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Nascimento, Vida Eclesiástica e Conversão de

José Manoel da Conceição

Palestra sobre o Nascimento, a Vida


Eclesiástica e a Conversão do Rev.
José Manoel da Conceição oferecida
à 1ª Igreja Presbiteriana de São
Bernardo do Campo.

Lic. Mauro Filgueiras Filho


São Bernardo do Campo – 22 de agosto de 2003
Palestra sobre o Nascimento, Vida Eclesiástica e Conversão do Rev. José Manoel da Conceição 2
Lic. Mauro Filgueiras Filho – 22 de agosto de 2003

Do Nascimento ao Novo Nascimento do ex-padre


Rev. José Manoel da Conceição
1. Introdução

A todos aqueles a quem Deus escolhe, ele tem o seu tempo e o seu modo
especial de agir com cada um. Todos que partilham dessa eleição têm também uma
obra específica para realizar, obra esta preparada por Aquele que elege (Ef 2.10).
Samuel era prometido como líder e representante de Deus (1Sm 1.28); ao profeta
Jeremias Deus escolhera desde o ventre materno para ser mensageiro (Jr 1.5); a
Ezequiel foi dado o rolo para que comesse para profetizar (Ez 3.3); João Batista era
cheio do Espírito Santo ainda no ventre materno (Lc 1.41, 44); o apóstolo Paulo era
um vaso escolhido de Deus (At 9.15, 16). Isso sem contar a magnífica galeria dos
heróis da fé (Hb 11.4-40).

Da mesma maneira vemos João Calvino, que sob a fúria de Farel foi
persuadido a fixar residência em Genebra, de onde brotou a Reforma a todo mundo
Ocidental. Assim foi com Hudson Taylor, que por meio de seus esforços, sob a graça
de Deus, trouxe multidões ao arrependimento na China. Assim foi com os grandes
vultos da história, com Martinho Lutero, John Kox, John Wesley, George Whitefield,
Charles Spurgeon, Lloyd-Jones e muitos outros.

Deus concedeu essa mesma graça ao Brasil. De maneira diferente, com


homens diferentes, mas com os mesmos meios. A graça de Deus se manifesta
salvadora sempre por meio das Sagradas Escrituras e da atuação do seu Santo
Espírito. Deus deu isso ao Brasil. Essas ramificações evangélicas que lutam em
trazer um “avivamento espiritual” ao Brasil precisam voltar os olhos para a nossa
história e ver que Deus já fez essa obra. Compete à Igreja dar continuidade ao que
Deus iniciou, pois sob a bendita Providência, todos os rumos necessários para uma
verdadeira reforma no Brasil podem ser tomados.

Da mesma forma que Deus usou aqueles santos no passado, Deus usa
homens santos em nossos tempos. Não temos a tradição de canonizar ninguém,
mas também não ignoramos que o Condutor de toda a história faz uso de homens
seus para propagar a sua glória. Ao invés de atentarmos em demasia para as outras
partes do mundo, devemos focalizar as nossas raízes e ver, que da mesma forma
que Deus executou seus planos redentores através daqueles grandes homens, a
sua graça transformou e fez uso de grandes santos aqui em nossa pátria.

É por esse prisma que temos que encarar a misericórdia de Deus em nosso
país, ao usar grandes homens como A.G. Simonton, A.L. Blackford, Schneider,
Eduardo Carlos Pereira, Álvaro Reis, Erasmo Braga, Boanerges Ribeiro e muitos
outros. Essas breves páginas são apenas um pequeno lampejo de como começou
as ser usado o primeiro pastor nacional. A este se aplica a mesma sentença, como
um chamado para “para abrires os olhos aos cegos, para tirares da prisão o
cativo e do cárcere, os que jazem em trevas.” (Is 42.7).

