desta juventude até à velhice; daí é evidente que sua natureza ou
seu caráter se inclina a formar o entendimento, e que por conseqüência ele
nasce para se tornar intelectual; mas como isso só se pode fazer pelo amor, o
Senhor acrescenta-lhe segundo a recepção, isto é, segundo a intenção que ele
tem de se tornar sábio. Por sua Aplicação, que se dirige para as cousas
pertencentes ao entendimento, ou nas quais predomina o entendimento, e das
quais a maior parte se refere às ocupações externas e concernentes aos usos em
público. Por seus Costumes, que participam todos do predomínio do
entendimento; dai vem que os atos de sua vida, que são entendidos pelos
costumes, são racionais, e que se não o são, ele quer que o pareçam; a
racionalidade masculina é mesmo visível em cada uma de suas virtudes. Pela
sua Forma pelo fato de ser diferente e absolutamente distinta da forma
feminina; sobre esta forma,veja-se também o que foi dito acima, n. 33. Q ue se
acrescente a isto que o prolífico está nele; o prolífico não vem de outra parte
senão do entendimento, pois existe pelo vero segundo o bem; que o prolífico
vem daí,é o que se verá adiante.
segundo o intelectual do homem, ou, o que é a mesma cousa, para ser o amor
da sabedoria do homem,porque ela foi formada por esta sabedoria, como acaba
de ser mostrado, n. 88 e 89, é também o que se pode ver pela Afeição da
M ulher, por sua Aplicação, por seus Costumes e por sua Forma. Por sua
Afeição, por ser esta a afeição de amar a ciência, a inteligência e a sabedoria,
entretanto, não nela mesma, mas no homem, e assim amar o homem; pois o
homem (vir) não pode ser amado por causa da forma só que faz com que
apareça como homem (homo), mas é amado por causa da qualidade que está
nele, a qual faz que ele seja homem. Por sua Aplicação, por que ela é levada
para as cousas que são obras das mãos, e são chamadas filé, bordados, e diversos
outros nomes, servindo para ornamentos, e a se enfeitar, e a realçar sua beleza;
e,além disso,para diversos deveres, chamados domésticos, que se adjuntam aos
deveres dos homens, os quais, como foi dito, são chamados afazeres fora de
casa; as mulheres são levadas a estas ocupações pela inclinação ao Casamento, a
fim de se tornarem esposas, e ser assim um com os maridos. Q ue a mesma
cousa se manifesta também pelos Costumes e por sua Forma, vê-se sem
explicação.
92 - V . Do influxo do Casamento do bem e do vero procedente do Senhor
vem o Amor do sexo,e vem o Amor conjugal.
Q ue o Bem e o V ero sejam os universais da criação, e por conseguinte estejam
em todos os seres criados, e que estejam nesses seres segundo a forma de cada
um; e que o Bem e o V ero procedem do Senhor não como dois mas como um,
é o que foi mostrado acima, n. 84 e 87; segue-se dai que uma Esfera U niversal
Conjugal procede do Senhor, e se espalha no U niverso desde seus primeiros até
seus últimos, assim desde os anjos até aos vermes. Q ue uma tal esfera do
Casamento do Bem e do V ero procede do Senhor, é porque esta esfera é
também a Esfera de propagação,isto é, de prolificação e de frutificação, e esta é
a mesma que a Divina Providência para a conservação do U niverso por
gerações sucessivas. O ra, como esta esfera universal, que é a do Casamento do
Bem e do V ero, influi nos seres segundo a forma de cada um, n. 86, segue-se
que o M acho a recebe segundo a sua, assim no Entendimento, porque ele é
uma forma intelectual; e que a Fêmea o recebe segundo a sua, assim na
V ontade, porque ela é uma forma voluntária segundo o intelectual do homem;
e como esta mesma esfera é também a esfera da prolificação, segue-se que daí
vem o Amor do sexo.
93 - Q ue daí vem também o Amor conjugal, é porque esta Esfera influi na
forma da sabedoria nos homens, e também nos Anjos; pois o homem pode
crescer em sabedoria,até ao fim de sua vida no M undo, e em seguida durante a
eternidade no Céu; e quanto mais cresce em sabedoria, tanto mais é
aperfeiçoada a sua forma; e esta forma recebe não o amor do sexo, mas o amor
de uma única pessoa do sexo; pois com esta pode ser unido até aos íntimos, nos
quais está o Céu com suas felicidades; e esta união pertence ao Amor conjugal.
85
pode-se vê-lo nos dois M emoráveis, ns. 44 e 45, pela sua descrição por aqueles
que estão no M undo espiritual.
100 - X I. O M acho e a Fêmea foram criados para ser a Forma mesma do
Casamento do bem e do vero.
É porque o M acho foi criado para ser o Entendimento do vero, assim o V ero
em uma forma, e a Fêmea foi criada para ser a V ontade do bem, assim o Bem
em uma forma,e em um e outro foi implantado, pelos íntimos, uma inclinação
a se conjuntarem em um, veja-se o n. 88; assim os dois fazem uma única
forma,que imita a Forma conjugal do bem e do vero.Diz-se que imita, porque
não é a mesma, mas é semelhante a ela; pois o Bem que se conjunta com o
V ero no homem vem imediatamente do Senhor, mas o Bem da esposa que se
conjunta com o V ero no homem vem mediatamente do Senhor pela esposa é
por isso que há dois Bens, um interno, o outro externo, que se conjuntam com
o V ero no marido; e fazem com que o marido esteja constantemente no
entendimento do vero, e por conseguinte na sabedoria pelo Amor
verdadeiramente conjugal; mas adiante se dirá mais sobre este assunto.
101 - X II. O s dois Esposos são: esta forma nos seus íntimos, e por conseguinte
nas causas que daí derivam,conforme os interiores da sua mente foram abertos.
H á três cousas nas quais consiste todo homem, e que se seguem em ordem
nele,a Alma, a M ente e o Corpo; seu íntimo é a Alma, seu médio é a M ente, e
seu último é o Corpo; tudo o que influi do Senhor no homem influi em seu
íntimo que é a Alma, e desce daí em seu médio, que é a M ente, e por esta no
seu último, que é o Corpo; o Casamento do Bem e do vero influi assim do
Senhor no homem, imediatamente em sua alma, e daí passa para as coisas que
daí derivam, e por estas para os extremos; e assim conjuntas todas as cousas
constituem o Amor Conjugal; segundo a idéia deste influxo, é evidente que os
dois Esposos são esta forma em seus íntimos, e por conseguinte nas coisas que
deles derivam.
102 - M as que os Esposos se tornem essa forma conforme os interiores de sua
mente foram abertos, é porque a M ente é sucessivamente aberta desde a
infância até a velhice mais avançada; pois o homem nasce corporal, e à medida
que a M ente é aberta de mais perto acima do Corporal ele se torna racional; e
do mesmo modo porque este racional é purificado e como que decantado das
ilusões que influem de seus corpos, e das cobiças das seduções da carne, do
mesmo modo é aberto o R acional, e isso se faz unicamente pela sabedoria, e
quando os interiores da mente racional foram abertos, então o homem se torna
uma forma da sabedoria,e esta forma é o receptáculo do amor verdadeiramente
conjugal. A Sabedoria que constitui esta forma, e recebe este amor, é uma
sabedoria racional e ao mesmo tempo uma sabedoria moral; a sabedoria
racional considera os veros e os bens que aparecem interiormente no homem,
não como seus, mas como influindo do Senhor; e a sabedoria moral foge dos
88
males e dos falsos como da lepra, sobretudo as lascividades, que maculam seu
amor conjugal.
103 - Ao que precede acrescentarei dois M emoráveis. Primeiro M emorável:
U ma manhã, antes do nascer do sol, dirigi o olhar para o O riente no M undo
espiritual, e vi quatro Cavaleiros sair, como se voassem, de uma nuvem
brilhante pela chama da aurora; sobre as cabeças dos cavaleiros havia capacetes
com penachos, nos braços como que asas, e em torno do corpo túnicas leves
cor de laranja; assim vestidos como para uma pronta corrida, eles se levantavam
e deixavam agitar as rédeas sobre as crinas dos cavalos, que assim corriam como
se tivessem azas nos pés: segui com a vista a sua corrida ou seu vôo na intenção
de saber onde iam; e eis que três Cavaleiros tomaram a direção de três plagas, a
saber, o Sul, o O cidente e o Setentrião; e o quarto, depois de uma curta
distância ao O riente, se deteve. Admirado disso, olhei para o Céu, e perguntei
onde iam esses Cavaleiros, e recebi esta resposta: "Para os sábios dos R einos da
Europa, que gozam de uma razão sã e de uma grande penetração no exame das
cousas,e tiveram entre os seus uma reputação de gênio, a fim de que venham e
desenvolvam o segredo concernente à O rigem do Amor Conjugal, e sua
V irtude ou Força''. E me disseram do Céu: "Espera um pouco, e verás vinte e
sete Carros, dos quais três ocupados por Espanhóis, três por Franceses ou
G auleses,três por italianos, três por G ermanos ou Alemães, três por B atavos ou
H olandeses, três por Ingleses, três por Suecos, três por Dinamarqueses e três
por Poloneses". E então, depois de uma meia hora, estes Carros foram vistos
puxados por cavalos baios novos elegantemente ajaezados, e se dirigiam com
uma grande velocidade para uma Casa espaçosa que se via nos limites do
O riente e do Sul; chegados perto desta casa, todos os que estavam nos carros
desceram, e entraram com ar resoluto. E então, me foi dito: "V ai e entra
também; e ouvirás". Fui e entrei; e examinando a casa por dentro, vi que era
quadrada; seus lados davam para as quatro Plagas; de cada lado, três altas
janelas com vidraças de cristal, seus Caixilhos em madeira de oliveira; de cada
lado dos caixilhos, Prolongamentos de paredes formando como que câmaras
abobadadas em cima, nas quais havia M esas; as suas Paredes eram de cedro, o
T eto de uma bela madeira odorífera, o Soalho em tacos de choupo; a parede
oriental, onde não se via janelas, estava colocada uma M esa recoberta de ouro,
sobre a qual havia uma T iara toda coberta de pedras preciosas, que devia ser
dada como prêmio ou recompensa àquele que descobrisse por sua investigação
o Segredo que ia ser proposto. Q uando dirigi o olhar para esses
Prolongamentos em forma de câmaras, que eram como G abinetes perto de
janelas, vi em cada um cinco H omens de cada R eino da Europa, que, todos
preparados, esperavam o Assunto que ia ser submetido ao seu julgamento.
Então se apresentou imediatamente um Anjo no meio do Palácio, e disse: “O
assunto submetido ao vosso julgamento será este: Da O rigem do Amor
Conjugal, e de sua V irtude ou Força; examinai-o, e decidi; escrevei a decisão
sobre um papel,metei-o na U rna de prata que vedes colocada perto da M esa de
89
ouro, e dai-lhe por assinatura a letra inicial do R eino de onde sois; assim um F
para os Franceses ou G auleses, um B para os Batavos ou H olandeses, um I para
os Italianos, um A para os Ingleses (Anglais, em francês), um P para os
Poloneses, um G para os G ermanos ou Alemães, um H para os Espanhóis
(H ispani), um D para os Dinamarqueses, e um S para os Suecos". Depois de
ter pronunciado estas palavras o Anjo se retirou, dizendo: "Eu voltarei". E
então os cinco H omens nativos do mesmo país, em cada G abinete perto das
janelas, examinaram a proposição, agitaram-na sob todas as faces; e segundo a
excelência das qualidades de seu julgamento, tomaram uma decisão, a
escreveram sobre um boletim tendo por assinatura a letra inicial, de seu R eino,
e o puseram na U rna de prata. Isso tendo terminado no espaço de três horas, o
Anjo voltou, e tirou da U rna os boletins um após outro, e os leu diante da
Assembléia.
104 - Então sobre o Primeiro Papel que sua mão tomou ao acaso, leu isto:
"N ós cinco,nativos do mesmo país,decidimos em nosso G abinete,que o Amor
Conjugal tira sua O rigem dos Antiqüíssimos do Século de O uro, e que entre
eles provinha da criação de Adão e de sua Esposa; daí vem a O rigem dos
casamentos,e com os casamentos a O rigem do Amor Conjugal. Q uanto ao que
concerne à V irtude ou Força do Amor conjugal,não a derivamos de outra parte
que não seja do clima ou da região do sol, e do calor que ele espalha sobre as
terras; encaramos este assunto não segundo vãs invenções da razão, mas
segundo índices evidentes da experiência; por exemplo, pelos Povos sob a linha
ou círculo equinocial, onde o Calor do dia é como um braseiro; e pelos povos
que estão perto deste Circulo, e os povos que estão mais afastados; e também
pela cooperação do calor solar com o calor vital nos animais da terra e nos
pássaros do céu na estação da primavera durante a prolificação; além disso, o
que é o Amor conjugal, senão um Calor que se torna V irtude ou Força, se o
calor subsidiário o Sol se junta a ele?" Esta decisão trazia em baixo a letra H ,
inicial do R eino de onde eles eram.
105 - Depois disso, ele pôs uma Segunda vez a mão na urna, e tirou um Papel,
onde se lia isto:"N ós, nativos do mesmo pais, concordamos, em nossa Câmara,
que a O rigem do Amor conjugal é a mesma que a origem das Casamentos, que
foram sancionados pelas leis a fim de refrear as cobiças inatas dos homens pelos
adultérios,os quais perdem inteiramente as almas,maculam as razões da mente,
corrompem os costumes, e infectam os corpos de moléstias; pois os adultérios
são atos, não humanos mas de natureza bestial, não racionais mas brutais, e
assim de modo algum cristãos mas bárbaros; é a condenação de tais atos, que
fez a origem dos Casamentos e ao mesmo tempo do Amor Conjugal. Dá-se o
mesmo com a virtude ou Força deste Amor; ela depende da castidade, que
consiste em abster-se de escortações; e isso, porque a V irtude ou Força naquele
que ama só a sua Esposa; é reservada a uma só, e é assim reunida e como que
concentrada; e então se torna nobre como Q uintessência isenta de máculas; de
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embora esse Papel ainda estivesse na mão do Anjo, eu não o vi; isso se passava
no M undo dos espíritos, no qual chegam primeiro todos os homens depois da
morte; e então o Anjo me falou dizendo: "Pergunta aos que vêm aqui, se me
vêem, ou se vêem alguma cousa na minha mão": V eio uma multidão de
espíritos,uns do oriente outros do sul,outros do ocidente,outros do setentrião,
e perguntei aos que vinham do O riente e do Sul, eram os que no M undo se
tinham dedicado à erudição, se viam alguém perto de mim, e se viam alguma
cousa em sua mão; todos disseram que não viam cousa alguma absolutamente;
em seguida fiz a mesma pergunta aos que vinham do O cidente e do Setentrião,
eram os que no M undo tinham acreditado nas palavras dos eruditos, disseram
que também nada viam; entretanto os últimos dentre eles, que no mundo
tinham estado na fé simples pela caridade, ou em algum vero pelo bem, depois
que os primeiros se retiraram, disseram que viam um H omem com um Papel,
o H omem vestido elegantemente, e o Papel com letras traçadas em cima; e
quando aproximaram os olhos, disseram que liam Casamento do Bem e do
V ero; e se dirigiram ao Anjo,pedindo-lhe para dizer o que isso significava; e ele
disse: "T odas as cousas que existem no Céu inteiro, e todas as que existem no
M undo inteiro,não são mais que o Casamento do bem e do vero, porque todas
e cada uma delas, tanto as que vivem e são animadas, como as que não vivem e
não são animadas foram criadas do Casamento do bem e do vero e por este
Casamento; não existe cousa alguma criada pelo V ero só, nem pelo Bem só, o
bem só ou o vero só nada é, mas pelo Casamento eles existem e se tornam
alguma cousa tal como é um casamento. N o Senhor Deus Criador o Divino
Bem e o Divino V ero estão em sua Substância mesma, o Ser da Substância de
Deus é o Divino Bem, e o Existir da Substância de Deus é o Divino V ero;
n'Ele também eles estão em sua U nião mesma, pois n'Ele fazem um de uma
maneira infinita; como estes dois são um, no Deus Criador M esmo, por isso
eles são também um em todas e cada uma das cousas criadas por Ele; por isso
também o Criador está conjunto com todas as Suas criaturas por uma aliança
eterna como por uma aliança de Casamento". Além disso, o Anjo disse: "A
Escritura Santa,que procede imediatamente do Senhor,é no comum e na parte
o Casamento do bem e do vero; e como a Igreja que é formada pelo V ero da
Doutrina, e a R eligião que é formada pelo Bem da vida segundo o V ero da
Doutrina,são, nos Cristãos, tirados unicamente da Escritura Santa, pode-se ver
que a Igreja no comum e na parte é o Casamento do Bem e do V ero". Q ue isso
seja assim, vê-se no Apocalipse R evelado, ns. 373, 483. - O que acima foi dito
do Bem e do V ero, foi dito também para o Casamento da Caridade e da Fé,
porque o Bem pertence à Caridade, e o V ero pertence à Fé. Alguns dos
primeiros que não tinham visto o Anjo nem a Escritura, estando ainda
presentes e ouvindo estas palavras, disseram a meia voz: "Sim, nós
compreendemos isso". M as então o Anjo lhes disse: "Afastai-vos um pouco de
mim,e dizei a mesma coisa''. E eles se afastaram, e disseram a plena voz: "N ão,
isso não é assim". Em seguida o Anjo falou do Casamento do B em e do V ero
96
Do casamento do Senhor e da
igreja e de sua correspondência
repudiei?" (Isaías L, 1). "T ua M ãe, como a cepa plantada perto das águas,
tornou-se carregada de frutos". (Ezequiel X IX , 10); estas passagens concernem
à Igreja Judaica."Jesus,estendendo a mão para os discípulos, disse: M inha M ãe
e meus irmãos são os que ouvem a Palavra de Deus, e a fazem". (Lucas V III,
21, M at. X II, 48, 49; M arcos 111, 33, 34, 35); pelos discípulos do Senhor é
entendida a Igreja. "Perto da cruz de Jesus, estava sua M ãe; e Jesus vendo sua
M ãe, e perto dela o discípulo que Ele amava, disse à sua M ãe: M ulher, eis teu
filho; e disse ao discípulo: Eis tua M ãe, por isso desde aquela hora, este
discípulo a tomou em sua casa". (João X IX , 25, 26, 27), por estas palavras é
entendido que o Senhor não reconheceu M aria por M ãe, mas a Igreja, é por
isso que Ele a chama M ulher e M ãe do discípulo; se Ele a chamou M ãe deste
discípulo ou de João é porque João representava a Igreja quanto aos bens da
caridade; estes bens são a Igreja no efeito mesmo, é por isso que se diz que ele a
tomou em sua casa. Q ue Pedro tenha representado a verdade e a Fé, e T iago a
Caridade, e João as O bras da Caridade, vê-se no Apocalipse R evelado, ns. 5, 6,
790, 798, 819; e que os doze Discípulos tenham representado em conjunto a
Igreja quanto a todas as cousas que a concernem,ns.233,790,903,915.
120 - III. As descendências do Senhor como M arido e Pai, e da Igreja como
Esposa e M ãe, são todas espirituais, e no sentido espiritual da Palavra, elas são
entendidas por filhos e filhas, irmãos e irmãs, genros e noras, e por outros
nomes relativos à geração.
Q ue não nasça outras descendências do Senhor pela Igreja, isso não tem
necessidade de demonstração, porque a razão o vê suficientemente, com efeito,
é do Senhor que procede todo bem e todo V ero, e é a Igreja que os recebe e os
põe em efeito; e todos os espirituais do Céu e da Igreja se referem ao bem e ao
vero; daí resulta que pelos Filhos e Filhas na Palavra, em & eu sentido
espiritual, entende-se os veros e os bens, pelos filhos os veros concebidos no
homem Espiritual e nascidos no homem N atural, e pelas filhas
semelhantemente os bens; é por isso que, os que foram regenerados pelo
Senhor são chamados, na Palavra, filhos de Deus, filhos do R eino, nascidos
d'Ele; e o Senhor chamou de filhos aos Seus discípulos; pelo filho homem que
a M ulher deu à luz, e que foi levado para Deus, (Apoc. X II, 5), não é
entendida, outra cousa, ver o Apocalipse R evelado, n. 543. Como pelas filhas
são significados os bens da Igreja, é por isso que na Palavra se diz tantas vezes a
Filha de Sião, de Jerusalém, de Israel e de Jehudah, pela qual é significado, não
alguma filha, mas a afeição do bem, afeição que pertence à Igreja, ver também
o Apocalipse R evelado, n. 612. O Senhor também chama Irmãos e Irmãs aos
que são de Sua Igreja, (M at. X II, 49; X X V , 40; X X V III, 10; M arc. 111, 35;
Lucas V III,21).
121 - IV . As descendências espirituais que nascem do Casamento do Senhor
com a Igreja, são os V eros de que procedem o entendimento, a percepção e
todo pensamento, e os Bens de que procedem o amor, a caridade e toda
100
afeição.
Q ue os V eros e os Bens sejam as descendências espirituais que nascem do
Senhor pela Igreja, é porque o Senhor é o Bem mesmo e o V ero mesmo, e
n'Ele este bem e este vero são não dois mas um; além disso também, porque do
Senhor não pode proceder outra cousa que não seja o que está n'Ele e o que é
Ele M esmo. Q ue o Casamento do bem e do vero procede do Senhor, e influi
nos homens, e seja recebido segundo o estado da mente e da vida daqueles que
estão na Igreja, é o que foi mostrado na seção precedente concernente ao
Casamento do Bem e do V ero.Se o homem tem pelos V eros o entendimento,a
percepção e todo pensamento e pelos Bens o amor, a caridade e toda afeição, é
porque todas as cousas do homem se referem ao V ero e ao B em; ora há no
homem duas cousas que o constituem, a V ontade e o Entendimento, e a
V ontade é o receptáculo do bem, e o Entendimento é o receptáculo do vero;
que os próprios da V ontade sejam o amor, a caridade e a afeição, e os próprios
do Entendimento a percepção e o pensamento, isso não tem necessidade de
uma demonstração, porque a luz está nesta proposição pelo próprio
entendimento.
122 - V . Do Casamento do bem e do vero, que procede do Senhor e influi, o
homem recebe o vero, e o Senhor conjunta o bem a esse vero; e é assim que a
Igreja é formada pelo Senhor no homem.
Q ue do bem e do vero que procedem como um do Senhor, o homem recebe o
vero,é porque ele o recebe como vindo dele,e do mesmo modo fala dele; e isso
acontece porque o vero está na luz do entendimento, e por conseguinte ele o
vê, e tudo que ele vê em si ou em sua mente, não sabe de onde vem, pois não
vê o influxo como vê as cousas que caem sob à vista do olho; dai ele imagina
que o vero está nele.Foi dado ao homem pelo Senhor,que isso apareça assim, a
fim de que ele seja homem, e a fim de que haja para ele um recíproco de
conjunção; acrescentasse a isso que o homem nasce com a Faculdade de saber,
de compreender e de se tornar sábio; e esta Faculdade recebe os veros pelos
quais ele tem a ciência, a inteligência e a sabedoria; e como a fêmea foi criada
por meio do vero do macho, e é formada para ser cada vez mais amor deste
vero depois do casamento, segue-se que esta também recebe o vero do marido
nela,e o conjunta com seu bem.
123 - Se o Senhor adjunta e conjunta o bem aos veros que o homem recebe, é
porque o homem não pode tomar o bem como por si mesmo,pois o bem não é
visível para ele,por esta razão que ele pertence não à luz,mas ao calor, e o calor
é sentido mas não é visto; é por isso que, quando o homem vê o vero em seu
pensamento ele reflete raramente sobre o bem, que influi do amor da vontade
no vero, e lhe dá a vida. A Esposa também não reflete sobre o bem que está
nela, mas reflete sobre a inclinação do M arido a seu respeito, a qual é segundo
a elevação do entendimento do marido para a sabedoria; o bem que está nela
pelo Senhor, ela o aplica sem que o marido saiba alguma cousa dessa aplicação.
101
Daí se manifesta agora esta verdade, que o homem recebe do Senhor o vero, e
que o Senhor adjunta o bem a esse vero, segundo a aplicação do vero ao uso,
assim à medida que o homem quer pensar sabiamente, e, por conseguinte viver
sabiamente.
124 - Se a Igreja, é assim formada pelo Senhor no homem, é por que então o
homem está em conjunção com o Senhor, no Bem pelo Senhor, no V ero como
por si mesmo; assim o homem está no Senhor, e o Senhor está nele, segundo as
palavras do Senhor em João X V , 4, 5. É o mesmo se em lugar do Bem se disser
a Caridade,e em lugar do V ero a Fé.
125 - V I. O M arido não representa o Senhor, e a Esposa não representa a
Igreja,porque os dois em conjunto,o M arido e sua Esposa constituem a Igreja.
A linguagem ordinária dentro da Igreja, é que, como o Senhor é o chefe da
Igreja, do mesmo modo o M arido é o Chefe da Esposa resultaria daí que o
M arido representa o Senhor, e a Esposa a Igreja; mas o Senhor é o chefe da
Igreja, e o homem (H omo), varão (vir) e a M ulher (femina), são a Igreja, e
mais ainda o M arido e a Esposa juntos; neles a Igreja é o princípio implantado
no homem, e por meio do homem na esposa, porque o homem pelo
entendimento recebe o vero da Igreja, e a esposa o recebe do homem; mas se
isso acontece vice-versa, não é conforme a ordem; às vezes, entretanto, isso
acontece,mas em homens que não são amantes da sabedoria, e por conseguinte
não são também da Igreja, e também naqueles que, como escravos, dependem
dos caprichos de suas esposas. Sobre este assunto, ver algumas particularidades
nos Preliminares,n.21.
126 - V II. Por isso não há correspondência do marido com o Senhor, nem da
esposa com a Igreja, nos Casamentos dos Anjos nos Céus e dos homens nas
terras.
Isto resulta como conseqüência do que acaba de ser dito; entretanto deve-se
acrescentar, que parece que o vero seja o principal da Igreja, porque é o
primeiro pelo tempo; é por esta aparência que os Prelados da Igreja deram a
palma à fé, que pertence ao vero, de preferência à Caridade que pertence ao
bem; do mesmo modo os Eruditos a deram ao pensamento, que pertence ao
entendimento,de preferência à afeição que pertence à vontade; é por isso que o
conhecimento do que é o bem da caridade, e do que é a afeição da vontade,
está escondido, como que sepultado em um túmulo, e alguns mesmo lançaram
terra em cima como sobre os mortos, a fim de que não se levante; que
entretanto o bem da caridade seja o principal da Igreja, é o que podem ver com
os olhos abertos, aqueles que não fecharam o caminho do Céu a seu
entendimento confirmando-se a respeito da fé, que só ela constitui a Igreja, e a
respeito do pensamento, que só ele constitui o homem. O ra, pois que o Bem
da caridade vem do Senhor, e que o V ero da fé está no homem como vindo
dele, e que os dois fazem a conjunção do Senhor com o homem e do homem
102
com o Senhor, tal como é entendida por estas palavras do Senhor, que Ele está
neles e eles n'Ele (João X V ,4,5),é evidente que esta conjunção é a Igreja.
127 - V III. M as há correspondência com o Amor conjugal, a seminação, o
amor dos filhos, e outras cousas semelhantes que estão nos Casamentos, e que
deles procedem. Estas cousas, todavia, são Arcanos demasiados profundos para
poderem entrar no entendimento com alguma luz, a não ser que sejam
precedidos de um conhecimento da Correspondência; se a Correspondência
não é desvendada ao entendimento, é impossível que as cousas que estão neste
Artigo sejam compreendidas de qualquer maneira que sejam explicadas. M as o
que é a Correspondência, e que haja correspondência entre as cousas naturais e
as cousas espirituais,é o que foi amplamente mostrado no Apocalipse R evelado,
e também nos Arcanos Celestes, e especialmente na Doutrina da N ova
Jerusalém sobre a Escritura Santa, e particularmente em um M emorável que a
concerne, e que se encontra mais adiante. Antes que se tenha obtido algum
conhecimento sobre este assunto, será somente apresentado diante do
entendimento, como em uma sombra, este pequeno número de
particularidades: Q ue o Amor conjugal, corresponde à Afeição do vero real, à
sua castidade, à sua pureza e à sua santidade; que a Seminação corresponde à
força do vero; que a Prolificação corresponde à propagação do vero; e o Amor
dos filhos corresponde à defesa do vero e do bem. O ra, pois que o V ero no
homem se apresenta como estando nele, e que o Bem lhe é adjunto pelo
Senhor, é evidente que estas Correspondências são as do homem N atural ou
Externo com o homem Espiritual ou Interno; mas alguma luz será lançada
sobre este assunto nos M emoráveis que seguem.
128 - IX . A Palavra é o M édium de conjunção porque ela vem do Senhor, e é
assim do Senhor.
Se a Palavra é o M édium de conjunção do Senhor com o homem, e do homem
com o Senhor, é porque em sua essência ela é o Divino V ero unido ao Divino
Bem, e o Divino Bem unido ao Divino V ero; que esta união esteja em todas e
cada uma das coisas da Palavra em seu sentido celeste e em seu sentido
espiritual, vê-se no Apocalipse R evelado, ris. 373, 483, 689, 811; donde
segue-se que a Palavra é o perfeito Casamento do bem e do vero; e como vem
ela do Senhor,e o que vem d'Ele é também Ele mesmo, segue-se que quando o
homem lê a Palavra,e tira dela os veros, o Senhor adjunta o bem; com efeito, o
homem não vê os bens que afetam, porque ele a lê pelo entendimento, e o
entendimento não tira dela senão as cousas que lhe pertencem, as quais são os
veros; que os bens ai sejam adjuntos pelo Senhor, o entendimento o sente pelo
prazer que influi quando ele é ilustrado, mas isso não acontece interiormente
senão naqueles que a lêem com o fim de se tornarem sábios, e o fim de se
tornar sábios está naqueles que querem aprender nela os veros reais, e por estes
veros formar neles a Igreja; mas os que a lêem unicamente para obter renome
de erudição, e aqueles que a lêem com a opinião de que lê-la somente ou
103
peito da mãe; mas que é a mãe ou a ama que o aproxima; que apenas sabe
sugar, e que aprendeu isso por uma contínua sucção no útero; que mais tarde
não sabe caminhar nem articular o som em alguma palavra humana, nem
mesmo exprimir, pelo som, como as bestas, a afeição do seu amor; que além
disso, não conhece alimento algum que lhe convém, como os conhecem todas
as bestas, mas que tomam o que encontram, quer seja limpo ou sujo, e o põem
na boca; estes observadores disseram que o homem, sem instrução, não sabe
mesmo discernir o sexo, nem absolutamente cousa alguma concernente às
maneiras de amar; nem mesmo as donzelas e os rapazes sem ser instruídos por
outros,ainda que tenham sido instruídos em diversas ciências; em uma palavra,
o homem nasce corporal como o verme; e permanece corporal, a não ser que
aprenda por outros a saber, a compreender e a se tornar sábio. Depois disso,
confirmaram que as Bestas, tanto nobres, como ignóbeis, como os animais da
terra, as aves do céu, os répteis, os peixes, os vermes que se chamam insetos,
nascem em todas as ciências dos amores de sua vida; por exemplo, em tudo que
concerne à alimentação, em tudo que concerne à habitação, em tudo que
concerne ao amor do sexo e à prolificação, e em tudo que concerne à educação
de seus filhotes; confirmaram isso pelas maravilhas que relembraram em sua
memória segundo o que haviam visto, ouvido e lido no M undo natural, (é
assim que eles chamam o nosso M undo), onde tinham vivido
precedentemente, e no qual há bestas, não representativas, mas reais. Depois
que a verdade da proposição foi assim provada, eles, aplicaram suas mentes em
procurar e achar os fins e as causas, pelos quais desenvolveram e descobriram
este Arcano; e disseram todos: "Isso não pode existir assim senão pela Divina
Sabedoria, a fim de que o homem seja homem, e que a besta seja besta, e que
assim a imperfeição de nascença do homem se torne perfeição, e que a
perfeição de nascença da besta seja a sua imperfeição".
134 - Então, os do Setentrião começaram primeiro a dar sua opinião, e
disseram que o homem nasce sem as ciências a fim de que possa recebê-las
todas, em quanto que se nascesse nas ciências, não poderia receber outras além
daquelas em que tivesse nascido, e então não poderia tampouco se apropriar de
nenhuma; ilustraram isso por esta comparação: O homem ao nascer é como
um húmus no qual semente alguma foi espalhada, mas que entretanto pode
receber todas as sementes, e fazê-las crescer e frutificar; a besta, ao contrário, é
como um húmus já semeado, e cheio de grama e de ervas -, o qual não recebe
outras sementes senão as que aí estão semeadas; se outras lhe forem confiadas,
serão abafadas; daí vem que o homem, para adquirir todo seu crescimento,
emprega vários anos, durante os quais pode, como um húmus, ser cultivado e
produzir como que colheitas, flores e árvores de toda espécie, enquanto que a
besta adquire seu crescimento em muitos poucos anos, durante os quais não
pode ser cultivada senão nas ciências que recebeu ao nascer. Em seguida os do
O cidente falaram, e disseram: “O homem não nasce na Ciência, como a besta,
mas nasce na Faculdade e Inclinação, faculdade para saber, e inclinação para
109
amar; nasce na faculdade não somente para saber, mas também para
compreender e se tornar sábio, e nasce na inclinação muito perfeita não
somente para amar as cousas que são dele e do mundo, mas também as que são
de Deus e do Céu; em conseqüência por seus pais o homem nasce órgão,
vivendo unicamente pelos sentidos externos, e a princípio sem nenhum sentido
interno, a fim de que sucessivamente se torne homem, a principio natural, em
seguida racional e por fim espiritual; o que não aconteceria se ele nascesse nas
ciências e nos amores como as bestas; com efeito, as ciências e as afeições inatas
limitam esta progressão, mas a faculdade e a inclinação inatas não limitam
cousa alguma; é por isso que o homem pode ser aperfeiçoado pela ciência, a
inteligência e a sabedoria durante a eternidade". O s do Sul falaram em seguida
e emitiram sua opinião, dizendo: "É impossível ao homem adquirir por si
mesmo ciência alguma, mas é pelos outros que ele deve adquirir a ciência, pois
que ciência alguma é inata (connata) nele; e como não pode adquirir por si
mesmo ciência alguma, não pode tampouco adquirir amor algum, pois que
onde não está a ciência, aí não está o amor; a ciência e o amor são
companheiros inseparáveis,e não podem ser separados mais do que a vontade e
o entendimento,ou a afeição e o pensamento, enfim mais do que a essência e a
forma; à medida portanto que o homem adquire das outras a ciência, o amor a
ela se junta,como companheiro da ciência; o amor universal que se adjunta é o
amor de saber, de compreender e de se tornar sábio; este amor é próprio do
homem somente, e não de besta alguma, e influi de Deus. N ós concordamos,
com os nossos companheiros do O cidente, que o homem não nasce em amor
algum, nem por conseqüência em ciência alguma, mas nasce unicamente na
inclinação para amar,e por conseguinte na faculdade de receber as ciências, não
por si mesmo, mas pelos outros, isto é, por intermédio dos outros; se diz por
intermédio dos outros, pois eles também não receberam deles mesmos cousa
alguma da ciência, mas receberam de Deus. Concordamos também com os
nossos companheiros do Setentrião,que o homem ao nascer é como um húmus
no qual semente alguma foi espalhada, mas onde podem ser semeadas todas as
cousas tanto nobres como ignóbeis. A isso acrescentamos que as Bestas nascem
nos amores naturais, e por conseguintes nas ciências que lhes correspondem, e
entretanto não sabem, não pensam, não compreendem e não saboreiam cousa
alguma proveniente dessas ciências, mas por meio destas ciências são
conduzidas por seus amores, pouco mais ou menos como os cegos nas ruas por
cães, pois são cegos quanto ao entendimento; ou antes são como sonâmbulos
que fazem o que fazem por uma ciência cega, estando o entendimento
entorpecido". O s do O riente falaram em último lugar, e disseram:
"Concordamos com as opiniões que nossos irmãos emitiram, de que o homem
nada sabe por ele mesmo, mas sabe pelos outros e por intermédio dos outros, a
fim de que conheça e reconheça que tudo que sabe,. compreende e tem de
sabedoria vem de Deus; e que de outro modo o homem não pode ser
concebido, nascer e engendrado do Senhor, nem se tornar sua imagem e sua
110
semelhança; pois ele se torna imagem do Senhor, pelo fato de que reconhece e
crê que recebeu e recebe do Senhor, e não dele mesmo, todo, bem do amor e
da caridade, e todo vero da sabedoria e da fé; e é a semelhança do Senhor, pelo
fato de que tem em si este bem e este vero como vindos dele mesmo; sente isso
porque não nasce nas ciências, mas as recebe, e lhe parece que o que recebe
vem dele; o Senhor dá mesmo ao homem (a faculdade) de sentir assim, a fim
de que seja homem e não besta, pois que pelo fato de que quer, pensa, ama,
sabe, compreende e se torna sábio como por si mesmo, ele recebe as ciências e
as exalta em inteligência, e por seu uso, em sabedoria; assim o Senhor conjunto
o homem com Ele, e o homem se conjunta ao Senhor; estas cousas não
poderiam se fazer, se o Senhor não tivesse provido a que o homem nascesse em
uma ignorância total". Depois destas palavras todos quiseram que se formasse
uma Conclusão do que acabava de ser dito, e formou-se esta: “O homem não
nasce em ciência alguma, a fim de que possa alcançar todas as ciências, e fazer
progressos na inteligência, e pela inteligência na sabedoria; e não nasce em
amor algum, a fim de que possa entrar em todo amor pelas aplicações das
ciências pela inteligência, e no amor para com o Senhor pelo amor em relação
ao próximo,e assim ser conjunto ao Senhor,e por isso tornar-se homem e viver
pela eternidade.
135 - Em seguida tomaram o Papel e leram o terceiro O bjeto da discussão, a
saber: Q ue significa a Arvore da vida; que significa a Arvore da ciência do bem
e do mal; e que significa a ação de comer destas Arvores? e todos eles pediram
que os que eram do O riente desenvolvessem este Arcano, porque ele é de um
entendimento mais profundo, e porque os que são do O riente estão em uma
luz inflamada, isto é, na sabedoria do amor; e esta sabedoria é entendida pelo
Jardim do Éden, no qual estas duas Á rvores tinham sido colocadas; e estes
responderam: "N ós vamos falar, mas como o homem nada pode tomar de si
mesmo, e tira tudo do Senhor, nós falaremos por Ele, mas contudo, por nós
como se fosse por nós mesmos"; e então disseram: "A Á rvore significa o
homem, e seu fruto os bens da vida; daí pela Arvore da vida é significado o
homem vivendo por Deus, ou Deus vivendo no homem; e como o amor e a
sabedoria, e a caridade e a fé, ou o bem e o vero, fazem a vida de Deus no
homem, pela Arvore da vida, são significadas estas cousas, e por conseguinte a
vida eterna para o homem. A Arvore da vida de que será dado a comer, (Apoc.
11,7,X X II,2,14),tem a mesma significação. Pela Arvore da ciência do bem e
do mal é significado o homem que acredita viver por si, e não por Deus, assim
que crê que o amor e a sabedoria, a caridade e a fé, isto é, o bem e o vero, que
estão no homem são dele, e não de Deus, crendo isso porque pensa e quer, fala
e age, em toda semelhança e em toda aparência como por si mesmo; e como o
homem segundo essa crença se persuade que Deus se colocou nele ou infundiu
seu Divino nele,é por isso que a Serpente disse: "Deus sabe que no dia em que
comerdes do fruto desta árvore, os vossos olhos serão abertos, e vós sereis como
Deus, sabendo o bem e o mal". (G ênesis III, 5). A Ação de comer destas
111
decorados com estes prêmios, foram embora do Jogo da sabedoria para suas
casas; e quando foram vistos por suas esposas, elas vieram ao seu encontro,
decoradas também com ornamentos dados do Céu, o que muito admirou aos
maridos.
137 - Segundo M emorável: U m dia em que eu meditava sobre o Amor
conjugal, eis que ao longe, apareceram duas crianças nuas, com açafates nas
mãos, e em torno delas rolinhas voando; e quando foram vistas de mais perto,
apareciam sempre nuas, mas decentemente ornadas com grinaldas; coroas de
flores ornavam suas cabeças, e bandas de lírios e rosas cor de jacinto, que
pendiam obliquamente das espáduas aos lombos decoravam seus peitos, e em
torno delas havia uma espécie de ligação comum, composta de folhagens
juncadas de olivas. M as quando chegaram ainda mais perto, apareceram não
mais como crianças, nem nuas, mas como duas pessoas na primeira flor da
idade, vestidas com hábitos e túnicas de seda brilhante, bordadas com flores da
maior beleza; e quando chegaram junto a mim, veio do Céu, por eles, um calor
primaveril com um aroma suave tal como o que os jardins e os campos exalam
na primavera. Eram dois Esposos do Céu; e então me dirigiram a palavra; e
como as cousas que eu acabava de ver estavam no meu pensamento, eles me
fizeram esta pergunta: "Q ue vistes?" E quando lhes contei que a princípio os
tinha visto como crianças nuas, em seguida como crianças ornadas com
grinaldas, e enfim como jovens vestidos com roupas bordadas de flores, e que
então de repente senti um calor primaveril com suas delícias, eles sorriram com
graça e disseram: "N ós, no caminho, nos víamos não como crianças, nem nuas,
nem com grinaldas, mas continuamente na mesma aparência de agora; e é
assim que de longe foi representado o nosso amor conjugal; o seu estado de
inocência no fato de termos sido vistos como crianças nuas; as suas delícias,
pelas grinaldas; e as mesmas delícias agora pelas flores de que os nossos hábitos
e túnicas estão recamados, e como disseste que quando chegamos perto de ti,
sentistes um calor primaveril com seu odor agradável como o que se exala de
um jardim, nós diremos a sua causa". E disseram: "N ós somos ,Esposos há
séculos, temos estado continuamente na flor da idade, em que nos vês; o nosso
primeiro estado foi como é o primeiro estado de uma donzela e de um
mancebo quando se unem pelo casamento; e acreditamos então que este estado
era a beatitude mesma de nossa vida; mas aprendemos com outros de nosso
Céu,e mais tarde nós mesmos o percebemos,que este estado era o do calor não
temperado pela luz, e que ele é progressivamente temperado, à medida que o
marido é aperfeiçoado em sabedoria, e que a esposa ama esta sabedoria no
marido, e que isso se dá pelos usos e segundo os usos que um e outro
desempenham por um mútuo auxílio na sociedade; além disso também que as
delícias se sucedem segundo a temperatura do calor e da luz, ou da sabedoria e
do amor.Se,portanto,quando chegamos perto de ti,tu sentiste como um calor
primaveril, é porque em nosso Céu o Amor conjugal e este calor fazem um,
pois entre nós o Calor é o Amor, e a Luz com que se une o calor é a Sabedoria,
113
Do casto e do não-casto
138 - Como ainda não faço mais do que começar a tratar do Amor Conjugal
em particular, e como o Amor Conjugal em particular não pode ser conhecido
senão de uma maneira indistinta e, por conseqüência obscura, a não ser que o
seu oposto, que é o Incasto apareça também de alguma forma, e como este
Incasto aparece de alguma forma ou na sombra quando o Casto é descrito ao
mesmo tempo que o não-Casto; sendo a não-Castidade unicamente um
afastamento do Incasto de junto do Casto, vou tratar agora do Casto e do
não-Casto. Q uanto ao Incasto, que é inteiramente oposto ao Casto, tratar-se
dele na segunda Parte desta O bra, onde sob o titulo V olúpias da Loucura sobre
o Amor Escortatório, será descrito em toda sua extensão e com suas variedades.
M as o que é o Casto e o que é o não-Casto,e em quem prevalece um ou outro,
é o que vai ser ilustrado nesta ordem: I. O Casto e o não-Casto se dizem
unicamente dos Casamentos, e das cousas que pertencem ao Casamento. II. O
Casto se diz unicamente dos casamentos monogâmicos ou do casamento de um
homem com uma única esposa. III. Só o conjugal cristão é casto. IV . O Amor
verdadeiramente conjugal é a Castidade mesma. V . T odas as delícias do Amor
verdadeiramente conjugal, mesmo as últimas, são castas. V I. N aqueles que,
pelo Senhor, se tornam espirituais, o Amor Conjugal é purificado cada vez
mais, e se torna casto. V II. A Castidade do casamento existe por uma renúncia
completa as escortações por causa da R eligião. V III. A Castidade não pode se
dizer das criancinhas, nem dos meninos e das meninas, nem dos rapazes e
virgens, antes que sintam em si o amor do sexo. IX . A Castidade não pode se
dizer dos que nasceram Eunucos, nem dos que se fizeram Eunucos. X . A
Castidade não pode se dizer dos que não acreditam que os adultérios são males
contra a religião, nem com mais forte razão daqueles que não acreditam que os
adultérios sejam nocivos à sociedade. X I. A Castidade não pode se dizer
daqueles que não se abstêm dos adultérios senão por diversas razões externas.
X II. A Castidade não pode se dizer daqueles que acreditam que os Casamentos
são incastos.X III.A Castidade não pode se dizer daqueles que renunciaram aos
casamentos, votando-se a um celibato perpétuo, a não ser que tenham e que
reste neles um amor da vida verdadeiramente conjugal. X IV . O estado do
casamento deve ser preferido ao estado do celibato. Segue agora a explicação
destes artigos.
139 - I.O Casto e o não-Casto se diz unicamente dos Casamentos,e das cousas
que pertencem ao Casamento.
É porque o Amor verdadeiramente conjugal é a Castidade mesma, como vai ser
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dividido não difere do Amor do sexo, que em si mesmo é natural; mas sobre
este assunto ver-se-á cousas dignas de atenção na Seção da Poligamia.
142 - III.Só o Conjugal Cristão é casto.
É porque o Amor verdadeiramente conjugal anda no homem com passo igual
ao do estado da Igreja nele; e porque este estado vem do Senhor como foi
mostrado na Seção precedente, ns. 130, 131, e em outros lugares; além disso
também, porque a Igreja em seus veros reais está na Palavra, e o Senhor aí está
presente nesses veros segue-se daí que não há Conjugal casto senão no M undo
Cristão e que, se aí não há, pode entretanto, haver; pelo Conjugal Cristão é
entendido o Casamento de um homem com uma única esposa. Q ue este
Conjugal possa ser instilado nos Cristãos e ser transmitido hereditariamente à
posteridade pelos pais que estão no Amor verdadeiramente conjugal, e que por
isso nascem a faculdade e a inclinação para gostar das cousas que são da Igreja e
do Céu, ver-se-á em seu lugar. Q ue os Cristãos, se tomam várias esposas,
cometem não somente um adultério natural mas também um adultério
espiritual,isso será demonstrado na Seção da Poligamia.
143 - IV .O Amor verdadeiramente conjugal é a Castidade mesma.
Eis as razões disso: 1. Este Amor vem do Senhor e corresponde ao Casamento
do Senhor e da Igreja. 2. Descende do Casamento do bem e do vero. 3. É
espiritual conforme a -existência da Igreja no homem. 4. É o Amor
fundamental e a Cabeça de todos os amores celestes e espirituais. 5. É o
legítimo Seminário do gênero humano, e por conseqüência do Céu Angélico.
6.Por isso existe também nos Anjos do Céu, e dele nascem entre eles linhagens
espirituais, que são amor e sabedoria. 7. E por conseqüência seu uso ultrapassa
em excelência todos os outros usos da criação. Segue-se daí que o amor
verdadeiramente conjugal por sua origem,é considerado em sua essência puro e
santo,a ponto de poder ser chamado a pureza e a santidade,por conseqüência a
castidade mesma; mas que entretanto ele não seja inteiramente puro entre os
homens,nem entre os Anjos,ver-se-á no Artigo V I,que segue,n.146.
144 - V . T odas as delícias do Amor verdadeiramente conjugal, mesmo as
últimas,são castas.
Isto resulta do que acaba de ser mostrado, que o Amor verdadeiramente
conjugal é a Castidade mesma; e desta consideração, que as delícias constituem
sua vida. Q ue as Delícias deste amor sobem e entram no Céu, e que no
caminho passam através dos prazeres dos amores celestes, em que estão os
Anjos do Céu; além disso que elas se conjuntam também com as Delícias de
seu amor conjugal, é o que foi referido acima. Além disso, ouvi declarar pelos
Anjos que eles percebem que estas delícias neles são exaltadas e cumuladas,
quando sobem de esposos castos que estão nas terras; e por causa dos
assistentes,que eram incastos,à pergunta,se acontecia o mesmo com as últimas
delícias, eles fizeram um sinal de cabeça, e disseram tacitamente: "Por que seria
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feitos Eunucos quase o mesmo que acontece com alguns dos que nasceram
Eunucos; mas os que foram feitos Eunucos, sendo homens e mulheres, não
podem por isso mesmo considerar o amor conjugal senão como uma fantasia, e
suas delícias senão como futilidades. Se há neles alguma cousa proveniente da
inclinação, isso se torna cousa muda, que não é nem o casto nem o incasto, e o
que não é um nem outro, não pertence a denominação alguma de um ou de
outro.
152 - X . A Castidade não pode se dizer daqueles que não acreditam que os
adultérios sejam males contra a R eligião, nem com mais forte razão daqueles
que não acreditam que os adultérios são nocivos à sociedade. Q ue a Castidade
não possa se dizer desses, é porque eles não sabem o que é a Castidade, nem
que ela exista, pois a Castidade pertence ao Casamento, como foi mostrado
aqui no Primeiro Artigo; ora, aqueles que não acreditam que os adultérios
sejam males contra a religião, fazem também os casamentos incastos, quando
entretanto a R eligião nos esposos faz a Castidade deles; assim para eles nada há
de casto; é por isso que diante deles a castidade é mencionada em vão; estes são
adúlteros por confirmação; quanto aos que não acreditam que os adultérios
sejam nocivos à sociedade, sabem ainda menos que os precedentes o que é a
castidade, e se ela existe, pois são adúlteros de propósito deliberado; se dizem
que os casamentos são menos incastos que os adultérios, eles o dizem de boca,
mas não de coração, porque neles os Casamentos são frios, e aqueles que
segundo este frio falam do calor casto, não podem ter idéia do calor casto a
respeito do Amor Conjugal; o que são essas pessoas, e quais são as idéias de seu
pensamento, e por conseqüência quais são os interiores de sua linguagem,
ver-se-á na Segunda Parte que trata das Loucuras dos adúlteros.
153 - X I. A Castidade não se pode dizer daqueles que não se abstêm dos
adultérios sendo por diversas razões externas. M uitos acreditam que abster-se
dos adultérios somente no corpo é a castidade, e entretanto não está aí a
Castidade, a não ser que também ao mesmo tempo se abstenha deles no
espírito; o espírito, pelo qual aqui se entende a mente do homem quanto às
afeições e aos pensamentos, constitui o casto e o incasto, pois daí o casto e o
incasto passam para o corpo; com efeito, o corpo é absolutamente tal qual é a
mente ou espírito; segue-se daí que os que se abstêm dos adultérios unicamente
do corpo e não do espírito, e aqueles que se abstêm deles do espírito em razão
do corpo, não são castos; há um grande número de causas que fazem com que
o homem renuncie com o corpo aos adultérios, e também do espírito em razão
do corpo; mas acontece que aquele que não renuncia a eles com o corpo em
razão do espírito é incasto; pois o Senhor disse: "quem quer que olhar para a
mulher de um outro homem para a cobiçar, já cometeu adultério com ela em
seu coração". (M at. V , 28). T odas as causas que fazem com que se abstenham
dos adultérios somente do corpo não podem ser enumeradas, pois variam
segundo o estado do casamento, e também segundo os estados do corpo; com
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efeito,há os que se abstêm por medo da lei civil e das penalidades; por medo da
perda da reputação, e por conseqüência da honra; por medo das moléstias que
deles provêm; por medo de querelas em casa com a esposa e, por conseqüência,
de perder a tranqüilidade da vida; por medo da vingança do marido ou de um
parente, e por medo de ser batido pelos criados; além disso, os que se abstêm
deles por pobreza, ou por fraqueza proveniente seja de moléstia, seja de abuso,
seja de idade, seja de impotência; entre estes há também os que, porque não
podem ou não ousam com o corpo,condenam mesmo de espírito os adultérios,
e por conseqüência falam com moralidade entre si e em favor dos casamentos;
mas se não falam pelo espírito, e se o espírito não maldiz pela religião os
adultérios, eles continuam adúlteros, pois ainda que não os cometam com o
corpo, entretanto os cometem com o espírito; é por isso que, depois da morte,
quando se tornam espíritos, falam abertamente em favor dos adultérios. Por
estas considerações é evidente que o ímpio pode fugir também dos adultérios
como nocivos, mas só os Cristãos podem fugir deles como pecados. Por aí,
vê-se agora, a verdade desta proposição, que a Castidade não se pode dizer
daqueles que se não abstêm dos adultérios senão por diversas razões externas.
