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Doutorando no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande (Campus- Campina
Grande/PB). Possui mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (Campus- João Pessoa/PB). E gradua-
ção em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Campus -Marília/SP). Atualmente desenvolve
pesquisa cuja preocupação estão os modos de vida de pescadores artesanais e os regimes de conhecimento aí implicados na região do
Baixo Tapajós (PA). É integrante discente do Laboratório de Estudos sobre Tradições - LETRA - CNPq, da UFCG.
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Professora na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pesquisadora do Grupo Interdisciplinar em Cultura, Sociedade e Ambiente
e Coordenadora Adjunta do Grupo Etnografias do Capitalismo Contemporâneo da UNICAMP, o artigo referido é GONÇALVES, Alícia
Ferreira. Sobre o conceito de cultura na Antropologia. Cadernos de Estudos Sociais, v. 25, n.1, p. 61-74, 2010.
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Professora Titular, aposentada, da Universidade de Brasília, é atualmente Pesquisadora Sênior do Departamento de Antropologia da
UnB e do Núcleo de Antropologia da Política (NUAP) e CNPq, o artigo referido é PEIRANO, Mariza. Onde está a antropologia? In: Mana
(UFRJ. Impresso), Rio de Janeiro, v. 3, n.2, p. 67-102, 1997.
ONDE ESTEVE A “CULTURA”? ONDE ESTÁ A ANTROPOLOGIA?
DIÁLOGOS E TENSÕES
INTRODUÇÃO
Os diálogos e tensões que permeiam
a construção do conhecimento em
Segundo Roberto Cardoso de Oliveira Antropologia podem ser analisados,
(1988) a história do pensamento antro- fundamentalmente, no âmbito dos méto-
pológico se realiza por meio de diálogos e dos, implicações e influências de cada
tensões entre os paradigmas que compõe escola de pensamento4. Dessa forma,
as escolas de pensamento antropológico. faz-se necessário um percurso histórico
É nesse contexto sociológico, portanto, acerca de seu objeto central, embora aqui
que se faz de extrema relevância revisi- ainda modesto, devido seu círculo infin-
tar as obras e/ou autores considerados dável, que seja o de cultura.
clássicos, pois tanto contribuíram para Especificamente, e numa perspec-
esses diálogos e tensões e cimentaram o tiva comparativa, é a partir do final do
caminho de iniciação para todos aque- século XIX que esse conceito toma corpus
les que se propõe hoje, a formação numa de análise e centro das preocupações da
tradição de conhecimento. disciplina, em contraponto às épocas
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Ver matriz disciplinar formulada por Roberto Cardoso de Oliveira (1988).
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“Geist que remete à tradição e aos valores nacionais (idiossincráticos) que se contrapõem às forças do progresso, a noção de Geist
realça os valores espirituais em oposição à ciência e à tecnologia” (GONÇALVES, 2010, p. 63).
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BENEDICT, Ruth. Padrões de cultura. Lisboa: Edições livros do Brasil, 2005. MEAD, Margareth. 1988 [1950]. Sexo e temperamento.
3. ed. São Paulo: Perspectiva.
Para Mariza G. S. Peirano, as Ciências Tal reconhecimento não faz dos clás-
sicos autores eternos e desvinculados
Sociais se organizam como comunidade do contexto no qual tem origem e/
transnacional, a partir de uma ideologia ou são apropriados. Mas tem como
comum, que deve manter os ideais de resultado observar que, apesar das
universalidade. Essa condição segundo a variações existentes, eles são essen-
ciais para a continuidade de um
autora, imprescindível, nos leva a leitura conhecimento que, em determinadas
e conhecimento indispensável das obras circunstancias, se tornou disciplinar:
clássicas, bem como do reconhecimento a questão de se saber quem são, onde
de sua relevância singular e contínua. são gerados, ou como se formam,
embora extremamente importante, é
secundária diante da sua existência
É aceitação, consciente ou não, de indispensável (PEIRANO, 1997, p. 68).