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2. Nascimento e Educação

Ao dar sua resposta depois de excomungado pela Igreja Católica Romana,


respondendo às duras acusações que sofreu pela mesma, começa o ex-padre,
dizendo:

“Eu nasci na cidade de S. Paulo aos 11 de março de 1822. Meus pais, mudando-se
dois anos mais tarde para Sorocaba, levaram-me consigo e lá cresci. Na idade de
doze anos comecei a estudar, e daí até completar vinte e três anos tinha feito os
meus exames de latim, francês, lógica, retórica e teologia moral e dogmática. Em
1844 fui ordenado diácono pelo finado D. Manoel Joaquim Gonçalvez de Andrade, e
por dezoito anos paroquiei nas igrejas de Água Choca, Piracicaba, Santa Bárbara,
Taubaté, Sorocaba, Limeira, Ubatuba e Brotas”.1

Sr. Manuel da Costa Santos, português e canteiro e Da. Cândida Flora de


Oliveira Mascarenhas geraram José Manoel da Costa Santos, que tornou o nome de
José Manoel da Conceição. Foi batizado na Sé de São Paulo, tendo o tio-avô, padre
José Francisco de Mendonça por padrinho. O pai deste, Antônio Francisco de
Mendonça, veio para o Brasil da Ilha do Faial, casou-se com Joana Rosa da
Trindade no fluminense. Depois de casados desceram para Santa Catarina, onde
nasceu o pai de Conceição.

Desde cedo Conceição mostrou profunda devoção pela religião, vivendo


numa família piedosa, dentro da concepção romanista. Mudaram-se para Sorocaba,
onde estava morando o padre Mendonça.

Padre Mendonça era o cura da cidade de Xiririca no Vale do Ribeira no ano


em que Conceição foi batizado. Neste mesmo ano, em setembro, ele prestou um
concurso, sendo aprovado para ser o vigário de Sorocaba, onde tomou posse a 3 de
fevereiro de 1824. O velho padre, em seu espírito organizado, vê-se obrigado a
arrumar a desordem deixada pelo padre anterior. Conforme Boanerges Ribeiro
descreve que Mendonça era “consciencioso, enérgico sem violência e instruído”.2
Aos cuidados desse amável padre ficou José Manoel da Conceição.

Pouco se sabe sobre sua infância, mas temos a impressão deixada por
Boanerges, que caracteriza bem o que produziu no jovem Conceição uma
personalidade reflexiva e muito retraída:

“Tenho a impressão de que a infância de José Manoel não foi alegre. Votado desde
logo ao sacerdócio; única crença entre os adultos da casa; assombrado pelo mosteiro
vizinho, de Sta. Clara, com seus paredões sem janelas, sua capela sombria; morador
de uma rua cujo horizonte era fechado pelas curvas barrocas do mosteiro de São
Bento, que se espreguiçavam no alto do morro, manchadas às vezes pelo hábito
negro de seu único frade, tudo indica que sua infância foi solitária, e quase
desagradável”.3

Esse foi o contexto que, talvez, tenha trazido uma devoção silenciosa e
sombria em sua vida eclesiástica.
1
José Manoel da Conceição, Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, Rio de Janeiro, Typografia
Perseverança, 1867, p. 3.
2
Boanerges Ribeiro, José Manoel da Conceição e a Igreja Evangélica, São Paulo, O Semeador,
1995, p. 7.
3
Boanerges Ribeiro, O Padre Protestante, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1979, p. 24.

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Aos doze anos o menino José foi matriculado pelo tio na escola de “Mestre
Jacinto” – Jacinto Heliodoro de Vasconcelos. A descrição feita dessa escola não traz
nada de extraordinário, mas revela muita seriedade. Local simples, com mobília
escassa. O ensino de leitura, escrita, matemática, aspectos gerais da geometria,
gramática portuguesa formavam o currículo junto ao catecismo e a história Sagrada.
Havia férias no fim do ano e folga às quintas-feiras. O castigo corporal era aplicado,
no entanto, não parece que com muita freqüência. Era lido com freqüência o
Catecismo do bispo Colbert, de Montpellier. Este catecismo fora vetado pelo
Vaticano, por ser Colbert jansenista.4 Não há razão para não crer que esse foi um
dos instrumentos da Providência para a abertura da mente para a implantação do
pensamento reformado na mente de Conceição.