154 - X II. A Castidade não pode se dizer daqueles que acreditam que os
Casamentos são incastos. Estes não sabem também o que é a Castidade, nem
que ela existe; são como aqueles de que se falou acima, n. 152; e como aqueles
que colocam a castidade unicamente no Celibato,e de que se vai falar.
155 - X III. A Castidade não pode se dizer daqueles que renunciaram aos
Casamentos votando-se a um perpétuo Celibato, a menos que haja e
permaneça neles um amor da vida verdadeiramente conjugal. Q ue a Castidade
não possa se dizer desses, é porque o Amor conjugal, depois do voto de um
Celibato perpétuo, foi rejeitado, quando entretanto a castidade se diz
unicamente deste amor; e porque no homem há sempre por criação e assim de
nascença uma inclinação para o sexo, e que, quando esta inclinação é
constrangida e domada, é necessário que ela se escoe em um calor, e em alguns
em uma efervescência que quando se lança do corpo no espírito, o infesta, e em
algumas pessoas o macula; e pode acontecer que o espírito, assim maculado
macule também as cousas religiosas, e que de sua sede interna, onde estão na
santidade, ele os precipite nos externos onde elas se tornam, unicamente cousas
de boca e dos gestos; é por isso que foi provido pelo Senhor para que este
Celibato esteja unicamente nos que estão no culto externo, culto em que estão
porque não se dirigem ao Senhor e não lêem a Palavra; nestes, por estes
celibatos, votados ao mesmo tempo com promessa de castidade, a vida eterna
não corre perigo como nos que estão no culto interno. Acrescente-se a isso que
muitos dentre eles não abraçam este estado de vida pelo livre da vontade, mas
alguns o abraçam antes de estar no livre segundo a razão, e alguns outros por
causa de sedução da parte do mundo. Dentre os que adotam este estado para
afastar do mundo a sua mente, a fim de ligar-se ao culto Divino, não há castos
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abstêm dos males das escortações; que não sejam entendidos os Eunucos
italianos,isso é evidente.
se encontrou nos matos homens que são como bestas, ou bestas que são como
homens; mas por sua face e seu corpo conheceu-se que tinham nascido
homens,e tinham sido perdidos ou abandonados no mato com a idade, de dois
ou três anos; dizem que eles não podem exprimir pelo som cousa alguma do
que pensam, nem aprender a articular o som em palavra alguma-,' que não
sabem também discernir, como o fazem as bestas, o alimento que lhes convém,
e que metem na boca tanto cousas sãs como mal-sãs que encontram no mato;
contam ainda várias outras particularidades; daí alguns Eruditos entre nós
conjecturarem e alguns outros concluíram várias cousas sobre o estado dos
homens comparado com o das bestas". A essas palavras, alguns dos antigos
Sophi perguntaram o que haviam conjecturado e concluído; e os dois
recém-vindos responderam:"M uitas cousas que entretanto podem se reduzir ao
que segue:1.Q ue o homem por sua natureza, e também por seu nascimento, é
mais estúpido e por conseguinte mais vil que a besta, e que assim se torna se
não é instruído; 2. Q ue ele pode ser instruído, porque aprendeu a produzir
sons articulados, e por conseguinte a falar, e que por isso começou a manifestar
pensamentos, e isso progressivamente, de mais em mais, ao ponto de poder
exprimir as leis da sociedade, das quais entretanto várias foram gravadas nas
bestas de nascença; 3. Q ue as bestas têm a racionalidade do mesmo modo que
os homens; 4. Se, portanto as bestas pudessem falar elas raciocinariam sobre
cada cousa tão sutilmente quanto, os homens; o que o indica, é que elas
pensam segundo a razão e a prudência tão bem como os homens; 5. Q ue o
Entendimento é somente uma modificação da luz do Sol, com a cooperação do
calor, por meio do éter, de sorte que é somente uma atividade da natureza
interior, e que esta atividade pode ser exaltada a ponto de se mostrar como
sabedoria; 6. Q ue é por conseqüência ridículo crer que o homem, depois da
morte, vive mais do que a besta, a não ser talvez que, durante alguns dias
depois do falecimento, ele pode, pela exalação da vida do corpo aparecer como
nimbo sob a forma de um fantasma, antes que seja dissipado na natureza,
pouco mais ou menos como um ramo queimado, retirado das cinzas se faz ver
sob a semelhança de sua forma; 7. Q ue em conseqüência a R eligião, que ensina
uma vida depois da morte, é uma pura invenção, a fim de que os simples sejam
mantidos interiormente ligados pelas leis religiosas, como o são exteriormente
pelas leis civis". Acrescentaram que são os homens puramente engenhosos que
raciocinam assim, e não os homens Inteligentes; e perguntaram-lhes: "Como
raciocinam os inteligentes?" Eles disseram que não os tinham ouvido, mas que
têm deles esta opinião.
152 (bis) . Depois desta exposição, todos os que estavam perto das M esas
exclamaram: "O h! que tempo hoje sobre a T erra! Ai! que vicissitudes a
Sabedoria tem sofrido! não foi ela torcida em um louco discurso engenhoso? o
Sol está deitado, e diametralmente oposto, sob a terra, em seu meio-dia. Pelos
que foram abandonados e achados no mato, quem não sabe que
semelhantemente é o homem não instruído? O homem não é segundo a
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instrução que recebe? N ão nasce ele na ignorância mais que as bestas? N ão deve
aprender a caminhar e a falar? Se não aprendesse a caminhar, levantar-se-ia ele
sobre os pés? E se não aprendesse a falar, exprimiria ele pelo som alguma cousa
do pensamento? T odo homem não é segundo o que lhe foi ensinado; insensato,
se foi pelos falsos; e sábio, se foi pelos veros; e insensato pelos falsos, com a
fantasia de ser mais sábio do que é sábio pelos veros? N ão há homens loucos e
extravagantes, que não são mais homens do que os que foram achados no
mato? O s que são privados da memória não lhe são semelhante? Para nós,
concluímos de tudo isso que o homem sem a Instrução, não é nem um
homem, nem uma besta, mas é uma forma que pode receber em si aquilo que
faz o homem, e que assim ele não nasce homem, mas se torna homem; e que o
homem nasce uma tal forma, para que seja um órgão recipiente da vida que
procede de Deus, a fim de que seja um ser no qual Deus possa introduzir todo
bem, e pela união com ele torná-lo feliz pela eternidade. Percebemos pela vossa
narração que a sabedoria hoje está de tal modo extinta ou enlouquecida, que
não se sabe absolutamente cousa alguma do estado da vida dos homens em sua
relação com o estado da vida das bestas; daí vem que não se conhece também o
estado da vida das bestas; dai vem que não se conhece também o estado da vida
do homem depois da morte; quanto aos que o podem conhecer, mas não o
querem, e por conseguinte o negam, como fazem muitos dos vossos Cristãos,
podemos assimilá-los aos que foram encontrados no mato, não que se tenham
tornado assim estúpidos pela privação da instrução, mas porque eles mesmos se
tornaram assim estúpidos pelas ilusões dos sentidos, que são as trevas das
verdades".
153 - (bis) . M as então um dos assistentes, que estava de pé no meio do
Paladium, tendo na mão uma palma, disse: "Peço-vos que desenvolvais este
arcano: Como o homem criado forma de Deus, pôde ser mudado em forma de
diabo? Eu sei que os Anjos do Céu são formas de Deus, e que os anjos do
inferno são formas do diabo; e estas duas formas são. opostas entre si, estas são
Loucuras, aquelas são Sabedorias; dizei, portanto, como o homem, criado
forma de Deus, pôde passar do dia para uma tal noite, que tenha chegado a
negar Deus e a vida eterna?" A esta questão os M estres responderam nesta
ordem, primeiro os Pitagóricos, depois os Socráticos, e em seguida os outros;
entres eles havia um Platoniano; este falou por último, e sua opinião
prevaleceu; ela consistia nisto: "O s homens da idade de Saturno ou do Século
de O uro, sabiam e reconheciam que eram Formas recipientes da vida que
procede de Deus, e por conseqüência a sabedoria estava gravada em suas almas
e em seus corações; e por conseguinte pela luz do vero eles viam o vero, e pelos
veros percebiam o bem pelo prazer do amor do bem; mas à medida que os
homens, nos Séculos seguintes, se afastaram do reconhecimento de que todo
vero da sabedoria, e por conseguinte de todo bem do amor neles, influía
continuamente de Deus, eles cessaram de ser habitáculos de Deus, e então
cessou também sua conversação com Deus, e sua consorciação com os Anjos;
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pois os interiores de sua mente, de sua direção que tinha sido elevada ao alto
para Deus por Deus, foram virados em uma direção oblíqua, cada vez mais
para fora no M undo, e assim para Deus por Deus por meio do M undo, e
enfim foram revirados na direção oposta que está em baixo, para si mesmo; e
como Deus não pode ser encarado pelo homem interiormente revirado e assim
voltado em um sentido oposto,os homens se separaram de Deus, e se tornaram
formas do Inferno ou do diabo. Segue-se dai que, nas primeiras Idades, os
homens reconheceram de coração e de alma que todo bem do amor, e por
conseguinte todo vero da sabedoria, lhes vinha de Deus, e também pertenciam
a Deus neles, e que assim eram receptáculos da vida procedendo de Deus, o
que fez com que fossem chamados Imagens de Deus, Filhos de Deus, N ascidos
de Deus; mas que, nas Idades seguintes, eles reconheceram isso não de coração
nem de alma, mas por uma certa fé persuasiva, e em seguida por uma fé
histórica, e enfim somente de boca; e reconhecer isso somente de boca; é não o
reconhecer; mais ainda, é negá-lo de coração. Por aí, pode-se ver qual é hoje a
sabedoria sobre a terra entre os Cristãos, pois que estes, ainda que possam pela
R evelação escrita ser inspirados por Deus, não conhecem a diferença que há
entre o homem e a besta; e por conseguinte muitos acreditam que se o homem
vive depois da morte, a besta também deve viver, ou se a besta não vive depois
da morte,o homem também não deve viver; a nossa luz espiritual, que ilumina
a vida da mente, não se tomou obscuridade neles; e a luz natural, que ilumina
somente a vista do corpo,não se tomou para eles uma luz brilhante?"
154 - (bis). Depois disso, eles se voltaram todos para os dois recém-vindos, e
lhes agradeceram por terem vindo ao meio deles e pela narração que tinham
feito, e lhes pediram para referir a seus irmãos o que acabavam de ouvir; e os
recém-vindos responderam que confirmariam os seus nesta verdade, que
quanto mais se atribui ao Senhor, e não a si todo bem da caridade e todo vero
da fé,tanto mais se é homem e se torna Anjo do Céu.
155 - (bis). Segundo M emorável: U ma manhã, um Canto muito suave, que eu
ouvia a uma certa altura acima de mim, me acordou; e em seguida, nesta
primeira vigília que é interna, mais tranqüila e mais doce que as outras vigílias
do dia, eu pude durante algum tempo ser mantido em espírito como fora do
corpo,e dar toda minha atenção à afeição que era cantada; o Canto do Céu não
é outra cousa senão uma afeição da mente, que é emitida pela boca como uma
modulação, pois é um som separado do discurso daquele que fala, proveniente
da afeição do amor,afeição que dá a vida à linguagem; neste estado percebi que
era a afeição das delícias do Amor conjugal, que era cantada com melodia por
esposos no Céu; vi que era assim pelo som do canto, no qual estas delícias eram
variadas de uma maneira admirável. Depois disso, eu me levantei, e dirigi meu
olhar para o M undo Espiritual; e eis que no O riente sob o Sol, lá, apareceu
como que uma Chuva de ouro; era o orvalho da manhã, caindo em grande
abundância,que batido pelos raios do Sol apresentava à minha vista a aparência
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de uma Chuva de ouro, tendo sido por isso ainda mais plenamente despertado,
saí em espírito, e perguntei a um Anjo, que vinha então ao meu encontro, se
ele tinha visto a Chuva de ouro caindo do Sol; e ele respondeu que a via todas
as vezes que estava em meditação sobre o Amor conjugal; e então voltou os
olhos para o Sol, e disse: "Esta Chuva cal sobre um Palácio (Aula), onde estão
três M aridos com suas Esposas,que habitam no meio do Paraíso O riental.Se se
vê cair do Sol uma tal Chuva sobre esse palácio, é porque neles reside a
sabedoria sobre o Amor conjugal e sobre suas delícias, nos maridos sobre o
amor conjugal, e nas Esposas, sobre suas delícias; mas percebo que estás na
meditação sobre as delícias do amor conjugal; vou por conseguinte te conduzir
a esse Palácio, e te introduzirei nele". E me conduziu por Jardins Paradisíacos
para Casas que eram construídas com M adeira de oliveira, e que tinham duas
colunas de Cedro diante da porta; e me introduziu onde estavam os M aridos, e
lhes pediu que me fosse permitido conversar em sua presença com suas
Esposas, e eles consentiram, e as chamaram. Estas olharam para meus olhos
com finura; elas disseram: "Podemos descobrir neles exatamente qual é tua
inclinação e por conseguinte tua afeição, e por esta teu pensamento sobre o
amor do sexo, e vemos que meditas profundamente sobre este amor, mas
entretanto com castidade".A acrescentaram: "Q ue queres que te digamos sobre
este assunto?" E respondi: "Dizei, eu vos peço, alguma coisa das delícias do
Amor conjugal". E os M aridos consentiram dizendo: "Descobri a ele, se isso
vos agrada, alguma cousa dessas delícias; seus ouvidos são castos". E elas me
dirigiram esta pergunta: "Q uem te aconselhou a nos interrogar sobre as delícias
deste amor? Por que não interrogas os nossos M aridos?" E eu respondi: "Este
Anjo que está comigo, me disse ao ouvido que as Esposas, são receptáculos e os
sensórios destas delícias, porque elas nasceram Amores, e que todas as delícias
pertencem ao amor". A estas palavras elas responderam sorrindo: "Sê prudente,
e não digas nada disso senão em um sentido ambíguo, porque isso é uma
sabedoria profundamente guardado nos corações de nosso sexo, e não
descoberto a nenhum M arido, a não ser que ele esteja no amor
verdadeiramente conjugal; há para isso várias razões que escondemos
profundamente em nós". E então os M aridos disseram: "As Esposas, conhecem
todos os estados de nossa mente, e nada há aí escondido para elas; elas vêem,
percebem e sentem tudo o que procede de nossa vontade; e nós, ao contrário,
nada conhecemos do que se passa nas Esposas; e isso foi dado às Esposas;
porque elas são terníssimos Amores, e como Z elos ardentes para a conservação
da amizade e da confiança conjugal, e assim de uma e de outra felicidade da
vida, a qual elas velam cuidadosamente para seus maridos e para elas mesmas,
com uma sabedoria implantada em seu amor, que é tão cheio de prudência,
que elas não querem e por conseguinte não podem dizer que amam, mas dizem
que são amadas". E perguntei porque elas não querem e por conseguinte não
podem. Elas responderam: "Se a menor cousa semelhante se escapasse da boca
das Esposas; o frio se apoderaria dos maridos, e os separaria do leito, do quarto
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volta várias vezes, e talvez várias outras cousas te sejam desvendadas". E eles se
retiraram e nós fomos embora.
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quanto ao sentido espiritual. Q ue pela Costela não tenha sido entendida uma
costela, nem pela Carne a carne, nem por O sso um osso, nem por Ligar-se,
ligar-se, mas foram entendidos Espirituais que correspondem a essas cousas, e
que por conseguinte são significadas por elas, é o que foi demonstrado nessa
mesma O bra; que tinham sido entendidos Espirituais,que de dois fazem um só
H omem, isso é evidente pelo fato do Amor conjugal conjuntar os dois, e este
Amor é espiritual. Q ue o Amor da Sabedoria do Esposo tenha sido transferido
para a esposa, isso já foi dito algumas, vezes, e será mais plenamente
confirmado nas Seções que seguem esta; agora, não, é permitido fazer uma
digressão, nem por conseqüência afastar-se do assunto aqui proposto, que
concerne à conjunção de dois Esposos em uma só carne pela união das almas e
das mentes. M as esta U nião vai ser explicada nesta ordem: I. Foi impressa em
um e outro Sexo uma faculdade e uma inclinação, para que eles possam e
queiram ser conjuntos como em um. II. O Amor conjugal conjunta as duas
almas e por conseguinte as duas mentes em um. III. A vontade da esposa, se
conjunta com o entendimento do Esposo, e por conseguinte o entendimento
do Esposo se conjunta com a vontade da esposa. IV . A inclinação a unir a si o
Esposo, é constante e perpétua na esposa, mas inconstante e alternativa no
Esposo. V . A conjunção é inspirada ao Esposo, pela esposa, segundo o amor da
esposa, e é recebida pelo Esposo, segundo a sabedoria do Esposo. V I. Esta
conjunção se faz progressivamente desde os primeiros dias do casamento, e, nos
que estão no Amor verdadeiramente conjugal, ela se faz cada vez mais
profundamente durante a eternidade. V II. A conjunção da Esposa com a
sabedoria racional do M arido se faz por dentro, mas com a Sabedoria moral ela
se faz por fora. V III. Por esta conjunção como fim, foi dada à Esposa a
percepção das afeições do M arido, e também a maior prudência para as
moderar. IX . As Esposas encerram em si esta percepção, e a escondem aos
M aridos por motivos que são necessidades, a fim de que o Amor conjugal, a
amizade e a confiança, e assim a beatitude da coabitação e a felicidade da vida,
sejam asseguradas. X . Esta percepção é a Sabedoria da esposa; e esta sabedoria
não pode estar no esposo, nem a Sabedoria racional do esposo estar na esposa.
X I. A Esposa, pelo amor, pensa continuamente na Inclinação do Esposo em
relação a ela, na intenção de se lhe conjuntar; não se dá o mesmo com o
Esposo. X II. A Esposa se conjunta ao Esposo por aplicações aos desejos de sua
vontade. X III. A Esposa se conjunta a seu Esposo pela esfera de sua vida, que
sai de seu amor. X IV . A Esposa se conjunta ao M arido pela apropriação das
forças da virtude do marido, mas isso se faz segundo seu mútuo amor
espiritual. X V . Assim a Esposa recebe nela a imagem de seu M arido, e por
conseguinte a percebe, vê e sente as afeições. X V I. H á Deveres próprios ao
Esposo, e Deveres próprios à Esposa e a Esposa não pode entrar nos deveres
próprios ao esposo, nem o esposo, nos deveres próprios à Esposa nem bem se
desobrigar deles um e outro. X V III. Estes Deveres segundo o socorro mútuo
conjuntam também os dois em um; e ao mesmo tempo constituem uma única
132
uma espécie de reunião, a razão pode ver que é não uma conjunção em um,
mas uma adjunção, vizinha e próxima, segundo o amor, e chegando ao
contacto naqueles que estão no amor verdadeiramente conjugal; esta adjunção
pode ser chamada coabitação espiritual, e se dá entre os esposos que se amam
ternamente por mais afastados que estejam de corpo; há mesmo no M undo
natural várias provas que a experiência fornece para o confirmar. Por estas
considerações é evidente que o Amor conjugal conjunta as duas almas e as duas
mentes em um.
159 - III. A vontade da Esposa se conjunta com o entendimento do esposo, e
por conseqüência o entendimento do Esposo se conjunta com a vontade da
esposa. A razão disso, é que o macho nasce para se tornar entendimento, e a
fêmea para se tornar vontade amando o entendimento do macho, donde
segue-se que a Conjunção conjugal é a da V ontade da Esposa com o
Entendimento do Esposo e que há conjunção recíproca do Entendimento do
Esposo com a V ontade da Esposa cada um vê que há uma muito estreita
conjunção do Entendimento e da V ontade, e que ela é tal, que uma das
faculdades pode entrar na outra, e se deleitar com esta conjunção e nesta
conjunção.
160 - IV . A inclinação a unir a si o Esposo é constante e perpétua na Esposa e
alternativa no Esposo.
Isto vem de que o amor não pode deixar de amar, e unir-se para ser por sua vez
amado; a sua essência e a sua vida não são outra cousa; ora, as mulheres são
nascidas amores, e os homens com os quais elas se unem para serem, por sua
vez, amadas são recepções: Além disso, o amor é sem cessar atuante; é como o
calor, a chama e o fogo, que perecem se não impedidos de agir, dai vem que a
inclinação para unir a si o Esposo é constante e perpétua na Esposa se no
Esposo não há uma semelhante inclinação para com a Esposa é porque o
homem não é amor, mas é unicamente recipiente do amor; e como o estado de
recepção está ausente e está presente segundo os cuidados que se interpõem,
conforme as mudanças de calor e de não calor na mente por diversas causas, e
segundo os aumentos e diminuições de forças do corpo, as quais não voltam
constantemente nem em momentos fixos, segue-se que a inclinação a esta
conjunção nos homens é inconstante e alternativa.
161 - V . A conjunção é inspirada ao Esposo pela Esposa segundo o amor da
esposa,e é recebida pelo Esposo segundo a sabedoria do Esposo.
Q ue o amor, e por conseguinte a conjunção seja inspirado ao Esposo pela
Esposa é o que está hoje escondido para os homens, e mesmo universalmente
negado por eles; e isso, porque as esposas persuadem que são unicamente os
homens que amam, e que são elas que recebem, ou que os homens são amores,
e elas obediências; elas sentem mesmo alegria de coração, quando os homens o
crêem: se elas os persuadem disso, é por várias razões, as quais se ligam todas à
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almas e nas mentes dos esposos ao mesmo tempo que a amizade e a confiança;
quando estas duas se conjuntam com o primeiro amor do casamento, então se
forma o Amor conjugal,que abre os peitos,e lhes inspira as doçuras do amor; e
isso, cada vez mais profundamente, conforme a amizade e a confiança se
adjuntam ao amor primitivo,e conforme este amor entra nelas e elas nele.
163 - V II. A conjunção da Esposa com a Sabedoria racional do M arido, se faz
por dentro,mas com sua Sabedoria moral se faz por fora.
Q ue a Sabedoria nos homens seja dupla, R acional e M oral, e que a sua
Sabedoria racional pertence ao Entendimento só, e sua Sabedoria moral ao
entendimento e ao mesmo tempo à vida, é o que se pode concluir e ver só pela
intuição e só pelo exame: mas a fim de que se saiba o que é entendido pela
Sabedoria racional dos homens, e o que é entendido por sua Sabedoria moral,
algumas de suas distinções especiais vão ser enumeradas. As cousas que
pertencem à sua Sabedoria racional são designadas por diversos nomes; em
geral são chamadas Ciência, Inteligência e Sabedoria; e em particular,
R acionalidade, Julgamento, Imaginação, Erudição, Sagacidade; mas como há
ciências especiais para cada um em seu ofício há por conseguinte um grande
número delas, com efeito, há (ciências) especiais para os Eclesiásticos, especiais
para os M agistrados, especiais para os diversos Funcionários sob suas ordens,
especiais para os Juízes, especiais para os M édicos e os Q uímicos, especiais para
os M ilitares e os M arinheiros,especiais para os Artistas e os O perários, especiais
para os Agricultores, e assim por diante. A Sabedoria R acional pertencem
também todas as Ciências, em que são iniciados os jovens nas escolas, e pelas
quais são em seguida iniciados na inteligência; e que também são chamados de
diversos nomes, por exemplo: Filosofia, Física, G eometria, M ecânica, M oral,
H istória e várias outras, pelas quais, como por portas, se entra nos racionais,
por meio das quais se forma a Sabedoria racional.
164 - M as à sabedoria moral nos homens pertencem todas as V irtudes morais
que concernem à vida e entram na vida, e também as V irtudes espirituais, que
afluem do Amor para com Deus e do Amor em relação ao próximo e se
reúnem nesses amores. As V irtudes que pertencem à sabedoria moral dos
homens são também de diversos nomes, e chamadas T emperança, Sobriedade,
Probidade, Benevolência, Amizade, M odéstia, Sinceridade, Cortesia,
Civilidade, e também Assiduidade, Destreza, H abilidade, M unificência,
Liberalidade, G enerosidade, V alor, Intrepidez, Prudência, além de muitas
outras. As V irtudes espirituais nos homens são o Amor da religião, a Caridade,
a V erdade, a Fé, a Consciência, a Inocência, e várias outras. Estas virtudes
espirituais e estas V irtudes morais, em geral, podem se referir ao amor e ao zelo
pela R eligião, pelo Bem público, pela Pátria, pelos Cidadãos, pelos Pais, pelo
Cônjuge e pelos Filhos. Em todas estas V irtudes dominam a Justiça e o
Julgamento; a Justiça pertence à Sabedoria moral, e o Julgamento à Sabedoria
racional.
136
que a sabedoria, que constitui sua alma, seja apropriada à esposa, e que assim,
segundo as palavras do Senhor, eles se tornem uma só carne: além disso
também que foi provido a isso, a fim de que -o homem-esposo, depois da
concepção, não abandone a esposa, por alguma fantasia. T odavia, os anjos
acrescentaram que as aplicações e as apropriações da vida dos maridos pelas
esposas, se fazem segundo o amor conjugal, porque o amor, que é uma união
espiritual,conjunta; e também foi provido a isso por várias razões.
173 - X V . Assim a esposa, recebe em si a imagem de seu M arido e em
conseqüência percebe,vê e sente as afeições dele.
Das razões referidas acima resulta como fato, incontestável, que as esposas,
recebem em si as cousas que são próprias das almas e das mentes dos maridos, e
que por conseqüência de virgens elas se fazem esposas, As razões de que isso
resulta são: 1. Q ue a mulher foi criada do homem. 2. Q ue por conseguinte há
nela uma inclinação para se unir e como que a se reunir ao homem. 3. Q ue
desta união e por causa desta união com seu igual, a mulher nasce amor do
homem, e se torna cada vez mais amor do homem pelo casamento, porque
então emprega continuamente seus pensamentos em se conjuntar ao homem.
4. Q ue ela é conjunta, a seu único por aplicações aos desejos da vida deste
único. 5. Q ue eles são, conjuntos pelas esferas que os cercam, e que se unem
universalmente e singularmente segundo a qualidade do amor conjugal nas
esposas,e ao mesmo tempo segundo,a qualidade da sabedoria que o recebe nos
maridos. 6. Q ue eles são ainda conjunto pelas apropriações das forças dos
maridos pelas esposas. 7. Daí é evidente que alguma coisa do marido é
continuamente transferida para a esposa, e é inscrito nela como lhe
pertencendo. De todas estas considerações resulta que se forma na esposa uma
imagem do marido; imagem pela qual a esposa percebe, vê e sente em si as
cousas que estão no marido, e por conseguinte se percebe, se vê e se sente por
assim dizer ela mesma nela; ela percebe pela comunicação, vê pelo aspecto, e
sente pelo tato; que ela sente a recepção de seu amor pelo marido: pelo tato
com a palma da mão sobre as faces, sobre os braços e sobre o peito, é o que me
descobriram as três esposas no Palácio, e as sete esposas no Bosque de rosas; ver
os M emoráveis ns.208,293,294.
174 - X V I. H á Deveres próprios do Esposo, e Deveres próprios da Esposa; e a
Esposa não pode entrar nos deveres próprios do esposo, nem o esposo nos
deveres próprios da esposa,nem bem desempenhá-los um e outro.
Q ue haja deveres próprios do esposo, e deveres próprios da, Esposa; é inútil
ilustrar isso por uma enumeração desses deveres, pois são numerosos, e
variados; e cada um pode classificá-los numericamente segundo os gêneros e as
espécies,desde que se aplique a fazer-lhes a classificação. O s deveres pelos quais
as esposas se conjuntam principalmente com os M aridos, são os que concernem
a educação dos filhos de um e de outro sexo, e das meninas, até à idade em que
se casam.
140
175 - Q ue a Esposa; não possa entrar nos Deveres próprios do esposo, nem o
esposo, nos Deveres próprios da Esposa; é porque eles diferem como a
sabedoria e o amor desta sabedoria ou como o pensamento e a afeição deste
pensamento, ou como o entendimento e a vontade deste entendimento; nos
Deveres próprios dos homens o entendimento, o pensamento e a sabedoria
ocupam o primeiro lugar, mas nos Deveres próprios das esposas, é a vontade, a
afeição e o amor que ocupam o primeiro lugar; e a Esposa; desempenha seus
deveres pela vontade, a afeição e o amor, o esposo, desempenha os seus pelo
entendimento, o pensamento e a sabedoria; seus Deveres são portanto
diferentes por sua natureza, mas não obstante são susceptíveis de ser conjuntos
em série sucessiva. M uitos acreditam que as mulheres podem desempenhar os
deveres do homem, uma vez que desde a primeira idade elas sejam iniciadas
neles como os rapazes; elas podem, é verdade, ser iniciadas no seu exercício,
mas não no julgamento, de que depende interiormente a retidão dos deveres; e
por isso que estas mulheres que foram iniciadas nos deveres dos homens, são
obrigadas nas cousas de julgamento a consultar os homens, e então, segundo
seus conselhos, se são livres para agir, elas escolhem o que é favorável a seu
amor. Alguns também imaginam que as mulheres podem igualmente elevar a
penetração de seu entendimento na esfera da luz em que estão os homens, e
considerar as cousas na mesma elevação, opinião que formaram pelos escritos
de algumas M entes eruditas; mas estes escritos, examinados no M undo
espiritual em presença destas M entes,, achou-se que provinham, não do
julgamento nem da sabedoria, mas da imaginação e da eloqüência, e os escritos
que provêm destas duas fontes, têm pela elegância e a simetria do estilo, uma
aparência de sublimidade e de erudição, mas unicamente diante daqueles que
chamam sabedoria toda engenhosidade. Q ue os homens não possam entrar nos
deveres das mulheres, nem desempenhá-los convenientemente, é porque eles
não estão nas afeições das mulheres, que são inteiramente distintas das afeições
dos homens. Como as afeições e as percepções do sexo masculino foram assim
distinguidas por criação e por conseguinte por natureza, é por isso que nos
estatutos dos filhos de Israel havia também isto: "N ão haverá roupa de homem
sobre uma mulher, nem roupa de mulher sobre um homem, pois isso é
abominação". (Deut. X X II, 5). Era, porque no M undo espiritual todos são
vestidos segundo suas afeições; e as duas afeições, da mulher e do homem, não
podem ser unidas senão entre dois,e jamais em um só.
176 - X V II. Estes Deveres conforme o auxílio mútuo conjuntam também os
dois em um; e ao mesmo tempo constituem uma única casa.
Q ue os deveres do M arido se conjuntam sob alguma relação com os deveres da
Esposa, e que os deveres da Esposa se adjuntam aos deveres do marido, e que
estas conjunções e estas adjunções sejam um auxílio mútuo, e existem segundo
estes auxílios, são cousas conhecidas no mundo; mas os principais deveres que
aliam, consorciam e reúnem em um as almas e as vidas dos dois esposos,
141
íntimos infundiu nos homens (homines), o Amor conjugal para o qual pôde
transferir todas as causas da beatitude,da satisfação,do prazer e da volúpia, que
procedem unicamente de Seu Divino Amor por Sua Divina Sabedoria ao
mesmo tempo que a vida, e que influem, por conseqüência, naqueles que estão
no amor verdadeiramente conjugal porque só eles são recipientes. Fez-se
menção da Inocência, da Paz, da T ranqüilidade, da Amizade íntima, da plena
Confiança, e do Desejo da mente (animus) e do coração, de fazer um ao outro
toda sorte de bem, porque a Inocência e a Paz pertencem à alma, alma, a
T ranqüilidade à mente, a Amizade íntima ao peito, a plena confiança ao
coração, e que o Desejo da mente (animus) e do coração de fazer um ao outro
toda sorte de bem pertence ao corpo segundo as causas precedentes.
181 - X X II. Estas cousas não podem existir sendo no Casamento de um único
Esposo com uma única Esposa.
É o que se conclui de todas as causas que foram ditas até aqui, e é também o
que se torna uma conclusão para todas as que serão ditas em seguida; não há
portanto necessidade de uma explicação especial para as confirmar.
182 - Ao que precede serão acrescentados dois M emoráveis:
Primeiro M emorável: Algumas semanas depois, ouvi uma voz do Céu que me
disse: "Eis novamente uma Assembléia no Parnaso; aproxima-te; nós te
mostraremos o caminho". Aproximei-me, e quando cheguei perto, vi sobre o
H elicon alguém segurando uma trombeta com a qual anunciava e indicava a
Assembléia. E vi, como precedentemente espíritos subir da Cidade de Atenas e
dos arredores, e no meio deles três N oviços do M undo; todos três eram
Cristãos, um Padre, o outro Político, e o terceiro Filósofo; eram entretidos no
caminho por uma conversa sobre diversos assuntos, principalmente sobre os
Sábios Antigos, que eram designados por seus nomes; perguntaram se os
veriam; responderam-lhes que os veriam, e que se o quisessem, poderiam
apresentar-lhes saudações, visto que eram amáveis. Indagaram sobre
Demóstenes, Diógenes e Epícuro. Disseram-lhes: "Demóstenes não está aqui,
está perto de Platão; Diógenes, com os de sua escola, moram sob o H elicon,
porque ele considera as cousas mundanas como nada, e não se ocupa senão das
cousas celestes; Epícuro habita no ocidente sobre os confins, e não entra em
nosso meio, porque nós distinguimos entre as afeições boas e as afeições más, e
dizemos que as afeições boas estão com a sabedoria, e as afeições más contra a
sabedoria". Q uando subiram a colina do Parnaso, alguns guardas levaram-lhes
água da fonte em vasos de cristal, e disseram: "É a água da fonte que, segundo
as narrativas da antiguidade, o cavalo Pegaso tinha feito jorrar ferindo a terra,
com o casco de sua pata, e que foi em seguida consagrada às nove V irgens; ora,
pelo Cavalo alado, Pegaso, eles designavam o Entendimento do vero pelo qual
existe a Sabedoria; pelo casco de sua pata, as experiências pelas quais se adquire
a inteligência natural; e pelas N ove V irgens, os conhecimentos e as ciências de
todo gênero; estas cousas hoje são chamadas fábulas, mas eram
144
durante esse tempo? Será um sopro, ou um vento que esvoaça no ar, ou um ser
encerrado no centro da terra? O nde é o seu Alguma parte (Pu)? Será que as
Almas de Adão e Eva, e de todos que viveram depois deles, há mais de seis mil
anos ou sessenta séculos, esvoaçam ainda no U niverso, ou são mantidas
encerradas no centro da terra, e esperam o julgamento final? O que há de mais
penoso e de mais miserável do que tal espera? A sua sorte não poderia ser
comparada à sorte dos que estão na prisão com ferros, nas mãos e nos pés? Se
tal fosse a sorte que espera o homem depois da morte, não seria melhor nascer
asno do que nascer homem? N ão é também contra a razão crer que a alma
pode ser de novo revestida com seu corpo? O corpo não foi roído pelos vermes,
pelos ratos, pelos peixes? E ossos queimados ao sol ou reduzidos a pó poderiam
reentrar nesse novo corpo? Como matérias cadaverosas e infectas se juntariam e
se uniriam às, almas? A estes raciocínios, os que os ouvem, nada respondem de
razoável, mas ficam presos à sua fé. Q uando à reunião de todos os mortos
saindo dos túmulos no dia do julgamento final, dizem: Isso é obra da
O nipotência; e quando falam na O nipotência e na Fé, a razão é banida; e posso
dizer que então a sã razão é como nada,e para alguns deles como um espectro e
podem mesmo dizer à sã razão: "T u desarrazoas". A estas palavras, os Sábios da
G récia disseram: "Estes paradoxos não se dissipam por si mesmos como
contraditórios? E entretanto hoje no M undo não podem ser dissipados pela sã
razão; que se pode crer de mais paradoxal do que o que é contado do
Julgamento Final, que o U niverso perecerá, e que então as estrelas do céu
cairão sobre a terra, que é menor do que as estrelas; e que os corpos dos
homens então, ou cadáveres, ou múmias trituradas pelos homens, ou reduzidos
a nada, serão reunidas às suas almas? N ós, quando estávamos no M undo,,
acreditávamos na imortalidade das almas dos homens pelas induções que a
razão nos fornecida; e além disso designávamos para os bem-aventurados
lugares que chamávamos Campos Elísios; e acreditávamos que essas almas eram
efígies ou formas humanas, mas tênues porque eram espirituais". Depois de
terem assim falado, voltaram-se para o segundo recém-vindo, que no M undo
havia sido político; este confessou que não tinha acreditado na vida depois da
morte, e que a respeito das cousas de que ouviu falar tinha pensado que eram
ficções e invenções: "M editando sobre esta vida futura, eu dizia: T udo que
pertence ao homem não está estendido morto no tumulto? Seus olhos não estão
aí, como pode ele ver? Seus ouvidos não estão aí, como pode ele ouvir? De
onde tiraria uma boca para falar? Se alguma co,usa do homem vivesse depois da
morte, seria outra cousa senão um espectro? Como um espectro pode comer e
beber, e como pode gozar a delícia conjugal? O nde obteria roupas, uma casa,
alimentos e o resto? E os espectros que são efígies aéreas, aparecem como se
existissem e entretanto não existem. Eu tinha no M undo estes pensamentos e
outros semelhantes sobre a vida dos homens depois da morte; mas agora que vi
tudo, e tudo toquei com as minhas mãos, estou convencido, pelos próprios
sentidos, de que sou homem como no M undo, a ponto de não saber outra
146
cousa senão que vivo como vivia, com a diferença de que agora minha razão é
mais sã; muitas vezes tenho tido vergonha dos meus pensamentos anteriores".
O Filósofo contou sobre ele as mesmas cousas, com esta diferença entretanto,
que havia classificado estas novidades, que ouviu dizer sobre a vida depois da
morte,no número das opiniões e das hipóteses que tinha recolhido dos Antigos
e dos M odernos. O s Sophi estavam estupefatos com o que acabavam de ouvir;
e os que eram da Escola de Sócrates disseram que por estas N ovidades da terra,
eles percebiam que os interiores das mentes humanas tinham sido
progressivamente fechados, e que agora no M undo a fé do falso brilha como a
verdade, e a engenhosidade extravagante como a sabedoria, e que a luz da
sabedoria, desde os tempos em que eles viviam no M undo tinha baixado dos
interiores do Cérebro para a boca abaixo do nariz, onde esta luz se mostra
diante dos olhos como brilho do lábio, e por conseguinte a linguagem da boca
como sabedoria. Depois de ter ouvido estas cousas, um dos discípulos desta
escola disse: "Q uão estúpidas são hoje as mentes dos habitantes da terra!" O h!
se tivéssemos aqui Discípulos de Demócrito e de H eráclito, dos quais uns riem
de tudo,e os outros se lamentam por tudo,quantos risos e quantas lamentações
ouviríamos!" Esta sessão da Assembléia tendo sido suspensa, deram aos três
N oviços da terra sinais de sua autoridade; eram lâminas de cobre sobre as quais
H ieróglifos estavam gravados; e os N oviços se retiraram com estas lâminas.
183 - Segundo M emorável: Apareceu-me na plaga oriental um B osque de
palmeiras e de loureiros dispostos em curvas de hélices; aproximei-me e entrei,
e percorri aléas que me fizeram fazer a volta de algumas destas curvas, e ao fim
das aléas vi um Jardim que ocupava o meio do Bosque; havia uma pequena
ponte que fazia separação, e lá uma porta do lado do Bosque; e uma porta do
lado do Jardim; aproximei-me e as portas foram abertas pelo guardião;
perguntei-lhe qual era o nome do Jardim, e ele disse: "Adramandoni, isto é, a
delícia do amor conjugal". Entrei, e eis, oliveiras e entre as oliveiras cepas
subiam e pendiam, e em baixo delas e entre elas arbustos, floridos. N o meio do
Jardim havia um círculo de grama, sobre o qual estavam sentados maridos e
esposas, e também rapazes e virgens, dois a dois; e no meio do círculo, um
terreno elevado onde uma fonte lançava água para o alto só pela força de sua
nascente. Q uando cheguei perto do círculo, vi dois Anjos,, vestidos de púrpura
e escarlata, que falavam com os que estavam sentados sobre a grama, e falavam
da origem do Amor conjugal e de suas delícias; e como este amor era o assunto
da palestra, havia atenção ávida, e plena recepção, e em conseqüência exaltação
como pelo fogo do amor no discurso dos anjos. Eis em suma, o que recolhi de
sua palestra: falaram a princípio da dificuldade de descobrir e da dificuldade de
perceber a origem do amor conjugal, porque esta O rigem é Divino-Celeste,
pois é o Divino, Amor, a Divina Sabedoria e o Divino U so, que procedem, os
três, como um Senhor, e em conseqüência influem como um nas almas dos
homens, e pelas almas nos suas mentes, e daí nas afeições e nos pensamentos
interiores, por eles nos desejos que provêm do corpo, e por estes desejos pelo
147
está na veia e na força do amor conjugal; e que quanto mais está nesta veia e
nesta força, tanto mais está nas delícias; o uso faz isso, porque o amor e a
sabedoria se deleitam nele, e brincam, por assim dizer como crianças; e à
medida que crescem, se conjuntam. alegremente, o que acontece como por
noivados, núpcias, casamentos e propagações, e isso continuamente com
variedade durante a eternidade: estas coisas acontecem entre o amor e a
sabedoria interiormente no uso; todavia, estas delícias em seus princípios são
não perceptíveis; mas tornam-se de mais em mais perceptíveis, à medida que
descem daí por graus, e entram no corpo; entram por graus da alma nos
interiores da mente do homem, e dos interiores em seus exteriores, e destes no
peito, e do peito na região genital; estes jogos núpcias celestes na Alma não são
em coisa alguma percebidos pelo homem, mas se insinuam de lá nos interiores
da mente sob uma espécie de paz e de inocência, e nos exteriores da mente sob
uma espécie de beatitude, de satisfação e de prazer, mas no peito sob uma
espécie de delícia de íntima amizade, e na região genital, pelo influxo contínuo
vindo da alma com o sentido mesmo do amor conjugal, como delícia das
delícias.Estes jogos núpcias do amor e da sabedoria no uso na Alma,avançando
para o peito, permanecem e se fixam de uma maneira sensível sob uma
variedade infinita de delícias; e, em razão da admirável comunicação do peito
com a região genital, as delícias aí se tornam as delícias do amor conjugal, as
quais foram elevadas acima de todas as delícias, que existem no Céu e no
M undo, porque o U so do amor conjugal é o mais eminente de todos os usos,
pois por ele existe a procriação do G ênero H umano, e pelo G ênero H umano, o
Céu Angélico". O s Anjos acrescentaram que aqueles que não estão pelo Senhor
no amor da sabedoria para o U so, não sabem cousa alguma concernente à
variedade das delícias inumeráveis que pertencem ao amor verdadeiramente
conjugal; com efeito aqueles que não amam estar na sabedoria pelas verdades
reais, mas que amam estar na loucura pelos falsos, e que por esta loucura de
algum amor fazem maus usos, o caminho para a alma foi fechado, de onde
resulta que estes jogos celestes do amor e da sabedoria na alma, cada vez mais
interceptados, cessam, e ao mesmo tempo que eles o amor conjugal em sua
veia, seu poder e suas delícias". Então os que escutavam disseram que
percebiam que o amor conjugal é segundo o amor de se tornar sábio para fazer
usos pelo Senhor. O s Anjos responderam que isso era assim. E então sobre as
cabeças de alguns apareceram coroas de flores, e eles perguntaram: "Por que
isso?" O s Anjos disseram "Porque eles compreenderam mais profundamente".
E então saíram do Jardim,e estes no meio deles.
149
192 - V II. O s Casamentos também introduzem outras formas nas almas e nas
mentes dos Esposos.
Q ue os casamentos introduzem outras formas nas almas e nas mentes, não se
pode notar no M undo natural, porque as almas e as mentes aí estão envolvidas
por um corpo material, através do qual a mente raramente se faz ver; e, além
disso, os homens deste século, muito mais que os antigos, aprendem desde a
infância a introduzir em suas faces uma fisionomia pela qual escondem
profundamente as afeições da mente; é isto que faz com que não se possa
discernir quais são as formas das mentes antes do casamento, e quais elas são
após o casamento: que entretanto as, formas das almas e das mentes sejam após
os casamentos outras que não eram antes, é o que se torna bem manifesto pelas
mesmas no M undo espiritual; pois são então: Espíritos e Anjos, os quais não
são outra cousa que M entes e Almas em forma humana, desprendidos dos
despojos que tinham sido compostos de elementos aquosos e terrestres, e de
vapores emanados desses elementos e espalhados de todos os lados no ar; estes
despojos sendo rejeitados,as formas das mentes são vistas tais quais tinham sido
no interior de seus corpos; e então é bem evidente que são umas, nos que
vivem no casamento,e outras nos que não vivem nele. Em geral os esposos têm
uma beleza interior de fisionomia, pois o esposo tira da esposa o gracioso rubor
de seu amor, e a esposa tira do esposo a brilhante brancura de sua sabedoria;
pois lá os dois esposos são unidos quanto às almas; e, além disso, em um e
outro se manifesta a plenitude humana; isso acontece no Céu, porque não há
Casamentos em outra parte; abaixo do Céu só há uniões conubiais, que se
formam e se rompem.
193 - V III. A M ulher é na realidade formada Esposa segundo a descrição do
Livro da Criação. N este Livro se diz que a mulher foi criada de uma costela do
marido; e que, quando ela foi levada ao homem, ele disse: "Esta é osso dos
meus ossos e carne da minha carne; e será chamada Ischah (Esposa), porque de
Isch (0 M arido, vir) foi tomada". (Cap. 11, 21, 22, 23); na Palavra, por uma
Costela do peito, não é significada, no sentido espiritual, outra coisa senão a
V erdade natural; este vero é significado pelas costelas que o urso carregava
entre os dentes (Daniel, V II, 5); pois pelos ursos são significados os que lêem a
Palavra no sentido natural, e vêem os veros sem o entendimento; pelo Peito do
homem é entendido este essencial e o próprio que é distinguido do peito da
mulher; que seja a sabedoria, vê-se acima, n. 187; pois o vero sustenta a
sabedoria,como a costela sustenta o peito; é isto que é significado, porque é no
Peito que todas as cousas do homem estão como em seu centro. Por isso, é
evidente que a mulher foi criada do homem pela transferência da própria
sabedoria deste, isto é, pelo vero, natural; que o amor deste vero tenha sido
transferido do homem para a mulher, para se tornar amor conjugal; e que isso
tenha sido feito para que no homem houvesse não o amor de si, mas o amor da
esposa; esta, pelo seu caráter inato não pode fazer outra cousa senão
155
só homem, vê-se acima, ns. 178, 179; e como a esposa se torna esposa pela
conjunção com o marido e segundo esta conjunção, dá-se o mesmo com o
marido em relação à esposa; e como o amor verdadeiramente conjugal dura
eternamente, segue-se que a esposa se torna cada vez mais esposa e o marido
cada vez mais marido; a razão mesma disso, é que no casamento de amor
verdadeiramente conjugal um e outro se tornam cada vez mais homem interior,
pois este amor abre os interiores de suas mentes, e conforme estes interiores são
abertos o homem se torna cada vez mais homem, e tornar-se mais homem, é na
esposa tornar-se mais esposa, e no marido tornar-se mais marido. O uvi dizer
pelos Anjos que a esposa se torna cada vez mais esposa, conforme o marido se
torna cada vez mais marido, mas não do mesmo modo vice-versa; porque
acontece raramente, para não dizer nunca, que uma esposa, casta não ame seu
marido, mas acontece que o retorno do amor falta da parte do marido, e este
retorno falta porque não há uma elevação da sabedoria que, unicamente, recebe
o amor da esposa, sobre esta sabedoria ver ns. 130, 163, 164, 165. M as eles
diziam isso dos casamentos nas terras.
201 - X V I. Do mesmo modo também sucessivamente suas formas se
aperfeiçoam e se enobrecem pelo interior.
H á forma humana muito perfeita e muito nobre, quando duas formas se
tornam pelo casamento uma única forma, assim quando duas carnes se tornam
uma só carne, segundo a criação; que então a M ente do esposo seja elevada a
uma luz superior, e a M ente da esposa, a um calor superior, e que então eles
cresçam, floresçam e frutifiquem como as árvores na estação da primavera,
vê-se acima, ns. 188, 189. Q ue do enobrecimento desta forma nasçam frutos
nobres,espirituais nos Céus,naturais nas terras,ver-se-á no Artigo seguinte.
202 - X V II. As Crianças nascidas de dois esposos que estão no amor
verdadeiramente conjugal, recebem de seus Pais o Conjugal do bem e do vero,
de onde lhes vêm a inclinação e a faculdade, se é um filho, para perceber as
cousas que pertencem à sabedoria, e se é uma filha, para amar as cousas que a
sabedoria ensina.
Q ue as crianças recebem dos pais as Inclinações para as cousas que pertenceram
ao amor e à vida dos pais, isso é muito conhecido em geral pelas histórias e em
particular pelas experiências; mas que não recebam deles ou não herdem deles
as afeições mesmas, nem por conseqüência suas vidas, mas unicamente as
inclinações e também as faculdades que as concernem, é o que foi posto em
evidência no M undo espiritual pelos sábios, de que se falou nos dois
M emoráveis referidos acima. Q ue pelas inclinações inatas, se não forem
quebradas, os descendentes sejam levados às afeições, aos pensamentos, às
expressões de linguagem e a vidas semelhantes às de seus pais, vê-se bem
claramente pela nação Judaica, pois hoje os judeus são semelhantes a seus Pais
no Egito,no deserto,na terra de Canaan, e no tempo do Senhor; e pelo fato de
que não somente são a si mesmos pela mente, mas ainda pela face; quem é que
159
à primeira vista não conhece um Judeu? Dá-se o mesmo com as outras raças.
Dai pode-se infalivelmente concluir que as crianças nascem com as inclinações
para cousas semelhantes àquelas para as quais os seus pais se inclinavam. M as a
fim de que os pensamentos e os atos não se continuem, é da Providência
Divina que as inclinações más possam ser retificadas; e para isso mesmo foi
implantado uma faculdade pela qual há eficácia na correção dos costumes pelos
pais e pelos professores, e mais tarde por si mesmo, quando se atingiu a idade
adulta.
203 - Foi dito, que as crianças recebem dos pais o Conjugal do bem e do vero,
porque este conjugal foi posto por criação na alma de cada um, pois é isso que
influi do Senhor no homem, e faz sua vida humana: mas este Conjugal passa
para as cousas que seguem desde a alma até aos últimos do corpo; mas em uns e
nos outros é mudado no caminho pelo homem mesmo de diversas maneiras, e
por vezes no oposto, que é chamado Conjugal ou Conubial do mal e do falso;
quando isso acontece, a M ente é fechada por baixo, e por vezes torcida como
uma espiral em sentido inverso; mas em alguns não é fechada, permanece meio
aberta por cima, e em alguns outros é aberta: é deste conjugal e daquele que as
crianças recebem dos pais as inclinações, de uma maneira os filhos e de uma
outra maneira as filhas:que isso venha do conjugal,é porque o amor conjugal é
o amor fundamental de todos os amores,como foi demonstrado acima,n.65.
204 - Se as crianças nascidas dos que estão no Amor verdadeiramente conjugal
recebem as inclinações e as faculdades, se é um filho, para perceber as cousas
que pertencem à sabedoria, e se é uma filha, para amar as cousas que a
sabedoria ensina, é porque o Conjugal do bem e do vero foi implantado, por
criação na alma de cada um e também nas cousas que derivam da alma; pois já
foi mostrado que este Conjugal enche o U niverso desde os primeiros até aos
últimos, e desde o homem até o verme; e foi também mostrado acima que a
faculdade para abrir os inferiores do mental até à conjunção com seus
superiores que estão na luz e no calor do céu, foi posto por criação em cada
homem; daí é evidente que a habilidade e a facilidade para conjuntar o bem ao
vero, e o vero ao bem por conseqüência a tornar-se sábio, são recebidos de
nascença em herança por aqueles que nasceram de um tal casamento, mais de
que por todos os, outros; que por conseqüência dá-se também o mesmo com a
habilidade e a facilidade de se compenetrar das coisas que pertencem à Igreja e
ao Céu; que o Amor conjugal tenha sido conjunto com estas cousas, é o que já
foi mostrado várias vezes.Por estas explicações a razão vê claramente o fim pelo
qual o Senhor Criador proveu e provê ainda aos Casamentos de amor
verdadeiramente conjugal.
