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PRÓLOGO

Talvez a peça vos confunda, ó nobres;


Tudo é confuso, até que fique claro.
Se vós queirais saber, aquele é Píramo
E aquela ali é bela dama Tisbe.
Esse homem de argamassa representa
O cruel muro que separa os dois;
Os dois, pelo buraco aqui do muro,
Contentam-se em falar; o que é incrível.
Aquele ali, com cão, lanterna e espinhos,
Representa o luar, pois sabereis
Que era ao luar que os dois se rebaixavam
A se ver e se amar no cemitério.
Esse monstro, que chamam de leão,
Assustou certa noite a pobre Tisbe,
Que chegou antes, mas saiu correndo,
Perdendo na corrida a sua manta,
Que o leão deixou toda ensangüentada.
Chega depois o belo e jovem Píramo
E encontra, assassinada, a manta dela;
E então com horrenda e cabulosa espada
Ele varou seu peito efervescente;
E Tisbe, escondida atrás da moita,
Morreu da própria faca. Quanto ao resto,
Leão, luar, o muro e os dois amantes
Dirão, com palavrório, à vossa frente.
“SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO”, DE W. Shakespeare

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