3. Início do Conflito

O estudo dos clássicos formava importante parcela da educação. Estudava-


se César, Cícero, Ovídio, Vergílio, Horácio. José Manoel era inteligente e muito bem
reputado por seus professores e alunos. Aos dezesseis anos manifestou grande
devoção. Descreve o biógrafo que Conceição declarou certa vez, sobre o seu apego
ao Evangelho, que “nessa crença viveram nossos pais, e nela morreram”.5 Sua
instrução e ensino contam muito do acompanhamento sempre presente dos cargos
eclesiásticos do tio, que no exercício de seu ofício causou forte impressão, dando
respaldo para o cumprimento do ofício de Conceição no futuro.

Aplicou-se ao latim com o padre José Gonçalves. Aos dezoito anos


Conceição começa a ler a Bíblia. Nesse período é contratado um pintor francês,
Carlos Leão Bailot, para a reforma da Matriz de Sorocaba. Foi contratado pelo padre
Mendonça, de quem o jovem Conceição recebeu lições de desenho. O conflito
começou quando ele leu em Gênesis 1.28: “Sede fecundos, multiplicai-vos”. Sua
mente perspicaz percebeu certa incoerência entre os primeiros capítulos da Bíblia e
sua amada Igreja.

Ao questionar o pintor veementemente, ouviu a sua paciente resposta:

“– Menino, aprende em tua Bíblia a distinguir a alegoria da religião; o fim da


Bíblia é ensinar-nos a amar a Deus sobre tudo e depois amar-nos uns aos
outros como bons irmãos filhos do nosso Pai que está no céu; entendes meu
menino?”.6

4
Jansenismo é o nome que se dá a uma facção da Igreja Romana. Cornélio Otto Jansen (1585-1638)
era holandês e expôs num livro a doutrina Agostiniana que se aproxima muito da de Calvino no
conceito da livre e soberana graça salvadora de Deus. Essa doutrina se opõe à teoria jesuíta da
salvação pela própria iniciativa e esforço humano. O jansenismo penetrou no Brasil ao ser oficializado
o ensino do Catecismo de Montpellier, que foi condenado em 1771 por Roma. Isso bastou para
causar escândalo aos núncios apostólicos, que eram os representantes do Vaticano no Brasil (Wilson
Santana Silva, Idéias Novas e Velho Catolicismo, apostila de aula, obra não publicada, pp. 3, 14, 15).
5
Boanerges Ribeiro, O Padre Protestante, p. 25.
6
Ibid., 29.

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4. Nos Estudos ao Sacerdócio

Decidido em ser padre vai para São Paulo para candidatar-se por volta de
1840 e 1842. O curso não era em seminário. Havia o Curso Anexo da Academia
Jurídica e a Teologia. As aulas eram dadas na própria residência dos mestres,
depois, na Sé Catedral. A juventude que José Manoel encontrou era boêmia e
mundana. Divertiam-se com romances, filosofias heréticas e céticas e bebidas.

Conceição estudou filosofia com o padre Francisco de Paula Oliveira; latim


com Antônio Gennense, admirador de Emanuel Kant. Em retórica lia Quintiliano e
Horácio. Nova língua contribuiu sua carga cultural, francês, aprendido no Curso
Anexo. No meio dessa celeuma intelectual, os colegas de José saíram perdidos,
com espírito crítico, cético e pervertido. José saiu pregador evangélico.

Passando desta fase, prestou exames e foi aprovado para a Teologia. Foi
aluno de duas importantes figuras, os cônegos da Sé Idelfonso Xavier Ferreira, com
quem aprendeu dogmática, e Joaquim Anselmo de Oliveira, com quem aprendeu
moral. Idelfonso foi quem gritou “Viva o rei do Brasil” no dia 7 de setembro de 1822,
na Independência. Tinha o espírito eminentemente jansenista, tendo a ousadia de
trabalhar na tradução da obra condenada pelo Papa, Compêndio de Teologia
Dogmática, cujas idéias eram liberais.