205 - Fui informado pelos Anjos que aqueles que viveram nos tempos
antiqüíssimos vivem hoje nos Céus, distinguidos por casa, famílias e nações, do
mesmo modo que viviam nas terras, e que apenas falta algum em uma casa; e
que a razão disso é que entre eles havia o Amor verdadeiramente conjugal, e
160
os outros estavam no,meio; e diante destes havia um estrado; foi para aí que os
três recém-vindos com a mensagem, acompanhados solenemente pelos mais
jovens foram conduzidos passando pelo meio do Auditório; e quando se fez
silêncio, eles foram saudados por um dos mais Antigos, e este lhes perguntou:
"Q ue há de novo na terra?" E eles disseram: "H á muitas N ovidades; mas diz,
por favor sobre qual assunto".E o Antigo respondeu:"Q ue há de novo na terra
a respeito de nosso mundo e do Céu?" E eles responderam: "Chegando
recentemente a este M undo, soubemos que aqui e no Céu há Administrações,
Cargos, Funções, Comércios, Estudo de ciências e O cupações admiráveis; e
entretanto tínhamos acreditado que após a nossa emigração ou translação do
M undo natural para o M undo espiritual, entraríamos em um repouso eterno
sem trabalho algum; ora, que são as funções senão trabalhos?" O Antigo, lhes
disse: "Será que por um repouso eterno sem trabalho algum entendestes uma
eterna ociosidade, na qual estaríeis continuamente assentados e deitados,
aspirando as delícias pelo peito, e sorvendo as alegrias pela boca?" A estas
palavras, os três R ecém-vindos sorrindo levemente disseram que se tinham
figurado alguma cousa semelhante; e então lhes foi dada esta resposta: “O que
têm as alegrias e as delícias, e por conseguinte a felicidade, de comum com a
ociosidade? Pela ociosidade a mente se abate e não se expande, ou antes o
homem cai em um estado de morte e não é vivificado; suponha-se alguém
sentado em completa ociosidade, com os braços cruzados, os olhos abaixados
ou levantados, e suponha-se que esteja ao mesmo tempo cercado de uma
atmosfera de alegria, não se apoderaria de sua cabeça e de seu corpo, um
amolecimento profundo, a expansão vital da face não se extinguiria, e por fim,
as fibras se relaxando, não cambalharia ele cada vez mais, até cair por terra? O
que é que mantém em expansão e em tensão o sistema de todo o corpo, a não
ser a contenção da mente (animus)? E de onde vem a contenção desta mente, a
não ser das cousas a administrar e das ocupações, quando a gente se entrega a
elas com prazer? Por isso vos ensinarei uma N ovidade do Céu, é que lá há
administrações, ministérios, tribunais grandes e pequenos, e também profissões
e ocupações". Q uando estes três recém-vindos souberam que no Céu havia
T ribunais, grandes e pequenos, disseram: "Por que estes tribunais? Será que
todos no Céu não são inspirados e conduzidos por Deus, e não sabem por
conseguinte o que é justo e direito? Por que então há necessidade de juízes?" E
o Sábio antigo respondeu:"N este M undo nos ensinam e nós aprendemos o que
é o bem e o vero, e também o que é o justo e o eqüitativo, como no M undo
natural, e nós o aprendemos não imediatamente de Deus, mas mediatamente
pelos outros; e todo Anjo do mesmo modo que todo homem,pensa o vero e faz
o bem como por si mesmo; e isso é, conforme o estado do Anjo, misturado e
não puro; e entre os Anjos há também simples e sábios; e os sábios devem
julgar, quando os simples por simplicidade e por ignorância estão na dúvida
sobre o justo ou dele se afastam. M as vós, pois que sois recentemente chegados
a este M undo, segui-me à nossa cidade, se isso vos agrada, e nós vos
162
vem esta sabedoria?" Elas responderam: "Ela é impressa em nós por criação e
daí por nascença; nossos maridos assemelham-na ao instinto; mas nós dizemos
que ela vem da Divina Providência, a fim de que os homens sejam tornados
felizes por suas esposas; aprendemos com os nossos maridos, que o Senhor quer
que o homem masculino aja pelo livre segundo a razão, e que para isso o
Senhor M esmo modera pelo interior o livre do homem concernente às
inclinações e as afeições, e o modera pelo exterior por meio de sua esposa, e
assim forma o H omem com sua Esposa um Anjo do Céu; e, além disso, o
Amor muda sua essência, e não se torna este Amor se é constrangido. M as
vamos falar mais abertamente; nós somos levadas a isso, isto é, à prudência de
moderar as inclinações e as afeições de nossos maridos, de tal maneira, que lhes
pareça que agem pelo livre segundo a razão, e isso, porque encontramos as
nossas delícias em seu amor, não amamos cousa alguma mais do que vê-los
achar suas delícias nas nossas, que, se, forem pouco estimadas por eles, se
embotam também em nós". Q uando assim falaram, uma das esposas entrou no
quarto de dormir, e voltando disse: "A minha pomba bate ainda as asas; é um
sinal de que podemos desvendar ainda mais arcanos". E disseram: "T emos
observado diversas mudanças das inclinações e das afeições dos homens; por
exemplo, que os maridos se tornam frios para as esposas, quando pensam
cousas vãs contra o Senhor e a Igreja; que se tornam frios quando estão no fasto
da própria inteligência; que se tornam frios quando encaram as outras mulheres
com cobiça; que se tornam frios quando seu amor é notado pelas esposas, sem
falar de vários outros casos; e que o frio que se apodera deles é de diversos
gêneros; notamos isso porque o sentimento se retira de seus olhos, de seus
ouvidos e de seu corpo na presença de nossos sentimentos. Por estas poucas
observações podes ver que sabemos mais que os homens, se isso vai bem para
eles, ou se vai mal; se estão frios para as esposas, isso vai mal para eles, mas se
estão quentes para as esposas, isso vai bem para eles; é por isso que as esposas
estão continuamente ocupadas em achar meios para que os maridos se tornem
quentes e não frios para elas, e elas se ocupam disso com uma perspicácia
impenetrável para os maridos". Depois que pronunciaram estas palavras,
ouviu-se uma espécie de gemido da pomba; e então as esposas disseram: "Isto é
um índice de que nós desejamos desvendar arcanos mais profundos, que
entretanto não nos é permitido descobrir; revelarás, talvez, aos homens os que
ouvistes?" E respondi: "É minha intenção; que prejuízo pode resultar daí?"
Depois de terem falado entre si as esposas disseram: "R evela, se o queres; nós
não ignoramos qual é lias esposas o, poder de persuasão; elas dirão a seus
maridos: Este homem graceja, são fábulas, ele brinca com as aparências e as
futilidades habituais dos maridos; não o acrediteis; sabemos que vós sois os
Amores,e que nós somos as O bediências; revela portanto,se queres; os maridos
darão sempre atenção, não às palavras que saem da tua boca, mas às que saem
da boca de suas esposas com beijos".
165
conjugal esta Esfera é recebida pela Esposa, e não é recebida pelo M arido senão
por meio da esposa. X V I. Aí onde não está o Amor conjugal, esta Esfera é
recebida, é verdade, pela esposa, mas não pelo marido por meio da esposa.
X V II. O Amor verdadeiramente conjugal pode existir em um dos esposos, e
não ao mesmo tempo no outro. X V III. H á diversas semelhanças, e diversas
dessemelhanças, tanto internas como externas, nos esposos. X IX . As diversas
semelhanças podem ser conjuntas, mas não com as dessemelhanças. X X . O
Senhor provê a semelhanças para aqueles que desejam o Amor verdadeiramente
conjugal,se não for nas terras,será nos Céus.X X I. O homem, conforme a falta
de amor conjugal e a perda deste amor,se aproxima da natureza da besta.Segue
agora a explicação destes Artigos.
210 - I.O sentido próprio do amor conjugal é o sentido do T ato.
Cada amor tem seu sentido; o amor de ver, procedente do amor de
compreender, tem o sentido da vista, e os encantos deste sentido são as
simetrias e as belezas; o amor de ouvir, procedente do amor de escutar e de
obedecer, tem seu, sentido no ouvido, e os encantos deste sentido são as
harmonias; o amor de conhecer as coisas que flutuam no ar em torno de si,
procedente do amor de perceber, tem o sentido do olfato, e os encantos deste
sentido são as exalações odoríferas; o amor de se alimentar, procedente do amor
de ser imbuído de bens e de veros,tem o sentido do paladar, e os prazeres deste
sentido são os manjares delicados; o amor de conhecer os objetos, procedente
do amor de ver em torno de si e de se garantir, tem o sentido do tato, e seus
encantos são as impressões agradáveis. Se o amor de se conjuntar com seu
semelhante, procedente do amor de unir o bem e o vero, tem o Sentido do
tato, é porque este sentido é comum a todos os outros sentidos, e por
conseguinte participa de alguma cousa deles; é bem sabido que este amor põe
em comunicação com ele todos os sentidos acima mencionados, e se aplica os
seus encantos. Q ue o Sentido do tato tenha sido consagrado ao amor conjugal,
e que seja o seu sentido próprio, isso é evidente por todo seu jogo e pela
elevação de sua finura para o que há de mais delicado; mas deixa-se aos amantes
tirar mais amplas deduções deste assunto.
211 - II. N aqueles que estão no amor verdadeiramente conjugal à faculdade de
se tornar sábio aumenta; mas nos que não estão no amor conjugal decresce. Se
a faculdade de se tornar sábio aumenta nos que estão no Amor verdadeiramente
conjugal é porque este Amor está nos esposos pela sabedoria, e segundo a
sabedoria, como foi plenamente provado nos Capítulos que precedem; além
disso também, porque o sentido deste Amor é o tato, e este sentido é comum a
todos os sentidos, e cheio também de delícias; por conseguinte este amor abre
os interiores da mente, como abre os interiores dos sentidos, e com eles as
partes orgânicas de todo corpo; segue-se que aqueles que estão neste amor nada
amam mais do que se tornarem sábios; pois o homem se torna sábio, tanto
quanto os interiores da sua mente são abertos; com efeito, por esta abertura os
167
quando elas estão neste estado, está no seu prazer, ou no desprazer, como
algumas o dizem, é o que não foi divulgado por elas, o que só é conhecido em
geral, é que não é permitido ao marido dizer a esposa que ele pode e não quer,
pois por isso é notavelmente ferido o estado de recepção, que é preparado
segundo o estado de potência do marido.
220 - X I. H á abundância nos homens segundo o amor de propagar os veros de
sua sabedoria,e segundo o amor de fazer usos.
Q ue assim seja,é um dos arcanos que eram conhecidos dos Antigos, e que hoje
estão inteiramente perdidos; os Antigos sabiam que todas e cada uma das
cousas que se fazem no corpo, se fazem segundo uma origem espiritual, por
exemplo, que as ações decorrem da vontade que em si mesma é espiritual; que
as palavras decorrem do pensamento que também é espiritual; que a vista
natural vem da vista espiritual que é a do entendimento; que o ouvido natural
vem do ouvido espiritual que é a atenção do entendimento e ao mesmo tempo
da acomodação da vontade; que o olfato natural vem do olfato espiritual, que é
a percepção,e assim por diante; que semelhantemente a seminação viril vem de
uma origem espiritual, os Antigos o viram; de vários ensinamentos, não
somente da razão mas também da experiência, tinham concluído que ela vem
dos veros de que se compõe o entendimento; e diziam que do casamento
espiritual, que é o do bem e do vero, e que influi em todas e cada uma das
coisas do U niverso, não é recebido pelos machos nada mais que o vero e o que
se refere ao vero; e que isso avançando no corpo é formado em semente; e que
é daí que as sementes entendidas espiritualmente são os veros; que, quanto à
formação, a alma masculina, sendo intelectual, é por conseqüência o vero, pois
o intelectual não é outra cousa, é por isso que quando a alma desce, o vero
desce também; que isso acontece porque a alma, que é o íntimo do homem e
de todo animal, e que em sua essência é espiritual, por um esforço de
propagação implantado nela, segue na descida e quer se procriar, e que quando
isso se faz, a alma inteira se forma, se envolve e se torna semente; e que isso
pode ser feito milhares e milhares de vezes, porque a alma é uma substância
espiritual, para a qual há, não extensão, mas impleção (impletion), e da qual
não se tomam partes,mas há produção do todo, sem a menor perda deste todo;
daí resulta que ela está plenamente nos menores receptáculos, que são as
sementes, do mesmo modo que está em seu receptáculo maior, que é o corpo.
U ma vez pois que o V ero da alma é a origem da semente, segue-se que há
abundância nos homens segundo o amor de propagar os veros de sua sabedoria:
se há também abundância segundo o amor de fazer usos, é porque os usos são
bens que produzem veros. N o M undo também, alguns sabem que há
abundância nos homens ativos, e não nos ociosos. Perguntei como pela alma
viril é propagada a alma feminina, e recebi como resposta, que é pelo bem
intelectual, porque este bem em sua essência é o vero; pois o entendimento
pode pensar que tal cousa é o bem, que assim é verdade que esta cousa é o
172
bem; é diferente com a vontade, ela não pensa nem o bem nem o vero, mas os
ama e os faz: é por isso que na Palavra pelos filhos são significados os veros, e
pelas filhas os bens,como se vê acima,n.120; e que pela semente,na Palavra, é
significado o vero,ver no Apocalipse R evelado n.565.
221 - X II.As determinações estão no bel-prazer do marido.
Isto resulta de que a abundância, de que se acaba de falar, está nos homens, e
varia neles tanto segundo os estados da sua mente como segundo os estados de
seu corpo; pois o entendimento não é tão constante em seus pensamentos como
a vontade em suas afeições; com efeito,é levado ora ao alto, ora para baixo, está
ora em um estado sereno e claro, ora em um estado turbulento e obscuro, ora
em objetos agradáveis, ora em objetos desagradáveis; e como a mente, quando
age, está também no corpo, segue-se que o corpo tem estados semelhantes; daí
vem que o marido ora se afasta do amor conjugal e ora se aproxima dele, e que
a abundância no primeiro estado é retirada; e no segundo é restabelecida. São
estas as razões pelas quais as determinações devem ser deixadas ao bel-prazer do
marido; daí vem que as esposas, pela sabedoria impressa nelas, jamais dão
qualquer advertência sobre tais assuntos.
222 - X III. H á uma esfera conjugal que influi do Senhor pelo Céu em todas e
cada uma das coisas do U niverso até seus últimos.
Q ue do Senhor procedem o Amor e a Sabedoria, ou o que é a mesma cousa, o
Bem e o V ero, isso foi mostrado acima em um Capítulo, sobre este assunto;
estes dois no casamento procedem continuamente do Senhor, porque são Ele
M esmo, e porque todas as coisas são por Ele; e as coisas que procedem d'Ele
enchem o U niverso, pois sem isso nada do que existe, subsistiria. H á várias
esferas que procedem d'Ele, por exemplo: A Esfera de conservação do U niverso
criado, a Esfera de proteção do bem e do vero contra o mal e o falso, a Esfera
da reformação e da regeneração, a Esfera da inocência e da paz, a Esfera da
misericórdia e da graça, além de várias outras; mas a Esfera universal de todas é
a Esfera conjugal, porque esta é também, a Esfera de propagação, por
conseqüência a Esfera sobreeminente de conservação do U niverso criado pelas
gerações sucessivas. Q ue esta Esfera conjugal enche o U niverso, e o percorre
desde os primeiros até os últimos, isso é evidente pelo que foi precedentemente
mostrado, pelo fato de que há Casamentos nos Céus, e os casamentos mais
perfeitos no T erceiro Céu ou Céu Supremo, e que além dos que estão nos
homens,há em todos os seres do R eino animal nas terras, até nos vermes; e que
além disso, há em todos os seres do R eino vegetal desde as oliveiras e as
palmeiras até às menores ervas. Q ue esta Esfera seja mais universal que a esfera
do calor e da luz que procedem do Sol de nosso M undo, a razão Pode se
convencer disso porque ela opera também na ausência do calor deste sol no
inverno, e na ausência de sua luz, como na noite, principalmente nos homens;
se ela opera assim, é porque -Procede do Sol do Céu Angélico, e que por
conseguinte há igualdade constante de calor e de luz, isto. é, conjunção do bem
173
225 - X V I.O nde não existe o Amor conjugal, esta Esfera é recebida, é verdade,
pela esposa,mas não pelo marido por meio da esposa.
Em sua origem esta esfera conjugal que influi no U niverso é Divina; em sua
progressão no céu entre os Anjos, ela é celeste e espiritual; nos homens natural;
nas bestas e nos pássaros, animal; nos vermes, puramente corporal; nos vegetais
é privada de vida; e além disso em cada um dos seres, ela varia segundo suas
formas. O ra, como esta Esfera é recebida imediatamente pelo Sexo feminino, e
mediatamente pelo Sexo masculino, e como é recebida segundo as formas,
segue-se que esta Esfera, que conta em sua origem pode ser mudada em uma
Esfera não santa nos seres, e mesmo mais ainda em uma Esfera oposta; a Esfera
oposta é chamada Esfera de prostituição em tais mulheres, e Esfera escortatória
em tais homens; e como tais homens e tais mulheres estão no Inferno, é do
inferno,que vem esta esfera; mas também para esta esfera há muita variedade, e
por conseguinte ela é de várias espécies; mas tal espécie é atraída e apreendida
por tal homem, porque lhe convém, e se conforma e corresponde ao seu
caráter. Por estas explicações pode-se ver que o marido que não ama sua esposa
recebe esta Esfera de outra, parte que não de sua esposa; e acontece entretanto
que ela é inspirada também pela esposa, mas com desconhecimento do marido,
e quando ele se aquece.
226 - X V II.O Amor conjugal pode existir em um dos esposos e não ao mesmo
tempo no outro.
Com efeito, um pode desejar de todo coração um casamento casto; enquanto
que o outro não sabe o que é o casto; um pode amar as cousas que pertencem a
Igreja, enquanto que o outro ama as que pertencem ao mundo só; um pode
quanto à mente estar no Céu, o outro quanto à sua estar no inferno; daí o
amor conjugal pode estar em um, e não estar no outro; suas mentes, porque
estão voltadas em sentidos contrários, estão interiormente em colisão entre si, e
se não o estão exteriormente, todavia acontece que o que não está no amor
conjugal considera o que está ligada à sua sorte como uma velha fastidiosa; e
assim de resto.
227 - X V III. H á diversas semelhanças e diversas dessemelhanças, tanto internas
como externas,entre os esposos.
É notório que entre os esposos há semelhanças e há dessemelhanças e que as
externas se manifestam, mas não as internas, a não ser aos esposos mesmos
depois de algum tempo de coabitação e aos outros por indícios; mas é inútil
enumerá-las para as fazer conhecer, porque a enumeração e a descrição das
variedades poderia encher muitas páginas. As semelhanças podem em parte ser
deduzidas e concluídas das dessemelhanças pelas quais o amor conjugal é
mudado em frieza, e de que se tratará no, Capítulo seguinte. As semelhanças e
as dessemelhanças tiram em geral sua origem das inclinações inatas (connatae),
variadas pela educação, pelas sociedades e pelas persuasões de que se está
175
imbuído .
228 - X IX . As diversas semelhanças podem ser conjuntas, mas não com as
dessemelhanças.
As variedades das semelhanças, são em grande número, e diferem mais ou
menos; mas entretanto as que diferem podem com o tempo ser conjuntas por
diversas coisas, especialmente por acomodações aos desejos, pelos deveres
mútuos, as delicadezas, a abstenção de atos não-castos, o amor comum dos
filhos, e o cuidado de sua educação; mas principalmente pelas conformidades
nas coisas da Igreja; pois pelas coisas da Igreja se faz uma conjunção das
semelhanças que diferem interiormente; pelas outras coisas não há conjunção
senão pelas semelhanças que diferem exteriormente. M as com as
dessemelhanças não pode se fazer conjunção porque são antipáticas.
229 - X X . O Senhor provê semelhanças para os que desejam o Amor
verdadeiramente conjugal,e se não for nas terras erá nos Céus.
A razão disso, é que é provido pelo Senhor a todos os casamentos de amor
verdadeiramente conjugal; que estes casamentos vêm do Senhor, vê-se acima,
ns. 130, 131; mas como é provido nos céus, é o que ouvi descrever desta
maneira pelos Anjos: A Divina Providência do Senhor é singularíssima e
universalíssima a respeito dos casamentos e nos casamentos, porque todos os
prazeres do Céu decorrem dos prazeres do amor conjugal, como águas doces
jorrando do manancial de uma fonte; e é por isso que é provido a que nasçam
Pares conjugais; e estes são, sob os auspícios do Senhor, continuamente
educados para seu casamento, sem que o rapaz e a moça nada saibam; e depois
do tempo exigido, ela então V irgem núbil, e ele M ancebo apto ao casamento,
se encontram em alguma parte como, por acaso, e se examinam mutuamente, e
em seguida como por uma espécie de instinto conhecem que são adequados, e
por uma sorte de ditame interior pensam em si mesmos, o mancebo: "Esta é a
minha"; e a moça: "Este é o meu"; e depois que este pensamento residiu algum
tempo nas mentes de um e de outro, eles se dirigem a palavra de propósito
deliberado, e se prometem um ao outro. Foi dito como por acaso, como por
uma sorte de instinto, com por uma sorte de ditame, e entende-se pela Divina
Providência, porque ela aparece assim quando não é conhecida; pois o Senhor
abre as semelhanças internas,a fim de que se vejam.
230 - X X I. O homem segundo a falta de amor conjugal e a perda deste amor,
se aproxima da natureza da besta.
A razão disso, é que, quanto mais o homem está no amor conjugal, tanto mais
é espiritual, e quanto mais é espiritual, tanto mais é homem; pois o homem
nasce para a vida depois da morte, e ele a atinge porque tem uma alma
espiritual, e o homem pode ser elevado a esta vida pela faculdade de seu
entendimento; se então sua vontade, pela faculdade que também lhe foi dada, é
elevada ao mesmo tempo, depois da morte ele vive a vida do Céu. É o
176
pois permitido discorrer convosco sobre assuntos que são da mais profunda
Erudição"; e eles responderam:"Diz o que te agrada e nós te satisfaremos"; e eu
fiz esta pergunta: "Q ual deve ser a R eligião pela qual o homem é salvo?", e eles
disseram:"N ós dividiremos a questão em várias outras, e antes de ter concluído
sobre estas não podemos dar resposta; é preciso primeiro por em discussão: 1.
se uma R eligião é alguma cousa; 2.se há salvação ou não; 3. se há uma R eligião
que seja mais eficaz do que uma outra; 4. se há um Céu e um Inferno; 5. se há
uma vida eterna depois da morte; além de muitos outros pontos". E pedi que
tratassem do primeiro ponto: Se uma R eligião é alguma cousa? E eles se
puseram a discutir este ponto por uma multidão de argumentos: H á uma
R eligião, e o que se chama assim é alguma cousa? E lhes pedi para relatá-la à
Assembléia, e eles o fizeram, e a resposta comum foi que esta Proposição exigia
tão numerosas pesquisas, que não, poderia ser resolvida em uma sessão. "M as,
perguntei, poderia sê-lo em um ano.?" E um deles me disse que não o poderia
ser em cem anos; e eu disse:"Esperando isso estais sem religião"; ele respondeu:
"N ão deve primeiro ser demonstrado se há uma R eligião, e se o que é chamado
R eligião é alguma coisa? Se há uma ela será também para os sábios; se não há, o
que é chamado religião será unicamente para o vulgo; sabe-se que a R eligião é
chamada Ligação; mas pergunta-se para quem é esta ligação; se é unicamente
para o vulgo, não é em si mesma alguma cousa; se é também para os sábios, ela
é alguma cousa". Depois de ter ouvido esta resposta, eu lhes disse "V ós nada
tendes de Eruditos, pois não podeis senão pensar se uma cousa é, ou não é, e
examiná-la em um ou outro sentido; quem é que se pode tornar Erudito, a não
ser que saiba alguma cousa com certeza, e avance nessa cousa, como um
homem avança passo a passo e sucessivamente na sabedoria? De outro modo,
não tocais nem mesmo com um dedo as verdades, mas as afastais cada vez mais
da vista; raciocinar somente se uma cousa é ou não é,não é raciocinar sobre um
boné sem jamais pô-lo na cabeça, ou sobre um sapato sem calçá-lo? Q ue
segue-se daí, senão que não sabeis se, seja o que for, existe, nem mesmo se há
uma salvação, se há uma vida eterna depois da morte, se uma R eligião, vale
mais do que uma outra, se há um Céu e um Inferno; vós nada podeis pensar
sobre esses assuntos, enquanto vos detiverdes no primeiro passo, e aí bateis a
areia, sem levar um pé adiante do outro e sem avançar. T omai cuidado para
que vossas M entes, enquanto se mantém assim fora do julgamento, não se
endureçam interiormente, e não se tornem estátuas de sal, e vós, amigos da
esposa de Loth". Depois de ter assim falado, fui embora; e eles, em sua
indignação, jogaram pedras atrás de mim; e então me apareceram como
estátuas de pedra, nas quais não há cousa alguma de razão humana. E indaguei
dos Anjos sobre a sorte destes espíritos; e eles me disseram: "A sua sorte é serem
precipitados no profundo, e aí em um deserto e serem reduzidos a carregar
fardos, e então, como nada podem dizer conforme a razão, balbuciam e falam
de cousas frívolas; e aí,de longe,aparecem como asnos carregando suas cargas.
233 - T erceiro M emorável: Em seguida um Anjo me disse: "Segue-me para o
180
lugar onde se grita: "Ó como são sábios!" e disse: "V erás prodígios de homens;
verás faces e corpos, que são de homens, e entretanto não são de homens"; e eu
disse: "São de bestas?" R espondeu: "N ão são de bestas, mas são de homens-
bestas,pois eles são tais,que não podem de modo algum ver se o vero é vero ou
não, e entretanto, podem fazer que tudo o que querem seja vero; estes, entre
nós, são chamados Confirmadores". E seguimos o G rito, e chegamos ao lugar;
e eis, uma Assembléia de homens, e em torno da Assembléia uma multidão, e
na multidão algumas pessoas de distinção, que, tendo ouvido que eles
confirmavam tudo que diziam, e que, por uma aquiescência tão manifesta, lhes
eram favoráveis, se voltaram e disseram: ''Ó como são sábios!" M as o Anjo me
disse: "N ão vamos para perto deles, mas chamemos um da Assembléia": e
chamamos um, e nos retiramos com ele à parte, e falamos de diversas cousas; e
ele confirmava todas essas cousas, a ponto de aparecerem absolutamente como
verdadeiras; e lhe perguntamos se ele podia também confirmar as cousas
contrárias; e ele disse que o podia tão bem como para as precedentes; então
disse abertamente e do fundo do coração: “O que é o vero? Será que na
natureza das cousas há outro vero que não seja o que o homem faz vero? Diz
tudo que te agrada,e eu farei que seja vero",e eu disse:"Faz vero isto, que a Fé
é o todo da Igreja"; e ele o fez com tanta destreza e habilidade, que os Eruditos
que estavam em torno ficaram admirados e aplaudiram: depois, lhe pedi para
fazer vero, que a Caridade é o todo da Igreja; e ele o fez; e em seguida, que a
Caridade não pertence em cousa alguma à Igreja, e envolveu uma e outra
proposição e as ornou com aparências, de sorte que os assistentes se olhavam
entre si, e diziam: "N ão está aí um Sábio?" E eu disse: "N ão sabes que bem
viver é a Caridade, e que bem crer é a Fé? N ão é que aquele que vive bem,
também crê bem, e que assim a fé pertence à caridade, e a caridade à fé? N ão
vês que isso é vero? Ele respondeu: "Farei isso vero, e verei"; e o fez, e disse:
"agora eu vejo"; mas pouco depois ele fez que o contrário fosse vero, e então
disse: "V ejo também que isso é vero"; a essas palavras, sorrimos e dissemos:
"N ão estão aí cousas contrárias? Como dois contrários podem ser vistos veros?"
A isso ele respondeu muito indignado: "V ós estais no erro, um e outro é vero,
pois que não há vero senão o que o homem faz vero". Perto de lá estava
alguém, que no M undo tinha sido Embaixador de primeira classe; ficou
admirado do que acabava de ouvir, e disse: "R econheço que há alguma cousa
semelhante no M undo,mas não obstante,tu desarrazoas; faz,se podes, que seja
vero que a Luz é O bscuridade, e que a obscuridade é a Luz"; e ele respondeu:
"Eu o farei facilmente; o que é a Luz e a O bscuridade, senão um Estado do
O lhos? N ão é que a luz é mudada em sombra quando o olho acaba de ser
exposto aos raios do sol? Q uem não sabe que então o olho é modificado, e que
em conseqüência a luz aparece como sombra; e que vice-versa, quando o estado
do olho volta, esta sombra aparece como luz? A Coruja não vê na obscuridade
da noite como uma luz do dia,e a luz do dia como uma obscuridade de noite; e
então o sol mesmo como um globo opaco e sombrio? Se o homem tivesse os
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olhos como a coruja, que chamaria ele luz, e que chamaria obscuridade? Então,
o que é a luz, senão um estado do olho e se é somente um estado do, olho a
Luz não é a O bscuridade,e a O bscuridade a Luz? Portanto um é vero e o outro
é vero". Em seguida o Embaixador pediu ao Confirmador para fazer vero isto,
que o corvo é branco, e não preto; e ele respondeu: "Eu o farei ainda
facilmente; e disse:"T oma uma agulha ou uma faca,e abre as asas e as penas do
corvo, não são elas brancas por dentro? Depois afasta as asas e as penas, e
examina o Corvo pela pele, não é ele branco? O que é o preto que o cerca,
senão uma sombra pela qual, não se deve julgar a cor do Corvo. Q ue ,o preto
não seja senão a sombra, consulta aqueles que possuem a Ciência da ótica, e
eles to dirão; ou antes, pulveriza uma pedra preta, ou o vidro preto e veras que
seu pó é branco?" M as, respondeu o Embaixador: "N ão é que o Corvo aparece
preto diante da vista?" “O que! replicou o Confirmador, tu queres, tu que és
um homem, pensar alguma cousa pela aparência! podes dizer, é verdade, pela
aparência, que o Corvo é preto, mas não o podes pensar; assim, por exemplo
podes dizer, pela aparência, que o Sol se levanta, sobe, desce e se deita, mas
como tu és um homem, não podes pensá-lo, pois o Sol permanece imóvel, e a
T erra gira; dá-se o mesmo com o Corvo, uma aparência, é uma aparência; diz
tudo que quiseres, o, corvo é inteiramente branco; e branqueia também
quando se torna velho, é o que eu vi". Em seguida lhe pedimos para dizer do
fundo do coração se estava brincando,ou se acreditava que não há vero senão o
que o homem faz vero; e ele respondeu: Juro que o creio". Depois disso o
Embaixador lhe fez esta pergunta: "Podes fazer vero isto, que és louco?" e ele
disse: "Eu o poderia, mas não o quero; quem é que não é louco?" Depois desta
conversa, este Confirmador universal foi enviado aos Anjos, a fim de que
examinassem o que ele era; e, depois de o terem examinado, disseram que ele
não possuía nem mesmo um grão de entendimento, porque tudo que está
acima do racional estava fechado nele, e que nele não havia aberto senão o que
está abaixo do racional; acima do R acional está a Luz celeste, e abaixo do
R acional está a Luz natural, e no, homem esta é tal que ele pode confirmar
tudo que lhe agrada; mas se a Luz celeste não influi na Luz natural, o homem
não vê se o que é vero é vero, nem por conseqüência também se o que é falsa é
falso; ora, ver um e outro depende da luz celeste na luz natural; e a luz celeste
vem do Deus do Céu, que é o Senhor; é por isto que este confirmador
universal não é nem homem nem besta; mas é besta-homem. Perguntei ao
Anjo qual era a sorte destes confirmadores,e se podiam estar com os vivos, pois
que a vida está no homem pela Luz celeste, e seu entendimento vem desta luz;
e ele me disse que estes confirmadores, quando estão sós, não podem pensar
cousa alguma, nem por conseqüência dizer coisa alguma, mas ficam de pé
mudos como máquinas, e como que mergulhados em um profundo sono, mas
despertam desde que alguma coisa atinja seus ouvidos; e acrescentou que tais se
tornam aqueles que são intimamente maus; a luz celeste não, pode influir neles
pela porta superior, mas influi unicamente pelo M undo algum espiritual, de
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onde lhes vem a faculdade de confirmar. Depois destas explicações ouvi uma
voz vinda dos Anjos que o haviam examinado, dizendo: "Faz de tudo que
ouviste uma Conclusão geral":e fiz esta:"Poder confirmar tudo que agrada não
é obra de um homem inteligente, mas poder ver que o que é vero é vero e o
que é falso é falso, e confirmá-lo, é obra de um homem inteligente". Dirigi em
seguida meu olhar para a Assembléia onde estavam os Confirmadores; e em
torno deles a multidão gritava: "Ó como são sábios!" e eis que uma nuvem
sombria os envolveu, e na N uvem voavam corujas e morcegos; e me foi dito:
"As corujas e os morcegos que voam na nuvem preta são correspondências e
por conseguinte aparências dos pensamentos destes Confirmadores; pois as
confirmações das falsidades, ao ponto de aparecerem como verdades, são
representadas neste M undo sob formas de pássaros noturnos, cujos olhos são
iluminados por dentro por uma luz quimérica, pela qual vêem os objetos nas
trevas como em uma luz; uma tal luz quimérica espiritual está naqueles que
confirmam os falsos a ponto, de vê-lo: como veros, e em seguida, de dizê-los e
crê-los como veros; todos estes estão na visão posterior, e não estão em vista
alguma anterior.
183
Q ue seja isso o que acontece entre os esposos, quando seu primitivo amor se
afasta e se torna frieza, isso é muito conhecido, para que precise de explicação.
A razão, é que a frieza conjugal reside acima de todas as outras frieza nas
mentes humanos; pois o conjugal mesmo está inscrito na alma, para este fim
que uma alma seja propagada por uma alma, e a alma do pai nos filhos; daí
vem que esta frieza aí começa,e decorre sucessivamente nas cousas que seguem,
e as infecta, e assim muda as alegrias e os prazeres do amor primitivo em
tristezas e desprazeres.
237 - III. As Causas das frieza em suas sucessões são em grande número,
algumas,são Internas,e outras Externas,e outras Acidentais.
Q ue as causas das frieza nos casamentos sejam em grande número, sabe-se no
mundo; sabe-se também que têm sua origem em muitas causas externas; mas
não se sabe que as origens das causas estão profundamente escondidas nos
internos, e que daí elas derivam para as causas que seguem até que apareçam
nos externos. A fim de que se saiba portanto que as causas externas, não são
causas em si mesmos, mas são derivadas de causas em si mesmas que como
acaba de ser dito, estão nos íntimos, as causas por conseqüência são a princípio
distinguidas geralmente em Internas e Externas, e são em seguida examinadas
particularmente.
238 - IV .As Causas internas de frieza vêm da R eligião.
Q ue a origem mesma do amor conjugal reside nos íntimos do homem, isto é,
em sua Alma, todo homem está convencido disso por estas únicas
considerações, a saber, que a Alma da criança vem do pai, e que isso é
conhecido pela semelhança de inclinações e de afeições, e também pela
semelhança comum das faces que se perpetua do pai na posteridade mesmo a
mais afastada; além disso, pela faculdade propagativa gravada nas almas por
criação; e além disso pelo análogo nos seres do reino vegetal, em que nos
íntimos das germinações está escondida à propagação da semente mesma, e por
conseqüência do todo, quer seja uma árvore, ou um arbusto, ou uma planta.
Esta força propagativa ou plástica nas sementes deste reino, e nas almas do
outro reino,não vem de outra parte senão da Esfera conjugal, que é a do bem e
do vero,e que emana e influi continuamente do Senhor Criador e Conservador
do U niverso,ver acima,ns.222 a 225; e do esforço destes dois,o bem e o vero,
lá, para se conjuntar em um; é deste esforço conjugal, que tem sua sede nas
almas, que existe originariamente o amor conjugal: que este mesmo casamento,
donde procede esta Esfera U niversal, faça a Igreja no homem, é o que foi
suficientemente mostrado no Capítulo sobre o Casamento do Bem e do V er-o,
e várias vezes em outros lugares; por aí, diante da razão, é de todo evidência
que a origem da Igreja e a origem do amor conjugal estão em uma mesma
morada, e que estão continuamente abraçadas; mas sobre este assunto, ver
maiores detalhes, acima n. 130, onde foi demonstrado que o amor conjugal é
segundo o estado da Igreja no homem, assim depende da religião, pois que a
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religião constitui este estado. O homem foi criado desse modo, a fim de que
possa se tornar cada vez mais interior, e ser assim cada vez mais introduzido ou
elevado para esse casamento, e por conseqüência no amor verdadeiramente
conjugal, e isso a ponto de perceber G estado de beatitude: que o único meio
de introdução ou de elevação seja a R eligião, vê-se claramente pelo que foi dito
acima, que a origem da Igreja e a origem do amor conjugal estão em uma
morada, e aí estão em um mútuo abraço, e que por conseguinte não podem
deixar de estar conjuntos.
239 - Do que acaba de ser dito, segue-se que, onde não há R eligião, aí não há
também amor conjugal; e que, onde não há este amor, aí há frieza; que a frieza
conjugal seja a privação deste amor, vê-se acima, n. 235. Por conseqüência a
frieza conjugal é também a privação do estado de Igreja, ou de R eligião. U ma
confirmação assaz evidente de que a cousa é assim pode ser tirada da ignorância
geral hoje em dia sobre o amor verdadeiramente conjugal. Q uem é, hoje, que
sabe, e quem é hoje, que quer reconhecer, e quem é hoje que não se admirará
que o amor conjugal tira daí sua origem? M as isso vem unicamente de que,
ainda que haja religião, não há entretanto veros da religião; e o que é uma
religião sem veros? Q ue não haja veros, é o que foi plenamente demonstrado
no Apocalipse R evelado; ver também neste T ratado o M emorável n.566.
240 - V . A primeira das causas internas de frieza é a rejeição da R eligião por
um ou por outro esposo.
N aqueles que repelem de face para o occiput, ou do peito para o dorso, as
cousas santas da Igreja, não há amor algum bom; se algum se apresenta no
corpo, não há, entretanto, nenhum no espírito; em tais homens os bens se
colocam por fora dos males, e os cobrem como uma roupa brilhante de ouro,
cobre um corpo gangrenado; os males que residem no interior e estão cobertos,
são em geral ódios, e por conseqüência guerras intestinas contra todo espiritual;
pois todas as cousas da Igreja que eles rejeitam são em si mesmas espirituais; e
como o amor verdadeiramente conjugal é o amor fundamental de todos os
amores espirituais; como foi mostrado acima, é evidente que há contra ele um
ódio intrínseco,e que neles o amor intrínseco ou próprio é em favor do oposto,
que é o amor do adultério; eles,portanto,mais que os outros escarnecerão desta
verdade de que cada um tem o amor conjugal segundo o estado da Igreja; e
mesmo talvez riam à bandeiras despregadas só ao nome de amor
verdadeiramente conjugal; mas seja; que se lhes perdoe entretanto, porque a
respeito dos enlaçamentos nos casamentos, pensar outra cousa diferente do que
pensam dos enlaçamentos nas escortações, isso lhes é tão impossível como o é a
um camelo passar pelo buraco de uma agulha. Esses, que são assim,
experimentam quanto ao amor conjugal mais frieza que todos os outros; se são
ligados a suas esposas, não é senão por algumas das causas externas,
mencionadas acima n. 153, que retêm e ligam. N eles os interiores, que
pertencem à alma e por conseguinte à mente, são cada vez mais fechados, e no
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corpo obstruídos, e então o amor do sexo torna-se vil também, ou cai em uma
extravagante lascívia nos interiores de seu corpo, e por conseguinte nos ínfimos
de seu pensamento; são eles que também, são entendidos no M emorável n. 79;
que o leiam,se isso lhes agrada.
241 - V I.A Segunda das causas internas de frieza,é quando um tem R eligião, e
o outro não a tem.
Isto vem de que suas almas não podem deixar de estar em desacordo; pois a
alma de um está aberta para a recepção do amor conjugal, mas a outra está
fechada para a recepção desse amor; a alma está fechada naquele que não tem
religião, e está aberta naquele que tem religião; por conseguinte coabitação
alguma não é possível; e quando o amor conjugal é banido, a frieza vem, mas
para aquele dos esposos que não tem religião; esta frieza não é dissipada senão
pela recepção de uma religião conforme a do outro, se esta é verdadeira; de
outro modo, no esposo que não tem religião alguma, segue-se uma frieza que
desce da alma ao corpo até a pele, donde resulta que enfim ele não suporta
olhar diretamente em face o outro esposo, nem lhe falar respirando o mesmo
ar, ou de outro modo que não seja com um tom seco, nem tocá-lo com a mão,
e apenas de costas sem fazer menção, das loucuras que, por esta frieza, se
insinuam nos pensamentos,e que eles não divulgam: o que é causa de que esses
casamentos se rompam por si mesmos:além disso,sabe-se que o ímpio despreza
seu consorte; e todos os que não têm religião são ímpios.
242 - V II. A T erceira das coisas internas de frieza, é quando um é de uma
R eligião,e o outro de uma outra.
A razão disso, é que neles o bem não pode ser conjunto com seu vero
correspondente, pois a esposa é o bem do vero do marido, e o marido é o vero
do bem da esposa, como foi mostrado acima; de duas almas eles não podem ser
feitos uma só alma; por conseguinte a fonte deste amor está fechada; uma vez
fechada,chega-se a um conjugal que tem sua sede acima, e que é o conjugal do
bem com um outro vero que não o seu ou do vero com um outro bem que não
o seu,entre os quais não existe amor concordante; daí, naquele dos esposos que
está nos falsos da religião, começa uma frieza, que se torna tanto mais intensa
quanto mais difere de princípios com o outro esposo. U m dia, em uma grande
cidade, percorri as ruas para encontrar um alojamento, e entrei em uma casa
onde moravam esposos de religiões diferentes; então, como eu nada sabia a
respeito, os anjos, dirigindo-me a palavra, disseram: "N ão podemos morar
contigo nesta casa porque os esposos são de religiões discordantes". Eles
percebiam isso pela desunião interna de suas almas.
243 - V III.A Q uarta das causas internas é a falsidade dá R eligião.
É porque a falsidade nas cousas espirituais ou arrebata a religião, ou a mácula;
arrebata naqueles em quem as verdades reais foram falsificadas; a macula
naqueles em que há, é verdade, falsidades, mas não verdades reais, as quais por
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conseqüência não foram falsificadas; nestes pode haver bens com os quais estes
falsos podem ser conjuntos pelo Senhor por meio de aplicações, pois estes falsos
são como diversos tons discordantes, que, por arranjos e combinações hábeis,
são postos em harmonia, de onde vem mesmo o atrativo do canto; neles pode
haver algum amor conjugal, mas naqueles que falsificaram em si os veros reais
da Igreja não o pode haver: destes vem à ignorância que reina a respeito do
Amor verdadeiramente conjugal, ou a dúvida negativa de que este amor possa
existir; e deles vem também esta extravagância que se apodera das mentes de
muitos,a saber,que os adultérios não são males da religião.
244 - IX . As Causas expostas acima são causas de frieza interna, mas não ao
mesmo tempo externa em muitos.
Se as causas até aqui indicadas e confirmadas, que são causas de frieza nos
internos, produzissem uma semelhante frieza nos externos; se fariam tantas
separações quantas frieza internas houvesse; e há tantas destas frieza quantos
casamentos há -entre pessoas que estão a os falsos de religião, ou em religiões
diferentes, ou que não têm religião alguma, e de que se acaba de falar; e
entretanto é notório que um grande número de pessoas coabitam como amores
e como amizades mútuas, mas de onde isso provém nos que estão em frieza
interna, é o que será dito no Capítulo seguinte, concernente as Causas de uma
aparência de amor,de amizade e de bons ofícios entre esposos. H á várias causas
que conjuntam as mentes (animi),mas que entretanto não conjuntam as almas;
entre estas causas há algumas daqueles de que se falou no n. 183, mas acontece
que a frieza está sempre profundamente escondida no interior, e é aqui e ali,
notada e sentida neles as afeições se afastam de uma parte e de outra, mas os
pensamentos, quando se manifestam na linguagem e nas maneiras se
aproximam pela aparência de amizade e de bons ofícios; por isso, esses não
sabem coisa alguma dos encantos e dos prazeres, nem, com mais forte razão,
cousa alguma da felicidade e da beatitude do Amor verdadeiramente conjugal;
tudo isso para eles é apenas nada mais que fábulas. São do número dos que dão
as origens do amor conjugal as mesmas causas, que lhe atribuíam os nove das
Assembléias de sábios reunidas de diversos reinos; ver acima os M emoráveis ns.
193 a 114.
245 - Contra as cousas confirmadas acima, pode-se fazer esta objeção, que
entretanto a alma é propagada pelo pai, ainda que não tenha sido conjunta à
alma da mãe, e mesmo ainda que a frieza que aí reside faça separação. M as se
almas ou progenituras são contudo propagadas, é porque o entendimento, do
marido não está fechado, e o que é mais, pode ser elevado à luz em que está a
alma; mas o amor de sua vontade não é elevado ao calor correspondente à luz,
aí, senão pela vida que de natural se faz espiritual; daí vem que a alma é
entretanto propagada; mas na descida, quando se torna semente, é velada por
cousas que pertencem a seu amor natural; daí brota o mal hereditário. A estas
explicações acrescentarei um arcano que vem do Céu, a saber, que entre as
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dadas com suficiência. Como nos Céus são formados os casamentos vê-se
acima,n.229.
251 - X V .H á também certas Causas de Separação.
H á Separações de leito, e Separações de casa. H á várias causas de separação de
leito, e também várias causas de separação de casa; mas aqui se trata de causas
legítimas. Como as Causas de separação coincidem com as causas de
Concubinagem, de que se tratará na segunda Parte desta O bra, em um
Capítulo especial, o Leitor é enviado para aí, para que veja estas causas em sua
ordem.As causas legítimas de separação são as seguintes.
252 - X V I.A Primeira causa de legítima Separação:é um vício da mente.
É porque o amor conjugal é a conjunção das mentes; se portanto a mente de
um toma uma direção contrária à mente do outro, esta conjunção é rompida, e
por esta ruptura o amor desfalece. Pode-se ver, por sua enumeração, os vícios
que causam a separação; são, quanto à maior parte, estes: A mania, o frenesi, o
furor, a loucura efetiva e o idiotismo, a perda da memória, uma violenta,
moléstia histérica, uma extrema simplicidade ao ponto de não ter percepção
alguma do bem e do vero, uma excessiva obstinação a não obtemperar ao que é
justo e eqüitativo, um supremo prazer em não conversar e não falar senão de
cousas frívolas e insignificantes; um desejo desenfreado de divulgar os sacredos
da casa; além disso, também, de querelar, de enganar e de blasfemar; a falta de
cuidado pelos filhos, a intemperança, a luxúria, a excessiva prodigalidade, a
embriaguez, a falta de asseio, a impudicícia, a aplicação à magia, aos prestígios,
a impiedade, e várias outros vícios. Por causas legítimas, aqui, não se entendem
causas judiciárias, mas causa legítima para o outro esposo; as separações de casa
rara-mente se dão por decisão de juiz.
253 - X V II.A Segunda causa legítima de Separação é um vício do corpo.
Por vícios do corpo não se entendem as moléstias acidentais que sobrevêm a
um ou a outro dos esposos durante o casamento, e que se curam, mas
entendem-se as moléstias inerentes, que não passam; a patologia as faz
conhecer; há diversas espécies delas, por exemplo: as moléstias que infectam o
corpo inteiro, ao ponto do contágio se tornar funesto, tais são as febres
malignas e pestilências,as lepras, os males venéreos, as gangrenas, os cânceres, e
outros semelhantes. Além disso, as moléstias pelas quais todo o corpo é de tal
modo deprimido, que não admite mais consociabilidade, e pelas quais são
exalados eflúvios perniciosos e vapores prejudiciais, seja da superfície do corpo,
seja de seus interiores, especialmente do estômago e do pulmão: da superfície
do corpo: as varíolas malignas, as verrugas, as pústulas, a tísica escorbútica, os
dartros virulentos, sobretudo se a face foi danificada; do estômago: as
fermentações (rapports) infectas, fétidas, vis, acerbas; do pulmão: hálitos fortes
e corrompidos, provenientes de úlceras, de abscessos, ou de sangue viciado, ou
de uma linfa corrompida. Além dessas moléstias, há ainda outras de diferentes
193
nomes, como lipotimia, que é uma fraqueza total do corpo e uma falta de
forças; a paralisia, que é uma redução e um relaxamento das membranas e dos
ligamentos que servem ao movimento; certas moléstias crônicas que tiram sua
origem da perda da sensibilidade e da elasticidade dos nervos, ou de demasiada
espessura, tenacidade e acrimônia dos humores; a epilepsia; uma enfermidade
permanente proveniente de apoplexia; certas tísicas pelas quais o corpo se
consome; o sofrimento ilíaco, a afecção celíaca, as hérnias, e outras moléstias
deste gênero.
254 - X V III. A T erceira causa de legítima Separação é a impotência antes do
casamento.
Q ue seja isso uma causa de separação, é porque o fim do casamento é a
procriação de filhos, e que esta não é possível da parte do impotente; e como
eles o sabem de antemão., privam de propósito deliberado, os esposos da
esperança desta procriação, esperança que entretanto nutre e fortifica seu amor
conjugal.
255 - X IX .O Adultério é a causa do Divórcio.
H á várias razões, que estão na luz racional, e entretanto escondidas hoje; pela
luz racional pode-se ver que os Casamentos são santos, e que os Adultérios são
profanos, e que assim os Casamentos e os Adultérios são diametralmente
opostos entre si; e que, quando um oposto age contra seu oposto, um destrói o
outro até à última centelha da vida; é o que acontece ao amor conjugal, quando
um dos esposos por princípio confirmado, e assim de propósito deliberado,
comete Adultérios. N aqueles que tem algum conhecimento do Céu e do
Inferno, estas cousas vêm ainda mais a uma clara luz da razão; pois estes sabem
que os Casamentos são do Céu e vêm do Céu, e que os Adultérios são do
inferno, e vêm do inferno, e que o casamento e o adultério, não podem estar
conjuntos, do mesmo modo, que o Céu não pode estar conjunto com o
inferno, e que se forem conjuntos no homem imediatamente o Céu se retira, e
o inferno entra. Daí resulta portanto que o Adultério é a causa do Divórcio; é
por isso que o Senhor disse: "Q uem quer que repudie sua esposa, que não seja
por causa de Escortação, e se case com uma outra, comete adultério". (M ateus
X IX ,9); Ele disse:Se ele repudia e se casa com uma outra, sem ser por causa de
escortação, comete adultério, porque a repudiação por esta causa é a completa
separação das mentes, que é chamada Divórcio; mas as outras repudiaçães
provenientes de suas causas particulares são Separações, de que se acaba de falar
acima; depois destas separações, se o homem toma uma outra esposa comete
adultério; mas não depois do divórcio.
256 - X X . H á também várias causas acidentais de frieza, e a Primeira destas
causas é o Comum que resulta de haver continuamente permissão.
Q ue o Comum que resulta de haver continuamente permissão seja uma causa
acidental de frieza, é porque isso acontece aos que pensam lascivamente sobre o
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nas mãos.
