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Madrugada desgraçada nº

1
Não é uma digressão, é uma D I G R E S S Ã O. Era
pra eu tá lendo minhas xerox, poxa.

Lá por volta dos meus 14 anos eu me descobri ateia e não-hétero. Ao mesmo tempo, eu estava em
conflito interno e passava por mudanças de círculos de convivência.

Hoje, com 18 anos e meio, eu me vejo rodeada de “conflitos”, “descobertas” e “mudanças”


semelhantes.

Já não sei mais se sou ateia, porque uma necessidade de entrar em contato comigo de formas
diferentes está surgindo dentro de mim. Sei que não acredito no Deus cristão (nem em outros deuses
semelhantes—homens
    representados como uma divindade máxima). Sei também que não acredito
em forças sobrenaturais. Não sei se minha necessidade de entrar em contato comigo tem alguma
relação com religiosidade, talvez seja algo que vá mais de encontro com a arte e com o
autodescobrimento.

Sobre ser não-hétero eu tenho certeza, mas não sei o que sou, só o que não sou. Nem sei se preciso
saber o que sou… mesmo assim, deixo em aberto.

O conflito agora é interno e externo, mas principalmente externo. Discursos homofóbicos e


conservadores dentro da minha casa fazem com que eu não saiba o que fazer com isso, criando um
conflito interno.

Meus círculos de convivência estão mudados pela minha saída do ensino médio e entrada na
universidade. Me afastei de pessoas maravilhosas e estou conhecendo novas pessoas. Além disso, tô
vivendo coisas que eu não vivia antes e falando sobre coisas que me perturbavam pra pessoas que
sentem coisas parecidas. É um novo mundo.

Quero muito viver tudo isso, me jogar no mundo, ser sincera comigo e com os outros, pensar e
poder ser quem eu sou. Mas, infelizmente, sei que isso não é possível em todos os espaços, sei que
isso causaria (e ainda vai causar) muitos conflitos que podem (e vão) me fazer muito mal. Sei
também que essa não é uma boa hora pra me sentir mal e que devo esperar mais um pouco pra fazer
o que eu quero.

Só não quero esperar pra sempre.

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