Anselmo era o oposto. Impulsivo e irado contra qualquer pensamento liberal.


Os dois mestres eram bem diferentes e chegaram, dez anos mais tarde, a trocar
tapas, a ponto de Anselmo ferir com faca o colega Idelfonso. Outra pessoa que
influenciou Conceição foi o Frei Joaquim do Monte Carmello, doutor em Teologia
pela Universidade de Roma. Era a favor da tolerância e da liberdade de consciência,
sedno inimigo ferrenho dos jesuítas e de todos os padres conservadores. Quando
conheceu José Manoel, afeiçoou-se a ele, e defendeu-lhe a moral mesmo após a
sua morte.7

5. Nova Influência

Com vinte anos era destacado como o melhor aluno. Fez todos os exames e
passou, a 30 de abril de 1842. José Manoel foi aprovado e tonsurado,
conseqüentemente, ordenado sub-diácono, num domingo. Tudo colaborava para o
seu progresso. Estava a caminho para a ordenação de diácono. Escreve Boanerges
que:

“Até aqui tudo indica para o jovem clérigo uma carreira fácil e brilhante. Seu futuro
seria lecionar também a estudantes de Teologia ou filosofia, pregar sermões
ramalhudos sobre os santos principais e, quem sabe, um dia o báculo episcopal. Os
mestres o estimavam, o tio não estava mal colocado e a pressa de sua ordenação
mostra que o bispo reconhecia seus méritos. Era talentoso e era trabalhador”.8

Todavia, explodiu em 17 de maio a Revolta Liberal em Sorocaba e todas as


ordenações foram suspensas. Conceição e seu tio assinaram a Acta da Revolta. A
luta era de Conservadores contra Liberais. Enquanto essa luta travava as transações
7
Pouco antes da morte de Conceição, o frei foi visitá-lo e dedicou-lhe um sermão. Em 1873 ele
escreveu sobre outro assunto, mas relembrou fases da vida do ex-padre (ibid., p. 37).
8
Ibid., p. 40.

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eclesiásticas e impedia o progresso de Conceição, ele decide ir à Sorocaba esperar


passar a crise. Receoso e cuidadoso, seu tio-avô o encaminha para Ipanema, onde
ele teria mais tranqüilidade do que em Sorocaba.

Fora de toda crise da Igreja, Conceição dedica-se novamente à leitura das


Escrituras. Estava instalado perto de 27 famílias alemãs. Enquanto ficava ali,
auxiliava o Capelão. Fez amizade com o inglês Godwin, um dos chefes do serviço
da Usina siderúrgica. Com ele, Conceição começa a arrastar um pouco de inglês.
Foi onde também conheceu, segundo Antônio Gouvêa Mendonça, João Henrique
Theodoro Langaard, médico dinamarquês que clinicava os trabalhadores de
Ipanema. Com quem também trocava aulas de alemão9; e com quem também,
segundo Carl Joseph Hahn, adquiriu conhecimentos de medicina e artes.10 Sugere
Gouvêa que “O Conhecimento do alemão e o acesso aos livros de Langaard podem
ter aberto a Conceição os conhecimentos históricos e críticos que mais tarde poriam
em xeque a sua fé católica”.11

Começou a confraternizar-se com essas pessoas estranhas. Descreve


Boanerges que:

“A tranqüilidade da casa era impressionante; aquela gente entendia que o domingo


era um dia à parte, sobre o qual não tinha direito. Nem passeios, nem jogatinas, nem
bebedeiras. Leitura da Bíblia e de livros religiosos, descanso, convívio familiar. E
eram protestantes!”.12

A própria descrição de Conceição revela sua impressão:

“Eu ia com freqüência a uma fundição de ferro em Ipanema (em Sorocaba, na minha
região) onde visitava a família Godwin cujo pai, Mr. Godwin era superintendente da
casa de máquinas. Eu me comovia profundamente ao observar o completo silêncio
que lá reinava aos domingos. Era uma família inglesa. Mais tarde, quando eu fui
admitido na comunidade eu via a totalidade das famílias a ler a Bíblia e livros
devocionais. Mais tarde, eu visitei quase todas as famílias alemãs e em todas eu
encontrei o mesmo quadro de devoção e religião. Comecei a pensar: quem sabe se
estes estrangeiros têm tanta religião como nós, os brasileiros? Seria a religião deles
igual à nossa? Ainda, quem sabe se eles não mais religiosos que nós porque são
mais civilizados do que nós?”. 13

Cheio de admiração, o sub-diácono Conceição aprendeu a admirar o


protestantismo, dotado de uma rara sensibilidade para detectar uma verdadeira
atmosfera evangélica.

6. Decepção e Dificuldade

Terminou em 1843 a grande crise e mal sabia Conceição o que lhe


aguardava. Quando estavam todos os candidatos prontos para a ordenação,
Conceição estava em desvantagem. Cada candidato estava apadrinhado de alguém
influente na corte, e Conceição era independente. Minutos antes da cerimônia,

9
Antônio Gouvêa Mendonça, O Celeste Porvir, São Paulo, ASTE, 1995, p. 85.
10
Carl Joseph Hahn, História do Culto Protestante no Brasil, São Paulo, ASTE, 1989, p. 189.
11
Antônio Gouvêa Mendonça, O Celeste Porvir,
12
Boanerges Ribeiro, O Padre Protestante, p. 44.
13
O Puritano, 14 de junho de 1900, p. 1. Apud. Carl Joseph Hahn, História do Culto Protestante no
Brasil, p. 189.

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aproxima-se dele um padre, informando-lhe que ele não seria ordenado. Havia um
processo contra ele por causa dos conflitos; ele e o tio assinaram a Acta da Revolta.
E, pior, Conceição se confraternizou com os “hereges” alemães e ingleses.

Decepcionado e desanimado voltou chocado para Sorocaba. Insistiu com ele


o padre Mendonça. Não foi fácil convencer o rapaz, mas ele regressou disposto e foi
ordenado diácono em 29 de setembro de 1844. Trabalhou durante oito meses com o
padre Mendonça em Sorocaba. Enquanto executava sua função, conflitos internos
eram travados quanto a tudo que tinha aprendido com os protestantes e com as
leituras bíblicas. Começou a enxergar que a Igreja que iria servir tinha falhas
profundas.

Batizou os filhos de Langaard. Estava decidido a viver e tentar concertar os


erros de sua Igreja. Em 29 de Junho de 1845, com vinte e três anos foi, então,
ordenado presbítero, na capela do Palácio Episcopal. Foi para Limeira como vigário
encomendado. Nesta cidade, Boanerges descreve que ele:

“Era um padre que batizava na matriz e nas fazendas, casava, encomendava


defuntos, sem jamais cobrar. Se lhe davam alguma coisa, aceitava; se não, nem
tocava no assunto, sempre que aparecia um necessitado, era certo ir o padre atrás
das pessoas de mais recurso na vila, e não tinha sossego enquanto não via o pobre
socorrido”.14

Seus sermões não pareciam com os dos seus colegas padres. Usava dos
artigos alemães que possuía; foi influenciado pela leitura dos sermões de Martinho
Lutero. Estavam os clérigos incomodados e resolveram transferir o padre
protestante, como o chamavam. Não podiam permitir que ele fincasse raízes em um
lugar. Os limeirenses não reclamavam do jovem vigário. Ele era desprendido e
aplicado, além de simpático e agradável. Mas o bispo não quis saber. Aquele padre
protestante era um risco.

Foi transferido para Piracicaba, onde foi coadjutor do padre Manoel José de
França; depois para Água Choca (Monte Mor). Quatro anos depois, o padre José
Manoel volta a Limeira, onde ficou até 1854. Passou rapidamente por Taubaté. Em
1856 foi para Ubatuba, mas logo em seguida foi para Santa Bárbara, onde se
estabeleceu de 1857 a 1859. Em 12 de agosto deste ano chega A.G. Simonton.