262 - Imediatamente, examinei o Primeiro Amor universal do Inferno, que era
o Amor de dominar pelo amor de si, e em seguida, o Amor universal do Céu,
que lhe corresponde, isto é, o Amor de dominar pelo amor dos usos; com
efeito,não me foi permitido examinar um desses amores sem examinar o outro,
porque o Entendimento não percebe um sem o outro, pois eles são opostos;
por isso, para que um e outro sejam percebidos devem ser postos em oposição,
um contra o outro; pois uma face bela e regular brilha com esplendor quando
se lhe opõe uma face feia e disforme.Q uando tinha examinado bem o Amor de
dominar pelo amor de si, me foi dado perceber que este Amor era infernal no
grau supremo, e por conseguinte está nos que estão no Inferno mais profundo;
e que o Amor de dominar pelo amor dos usos era celeste no grau supremo, e
por conseguinte estava naqueles que estão no Céu supremo. Se o Amor de
dominar pelo amor de si é infernal no grau supremo, é porque dominar pelo
amor de si, é dominar pelo próprio; ora o próprio do homem é por nascimento
o mal mesmo, e o mal mesmo é diametralmente contra o Senhor; por isso
quanto mais se progride no mal, mais se nega Deus e as cousas santas da Igreja
e mais se adora a si mesmo e a natureza; que os que estão no mal examinem
isso em si mesmos, eu lhes peço, e verão; este amor também é tal que, se lhe
afrouxam as rédeas, o que acontece quando o impossível não lhe faz obstáculo,
tanto mais se lança de grau em grau, e até ao mais alto; e não se limita a isso,
mas se não há um grau mais elevado, se queixa e geme. Este Amor, nos
Políticos, sobe ao ponto de quererem ser R eis e Imperadores; e se fosse possível
dominar sobre o mundo inteiro, e ser chamados reis dos reis e imperadores dos
imperadores; e nos Eclesiásticos, este mesmo Amor sobe a um tal ponto, que
quereriam ser deuses, e tanto quanto possível, dominar sobre o Céu inteiro, e
ser chamados deuses dos deuses. Q ue nem uns nem outros reconhecem de
coração Deus algum, ver-se-á no que vai seguir. M as, ao contrário, os que
querem dominar pelo amor dos usos, querem dominar não por eles mesmos,
mas pelo Senhor, porque o Amor dos usos vêm do Senhor, e é o Senhor
M esmo; estes não consideram as dignidades senão como meios para fazer usos;
colocam os usos bem acima das dignidades,enquanto que os primeiros colocam
as dignidades bem acima dos usos.
263 - Enquanto meditava sobre este assunto, me foi dito por um Anjo da parte
do Senhor: "Agora, tu vais ver e depois de ver te confirmarás qual é este Amor
infernal". E então a terra se abriu de repente à esquerda, e vi subir do Inferno
um diabo com a, cabeça coberta por um boné enterrado na testa até aos olhos,
com a face cheia de pústulas como as de uma febre ardente, com os olhos
esbugalhados, o peito estufado em rombo; da boca lançava fumaça como uma
fornalha, seus lombos eram inteiramente ígneos; em vez de pés tinha
calcanhares ósseos sem carne, e de seu corpo se exalava um calor infecto e
imundo. Ao vê-lo fiquei apavorado, e lhe gritei: "N ão te aproximes; diz-me
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donde és?" E ele respondeu com uma voz rouca: "Sou dos infernos e aí vivo
com duzentos outros em uma Sociedade que é a mais eminente de todas as
sociedades; lá somos todos imperadores de imperadores, reis de reis, duques de
duques, e príncipes de príncipes; lá ninguém é simplesmente imperador,
simplesmente rei, duque, príncipe; nós estamos lá sentados sobre tronos de
tronos,e daí enviamos nossas ordens sobre todo o globo, e, além". Então eu lhe
disse: "N ão vês que a fantasia da proeminência te faz desarrazoar?" Ele me
respondeu:"Como podes falar assim?" pois nós nos vemos a nós mesmos, como
tais, e também somos reconhecidos como tais pelos companheiros. A esta
resposta,não quis lhe dizer de novo:"T u desarrazoas"; porque a fantasia o fazia
desarrazoar: e me foi dado saber que este diabo, quando vivia no mundo, tinha
sido apenas intendente de uma casa; e que então se tinha ensoberbecido em seu
espírito, a ponto de desprezar todo o gênero humano comparando-o consigo, e
se comprazia na fantasia de que era mais capaz do que um rei, e mesmo mais
capaz do que um imperador; por este orgulho tinha ele negado Deus, e
considerado todas as coisas santas da Igreja como nada para ele, mas como de
alguma utilidade para a populança estúpida. Enfim eu lhe disse: "V ós que sois
lá duzentos, quanto tempo vos glorificais assim entre vós?" E disse:
"Eternamente; mas aqueles de nós que atormentam os outros, porque negam a
nossa proeminência, são engolidos, pois nos é permitido nos glorificarmos, mas
não fazer mal a quem quer que seja". Fiz-lhe ainda esta pergunta: "Sabes qual é
a sorte dos que são engolidos?" R espondeu-me. "Caem em uma espécie de
prisão, onde são chamados mais vis do que os vis, ou os mais vis; e trabalham".
Então disse a esse diabo:"T oma cuidado,portanto,para não seres engolido".
264 - Depois disso a terra se abriu de novo, mais à direita; e vi subir um outro
diabo, sobre cuja cabeça, havia uma espécie de T iara cercada de roscas de uma
espécie de cobra cuja cabeça brilhava no vértice; a sua face era coberta de lepra
desde a testa até ao queixo, e também uma e outra mão; seus lombos estavam
nus e enegrecidos como a fuligem da qual passou o fogo sombrio de uma
fornalha, e os calcanhares de seus pés eram como duas víboras: o primeiro
diabo tendo-o avistado se lançou de joelhos e o adorou:perguntei-lhe:"Por que
fazes isso?" Ele disse: "Este é o Deus do céu e da terra, e é onipotente". Então
disse ao outro diabo:"T u que dizes a isso?" R espondeu:"Q ue direi? todo poder
sobre o Céu e sobre o Inferno é meu: a sorte de todas as almas está na minha
mão". Perguntei-lhe de novo: "Como, este, que é imperador de imperadores,
pode se submeter assim? E tu, como podes receber sua adoração?" R espondeu:
"É, não obstante, meu servidor; o que é um imperador diante de um Deus?
T enho em minha destra o raio da excomunhão". E então eu lhe disse: "Como
podes desarrazoar assim? no M undo não eras mais que um cônego; e porque
foste atormentado pela fantasia de que tinhas as chaves, e por conseguinte o
poder de atar e de desatar, levaste o teu espírito a um tal grau de loucura, que
agora acreditas ser Deus mesmo". Indignado com estas palavras jurou que o
era, e que o Senhor não tem poder algum no Céu; pois, "acrescentou ele"
199
transferiu todo seu poder para nós; não temos senão que ordenar, e o Céu e o
Inferno obedecem respeitosamente; se enviamos alguém ao inferno, os diabos
imediatamente o recebem; do mesmo modo os Anjos recebem aquele que
enviamos ao Céu". Em seguida lhe perguntei: "Q uantos sois em vossa
sociedade?" Disse: "T rezentos, e todos lá somos deuses; mas eu sou deus dos
deuses".Depois disso a terra se abriu sob os pés de um e de outro, e eles caíram
profundamente em seus infernos; foi-me dado ver que sob seus infernos havia
prisões onde caíam aqueles que faziam mal aos outros; com efeito, no inferno a
fantasia de cada um lhe é deixada, e mesmo a mania de se glorificar, mas não é
permitido fazer mal a outrem; se lá eles são tais, é porque então o homem está
em seu espírito, e o espírito depois de ter sido separado do corpo, entra na
plena liberdade de agir segundo suas afeições e segundo os pensamentos que
delas provêm. Em seguida me foi permitido olhar seus infernos; e o inferno
onde estavam os imperadores de imperadores e os reis de reis estavam cheios de
coisas imundas, e os que o habitavam me pareceram como diversas bestas
ferozes, com olhos ameaçadores; do mesmo modo no outro inferno onde
estavam os deuses e o deus dos deuses, e neste vi voando em torno deles ferozes
aves noturnas, que são chamadas ochim e ijins; é assim que as imagens de suas
fantasias me foram apresentadas. Por aí vi claramente qual é o Amor de si nos
Políticos, e qual é o Amor de si nos eclesiásticos; que este consiste em querer
ser deuses, e aquele em querer ser imperadores; e que é assim que eles querem,
e também a isso que aspiram,tanto quanto os freios são soltos a seus amores.
265 - Em seguida foi aberto um Inferno, onde vi dois espíritos, um sentado em
um banco, e tendo os pés em uma cesta cheia de serpentes, que pareciam se
arrastar para cima pelo peito até ao pescoço; e outro sentado sobre um asno,
ígneo, aos lados do qual se arrastavam serpentes vermelhas, que elevavam o
pescoço e a cabeça e seguiam o cavaleiro. Disseram-me que eram Papas, que
declararam decaídos do, poder Imperadores, e os maltrataram com palavras e
ações em R oma, onde tinham vindo para lhes suplicar e adorá-los; mas que o
cesto em que estavam as serpentes, e o asno ígneo com as serpentes aos lados
eram representações de seu amor de dominar pelo amor de si, e que
semelhantes cousas não aparecem senão aos que olham de longe para este lugar.
H avia alguns cônegos presentes aos quais perguntei se eram realmente Papas.
Disseram que os conheciam e sabiam que o eram.
266 - Depois de ter visto e estes tristes e hediondos espetáculos, dirigi o olhar
em torno de mim, e vi não longe de mim dois Anjos de pé, e conversando um
com o outro, um estava vestido com uma vestimenta de lã resplandecente de
uma cor própria inflamada, e havia sobre esta vestimenta uma túnica de linho
de uma brancura deslumbrante; o outro tinha vestimenta semelhante em
escarlate, com uma tiara, cujo lado direito era enriquecido com alguns
carbúnculos; aproximei-me deles, e lhes dei a saudação de paz; e lhes fiz com
tom respeitoso esta pergunta: "Por que estais aqui em baixo?" R esponderam:
200
usos como os Anjos na sua; quem pode, portanto,, saber de que Amor e de que
origem provém os usos?" A isto os dois Anjos responderam: "O s diabos fazem
os usos para eles mesmos e pela reputação, a fim de serem elevados as honras,
ou para adquirir riquezas, mas os Anjos fazem os usos, não por tais motivos,
mas pelos usos por amor dos usos; o homem não pode discernir estes usos, M as
o Senhor os discerne; quem quer que crê no Senhor e foge dos males como
pecados, faz os usos pelo Senhor; mas quem quer que não crê no Senhor e não
foge dos males como pecados, faz os usos por si mesmo e para si mesmo; é esta
a distinção entre os usos feitos pelos diabos e os usos feitos pelos Anjos". O s
dois Anjos, tendo assim falado, foram embora; e de longe foram vistos
transportados em um carro de fogo,como Elias,e elevados ao Céu.
267 - Segundo M emorável - Depois de um certo espaço de tempo, entrei em
um bosque, e aí andei meditando sobre os que estão na cobiça e em
conseqüência na fantasia de possuir as cousas que estão no mundo; e então, a
alguma distância de mim,vi dois Anjos que conversavam um com o O utro e às
vezes me olhavam; por isso aproximei-me, e quando me aproximava eles me
dirigiram a palavra, dizendo: "Percebemos em nós que meditas sobre um
assunto sobre o qual conversávamos, ou que conversávamos sobre um assunto
sobre o qual tu meditas, o que provêm de uma comunicação recíproca das
afeições". Em conseqüência, perguntei-lhes de que fadavam; responderam: "Da
Fantasia, da Cobiça e da Inteligência, e no momento daqueles que se deleitam
com a visão e a imaginação de possuir todas as cousas do M undo". E então lhes
pedi para pôr em evidência sua mente sobre estes três assuntos: as Cobiças, a
Fantasia e a Inteligência; e,tendo começado a falar,disseram:"Cada um está na
Cobiça interiormente por nascimento, mas na Inteligência exteriormente por
educação, e ninguém está na Inteligência, nem com mais forte razão na
Sabedoria, interiormente, assim quanto ao espírito, a não ser que o esteja pelo,
Senhor; pois todo homem é afastado da cobiça do mal, e mantido na
inteligência, conforme olha para o Senhor, e ao mesmo tempo conforme a
conjunção com o Senhor, sem isso o homem não é senão cobiça; mas contudo,
nos externos, ou quanto ao corpo, está na inteligência por educação; com
efeito, o homem cobiça as honras e as riquezas, ou a proeminência e a
opulência; e não adquire nem uma nem outra, a não ser que se mostre moral e
espiritual, por conseqüência inteligente e sábio; e aprende desde a infância a se
mostrar assim; é isso o que faz com que desde que vem entre os homens, ou
que entra na sociedade, ele volta, seu espírito e o afasta da cobiça; fala e age
segundo as cousas decentes e honestas que aprendeu na infância, e que retém
na memória do corpo; e toma cuidado sobretudo que não se manifeste coisa
alguma da loucura da cobiça em que está seu espírito; daí todo homem que não
é, inteiramente conduzido pelo Senhor, é dissimulado, trapaceiro, hipócrita,
assim homem em aparência,e não homem,contudo; pode-se dizer dele que sua
casca ou seu corpo é sábio, e sua amêndoa ou seu espírito é louco; que seu
externo é de um homem, e que seu interno é de uma besta; esses homens
202
olham pelo occiput para cima, e pelo sinciput para baixo; assim andam com a
cabeça inclinada para diante, e a face inclinada para a terra, como os que estão
atacados por uma violenta dor de cabeça; quando se despojam do corpo e se
tornam espíritos, e que então são libertados, tornam-se as loucuras de suas
cobiças; pois aqueles que estão no amor de si desejam ardentemente dominar
sobre o U niverso e mesmo estender-lhe os limites a fim de tornar maior a
dominação; jamais vêem barreiras; os que estão no amor do mundo desejam
ardentemente possuir tudo que ele encerra, e são presas da tristeza e da inveja,
se há tesouros na posse de outros; com receio portanto, de que aqueles que são
assim se tornem puramente cobiças, e assim deixem de ser homens, lhes foi
permitido, no M undo Espiritual, pensar pelo temor da perda da reputação, e
por conseguinte da perda da honra e do ganho, como também pelo temor da
lei e da pena que ela infringe; e lhes é também permitido aplicar sua mente em
algum estudo ou em alguma obra, pelo que são mantidos nos externos e assim
em um estado de inteligência, ainda que interiormente estejam no delírio e na
loucura''. Em seguida lhes perguntei se todos os que estão na cobiça, estão
também em sua fantasia, responderam que na fantasia de sua cobiça estão os
que pensam interiormente em si mesmos, e que se entregam demasiado à sua
imaginação falando, com eles mesmos; pois quase separam seu espírito da
ligação com o corpo, e inundam seu entendimento de visões, e se regozijam
loucamente como se possuíssem o U niverso; neste delírio é mergulhado depois
da morte o homem que destacou do corpo o seu espírito, e não quis abandonar
a delícia do seu delírio; pensando, pela religião, alguma coisa sobre os males e
os falsos, e não pensando de modo algum a respeito do amor desenfreado de si,
que é destrutivo do amor para com o Senhor, nem a respeito do amor
desenfreado do mundo,que é destrutivo do amor para com o próximo.
268 - Depois disto, sobreveio aos dois anjos e também a mim, o desejo de ver
aqueles que estão pelo amor do mundo na cobiça visionária ou fantasia de
possuir todas as riquezas; e percebemos que esse desejo nos era inspirado a fim
de que eles fossem conhecidos; Seus domicílios estavam sob a terra onde se
encontravam nossos pés, mas acima do inferno; por isso nos olhamos
reciprocamente e dissemos:"V amos".E vimos uma abertura, e nela unia escada
pela qual descemos; e nos foi dito que era preciso abordá-los pelo oriente, para
não entrar na névoa de sua fantasia, e não ser mergulhado na sombra, quanto
ao entendimento e também ao mesmo tempo quanto à vista; e eis que vimos
uma Casa construída de caniços, por isso cheia de fendas, no meio de um
nevoeiro que, como uma fumaça, efluía continuamente pelas fendas sobre três
lados da construção; entramos e vimos, cinqüenta personagens de um lado, e
cinqüenta de outro,sentados em bancos; e,voltando as costas para o oriente e o
sul, olhavam para o ocidente e para o setentrião; diante de cada um deles havia
uma mesa, e sobre a mesa bolsas estendidas, e em torno das bolsas grande
quantidade de peças de ouro.; e lhes dissemos: "Estão aí as riquezas de todos os
habitantes do M undo?" E responderam: "N ão de todos os habitantes do
203
M undo, mas de todos os do R eino". O som de sua voz era sibilante; eles
mesmos apareciam com uma face redonda, que reluzia como a concha de um
caracol; e a pupila do olho, em um plano verde, lançava como que relâmpagos,
o que provinha da luz da fantasia; ficamos de pé no meio deles, e dissemos:
"Acreditais possuir todas as riquezas do R eino?" E responderam: "N ós as
possuímos". Em seguida lhes perguntamos: "Q uem dentre vós?" Disseram:
"Cada um". E lhes dissemos: "Como, cada um! não sois em grande número?"
R esponderam: "Cada um de nós sabe que tudo o que tem é meu; e não é
permitido a nenhum pensar e ainda menos dizer: O que é meu não é teu; mas
é permitido pensar e dizer: O que é teu é meu". As peças de moeda sobre as
M esas apareciam como de ouro puro, mesmo diante de nós, mas quando
fizemos cair sobre elas a luz vinda do oriente, eram pequenos grãos de ouro,
que eles tornavam assim maiores pela reunião da fantasia comum; e diziam que
era preciso que cada um dos que entram trouxesse consigo um pouco de ouro,
que eles cortam em pedacinhos, e os pedacinhos em pequenos grãos, e pela
força unânime da fantasia, eles os estendiam em peças de moeda do maior
módulo; e então dissemos: "N ão nascestes homens racionais? De onde vos vem
essa loucura visionária?" Disseram: "Sabemos que é uma vaidade imaginária,
mas como,faz o prazer dos interiores de nossa mente, entramos aqui e achamos
nisto delícias como se possuíssemos tudo, entretanto não ficamos aqui senão
algumas horas, depois das quais saímos, e de cada vez então o, bom senso nos
volta; mas não obstante o nosso divertimento visionário volta alternativamente,
e faz com que sucessivamente reentremos e tornemos a sair; deste modo somos
alternativamente sábios e loucos. Sabemos também que uma sorte cruel espera
aqueles que pela astúcia tiram dos outros seus bens". Perguntamos qual era essa
sorte; disseram: "São engolidos e lançados nus em uma prisão infernal onde são
obrigados a trabalhar pela roupa e pelo alimento, e depois por algumas
pequenas peças de moeda, nas quais põem a alegria de seu coração; mas se
fazem mal a seus companheiros, são obrigados a dar uma parte dessa moeda
como multa.
269 - Depois disso, subimos desse inferno em direção, ao Sul, onde tínhamos
estado antes, e aí os Anjos contaram várias particularidades notáveis sobre
cobiça não visionária ou fantástica em que todo homem está de nascença.
"Q uando estes'', diziam eles, "estão nesta cobiça são como loucos, e entretanto
se vêem como soberanamente sábios; e de tempos em tempos são recolocados,
desta loucura, na, R acionalidade, que neles está nos externos; neste estado eles
vêem, reconhecem e confessam sua loucura, mas não obstante desejam
ardentemente passar de seu estado racional para seu estado de loucura, e nele se
lançam, por isso, como se passassem do constrangimento e do desprazer para o
livre e o prazer; assim é a cobiça, e não a inteligência, que os alegra
interiormente.H á três Amores universais, de que todo homem, por criação, foi
composto: o Amor do Próximo, que é também o Amor de fazer usos; o Amor
do M undo,que é também o Amor de possuir as riquezas; e o Amor de si, que é
204
entendimento me leva para cima, mas à vontade me leva para baixo; e quando
estou no entendimento, um círculo branco cerca minha cabeça, mas quando o.
entendimento se submete inteiramente à vontade e que é todo dela, o que é a
nossa última sorte, o círculo enegrece e se dissipa; uma vez nesse estado, não
posso mais subir a esta luz". Em seguida falou do seu duplo estado, o estado
externo e o estado interno, com mais racionalidade que qualquer outro; mas de
repente, tendo visto os Anjos que estavam comigo, sua face e sua voz se
inflamaram, ele se tornou preto, mesmo quanto ao círculo que estava em torno
de sua cabeça, e caiu no inferno pela abertura pela qual tinha subido. O s que
estavam presentes tiraram do que acabavam de ver esta conclusão, que o
homem é tal qual é seu amor, e não tal qual é seu entendimento, pois que o
amor arrasta facilmente para seu lado o entendimento, e o submete. Então
perguntei aos Anjos de onde vinha para os diabos a racionalidade; e disseram
que vinha da glória do amor de si, pois o amor de si é cercado de glória, e a
glória eleva o entendimento até à luz do Céu, pois o entendimento em cada
homem é suscetível de ser elevado segundo os conhecimentos, mas a vontade
não pode ser elevada senão pela vida segundo os veros da Igreja e da R azão; daí
vem que os Ateus mesmos, que estão na glória do renome pelo amor de si, e
por conseguinte no fasto, da própria inteligência, gozam de uma racionalidade
mais sublime que muitos outros; mas é quando estão no pensamento do
entendimento, e não quando estão na afeição da vontade; e a afeição da
vontade possui o interno do homem; mas o pensamento do entendimento
possui o externo do homem. Por fim o Anjo nos deu o motivo pelo qual o
homem foi composto com estes três Amores, a saber, o amor do U so, o amor
do M undo, e o amor de Si; e a fim de que o homem pense por Deus, ainda
que absolutamente como por si mesmo; disse-nos que no homem os supremos
foram voltados para cima, para Deus, os médios para, fora, para o M undo, e os
ínfimos para baixo, para Si; e, como os ínfimos foram voltados para baixo, o
homem pensa absolutamente como por si mesmo, ainda que, entretanto, o seja
por Deus.
270 - T erceiro M emorável: U ma manhã, depois do sono, meu pensamento
mergulhou profundamente em alguns arcanos do amor conjugal, e por fim
neste: Em que região da M ente humana reside o Amor verdadeiramente
conjugal e por conseguinte em que região reside a Freiza conjugal? Eu sabia
que há três regiões na M ente humana, uma acima da outra, e que na região
mais baixa habita o amor natural, na superior o amor espiritual e na suprema o
amor celeste, e que em cada região, há o Casamento do bem e do vero; que,
como o bem pertence ao amor, e o vero à sabedoria, há, em cada região, o
Casamento do amor e da sabedoria, e que este casamento é o mesmo que o
casamento da vontade e do entendimento, pois que a vontade é o receptáculo
do amor, e o entendimento o da sabedoria. Enquanto estava na profundeza
deste pensamento, eis que vi dois Cisnes voarem para o setentrião, e
incontinente duas Aves do paraíso voarem para o sul, e também duas R olas
206
voarem para o oriente; e quando seguia com o olhar seu vôo, vi que os dois
Cisnes viravam sua marcha do setentrião para o oriente, e do mesmo modo as
duas Aves do paraíso, do sul para o oriente, e se juntavam às duas R olas no
oriente, e voavam juntas para um Palácio muito elevado, lá, em torno do qual
havia oliveiras,palmeiras e faias; nesse Palácio havia três ordens de janelas, uma
acima da outra; e quando as observava, vi os Cisnes voar no, palácio pelas
janelas abertas, na ordem mais baixa, as Aves do paraíso pelas janelas abertas na
ordem do meio,e as R olas pelas janelas abertas na ordem mais alta. Depois que
vi isso, um Anjo se apresentou e disse: "Compreendes o que vistes?" e eu
respondi: "U m pouco". Ele disse: "Este Palácio representa as habitações do
Amor Conjugal, tais quais são nas M entes humanas; sua parte mais elevada,
para a qual se retiraram as R olas, representa a região suprema da mente, onde
habita o amor conjugal no amor do bem com sua sabedoria; a parte média,
para a qual se retiraram as Aves do paraíso, representa a região média onde
habita o amor conjugal no amor do vero com sua inteligência; e a parte mais
baixa, para onde se retiraram os Cisnes, representa a região ínfima da mente,
onde habita o amor conjugal no amor do justo e do direito com sua ciência;
estes três pares de aves significam também estas cousas, o par de rolas o amor
conjugal na região suprema, o par de aves do paraíso o amor conjugal na região
média, e o par de cisnes o amor conjugal na região ínfima; as três espécies de
árvores em torno deste palácio, as oliveiras, palmeiras e faias, significam as
mesmas cousas. N ós, no Céu, chamamos Celeste a região suprema da mente,
Espiritual a região média, e N atural a região ínfima; e as percebemos como
habitações em uma casa, uma acima da outra, e como uma subida de uma a
outra por graus semelhantes aos degraus de uma escada; e em cada parte como
dois quartos, um para o amor, o outro para a sabedoria, e sobre a frente como
um Q uarto de dormir, onde o amor com sua sabedoria, ou o bem com seu
vero, ou, o que é a mesma cousa, onde à vontade com seu entendimento, se
consorciam no leito; neste Palácio são apresentados como em efígie todos os
arcanos do amor conjugal". Q uando ouvi estas explicações, ardendo com o
desejo de ver este Palácio,perguntei se,visto que era um palácio representativo,
era permitido a alguém entrar nele e velo. R espondeu: "Isso não é permitido
senão àqueles que estão no T erceiro Céu,porque para eles todo, R epresentativo
do amor e da sabedoria se torna real; aprendi com eles o que te relatei, e
também isto, que o Amor verdadeiramente conjugal habita na região suprema
no meio do amor mútuo, no quarto nupcial ou no apartamento da vontade, e
também no meio das percepções da sabedoria, no quarto nupcial ou
apartamento do entendimento, e que eles se consorciam em um leito no
Q uarto de dormir que está sobre a frente, e ao O riente". E perguntei: "Por que
dois Q uartos nupciais?" Ele disse: “O M arido está no Q uarto nupcial do
entendimento, e a Esposa no Q uarto nupcial da vontade". E perguntei:
"Q uando o Amor conjugal habita aí, onde está então a frieza conjugal?"
R espondeu: "Está também na região suprema, mas somente no Q uarto nupcial
207
e se estas cousas fossem divulgadas pela esposa, por seus amigos e pelos criados,
seriam facilmente transformadas em histórias escandalosas, que imprimiriam a
desonra e a infâmia no nome do marido; para evitar tais desgraças, o marido
não tem outro meio senão simular favor em relação à esposa, ou de separar-se
quanto à casa.
(*) O que está colocado entre parêntesis foi acrescentado para suprir uma
omissão evidente, quer da parte do Autor, quer, antes, da parte do
T ipógrafo.
287 - X V I. São para diversos favores que se espera do consorte ou de seus pais;
e assim pelo temor de perder estes favores.
Isso acontece principalmente nos casamentos em que há diferença de estado e
de condição, ver acima o n. 250; por exemplo, se se esposa uma mulher muito
rica e esta encerra seu ouro em bolsas, ou suas riquezas em cofres, e mais ainda,
se ela pretende com audácia que é dever do marido sustentar a casa com seus
fundos e com seu rendimento; que por conseguinte haja aparências forçadas de
um amor como conjugal, isso é geralmente conhecido. A mesma cousa
acontece,quando se esposa uma mulher, cujos pais, parentes e amigos estão em
dignidades eminentes, em empregos lucrativos, em comércios vantajosos, e
podem tornar o estado do marido mais próspero; que em razão destas
vantagens haja também simulação de um amor como conjugal, isso é
geralmente conhecido. Q ue estas diversas simulações se dêem por temor de
perder estes favores,isso é evidente.
288 - X V II.São para fazer desculpar os defeitos,e por conseguinte para evitar a
desonra.
O s defeitos pelos quais os esposos temem a desonra são em grande número, uns
criminais,e outros não criminais; há defeitos da mente e defeitos do corpo mais
leves do que os que foram enumerados no Capítulo precedente, ns. 252 e 253,
os quais são causas de separação; aqui, portanto, são entendidos os defeitos
sobre os quais, por causa da desonra, o outro esposo guarda um profundo
silêncio; além destes defeitos, pode haver, em alguns, crimes fortuitos, que, se
fossem divulgados, seriam passíveis das penas da lei; sem falar do defeito da
faculdade de que os homens se vangloriam ordinariamente. Q ue as excusas
dêstes defeitos, para evitar a desonra, sejam causas de simulação de amor e
amizade com o cônjuge, vê-se claramente sem que haja necessidade de mais
confirmações.
289 - X V III.São para as reconciliações.
Q ue entre os esposos cujas mentes, por diversas causas, não estão de acordo, há
alternativamente desconfiança e confiança, desuniões e conjunções, assim
reconciliações que se realizam depois das separações, e que não são da mesma
maneira alternativas e transitórias.
217
290 - X IX .Se na espôsa o favor não cessa, quando cessa a faculdade no marido,
pode-se formar uma amizade que imita a amizade conjugal quando os esposos
envelhecem.
A principal causa da separação das mentes (animi) entre esposos, é a falta de
favor na esposa, quando cessa a faculdade no marido, e por conseguinte a falta
do amor; pois do mesmo modo que os calores se comunicam entre si, do
mesmo modo também as frieza; que pela falta de amor em um e outro a
amizade cessa, e que o favor cessa da mesma maneira, se não há temor de uma
ruína doméstica, isso é evidente pela razão e a experiência. Se, portanto, o
marido se imputa tacitamente a causa,e a espôsa persevera sempre em um casto
favor a seu respeito, pode resultar daí uma amizade, que, porque existe entre
esposos, aparece como um amor imitando o amor conjugal. Q ue haja entre
velhos esposos uma amizade que imita esse amor, a experiência o atesta pela
tranqüilidade, a segurança, a amabilidade e a afabilidade que existem em sua
companhia,suas ligações e sua sociedade.
291 - X X . H á diversas espécies de amor aparente entre esposos, dos quais um é
subjugado,e por conseguinte submetido ao outro.
Q ue depois que os primeiros tempos do casamento passaram, se elevam entre
os esposos rivalidades a respeito do direito e do poder; a respeito do direito
porque, segundo os estatutos do pacto de aliança, há igualdade, e para cada um
dignidade nos deveres de sua, função; e a respeito do poder, porque a
superioridade em todas as cousas da casa é reclamada pelos homens, por serem
homens, e porque a inferioridade é para as mulheres por serem mulheres, isto
está no número das cousas conhecidas no M undo de hoje. T ais rivalidades,
hoje muito freqüentes, não decorrem de outra parte senão da falta de
consciência a respeito do amor verdadeiramente conjugal, e da falta de
percepção do sentido das beatitudes deste amor; por esta ausência de
consciência e de percepção em lugar deste amor, há uma cupidez que lhe toma
a máscara; e, o amor real sendo rejeitado, decorre desta cupidez uma ambição
pelo poder; em alguns ela vem do prazer do amor de dominar, em outros foi
implantada antes do casamento por mulheres hábeis, e em outros é ignorada.
O s M aridos que estão nesta ambição, e que pelas alternativas de rivalidade,
obtêm o império, reduzem suas esposas, ou à posse de seu direito, ou à
submissão a seu capricho, ou à escravidão, cada um segundo o grau e o estado
qualificado desta ambição, gravada e escondida nele; mas se as Esposas estão
nesta ambição, e se depois de alternativas de rivalidade elas obtêm o império,
reduzem seus maridos ou a uma igualdade de direitos com elas, ou à submissão
a seu capricho, ou à escravidão; mas como nas esposas, depois que obtiveram a
faixa do império, permanece a cupídez que toma a máscara do amor conjugal,
cupidez refreada pela lei e pelo temor de uma separação legítima, se
estendessem seu poder além do que é permitido, é por isso que elas vivem em
consociação com os maridos. M as qual é o amor e qual é a amizade entre uma
218
nossos maridos". Depois de ter ouvido sua resposta, fiz uma outra pergunta,
dizendo: "Sei que as palavras de doçura dos maridos e as palavras de alegria de
sua mente vos afetam e que vós sentis em todo o peito grandes delícias; mas
admiro-me de que digais que a sua sabedoria produz este efeito; dizei-me ao
menos o que é a sabedoria, e que sabedoria. A estas palavras as esposas
indignadas responderam: "T u imaginas que nós não sabemos o que é a
sabedoria, nem que sabedoria; e entretanto sobre ela em nossos maridos nós
refletimos continuamente, e cada dia, de sua boca, nós aprendemos, pois nós,
esposas, pensámos sobre o estado de nossos maridos desde a manhã até à noite;
quando muito haverá uma hora durante o dia de interrupção, ou em que o
nosso pensamento intuitivo se retira inteiramente deles, ou na qual está ausente
deles; do seu lado, os maridos no decorrer do dia, pensam muito pouco sobre o
nosso estado; daí vem que nós sabemos que sabedoria neles produz delícias em
nós; esta Sabedoria, os maridos chamam sabedoria espiritual-racional e
espiritual-moral; a Sabedoria espiritual-racional eles dizem que pertence ao
entendimento e aos conhecimentos, e a Sabedoria Espiritual-moral eles dizem
que pertence à vontade e à vida; mas eles conjugam as duas, e fazem delas uma
só e decidem que os encantos desta sabedoria são transferidos de suas mentes
como delícias para nosso peito, e do nosso para o seu peito, e assim voltam à
sabedoria, sua origem". E então perguntei: "Sabeis alguma cousa mais sobre a
sabedoria dos maridos que se torne delícias em vós?" Disseram: "Sim; há uma
sabedoria espiritual, e em conseqüência uma sab,edoria racional e uma
sabedoria moral; a sabedoria espiritual é reconhecer o Senhor Salvador por
Deus do Céu e da terra, e aquirir d'Ele os veros da Igreja, o que se faz pela
Palavra e pelas prédicas segundo a Palavra donde resulta a racionalidade
espiritual; e viver por Ele segundo estes veros, donde resulta a moralidade
espiritual; estas duas, a racionalidade espiritual e a moralidade espiritual, os
maridos chamam Sabedoria, que produz em geral o amor verdadeiramente
conjugal; aprendemos também com eles a causa, é que por esta sabedoria são
abertos os interiores de sua mente, e em conseqüência os interiores de seu
corpo, donde existe uma livre passagem desde os primeiros até aos últimos para
a veia do amor, e é do afluxo, da suficiência e da virtude desta veia que
depende e vive o amor conjugal. A sabedoria espiritual-racional e moral de
nossos maridos, especialmente quanto ao casamento tem por fim e por alvo
amar uma única esposa, e se despojar de toda cobiça pelas outras; e quanto
mais isso se dá, tanto mais este amor é exaltado quanto ao grau, e aperfeiçoado
quanto à qualidade, e tanto mais também sentimos em nós, de uma maneira
mais distinta e mais delicada, as delícias que correspondem aos prazeres das
afeições e aos encantos dos pensamentos de nossos maridos". Em seguida
perguntei se elas sabiam como se faz a comunicação. Disseram: "Em toda
conjunção por amor, deve haver ação, recepção e reação; o estado delicioso de
nosso amor é o agente ou a ação, o estado da sabedoria dos maridos é o
recipiente ou a recepção, e é também o reagente ou a reação segundo a
221
percepção; e esta reação é percebida por nós com delícias no peito segundo o
estado continuamente tenso e preparado para receber estas cousas, que, de
algum modo, são coerentes com a virtude nos maridos, por conseqüência
também com o estado extremo do amor em nós, e que dêle procede". Além
disso, disseram: "G uarda-te de entender pelas delícias, de que acabamos de
falar, as delícias finais deste amor; desta nós jamais dizemos alguma cousa, mas
falamos de nossas delícias peitorais, de que existe uma perpétua
correspondência com o estado da sabedoria de nos os maridos". Depois disso,
apareceu de longe como uma Pomba que voava com uma folha de árvore no
bico; mas quando se aproximou, em lugar de uma pomba, viu-se um menino
com um papel na mão; e avançou para nós, e apresentou m'o, e disse: "Lê-o
diante destas V irgens da fonte". E li isto: "Diz aos habitantes da terra com
quem estás, que há um amor verdadeiramente conjugal, cujas delícias são por
miríades; o mundo, até ao presente, conhece apenas algumas delas; mas as
conhecerá porque a Igreja noiva com o Senhor e se casa". E então fiz esta
pergunta: "Por que este menino vos chamou V irgens da fonte?" R esponderam:
"Somos chamadas V irgens quando estamos sentadas nesta fonte, porque somos
as afeições das verdades da sabedoria de nossos maridos, e a afeição do vero é
chamada V irgem; a fonte também significa o vero da sabedoria, e o canteiro de
rosas sobre o qual estamos sentadas significa as suas delícias". Então uma das
sete fez uma grinalda de rosas, e espargiu-a com a água da fonte, e a colocou
sobre o boné do menino em torno de sua cabecinha, e disse: "R ecebe as delícias
da inteligência; sabe que o boné significa a inteligência, e esta grinalda de rosas
as delícias". E o menino assim decorado, foi embora; e de longe foi visto de
novo como uma pomba que voava,mas com uma coroa sobre a cabeça.
294 - Segundo M emorável: Alguns dias depois, vi de novo estas sete Esposas
em um bosque de rosas, mas não no mesmo que antes; era um bosque de rosas
magníficas, como jamais tinha visto; era redondo, e as rosas formavam como
que um arco-íris; as rosas ou flores cor de púrpura compunham o círculo mais
exterior, outras amarelas cor de ouro o círculo mais próximo deste, outras de
cor azul celeste o círculo dentro deste, e o círculo mais interior era de uma
brilhante cor verde; e dentro deste bosque em arco-íris havia um pequeno lago
de água límpída. Estas sete Esposas, chamadas precedentemente V irgens da
fonte, que estavam sentadas neste bosque, tendo me visto na janela, me
chamaram de novo; e quando cheguei, disseram: "V iste jamais alguma cousa
mais bela na terra?" E eu disse: "Jamais". E elas disseram: "U ma tal maravilha é
criada em um instante pelo Senhor, e representa alguma cousa de novo na
terra, pois todo objeto criado pelo Senhor representa; mas este, o que
representa? descobre, se podes; nós descobrimos as delícias do amor conjugal".
T endo ouvido isto, disse: “O que! as delícias do amor conjugal, de que me
falastes tantas cousas com sabedoria,e também com eloqüência!Depois que vos
deixei, contei vossos discursos a esposas que moram em nossa região, e lhes
disse: Pelo que acabo de aprender, sei que há em vós, em vosso peito, delícias
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tendo por fonte o vosso amor conjugal, delícias que podeis comunicar a vossos
maridos segundo sua sabedoria; e que por isso mesmo, olhais continuamente,
da manhã à noite, os vossos maridos com os olhos do vosso espírito, e estudais
como dobrar e dirigir suas mentes (animi) para a sabedoria, com a intenção de
colhêr estas delícias. R eferi também a elas o que entendeis pela sabedora, que é
a sabedoria espiritual racional e moral, e que quanto ao casamento, ela consiste
em amar uma única espôsa e despojar-se de toda cobiça pelas outras; mas então
as esposas de nossa região responderam rindo e dizendo: “O que é tudo isso?
estas palavras são frívolas; nós não sabemos o que é o amor conjugal; se há
algum amor conjugal em nossos maridos, todavia em nós não há nenhum; de
onde viriam então a nós essas delícias? M ais ainda quanto às delícias que
chamamos finais, às vezes nós as negamos violentamente, pois nos são
desagradáveis, pouco mais ou menos como as violações; e mesmo se prestares
atenção não verás sinal de um semelhante amor em nossas faces; assim vós
zombais ou gracejais, quando dizeis também, vós, com essas sete esposas, que
da manhã à noite pensamos em nossos maridos, e continuamente prestamos
atenção ao que lhes apraz e lhes é agradável, com o intuito de obter deles tais
delícias. Eis, de suas respostas as palavras que retive para vos relatar, porque
estão, em oposição e também em plena contradição, com as que, perto da
fonte, ouvi de vós e tão avidamente apreendi, e nas quais acreditei". A isso, as
esposas sentadas no bosque de rosas, responderam: "Amigo, tu não conheces a
sabedoria, nem a prudência das esposas, porque elas a escondem inteiramente
dos maridos, e a escondem com o único intuito de ser amadas; pois todo
homem, que é somente racional e moral naturalmente e não espiritualmente,
tem frieza por sua espôsa; esta frieza nele está escondida nos íntimos; a esposa
sábia e prudente nota-a perfeitamente bem e finamente, e esconde tanto mais o
seu amor conjugal,o recolhe em seu seio,e aí o encerra tão profundamente que
não se manifesta dêle a mínima parte na face, nem no som de sua voz, nem no
gesto; a razão disso, é que quanto mais ele se manifesta, tanto mais a frieza
conjugal do marido se espalha desde os íntimos de sua mente, onde reside, até
em seus últimos, e introduz no corpo um esfriamento total, e em conseqüência
vem um esforço para a separação de leito e de quarto". Então fiz esta pergunta:
"Donde vem uma tal frieza, chamada por vós frieza conjugal?" Elas
responderam: V em de sua loucura nas cousas espirituais; e quem é insensato
nas cousas espirituais tem intimamente frieza pela esposa, e internamente calor
pelas prostitutas; e como o amor conjugal e o amor escortatório são opostos
entre si, segue-se que o amor conjugal se torna frieza, quando o amor
escortatório é calor; e o marido, quando a frieza reina nele, não suporta da
parte da esposa, nenhum sentimento de amor, nem por conseqüência seu
hálito; é por isso que a esposa esconde com tanta sabedoria e prudência o seu
amor,e quanto mais o esconde,negando-o,e recusando-o,tanto mais o marido
se aquece e se reaviva pela esfera de prostituição que influi; daí vem que para a
esposa de um tal homem,não há delícias peitorais,como as há para nós,mas há
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todos os prazeres do coração; e isso, porque as volúpias deste amor são também
as volúpias da loucura".Depois disso,os maridos se retiraram com suas esposas,
e acompanharam o menino até ao caminho de uma ascenção para o Céu e
conheceram que a Sociedade de onde foi enviado, era uma Sociedade do novo
Céu,com a qual a N ova Igreja nas terras deve ser conjunta.
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295 - O assunto dos Esponsais e das N úpcias e também das Solenidades que as
acompanham, é tratado aqui principalmente pela razão do entendimento; pois
as cousas, que são escritas neste Livro, têm por fim que o leitor veja por seu
R acional as verdades, e dê assim o seu assentimento, pois desta maneira seu
espírito é convencido; e as cousas de que o espírito está convencido, obtêm um
lugar acima daquelas que, sem que a razão tenha sido consultada, entram pela
autoridade e a fé na autoridade; pois estas não entram na cabeça mais
profundamente do que na memória,e aí se misturam com as ilusões e os falsos,
assim estão abaixo dos racionais que pertencem ao entendimento; cada homem
pode, por estas, falar como que racionalmente, mas às avessas; pois pensa então
como anda o lagostim, com a vista seguindo a cauda; é diferente se é pelo
entendimento; quando é assim, a vista racional escolhe pela memória as cousas
que convém,pelas quais confirma a verdade considerada em si.É por esta razão
que, neste Capítulo, serão relatadas várias cousas, que são costumes recebidos;
por exemplo, que a escolha pertence ao homem; que os pais devem ser
consultados; que devem ser dadas prendas; que a aliança conjugal deve ser
contratada antes das núpcias; que ela deve ser consagrada pelo sacerdote, e que
devem ser celebradas núpcias; além de várias outras particularidades, que são
relatadas com este fim, que o homem por seu racional veja que tais cousas
foram inscritas no amor conjugal, como lhe sendo necessárias para estendê-lo e
completá-lo. O s Artigos em que é dividido este Capítulo são em sua ordem os
seguintes: I. A escolha pertence ao homem e não à mulher. II. É preciso que o
homem procure e peça a mulher em casamento, e não vice-versa. III. É preciso
que a mulher consulte seus pais, ou aos que lhes fazem as vezes, e que em
seguida delibere em si mesma antes de consentir. IV . Depois da declaração do
consentimento, prendas devem ser dadas. V . O consentimento deve ser
afirmado e estabelecido por esponsais solenes. V I. Pelos esponsais um e outro
são preparados para o amor conjugal. V II. Pelos esponsais a mente de um é
conjunta à metade do outro, a fim de que o casamento do espírito se faça antes
do casamento do corpo. V III. Isto acontece naqueles que pensam castamente a
respeito dos casamentos; é diferente naqueles que pensam incastamente. IX .
Durante o tempo dos esponsais não é permitido conjuntar-se corporalmente.
X . Q uando o tempo dos esponsais se completa, as núpcias devem ser feitas. X I.
Antes da celebração das núpcias, a Aliança conjugal deve ser contratada em
presença de testemunhas. X II. O Casamento deve ser consagrado por um
sacerdote. X III. As N úpcias devem ser celebradas com regozijo. X IV . Depois
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ilimitada.
297 - II.É preciso que o homem procure e peça a mulher em casamento, e não
vice-versa.
Isso é uma conseqüência resultante da escolha; e além disso, procurar e pedir as
mulheres em casamento é em si honesto e decente para os homens, mas não
para as mulheres; se as mulheres procurassem e pedissem, não sómente seriam
censuradas, mas depois do pedido seriam mesmo consideradas como vis, ou
depois do casamento como mulheres impudicas, com as quais não pode haver
senão coabitações frias e fastidiosas; por isso os casamentos seriam assim
mudados em cenas trágicas; de mais as mulheres se gloriam de que não cederam
às instâncias do pedido dos homens senão como vencidas. Q uem não prevê
que, se as mulheres procurassem os homens, raramente seriam aceitas, ou
seriam indignamente rejeitadas, ou seriam atraídas a ações lascivas, e mesmo
prostituiriam seu pudor? Além disso, nenhum amor do sexo é inato nos
homens, como foi provado acima, e sem este amor não há encanto interior da
vida; por isso para exaltar sua vida por este amor, pertence aos homens
conquistar as mulheres procurando-as com polidez, amabilidade e deferência, e
pedindo a elas esse doce acréscimo de sua vida. A beleza da face, do corpo e dos
costumes desse sexo, em comparação com o outro sexo, é um motivo a mais,
para a obrigação de agir assim.
298 - III. É preciso que a mulher consulte seus pais, ou aqueles que ocupam o
seu lugar,e que em seguida delibere em si mesma antes de consentir.
Se os pais devem ser consultados, é porque eles deliberam e dão conselhos com
julgamento, conhecimento e amor; com julgamento, porque estão em uma
idade avançada, e nessa idade se goza de julgamento, e se vê claramente o que
convém e o que não convém. Com conhecimento, tanto do pretendente como
da filha; quanto ao pretendente, tomam informações; quanto à filha eles a
conhecem; concluem portanto com discernimento sobre um e sobre o outro ao
mesmo tempo. Com amor, porque velam pelo bem da filha e provêm à sua
casa,o que é também velar e prover à sua própria casa e a si mesmo.
299 - Seria completamente diferente, se a filha, sem consultar os pais, ou os
que ocupam seu lugar, consentisse por si mesma no pedido do pretendente;
com efeito, ela não pode pesar com julgamento, conhecimento e amor, este
assunto de que depende a sua sorte futura; não o pode com julgamento, porque
o seu a respeito da vida conjugal está ainda na ignorância, e não em estado de
comparar as razões entre si, e de ver claramente os costumes dos homens por
seus gostos; nem com conhecimento, porque conhece pouca cousa além das
que se passam na casa de seus pais, e no de algumas companheiras; e não tem
habilidade para inquirir das cousas que são familiares e próprias ao seu
pretendente; nem com amor, porque o amor das donzelas em sua primeira
idade núbil, e também na segunda, obedece às cobiças que provêm dos
228
sentidos, e não ainda aos desejos que procedem de uma mente apurada. Se
entretanto a filha deve deliberar em si mesma sobre este assunto antes de
consentir, é a fim de que não seja levada contra sua vontade a se unir a um
marido que ela não amaria; pois desse modo não haveria consentimento do seu
lado, e entretanto o consentimento faz o casamento, e inicia o espírito no amor
conjugal; e um consentimento constrangido ou extorquido não inicia o
espírito, mas pode iniciar o corpo; e muda assim a castidade, que reside no
espírito, em um desejo libidinoso, pelo qual o amor conjugal é iniciado no seu
primeiro calor.
300 - IV .Depois da declaração do consentimento,prendas devem ser dadas.
Por prendas são entendidos os presentes que, depois do consentimento, são
confirmações, testemunhos, primeiros favores e alegrias. Estes presentes são
confirmações,porque são sinais dos consentimentos; também se diz, quando de
uma parte e de outra há consentimento para um negócio: Dá-me um penhor;
e, de duas pessoas que se prometeram em casamento e consolidaram suas
promessas com presentes, se diz que se empenharam, por conseqüência que
confirmaram. São T estemunhos, porque estas prendas são como contínuas
testemunhas oculares do amor mútuo, por conseguinte são também lembranças
sobretudo se são anéis, caixas de perfume e de objetos de prender que se usa
expostos aos olhos; há neles uma certa imagem representativa das mentes
(animi) do noivo e da noiva. Estas prendas são os Primeiros favores, porque o
amor conjugal promete um favor perpétuo, dos quais esses presentes são os
primeiros. Q ue sejam Alegrias do amor, isso é notório; pois à sua vista a mente
se regozija, e como o amor está neles, estes favores são mais queridos e mais
preciosos do que qualquer outro presente, é como se o coração estivesse neles.
Como estas prendas são afirmações do amor conjugal, é por isso que as dádivas
depois do consentimento também tinham sido admitidas entre os Antigos, e
quando eram aceitas, as partes eram declaradas noivos e noivas. M as é preciso
que se saiba, que se tem a liberdade de dar estes presentes antes ou depois do
ato dos esponsais; se for antes, são confirmações e testemunhos do
consentimento para os esponsais; se for depois,o são.para as núpcias.
301 - V . O consentimento deve ser afirmado e estabelecido por solenes
esponsais.
As razões dos esponsais são estas: 1. A fim de que depois dos esponsais as almas
dos noivos tenham mutuamente inclinação uma para a outra.2.A fim de que o
amor universal pelo sexo seja determinado para um só ou para uma só do sexo.
3. A fim de que as afeições interiores sejam mútuamente conhecidas e por
aplicações sejam conjuntas na alegria íntima do amor. 4. A fim de que os
espíritos de um e de outro entrem em casamento, e sejam cada vez mais
consociados.5.A fim de que assim o amor conjugal avance regularmente desde
seu primeiro calor até à chama nupeial; e por conseqüência. 6. A fim de que o
amor conjugal a partir de sua origem espiritual avance e cresça em uma ordem
229
que foi descoberto, é que a Alma reside no homem como uma R ainha, mas
onde está a corte desta R ainha? Eruditos deram sobre este assunto suas
inspirações; alguns conjeturaram que está em um pequeno tubérculo, entre o
Cérebro e o Cerebelo,que se chama G lândula pineal; figuraram a sede da Alma
nesta glândula, pela razão de que todo homem é governado por estes dois
Cérebros, e é este tubérculo que os dispõe; o que dispõe à sua vontade os
cérebros, dispõe, portanto, de todo o homem, também da cabeça aos pés". E
acrescentou: "Isto por conseqüência pareceu verdadeiro ou verossímil a muitos
no M undo, mas foi, um século depois, rejeitado como ficção". Depois que
assim falou, tirou a veste, a túnica e o boné com que se revestiu o Segundo dos
jovens escolhidos, e este entrou no Púlpito; seu sentimento sobre a Alma foi
que "em todo o Céu e em todo o M undo se ignora o que é a Alma, e qual é a
sua qualidade; sabe-se que a Alma existe, e que ela está no homem; mas onde?
Procura-se adivinhar; o que há de certo, é que ela está na cabeça, pois que aí o
Entendimento pensa, e a V ontade tem a intenção, e sobre a frente, na face da
Cabeça, há os órgãos dos cinco Sentidos do homem; nada dá a vida a uns e aos
outros, senão a Alma que reside interiormente na Cabeça; mas onde tem ela a
sua Corte? N ão ousarei dizê-lo; entretanto tenho me inclinado ora para os que
lhe assinalam a sede nos três V entrículos do Cérebro,ora para os que a colocam
nos Corpos estriados; ora para os que a colocam na Substância medular de um
e de outro Cérebro; ora para os que a colocam na Substância cortical; ora para
os que a colocam na Dura-M ater; pois os sufrágios resultantes de confirmações
para cada uma destas sedes, não têm faltado. Para os três V entrículos do
Cérebro, os sufrágios provinham de que estes ventrículos são os receptáculos
dos espíritos animais e de todas as linfas do, Cérebro; para os Corpos estriados,
os sufrágios provinham de que estes corpos fazem a M edula pela qual saem os
nervos, e a M edula pela qual um e outro Cérebro se prolonga na Espinha, e de
uma e de outra emanam as fibras de que todo o Corpo foi tecido; para a
Substância medular de um e outro Cérebro, os sufrágios provinham de que ela
é a reunião e o conjunto de todas as fibras, que são os começos de todo
homem; para a Substância cortical, os sufrágios provinham de que lá estão os
fins primeiros e últimos,e por conseguinte os princípios de todas as fibras e por
conseqüência dos sentidos e dos movimentos; para a Dura-M ater, os sufrágios
provinham de que ela é o tegumento comum de um e outro Cérebro, e que
dai, por uma certa continuidade, ela se estende sobre o coração e sobre as
vísceras do corpo. Q uanto a mim, não me decidido mais por uma do que por
outra destas sedes; peço-vos que examineis e escolhais a que é preferível".