uma determinada história teórica que
situa determinadas obras e/ou auto-
res como clássicos de uma vertente
e estabelece uma linhagem não só Tendo como pano de fundo essas
de etnógrafos, mas de perguntas e questões gerais, Peirano perfaz um exercí-
de problemas, de questionamentos cio que tem por objetivo examinar ques-
teóricos enfim, que as novas gerações tões relativas às diversas manifestações da
herdam, procuram responder e legam
modificadas a seus descendentes. Antropologia em contextos contemporâ-
(PEIRANO, 1997, p. 68). neos. Visto que, a ideia difundida por uns
é o fim das disciplinas, a autora está preo-
cupada com os resultados de processos de
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São eles: dois nos Estados Unidos (After the Fact, de Clifford Geertz, e Making PCR, de Paul Rabinow) e dois na Índia (Pathways, de
T.N. Madan, e Critical Events, de Veena Das).
Não obstante, “não será esta a razão origens e orientações, por meio do diálogo
pela qual as universidades norte-ameri- e da comparação, é condição fundamen-
canas, hoje o centro da “cultura mundial tal para o avanço de nossa disciplina.
dos tempos”, precisam inserir, em seus Gonçalves alude Habermas (1987) para
quadros, especialistas de origem indiana, dizer que uma ação comunicativa eman-
paquistanesa, africana?” (PEIRANO, 2012, cipadora é necessária e que ela “pressu-
p. 2). Contudo, nos Estados Unidos o põe o abandono das tradições culturais
exótico tem se definido em outros termos, encerradas em si mesmas e a constru-
pelo exotismo dos autores, diversos são ção de valores universais” (GONÇALVES,
os trabalhos reunidos com o rótulo de 2010, p. 72). Retoma Kuper para enfatizar
cultural studies, sob o manto mágico da a busca pela semelhança e não na dife-
pós-modernidade apagando-se as parti- rença, o estímulo para nos comunicarmos
cularidades que são históricas e nacionais. e aventurarmos, para além das fronteiras
Nas prateleiras das livrarias norte-ame- étnicas, religiosas e nacionais. Por fim, o
ricanas a alteridade está, ironicamente pressuposto de uma suposta unidade do
“estranha”8 à Antropologia, assim como gênero humano validada pela teoria e a
esteve à Antropologia no trabalho de diversidade cultural empiricamente cons-
campo, em tempos não muito remotos. tatada, identidade e diferença, em sua
dialética, parece configurar os velhos dile-
mas que deram origem à disciplina, nos
seus primórdios. No mundo contemporâ-
AGENDAS E CONSIDERAÇÕES neo, segundo essa autora, vale ressaltar a
preocupação em torno de como e quando
diferenças se transformam em assime-
No final de seu ensaio, Peirano propõe trias, podendo se manifestar em atos
uma agenda de reflexões para o exame de terrorismo subjacentes ao acumulo
dos fenômenos híbridos da produção histórico dessas acepções.
social e intelectual do final dos anos 90
da disciplina. Para essa autora, retomar as
histórias teóricas, suas interseções e reco-
nhecer os clássicos, tornam-se igualmente
essenciais na produção dos saberes acadê-
micos que considera, relativamente, autô-
nomos e para o estabelecimento social da
Antropologia, com áreas de conhecimento
vizinhas, na sua prática contemporânea.
Alcançar níveis desejáveis de comunica-
ção entre os antropólogos de diferentes
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No sentido negativo da palavra; esquivo, não afeito, esquisito. Do latim extraneum, 'o que é de fora'; que não pertence à família..
REFERÊNCIAS
BAIARDI, Daniel Cerqueira. Conhecimento, Evolução e Complexidade
na Filosofia Sintética de Herbert Spencer. 2008. 146 f. Dissertação
(Mestrado em Filosofia)- Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2008.