Depois que assim falou, desceu do Púlpito, e deu a túnica, a veste e o boné ao
T erceiro, que, subindo ao Púlpito se exprimiu nestes térmos: "Q ue posso eu,
um rapaz, em presença de um teorema tão sublime? Apelo para os eruditos que
estão sentados aqui dos lados; apelo para vós, Sábios, que estais na O rquestra; e
apelo mesmo para os Anjos do Céu supremo; há alguém que, pela sua luz
racional, possa formar uma idéia da Alma? Q uanto à sede da Alma no homem,
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com uma virgem é o estado inicial mesmo para o casamento real,pois entre eles
o amor conjugal pode proceder em sua ordem justa, desde o primeiro calor até
à primeira chama, e em seguida desde a primeira semente no mancebomarido,
e à primeira flor na virgem-esposa, e assim germinar, crescer e frutificar e se
introduzir mútuamente neles; se fosse de outro modo, o mancebo não seria
mancebo, e a virgem não seria virgem, senão na forma externa. M as entre um
mancebo e uma viúva, não há uma semelhante iniciação no casamento a partir
das primícias, nem uma semelhante progressão no casamento, pois que a viúva
dispõe mais de sua liberdade e de seu direito do que a virgem; é por isso que o
mancebo dirige suas carícias à esposa-viúva de um outro modo que à
esposa-virgem. M as nisto há muita variedade e diversidade, por isso não é
referido senão,este ponto comum.
323 - V I.U m também é o estado do casamento de um viúvo com uma virgem,
e outro o do casamento de um viúvo com uma viúva.
Com efeito, o viúvo já foi iniciado na vida conjugal, e a virgem deve ser
iniciada nela e entretanto o amor conjugal percebe e sente seu encanto e seu
prazer em uma mútua iniciação; em tudo que sobrevém o mancebo-marido e a
virgem-esposa percebem e sentem cousas sempre novas, pelas quais estão em
uma espécie de iniciação contínua, e por conseguinte em uma agradável
progressão; acontece diferentemente no estado do casamento de um viúvo com
uma virgem; há na virgem-esposa uma inclinação interna, mas no marido ela
passou; todavia há nisto muita variedade e diversidade; semelhantemente no
casamento entre um viúvo e uma viúva; é por isso que, além desta noção
comum nada mais será acrescentado em particular.
324 - V II. As variedades e as diversidades destes casamentos, quanto ao amor e
a seus atributos,são inumeráveis.
H á de todas as cousas uma variedade infinita, e há também uma diversidade
infinita; por V ariedades, aqui, entende-se as variedades entre as coisas que são
de um mesmo gênero ou de uma mesma espécie; além disso também entre os
gêneros,e entre as espécies; e por Diversidades, aqui, entende-se as diversidades
entre as coisas que estão no oposto; a nossa idéia sobre a distinção das
variedades e das diversidades pode ser ilustrada por isto: O Céu angélico, que é
coerente como um, está em uma variedade infinita, não há um só Anjo
absolutamente semelhante a um outro, nem quanto às almas e às mentes, nem
quanto às afeições, às percepções e por conseguinte aos pensamentos, nem
quanto às inclinações e por conseguinte às intenções, nem quanto ao som da
voz, à face, ao corpo, aos gestos, ao andar e a várias outras cousas; e entretanto,
ainda que haja miríades de miríades de Anjos, eles foram e são postos em
ordem pelo Senhor em uma única forma, em que há plenamente unanimidade
e concórdia, o que não seria possível se todos estes Anjos tão diferentes,
universal e singularmente, não fossem conduzidos por um Só. São estas as
cousas que entendemos aqui por V ariedades. M as por diversidades entendemos
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os opostos destas variedades, os quais estão no inferno; pois lá todos e cada um,
são diametralmente opostos aos que estão no Céu; e o Inferno, que deles se
compõe, é contido como um pelas variedades entre eles absolutamente
contrárias às variedades do Céu, assim por diversidades perpétuas. Por estas
explicações, vê-se o que é percebido por variedade infinita, e o que é percebido
por diversidade infinita. Dá-se o mesmo com os Casamentos, a saber, que há
variedades infinitas naqueles que estão no Amor conjugal e variedades infinitas
entre os que estão no Amor escortatório; e assim há variedades infinitas
naqueles que estão no Amor conjugal e variedades infinitas entre os que estão
no Amor escortatório; e assim há diversidades infinitas entre estes e aqueles.
Destas primícias decorre esta conclusão, que as variedades e as diversidades nos
casamentos de todo gênero e de toda espécie quer de um mancebo e de uma
virgem, quer de um mancebo com uma viúva, quer de um viúvo com uma
virgem, quer de um viúvo com uma viúva, são inumeráveis; quem é que pode
dividir o infinito em números?
325 - V III.O estado de viúva é mais lastimável do que o de viúvo.
H á disso causas externas,e há causas internas; as causas externas estão à vista de
cada um, por exemplo: 1. A V iúva não pode prover para si e para sua casa às
necessidades da vida, nem dispor das cousas adquiridas como o pode o marido,
e como o podia ela antes pelo marido, e com o marido. 2. Ela não pode
também defender nem a si mesma nem à casa como é preciso; pois o marido,
quando ela era esposa, era seu sustentáculo e como que seu braço; e quando ela
mesma era seu próprio sustentáculo, contava contudo com seu marido. 3. Por
si mesma ela é irresoluta nas cousas que pertencem à sabedoria interior, e por
conseguinte à prudência. 4. A V iúva está sem recepção do amor em que está
como mulher, assim está em um estado estranho ao estado inato e introduzido
nela pelo casamento. Estas causas externas, que são naturais, também tiram sua
origem das causas internas que são espirituais, como todas as outras cousas do
mundo e do corpo, assim como foi mostrado acima, nº. 220; estas causas
externas naturais são percebidas pelas causas internas espirituais que procedem
do casamento do bem e do vero, e principalmente por estas: Q ue o bem não
pode prover a cousa alguma,nem dispor de cousa alguma, senão pelo vero; que
o bem não pode também se defender senão pelo vero, que por conseqüência o
vero é o sustentáculo e como que o braço do bem; que o bem sem o vero é
irresoluto, porque não tem a resolução, a sabedoria e a prudência senão pelo
vero.O ra,como o M arido por criação é o vero, e a Esposa por criação é o bem
desse vero, ou, o que é a mesma cousa, como o M arido por criação é o
entendimento, e a Esposa por criação é o amor desse entendimento, é evidente
que as causas externas ou naturais, que tornam mais lastimável a viuvez da
mulher, tem sua origem nas causas internas ou espirituais. Estas causas
espirituais são as que, juntas às causas naturais, são entendida na Palavra pelo
que é dito das viúvas em muitos lugares; ver o Apocalipse R evelado nº 764.
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espiritual que é comum a todo espírito e a todo Anjo, mas comigo falas a
minha própria língua; pois todo Espírito e todo Anjo que fala com um homem
fala a língua própria desse homem,assim a língua francesa com um Francês, e a
inglêsa com um Inglês, a grega com um G rego, o árabe com um Arabe, e assim
por diante. Afim, portanto, de que conheças a diferença entre o Espiritual e o
N atural quanto às Línguas,faz assim:V olta para os teus, e lá pronuncia alguma
cousa, e retém as suas palavras e volta com essas palavras na memória, e
pronuncia-as diante de mim", e ele assim fez, e voltou para mim com essas
palavras na boca, e as pronunciou, e não compreendeu nenhuma delas; eram
palavras inteiramente estranhas desconhecidas, que não existem em Língua
alguma no M undo natural; por esta experiência várias vezes repetida, tornou-se
evidente para ele que todos no M undo Espiritual têm uma língua espiritual,
que nada tem de comum com Língua alguma do M undo natural, e que todo
homem depois da morte entra por si mesmo nesta Língua espiritual; ele fez
também ao mesmo tempo a experiência de que o som mesmo da Língua
espiritual difere de tal modo do som da Língua natural, que um som espiritual
mesmo elevado, não era de modo algum ouvido pelo homem natural, nem um
som natural pelo homem espiritual. Em seguida pedi ao G rão-M estre e aos que
o cercavam, que fossem para o meio dos seus, e escrevessem alguma sentença
sobre um papel e a lêssem; eles assim o fizeram, e voltaram com o Papel na
mão, mas quando quiseram lê-lo, não puderam compreender cousa alguma,
porque a Escritura não se compunha senão de algumas letras alfabéticas com
acentos em cima, das quais cada uma significava algum sentido da cousa; pois
que cada letra do alfabeto significa lá algum sentido,vê-se claramente por que o
Senhor é chamado o Alfa e o Ô mega; como estes repetidamente entravam,
escreviam e voltavam,descobriram que esta Escritura envolvia e continha coisas
inúmeras,que nenhuma Escritura natural jamais poderia exprimir; mas lhes foi
dito que isto é assim, porque o homem espiritual pensa coisas incompreensíveis
e inefáveis para o homem natural, e estas cousas não podem influir nem ser
postas em uma outra Escritura, nem em uma outra Língua. Então como os
assistentes não queriam compreender que o pensamento espiritual ultrapassa o
pensamento natural, a ponto de ser relativamente inefável, eu lhes disse: "Fazei
uma experiência; entra! em vossa Sociedade espiritual, e pensai uma coisa
qualquer, e retendê-la, e voltai e a exprimi diante de mim", e eles entraram,
pensaram, a retiveram, voltaram, mas quando quiseram exprimir a cousa
pensada, não puderam; com efeito, não encontraram idéia alguma do
pensamento natural adequada a uma única idéia do pensamento puramente
espiritual, assim palavra alguma para exprimi-la, pois as idéias do pensamento
tornamse as palavras da linguagem; e então reentravam e voltavam e se
confirmavam que as idéias espirituais eram absolutamente sobrenaturais,
inexprimíveis, inefáveis e incompreensíveis para o homem natural; e por que
são tão sobreeminentes, diziam que as idéias ou os pensamentos espirituais,
relativamente aos naturais, eram as idéias das idéias, e os pensamentos dos
251
pensamentos, que por isso mesmo, por elas eram expressas as qualidades das
qualidades e as afeições das afeições; que por conseguinte, os pensamentos
espirituais eram os começos e as origens dos pensamentos naturais; por isso
tornou-se ainda evidente que a sabedoria espiritual era a sabedoria da sabedoria,
por conseqüência não perceptível para sábio algum do M undo N atural. Então
lhes foi dito do T erceiro Céu,que há ainda uma sabedoria interior ou superior,
que é chamada celeste cuja relação com a sabedoria espiritual é semelhante à
relação desta com a sabedoria natural, e que estas sabedorias, em ordem
segundo os Céus,influem da Divina Sabedoria do Senhor,que é Infinita.
(*) Divindade romana que tinha a faculdade de mudar de forma. (N ota do
tradutor).
327 - Depois disso, disse aos assistentes: Por estes três ensinamentos da
experiência vêdes qual é a diferença entre o Espiritual e o N atural, e também a
razão pela qual o homem natural não é visível para o homem espiritual, nem o
homem Espiritual para o homem N atural, ainda que estejam consociados
quanto às afeições e aos pensamentos, e por conseguinte quanto às presenças;
daí vem que tu, G rão-M estre, no caminho, ora me vias, e ora não me vias".
Em seguida, uma voz vinda do Céu superior foi ouvida, dizendo ao
G rão-M estre: "Sobe aqui". E ele subiu, e voltou, e disse que, do mesmo modo
que ele,os Anjos não tinham conhecido antes, as diferenças entre o Espiritual e
o N atural, pela razão de que antes não tinha havido nenhum meio de
confrontação em um homem que estivesse ao mesmo tempo em um e outro
M undo, e que sem uma tal confrontação estas diferenças não podem ser
conhecidas.
328 - Em seguida nós nos retiramos e conversamos de novo sobre este assunto,
e eu disse: "Estas diferenças não vêm senão de que vós, que estais no M undo
espiritual, e por conseqüência sois espirituais, estais nos substanciais e não nos
materiais, e os substanciais são os começos dos materiais; vós estais nos
princípios, e assim nos singulares; mas nós estamos nos comuns; e assim como
os comuns não podem entrar nos particulares, assim também os naturais, que
são materiais, não podem entrar nos espirituais que são substanciais,
absolutamente da mesma forma que um cabo de navio não pode entrar ou
passar pelo buraco de uma agulha de coser, ou do mesmo modo que um nervo
não pode entrar ou ser introduzido em uma das fibras de que é composto, nem
uma fibra em uma das fibrilas de que é composta; isto é mesmo conhecido no
M undo, por isso os Eruditos concordam que há influxo, não do natural no
espiritual, mas do espiritual no natural. V em portanto daí a razão pela qual o
homem N atural não pode pensar as cousas que pensa o homem Espiritual, nem
por conseqüência as pronunciar; por isso Paulo chama inefáveis as que ele
ouviu do T erceiro Céu. Ajuntai a isso que, pensar espiritualmente, é pensar
sem o tempo e sem o espaço, e que pensar N aturalmente, é pensar com o
tempo e o espaço; pois a toda idéia do pensamento natural se liga alguma coisa
252
do tempo e do espaço; mas não a alguma idéia espiritual; isto vem de que o
M undo Espiritual não está, como o M undo N atural, no espaço e no tempo,
mas está na aparência do espaço e do tempo; nisto diferem também os
pensamentos e as percepções; é por isso que vós podeis pensar na Essência e na
O nipresença de Deus de toda a eternidade,isto é,em Deus antes da Criação do
M undo, porque pensais na Essência de Deus de toda eternidade sem o tempo,
e em Sua O nipresença sem o espaço, e assim apreendeis cousas que estão acima
das idéias naturais do homem"; e então contei que uma vez eu tinha pensado
na Essência e na O nipresença de Deus de toda a eternidade, isto é, em Deus
antes da Criação do M undo,e que,como eu ainda não tinha podido afastar das
idéias do meu pensamento os espaços e os tempos, tornei-me inquieto, porque
a idéia da N atureza entrou em lugar de Deus, mas me foi dito: "Afasta as idéias
do espaço e do tempo, e verás"; e me foi dado afastá-las, e vi; e desde esse
momento pude pensar em Deus de toda eternidade e de modo algum na
N atureza de toda eternidade, porque Deus está em todo tempo sem tempo, e
em todo espaço sem espaço, enquanto que a N atureza está em todo tempo no
tempo, e em todo espaço no espaço, e como a N atureza com seu tempo e seu
espaço precisou necessàriamente começar e nascer, mas não Deus que é sem o
tempo e sem o espaço; por isso a N atureza vem de Deus, não de toda a
eternidade, mas no tempo, isto é, ao mesmo tempo com seu tempo e seu
espaço.
329 - Depois que o G rão-M estre e os outros me deixaram, alguns rapazes, que
também tinham assistido aos exercícios do G inásio, me seguiram à casa, e aí
ficaram algum tempo perto de mim enquanto eu escrevia; e eis que viram
então uma traça que corria sobre meu papel, e muito admirados perguntaram o
que era este animalzinho tão ágil; e eu disse que se chamava traça e que eu ia
contar-lhes coisas admiráveis dele: e disse que em um ser vivo tão pequeno, há
tantos membros e vísceras quanto em um camelo; que assim, há cérebros, um
coração, canais pulmonares, os órgãos dos sentidos, dos movimentos e da
geração, um estômago, intestinos e muitas outras cousas; que cada parte é
tecida de fibras, de nervos, de vasos sangüíneos, de músculos, de tendões, de
membranas, e que cada uma dessas cousas é composta de cousas ainda mais
puras que escapam inteiramente à penetração de todo olhar. Eles então
disseram que, não obstante, este pequeno ser vivente não lhes parecia senão
como uma substância simples; e eu disse: "H á entretanto dentro dele coisas
inumeráveis; digo-vos isso a fim de que saibais que acontece o mesmo com
todo objeto que diante de vós aparece como sendo um, simples, e muito
pequeno, tanto em vossas ações como em vossas afeições e em vossos
pensamentos; posso vos assegurar que cada parcela de vosso pensamento e cada
gota de vossa afeição é divisível ao infinito; e que conforme as vossas idéias são
divisíveis,vós vos tornais sábios; sabei que tudo que é dividido, é cada vez mais
múltiplo, e não cada vez mais simples, porque o que é continuamente dividido
se aproxima cada vez mais do infinito, no qual todas as cousas são ao infinito
253
(infinitè); o que vos referi aqui é novo e não se ouviu dizer até ao presente".
Depois que lhes falei assim, os rapazes me deixaram para irem ao G rão-M estre,
e lhe pediram para propor como problema algum dia no G inásio,uma cousa de
que ainda não se ouviu falar. E ele disse: “O quê?" Eles responderam: "Q ue
tudo o que é dividido se torna cada vez mais múltiplo, e não cada vez mais
simples, porque isso o aproxima cada vez mais do infinito, no qual todas as
cousas estão ao infinito (infinitè)",E ele prometeu proposto,e disse: "V ejo isso,
porque percebi que uma única idéia natural é o continente de inúmeras idéias
espirituais; e também, que uma única idéia espiritual é o continente de
inúmeras idéias celestes; dai vem a diferença entre a Sabedoria Celeste, em que
estão os Anjos do T erceiro Céu, e a Sabedoria espiritual em que estão os Anjos
do Segundo Céu, e a diferença entre esta e a Sabedoria natural em que estão os
Anjos do último Céu e também os homens.
330 - Segundo M emorável. U m dia, ouvi maridos discutir de uma maneira
agradável, a respeito do sexo feminino, se uma mulher que ama
constantemente sua beleza, isto é, que se ama por causa de sua forma, pode
amar seu marido; decidiram a princípio entre si que há para as mulheres duas
belezas, uma natural, que é a da face e do corpo, e outra espiritual, que é a do
amor e dos costumes; decidiram também que estas duas belezas são muito
freqüentemente divididas no M undo natural, e que estão sempre reunidas no
M undo espiritual, pois a beleza no M undo espiritual 'é a forma do amor e dos
costumes; por isso, depois da morte, acontece muito freqüentemente que as
mulheres disformes se tornem belezas, e que mulheres belas se tornem
deformidades. Q uando os maridos discutiam a questão algumas esposas vieram
e disseram: "Admiti nossa presença; pois o que discutis, a ciência vô-lo ensina,
mas a nós a experiência o ensina; e mesmo vós tendes tão pouco conhecimento
do amor das esposas,que apenas sabeis alguma cousa dêle; será que sabeis que a
prudência da sabedoria das esposas consiste em esconder seu amor por seus
maridos no íntimo de seu peito, ou no meio do seu coração?" A discussão
começou e a Primeira Conclusão dos maridos foi que toda mulher quer parecer
bela de face e bela de costumes,porque nasceu afeição do amor,e a forma desta
afeição é a beleza; é por isso que a mulher, que não quer ser bela, não é uma
mulher que quer amar e ser amada, e por conseguinte não é verdadeiramente
mulher. Então as esposas disseram: "A beleza da mulher reside em uma doce
delicadeza, e por conseguinte em uma deliciosa sensação; daí vem o amor da
mulher pelo homem, e o amor do homem pela mulher; vós talvez não
compreendais isso". A Segunda Conclusão dos maridos foi que a mulher antes
do casamento quer ser bela para os homens; mas depois do casamento, se é
casta, quer ser bela para seu marido, e não para os homens". Depois disso as
esposas disseram: “O marido, depois de ter gozado a beleza natural da esposa,
não vê mais esta beleza,mas vê sua beleza espiritual,e por esta ele ama de novo,
lembra-se da beleza natural, mas sob um outro aspecto". A T erceira Conclusão
de sua discussão foi, que se a mulher, depois do casamento, quer igualmente
254
parecer bela como antes do casamento, ela ama os homens e não o marido,
porque a mulher que se ama por causa de sua beleza, quer cont1nuamente que
a sua beleza seja apreciada; e como esta beleza não aparece mais diante de seu
marido, assim como o dissestes, ela quer que seja apreciada pelos homens
diante dos quais aparece; que uma tal mulher tenha o amor do sexo e não o
amor de um único do sexo, isso é evidente". Depois disso as esposas guardaram
silêncio; entretanto disseram muito baixo: "Q ual é a mulher tão isenta de
vaidade, que não queira parecer bela também aos homens ao mesmo tempo
que parece ao marido?" Algumas esposas do Céu, que eram belas porque eram
afeições celestes, ouviam esta discussão, e confirmaram as três conclusões dos
maridos; mas acrescentaram: "Q ue elas amem sua beleza e seus atavios para
seus maridos e por seus maridos".
331 - Estas três esposas indignadas porque as três conclusões dos maridos
tinham sido confirmadas pelas esposas do Céu, disseram aos maridos: "V ós
indagastes se uma mulher que se ama por causa de sua beleza, ama seu marido;
nós, pois, por nossa vez, vamos examinar se um marido que se ama por causa
de sua inteligência, pode amar sua esposa; ficai presentes e escutai". E tiraram
esta Primeira Conclusão: U ma esposa ama seu marido não por causa de sua
face, mas por causa de sua inteligência no seu emprêgo e nos seus costumes;
sabei pois que a esposa se une com a inteligência do marido, e assim com o
marido; por isso se o marido se ama por causa de sua inteligência; ele a retira de
sua esposa para si mesmo, daí resulta a desunião e não a união; além disso,
amar a sua inteligência, é ser sábio por si mesmo, e isso é ser louco, é portanto
amar sua loucura".Depois disso os maridos disseram: "Pode ser que a esposa se
una com a força do marido?" A estas palavras as esposas sorriram, dizendo: "A
força não falta enquanto o marido ama a esposa segundo a inteligência; porém
ela falta,se for segundo a loucura; a inteligência consiste em amar a esposa só, e
a força não falta a este amor; compreendeis isso?". A Segunda Conclusão foi
esta: "N ós, mulheres, nascemos no amor da inteligência dos homens, por isso,
se os maridos amam a sua própria inteligência, a inteligência não pode ser
unida com seu amor real, que está na esposa, e se a inteligência do marido não
está unida com seu amor real,que está na esposa,a inteligência se torna loucura
pelo orgulho, e o amor conjugal se torna frieza; qual é portanto a mulher que
pode unir seu amor à frieza? E qual é o homem que pode unir a loucura do seu
orgulho ao amor da inteligência?" M as os maridos disseram: "Como o marido
será honrado pela esposa, se ele não exalta sua inteligência?" As esposas
responderam: "Ele o será pelo amor, porque o amor honra, a honra não pode
ser separada do amor, mas o amor pode ser separado da honra". Em seguida,
como T erceira Conclusão, deram esta: "Parece-vos que amais as vossas esposas,
e não vêdes que sois amados por vossas esposas, e que assim vós as amais em
retorno; e que vossa inteligência é o receptáculo; se portanto, amais a vossa
inteligência, em vós, ela se torna o receptáculo de vosso amor, e como o amor
do próprio não suporta um seu igual, jamais se torna conjugal, mas enquanto
255
Da poligamia
combates de morte entre rivais; prova de que este amor sobrepuja o amor da
vida. N ão tem havido e não há ainda homens que, por uma mulher que
desejam e pedem para noiva, se tornaram e tornam loucos com uma recusa?
Q uem é que pelo começo deste amor em um grande número de homens, não
pode concluir racionalmente que este amor por sua essência, domina como
soberano sobre todo outro amor, e que a alma do homem está então neste
amor, e se promete beatitudes eternas com a mulher desejada e pedida? Q uem
é que pode ver,de qualquer lado que procure, outra cousa senão que o homem
consagrou sua alma e seu coração a uma só? Com efeito, quando um amante
está neste estado, se lhe oferecessem para escolher em todo o sexo a mais digna,
a mais rica e a mais bela,não desdenharia ele a opção,e não se prenderia àquela
que já escolheu; pois o seu coração é para ela? Estas observações são feitas a fim
de que se reconheça que existe um amor conjugal de uma tal sobreeminência, e
que ele existe quando uma só do sexo é amada unicamente. Q ual é o
entendimento que, quando considera com atenção o encadeamento das razões,
não possa concluir que, se pela alma ou pelos íntimos o amante persiste
constantemente no amor por esta mulher, obterá estas beatitudes eternas que se
prometeu antes do consentimento, e que se promete no consentimento? que as
obtém mesmo, se se dirige ao Senhor e por Ele vive a vida da religião, isso foi
mostrado acima; há um outro que entra na vida do homem pela região
superior,e aí implante as alegrias celestes internas, e as transporte às cousas que
seguem, e tanto mais, quando ao mesmo tempo dá também uma força
constante? Pelo fato de não haver um tal amor em si, nem neste ou naquele,
não se pode concluir que ele não existe e não pode existir.
334 - Pois que o amor verdadeiramente conjugal conjunta as almas e os
corações dos dois esposos, foi por conseqüência unido também com a amizade,
e por esta com a confiança, e torna conjugal uma e outra; assim elas
sobrepujam as outras amizades e as outras confianças, ao ponto que, como este
amor é o amor dos amores, do mesmo modo esta amizade é a amizade das
amizades, semelhantemente a confiança; que seja assim também com a força,
há para isso várias razoes, algumas das quais são desvendadas no Segundo
M emorável em seguida a este Capítulo; e desta força resulta a perseverança
deste amor. Q ue pelo amor verdadeiramente conjugal os dois esposos se
tornem uma só carne, isso foi mostrado em um capítulo especial, n. 156 (bis) a
183.
335 – II. Assim, não é sendo com uma única esposa que podem ter lugar as
beatitudes celestes, as felicidades espirituais, e os prazeres naturais, aos quais foi
provido desde o começo para aqueles que estão no verdadeiro amor conjugal.
Diz-se as beatitudes celestes, as felicidades espirituais, e os prazeres naturais,
porque a M ente humana foi distinguida em três R egiões,das quais a Suprema é
chamada celeste, a segunda espiritual, e a terceira natural; e estas três regiões
naqueles que estão no amor verdadeiramente conjugal se mantêm abertas, e o
259
M aometana não é um escândalo para aqueles que crêem que todas as cousas
vêm da Divina Providência; estes procuram em que a Divina Providência está
nela, e o acham: Está no fato da R eligião M aometana reconhecer nosso Senhor
como Filho de Deus, como o mais Sábio dos homens, e como o maior Profeta,
o qual veio ao M undo para instruir os homens; mas como fizeram do Alcorão o
único livro de sua religião, e como por conseguinte M aomé que o escreveu está
presente em seus pensamentos, e recebe deles um certo culto, por isso eles
pouco pensam em nosso Senhor. Para que se saiba plenamente que esta
R eligião foi suscitada pela Divina Providência do Senhor, a fim de destruir as
idolatrias de um grande número de nações,este assunto vai ser exposto em uma
certa ordem; em conseqüência se falará primeiro da origem das idolatrias. Antes
desta R eligião, o culto dos !dolos era comum sobre toda a terra; isto provém de
que as Igrejas antes do Advento do Senhor tinham sido todas Igrejas
representativas; tal tinha sido também a Igreja Israelita; nela, o tabernáculo, as
roupas de Aarão, os sacrifícios, todas as cousas do T emplo de Jerusalém, e
também os estatutos, eram representativos; e, entre os Antigos, havia a Ciência
das Correspondências, que é também a ciência das R epresentações, a ciência
mesma dos sábios, cultivada principalmente pelos Egípcios, daí os seus
H ieroglifos. Por esta ciência eles sabiam o que significavam os animais de todo
gênero, o que significavam as árvores de todo gênero, o que significavam as
montanhas, as colinas, os rios, as fontes, o que significavam o sol, a lua, as
estrêlas; por esta ciência tinham também conhecimento dos espirituais, que
eram representados, os quais eram daqueles que pertencem à sabedoria
espiritual dos Anjos, eram as origens das (coisas que representavam); ora, como
todo seu culto era um culto representativo, consistindo em puras
correspondências, é por isso que o celebravam sobre montanhas e colinas, e
também nos bosques,e voltavam suas faces para o sol nascente que adoravam; e
que além disso faziam imagens talhadas de cavalos, bois, novilhos, carneiros, e
mesmo de pássaros, peixes, serpentes, e as colocavam em suas casas e em outros
lugares em uma certa ordem segundo os espirituais da Igreja aos quais
correspondiam, ou que represen. tavam. Colocavam também semelhantes
objetos em seus T emplos, para trazer à sua lembrança as cousas santas do culto
que elas significavam. Depois desse tempo, quando a Ciência das
Correspondências foi obliterada, a sua posteridade começou a adorar estas
imagens talhadas como santas em si mesmas, não sabendo que seus
antepassados nada viam de santo nelas, mas que as consideravam unicamente
como representando, e por conseguinte significando coisas santas segundo sua
correspondência. Daí nasceram as idolatrias que encheram toda a terra, tanto
na Á sia com as ilhas adjacentes, como na Á frica e na Europa. A fim de que
todas essas idolatrias fossem extirpadas, aconteceu que, pela Divina Providência
do Senhor, elevou-se uma nova R eligião acomodada ao gênio dos O rientais, na
qual havia alguma cousa de um e outro T estamento da Palavra, e que ensina
que o Senhor velo ao M undo, e que È1e era o maior Profeta, o mais sábio de
265
todos, e o Filho de Deus; isso foi feito por M aomé, de quem esta R eligião tem
o nome de R eligião M aometana. Por isto, é evidente que esta R eligião foi
suscitada pela Divina Providência do Senhor, e acomodada, como foi dito, ao
gênio dos O rientais, a fim de destruir as idolatrias de tantas nações, e de lhes
dar algum conhecimento do Senhor, antes de irem para o M undo espiritual, o
que acontece depois da morte de cada um; esta R eligião não teria sido recebida
por tantos R einos, e não teria podido extirpar neles as idolatrias, se não tivesse
sido feita de maneira a se conformar com as suas idéias; sobretudo se a
Poligamia não tivesse sido permitida; é também por este motivo, que os
O rientais, sem esta permissão, se teriam entregue ainda com mais ardor que os
Europeus a vergonhosos adultérios,e teriam perecido.
343 - Se os M aometanos têm também um Céu, é porque todos aqueles que,
sobre o G lobo terrestre, reconhecem um Deus, e fogem, pela R eligião, dos
males como pecados contra Ele, são salvos. Q ue o Céu M aometano tenha sido
dividido em dois,um inferior e outro superior, é o que soube por eles mesmos;
além disso, que no Céu inferior eles vivem com várias mulheres, tanto esposas
como concubinas, como no M undo; mas que aqueles que renunciam às
concubinas e vivem com uma única esposa são elevados ao Céu superior; soube
também que lhes é impossível pensar em nosso Senhor como sendo um com
Deus Pai, mas que lhes é possível pensar que lhe é igual e que lhe foi dada
dominação sobre o Céu e sobre a T erra, porque é Seu Filho; é por isso que esta
fé está naqueles aos quais foi dado pelo Senhor subir a seu Céu superior.
344 - U m dia, me foi dado perceber qual é o calor do amor conjugal dos
polígamos; eu conversava com um que tinha feito a personagem de M aomé;
M aomé mesmo não se apresenta jamais, mas um substituto é posto em seu
lugar,a fim de que os recentemente chegados do M undo vejam por assim dizer
M aomé; este substituto, depois de uma conversação que tive com ele de longe,
me fez passar uma colher de ébano e outros objetos, que eram provas que
vinham dêle, e ao mesmo tempo foi aberta uma comunicação para o calor do
amor conjugal dos que estavam lá; e este calor foi percebido por mim como um
vapor fétido de banho quente; desde que o senti, eu me afastei, e a abertura das
comunicações foi fechada.
345 - X .A Poligamia é uma lascívia.
É porque o seu amor é dividido entre vários, e é o amor do sexo; é também o
amor do homem externo ou natural, e não por conseguinte o amor conjugal, o
único que é casto. Q ue o amor poligâmico seja um amor dividido entre vários,
isso é notório; ora, um amor dividido não é o amor conjugal, pois este é um
amor não divisível Proveniente de uma única pessoa do sexo; por conseguinte o
amor poligâmico é lascivo, e a Poligamia é uma lascívia. Q ue o amor
poligâmico seja o amor do sexo, é porque não difere daquele senão porque é
limitado ao número que o polígamo pode admitir, e porque a poligamia é
adstrita a observar certas leis estabelecidas para o bem público; além disso,
266
quando nasce, nada sabe de semelhante, pois cousa alguma da ciência nasce
com ele; é somente faculdade e inclinação para receber as cousas que pertencem
à ciência e ao amor, e se não as recebe pelos outros, fica mais vil que a besta.
Q ue o homem nasce assim, para este fim de não se atribuir cousa alguma, mas
que atribua aos outros, e enfim a Deus só, a totalidade da sabedoria e do amor
da sabedoria, e que em conseqüência possa se tornar a imagem de Deus, vê-se
no M emorável nº 132 a 136. Segue-se daí, que o homem, que não sabe pelos
outros que o Senhor veio ao M undo e que Éle é Deus, e que auferiu somente
alguns conhecimentos sobre a R eligião e sobre as leis de seu país, não está em
falta se sobre o amor conjugal não pensa mais do que sobre o amor do sexo, e
se crê que o amor poligâmico é o único amor conjugal; o Senhor conduz estes
em sua ignorância, e por Seu Auspício Divino retira providencialmente da
imputação da falta aqueles que pela R eligião fogem dos males como pecados,
com o objetivo de serem salvos; pois cada homem nasce para o Céu, e nem um
nasce para o inferno; e cada um vai para o Céu pelo Senhor, ou para o inferno
por si mesmo.
351 - X V . Embora Polígamos, aqueles que reconhecem um Deus, e vivem pela
R eligião segundo as leis civis da justiça,são salvos.
T odos aqueles que, sobre todo o G lobo terrestre, reconhecem um Deus, e
vivem pela R eligião segundo as leis civis da justiça são salvos; pelas leis civis da
justiça são entendidos os preceitos, tais como estão no Decálogo, a saber, que é
preciso não matar, não cometer adultério, não roubar, não dar falso
testemunho; estes preceitos são as leis civis da justiça em todos os R einos da
terra, pois sem eles um R eino não subsistiria. M as conformam a vida por eles,
uns pelo temor das penas da lei, outros por obediência civil, outros também
pela religião; e aqueles que conformam a sua vida por eles também pela religião
são salvos; isto provém de que então Deus está neles, e o homem em quem
Deus está, é salvo. Q uem é que não vê que nos filhos de Israel, depois que
partiram do Egito, havia no número de suas Leis, que é preciso não matar, não
cometer adultério, não roubar, não dar falso testemunho, pois que sem estas
leis, a sua comunidade ou sociedade não teria podido subsistir? E entretanto
estas mesmas Leis foram promulgadas por Jehovah Deus sobre a montanha do
Sinai com um M ilagre admirável; mas a causa de sua promulgação foi, que
estas mesmas Leis fossem assim feitas também leis da R eligião, e que assim eles
as observassem não somente para o bem da Sociedade, mas também por Deus.
Por estas con. siderações pode-se ver que os Pagãos, que reconhecem um Deus
e vivem segundo as Leis civis da justiça, são salvos; pois não é sua culpa se nada
sabem do Senhor, nem por conseguinte nada da castidade do casamento com
uma única esposa; com efeito, é contra a Justiça Divina, que aqueles que
reconhecem um Deus e vivem pela religião segundo as leis da justiça, que
consistem em fugir dos males porque são contra Deus, e fazer os bens porque
estão com Deus,sejam condenados.
269
352 - X V I. M as nem uns nem outros podem ser consociados com os Anjos nos
Céus Cristãos. É porque nos Céus Cristãos há a Luz celeste que é a Divina
V erdade, e o Calor celeste que é o Divino Amor; e estes dois desvendam quais
são os veros e os bens, além disso também quais são os males e os falsos; daí
vem que entre os Céus Cristãos e os Céus M aometanos não existe comunicação
alguma; dá-se o mesmo com o Céu dos G entios, se houvesse comunicação não
poderiam ser salvos senão aqueles que estivessem pelo Senhor na luz celeste e ao
mesmo tempo no calor celeste; e mesmos estes não poderiam ser salvos, se
houvesse conjunção dos Céus; pois por esta conjunção todos os Céus seriam
abalados, a ponto dos Anjos não poderem subsistir; com efeito, o incasto e o
lascivo influiriam dos M aometanos nos Céus Cristãos, o que não poderia ser
suportado aí; e o casto e o puro influiriam dos Cristãos no Céu M aometano, o
que não poderia de modo algum ser suportado aí; e então, pela comunicação e,
por conseguinte, pela conjunção, os Anjos Cristãos se tornariam naturais e
assim adúlteros, ou se permanecessem espirituais, sentiriam continuamente em
torno deles, o lascivo, que interceptaria toda beatitude de sua vida; alguma
cousa semelhante aconteceria ao Céu M aometano; pois os espirituais do Céu
Cristão os cercariam continuamente e os atormentariam, e arrebatariam todo
prazer de sua vida,e além disso insinuaria que a poligamia é um pecado,e desta
maneira, eles seriam sem cessar repreendidos. É por esta razão que todos os
Céus são absolutamente distintos, a fim de que entre eles não haja conjunções
senão pelo influxo da luz e do calor procedentes do Senhor pelo Sol, no meio
do qual Ele está; e este influxo ilustra e vivifica cada um segundo a recepção, e
a recepção é segundo a religião; esta comunicação existe, mas não é dos Céus
entre si.
353 - Ao que precede ajuntarei dois M emoráveis.
Primeiro M emorável. U m dia, eu me achava no meio de Anjos, e ouvi sua
conversação; a sua conversação era sobre a Inteligência e sobre a Sabedoria;
diziam que o homem não sente e não percebe outra coisa senão que elas estão
uma e outra nele, e que assim tudo o que pensa pelo entendimento e se propõe
pela vontade vem dêle, enquanto que, entretanto, do homem não vem a menor
cousa disso, exceto a faculdade de receber de Deus as cousas que pertencem ao
entendimento e à vontade; e, como todo homem por nascimento é inclinado a
se amar, então a fim de que o homem não pereça pelo amor de si e pelo fasto
da própria inteligência,foi provido por criação a que este amor do marido fosse
transferido para a esposa, e que por nascimento fosse implantado nesta o amor
da inteligência e da sabedoria de seu marido, e assim do marido; é por isso que
a esposa atrai a si continuamente o fasto da própria inteligência de seu marido,
e o extingue nele e o vivifica nela,e assim o muda em amor conjugal, e o enche
de encantos além de toda medida; foi provido a isso pelo Senhor, a fim de que
o fasto da própria inteligência não enfatue o marido, a ponto de crer ser
inteligente o sábio por si mesmo e não pelo Senhor, que assim queira comer da
270
dos homens do nosso M undo, pelo que soube que eram recém-vindos;
aproximei-me déles, e fiquei ao seu lado para ouvir o que diziam entre si;
falavam do Céu; e um deles, que tinha algum conhecimento, disse: "H á cousas
admiráveis que ninguém pode acreditar, a não ser que as tenha visto; por
exemplo, Jardins paradisíacos, Palácios magníficos construidos segundo as
regras da arquitetura, porque são obras da arte mesma, resplandecentes como
ouro, na frente dos quais há Colunas de prata, e sobre as colunas Formas
celestes feitas de pedras preciosas; além disso também, Casas de jaspe e de
safira, com magníficos pórticos Por onde entram os Anjos; e, no interior das
casas Decorações que nem a arte nem a palavra podem exprimir. Q uanto aos
Anjos mesmos, são de um e outro sexo; há mancebos e maridos, e há virgens e
esposas; virgens tão belas, que não há exemplo de uma tal beleza no M undo,
mas esposas ainda mais belas que aparecem como efígies do amor celeste, e seus
maridos como efígies da sabedoria celeste; e todos são jovens adolescentes; e, o
que é mais, lá não se sabe o que é um amor do sexo que não seja o amor
conjugal; e, o que vos maravilhará, os maridos estão na perpétua faculdade de
saboriar-lhe as delícias". Q uando estes Espíritos noviços souberam que lá, não
havia amor do sexo, além do amor conjugal, e que se estava em uma perpétua
faculdade de saborear-lhe as delícias, eles riram entre si e disseram: "T u nos
falas de coisas incríveis; uma tal faculdade não é possível, sem dúvida tu nos
contas fábulas". M as então um Anjo desceu inopinadamente do Céu, se
colocou no meio deles, e disse: "Escutai, eu vos peço; eu sou um Anjo do Céu;
e aí vivo com a minha Esposa há mil anos,e durante este tempo, na mesma flor
da idade em que me vêdes aqui; devo isso ao meu Amor conjugal para com
minha esposa; e posso afirmar que tenho tido e tenho esta perpétua faculdade;
e como percebo que acreditais que isso não é possível, vou vos falar disso
segundo razões conformes à luz de vosso entendimento: N ada sabeis do estado
primordial do homem, que é chamado por vós estado de integridade; neste
estado todos os interiores da mente estavam abertos até ao Senhor, e estavam
por conseguinte no casamento do amor e da sabedoria, ou do bem e do vero; e
como o bem do amor e o vero da sabedoria se amam perpetuamente, eles
querem perpètuamente ser unidos; e quando os interiores da mente foram
abertos, este amor espiritual conjugal, decorre livremente com seu perpétuo
esforço, e apresenta esta faculdade. A alma do homem mesma, porque está no
casamento do bem e do vero, está não sómente no perpétuo esforço desta
união, mas também no perpétuo esforço da frutificação e da produção de sua
semelhança; e quando os interiores do homem estão abertos, por este
casamento, a partir da alma e os interiores consideram continuamente o efeito
nos últimos como o fim para o qual existem, resulta dai que este perpétuo
esforço de frutificar e de produzir sua semelhança, esforço que pertence à alma,
se torna o esforço do corpo; e como o último da operação da alma no corpo
entre dois esposos está aí nos últimos do amor, e como estes últimos dependem
do estado da alma, vê-se claramente de onde lhes vem esta perpetuidade. Q ue
272
Do ciúme
que o zelo pertence ao amor, isso é notário; por estar zeloso e agir por zelo não
se entende outra coisa senão agir pela força do amor; mas como, quando existe,
ele se apresenta não como amor, mas como adversário e inimigo, afligindo e
combatendo o que fere o amor, resulta daí que pode também ser chamado
defensor e protetor do amor; pois todo amor é de tal natureza que explode em
indignação e em cólera, e mesmo em furor, quando é perturbado em seus
prazeres; se portanto o amor e sobretudo o amor dominante, é tocado, há
emoção da mente, e se esse toque fere, há arrebatamento; por isto, pode-se ver
que o Z elo não é o mais alto grau do amor, mas é o amor abrasado. O amor de
um e o amor correspondente do outro são como dois confederados; mas
quando o amor de um se eleva contra o amor do outro, se tornam como dois
inimigos; a razão disso,é que o amor é o ser da vida do homem, por isso aquele
que ataca o amor ataca a vida mesma; e então contra aquele que ataca há um
estado de arrebatamento, tal como é o estado de todo homem que um outro
procura matar. H á um arrebatamento semelhante em cada amor, mesmo no
amor mais pacífico, como se vê pelas galinhas, as patas e os pássaros de toda
espécie que se levantam sem medo e se lançam contra os que ferem seus filhotes
ou que tiram seu alimento; que haja cólera em algumas bestas e furor nas bestas
ferozes, se seus filhos são atacados, ou se sua presa é tomada, isso é conhecido.
Se se diz que o amor se abrasa como o fogo é porque o amor não é outra cousa
senão o calor espiritual, tirando sua origem do fogo do. Sol Angélico, que é
puro Amor; que o amor seja um calor como o do fogo, vê-se claramente pelo
calor dos corpos vivos, que não vem de outra parte senão do amor; além disso
também, pelo fato de que os homens se aquecem e se inflamam segundo as
exaltações do amor. Por estas considerações, é evidente que o zelo é como o
fogo abrasado do amor.
359 - II. O abrasamento ou a chama deste amor, que é um zelo, é um
abrasamento ou uma chama espiritual, tendo sua origem em uma infestação e
um ataque dirigido contra o amor.
Q ue o Z elo seja um abrasamento ou uma chama espiritual, vé-se claramente
pelo que foi dito acima; como o Amor no M undo espiritual, é um calor que
tem sua origem no Sol deste M undo, é por isso também que o amor aí aparece
de longe como uma chama; assim aparece o amor celeste nos Anjos do Céu;
assim também aparece o amor infernal nos espíritos do inferno; todavia, é
preciso que se saiba que esta chama não queima como a chama do M undo
natural.Se o Z elo tem também sua origem no ataque,dirigido contra o amor,é
porque o amor é o calor do vida em cada um; quando portanto o amor da vida
é atacado, o calorda vida se inflama, resiste, e se lança contra o agressor, e age
como inimigo por sua força e sua potência, do mesmo modo que a chama que
se lança do fogo contra aquele que o ataca; que este calor seja como um fogo,
vê-se pelos olhos, que faíscam, pela face que se inflama, além disso também
pelo som da voz e pelos gestos; o amor,porque é o calor da vida, age assim para
276
são de uma variedade infinita; isso é bem evidenciado pelos Anjos do Céu e os
Espíritos do Inferno; uns e outros no M undo espiritual são formas de seu
amor, e entretanto não há um único Anjo do Céu absolutamente semelhante a
um outro; quanto à face, à linguagem, ao andar, aos gostos e aos costumes;
nem espírito algum do inferno semelhante a um outro, e mesmo não o pode
haver em toda eternidade, por mais multiplicados que sejam por miríades de
miríades; daí é evidente que os Amores são de uma variedade infinita, pois tais
são as suas formas; dá-se o mesmo com o Z elo, pois que o Z elo pertence ao
Amor,quer dizer,que o Z elo de um não pode ser absolutamente semelhante ao
Z elo de um outro ou ser o mesmo; em geral, há o Z elo do Amor bom e o Z elo
do Amor mau.
363 - IV . O Z elo do amor bom e o Z elo do amor mau são semelhantes nos
externos,mas absolutamente diferentes nos internos.
O Z elo nos externos se apresenta em cada um como cólera e arrebatamento;
pois é um amor abrasado e inflamado para se defender contra o violador, e para
repeli-lo. Se o Z elo do amor bom e o Z êlo do amor mau parecem semelhantes
nos externos, é porque o amor, quando está no Z elo, se abrasa em um e outro,
mas somente nos externos no homem bom, e tanto nos externos como nos
internos no homem mau; e quando os internos não são vistos, os Z elos
parecem semelhantes nos externos; mas que sejam absolutamente diferentes nos
internos, verses no Artigo que vai seguir-se. Q ue o Z elo se apresenta nos
externos como cólera e arrebatamento, pode-se vê-lo e compreendê-lo
examinando aqueles que agem e falam pelo Z elo; por exemplo, um sacerdote
quando prega com zelo, o tom de sua voz é elevado, veemente, agudo e áspero;
a sua f ace se inflama e se cobre de suor; ele se arrebata, bate no púlpito, e
evoca contra os pecadores o fogo do inferno; dá-se o mesmo com muitos
outros.
364 - Para que se tenha uma idéia distinta do Z elo, nos bons e do Z elo nos
maus, e da diferença dêstes Z elos, é necessário que se forme alguma idéia dos
Internos e dos Externos nos homens; para que se forme uma, seja para esse
propósito uma idéia popular, pois isto também é para o povo. Seja pois para
exemplo uma noz ou um fruto com caroço, e suas amêndoas; os internos nos
bons são como as amêndoas no interior em sua integridade e sua bondade,
cercadas de sua casca ordinária e nativa; mas é inteiramente diferente nos maus,
seus Interiores são como as amêndoas que não se pode comer por causa de seu
amargor,ou porque estão podres, ou porque estão bichadas, enquanto que seus
Externos são como as cascas das boas, ou semelhantes às cascas nativas, ou
brilhantes como conchas, ou coloridas como pedras de íris. Assim aparecem
seus externos, dentro dos quais estão escondidas os internos de que se acaba de
falar.Dá-se o mesmo com seus Z elos.
365 - V .O M odo amor bom encerra em seus internos o amor e a amizade; mas
o M o,do amor mau encerra em seus internos o ódio e a vingança.
278
Foi dito que o Z êlo nos externos se apresenta como cólera e arrebatamento,
tanto naqueles que estão em. um amor bom como nos que estão em um amor
mau; mas como os Internos são outros, outras também são estas cóleras e estes
arrebatamentos; e as diferenças são estas: 1. O Z elo do amor bom é como uma
chama celeste que jamais se lança contra um outro, mas somente se defende, e
se defende contra o mau, corno quando este se lança no fogo e se queima; mas
o Z elo do amor mau é como uma chama infernal, que se lança e se precipita, e
quer consumir o adversário. 2. O Z elo do amor bom se extingue e se adoça,
quando o adversário cessa de atacar; mas o Z elo do amor mau continua e não
se extingue.3.A razão disso,é que o Interno daquele que está no amor do bem
é em si doce, terno, amigável e benevolente; por isso quando o Externo para se
defender se exaspera, se crispa e se irrita, e assim age com dureza, é sempre
temperado pelo bem em que está seu interno; é diferente nos maus, neles o
Interno é inimigo, sem piedade, duro, respirando ódio e vingança, e se
alimentando com os prazeres que aí encontra; e, embora se reconcilie, estes
males estão sempre escondidos como fogos nos tições sob a cinza; e estes fogos
explodem se não neste M undo ao menos depois da morte.
366 - Como o Z elo nos externos,tanto no homem bom como no homem mau,
parecem semelhantes, e como o último sentido da Palavra consiste em
correspondências e aparências,se diz muito freqüentemente de Jehovah que Ele
se encoleriza, que se arrebata, que se vinga, que pune, que lança no inferno,
além de várias outras expressões que são aparências do Z elo nos externos; daí
vem também ser Ele chamado Ciumento (Z elotes); e entretanto não há n'Ele
cousa alguma da cólera, nem do arrebatamento, nem da vingança, pois Ele é a
M isericórdia M esma e a Clemência M esma, no qual não há cousa alguma
semelhante. M as sobre este assunto, ver maiores detalhes no T ratado do Céu e
do Inferno, ns. 545 a 550, e no Apocalipse R evelado nºs. 494, 398, 525, 754,
806.
367 - V I.O Z elo do Amor conjugal é chamado Ciúme.
O Z elo pelo Amor verdadeiramente conjugal é o Z elo dos Z elos, porque este
amor é o Amor dos amores, e porque seus prazeres, pelos quais também o Z elo
é excitado, são os prazeres dos prazeres; pois este Amor, como foi mostrado
acima, é a Cabeça de todos os amores; isto vem de que este Amor introduz na
esposa a forma do amor, e no marido a forma da sabedoria, e destas formas
unidas em um, não pode proceder outra cousa que não seja o que tem o sabor
da sabedoria e ao mesmo tempo do amor. Como o Z elo do Amor conjugal é o
Z elo dos Z elos por isso mesmo é chamado por um novo nome Ciúme
(Z elotypia),isto é,o tipo mesmo do Z elo.
368 - V II. O Ciúme é como um fogo abrasador contra aqueles que infestam o
Amor com a consorte,e é como um temor horrível da perda deste amor.
T rata-se aqui do Ciúme daqueles que estão em um amor Espiritual com o
279
370 - Por estas narrações,foi mostrado com evidência o que é o fogo do Ciúme
de que se abrasa o amor conjugal polígamo, que explode em cólera e em
vingança, em cólera nos homens doces, e em vigança nos homens duros; e isso
acontece porque seu amor è natural, e não participa do espiritual; é uma
conseqüência do que foi mostrado no Capítulo da Poligamia, a saber, que a
Poligamia é uma lascívia, n. 345; e que o polígamo, enquanto permanece
polígamo, é natural e não pode se tornar espiritual, n. 347. M as outro é o
Ciúme nos monógamos naturais; o amor dêstes não se inflama assim contra as
mulheres, mas contra os violadores; contra eles se torna cólera, e contra elas
frieza; é de outro modo nos polígamos, cujo fogo do ciúme se abrasa também
com um furor de vingança; esta é mesmo uma das razões pelas quais as
concubinas e as esposas dos polígamos são em grande paxte libertadas depois da
morte, e são enviadas a serralhos não guardados para se dedicarem a diversas
cousas que são obras de mulheres.
371 - IX . O Ciúme, nestes esposos que se amam ternamente, é uma justa dor
segundo uma razão sã, pelo temor de que o amor conjugal seja dividido, e
assim pereça.
Em todo amor há medo e dor, há medo de que ele pereça, e dor se ele perece;
dá-se o mesmo com o amor conjugal; mas seu medo e sua dor são chamados
Z êlo ou Ciúme. Q ue este Z elo nos esposos que se amam ternamente seja justo,
e que venha de uma razão sã,é porque,ao mesmo tempo,é um temor da perda
da felicidade eterna, não somente para si, mas ainda para seu consorte, e
porque é também uma defesa contra o adultério; quanto ao primeiro ponto,
que é um justo temor da perda da felicidade eterna para si e para o consorte,
resulta de todas as cousas que foram relatadas até aqui sobre o amor
verdadeiramente conjugal, e destas, que por este amor há beatitude para suas
almas, felicidade para suas mentes, prazer para seus corações, e volúpia para
seus corpos, e como tudo isso permanece pela eternidade, eles temem pela
felicidade eterna de um e da outra. Q ue este Z elo seja uma justa defesa contra
o adultério, isso é evidente, em conseqüência é como um fogo que se abrasa
contra a violação e se defende contra ela. Por estas explicações é evidente que
aquele que ama ternamente o consorte, é ciumento também, mas justo e
sensato segundo a sabedoria do homem.
372 - Foi dito que no Amor conjugal foi implantado o temor de que seja
dividido,e a dor no caso em que pereça,e que seu Z êlo é como um fogo contra
a violação; um dia em que eu meditava sobre este assuunto, interroguei Anjos
zelosos sobre a sede do Ciúme; eles responderam que é no entendimento do
marido que recebe o amor da esposa, e lhe retribui amor por amor, e que a
qualidade do Ciúme está de acordo com a sabedoria do marido; disseram além
disso que o Ciúme tem alguma cousa de comum com a honra que existe
também no amor conjugal, pois aquêle que ama sua esposa também a honra.
Q uanto à residência do Z êlo no marido em seu entendimento, deram como
281
razão que o amor conjugal se defende pelo entendimento, como o bem pelo
vero; assim a esposa defende as cousas que são comuns com o homem, por seu
marido; e que é por isso que o Z elo é implantado nos homens, e pelos homens,
e por causa dos homens, nas mulheres. A minha pergunta em qual região da
mente nos homens reside o Ciúme, responderam: "Em sua Alma, porque é
também uma defesa contra os adultérios, e como os adultérios destróem
principalmente o amor conjugal, o entendimento do marido se endurece nos
perigos de violação,e se apresenta como se ferisse o adúltero com um chifre.
373 - X . O Ciúme nos esposos que não se amam, existe por várias coisas; em
alguns provém de diversas doenças da mente.
As causas pelas quais os esposos que não se amam mútuamente são Ciumentos
também, são principalmente a honra da força, o temor da difamação de seu
nome e também da esposa, e o mêdo de que os negócios domésticos caiam em
decadência. Q ue nos homens há a honra da força, isto é, que os homens
querem ser considerados em razão desta honra, isso é notório; pois enquanto
têm esta honra, têm a mente como elevada, e não andam com a cabeça
abaixada entre os homens e as mulheres; a esta honra se junta mesmo uma
reputação de coragem; ela também existe nos chefes militares mais do que nos
outros. Q uanto ao medo da difamação de seu nome e também da esposa, esta
causa tem coerência com a precedente; é preciso acrescentar que a coabitação
com uma prostituta e as práticas de deboche em uma casa, são infâmias. Q ue
em alguns haja ciúme por mêdo de que os negócios domésticos caiam em
decadência, é porque neste caso o marido é desdenhado, e os deveres e os
auxílios mútuos são suspensos; mas este Ciúme em alguns cessa com o tempo e
se torna nulo,e em outros é mudado em um puro fingimento de amor.
374 - Q ue em alguns o Ciúme venha de diversas doenças da mente, isso não é
ignorado no M undo; pois há ciumentos que pensam continuamente que suas
esposas são infiéis,e que as acreditam prostitutas por pouco que as ouçam ou as
vejam falar amigàvelmente a homens ou a respeito de homens; há vários vícios
da mente que produzem esta doença; o principal destes vícios é uma fantasia
suspeitosa que, se é alimentada por muito tempo, leva a mente para as
sociedades de espíritos semelhantes, de que dificilmente pode arrancar-se; ela se
afirma também no corpo, por isso que o serum, e por conseguinte o sangue, se
torna viscoso, tenaz, espesso, lento, acre; a falta de forças a aumenta mesmo,
pois faz com que a mente não possa ser elevada acima de suas suspeitas; com
efeito,a presença das forças eleva, e a ausência abate, pois esta ausência faz com
que a mente se acabrunhe, caia em desfalecimento e mirre; e então ele
mergulha cada vez mais nesta fantasia até cair no delírio, e em conseqüência
tem prazer em exprobações e,tanto quanto lhe é permitido,em injúrias.
375 - H á também grupos de regiões que são trabalhadas mais do que as outras
pela doença do Ciúme; nesses lugares, as esposas são encarceradas,
tirânicamente afastadas de toda conversaçâo com os homens, privadas de vê-los
282
mulher é como um fogo retido por um temor diverso, por um aspecto diverso,
sobre o marido,por uma consideração diversa por seu próprio amor, e por uma
prudência diversa para não descobrir pelo Ciúme este amor aos maridos;
diferem, porque as esposas são os amores, e os maridos são os recipientes desses
amores; e é prejudicial às esposas prodigalizar seu amor aos maridos, mas não é
do mesmo modo prejudicial aos recipientes prodigalizá-lo às esposas.T odavia,é
de modo diferente nos espirituais; neles o Ciúme do marido é transferido para
a esposa, do mesmo modo que oamor da esposa é transferido para o marido; é
por isso que de uma parte e de outra ele aparece semelhante contra os esforços
do violador; mas o Ciúme da esposa é inspirado ao marido contra os esforços
da prostituta violadora; é como uma dor que chora e que comove a
consciência.
380 - Acrescentarei dois M emoráveis:
Primeiro M emorável: U m dia estava muito admirado da imensa multidão de
homem que atribuem à N atureza a Criação, e conseqüentemente tudo o que
está abaixo do Sol e tudo o que está acima do Sol, dizendo, ao reconhecê-lo do
fundo do coração, quando vêem alguma cousa: "Isso não é da natureza?" E
quando se lhas pergunta porque atribuem isso à natureza e não a Deus, quando
entretanto dizem, por vezes, com a comunhão da Igreja, que Deus criou a
N atureza, e que por conseguinte poderiam tão bem dizer que as cousas que
vêem são de Deus, como dizer que são da N atureza; então respondem com um
tom de voz interno quase tácito: “O que é Deus, senão a N atureza?" T odos
esses se mostram gloriosos da persuasão de que o U niverso foi criado pela
N atureza, e desta loucura como de uma sabedoria, a ponto de considerarem
todos os que reconhecem a Criação do U niverso por Deus, como formigas que
rastejam sobre a terra e seguem o caminho batido, e alguns, como borboletas
que vôam no ar, chamando seus dogmas de sonhos, porque vêem o que eles
não vêem, dizendo: "Q uem viu Deus, e quem é que não vê a N atureza?"
Enquanto eu estava admirado da multidão destes homens, um Anjo apareceu
diante de mim sobre o lado e me disse: "Sobre o que meditas tu?" e respondi:
''Sobre a multidão dos que acreditam que a N atureza criou o U niverso"; e o
Anjo me disse: "T odo o Inferno é composto de tais homens, e eles são
chamados Satãs e Diabos; Satãs, os que se confirmaram pela N atureza, e por
conseguinte negam Deus; Diabos os que viveram nos crimes,e assim rejeitaram
de seus corações todo o reconhecimento de Deus; mas vou te conduzir a
G inásios situados na Plaga meridional-ocidental,onde residem os que são tais,e
que ainda não estão no Inferno"; e me tomou pela mão, e me conduziu; e vi
casinhas nas quais havia G inásios, e no meio delas, uma que era como o
Pretório de todas as outras; este pretório era construido de pedras de breu que
eram recobertas por lâminas como de vidro brilhantes como ouro e prata tais
como são as que se chamam vidros de M aria; e aqui e ali eram, recamadas com
conchas que brilhavam igualmente. Aproximamonos desta casa, e batemos à
285
Será que a V ida e a N atureza podem ser de outro modo senão como o principal
e o instrumental? Será que a luz pode ser um com o olho, ou o som um com o
ouvido? De onde vêm os sentidos da vista e do ouvido, senão da V ida; e suas
formas,senão da natureza? O que é o corpo humano, senão um órgão da V ida?
T udo o que o compõe, em geral e em particular, não foi orgânicamente
formado para produzir as cousas que o Amor quer e que o Entendimento
pensa? O s órgãos do corpo não vêm da natureza; e o Amor e o Pensamento não
procedem da V ida? Estas cousas não são absolutamente distintas entre si? Eleva
ainda um pouco mais alto a perspicácia do teu gênio, e verás que é próprio da
V ida ser afetada e pensar, e que ser afetado pertence ao amor, que pensar
pertence à sabedoria, e que um e outro pertencem à vida; pois, como já foi
dito, o amor e a sabedoria são a vida; se elevares ainda um pouco mais alto a
faculdade de compreender,verás que o Amor e a Sabedoria não podem existir a
menos que sua origem esteja em alguma parte, e que sua origem é o Amor
M esmo e a Sabedoria M esma, e por conseguinte a V ida M esma; e estas cousas
são Deus de quem provém a N atureza". Em seguida lhe falamos do Segundo
ponto: O Centro pertence à Extensão, ou a Extensão pertence ao Centro e lhe
perguntamos porque tratou desta questão; respondeu: "Com o fim de concluir
sobre o Centro e a Extensão da N atureza e da V ida, assim sobre a origem de
uma e de outra" e quando lhe perguntamos qual era sua opinião sobre este
ponto; respondeu, como sobre o primeiro ponto, que podia confirmar uma ou
outra parte da proposição, mas que, com receio de perder sua reputação, Ele
confirmava que a Extensão pertence ao Centro, isto é, vem do Centro; ainda
que saiba, acrescentou ele, que antes do Sol houve alguma cousa, e que esta
alguma cousa estava por toda parte no U niverso, e confluiu por si mesma em
ordem, assim para o Centro. Então o interpelamos de novo com uma
indignação excitada pelo zelo, e lhe dissemos: "Amigo, tu és louco"; e logo que
ouviu estas palavras, recuou sua poltrona da mesa, e nos olhou com timidez; e
então prestou atenção, mas rindo; entretanto continuamos nestes termos: “O
que há de mais insensato que dizer que o Centro vem da Extensão, por teu
Centro entendemos o Sol, e por tua Extensão entendemos o U niverso, e que
assim o U niverso teria existido sem o Sol! N ão faz o Sol a N atureza e todas as
suas propriedades, que dependem unicamente do Calor e da Luz procedentes
do Sol pelas Atmosferas? O nde estaria a N atureza antes? De onde ela, vem,
porém, é o que diremos quando o terceiro ponto for discutido; as Atmosferas e
todas as cousas que estão sobre a terra não são como Superfícies, e o Sol não é
seu Centro? O que eram todas essas cousas antes do Sol? Poderiam elas existir?
A subsistência não é uma perpétua existência? Portanto, uma vez que a
subsistência de todas as coisas da N atureza vem do Sol, segue-se que a
existência de todas as coisas vem dele também; cada um o vê e o reconhece por
intuição; do mesmo modo que o posterior existe pelo anterior, não subsiste
também por ele? Se a superfície fosse o anterior, e o centro o posterior, o
anterior não subsistiria pelo posterior, o que entretanto é contra as leis da
287
da N atureza; nós lhe respondemos que vem do Sol do Céu Angélico, que é não
um fogo, mas o Divino Amor procedendo Imediatamente de Deus, que é o
Amor M esmo; como ficasse admirado, nós lh'o demonstramos assim: o Amor
em sua essência é o fogo espiritual; é por isso que o fogo, no sentido espiritual
da Palavra, significa o amor; daí os Sacerdotes, nos T emplos, orarem para que
os corações sejam cheios do Fogo celeste, pelo qual entendem o amor; o fogo
do Altar e o fogo do Candelabro no T abernáculo, entre os Israelitas não
representava outra cousa senão o Divino Amor; o Calor do sangue, ou o Calor
vital dos homens e em geral dos animais, não tem outra origem senão o amor
que faz a sua vida; daí vem que o homem se aquece, se abrasa e se inflama,
quando seu amor é exaltado em zêlo, em cólera, e em arrebatamento; é por isso
que, pelo fato do Calor espiritual, que é o Amor, produzir nos homens um
calor natural, ao ponto de aquecer e de inflamar suas faces e seus membros, é
evidente que o Fogo do Sol natural não existe senão pelo Fogo do Sol espiritual
que é o Divino Amor. O ra, pois que a Extensão vem do Centro e não
vice-versa, como o dissemos acima, e como o Centro da vida, o qual é o Sol do
Céu Angélico, é o Divino Amor procedendo imediatamente de Deus, que está
no meio deste Sol; e pois que é dai que vem a Extensão deste Centro, Extensão
que é chamada M undo Espiritual, e que é por este Sol que existe o Sol do
M undo, e por este sua Extensão que é chamada M undo N atural, é evidente
que o U niverso foi criado por Deus só". Depois disso, fomos embora, e ele nos
acompanhou além do pórtico do seu G inásio,e conversou conosco sobre o Céu
e o Inferno e sobre o Divino auspício,com uma nova sagacidade de gênio.
381 - Segundo M emorável:U m dia, olhando em torno de mim no M undo dos
espíritos, vi de longe um Palácio cercado e como que assediado por uma
multidão de espíritos, e via também um grande número que acorria; admirado
disso, saí precipitadamente de casa, e perguntei a um dos que acorriam o que
havia naquele lugar. R espondeu: "T rês recém-vindos do M undo foram
elevados ao Céu,e viram lá cousam magníficas, e também V irgens e Esposas de
uma beleza admirável; e descendo do Céu, entraram neste Palácio, e contaram
o que tinham visto, e principalmente que essas belezas eram tais como jamais
viram seus olhos, e não podem ver, a não ser iluminados pela luz da aura
Celeste; diziam, falando deles mesmos que no M undo tinham sido O radores;
que eram do R eino da França,e eram dados à eloqüência,e que tinham agora o
desejo de falar sobre a O rigem da beleza. Como esta notícia se espalhou na
vizinhança, a multidão acorreu para ouví-los". T endo recebido esta resposta,
apressei-me também; e entrei,e vi esses três homens de pé no meio, vestidos de
vestes cor de safira, que, por causa de fios de ouro entremeados, brilhavam
como se fossem de ouro, conforme as mudanças de posição; estavam por traz
de uma espécie de tribuna, prontos para falar, e em breve um dos três subiu
sobre um patamar atrás da tribuna para falar sobre a O rigem da beleza do Sexo
feminino,e exprimiu-se assim:
289
382 - "A O rigem da beleza,que outra cousa é senão o Amor, que influindo nos
olhos das jovens, e os inflamando, se torna beleza? O Amor e a Beleza são
portanto a mesma cousa; pois pelo íntimo o Amor cora a face de uma virgem
núbil com uma espécie de chama, cuja transparência é a aurora e a púrpura de
sua vida; quem não sabe que esta chama envia raios em seus olhos, e deles
como centros se espalha no orbe da face, e também desce ao peito, e abrasa o
coração,e assim afeta aqueles que estão perto? Este calor é o amor,e esta luz é a
beleza do amor. O mundo inteiro afirma de comum acordo, que cada um é
amável e belo segundo seu amor; mas, entretanto, um é o amor do Sexo
masculino, e outro o amor do Sexo feminino; o amor masculino é o amor de
ser sábio, e o amor feminino é o amor de ser sábio no masculino; quanto mais,
portanto um jovem é o amor de ser sábio tanto mais é amável e belo aos olhos
de uma jovem, e quanto mais uma jovem é o amor da sabedoria de um jovem,
tanto mais é amável e bela aos olhos de um jovem; é por isso que, assim como
um amor vai ao encontro do amor de um outro e o beija, assim também fazem
as belezas.Concluo portanto que o amor forma as belezas à sua semelhança".
383 - Depois deste, o segundo se levantou para desvendar por um discurso
agradável a O rigem da beleza; e disse: "Acabo de ouvir dizer que o Amor é a
O rigem da beleza; mas não posso me filiar a esta opinião. Q ual é o homem que
sabe o que é o Amor? Q uem o contemplou por alguma idéia do pensamento?
Q uem o viu com os olhos? Dizei-me onde ele está. M as eu afirmo que a
Sabedoria é a O rigem da beleza, nas mulheres a sabedoria que se mantém
intimamente escondida e encerrada,nos H omens a sabe doria que se manifesta
e é aparente. De onde o homem é homem, senão pela sabedoria? Se não fosse
assim, o homem seria uma estátua ou quadro. A que uma moça presta atenção
em um rapaz senão em que grau ele é Sábio? E a que um rapaz presta atenção
em uma moça senão no grau da afeição que ela tem pela sabedoria? Pela
sabedoria entendo a moralidade real, porque esta é a sabedoria da vida; daí vem
que, quando, a sabedoria que se mantém escondida se aproxima e abraça a
sabedoria que se manifesta, o que acontece interiormente no espírito de um e
de outro, elas se ligam e se conjuntam mútuamente, e isso é chamado Amor, e
então elas se apresentam de uma parte e de outra como belezas. Em uma
palavra, a Sabedoria é como a luz ou o esplendor do fogo que toca os olhos; e,
conforme toca forma a beleza".
384 - Depois deste, levantou-se o terceiro, e exprimiu-se nestes termos: "N ão é
o Amor só, nem a Sabedoria só, que é a O rigem da beleza, mas é a união do
amor e da sabedoria; a união do amor com a sabedoria em um jovem, e a união
da sabedoria com o amor da sabedoria em uma jovem; pois a jovem ama a
sabedoria, não nela mesma, mas no jovem, e por conseguinte ela o vê como
beleza; e, quando o jovem vê isso na jovem, ele a vê como beleza; por isso o
amor pela sabedoria forma a beleza, e a sabedoria pelo, amor a recebe; que seja
assim, é o que se torna bem evidente no Céu; vi aí virgens e esposas, prestei
290
385 - H á índices que mostram claramente que o Amor conjugal e o Amor dos
filhos, que é chamado Estorge, foram conjuntos; há também índices que
podem levar a crer que não foram conjuntos; pois o amor dos filhos existe nos
esposos que se amam de coração, e também nos esposos separados um do
outro, e às vezes é mais temo e mais forte nestes do que nos outros; mas que,
não obstante, o amor dos filhos foi conjunto à perpetuidade com o amor
conjugal,é o que se pode ver por sua origem,da qual influi; pois ainda que esta
origem varie nos que recebem, estes amores permanecem sempre inseparáveis,
absolutamente como o fim primeiro no fim último, que é o efeito; o fim
primeiro do amor conjugal, é a procriação de filhos, e o fim último que é o
efeito,são os filhos procriados; que o fim primeiro se transporte para o efeito, e
aí esteja como em seu começo, (primordium), e não se retire daí, pode-se vê-lo
pela intenção racional da progressão dos fins e das causas em sua ordem para os
efeitos; mas como os racionais de um grande número de homens não partem
senão dos efeitos, e vão dos efeitos a algumas conseqüências que daí resultam, e
não começam pelas causas,indo analiticamente das causas aos efeitos, assim por
diante, resulta que as cousas racionais da luz não podem deixar de tornar-se
cousas obscuras da nuvem; dai as desviações do vero, as quais têm sua fonte nas
aparências e nas ilusões. O ra, a fim de que se veja que o amor conjugal e o
amor dos filhos estão inteiramente conjuntos, ainda que exteriormente
desunidos,isso será mostrado nesta ordem:I.Duas Esferas universais procedem
do Senhor, para conservar o U niverso no estado criado; uma é a Esfera da
procriação,e a outra é a Esfera de proteção das cousas procriadas. II. Estas duas
Esferas universais fazem um com a Esfera do Amor conjugal e a Esfera do
Amor dos filhos. III. Estas duas Esferas influem universalmente em todas as
coisas do Céu e em todas as cousas do M undo, desde as primeiras até às
últimas. IV . A Esfera do amor dos filhos é Esfera da proteção e da sustentação
daqueles que não podem nem se proteger nem se sustentar a si mesmos.V .Esta
Esfera afeta tanto os maus como os bons,e dispõe cada um a amar, a proteger e
a sustentar sua progenitura segundo o próprio amor. V I. Esta Esfera afeta
principalmente o sexo feminino, assim as mães, mas por elas o sexo masculino
ou os pais.V II. Esta Esfera é também a esfera da inocência e da paz procedente
do Senhor. V III. A Esfera da inocência influi nos filhos, e por eles nos pais, e
os afeta. IX . Ela influi também nas almas dos pais, e se conjunta com a mesma
esfera nos filhos; e é insinuada principalmente pelo tato.X .N o mesmo grau em
292
Providência.
387 - II.Estas duas Esferas universais fazem um com a Esfera do amor conjugal
e a Esfera do amor dos filhos.
Q ue a Esfera do amor conjugal faça um com a Esfera da procriação, isso é
evidente; pois a procriação é o fim, e o amor conjugal a causa média per quam
(pela qual o fim avança); ora, o fim e a causa nas cousas a efetuar e nos efeitos
fazem um; porque agem juntas. Q ue a Esfera do amor dos filhos faça um com
a Esfera da proteção das cousas procriadas, isso é ainda evidente, porque ela é o
fim procedente do fim anterior, que é a procriação, e o amor dos filhos é a sua
causa média per quam; com efeito, os fins avançam em série, um após outro, e
avançando o fim último se torna primeiro, e assim ulteriormente, até ao térmo
no qual se detêm ou cessam; mas sobre este assunto ver-se-á maiores detalhes
nas explicações do Artigo X II.
388 - III. Estas duas Esferas influem universalmente e singularmente em todas
as coisas do Céu e em todas as comas do M undo, desde os primeiros até aos
últimos.
Foi dito universalmente e singularmente, porque, quando se faz menção de
um universal, os singulares de que se compõem são entendidos ao mesmo
tempo; pois é por eles que ele existe e é neles que ele consiste, assim é por eles
que ele é denominado, como o comum pelas partes; se portanto retiras os
singulares, o universal fica unicamente uma palavra, e é como uma superfície
dentro da qual nada há; é por isso que, atribuir a Deus o governo do universal,
e tirar-lhe os singulares, é uma palavra vazia, e uma espécie de atribuição vã. A
comparação com o govêrno universal dos reis da terra não poderia ser admitida.
Portanto é por isso que se diz que estas Esferas influem universalmente e
singularmente.
389 - Se as Esferas de procriação e de proteção das cousas procriadas, ou as
Esferas do amor conjugal e do amor dos filhos, influem em todas as cousas do
Céu é em todas as do M undo, desde os primeiros até aos últimos, é porque
todas as cousas que procedem do Senhor, ou do Sol que existe por Ele, e no
qual Ele está, atravessam o U niverso criado até aos últimas de todas as coisas
que o compõem; a razão disso é que os Divinos, que, na progressão, são
chamados Celestes e Espirituais, são sem espaço e sem tempo; que a extensão
não se possa dizer dos espirituais, porque o espaço e o tempo não se lhes pode
aplicar, isso é notório; daí vem que tudo que procede do Senhor existe em um
instante dos primeiros nos últimos; que a Esfera do amor conjugal seja assim
universal, vê-se acima, nºs. 222 a 225. Q ue aconteça o mesmo com a Esfera do
amor aos filhos, isso é evidente por esse amor no Céu onde estão as crianças
vindas da terra, e por este amor no M undo entre os homens, entre as bestas,
entre as aves, entre as serpentes, entre os insetos; há também semelhanças deste
amor nos reinos vegetal e mineral; no vegetal, no fato das sementes serem
294
guardadas por envólucros como cueiros, e além disso, no fruto como em uma
casa, e serem alimentados com suco como se fosse leite; que haja alguma cousa
semelhante nos minerais, isso é evidente pelas matrizes e as gangas em que as
pedras preciosas e os metais preciosos são encerrados e guardados.
390 - Se a esfera de procriação e a esfera de proteção das coisas procriadas,
fazem um em uma série contínua, é porque o amor de procriar é continuado
no amor do procriado; qual é o amor de procriar, sabe-se por seu prazer, que é
sobreeminente e transcendente; nele está o estado de procriação nos homens, e
de uma maneira notável o estado de recepção nas mulheres; este supremo
prazer segue com seu amor até ao nascimento,e aí se ,completa.
391 - IV . A Esfera do amor dos filhos é a esfera da proteção e da sustentação
dos que não podem nem proteger-se nem sustentar-se a si mesmos.
Q ue as operações dos usos pelo Senhor por meio das esferas que procedem
d'Ele sejam a Divina Providência, isso foi dito acima, nº 386; é portanto a
Divina Providência, que é entendida pela esfera de proteção e de sustentação
dos que não podem nem proteger-se nem sustentar-se a si mesmos; com efeito,
é de criação que as coisas criadas devem ser conservadas, guardadas, protegidas
e sustentadas, de outro modo o U niverso cairia em ruína; mas como isso não
pode ser feito imediatamente pelo Senhor nos sêres vivos, aos quais foi deixado
o arbítrio, isso é feito mediatamente por seu amor implantado nos pais, nas
mães, nas amas; que seu amor seja o amor procedente, do Senhor neles, eles
não o sabem, porque não percebem o influxo, nem com mais forte razão a
ompresença do Senhor; mas quem não pode ver que isso pertence não à
natureza, mas à Divina Providência operando na natureza por meio da
natureza; e que um tal U niverso não pode existir senão por Deus por meio de
um Sol espiritual, que está no Centro do U niverso, e cuja operação, porque é
sem espaço e sem tempo, é instantânea e presente dos primeiros aos últimos?
Q uanto à maneira pela qual esta Divina operação, que é a Divina Providência
do Senhor,é recebida pelos seres animados,falar-se-á dela na continuação. Q ue
as mães e os pais protegem e sustentam os filhos, porque estes não podem nem
proteger-se nem sustentar-se a si mesmos,não é esta a causa deste amor, mas há
uma causa racionalmente derivada deste amor caindo no entendimento; pois o
homem, por esta causa só, sem um amor inspirado e inspirando esta causa, ou
sem uma lei e sem uma pena que o constranjam, não proveria aos filhos mais
do que uma estátua.
392 - V . Esta Esfera afeta tanto os maus como os bons, e dispõe cada um a
amar e proteger e a sustentar sua progenitura pelo próprio amor.
A experiência prova que o Amor dos filhos ou o Estorge existe tão bem nos
maus como nos bons, igualmente nas bestas mansas e nas bestas ferozes, e que,
mesmo, nos homens maus, como nas bestas ferozes, é por vezes, mais forte e
mais ardente; a razão disso, é que todo amor procedendo do Senhor e
295
conjunção; de outro modo seria como uma semente tenra caindo sobre um
calhau, ou como um cordeiro lançado contra um lobo; dai vem, portanto, que
a inocência, que ínfluí nas almas dos pais, se conjunta com a Inocência dos
filhos. Q ue esta conjunção se faça por meio dos sentidos do corpo, mas
principalmente pelo tato,nos pais,a experiência pode ensiná-lo; por exemplo, a
vista é inteiramente deleitada por sua presença, o ouvido por sua línguagem, o
olfato, por seu odor; que a comunicação e por conseguinte a conjunção das
inocências se faça principalmente pelo tato, vê-se claramente pelo encanto que
sentem carregando-as em seus braços, abraçando-as e beijando-as, sobretudo as
mães que sentem delícias pela aplicação de sua boca e de sua face sobre o seio, e
então ao mesmo tempo pelo contato de suas mãos; em geral pela sucção das
mamas e pelo aleitamento, e além disso pelo contacto de seu corpo nu, e por
um cuidado infatigável de enfaixá-las e limpá-las sobre seus joelhos. Q ue as
comunicações do amor e de suas delícias entre os esposos se façam pelo sentido
do tato, é o que já foi demonstrado algumas vezes; se as comunicações da
mente se fazem também por este sentido, é porque as mãos são os últimos do
homem, e os primeiros estão juntos nos últimos; por isso também todas as
cousas do corpo e todas as cousas da mente, que são intermediárias, estão
contidas em um encadeamento indissolúvel; daí vem que Jesus tocava as
crianças, (M ateus X IX , 13, 15; M arcos X , 13, 16); e que curava os doentes
pelo tato; e que os que O tocavam ficavam curados; é também por isso que as
iniciações no sacerdócio se fazem hoje pela imposição das mãos. Por estas
explicacões é evidente que a inocência dos pais e a inocência dos filhos vão ao
encontro uma da outra pelo tato, sobretudo pelo toque das mãos, e que assim
se conjuntam como por beijos.
397 - Q ue a Inocência produza também, pelos contactos, nas bestas e nas aves
semelhantes efeitos, como nos homens, isso é notário; se produz efeitos
semelhantes, é porque tudo o que procede do Senhor se espalha em um
instante pelo U niverso,ver acima nº 388 a 390; e como isso vai por graus e por
contínuas mediações, passa por conseguinte não somente até aos animais, .mas
mesmo além, até aos vegetais e aos minerais, nº 389; isso passa também à terra
mesma,que é a mãe de todos os vegetais e de todos os minerais; pois na estação
da primavera, ela está, em um estado preparado para receber as sementes como
em um útero; e, quando as recebeu, as concebe, por assim dizer, as aquece, as
protege, as faz brotar, as amamenta, as alimenta, as reveste, as cria, as conserva,
e por assim dizer, ama o que é produzido, e assim por diante. Pois que a Esfera
da procriação vai até aí, porque então não chegaria até aos animais de toda
espécie,até aos vermes? Q ue,do mesmo modo que a terra é a mãe comum Idos
vegetais, há também uma mãe comum das abelhas em cada ,colmeia, é o que a
observação demonstra.
398 - X .N o mesmo grau em que a inocência se retira nas crianças, a afeição e a
conjunção diminuem também,e isso sucessivamente até à separação.
298
desprendem deles, e não fazem por eles senão o que é de seu dever. N os pais e
mães naturais, o amor dos filhinhos vem também da inocência, é verdade, mas
esta inocência recebida por eles é enrolada em torno de seu próprio amor, e por
conseguinte é por este amor e ao mesmo tempo por esta inocência, que amam
seus filhinhos,que os beijam, os abraçam, os carregam, os apertam de encontro
ao peito,e os acariciam excessivamente, e que os consideram como fazendo um
só coração e uma só alma com eles; em seguida após o estado de sua infância
até à puberdade e além, quando a inocência não opera mais, eles os amam, não
pelo temor a Deus e a piedade efetiva ou piedade na vida, nem por alguma
inteligência racional e moral neles, e pouco olham, ou mal olham para suas
afeições internas, e por conseguinte para as suas virtudes e os seus bons
costumes, mas unicamente para as cousas externas, às quais são favoráveis; a
isso adjuntam, ligam e juntam seu amor; por conseguinte, fecham mesmo os
olhos a seus vícios,desculpando-os e favorecendo-os; a razão disso é que neles o
amor dessa progenitura é também o amor deles mesmos, e este amor se liga ao
indivíduo no exterior e não entra nele como ele mesmo não entra em si.
406 - A qualidade do amor das criancinhas e do amor das crianças nos esposos
espirituais, e a qualidade destes dois amores nos esposos naturais, são
claramente discernidas pelo estado deles depois da morte; com efeito, a maior
parte dos pais, quando chegam ao mundo dos espíritos, se recordam de seus
filhos que morreram antes deles, e por isso se encontram em presença uns doa
outros, e se reconhecem mutuamente. O s pais espirituais lançam somente suas
vistas sobre eles e se informam em que estado estão; e se regozijam se a sua
sorte é feliz, e se afligem se é infeliz; e após uma conversação, uma instrução e
um aviso sobre a vida moral-celeste, separam-se deles, e antes da separação lhes
ensinam que não devem mais se lembrar déles como Pais, porque o Senhor é o
único Pai para todos no Céu, segundo Suas palavras M ateus X X III, 9; e de
modo algum se lembrarão deles como filhos. Q uanto aos pais naturais, desde
que, depois da morte, se vêem vivos, e trazem à memória seus filhos que
morreram antes deles, e que segundo seu desejo ficam em presença uns dos
outros, se conjuntam imediatamente, se conservam ligados como feixes ligados
em conjunto e então o pai cont1nuamente acha prazer em vê-los e conversar
com eles; se se disser ao pai que alguns de seus filhos aí presentes são satanases,
e que prejudicaram aos bons, ele os retém, não obstante, grupados em torno de
si,ou em grupo diante de si; se ele mesmo vê que eles causam danos e cometem
más ações, não prestam atenção a isso, e não separa nenhum deles de si;
portanto para que um tal grupo perigoso não permaneça lá, são por necessidade
enviados juntos para o inferno, e lá o pai é encerrado diante dos filhos em uma
prisão,e os filhos são separados, e enviados cada um ao lugar que convém à sua
vida.
407 - Ao que precede ajuntarei uma cousa surpreendente, é que no M undo
espiritual, vi pais que encaravam com ódio, e como com furor, crianças
302
Deus; como amaram todas as crianças com uma ternura maternal, as recebem
como suas,e as crianças então,como por sentimento inato, as amam do mesmo
modo que a suas mães; há em casa delas tantas crianças quantas desejam,
segundo o estorge espiritual. O Céu, onde estão as crianças, aparece sobre a
frente vis-a-vis da fronte,
na linha ou raio segundo o qual os Anjos olham diretamente o Senhor; lá está
situado este Céu, porque todas as crianças estão sob o auspício imediato do
Senhor; o Céu da inocência, que é o terceiro Céu, influi também sobre elas;
depois de passada esta primeira idade, são transportadas para um outro Céu,
onde são instruídas.
411 - X X . As crianças são criadas por elas sob, o auspício do Senhor, e crescem
em estatura e em inteligência como no M undo.
As crianças no Céu são educadas desta maneira: Aquela que é encarregada de as
educar lhes ensina a falar; sua primeira linguagem é unicamente um som de
afeição, no qual entretanto há alguma cousa do pensamento, pelo que o
humano no som é distinguido do som do animal; esta linguagem torna-se
gradativamente mais distinta, à medida que as idéias provenientes da afeíção
entram no pensamento; todas as suas afeições, que crescem também, procedem
da inocência; a princípio lhes são insinuadas cousas que aparecem diante dos
olhos, e que são agradáveis; e como estas cousas são de origem espiritual, nelas
influem ao mesmo tempo cousas que são do Céu, pelas quais os interiores de
sua mente são abertos. Em seguida, à medida em que são aperfeiçoadas em
inteligência, as crianças crescem em estatura, e são por isso vistas mais adultas
quanto à inteligência; a razão disso, é que a inteligência e a sabedoria são o
alimento espiritual mesmo; é por isso que estas cousas que alimentam suas
mentes, alimentam também seus corpos. M as as crianças no Céu não crescem
além da primeira juventude, aí param e aí permanecem eternamente; e quando
estão nessa idade, são dadas em casamento, ao que é provido pelo Senhor, e o
casamento é celebrado no Céu onde reside o mancebo, que imediatamente
segue a esposa ao seu Céu,ou à sua casa,se estão na mesma sociedade.Para que
eu tivesse inteira certeza de que as crianças crescem e aumentam em estatura do
mesmo modo que em inteligência, me foi permitido falar com algumas quando
ainda eram crianças, e mais tarde com as mesmas quando se tinham tornado
grandes, e eu vi mancebos de uma estatura semelhante à dos mancebos no
M undo.
412 - As crianças são instruídas principalmente por meio de R epresentativos
adequados e conforme ao seu gênio; e mal se poderia crer no M undo quanto
estes representativos são belos e ao mesmo tempo cheios de uma sabedoria
interior; é-me permitido referir aqui dois R epresentativos,pelos quais se poderá
julgar os outros. U m dia, representavam o Senhor subindo do sepulcro, e ao
mesmo tempo a união de Seu H umano com o Divino; primeiro apresentavam
a idéia do sepulcro, mas não ao mesmo tempo a idéia do Senhor, a não ser de
304
tal modo afastada, que mal se percebia que era o Senhor senão como de longe,
e isso porque a idéia do sepulcro encerra alguma cousa de fúnebre que eles
afastavam assim; em seguida introduziam com prudência no sepulcro uma
espécie de atmosfera que parecia todavia como ligeiramente aquosa, pela qual
significavam, também por meio de afastamento conveniente, a vida espiritual
no Batismo. Eu os vi em seguida representar a descida do Senhor para os que
estavam nas prisões, e Sua ascenção ao Céu com eles; e, o que era infantil, é
que faziam descer fios quase imperceptíveis, muito finos e muito flexíveis, com
os quais sustentavam o Senhor em Sua ascençâo, estando sempre em um santo
temor de que alguma parte de seu representativo não tocasse em alguma cousa
que não encerrasse o celeste. Além de outras representações, pelas quais são ao
mesmo tempo conduzidos aos conhecimentos do vero e às afeições do bem,
como por brinquedos conformes aos caracteres das crianças. As crianças são
levadas a estas cousas e a outras semelhantes pelo Senhor, por meio da
inocência que atravessa o terceiro Céu; e assim os espirituais são insinuados em
suas afeições e daí em seus tenros pensamentos, de maneira que estas crianças
não sabem outra cousa senão que fazem e pensam tais cousas por si mesmas;
por aí é iniciado o seu entendimento.
413 - X X I. Lá, é provido pelo Senhor a que a inocência da infância se torne a
inocência da sabedoria.
M uitas pessoas podem crer que as crianças permanecem crianças, e se tornam
Anjos imediatamente após a morte; mas é a inteligência e a sabedoria que fazem
o Anjo; é por isso que enquanto as crianças não as possuem, estão, é verdade,
entre os Anjos, mas não são Anjos; elas se tornam Anjos desde que se tornam
inteligentes e sábias. As crianças são conduzidas da inocência da infância à
inocência da sabedoria, isto é, da inocência externa à inocência interna; esta
inocência é o fim de toda sua instrução e de toda sua progressão; é por isso
que,, quando atingem a inocência da sabedoria, a inocência da infância, que
lhes tinha durante esse tempo, servido de plano, lhes é adjunta. V i representar
qual é a inocência da infância por alguma cousa de lenhosa, quase privada de
vida, e que é vivificada à medida em que as crianças se embebem de
conhecimentos do vero e da afeição do bem; e em seguida foi representada qual
é a inocência da sabedoria por uma criança viva e nua; os Anjos do terceiro
Céu, que estão pelo Senhor, mais que todos os outros, no estado de inocência,
aparecem como crianças num aos olhos dos espíritos que estão abaixo dos
Céus, e como são mais sábios que todos os outros, são também mais vivos; a
razão disso é que a inocência corresponde à infância e também à nudez; é por
isso que se diz de Adão e de sua esposa, quando estavam no estado de
inocência, que estavam nus e não se envergonhavam, mas que depois que
perderam seu estado de inocência, se envergonharam de sua nudez e se
esconderam, (G ênesis II, 25; III, 7, 10, 11); em uma palavra, quanto mais os
Anjos são sábios, tanto mais são inocentes. Q ual é a Inocência da sabedoria,
305
vulgo, aquilo que não vê e não compreende? O que há de mais evidente senão
que a N atureza é tudo em tudo? Q uem viu com os olhos outra cousa que não
fosse a N atureza? Q uem ouviu com os ouvidos outra cousa que não fosse a
N atureza? Q uem cheirou com as narinas outra coisa que a N atureza? Q uem
saboreou com a língua outra cousa que não fosse a N atureza? Q uem sentiu
pelo tato outra cousa que não fosse a natureza? O s sentidos de nosso corpo não
são as únicas testemunhas das verdades? Q uem não pode por elas jurar que tal
cousa é de tal maneira? As vossas cabeças não estão na N atureza? De onde vem
o influxo dos pensamentos das cabeças, senão da N atureza? Se a N atureza fosse
retirada, poderíeis pensar alguma cousa?" Além de muitos outros argumentos
da mesma espécie. O s Anjos depois de os haverem escutado, responderam:
"Falais assim, porque sois internamente sensuais; nos Infernos, têm as idéias
dos pensamentos mergulhadas nos sentidos do corpo, e não podem elevar as
mentes acima destes sentidos, por isso nós vos perdoamos; a vida do mal e em
conseqüência a fé do falso fecharam os interiores de vossa mente, ao ponto de
em vós a elevação acima dos sensuais não ser possível, senão em um estado
afastado dos males da vida e dos falsos da fé; pois um Satanás pode, do mesmo
modo que um Anjo, compreender o vero quando o ouve pronunciar, mas não
o retém, porque o mal oblitera o vero e introduz o falso; mas percebemos que
vós, no momento, estais neste estado afastado, e que assim podeis compreender
o vero que nós percebemos; prestai pois atenção às palavras que vamos dizer".
E disseram: "Estivestes no M undo natural, e lá morrestes, e agora estais no
M undo espiritual; soubestes antes alguma cousa sobre a vida após a morte?
N ão,a negastes e não vos fizestes semelhantes às bestas? Soubestes antes alguma
cousa sobre o Céu e o Inferno,alguma cousa sobre a luz e o calor deste mundo?
Sobre o fato de que não estais mais dentro da N atureza, mas acima da
N atureza? Pois este M undo, e tudo que ele encerra, é espiritual, e os espirituais
estão acima dos naturais, a um tal ponto que a menor cousa da N atureza não
pode mesmo influir neste M undo; mas vós, porque acreditais a N atureza Deus
ou Deusa, acreditais também que a luz e o calor deste M undo são a luz e o
calor do M undo natural, quando entretanto não o são em cousa alguma; pois a
luz natural é aqui obscuridade, e o calor é aqui o frio; soubestes alguma cousa
do Sol deste M undo,de onde procedem a nossa Luz e o nosso Calor? Soubestes
que este Sol é puro Amor, e que o Sol do M undo natural é puro fogo?
Soubestes que o Sol do M undo, que é puro fogo, é aquilo pelo qual a N atureza
existe e subsiste, e que o Sol do Céu, que é puro Amor, é aquilo pelo qual
existe e subsiste a V ida mesma que é o Amor unido à Sabedoria; e que assim a
N atureza, que fazeis Deus ou Deusa, é inteiramente morta? Podeis, se vos fôr
dado um guarda, subir conosco ao Céu, e nós podemos, se nos fôr dado um
guarda, descer convosco ao Inferno, e vereis no Céu objetos magníficos e
resplandecentes, e no Inferno objetos disformes e imundos; estas diferenças
vêm de que nos Céus todos adoram a Deus, e que nos Infernos todos adoram a
N atureza; estes objetos magníficos e resplandecentes nos Céus são as
307
suas partes mais sutis são distintamente postas em ação.Pois que a vista do olho
é tão grosseira, que um grande número destes insetos, como as partes inúmeras
que cada um encerra, aparecem como um pequeno ponto obscuro, e que
entretanto os que são sensuais pensam e julgam segundo esta vista, vê-se
claramente quanto sua mente se tornou espessa, e por conseguinte em que
obscuridade eles estão sobre as coisas espirituais.
417 - "Cada um pelas cousas visíveis na natureza pode se confirmar pelo
Divino, se quiser; e também se confirma aquele que pensa em Deus segundo a
V ida, por exemplo, quando vê os V oláteis do Céu; cada espécie conhece seus
alimentos e sabe onde estão, conhece seus semelhantes pelo som e pela vista, e
entre os outros, os que são amigos e os que são inimigos; formam casamentos,
conhecem o lugar do acasalamento, constroem ninhos com arte, aí põem seus
ovos, os chocam, sabem o tempo de incubação, quando acaba, fazem sair dos
ovos os filhotes que amam com ternura, aquecem-nos sob as asas,
preparam-lhes alimento, e lhes dão o biscate, e isto até que estejam em estado
de agir por si mesmos, e possam fazer como eles e procriar uma família para
perpetuar a raça. Q uem quer pensar no influxo Divino vindo pelo M undo
espiritual ao M undo natural, pode ver este influxo nestas ciências; pode
também, se quiser, dizer em seu coração: O Sol não pode dar tais ciências a
estes voláteis pelos raios de sua luz, pois o Sol de onde a N atureza se origina e
tira sua essência, é puro fogo, e por conseguinte os raios de sua luz são
absolutamente mortos; e assim pode-se concluir que tais cousas vêm do influxo
da Divina Sabedoria nos últimos na natureza.
418 - "Cada um pelas cousas visíveis na N atureza pode se confirmar pelo
Divino quando vê os V ermes que, pelo prazer de um certo amor, são levados e
aspiram a mudar seu estado terrestre em um estado que é análogo ao estado
celeste, e para isso se arrastam para lugares convenientes e se metem como em
um útero a fim de renascer, e aí se tornam crisálidas, aurélios, ninfas, e enfim
borboletas; e quando sofreram esta M etamorfose, e, segundo sua espécie, foram
decorados com asas magníficas, voam no ar como em seu céu, ai brincam
alegremente, e formam casamentos, põem ovos, e provêm à sua posteridade; e
então se alimentam com alimento agradável e doce que tiram das flores. Entre
os que se confirmam pelo Divino pelas coisas visíveis na natureza, há alguém
que não veja nestes seres, como vermes, uma espécie de imagem do estado
terrestre do homem, e nestes mesmos seres, como borboletas, uma espécie de
imagem do estado celeste? Aqueles, ao contrário, que se confirmam pela
N atureza, vêem, é verdade, estas maravilhas; mas, como rejeitaram para longe
de si, o estado celeste do homem, eles as chamam de puros instintos da
natureza.
419 - "Cada um pelas coisas visíveis na N atureza pode se confirmar pelo
Divino, quando presta atenção a tudo que se conhece das Abelhas. Elas sabem
das plantas e das flores recolher a cera, sugar o mel, construir células como
310
pequenas casas,e dispô-las em forma de cidade, com lugares pelos quais entram
e pelos quais saem; sentem de longe o perfume das flores e das plantas, de que
recolhem a cera para a casa e o mel para alimento; e, quando estão carregadas
disso, voam segundo a plaga para sua colmeia, assim elas provêm a sua
alimentação e à sua habitação para o inverno seguinte, como se tivessem
conhecimento disso e o previssem; também põem à sua testa como rainha uma
soberana, pela qual a raça será propagada, e constroem para ela uma espécie de
palácio acima de suas células, colocando guardas em torno; quando chega o
tempo da postura, a rainha, acompanhada da guarda vai de célula em célula e
põe ovos, que a tropa que a segue cerca de um embôço para que não seja
alterado pelo ar; daí para elas uma nova raça; mais tarde, quando esta geração
chegou à idade necessária para poder fazer os mesmos trabalhos, é expulsa da
colônia; o enxame expulso, primeiro se reúne, depois se forma em massa, a fim
de que a consociação não seja rompida, e em seguida voa em busca de um
domicílio; no outono, os zangões inúteis são também expulsos e privados de
suas asas, para que não voltem e consumam os alimentos, para cujo
aprovisionamento não cooperaram em cousa alguma; sem falar de vários outros
fatos notáveis; por isto pode-se ver que é em razão do uso, prestado por elas ao
G ênero H umano, que recebem do influxo pelo M undo espiritual uma forma
de govêrno,tal como existe entre os homens nas terras, e mesmo entre os Anjos
nos Céus. Q ual é o homem provido de uma razão sã, que não vê que tais
cousas nos insetos não vêm no M undo natural? O que é que o Sol, de onde
provém a N atureza, tem de comum com um governo semelhante e análogo ao
governo celeste? Por estas observações e outras semelhantes entre as bestas
brutas, aquele que reconhece e adora a natureza se confirma pela natureza,
enquanto que aquele que reconhece e adora a Deus se confirma pelo Divino,
pois o homem espiritual aí vê cousas espirituais, e o homem natural ai vê
cousas naturais,assim cada um segundo o que ele mesmo é. Q uanto ao que me
concerne, tais observações foram para mim testemunhos do influxo do
espiritual no natural, ou do M undo espiritual no M undo natural, assim
procedendo da Divina Sabedoria do Senhor. Q ue se examine agora se, a
respeito de alguma forma de govêrno, ou de alguma lei civil, ou de alguma
virtude moral, ou de alguma verdade espiritual, é possível pensar
analiticamente, a não ser que o Divino, pela Sua Sabedoria, influa pelo M undo
espiritual; quanto a mim, isso me foi e me é impossível; tenho notado, com
efeito, este influxo de uma maneira perceptível e sensível desde vinte e cinco
anos continuamente,falo portanto segundo um testemunho certo.
420 - "A N atureza pode ter por fim o uso, e dispor os usos em ordem e em
formas? Só o Sábio o pode; e não há senão Deus, em Q uem a Sabedoria é
infinita, que possa assim ordenar e formar o U niverso, que outro pode prever
para os homens o que é necessário à alimentação e ao vestuário, e prover isso; a
alimentação pelos frutos da terra, e pelos animais; ao vestuário por
estas.mesmas cousas e estes mesmos animais? N ão está no número das
311
maravilhas, que estes vis inseres, que se chamam bichos da seda, forneçam
vestuário e decorem com magnificência às mulheres e aos homens, desde as
rainhas e os réis até às camareiras e aos camareiras; e que estes vis insetos, que
se chamam abelhas, forneçam a cera para a luz que enche de esplendor os
T emplos e os Palácios? Estas cousas e muitas outras são provas existentes de que
o Senhor opera por Si M esmo pelo M undo espiritual todas as cousas que estão
na N atureza.
421 - "A isto devo acrescentar, que no M undo espiritual vi aqueles que, pelas
coisas visíveis no M undo se tinham confirmado pela N atureza até se tornaram
ateus; e que seu entendimento na luz espiritual me apareceu aberto por baixo,
mas fechado por cima; e isso,porque pelo pensamento eles olhavam para baixo,
para a terra, e não para cima, para o Céu; acima do sensual, que é o ínfimo do
entendimento, aparecia como um véu, em alguns brilhando por um fogo
infernal, em outros negro como a fuligem, e em outros lívido como um
cadáver. Q ue cada um se guarde, portanto, das confirmações pela N atureza;
mas que se confirme pelo Divino; os meios não faltam.
422 - "É verdade que alguns são desculpáveis de ter atribuido à N atureza certas
cousas visíveis; e isso porque nada souberam do Sol do M undo espiritual, onde
está o Senhor, nem do influxo que dele procede, nem cousa alguma desse
M undo e de seu estado, nem mesmo cousa alguma de sua presença no homem;
e que por conseguinte não puderam pensar senão que o espiritual era um
natural mais puro; que assim os Anjos estavam ou no éter ou nas estrelas; que a
respeito do Diabo, era ou. o mal do homem, ou, se existe efetivamente, estava
ou no ar ou nos lugares profundos, que as almas dos homens, depois da morte,
ficavam ou no íntimo da terra, ou em um não se sabe onde (ubi seu pu) até ao
dia do julgamento; e outras cousas semelhantes que a fantasia introduz por
ignorância do M undo espiritual e de seu Sol; é isto que torna desculpáveis
aqueles que acreditaram que a N atureza produz as cousas visíveis segundo um
ínsito, de criação; mas sempre acontece que aqueles que, por confirmações pela
N atureza, se fizeram ateus, não são desculpáveis, porque podiam se confirmar
pelo Divino; a ignorância desculpa, é verdade, mas não retira o falso
confirmado; pois este falso é coerente com o mal, e o mal é coerente com o
Inferno.
312
Da oposição do amor
escortatório e do amor conjugal
423 - "Ao iniciar este assunto, é preciso primeiro declarar o que, neste
Capítulo, é entendido pelo Amor Escortatório: Por Amor Escortatório não é
entendido o Amor fornicatório que precede o casamento, nem o que o segue
após a morte de um dos esposos; nem a Concubinagem que se faz por causas
legitimas, justas e conscienciosas; não são entendidos também os gêneros leves
de Adultério, nem os gêneros graves, de que o homem se arrepende realmente,
pois estes não se tornam opostos ao Amor Conjugal, e aqueles não são opostos;
que não sejam opostos verse-á em seguida, quando se tratar de cada um destes
gêneros. M as, pelo Amor Escortatório oposto ao Amor Conjugal, é entendido
aquio Amor do Adultério, quando é tal que é considerado, não como pecado,
nem como mal e ação desonesta contra a razão, mas como permitido com
razão. Este Amor Escortatório faz não somente o Amor Conjugal semelhante a
ele, mas o derruba, o destrói, e por fim o toma em aversão. N este Capítulo, se
trata da oposição deste amor ao amor conjugal; que não se trata de um outro
amor, pode-se vê-lo pelos Capítulos seguintes sobre a Fornicação, a
Concubinagem e os diversos gêneros de Adultério". M as a fim de que esta
oposição seja posta em evidência diante da vista racional, ela vai ser
demonstrada nesta série: I. N ão se sabe qual é o Amor escortatório, a menos
que se saiba qual é o Amor conjugal.II.O Amor escortatório é oposto ao Amor
conjugal.III.O Amor escortatório é oposto ao Amor conjugal, como o homem
natural,considerado em si mesmo,é oposto,ao homem espiritual. IV . O Amor
escortatório é oposto ao Amor conjugal, como a conexão (connumbium) do
mal e do falso, é oposto ao casamento do bem e do vero. V . Daí, o Amor
escortatório é oposto ao Amor conjugal, como o Inferno é oposto ao Céu. V I.
A impureza do Inferno vem do Amor escortatório, e a pureza do Céu vem do
Amor conjugal. V II. Semelhantemente, na Igreja, a impureza e a pureza. V III.
O Amor escortatório faz cada vez mais o homem (homo) não homem (homo) e
não varão (vir); o Amor conjugal faz o homem cada vez mais homem (homo) e
varão (vir). IX . H á uma Esfera de amor escortatório e uma Esfera de amor
conjugal.X . A Esfera do amor escortatório sobe do Inferno, e a Esfera do amor
conjugal desce do Céu. X I. Estas duas Esferas se encontram uma com a outra
em um e outro M undo,mas não se conjuntam.X II.Entre estas duas Esferas há
um equilíbrio. X III. O homem pode se voltar para aquela que lhe agrada, mas
quanto mais se volta para uma,tanto mais se afasta da outra. X IV . U ma e outra
Esfera traz consigo prazeres. X V . O s prazeres do amor escortatório começam
pela carne, e pertencem à carne, mesmo no espírito; mas os prazeres do amor
314
confirmado nisso, sua razão se admira de todas estas coisas doces que são ditas
do Amor conjugal; mais ainda, combate contra elas, como foi dito acima, e
triunfa; e, do mesmo modo que um vencedor após a carnificina destrói desde
os extremos até aos íntimos o campo do Amor conjugal nele; eis o que faz o
homem natural segundo seu Amor escortatório. Isto é dito para que se saiba de
onde vem a oposição de estes dois amores; pois como já foi mostrado em
muitos lugares, o Amor conjugal, considerado em si mesmo, é um Amor
espiritual, e o Amor escortatório, considerado em si mesmo, é um Amor
natural.
427 - IV . O Amor escortatório é oposto ao Amor conjugal, como a conexão
(connubium) do mal e do falso é oposta ao casamento do bem e do vero.
Q ue a origem do amor conjugal vem do casamento do bem e do vero, isso foi
demonstrado em seu próprio Capítulo, nº 83 a 102; segue-se daí, que a origem
do Amor escortatório vem da conexão (connubium) do mal e do falso, e que
por conseguinte estes dois amores são opostos como o mal é oposto ao bem, e o
falso do mal ao vero do bem; são os prazeres de de um e outro amor, que são
assim opostos, pois um Amor sem seus prazeres nada é. Q ue estes prazeres
sejam assim opostos uns aos outros, não se vê absolutamente; se não se vê é
porque o prazer do Amor do mal nos extremos assemelha-se ao prazer do amor
do bem; mas nos internos o prazer do amor do mal consiste em puras cobiças
do mal,o mal mesmo é a massa conglobada ou a aglomeração destas cobiças; ao
contrário, o prazer do amor do bem consiste em inumeráveis afeições do bem,
o bem mesmo é como o feixe unido destas afeições; este feixe e esta
aglomeração não são sentidos pelo homem senão como um único prazer; e uma
vez que o prazer do mal nos externos assemelha-se ao prazer do bem, como já
foi dito, é por isso também que o prazer do adultério assemelha-se ao prazer do
casamento; mas depois da morte, quando todos depõem os externos, e os
internos são postos a nu, é sensivelmente manifesto que o mal do adultério é o
aglomerado das cobiças do mal, e que o bem do casamento é o feixe das
afeições do bem,e assim eles são absolutamente opostos um ao outro.
428 - Q uanto ao que concerne à conexão (connubium) mesmo do mal e do
falso,é preciso que se saiba que o mal ama o falso, e quer que seja um com ele,
e mesmo se conjugam; que semelhantemente o bem ama o vero e quer que seja
um com ele, e mesmo se conjugam; daí é evidente que, como a origem
espiritual do casamento é o casamento do bem e do vero, do mesmo modo a
origem espiritual do adultério é a conexão (connubium) do mal e do falso; é daí
que esta conexão é entendida, no sentido espiritual da Palavra, pelos adultérios,
as escortações,e as prostituições, ver o Apocalipse R evalado, nº 134. É segundo
este princípio que aquele que está no mal e esposa o falso, ou que está no falso
e admite o mal na partilha de seu leito, confirma o adultério pela aliança que
contraiu, e o comete tanto quanto o ousa e o pode; ele o confirma segundo o
mal pelo falso, e o comete segundo o falso pelo mal; e assim vice-versa, aquele
317
que está no bem e esposa o vero, ou que está no vero e admite o bem em
comunidade de leito com ele, se confirma contra o adultério, e abraça a feliz
vida conjugal.
429 - V .Daí o Amor escortatório é oposto ao Amor conjugal como o Inferno é
oposto ao Céu.
T odos aqueles que estão no Inferno estão no connubium do mal e do falso, e
todos os que estão no Céu estão no casamento do bem e do vero; e como o
connubium do mal e do falso é também o adultério, como acaba de ser
mostrado, nºs 427, 428, o inferno é também este connubium; daí vem que
todos aí estão no desejo libidinoso, na lascívia e na impudicas do amor
escortatório, e que fogem e têm em horror as cousas castas e pudicas do amor
conjugal, ver acima, nº 428. Por estas considerações, pode-se ver que estes dois
amores,o escortatório e o conjugal, são opostos um ao outro, como o inferno é
posto ao Céu,e o Céu ao inferno.
430 - V I.A impureza do Inferno vem do Amor escortatório, e a pureza do Céu
vem do Amor conjugal.
T odo e inferno regurgita de impurezas,e sua origem universal é o impudico e o
obsceno Amor escortatório; em tais impurezas são mudados seus prazeres;
quem é que pode crer que no M undo espiritual, todo prazer do amor se
apresenta à vista sob diversas aparências, ao olfato sob diversos odores, e aos
olhos sob diversas formas de bestas e de aves? As Aparências sob as quais, no
inferno, os prazeres lascivos do Amor escortatório se apresentam à vista, são
estrumeiras e lamaçais; os odores, pelos quais se fazem sentir, são maus cheiros
e infecções; e as Formas de bestas e de aves, sob as quais se apresentam aos
olhos, são porcos, serpentes, e aves chamadas O chim e T ziim. É o contrário a
respeito dos castos prazeres do Amor conjugal no Céu; as Aparências, sob as
quais aí se apresentam à vista, são jardins e planícies floridas; os odores, pelos
quais se fazem sentir, são os doces perfumes das frutas e as suaves exalações das
flores; e as Formas de animais sob as quais se apresentam aos olhos, são
cordeiros, cabritos, rolinhas e aves do paraíso. Q ue os prazeres dos amores
sejam mudados em tais e semelhantes formas, é porque todas as cousas que
existem no M undo espiritual são correspondências; os internos das mentes dos
habitantes são mudados nestas correspondências, quando se transportam e se
tornam externos diante dos sentidos. M as é preciso que se saiba que há
variedades inúmeras de impurezas, em que são mudadas as lascívias das
escortações, quando passam para suas correspondências; e as variedades são
segundo os gêneros e as espécies de lascívias, que se podem ver nos Artigos
seguintes, onde se trata dos adultérios e de seus graus; todavia, tais impurezas
não saem dos prazeres daqueles que se arrependem, porque no M undo foram
lavados.
431 - V II.Semelhantemente,na Igreja,a impureza e a pureza.
318
face por sua linguagem e por seus costumes; por isto vê-se que o Amor conjugal
faz o homem (homo) cada vez mais homem (homo). Q ue seja o contrário para
os adúlteros, a oposição mesma do adultério e do casamento, de que se tratou
neste Capítulo, e de que ainda se trata, o prova claramente; por exemplo: 1º.
Pelo fato de que os adultérios não são espirituais, mas são extremamente
naturais; ora, o homem natural, separado do homem espiritual, é homem
unicamente quanto ao entendimento, mas não quanto à vontade; ele a
mergulha no corpo e nas cobiças da carne, e no mesmo instante o
entendimento o acompanha; que ele não seja senão um meio homem (homo),
ele mesmo pela razão de seu entendimento, se o eleva, pode vê-lo. 2º. Q ue os
adúlteros não são sábios em seus discursos e em seus gestos, senão quando estão
em sociedade com pessoas eminentes em dignidade, celebres pela erudição e de
costumes exemplares; porém, sós, em casa, eles são insensatos, considerando
como nada as cousas Divinas e as cousas Santas da Igreja, e maculando os
princípios morais da vida com cousas impudicas e incastas, é o que será
provado no Capítulo sobre os Adultérios; quem é que não vê que tais
saltimancos são homens somente quanto à figura externa,e não homens quanto
à forma interna? Q ue os adúlteros se tornam cada vez mais não homens, é o
que eu vi com os meus próprios olhos, no inferno, o que foi para mim uma
confirmação evidente; pois lá há demônios que, quando são vistos à luz do
Céu, aparecem como tendo a face coberta de pústulas, o corpo encurvado, a
voz rouca e os gestos de saltimbancos. "É preciso, porém, que se saiba que tais
são os adúlteros de propósito determinado e por confirmação, mas não os
adúlteros sem deliberação; pois há quatro gêneros de adúlteros, de que se
tratará no Capítulo concernente aos adultérios e seus graus; os adúlteros de
propósito determinado são aqueles que o são pelo desejo libidinoso da vontade;
os adúlteros por confirmação, aqueles que o são pela persuasão do
entendimento; os adúlteros por deliberação, aqueles que o são pelos atrativos
dos sentidos; e os adúlteros sem deliberação, aqueles que não têm a faculdade,
ou não têm a liberdade de consultar o entendimento. O s dois primeiros
gêneros de adúlteros são os que se tornam cada vez mais não homens; mas os
dois últimos gêneros tornam-se homens à medida em que se retiram de seus
erros; e em seguida se tornam sábios".
433 - Q ue o Amor conjugal faça o homem (homo) cada vez mais varão (vir),
isso também é ilustrado pelas coisas que foram referidas na Parte precedente
sobre o Amor conjugal e suas delícias, a saber, 1º Q ue a faculdade e a virtude,
que é chamada viril, acompanha a sabedoria, conforme esta é animada pelos
espirituais da Igreja, e por conseguinte reside no Amor conjugal; e que a
sabedoria deste Amor abre uma veia desde sua fonte na Alma, e assim dá vigor
à vida intelectual,que é a vida masculina mesma,e a torna continuamente feliz.
2º Q ue é por isso que os Anjos do Céu estão eternamente nesta faculdade,
segundo suas próprias palavras no M emorável, nºs 355, 356; que os
Antiquíssimos nos séculos do ouro e da prata, tinham estado também nesta
320
M undo,e aquele pelo Céu; segue-se daí que o R acional humano pode-se voltar
para um e outro lado, e receber o influxo; se o homem se volta para o bem,
recebe o influxo de cima, e então seu R acional é formado cada vez mais para a
recepção do Céu; mas se ele se volta para o mal, recebe este influxo de baixo, e
então seu R acional é formado cada vez mais para a recepção do Inferno. Se
estas duas Esferas não se conjuntam, é porque são opostas, não agem entre si
senão como inimigos,dos quais um ardendo com um ódio mortal ataca o outro
com furor,enquanto que o outro não está em ódio algum,mas está unicamente
animado pelo zêlo para se defender; por estas considerações é evidente que estas
duas Esferas se encontram apenas, mas não se conjuntam. O interstício
mediano que elas fazem existe de uma parte pelo mal do não falso e o falso do
não mal, e de outra parte pelo bem do não vero e o vero do não bem, que
podem,é verdade,se alcançar,mas não entretanto se conjuntar.
437 - X II. Entre estas duas Esferas há um equilíbrio, e o homem está nesse
equilíbrio.
O equilíbrio entre elas é um equilíbrio espiritual, porque é entre o bem e o
mal; por este equilíbrio o homem tem o livre arbítrio; neste livre e por meio
deste livre, o homem pensa e quer, e por conseguinte fala e age, como por si
mesmo; seu R acional está na opção e na escolha, seja que queira receber o bem,
seja que queira receber o mal, por conseqüência, seja que queira racionalmente
pelo livre se dispor para o amor conjugal, seja que queira racionalmente pelo
livre se dispor para o amor escortatório; se é para este, ele volta o occiput e o
dorso para o Senhor; se é para aquele, volta a fronte e o peito para o Senhor; se
se volta para o Senhor, a sua racionalidade e a sua libredade, não dirigidas pelo
Senhor, mas se volta o dorso para o Senhor, a sua racionalidade e a sua
liberdade são dirigidas pelo inferno.
438 - X III. O homem pode se voltar para a Esfera que lhe agrada, mas quanto
mais se volta para uma,tanto mais se afasta da outra.
O homem foi criado a fim de que, pelo livre segundo a razão, e absolutamente
como por si mesmo, ele faça o que faz; sem o livre e sem a razão, ele não seria
um homem,mas seria uma besta; pois não receberia cousa alguma influindo do
Céu sobre ele, e não se apropriaria de cousa alguma como sua e, por
conseguinte cousa alguma da vida eterna poderia ser inscrita nele; pois para que
uma cousa seja sua, deve ser inscrita nele como lhe pertencendo, e visto que
não existe livre algum para um lado, a não ser que exista um semelhante para o
outro lado, como não há balança a não ser que os pratos possam, de uma parte
e de outra, sair do equilíbrio, do mesmo modo se o homem não tem o livre
segundo a razão de aceder também ao mal, de ir assim da direita para a
esquerda e da esquerda para a direita, semelhantemente para a esfera infernal,
que é a esfera do adultério,como pra a Esfera celeste que é a do casamento.
439 - X IV .U ma e outra Esfera traz consigo prazeres.
322
Q uer dizer que uma e outra Esfera, a do amor escortatório que sobe do
Inferno, e a do amor conjugal que desce do Céu, afetam com prazeres o
homem (homo) que recebe. Isto resulta de que o último plano, no qual os
prazeres de um e de outro amor se terminam, e onde se realizam e se
completam, e que os apresenta a seu próprio sentimento, é o mesmo; daí
resulta que as carícias escortatórias e as carícias conjugais são percebidas
semelhantemente nos extremos, ainda que sejam absolutamente diferentes nos
internos; que por conseguinte elas sejam diferentes também nos extremos,é um
ponto não decidido segundo um sentido de diferença; pois as dessemelhanças
provenientes das diferenças nos extremos não são sentidas senão por aqueles
que estão no amor verdadeiramente conjugal; com efeito, o mal é conhecido
pelo bem,mas o bem não é conhecido pelo mal,do mesmo modo que um odor
doce não é discernido por uma narina a que se ligou um odor desagradável.
O uvi dizer pelos Anjos que eles díscernem nos extremos o lascivo do não
lascivo, como se diferencia um fogo de esterco ou de chifre queimado, pelo seu
mau cheiro, de um fogo de substâncias aromáticas ou de cinamomo pelo seu
odor agradável; e que isso provém da diferença dos prazeres internos que
entram nos prazeres externos e os compõem.
440 - X V . O s prazeres do amor escortatório começam pela carne, e pertencem
à carne mesmo no espírito; mas os prazeres do amor conjugal começam no
espírito e pertencem ao espírito,mesmo na carne.
Se os prazeres do amor escortatório começam pela carne, é porque os ardores
da carne são o seu começo; se estes prazeres infectam o espírito, e pertencem à
carne, mesmo no espírito, é porque a carne não sente as cousas que acontecem
na carne, mas é o espírito que as sente; dá-se com este sentido como com todos
os outros, assim não é o olho que vê e que discerne as diversas cousas nos
objetos, mas é o espírito; também não é o ouvido que ouve e que discerne a
harmonia das modulações no canto, e as concordâncias da articulação dos sons
na linguagem,mas ,é o espírito; e o espírito sente tudo segundo sua elevação na
sabedoria; o espírito que não foi elevado acima dos sensuais do corpo, e que
por conseguinte aí fica preso,não sente outros prazeres senão os que influem da
carne e do mundo pelos sentidos do corpo; ele os apreende, se deleita com eles
e os faz seus. O ra,como os começos do amor escortatório não são senão os
ardores e os pruridos da carne, é evidente que, no espírito, são sujos atrativos
que excitam e abrasam à medida que sobem e descem, e agem alternadamente.
Em geral, a cupidez da carne, considerada em si mesma, não é mais do que
cobiças aglomeradas do mal e do falso; daí vem este vero na Igreja, de que a
carne cobiça contra o espírito, isto é, contra o homem espiritual; segue-se
portanto que os prazeres da carne, quanto aos prazeres do amor escortatório,
não são mais do que efervescências de desejos libidinosos que no espírito se
tornam ebulições de impudicícias.
441 - M as os prazeres do amor conjugal nada têm de comum com os prazeres
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equilíbrio, que, porque existe entre o bem e o mal, ou, o que é a mesma coisa,
entre o Céu e o Inferno, é um equilíbrio espiritual, o qual, naqueles que aí
estão, produz o Livre; por este equilíbrio o Senhor atrai todos os homens para
Ele, e retira do mal para o bem, e assim para o Céu, o homem que O segue
pelo livre; dá-se o mesmo, com o amor, principalmente o amor conjugal, e o
amor escortatório, este amor é o mal, e aquele é o bem; todo homem que
escuta a voz do Senhor, e pelo livre a segure, é introduzido pelo Senhor no
amor conjugal, e em todos os seus prazeres e em todas as suas felicidades; mas
aquele que não escuta e não segue, se introduz a si mesmo no amor
escortatório,e,a principio, em seus prazeres, em seguida em seus desprazeres, e
por fim em suas infelicidades". Depois que eu assim falei, estes dois Anjos,
fizeram esta pergunta: "Como o mal pôde existir, pois que por criação não
existe senão o bem? Para que uma cousa exista é preciso que tenha uma origem;
o bem não pode ser a origem do mal, porque o mal nada tem do bem, pois ele
é o privador e o destruidor do bem; todavia, entretanto, pois que existe e é
sentido, não é um nada, mas é alguma cousa; diz-nos pois de onde esta alguma
cousa existiu após nada". A isso respondi: "Este Arcano não pode ser aberto, a
não ser que se saiba que nada é bom senão Deus só, e que não há bem algum
que em si mesmo seja o bem, a não ser por Deus; é por isso que, aquele que
eleva seus olhos para Deus, e quer ser conduzido por Deus, está no bem; mas
aquele que se afasta de Deus, e quer ser conduzido por si mesmo, não esta no
bem, pois o bem que ele faz é, ou para ele mesmo, ou para o mundo, por
conseguinte, ou meritório, ou simulado ou hipócrita; daí é evidente que o
homem mesmo é a origem do mal, não porque esta origem tenha sido
implantada no homem por criação, mas ele mesmo implantou-a em si,
afastando-se de Deus para se voltar para si. Esta origem do mal não estava nem
Adão nem ,em sua esposa; mas quando a serpente disse: "no dia em que
comerdes da árvore da ciência do bem e do mal, sereis como Deus” (G ênesis
III, 5) e então eles se afastaram de Deus e se voltaram para si mesmos como
para um Deus, fizeram neles a origem do mal; comer desta árvore significava
crer que se sabe o bem e o mal e que se é sábio por si mesmo, e não por Deus".
M as então os dois Anjos disseram: "Como o homem pede se afastar de Deus, e
se voltar para si mesmo, quando entretanto o homem nada pode querer, nada
pensar, nem por conseguinte, nada fazer senão, por Deus? Por que Deus
permitiu isso?" Eu respondi, porém: “O homem foi criado de maneira que
tudo o que ele quer, pensa e faz, lhe aparece como nele, e assim como vindo
dele; o homem,sem esta aparência,não seria homem, pois não poderia receber,
reter,nem por assim dizer,se apropriar,cousa alguma do bem e do vero, ou do
amor e da sabedoria, donde segue-se que, sem esta aparência como viva, não
haveria para o homem conjunção com Deus, nem por conseguinte a vida
eterna; mas se por esta aparência ele introduz em si a crença de que quer, pensa
e por con. seguinte, faz o bem por si mesmo, e não pelo Senhor, ainda que seja
em toda aparência como por si mesmo, ele muda nele o bem em mal, e assim
326
faz nele a origem do mal; foi esse o pecado de Adão. M as vou expor este
assunto um pouco mais claramente: O Senhor olha para cada homem na
fronte, e este olhar passa ao occiput; sob a fronte está o Cérebro, e sob o
occiput o Cerebelo, este foi destinado ao amor e aos bens do amor; e aquele foi
destinado à sabedoria e aos veros da sabedoria; é por isso que aquele que de
fronte olha o Senhor recebe d'Ele a sabedoria,e por ela o amor; mas aquele que
olha por trás do Senhor recebe o amor e não a sabedoria, e o amor sem a
sabedoria é um amor que vem do homem e não do Senhor; e este amor,
porque se conjunta com os falsos, não reconhece Deus, mas se reconhece por
deus, e confirma isso tacitamente pela faculdade de compreender e de se tornar
sábio como por si mesmo implantada nele por criação; é por isso que este amor
é a origem do mal. Q ue assim seja, é o que pode ser demonstrado à vista: V ou
chamar aqui algum mau Espírito, que se tenha afastado de Deus, e lhe falarei
por trás ou ao occiput, e tu verás que as cousas que são ditas se mudam em
coisas contrárias". E chamei um mau Espírito; ele se apresentou, e eu lhe falei
por trás; dizendo:"Sabes alguma cousa concernente ao Inferno, à danação e aos
tormentos infernais?" E imediatamente, quando ele se voltou para mim,
perguntei-lhe o que tinha ouvido; respondeu: "O uvi estas palavras: Sabes
alguma cousa concernente ao Céu, à Salvação e à Felicidade celeste". E em
seguida, quando esta frase lhe foi dita por trás, ele disse que havia ouvido a
frase precedente. Depois estas palavras lhe foram ditas por trás: "N ão sabes que
os que estão no Inferno são loucos segundo os falsos?" E interrogado por mim
sobre o que havia ouvido, disse: "O uvi: N ão sabes que os que vivem no Céu
são sábios pelos veros?" E quando estas palavras lhe foram ditas, disse que havia
ouvido: "N ão sabes que os que estão no Inferno são loucos segundo os falsos?"
E assim por diante. Por estas experiências é bem evidente que quando a mente
se afasta do Senhor, volta-se para si mesma e então percebe os con. trários. "É
esta a razão, como o sabeis, pela qual no M undo espiritual não é permitido a
quem quer que seja ficar atrás de um outro,e lhe falar; pois desta maneira lhe é
inspirado um Amor ao qual, por causa do seu prazer, a própria inteligência é
favorável e obedece; mas como este amor vem do homem e não de Deus, é o
amor do mal ou o amor do falso. Além disso eu vos referirei alguma cousa
semelhante, a saber, que por vezes ouvi bens e veros cair do Céu no Inferno, e
na descida tinham sido progressivamente mudados em opostos, o bem em mal
e o vero em falso; a razão desta mudança é a mesma, é porque todos os que
estão no Inferno se afastam do Senhor".Depois de ter ouvido estas cousas,estes
dois Anjos me agradeceram e disseram: "Pois que agora meditas e escreves
sobre um amor oposto ao nosso Amor conjugal, e o que é oposto a este amor
entristece as nossas mentes, nós vamos embora". E quando me disseram: "Paz a
ti" eu lhes pedi para não falarem deste amor a seus irmãos e a suas irmãs no
Céu,porque isso feriria sua inocência.Q ue os que morrem crianças crescem no
Céu, e que, quando atingem a estatura em que estão os mancebos de dezoito
anos e as donzelas de quinze anos em nosso M undo, permanecem nessa
327
estatura, e que então seja provido pelo Senhor a casamentos para eles, além
disso, que tanto antes como depois do casamento eles ignoram completamente
o que é a escortação, e que ela pode existir, é o que posso afirmar
positivamente.
328
Da fornicação
não podem moderar os desejos libidinosos, este conjugal pode ser conservado,
se o amor vago do sexo é restringido a uma única amante. X IV . O Pelicato
(comércio com uma amante) é preferível a um vago desejo libidinoso, desde
que não seja formado com várias, nem com uma virgem ou uma moça intacta,
nem com uma mulher casada, e que seja mantido separado do amor conjugal.
Segue-se agora a explicação destes Artigos.
445 - I.A Fornicação pertence ao amor do sexo.
Diz-se que a fornicação pertence ao amor do sexo, porque a fornicação não é o
amor do sexo,mas vem deste amor; o amor do sexo é como uma fonte de onde
pode ser derivado o amor conjugal e o amor escortatório, e estes amores podem
ser derivados pela fornicação, e o podem ser sem ela; pois o amor do sexo está
em cada homem e, ou se manifesta, ou não se manifesta; se se manifesta com
uma prostituta antes do casamento, é chamado fornicação; se não se manifesta
antes que o seja com a espesa, é chamado casamento; se é com uma outra
mulher após o casamento é chamado adultério; é por isso que, como foi dito, o
amor do sexo é como uma fonte de onde pode decorrer tanto o amor casto
como o amor Incasto; mas com alguma precaução e alguma prudência, o amor
casto conjugal pode proceder pela fornicação, e por alguma imprudência,
procede pela fornicação o amor incasto ou escortatório, isso será exposto no
que segue. Q uem é que pode concluir que aquele que fornicou não é capaz de
ser casto no casamento?
446 - II. O Amor do sexo donde vem a fornicação, nasce quando um rapaz
começa a pensar e a agir por seu próprio entendimento, e o som de sua voz
começa a se tornar másculo.
Isto é acrescentado, a fim de que se conheça a origem do amor do sexo, e por
conseguinte a origem da fornicação, a saber, que esta origem tem lugar quando
o entendimento começa a se tornar por si mesmo racional, ou a discernir e a
prever pela própria razão as cousas que são vantajosas e úteis; a isto então serve
de plano o que na memória vem dos pais e dos professores; se faz nessa época
uma inversão na mente; ele não pensava antes senão pelas cousas introduzidas
na memória, meditando-as e obedecendo-as; depois, pensa sobre elas pela
razão; e então, sob a direção do amor, dispõe em uma nova ordem as cousas
colocadas na memória, e começa uma vida própria de uma maneira
conveniente a esta ordem, e sucessivamente, cada vez mais pensa segundo sua
razão e quer pelo livre. Q ue o amor do sexo siga a iniciação do próprio
entendimento, e progrida segundo seu vigor, isso é notório; é uma prova de
que este amor sobe conforme o entendimento sobe, e desce conforme o
entendimento desce; por subir é entendido subir na sabedoria, e por descer é
entendido descer na loucura; e a sabedoria consiste em restringir o amor do
sexo, e a loucura em deixá-lo estender-se; se ele se manifesta na fornicação, que
é o começo de sua atividade, deve ser moderado pelos princípios da
honestidade e da moralidade que foram implantados na memória e desta na
330
razão, e que devem ser implantados mais tarde na razão e desta na memória. Se
ao mesmo tempo que começa o entendimento próprio,a voz também começa a
se tornar máscula, é por que o entendimento pensa, e porque ele fala pelo
pensamento,o que prova que o entendimento faz o varão (vir), e faz também o
princípio másculo; que,por conseguinte, do modo por que seu entendimento é
elevado, desse mesmo modo ele se torna homem-varão (homo vir), e também
homem másculo (masculus vir),ver acima nºs 432,433.
447 - III. A fornicação pertence ao homem natural, da mesma maneira que o
amor do sexo que se se torna ativo antes do casamento,é chamado fornicação.
T odo homem nasce corporal, torna-se sensual, em seguida natural, e se então
não se detém, torna-se espiritual; se avança assim, é a fim de que sejam
formados Planos, sobre os quais se apóiam os superiores, como um palácio
sobre suas fundações; o último plano, com os planos erguidos acima, pode ser
comparado também a um humus,no qual,quando está preparado, são lançadas
sementes nobres. Q uanto ao que concerne especialmente ao Amor do sexo, ele
é também, a princípio corporal, pois começa pela carne, em seguida se torna
sensual, pois os cinco sentidos acham suas delícias em seu princípio comum,
depois se torna natural, semelhante ao mesmo amor nos animais, porque é o
amor vago do sexo; mas como o homem nasceu para se tornar espiritual, este
amor em seguida se torna natural-racional, e de natural-racional se torna
espiritual, e por fim espiritual-natural, e então este amor tornado espiritual
influi e age no amor racional, e por ele no amor sensual, e por este enfim neste
amor que está no corpo e na carne; e como esta é seu último plano, ele aí age
espiritualmente, e ao mesmo tempo racionalmente e sensualmente; e influi e
age assim sucessivamente quando o homem está em meditação a seu respeito,
mas simultâneamente quando está em seu último. Se a fornicação pertence ao
homem natural, é porque procede muito proximamente do amor natural do
sexo; e ela pode ser natural-racional, mas não espiritual; porque o amor do sexo
não pode se tornar espiritual antes de se tornar conjugal; e o amor do sexo de
natural que era torna-se espiritual, quando o homem se retira de um vago
desejo libidinoso,e se liga a uma única esposa,a cuja alma liga sua alma.
448 - IV . A fornicação é um desejo libidinoso (libido), mas não é o desejo
libidinoso do adultério.
Q ue a fornicação seja um desejo libidinoso, eis as razões: 1º Porque vem do
homem natural, e em tudo que vem dele há cobiça e desejo libidinoso, pois o
homem natural não é absolutamente senão o domicílio e o receptáculo das
cobiças e dos desejos libidinosos, pois todas as tendências viciosas herdadas dos
pais aí residem. 2º Porque o fornicador lança vagamente e indistintamente seus
olhares para o sexo,e não ainda para uma única pessoa do sexo,e enquanto está
neste estado, o desejo libidinoso o excita a fazer o que faz; mas à medida que
leva seus olhos para uma única e que ama conjuntar sua vida com a vida desta,
a cobiça se torna uma afeição casta, e o desejo libidinoso se torna um amor
331
humano.
449 - Q ue o desejo libidinoso da fornicação não seja o desejo libidinoso do
adultério, cada um o vê claramente pela percepção comum; qual é a lei, e qual
é o juiz, que imputa ao fornicador um crime semelhante ao adultério? Se isto é
visto pela percepção comum, é porque a fornicação não é oposta ao amor
conjugal, como o é o adultério; o amor conjugal pode estar interiormente
encerrado na fornicação, do mesmo modo que o espiritual pode estar no
natural; mais ainda, o espiritual é também, na realidade, desprendido do
natural, e quando foi desprendido, então o natural, o cerca como o labor cerca
a madeira, e como a bainha encerra a espada, e serve também ao espiritual de
defesa contra as violências. Por estas considerações, é evidente que o amor
natural, que é o amor pelo sexo, precede o amor espiritual, que é o amor por
uma única do sexo; ora, se a fornicação se produz pelo amor natural do sexo,
ela pode ser mesmo apagada, desde que o amor conjugal seja encarado,
desejado e procurado como bem principal. É inteiramente diferente o amor
libidinoso e obsceno do adultério, que é oposto ao amor conjugal e que é o seu
destruidor, como foi mostrado no Capítulo precedente sobre a oposição do
amor escortatório e do amor conjugal; é por isso que, se um adúltero de
propósito determinado ou por confirmação entra por diversas causas no leito
conjugal, o inverso acontece, o natural, com suas lascívias e suas obscenidades,
está escondido interiormente, e a aparência espiritual o vela exteriormente; por
isto, a razão pode ver que o desejo libidinoso de uma fornicação limitada é, em
relação ao desejo libidinoso do adultério,como é o primeiro calor relativamente
ao frio do meio do inverno nas regiões do norte.
450 - V . Em alguns o amor do sexo não pode ser, sem dano, totalmente
impedido de se manifestar em fornicações.
É inútil enumerar os danos que uma retenção demasiado grande do amor do
sexo pode causar e operar naqueles que por superabundância são atormentados
de efervescência; daí neles a origem de certas moléstias do corpo, e de certas
desordens da mente, sem falar de males desconhecidos que não devem ser
mencionados; é diferente naqueles para quem o amor do sexo é tão fraco, que
podem resistir aos esforços de seu desejo libidinoso; semelhantemente naqueles
a quem na juventude, sem prejuízo para sua fortuna mundana, assim sob os
primeiros auspícios favoráveis, é permitido contrair um casamento legítimo.
Como é isso o que acontece no Céu às crianças, quando chegam à idade
conjugal, é por isso que lá s-e ignora o que é a fornicação; mas não acontece o
mesmo na terra, onde os casamentos não podem ser contraídos senão quando o
tempo da juventude já passou, o que acontece a muitos nos governos em que é
preciso tempo para merecer um emprego, e adquirir as faculdades necessárias
para sustentar uma casa e uma família, e então somente, procurar para casar-se
uma esposa que possa convir.
451 - V I. É por isso que nas cidades populosas são tolerados lugares de
332
prostituição.
Isto é referido como confirmação do Artigo precedente; que são tolerados pelos
R eis, os M agistrados, e por conseguinte, pelos juízes, os inquisitores e pelo
povo,em Londres,em Amsterdão, em Paris, em V iena, em N ápoles, e também
em R oma, e além disso em muitos lugares, isso é notário; entre as causas pelas
quais são tolerados estão também as mencionadas acima.
452 - V II. O desejo libidinoso de fornicar é leve enquanto tem uma tendência
ao amor conjugal e prefere este amor.
H á graus de qualidades do mal, do mesmo modo que há graus de qualidades
do bem; é por isso que cada mal é mais leve e mais grave, do mesmo modo que
cada bem é melhor e mais excelente; dá-se o mesmo com a fornicação que,
porque é um desejo libidinoso, e pertence ao homem natural ainda não
purificado, é um mal; mas como todo homem pode ser purificado, é por isso
que este mal se torna mais leve quando se aproxima do estado purificado, pois
se apaga em proporção; assim, tanto quanto a tornearão se aproxima do amor
conjugal, que é o estado purificado do amor do sexo; que o mal da fornicação
seja tanto mais grave quanto mais se aproxima do amor do adultério, ver-se-á
no Artigo seguinte. Se a fornicação é leve enquanto tem uma tendência para o
amor conjugal, é porque então o homem, do estado incasto em que está, leva
sua vista para o estado casto; e que quanto mais prefere este, tanto mais aí está
também quanto ao entendimento; e quanto mais não somente o prefere, mas
ainda o ama com predileção, tanto mais aí está também quanto à vontade,
assim quanto ao homem interno; e então, a fornicação, se contudo persiste, é
para ele uma necessidade, de que examina bem em si as causas. H á duas razões
que fazem com que a fornicação, naqueles que preferem e amam com
predileção o estado conjugal, seja leve; a primeira, é que para eles a vida
conjugal é o desígnio, a intenção ou o fim; a segunda, é que neles separam o
mal do bem. Q uanto ao Primeiro Ponto, que para eles a vida conjugal é o
desígnio, a intenção ou o fim: É porque o homem é homem tal qual é em seu
desígnio, em sua intenção ou em seu fim, e tal ele é também diante do Senhor
e diante dos anjos, e mesmo tal é consíderado pelos Sábios no mundo; pois a
intenção é a alma de todas as ações e faz no mundo as inculpações e as escusas,
e após a morte as imputações. Q uanto ao Segundo Ponto, que aqueles que
preferem o amor conjugal ao desejo libidinoso da fornicação, separam o mal do
bem: É porque assim eles separam o incasto do casto; e aqueles que os separam
pela percepção e pela intenção, antes de estarem no bem ou no casto, são
também separados e purificados do mal deste desejo libidinoso,quando chegam
ao estado conjugal.Q ue não seja o mesmo para aqueles que, na fornicação, têm
uma tendência ao adultério,vai-se ver no Artigo seguinte.
453 - V III. O desejo libidinoso de fornicar é grave, enquanto tem uma
tendência ao adultério.
333
T odos aqueles que não crêem que os adultérios são pecados, e que pensam a
respeito dos casamentos as mesmas cousas que a respeito dos adultérios, com a
única diferença do lícito e do ilícito, têm uma tendência ao adultério no desejo
libidinoso da fornicação; estes também fazem de todos os males um só mal, e
misturam todos como imundícies com a comida no mesmo prato, e como a
borra com o vinho no mesmo copo, e comem e bebem assim; agem do mesmo
modo com o amor do sexo, com a fornicação, com o pelicato, com o adultério
menos grave,grave e mais grave,e mesmo com a ação de desonrar uma donzela
ou a defloração; que se acrescente a isto que, não somente misturam todas estas
causas, mas os misturam também com os casamentos, e maculam a estes com
uma semelhante noção; mas àqueles, que não fazem mesmo diferença entre
estas coisas e os casamentos, após relações vagas com o sexo, sobrevêm frieza,
repugnâncias e desgostos, a princípio pela consorte, em seguida pelas outras, e
enfim pelo sexo. É bem evidente que neles não há desígnio, nem intenção ou
fim do bem ou do casto, para que sejam desculpados, nem de separação do mal
de junto do bem, ou do incasto de junto do casto, para que sejam purificados,
como há naqueles que têm, pela fornicação, uma tendência ao amor conjugal e
o preferem, e de que se falou no Artigo precedente, nº 452. É-me permitido
confirmar o que precede por esta nova informação do Céu: Encontrei vários
espíritos que, no M undo, tinham vivido nos externos do mesmo modo que
outros, vestindose com luxo, alimentando-se com requinte, negociando como
os outros com proveito, freqüentando espetáculos, gracejando sobre assuntos
amorosos como se fosse por um desejo libidinoso, e fazendo várias outras ações
semelhantes, e entretanto os Anjos consideravam em uns estas ações como
males de pecado, e em outros não as consideravam como males e declaravam
estes inocentes, e aqueles culpados; interrogados porque decidiam assim, pois
que as ações eram semelhantes, responderam que examinavam a todos segundo
o desígnio, a intenção e o fim, e por isso os distinguiam; e que é por isso que
desculpam ou condenam àqueles que o fim desculpa ou condena, porque o fim
do bem está em todos no Céu, e o fim do mal em todos no Inferno; e que é
isso, e não outra cousa, que é entendido pelas palavras do Senhor: "N ão
julgueis,a fim de que não sejais condenados",(M ateus V II,1).
454 - IX .O desejo libidinoso de fornicar é mais grave,conforme se volta para o
desejo ardente das variedades e para o desejo ardente da defloração.
A razão disto, é que estes dois desejos ardentes são acessórios do adultério;
assim eles o tornam mais grave; com efeito, há adultérios pouco graves,
adultérios graves, e adultérios mais graves, e cada um destes adultérios é
considerado segundo a oposição ao amor conjugal; e, por conseguinte, segundo
a destruição deste amor; que o desejo ardente das variedades e o desejo ardente
da defloração, reforçados por atos, devastem o amor conjugal, e o mergulhem
como no fundo do mar,ver-se-á quando se tratar desses dois assuntos.
455 - X .A Esfera do desejo libidinoso de fornicar tal como é no começo fica no
334
um rapaz, levado pelo desejo libidinoso, não pode ainda por sua razão impor a
si mesmo um freio.
457 - X II. Pois que o conjugal de um marido com uma espôsa é o T esouro da
vida humana,e o R eservatório da religião,cristã.
Estão aqui duas cousas que foram demonstradas universalmente e
singularmente, em toda a Parte precedente sobre o Amor conjugal e sobre as
delícias de sua sabedoria. Q ue seja o T esouro da vida humana, é porque a vida
do homem é tal qual é nele este amor, pois ele faz o íntimo de sua vida; com
efeito, ele é a vida de sua sabedoria coabitando com seu amor, e do amor
coabitando com sua sabedoria, e por conseguinte é a vida das delícias de um e
de outro; em uma palavra, é uma alma vivente por este amor; daí vem que o
conjugal de um marido com uma esposa seja chamado o T esouro da vida
humana.Isto é confirmado pelas proposições acima,que com uma única esposa
há uma amizade verdadeiramente conjugal, confiança, força, porque há união
das mentes, nºs 333 e 334; que neste conjugal e por este conjugal há as
beatitudes celestes, as felicidades espirituais, e por conseguinte os prazeres
naturais aos quais foi provido desde o começo para os que estão no amor
verdadeiramente conjugal, nº 335; que este amor é o amor fundamental de
todos os amores celestes e espirituais, e por conseguinte de todos os amores
naturais,e que nele foram reunidos todos os contentamentos e todas as alegrias,
desde as primeiras até às últimas,nº 65 a 69; e que considerado em sua origem,
ele seja o jogo da sabedoria e do amor,é o que foi plenamente demonstrado nas
Delícias da Sabedoria sobre o Amor conjugal, que formam a Primeira Parte
desta O bra.
458 - Q ue este Amor seja o R eservatório da R eligião Cristã, é porque esta
religião faz um e coabita com este amor; com efeito, foi demonstrado que neste
amor não entram e não podem entrar senão aqueles que se dirigem ao Senhor,
e que amam os veros de sua Igreja e praticam seus bens, ns. 70 e 71; que este
amor vem do Senhor só, e por conseguinte existe naqueles que são da R eligião
Cristã,nºs 131,335,336; que este amor é segundo o estado da Igreja, porque é
segundo os estados da sabedoria no homem, nº 130. Q ue estas coisas sejam
assim, isto foi confirmado em todo o Capítulo sobre a Correspondência deste
amor com o Casamento do Senhor e da Igreja, nº 116 a 131; e no Capítulo
sobre a O rigem deste amor pelo Casamento do bem e do vero,nº 83 a 102.
459 - X III. N aqueles que, por diversas causas, não podem ainda contrair
casamento, e que por causa da lubricidade (de temperamento) não podem
moderar os desejos libidinosos, este conjugal pode ser conservado, se o amor
vago do sexo for restringido a uma única amante.
Q ue o desejo libidinoso imoderado e desordenado não possa ser retido por
aqueles que não lúbricos, a razão o vê, e a experiência o ensina; portanto, a fim
de que este desejo imoderado e desordenado seja refreado naqueles que são
336
Da concubinagem
Q ue haja dois gêneros de Concubinagem que diferem muito entre si; que um
destes gêneros consiste em ajuntar por substituição uma companheira de leito,
e viver conjuntamente e ao mesmo tempo com ela e com a esposa; que o outro
gênero consiste, após uma legítima e justa separação da esposa, em tomar em
seu lugar uma mulher para companheira de leito; e que estes dois gêneros de
Concubinagem diferem tanto um do outro, quanto uma roupa suja difere de
uma roupa lavada, é o que podem ver os que examinam as coisas claramente e
distintamente, mas não os que as vêem confusamente e indistintamente; e
mesmo os que estão no amor conjugal podem vê-lo, mas não os que estão no
amor do adultério; estes estão na noite em relação à todas derivações do amor
do sexo, mas aqueles estão no dia em relação a essas derivações; não obstante,
os que estão no adultério podem ver estas derivações e suas diferenças, não, é
verdade, nelas por eles, mas pelos outros quando ouvem falar disso, pois a
faculdade de elevar seu entendimento existe nos adúlteros semelhante à que há
no esposo casto, mas o adúltero, depois de ter reconhecidos as diferenças de
que ouviu falar pelos outros, as apaga sempre de sua lembrança, quando
mergulha seu entendimento em sua impura vontade; com efeito, o casto e o
incasto, o que é sensato e o que é insensato não podem estar juntos; mas
podem ser distinguidos pelo entendimento separado. U m dia, no M undo
Espiritual, perguntei aos que não tinham considerado os adultérios como
pecados, se conheciam uma diferença entre a fornicação, o pelicato, os dois
gêneros de concubinagem, e os graus de adultério; responderam que um era
como o outro; perguntei-lhes também se o casamento também era o mesmo;
olharam em torno se não havia algum membro do Clero, e não tendo visto
nenhum, disseram, que o casamento, considerado em si mesmo, era
semelhante. Foi diferente com os que, nas idéias de seu pensamento, tinham
considerado os adultérios como pecados; estes disseram que nas idéias
interiores, que pertencem à percepção, tinham visto as diferenças, mas que
ainda não se tinham aplicado a discerni-las, e a fazer-lhes a distinção; posso
afirmar que estas diferenças, até às mais minuciosas, são percebidas pelos Anjos
do Céu. Portanto, a fim de que seja bem manifesto que há dois gêneros de
Concubinagem opostos entre si, um pelo qual é destruido o amor conjugal, o
outro pelo qual ele não é destruido, o gênero condenável vai ser descrito
primeiro e,em seguida,o outro,que não é prejudicial.
464 - II. A Concubinagem conjuntamente com a esposa, não é absolutamente
permitida aos Cristãos,e é detestável.
Se não é permitida, é porque é contra a aliança conjugal; e, se é detestável, é
porque é contra a religião; e, o que é contra a religião, é ao mesmo tempo
contra a aliança conjugal, é contra o Senhor; é por isso que, desde que alguém,
sem causa conscienciosa real, junta uma concubina à esposa, o Céu lhe é
fechado, e não é mais contado pelos Anjos no número dos cristãos; desde esse
instante também, ele despreza as cousas que pertencem à Igreja e à R eligião, e
343
em seguida não levanta mais a face acima da natureza, mas se volta para ela
como para uma deidade, que é favorável a seu desejo libidinoso, e de seu
influxo em seguida seu espírito recebe a animação; a causa interior desta
apostasia é desvendada no que segue. Q ue esta concubinagem seja detestável,
este homem mesmo não o vê, porque depois que o Céu lhe foi fechado, ele se
tornou loucura espiritual; mas uma esposa casta o vê claramente, porque ela é
amor conjugal, e este amor tem desgosto por uma tal concubinagem; é por isso
que, muitas dentre estas se recusam em seguida à conjunção atual com seus
maridos, como uma cousa que macularia sua castidade pelo contágio do desejo
libidinoso aderente aos maridos proveniente das cortesãs.
465 - III. É uma poligamia que foi condenada e deve ser condenada pelo
M undo Cristão.
Q ue a Concubinagem simultânea ou conjunta com a esposa seja uma
Poligamia, ainda que não reconhecida, porque não é nem declarada nem por
conseguinte mencionada assim por lei alguma, cada um o vê, mesmo aquele
que não tem perspicácia; pois uma mulher de empréstimo e participando do
leito conjugal é como uma esposa; que a poligamia tenha sido condenada e
deve ser condenada no M undo Cristão, é o que foi demonstrado no Capítulo
sobre a Poligamia, especialmente nestes Artigos: não é permitido a um cristão
casar-se com uma segunda esposa, nº 338; se um Cristão se casa com várias
esposas, comete não somente um adultério natural, mas também um adultério
espiritual, nº 339; isso foi permitido à nação Israelita, porque nela não havia
Igreja Cristã, nº 340. Por estas explicações, é evidente que juntar uma
concubina à esposa, e partilhar seu leito com uma e com outra, é uma infame
poligamia.
466 - IV . É uma escortação pela qual o conjugal, que é a mais preciosa Jóia da
vida cristã,é destruido.
Q ue seja uma escortação mais oposta ao amor conjugal, que a escoriação
comum, que é chamada simples adultério, que prive absolutamente de toda
faculdade e de toda inclinação para a vida conjugal, que está no Cristão de
nascença, é o que pode ser provado por sólidos argumentos diante da razão do
homem sábio. Q uanto ao primeiro Ponto, que a concubinagem simultânea ou
conjunta com a esposa, é uma escortação mais oposta ao amor conjugal que a
escortação comum, que é chamada simples adultério, pode-se ver por estas
considerações; que na escoriação comum, ou adultério simples, não há um
amor análogo ao amor conjugal, pois é somente um ardor da carne, que esfria
imediatamente, e por vezes não deixa após si vestígios de amor pela mulher; é
por isso que, se esta lascívia efervescente não se dá por propósito determinado,
ou por confirmação, e se o adúltero se arrepende, ela não diminui senão muito
pouco o amor conjugal; é muito diferente com a escortação poligâmica, há nela
um amor análogo ao amor conjugal, pois não esfria, não se dissipa, e não se
reduz a nada após a efervescência como o precedente; mas permanece, se
344
472 - IX .As causas conscienciosas reais são as que estão fundadas no justo.Para
conhecer as causas que são causas conscienciosas reais, é bastante enumerar
algumas; por exemplo, a falta de estorge, e por conseguinte a apatia em relação
aos filhos; a intemperança, a embriaguez, a falta de asseio, a impudicícia; o
desejo imoderado de divulgar os segredos da casa, de disputar, de bater, de se
vingar, de fazer mal, de roubar, de enganar; uma dessemelhança interna de
onde resulta a antipatia; uma impudente exigência do dever conjugal, pela qual
o marido se torna frio como a pedra; a aplicação a atos de magia e a sortilégios,
uma excessiva impiedade; e outros vícios semelhantes.
473 - H á também causas menos graves, que são causas conscienciosas reais, e
que separam do leito, mas não entretanto, da casa; a cessação da prolificação na
esposa em razão de uma idade avançada, e por conseguinte a repugnância e a
tergiversação para o amor atual, persistindo sempre o ardor no marido; além de
casos semelhantes, nos quais o julgamento racional vê o justo, e que não ferem
a consciência.
474 - X . As causas conscienciosas não reais são as que não estão fundadas sobre
o justo,ainda que o estejam sobre a aparência do justo.
Estas causas são conhecidas pelas causas conscienciosas reais acima enumeradas,
e, se não são bem examinadas, podem aparecer como justas, e contudo são
injustas; por exemplo, os tempos de abstinência exigidos após os partos, as
indisposições transitórias das esposas,o prejuízo que daí resulta para o prolífico,
as poligamias permitidas aos Israelitas, e outras causas semelhantes que, pela
justiça, não têm valor algum; estas são imaginadas pelos maridos após frieza
contraídas,quando desejos libidinosos incastos os privaram do amor conjugal, e
os infatuaram com a idéia da semelhança deste amor com o amor escortatório;
estes,para se porem ao abrigo da difamação quando entram em concubinagem,
dão como legítimas e reais estas causas bastardas e capciosas, e mesmo
ordinariamente espalham mentiras a respeito da esposa, que segundo o favor
obtêm mesmo o assentimento e a aprovação dos concidadãos amigos.
475 - X I. O s que estão na Concubinagem por causas legítimas, justas e
conscienciosas reais,podem estar ao mesmo tempo no amor conjugal.
Diz-se que eles podem estar ao mesmo tempo no amor conjugal, e é entendido
que podem manter este amor encerrado neles; pois na pessoa em que está, este
amor não perece, mas repousa. Se o amor conjugal nos que preferem o
casamento à concubinagem, e que entram na Concubinagem pelas causas
acima mencionadas, é conservado, eis a razão: É que esta concubinagem não
repugna ao amor conjugal; que ela não é uma separação deste amor; que é
somente um véu que o cobre; que este véu é tirado após a morte. I. Esta
Concubinagem não repugna o amor conjugal. É a conseqüência do que foi
acima demonstrado, que esta concubinagem, quando se faz por causas
legítimas, justas e conscienciosas reais, não é ilícita, nº 467 a 473 - II. Esta
348
M undo dos Espíritos; aqui chegam, e aqui são recebidos todos os que saem do
mundo; são examinados quanto à sua qualidade,e são preparados,os maus para
o Inferno,e os bons para o Céu; talvez te lembres ainda de ter ouvido dizer, no
M undo, pelos sacerdotes, que os escortadores e as prostitutas são precipitados
no Inferno, e que os esposos castos são elevados ao Céu". A estas palavras, este
espírito noviço se pôs a rir, dizendo: “O que é o Céu, e o que é o Inferno? O
Céu,não é onde cada um é livre, e não é livre aquele a quem é permitido amar
tantas mulheres quantos lhe apraz? E o Inferno não é onde cada um é escravo, e
não é escravo aquele que é obrigado a ficar ligado a uma só?" M as um certo
Anjo, olhando do Céu para baixo, ouviu o que ele dizia, e o interrompeu com
receio que fosse mais adiante para profanar os casamentos; e lhe disse "Sobe
aqui, e eu te mostrarei ao vivo o que é o Céu, e o que é o Inferno, e qual é o
inferno para os escortadores confirmados". E lhe mostrou o caminho, e este
subiu; e depois que foi admitido, foi a princípio conduzido a um jardim
paradisíaco, onde estavam árvores de frutas e flores, cuja beleza, encanto e
perfume enchiam as mentes (animi) com as delícias da vida; desde que as viu
foi tomado de uma grande admiração; mas ele estava então na vista externa, tal
como a tinha no M undo, quando via cousas semelhantes, e nesta vista ele era
racional; mas na vista interna, na qual a escortação era o principal e ocupava
cada ponto do pensamento, ele não era racional; por isso a vista externa foi
fechada, e a vista interna foi aberta; desde que foi aberta ele disse: “O que vejo
agora? N ão é palha e madeira seca? E o que é que é que sinto agora? N ão é mau
cheiro? O nde estão pois estes objetos paradisíacos?" E o Anjo disse: "Estão
muito perto e presentes, mas não aparecem diante de tua vista interna, que é
escortatória; pois esta vista muda as cousas celestes em infernais, e não vê senão
os opostos; há em cada homem uma mente interna e uma mente externa, por
conseqüência, uma vista interna e uma vista externa; nos maus a mente interna
é insensata, e a mente externa é sábia, mas nos bons a mente interna é sábia, e
também, por ela, a mente externa; e como é a mente, assim o homem no
M undo Espiritual vê os objetos". Depois disso o Anjo pelo poder que lhe foi
dado, lhe fechou a vista interna e abriu a externa, e o conduziu pelas portas
para o ponto central das habitações; e este espírito viu magníficos palácios de
alabastro e de diversas pedras preciosas, e perto destes palácios pórticos e
colunas em torno, superpostas e carregadas de ornamentos e de decorações
admiráveis; quando os viu, ficou grandemente admirado, e disse: “O que é que
vejo? V ejo objetos magníficos em sua magnificência mesma, e obras de
arquitetura em sua arte mesma". M as então o Anjo lhe fechou de novo a vista
externa, e lhe abriu a interna, que era má, porque era imundamente
escortatória; imediatamente este espírito exclamou, dizendo: “O que seja agora?
O nde estão pois estes palácios e estes objetos magníficos? V ejo ruínas
escombros e lugares cheios de cavernas". M as pouco depois foi reposto no
externo, e introduzido em um destes palácios; e viu as decorações das portas,
das janelas, das paredes e dos tetos, principalmente dos móveis sobre os quais e
350
em torno dos quais estavam formas celestes em ouro e em pedras preciosas, que
não podem ser descritas por linguagem alguma, nem desenhadas por arte
alguma, pois estavam acima das idéias da linguagem, e acima das noções de
arte. V endo estas cousas, ele exclamou de novo, dizendo: "Estão aí objetos
maravilhosos que o olho jamais viu". M as então sua vista interna foi aberta,
tendo sido fechada a vista externa, como antes; e lhe foi perguntado o que via
naquele momento; e ele respondeu que não via senão pardieiros, aqui de junco,
ali de palha, e lá em tições. Depois foi ainda reposto no estado externo da
mente, e diante dele foram trazidas V irgens que eram belezas, porque eram
imagens da afeição celeste; e estas, com a doce voz de sua afeição, lhe dirigiram
a palavra,e então,pelo que viu e ouviu,sua face foi mudada,e ele voltou por si
mesmo para seus internos, que eram escortatórios; e como estes internos não
suportam coisa alguma do amor celeste, e que vice-versa, não são suportados
pelo amor celeste, resultou que de uma parte e de outro, desapareceram; as
virgens da presença do homem, e o homem da presença das virgens. Depois
disso, o Anjo lhe ensinou de onde provinham as mudanças de estado de suas
vistas, dizendo-lhe: "Percebo que no M undo, de onde vens, foste duplo, um
nos internos e outro nos externos; que nos externos foste um homem civil,
moral e racional, mas que nos internos não foste nem civil, nem moral, nem
racional, porque eras escortador e adúltero; ora, tais pessoas, quando lhes é
permitido subir ao Céu, e que aí são mantidos em seus externos, podem ver aí
as cousas celestes, mas quando seus internos são abertos, em lugar das cousas
celestes, eles vêem as coisas infernais. Entretanto, fica sabendo que aqui, em
cada um, sucessivamente são fechados os externos e abertos os internos, e que
se é assim preparado para o Céu ou para o Inferno; e como o mal da escortação
macula mais do que todo outro mal os internos da mente, é impossível que não
seja levado para as cousas,impuras de seu amor,e estas cousas estão no inferno,
onde as cavernas espalham odores de escrementos. Q uem é que não pode, pela
razão, saber que no M undo espiritual o incasto e o lascivo são impuros e
imundos, e que assim nada corrompe e suja mais o homem, e nada introduz
mais nele o infernal. G uarda-te pois de te gloriares daqui por diante de tua
escortação, porque és nela mais másculo do que os outros; eu te predigo que te
tornarás fraco, ao ponto de saber apenas onde está a tua força máscula; uma tal
sorte espera aqueles que se gloriam de sua potência escortatória". Depois de
ouvir estas palavras, ele desceu e voltou ao M undo dos Espíritos e para seus
primeiros companheiros, e conversou com eles com modéstia e castidade, mas
não foi por muito tempo.
351
478 - Q uem quer que não julgue o Adultério senão pelos externos, não pode
saber que há algum mal neste ato, pois nos externos ele é semelhante ao
Casamento; estes juízes externos quando se lhes fala dos internos, e se lhes diz
que os Externos tiram dos Internos, seu bem e seu mal, dizem em si mesmos:
“O que são os Internos? Q uem os vê? N ão é isso elevar-se acima da esfera da
inteligência de quem quer que seja?" Estes assemelham-se aos que aceitam todo
pretenso bem por um bem real voluntário, e que decidem da sabedoria de um
homem pela elegância de sua conversação,ou que julgam o mesmo pela riqueza
de seus hábitos e a magnificência de suas equipagens, e não pela sua disposição
interna que pertence ao julgamento proveniente da afeição do bem; esta
maneira de julgar assemelha-se ainda ao julgamento que se proferisse sobre o
fruto de uma árvore, e sobre alguns alimentos, unicamente pela vista e o tato, e
não sobre sua bondade pelo sabor e o conhecimento; assim fazem aqueles que
não querem perceber cousa alguma dos internos do homem; daí esta loucura de
muitos homens hoje, que nada vêem de mal nos adultérios, e que mesmo
conjuntam no mesmo leito os casamentos e os adultérios, isto é, os fazem
absolutamente semelhantes; e isso, unicamente por causa da aparência de
similitude nos externos. Q ue assim seja, eu adquiri a convicção por esta prova
da experiência: U m dia, Anjos convocaram algumas centenas de espíritos
dentre os que tinham sido afamados na Europa por seu gênio, sua erudição e
sua sabedoria; foram interrogados sobre a diferença entre o Casamento e o
Adultério, e e foram convidados a examinar as razões que seu entendimento
apresentasse; e, depois do exame, todos, a exceção de dez, responderam que só
a lei civil estabelece uma diferença em vista de um certo interêsse, diferença
que se pode, é verdade, conhecer, mas não obstante acomodar por meio da
prudência civil; em seguida lhes foi perguntado se viam algum bem no
casamento, e algum mal no adultério; responderam que não viam nem mal
racional nem bem racional. Fizeram-lhes esta pergunta: "V êdes aí algum
pecado?" Disseram: "O nde estaria este pecado? O fato não é o mesmo?" O s
Anjos ficaram admirados destas respostas, e exclamaram: “O h! qual é a
estupidez do século, e quão grande é ela!" O uvindo esta exclamação, estas
centenas de sábios se voltaram e disseram entre si, rindo: "É isto estupidez? H á
alguma sabedoria que possa convencer que amar a esposa de um outro mereça a
danação eterna?" M as que o Adultério seja um mal espiritual, e
conseqüentemente um mal moral e um mal civil, e diametralmente contrário à
sabedoria da razão; mais ainda, que o amor do adultério venha do inferno e
352
que os cometeu se abstém deles por estes motivos, que são males contra Deus,
ou que são males contra o próximo, ou que são males contra o bem da cidade,
e, por um outro deste motivos, porque são males contra a razão; ao contrário,
são postos também no número dos adultérios graves se não se abstém deles por
um destes motivos mencionados; assim, isto está conforme com a Lei Divina,
Ezequiel X V III, 21, 22, 24 e algures. M as estes adultérios não podem ser
perdoados e desculpados, ou ser denominados e julgados pelo homem, como
leves ou graves, segundo estas circunstâncias, porque elas não se manifestam
diante dele,e mesmo não são da competência de seu julgamento; é por isso que
se entende que é depois da morte que são assim reputados e imputados.
488 - V III. O s Adultérios do segundo grau são os adultérios do desejo
libidinoso, os quais são cometidos por aqueles que, é verdade, podem consultar
o entendimento, mas que por causas contingentes não o podem nesses
momentos. N o homem que de natural se torna espiritual, há no começo duas
cousas que combatem uma, contra a outra, as quais são comumente chamadas
o espírito, e a carne; e como o amor do casamento pertence ao espírito, e o
amor do adultério pertence à carne, se trava por isso, então, um combate entre
estes dois amores; se o amor do casamento é vencedor, ele doma e subjuga o
amor do adultério, o que se dá por um afastamento; mas se acontece que o
desejo libidinoso da carne seja excitado a um ardor além daquilo que o espírito
pode reprimir pela razão, resulta daí que o estado é ínvertido, e que o ardor do
desejo libidinoso espalha seduções no espírito, a ponto dele não ser mais senhor
de sua razão, nem de si mesmo; isto é entendido pelos adultérios do segundo
grau, os quais são cometidos por aqueles que, é verdade, podem consultar o
entendimento, mas que por causas contingentes, não o podem nesses
momentos. V ejamos exemplos para ilustração: Se uma esposa prostituída cativa
por astúcia a mente (animus) de um homem, atraindo-o ao leito, e o
inflamando ao ponto déle não ser mais senhor de seu julgamento; e mais ainda,
se então mesmo ela lhe expõe a vergonha que daí resultaria se ele não
consentisse; semelhantemente,se uma esposa prostituída emprega prestígios, ou
por estimulantes inflama, um homem ao ponto do ardor da carne tirar do
entendimento o livre da razão; do mesmo modo se um por sedutoras
solicitações leva a esposa de um outro ao ponto de sua vontade abrasada não ser
mais senhora de si mesma, além de outros casos semelhantes. Q ue estas
contingências e outras do mesmo gênero atenuam a gravidade do adultério, e
voltam para um lado mais suave as denominações de condenação contra o
homem seduzido ou da mulher seduzida,a razão é favorável a esse sentimento e
a ele aquiesce.A imputação deste grau de Adultério é tratada no que segue.
489 - IX . O s Adultérios cometidos por eles são imputáveis conforme, na
continuação,o entendimento os favoreça ou não os favoreça.
Q uanto mais o entendimento favorece os males, tanto mais o homem se
apropria deles e os faz seus; o favor é o consentimento, e o consentimento
359
introduz na mente o estado de amor por eles; dá-se o mesmo com os adultérios
que no começo são feitos sem o consentimento do entendimento, e que são
favorecidos; o contrário acontece, se na continuação eles não são favorecidos; a
razão disso, é que os males ou os adultérios, que são feitos na favorecidos. Por
imputação é entendida aqui a acusação (incusa-cegueira do entendimento, são
feitos segundo a cobiça do corpo; assemelham-se pouco mais ou menos aos
instintos, tal como são estes nas bestas; no homem, é verdade, o entendimento
está presente quando eles são feitos, mas está em uma força passiva ou morta, e
não em uma força ativa ou viva; destas explicações resulta evidentemente, que
tais adultérios não são imputados senão tanto quanto, na continuação, eles são
favorecidos ou não são favorecidos. Por imputação é entendida aqui a acusação
incusatio) depois da morte, e por conseguinte o julgamento (judicatio), que se
faz segundo o estado de espírito do homem; mas não é entendida a inculpação
pelo homem diante do juiz, isto se faz não segundo o estado de espírito do
homem, mas segundo o estado do corpo na ação; se não houvesse uma
diferença, após a morte seriam absolvidos aqueles que são absolvidos no
M undo, e seriam condenados aqueles que aqui são condenados, e assim não
haveria para estes esperança alguma,de salvação.
490 - X . O s Adultérios do terceiro grau são os adultérios da razão, os quais são
cometidos por aqueles que confirmam pelo entendimento que não são males de
pecado.
T odo homem sabe que existe uma vontade e um entendimento; pois, quando
fala,diz:"Eu quero isto"; e "Eu compreendo isto"; todavia, não faz, entretanto,
distincão, mas faz um a mesma coisa que o outro; e isso, porque reflete
unicamente sobre as cousas que pertencem ao pensamento pelo entendimento,
e não nas que pertencem ao amor pela vontade, pois estas não se apresentam à
luz como aquelas. Entretanto, aquele que não faz distinção entre a V ontade e o
Entendimento, não pode fazer distinção entre os males e os bens, e por
conseguinte não pode absolutamente saber cousa alguma sobre a culpa do
pecado.M as quem é que não sabe que o bem e o vero são duas cousas distintas,
como o amor e a sabedoria? E quem é que, quando está na luz racional, não
pode concluir daí que há no homem duas cousas que os recebem distintamente
e se aplicam a eles, e que uma é a V ontade e a outra o Entendimento, pela
razão de que o que a V ontade recebe e reproduz é chamado Bem, e o que o
Entendimento recebe é chamado V erdade, pois o que a V ontade ama e faz é
chamado Bem, e o que o Entendimento percebe e pensa é chamado V erdade?
Agora,como tratou-se do Casamento do bem e do vero na Primeira Parte desta
O bra, e como aí foi relatado sobre a V ontade e o Entendimento e sobre
diversos atributos e predicados de um e de outro, um grande número de cousas
que, como presumo, são percebidas mesmo por aqueles que não tinham
pensado distintamente cousa alguma sobre o entendimento e a vontade, pois a
razão humana é tal, que compreende os veros por sua luz, ainda que antes não
360
homem, por conseguinte tal é o homem. Por estas explicações, vê-se portanto
que os Adultérios deste grau são imputados depois da morte segundo as
confirmações.
492 - X II. O s Adultérios do quarto grau são os adultérios da vontade, os quais
são cometidos por aqueles que os consideram como lícitos e agradáveis e que
não acreditam, que sejam de uma tal importância que se deva consultar o
entendimento a,seu respeito.
Estes Adultérios são distinguidos dos precedentes por suas origens; a origem
destes adultérios vem da vontade depravada nascida com o homem, ou do mal
hereditário ao qual o homem, após ter entrado na posse do seu julgamento,
obedeceu cegamente, não julgando de modo algum a seu respeito, se eram ou
não eram males, por isso se diz que não acreditam que sejam de uma tal
importância que se deva consultar o entendimento a seu respeito. Q uanto à
origem dos adultérios que são chamados adultérios da razão, eles vêm de um
entendimento pervertido,e são cometidos por aqueles que confirmam que estes
adultérios não são males de pecado; nestes é o Entendimento que ocupa o
primeiro lugar; naqueles é a V ontade. Estas duas diferenças não se manifestam
a homem algum no M undo natural, mas são claramente vistas pelos Anjos no
M undo espiritual; neste M undo espiritual todos são em geral distinguidos
segundo os males que jorram originariamente da vontade ou do entendimento,
e que são aceitos e apropriados; são também separados segundo estes males no
inferno; lá, os que são mais pelo entendimento, habitam a parte anterior, e são
chamados Satanases; mas os que são mais pela vontade, habitam a parte
posterior, e são chamados Diabos; é em razão desta diferença universal, que na
Palavra se faz menção de Satanás e do Diabo. N estes maus, e também nos
adúlteros que são chamados satanases, o entendimento ocupa o primeiro lugar;
naqueles que são chamados diabos, a vontade ocupa o primeiro lugar. M as
expor estas diferenças a ponto do entendimento as ver, isso não é possível, a
menos que se conheça antes as diferenças da vontade e do entendimento, e
também a menos que se faça uma descrição da formação da mente segundo a
vontade pelo entendimento, e de sua formação segundo o entendimento pela
vontade; o conhecimento destes assuntos dará luz para que as diferenças acima
mencionadas sejam vistas pela razão; mas isso é um trabalho que formaria um
volume.
493 - X III. O s Adultérios cometidos por eles são muito graves, e lhes são
imputados como males de propósito determinado.
Se são muito graves, e mais graves que os precedentes, é porque neles, a
vontade ocupa o primeiro lugar, enquanto que o entendimento o ocupa nos
precedentes, e porque a vida do homem pertence essencialmente à vontade, e
formalmente a seu entendimento; a razão disso é que a vontade faz um com o
amor, e o amor é a essência da vida do homem, e se forma no entendimento
por cousas que concordam; também o entendimento, considerado em si
362
não é menos adúltero por isso; pois não crê menos que não sejam pecados, e os
torna diante de Deus não ilícitos em seu espírito, e assim em espírito ele os
comete, embora não no corpo no M undo; por isso depois da morte, quando se
torna espírito,fala abertamente em seu favor.
495 - X V .O s Adultérios por propósito determinado da vontade, e os adultérios
por confirmação do entendimento, tornam os homens naturais, sensuais e
corporais.
O homem é homem, e é distinguido da besta, por isto que a sua mente foi
distinguida em três regiões, tantos quantos Céus há, e porque pode ser elevado
da região ínfima à região superior, e também desta à suprema, e assim tornar-se
Anjo de um Céu,e mesmo do T erceiro; é para este fim que foi dada ao homem
a faculdade de elevar o entendimento até lá; mas se o amor de sua vontade não
é elevado ao mesmo tempo, ele não se torna espiritual, mas permanece natural;
não obstante ele retém a faculdade de elevar o entendimento; a razão pela qual
retém esta faculdade, é a fim de que possa ser reformado, pois é reformado por
meio do entendimento, o que se dá pelos conhecimentos do bem e do vero, e
por uma intuição racional segundo esses conhecimentos; se os examina
racionalmente, e a eles conforma sua vida, então o amor da vontade é ao
mesmo tempo elevado, e neste grau o homem é aperfeiçoado, e o homem se
torna cada vez mais um homem. É diferente, se não vive segundo os
conhecimentos do bem e do vero, então o amor de sua vontade permanece
natural, e seu entendimento, por alternativas, se torna espiritual; pois ele de
tempos em tempos se eleva como uma águia, e vê em baixo o que está abaixo
de seu amor; quando o vê, voa para aí descendo e se conjunta com isso; se
portanto as cobiças da carne pertencem a seu amor, ele se lança de sua altura
para elas, e na conjunção com elas encontra seu prazer no dela; e de novo, na
busca de renome, a, fim de ser acreditado sábio, se eleva ao alto, e assim por
saltos de tempos em tempos,como acaba de ser dito.Se os adúlteros do terceiro
e do quarto grau, isto é, aqueles que se fizeram adúlteros por propósito
determinado da vontade e por confirmação do entendimento, são
completamente naturais, e se tornam progressivamente sensuais e corporais, é
porque mergulharam o amor de sua vontade e ao mesmo seu entendimento nas
impurezas do amor escortatório,e se deleitaram com isso, do mesmo modo que
as aves e as bestas imundas se deleitam na podridão e nos excrementos como
coisas deliciosas e apetitosas, pois os eflúvios que se elevam de sua carne
enchem com sua escória o habitáculo da mente, e fazem com que a vontade
nada sinta de mais delicioso nem de mais desejável; são estes que depois da
morte, se tornam espíritos corporais, e é deles que jorram as impurezas do
Inferno e da Igreja,de que se falou acima,nºs 430 e 431.
496 - H á três graus do homem natural; no Primeiro estão aqueles que amam o
M undo, pondo seu coração nas riquezas; estes são propriamente entendidos
pelos naturais; no Segundo grau estão aqueles que só amam os prazeres dos
364
sentidos, pondo seu coração nas luxúrias e nas volúpias de todo gênero; estes
são própriamente entendidos pelos sensuais; no T erceiro grau estão aqueles que
só amam a si mesmos, pondo seus corações na procura da honra; estes são
propriamente entendidos pelos Corporais; a razão disso, é que eles mergulham
no corpo todas as cousas da vontade e por conseguinte do entendimento, e que
por trás dos outros, eles olham para si mesmos e amam unicamente seus
próprios; mas os Sensuais mergulham todas as cousas da vontade, e por
conseguinte do entendimento, nos atrativos e nas ilusões dos sentidos,
abandonando-se a eles só; e os N aturais espalham pelo M undo todas as cousas
da vontade e do entendimento, adquirindo riquezas com avareza e fraude, e
não vendo neles e para elas outro uso senão o da posse. O s Adultérios acima
mencionados fazem os homens cair nestes graus degenerados, um neste, outro
naquele, cada um segundo o prazer que lhe agrada, de que se forma seu gênio
particular.
497 - X V I. Chega a um ponto que por fim, rejeitam para longe deles todas as
cousas da Igreja e da R eligião.
Se os Adúlteros por propósito determinado e por confirmação rejeitam para
longe deles todas as cousas da Igreja e da R eligião, é porque o amor do
casamento e o amor do adultério são opostos, nº 425, e porque o amor do
casamento faz um com a Igreja e com a R eligião, ver nº 130, e em outros
lugares, aqui e ali, na Primeira Parte; daí o amor do adultério, como sendo
oposto, faz um com as coisas que são contra a Igreja. Se estes adultérios
rejeitam para longe deles todas as coisas da Igreja e da R eligião, é porque o
amor do casamento é oposto ao amor adultério, como o casamento do bem e
do vero é oposto à conexão (connubium) do mal e do falso, nºs 427 e 428; e o
casamento do bem e do vero é a Igreja, enquanto que o (connubium) do mal e
do falso é a AntiIgreja. Se estes adultérios rejeitam para longe deles todas as
cousas da Igreja e da R eligião, é porque o amor do casamento e o amor do
adultério são opostos como o Céu e o Inferno,nº 429; e no Céu está o amor de
todas as cousas da Igreja, enquanto que no Inferno está o ódio contra todas as
cousas da Igreja. Se estes adultérios rejeitam para longe deles todas as cousas da
Igreja e da R eligião, é também porque seus prazeres começam pela carne e
pertencem à carne mesmo no espírito, nºs 440 e 441; e a carne é contra o
espírito, isto é, contra os espirituais na Igreja; aí também os prazeres do amor
escortatório serem chamados V olúpias da loucura. Se desejais demonstrações,
dirigi-vos, eu vos peço, àqueles que sabeis estar em tais adultérios, e
perguntai-lhes em segredo o que pensam de Deus, da Igreja e da vida eterna, e
ouvireis. A verdadeira causa é que assim como o amor conjugal abre os
interiores da mente, e desse modo os eleva acima dos sentidos do corpo até à
luz e ao calor do Céu, assim também, por outro lado, o amor do adultério
fecha os interiores da mente,e mergulha a mente mesma, quanto à vontade, no
corpo até em todas as cobiças da carne; e quanto mais profundamente aí
365
olharam uns aos outros, e disseram: "Q uem de vós o viu?" O s segundos, que
eram Adúlteros por confirmação do entendimento, disseram: "N ão pertence
tudo à natureza? O que há acima dela, a não ser o Sol?" E então os Anjos lhes
disseram: "R etirai-vos de perto de nós; agora, percebeis, vós mesmos, que não
há em vós reconhecimento de Deus; quando descerdes os interiores de vossas
mentes se fecharão, e os exteriores se abrirão, e então podereis falar contra os
interiores, e dizer que há um Deus; ficai certos de que, desde que um homem
se torna efetivamente adúltero, o Céu lhe é fechado, e o Céu estando fechado,
Deus não é reconhecido; aprendei a causa:T udo que é imundo no inferno vem
dos adultérios, e isso cheira mal no Céu como a lama podre das ruas". Depois
que ouviram estas coisas, voltaram, e desceram por três caminhos; e quando
chegaram em baixo, os primeiros e os seguindos apoiando-se mútuamente,
diziam: "Lá os Sacerdotes venceram; mas sabemos que nós, do mesmo modo
que eles, podemos falar de Deus; e quando dizemos que Ele existe, não é que
O reconhecemos? O s Interiores e os Exteriores da mente, de que os Anjos
falaram, são invenções. M as vamos ao segundo Lugar designado pelos Juizes,
onde o caminho para o Céu é aberto aos que têm o Céu em si; assim aos que
devem ir para o Céu". E quando se aproximaram, saiu do Céu uma voz:
"Fechai as portas, Adúlteros estão perto daqui". E imediatamente as portas
foram fechadas; e guardas, tendo bastões na mão os expulsaram; e libertaram
dentre as mãos daqueles que os guardavam os três Sacerdotes, contra os quais o
tumulto tinha sido excitado, e os introduziram no Céu; e no momento em que
a Porta foi aberta para os Sacerdotes, o prazer do casamento se exalou do Céu
sobre os rebeldes; e esse prazer, sendo casto e puro, quase os privou da
respiração; temendo pois cair em desfalecimento por sufocação, eles se
apressaram em ir para o terceiro Lugar,e respeito do qual os Juizes haviam dito
que daí partia um caminho para o Inferno; e então de lá se exalou o prazer do
adultério, o que fez com que aqueles que eram adúlteros por propósito
determinado, e aqueles que o eram por confirmação, fossem de tal modo
vivificados,que desceram quase saltando,e mergulharam na lama como porcos.
369
Do prazer libidinoso da
defloraçao
501 - O s Desejos libidinosos de que se trata nos quatro Capítulos seguintes são
não somente desejos libidinosos de adultério, mas são mais graves do que eles,
pois que não existem senão pelos adultérios, pois a pessoa é apanhada por eles
quando já se desgostou dos adultérios; assim o Desejo libidinoso da defloração,
de que se trata em primeiro lugar,o qual não pode começar antes em ninguém;
semelhantemente o Desejo libidinoso de variedades, o Desejo libidinoso do
estupro, e o Desejo libidinoso de seduzir os inocentes, de que se trata em
seguida. São chamados desejos libidinosos, porque tanto e tal é o Desejo
libidinoso por estes atos, tanto é tal é a apropriação que se faz deles. Q uanto ao
que concerne especialmente ao Desejo libidinoso da defloração, a fim de que
haja convicção evidente de que é uma infâmia, isso vai ser manifestado em
ordem nos Artigos seguintes: I. Do estado da virgem ou da mulher intacta
antes do casamento e depois do casamento. II. A V irgindade é a coroa da
castidade, e o penhor do amor conjugal. III. A defloração sem intento de
casamento é uma infâmia de bandido. IV . A sorte daqueles que confirmaram
em si que o desejo libidinoso da defloração não é um mal de pecado é dura
depois da morte.Segue a explicação dos Artigos.
502 - I. Do estado da V irgem ou da mulher intacta antes do casamento e
depois do casamento.
Q ual é o estado de uma virgem antes que tenha sido instruída nas diversas
particularidades do facho conjugal, é o que me foi manifestado no M undo
espiritual por esposas, que tinham saído do M undo natural em sua infância, e
tinham recebido sua educação no Céu. Elas me disseram que, desde que
chegaram ao estado núbil, tinham, vendo casais de esposos, começado a amar a
vida conjugal, mas com o único objetivo de serem chamadas esposas, e de
viverem em sociedade de amizade e de confiança com um único homem, e
também de se tornarem senhoras de si mesmas, deixando a casa da obediência;
elas me disseram também, que a respeito do casamento tinham prensado
maiormente na beatitude da amizade e da confiança mútuas com um homem
que partilharia sua sorte, e de modo algum nas delícias de nenhuma chama;
mas que seu estado virginal tinha sido mudado depois das núpcias, em um
novo estado,de que nada tinham sabido antes; e declararam que este estado era
o estado de expansão de todas as coisas da vida de seus corpos, das primeiras às
últimas, para receber os dons de seu marido, e para uni-los à sua vida, a fim de
se tornarem assim o amor do marido e esposa; que este estado tinha começado
no momento da defloração, e que depois desta defloração a chama do amor
370
vis escravos, e indignos por conseguinte de toda honra. Entre si, é verdade,
aparecem como homens, mas aos olhos daqueles a quem é permitido olhar este
inferno, aparecem como M acacos com uma face medonha em lugar de uma
agradável, e um ar hediondo em lugar de um ar alegre; caminham com os rins
contraídos,e por conseguinte são curvados, com a parte superior inclinada para
a frente como se fossem cair, e cheiram mal; desdenham o sexo e se afastam
daquelas que vêem, pois não têm desejo algum por elas. T ais apareciam eles de
perto, mas de longe aparecem como Cães de estimação ou Cães pequenos de
prazer,e ouve-se também como uma espécie de latido no som de sua voz.
373
Do desejo libidinoso de
variedades
inteiramente dissoluta.
mesmas; estas prostitutas distinguem muito bem os que estão neste desejo
libidinoso; diante deles falam da castidade e de seu grande valor; e quando os
violadores se aproximam e as tocam, elas se indignam e fogem, como
aterrorizadas, para um gabinete onde há um beliche e um leito, e fecham
ligeiramente a porta atrás delas, e se deitam; e em seguida por sua arte inspiram
ao violador um desejo desenfreado de sacudir a porta, de se lançar no gabinete
e de as assaltar; quando isso acontece, a prostituta, levantando-se sobre os pés,
começa a combater contra o violador com as mãos e as unhas, arranhando-lhe a
face, rasgando-lhe as roupas, gritando com uma voz furibunda pelas prostitutas
suas companheiras, como se fossem suas criadas, para ser socorrida, e abrindo a
janela e gritando: Ladrão! Bandido! Assassino! E quando o violador está em
disposição, ela se lamenta e derrama lágrimas; e após a violação, se lança por
terra, solta uivos e clama contra a infâmia; e então com tom grave o ameaça de
trabalhar pela sua perda, se ele não expia a violação por uma grande
recompensa. Q uando estão nestas cenas de V ênus, aparecem ao longe como
gatos que, antes do acasalamento, combatem quase da mesma maneira,
correndo para lá e para cá e soltando gritos penetrantes. Após alguns combates
do mesmo gênero em lugares maus, são retirados de lá, e transferidos para uma
caverna, onde são constrangidos a algum trabalho; mas como cheiram mal,
porque fizeram em pedaços o Conjugal que é a mais preciosa Jóia da vida
humana, são relagados para os confins da Plaga ocidental, onde, a uma certa
distância, aparecem magros como se não tivessem senão a pele sobre os ossos,
mas de longe conio panteras. Q uando me foi permitido vê-los de mais perto,
fiquei admirado de que, alguns deles tinham livros nas mãos e liam; e me foi
dito que era porque, no M undo, tinham falado de diversas coisas concernentes
aos espirituais da Igreja, e entretanto as haviam maculado por adultérios
levados até a estes extremos, e que tal era a correspondência deste desejo
libidinoso com a violação do Casamento espiritual. M as é de notar-se que há
poucos que estejam neste desejo libidinoso. É certo que as mulheres, porque
não convém que elas prostituam o amor, resistem de tempos em tempos, e que
a resistência dá vigor; contudo isto não vem de nenhum desejo libidinoso de
violação.
378
a inocência; e primeiramente elas zombam deles entre si, por fim depois de
diversas promessas elas se deixam violar. Depois de algumas cenas semelhantes
sobrevém o terceiro período, que é o do julgamento; e então convencidos, eles
são tragados, e reunidos aos seus semelhantes no Inferno, que é na Plaga
setentrional, e aí aparecem de longe como doninhas, mas se estão cheios de
velhacaria, são transportados daí para o Inferno dos velhacos, que é na Plaga
ocidental, profundamente para trás; aí aparecem de longe como serpentes de
diversas espécies, e os mais velhacos como víboras; mas neste Inferno mesmo,
para o qual me foi permitido olhar, eles me pareceram lívidos com uma face de
cal; e como puras cobiças, não gostam de falar; e, se falam, cochicham e
murmuram diversas cousas que não são ouvidas senão por seus companheiros
ao lado deles; mas em breve, quer sentados, quer de pé, eles se tornam
invisíveis, e esvoaçam na caverna como fantasmas; pois estão então na fantasia,
e a fantasia parece voar; depois do vôo repousam, e então, o que é de admirar,
não se conhecem mais uns aos outros; isto provém deles estarem na velhacaria,
e a velhacaria não se fia em outro, e assim se subtraem. Q uando estes sentem
alguma cousa do Amor conjugal, fogem para subterrâneos e se escondem; são
também sem amor ao sexo, e são as impotências mesmas; são chamados G ênios
infernais.
380
Da correspondência das
escortações com a violaçao do
casamento espiritual
na Igreja Cristã, e aqueles que agem assim são os que separam o vero do bem e
o bem do vero, além disso aqueles que tomam e confirmam as aparências do
vero e as ilusões por veros reais, como também aqueles que sabem os veros da
doutrina pela Palavra, e vivem mal, além de outros da mesma espécie. Estas
V iolações da Palavra e da Igreja correspondem aos G raus proibidos,
enumerados no Levítico,Capítulo X V III.
520 - Como o N atural e o Espiritual em cada homem estão em coerência como
a alma e o corpo, pois o homem sem o espiritual que influi em seu natural e o
vivifica, não é homem, segue-se que aquêle que está no Casamento espiritual
está também em um Casamento natural feliz; e que, por outro lado, aquêle que
está no adultério espiritual está também no Adultério natural, vice-versa. O ra,
como todos os que estão no Inferno estão na Conexão (Connubium) do mal e
do falso, e que está aí o Adultério espiritual mesmo, e como todos aqueles que
estão no Céu estão no Casamento do bem e do vero, e está aí o Casamento
mesmo, é por isso que o Inferno inteiro é chamado Adultério, e que o Céu
inteiro é chamado Casamento.
521 - Ao que precede ajuntarei este M emorável:
A vista me foi aberta, e vi uma Floresta espessa, e nela uma tropa de Sátiros; os
Sátiros quanto ao peito eram peludos, e quanto aos pés uns como B ezerros,
outros como Panteras e outros como Lobos; e em lugar de dedos nas plantas
dos pés, tinham garras de bestas selvagens; corriam de todos os lados como
bestas ferozes, gritando: "O nde estão as mulheres?" E então apareceram
prostitutas que os esperavam; estas também tinham diversas conformações
monstruosas e os Sátiros correram e se apoderaram delas, levando-as para uma
Caverna que estava profundamente sob a terra no meio da floresta; e em torno
da caverna sobre a terra estava estendida uma grande serpente enrolada em
espiral, que soprava um veneno na caverna; sobre os galhos da floresta, acima
da serpente,grasnavam e crucitavam sinistras aves noturnas. M as os Sátiros e as
Prostitutas não viam estas cousas, porque eram correspondências de sua lascívia
e assim aparências que ordinariamente são vistas de longe. Em seguida saíram
da caverna e entraram em uma cabana baixa, que era um lugar de prostituição;
e então, separados das prostitutas, tiveram entre si conversações que ouvi
atentamente; pois, no M undo espiritual, a linguagem pode ser ouvida a
distância como se se estivesse presente, pois que a extensão do espaço aí é
unicamente uma aparência; eles falavam dos Casamentos, da N atureza e da
R eligião. Aqueles que apareciam quanto, aos pés como bezerros falaram dos
Casamentos,dizendo:"O que são os Casamentos, senão Adultérios permitidos?
E o que há de mais doce do que do que as hipocrisias escortatórias?". A estas
palavras os outros deram gargalhadas aplaudindo com as mãos. O s Sátiros que
apareciam quanto aos pés como panteras, falaram da N atureza, e disseram: "H á
outra cousa além da natureza? Q ue diferença existe entre o homem e a besta,
exceto que o homem pode falar de uma maneira articulada, e a besta de uma
382
Catecismo? Q ue temos nós, homens, a ver com esse livrinho para crianças?"
Perguntei-lhes se jamais tinham pensado alguma cousa a respeito do Inferno;
responderam: "Q uem subiu de lá e deu notícias dele?" Perguntei-lhes se no
M undo tinham pensado alguma cousa a respeito da vida depois da morte;
disseram:"A mesma cousa que se pensa das bestas,e às vezes a mesma coisa que
se pensa.dos fantasmas,que,se exalam dos cadáveres e se dissipam''; enfim lhes
perguntei se não tinham ouvido sacerdotes dizer alguma cousa sobre estes
diversos assuntos; responderam: "Prestamos atenção somente ao som de sua
linguagem e não ao assunto; e, o que é isso?". Admirado destas respostas, lhes
disse: "V oltai a face e dirigi vossos olhos para o meio da Floresta, onde está a
caverna, na qual entrastes". E eles se voltaram e viram esta grande Serpente
enrolada em espiral em torno da caverna e soprando seu veneno, e também as
aves sinistras acima dela nos galhos; e lhes disse:"Q ue vêdes?" M as, tomados de
terror nada responderam; e lhes disse: "N ão vistes alguma cousa terrível? Sabei
que é o representativo do adultério na infâmia de seu desejo libidinoso". Então,
de repente, se apresentou um Anjo; era um sacerdote; e abriu na Plaga
ocidental um Inferno,no qual são por fim reunidos aqueles que são tais, e disse
“O lhai para aquele lugar". E eles viram um pântano como que de fogo; e aí
reconheceram alguns dos seus amigos do M undo, que os convidavam para ir
com eles.T endo visto e ouvido estas cousas, eles se desviaram, e se retiraram da
minha presença e se afastaram da Floresta; mas observava a sua marcha, e vi
que fingiam se retirar,mas que por voltas retornavam à Floresta.
522 - Depois disso, voltei para casa, e no dia seguinte, tendo me lembrado
destas tristes cenas, dirigi os olhos para esta mesma Floresta, e vi que tinha
desaparecido, e que em seu lugar havia uma Planície arenosa, no meio da qual
estava um Pântano, onde se achavam algumas serpentes vermelhas. M as
algumas semanas depois, quando dirigi de novo os olhos para lá, vi ao lado
direito uma terra em alqueive, e sobre ela alguns Cultivadores; e de novo, após
algumas semanas vi que este Alqueive tinha se tornado uma T erra cultivada
cercada de arbustos; e ouvi então uma voz do Céu: "Entra no teu quarto de
dormir,e fecha a porta,e aplica-te à obra começada sobre o Apocalipse; e leva-a
ao fim em dois anos".
384
Da imputaçao de um e outro
amor,o escortatório e o conjugal
523 - O Senhor disse: "N ão julgueis, a fim de que não sejais condenados",
(M ateus V II, 1); por estas palavras não é de modo algum entendido o
julgamento sobre a vida moral e civil de alguém no M undo, mas o julgamento
sobre a vida espiritual e celeste; quem não vê que se não fosse permitido julgar
da vida moral daqueles com que habitamos no M undo, a sociedade pereceria?
O que seria da sociedade, se não houvesse julgamentos públicos, e se não fosse
permitido a cada um julgar o outro? M as julgar qual é a sua mente interior ou
sua alma, assim qual é seu estado espiritual, e por conseguinte a sua sorte
depois da morte, isso não é permitido, porque isso só é conhecido pelo Senhor,
e o Senhor não o revela senão após a morte do homem, a fim de que cada um
faça segundo o livre aquilo que faz,e a fim e que por este livre o, bem ou o mal
seja dele e assim esteja nele, e que por conseguinte viva estando em si e sendo
seu pela eternidade; se os interiores da mente, escondidos no M undo, são
revelados depois da morte, é porque isso é importante e vantajoso para as
sociedades nas quais então o homem entra, pois todos nessas sociedades são
espirituais; que sejam então revelados, vê-se claramente por estas palavras do,
Senhor: "N ada há de encoberto que não deva ser revelado, nem escondido que
não deva ser conhecido; todas as cousas que tiverdes dito nas trevas serão
ouvidas na luz; e aquilo que tiverdes falado ao ouvido nos gabinetes será
publicado sobre os telhados", (Lucas X II, 2 e 3). U m julgamento comum, tal
como este: "Se és nos internos tal como te mostras nos externos, serás salvo; ou
ainda, serás condenado"; é permitido; mas um julgamento singular tal como
este: "És tal nos internos, portanto serás salvo, ou ainda, serás condenado",
não é permitido. O julgamento sobre a vida espiritual do homem, ou sobre a
vida interna da alma, é entendido pela imputação de que se trata aqui. Q ue
homem conhece aquele que é Escortador de coração, e aquele que é Esposo de
coração? E entretanto, as coisas que se pensa no coração, que são as que se
propõe a vontade, julgam a cada um. M as este assunto vai ser desenvolvido
nesta ordem: I. A cada um, depois da morte, é imputado o mal em que está;
semelhantemente o bem.II.A transferência do bem de uma pessoa para outra é
impossível.III.A Imputação,se por ela se entende uma tal transferência, é uma
palavra vã. IV . O mal é imputado a cada um segundo a qualidade de sua
vontade, e segundo a qualidade de seu entendimento; semelhantemente o bem.
V . Assim a cada um é imputado o Amor escortatório. V I. Igualmente o Amor
385
ricocheta como uma bola elástica que cai sobre uma pedra, ou é engulido como
um diamante lançado em um pântano. O homem não reformado quanto ao
espírito é como uma pantera, ou como um mocho, e pode ser comparado à
sarça espinhosa e à urtiga; mas o homem regenerado é como uma ovelha ou
como uma pomba, e pode ser comparado à oliveira e à cepa de vinha; peço-vos
por favor, que penseis como é possível que um homem-pantera seja convertido
em homem-ovelha, ou um mocho em pomba, ou uma sarça espinhosa em
oliveira, ou a urtiga em cepa de vinha, por qualquer imputação, se por
imputação entende-se uma transferência; para que a conversão se faça, não é
preciso que antes a ferocidade da pantera e do mocho, ou a nocibilidade da
sarça espinhosa e da urtiga, sejam retiradas e que assim o verdadeiramente
humano e o não nocivo sejam implantados? Q uanto à maneira pela qual isso se
faz,o Senhor o ensina também em João X V ,1 a 7.
527 - IV . O mal e o bem é imputado a cada um segundo a qualidade de sua
vontade,e segundo a qualidade de seu entendimento.
Sabe-se que há duas coisas que fazem a vida do homem, a V ontade e o
Entendimento, e que todas as cousas que são feitas pelo homem são feitas por
sua vontade e por seu entendimento, e que sem estes dois agentes o homem
não teria ação, nem linguagem diferentemente de uma máquina; daí é evidente
que tais são a vontade e o entendimento do homem, tal é o homem; além disso
também, a ação do homem é em si mesma tal qual é a afeição de sua vontade
que produz esta ação, e a linguagem do homem é em si mesma tal qual é o
pensamento de seu entendimento que produz esta linguagem; é por isso que
muitos homens podem agir e falar da mesma maneira, e entretanto agem e
falam de uma maneira diferente, um por uma vontade e um entendimento
maus, o outro por uma vontade e um entendimento bons. V ê-se por aí o que é
entendido pelas Ações ou as obras, segundo as quais cada um será julgado, a
saber, que é a vontade e o entendimento, que por conseguinte pelas obras más
são entendidas as obras de uma vontade má, de qualquer maneira que elas
sejam apresentadas nos externos, e que pelas obras boas são entendidas as obras
de uma vontade boa, ainda que nos externos se apresentem semelhantes às
obras do homem mau. T odas as coisas que são feitas pela vontade interior do
homem,são feitas de propósito determinado, pois que esta vontade se propõe o
que faz por sua intenção; e todas as coisas que são feitas pelo entendimento, são
feitas por confirmação, pois que o entendimento confirma; por isto, pode-se
ver que o mal ou o bem é imputado a cada um segundo a qualidade de seu
entendimento a seu respeito. Posso confirmar isso pela narração seguinte: N o
M undo espiritual encontrei vários Espíritos que no M undo natural tinham
vivido do mesmo modo que outros, vestindo-se com luxo, alimentando-se com
requinte, negociando como os outros com proveito, freqüentando espetáculos,
gracejando sobre assuntos amorosos como que por um desejo libidinoso, e
fazendo várias outras ações semelhantes; e entretanto os Anjos consideravam
389
em uns estas ações como males de pecado, e em outros eles não as imputavam
como males, e declaravam estes inocentes, e aqueles culpados; interrogados
porque decidiam assim, pois que as ações eram semelhantes, responderam que
os examinavam, a todos, segundo o propósito determinado, a intenção ou o
fim, e por isso os distinguiam; e que é por isso que eles mesmos desculpam ou
condenam aqueles que o fim desculpa ou condena, porque o fim do bem está
em todos no Céu,e o fim do mal em todos no Inferno.
528 - As explicações precedentes será acrescentada esta observação: Diz-se na
Igreja que ninguém pode cumprir a lei, e que isto é tanto mais impossível
porque aqueles que prevarica contra um só dos preceitos do Decálogo prevarica
contra todos; mas esta fórmula de linguagem não significa o que parece
significar, pois eis como deve ser entendida: Aquele que por propósito
determinado ou por confirmação age contra um só preceito, age contra todos
os outros, porque agir por propósito determinado ou por confirmação, é negar
absolutamente que seja um pecado agir assim, e aquele que nega que seja um
pecado, considera como de pouca importância agir contra todos os outros
preceitos; quem não sabe que aquele que é adúltero, não é por isso homicida,
ladrão, falso testemunha, nem o quer ser? M as aquele que é adúltero por
propósito determinado e por confirmação considera como de pouca
importância tudo o que é proibido pela religião,assim os homicídios, os roubos
e os falsos testemunhos; e se se abstém deles não é porque sejam pecados, mas é
porque teme a lei e a desonra; que os adúlteros por propósito determinado e
por confirmação consideram como nada as cousas santas da Igreja e da
R eligião, vê-se acima, nº 490 a 493, e nos dois M emoráveis, nºs 500, 521 e
523; é o mesmo se alguém por propósito determinado ou por confirmação age
contra outro preceito do Decálogo, ele age também contra todos os outros
porque não considera cousa alguma como pecado.
529 - Dá-se o mesmo com aqueles que estão no bem pelo Senhor; se estes pela
vontade e o entendimento ou por propósito determinado e por confirmação se
abstêm de um único mal, porque é um pecado, eles se abstêm de todos, e com
mais forte razão se se abstêm de vários males; com efeito, desde que um
homem, por propósito determinado ou por confirmação, se abstém de algum
mal,porque é um pecado,é mantido pelo Senhor no propósito determinado de
ser abster de todos os outros; é por isso que, se por ignorância, ou porque
alguma cobiça do corpo predomina ele faz o mal, este mal não obstante, não
lhe é imputado, porque não se propôs fazê-lo, e não o confirma em si. O
homem entra neste propósito determinado, se se examina uma ou duas vezes
por ano, e se se arrepende do mal que descobre em si; é inteiramente diferente
naquele que jamais se examina. Por estas explicações, vê-se claramente qual é
aquele a quem o pecado não é imputado,e qual é aquele a quem é imputado.
530 - V .Assim a cada um é imputado o amor escortatório.
A saber, não segundo os fatos tal como se apresentam nos externos diante dos
390
homens, nem tal como se apresentam diante de um Juiz, mas tal como se
apresentam nos internos diante do Senhor, e pelo Senhor, diante dos Anjos,
isto é, segundo a qualidade da vontade e a qualidade do entendimento do
homem nestes fatos. H á no M undo diversas circunstâncias que mitigam e
excusam os crimes, e há as que os agravam e os põem a cargo daqueles que os
cometem; mas todavia as imputações depois da morte se fazem, não segundo as
circunstâncias que são circunstâncias externas do fato, mas segundo as
circunstâncias internas da mente; e estas são consideradas segundo o estado da
Igreja em cada um; seja, por exemplo, um homem ímpio por vontade e por
entendimento, isto é, que não tem nem temor a Deus, nem amor ao próximo,
nem por conseguinte respeito por santidade alguma da Igreja; este homem
depois da morte torna-se culpado de todos os crimes que cometeu no corpo, e
não tem lembrança alguma de suas boas ações, pois que seu coração, de onde
estas cousas decorreram,como de uma fonte,tinha em aversão o Céu e tinha se
voltado para o Inferno, e que os atos decorrem do lugar de habitação do
coração de cada um; para que isto seja compreendido, referirei um arcano: O
Céu é distinguido em inumeráveis Sociedades; semelhantemente o Inferno
segundo o oposto; e a M ente de cada homem, segundo sua vontade, e por
conseguinte segundo seu entendimento, habita na realidade em uma destas
Sociedades, e se propõe e pensa as mesmas cousas que aqueles que compõem
esta sociedade; se a M ente está em alguma sociedade do Céu, ela se propõe e
pensa então as mesmas cousas que aqueles que são dessa sociedade; se está em
alguma sociedade do Inferno, ela se propõe e pensa também as mesmas cousas
que aqueles que compõem essa sociedade; mas em todo o tempo que o homem
vive no M undo, ele passa de uma Sociedade para uma outra segundo as
mudanças das afeições de sua vontade e por conseguinte dos pensamentos de
sua mente; mas depois da morte suas peregrinações são reunidas, e após sua
reunião em um, lhe é designado um lugar, se ele é mau, no Inferno; se é bom
no Céu. O ra, como em todos no Inferno há a vontade do mal, é por ela que
todos aí são considerados; e como em todos no Céu há a vontade do bem,é por
ela que todos lá são considerados; é por isso que depois da morte as imputações
se fazem segundo a qualidade da vontade e do entendimento de cada um.
Dá-se o mesmo com as Escortações, quer sejam Fornicações ou Pelicatos, ou
Concubinagens ou Adultérios,pois que são imputados a cada um, não segundo
os fatos,mas segundo o estado da mente nos fatos; pois os fatos seguem o corpo
na sepultura,mas a mente ressuscita.
531 - V I.Assim a cada um é imputado o amor conjugal.
H á Casamentos em que o amor conjugal não se mostra, e entretanto ai está; há
Casamentos em que o amor conjugal se mostra, e entretanto aí não está. H á
para um e outro caso várias causas, que se pode conhecer em parte pelo que foi
relatado sobre o Amor verdadeiramente conjugal, nº 57 a 73; depois, sobre as
causas de Frieza e de Separação, nº 234 a 260; e sobre as causas de amor
391
Igreja com Ele mesmo, e uma consociação com os Anjos; e elas se fazem pela
Palavra, na qual todas e cada uma das cousas são Correspondências. O s Anjos
ficaram cheios de alegria porque aprouve ao Senhor revelar este grande Arcano,
tão profundamente escondido durante milhares de anos; e disseram que isto
tinha sido feito, a fim de que a Igreja Cristã, que é fundada sobre a Palavra, e
que está agora no seu fim, reviva de novo, e tire seu espírito do Senhor pelo
Céu. Eles se informaram se por esta Ciência foi desvendado hoje o que
significa o Batismo, e o que significa a Santa Ceia, sobre os quais até ao
presente pensouse cousas tão diversas; e respondi que issso tinha sido
desvendado. III.Em seguida disse que hoje foram feitas revelações pelo Senhor
sobre a V ida dos homens depois da morte. O s Anjos disseram: "Q ue revelações
sobre a vida depois da morte? Q uem não sabe que o homem vive depois da
morte?" R espondi: "Sabe-se e não se sabe; se diz que é, não o homem, mas a
alma do homem,e que esta vive como espírito; e do espírito formam uma idéia
como do vento ou do éter, e se acredita, que ela não vive como homem senão
depois do dia do Julgamento Final, e que então as cousas corporais, que se
deixou no M undo, embora comidas pelos vermes, os ratos e os peixes, serão
reunidas e de novo, restabelecidas em forma de corpo, e que os homens
ressuscitam assim". O s Anjos disseram: "Como? Q uem é que não sabe que o
homem vive como homem depois da morte, com esta única diferença, que
então vive como homem espiritual, e que o homem espiritual vê o homem
espiritual como o homem natural vê o homem natural, e que não se conhece
nisso uma única diferença, exceto que se está em um estado mais perfeito". IV .
O s Anjos fizeram esta pergunta: "Q ue se sabe sobre o nosso M undo, e sobre o
Céu e o Inferno?". R espondi que não se sabe cousa alguma; mas que hoje foi
desvendado pelo Senhor qual é o M undo em que os Anjos e os Espíritos vivem,
assim qual é o Céu e qual é o Inferno; mais ainda, que os Anjos e os Espíritos
estão em conjunção com os homens, além de várias M aravilhas sobre estes
assuntos. O s Anjos se regozijaram porque aprouve ao Senhor fazer estas
revelações, a fim de que o homem não esteja mais pela ignorância na incerteza
sobre sua Imortalidade. V . Além disso, eu lhes disse: "Foi revelado hoje pelo
Senhor, que em vosso M undo há um outro Sol que não o nosso; que o Sol de
vosso M undo é puro Amor, e o Sol do nosso M undo puro fogo; que é por isso
que tudo o que procede de vosso Sol, pois que é puro Amor, participa da V ida,
e que tudo o que procede do nosso,pois que ele é puro fogo, nada tem da vida;
e que daí vem a diferença que, ignorada até então, foi agora revelada. Estas
revelações fizeram saber de onde vem a Luz que ilumina de sabedoria o
entendimento humano, e de onde vem o Calor que abrasa de amor a vontade
humana. V I . Além disso, foi desvendado que há T rês graus da vida, e que por
conseguinte há três Céus; que a mente humana foi distinguida nestes três
G raus e que por conseguinte o homem corresponde aos três Céus". O s Anjos
disseram: "Será que não se sabia isso antes?" R espondi que se tinha
conhecimento dos G raus entre o mais e o menos, mas que nada se sabia dos
393
FIM