A 15 de abril de 1860 estava em Brotas. Em todo lugar tentava realizar sua


reforma, mas quando detectado era transferido rapidamente. Começou a estudar
livros de medicina que pediu da Europa; também se dedicava em física e botânica. É
descrito até que “Raro era o enfermo por ele tratado que não experimentasse alívio
dos seus padecimentos. Pessoas desenganadas por habilíssimos médicos foram
curadas pelo padre Conceição”.15 Em março de 1852, novo bispo foi para São
Paulo, o padre Antônio Joaquim de Melo, nomeado pelo governo imperial. Tendo
crescido o nome, o padre José Manoel da Conceição prega em Campinas.

O padre começou a ficar cansado. A chacota dos colegas começou a pesar-


lhe; além de padre protestante, acrescentaram-lhe outro apelido, padre louco.

14
Boanerges Ribeiro, O Padre Protestante, p. 53.
15
Ibid., p. 68.

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Quando conseguiu retomar sua força, o padre Conceição começou a traduzir do


alemão a História Sagrada. Mas estava sempre cansado, pois, tal como Lutero,
ansiava por um reavivamento interior, e sua Igreja não lhe proporcionava nenhuma
transformação. Sua mente já estava fatigada; começou a ficar em estado de
melancolia profunda. Para acrescentar, em 5 de setembro de 1852 morreu o tio,
padre Mendonça. Seus bens são repartidos entre o sobrinho-neto e os pobres.
Conceição distribui também a sua parte.

Quando chegou em Brotas, reuniu fazendeiros, vereadores e pessoas


comuns para tratar da condição decadente em que a igrejinha de lá se encontrava.
Ao começar o trabalho, reencontrou vigor para combater os erros do romanismo,
encomendando sempre a Bíblia ao povo. Atacava diretamente os erros, mas,
conforme Boanerges, ele “Tentava cortar frutos venenosos, sem atentar para a
natureza da árvore”.16 Nunca foi sua intenção um cisma, mas uma reforma integral
no seio da Igreja. Ele não via a profundidade da corrupção da Igreja. Queria reforma.

Estava aflito, ao ponto de dizer a um casal de noivos que foi se confessar com
ele em 1862: “Eu e vocês precisamos nos confessar a Deus, e não aos homens”.17
Ele chegou a um ponto extremo. Não podia continua seu trabalho. Pediu
afastamento da paróquia no começo de 1863, quando o bispo era D. Sebastião
Pinto do Rego.18 O bispo acolheu o colega aflito e lhe deixou como vigário da vara,
isto é, um delegado do bispo, sem funções sacerdotais.

Ao concordar, o padre Conceição comprou uma chácara em São João do Rio


Claro, à margem de Corumbataí e mudou-se para lá, dedicando-se à lavoura.
Continuou a fazer os registros de casamento até junho de 1864. Estava numa
agonia terrível, sem força, sem paz e sem Deus. Essa crise é o grande risco para a
Igreja Romana, pois ela é promovida pelas Escrituras. O conhecimento das
Escrituras é a causa de muitos abandonos dessa Igreja. Esse é o poder da Palavra,
de virar a pessoa do avesso e derrubar todas as heresias, cuja fonte é o próprio
coração do homem. Sobre isso, anos depois Conceição escreve: “O pouco que
podia ler da Bíblia nunca deixou de tocar-me; do tesouro das preciosidades
adquiridas nessa leitura tirava o material de que carecia para falar, para pensar e
mesmo para obrar”.19

Corretamente Stendhal, em seu romance, citou um cura reclamando: “eis a


prova desta tendência fatal para o protestantismo que sempre reprovei...Um
conhecimento aprofundado e bem aprofundado da Sagrada Escritura”.20

7. Virado do Avesso

Na região para onde se mudou havia uma colônia de protestantes. A Missão


Presbiteriana enviou para lá missionários, a fim de assistirem aos colonos. Estava na

16
Ibid., p. 82.
17
Ibid., p. 85.
18
Este teve como pedra no sapato o Frei Joaquim do Monte Carmello. O bispo era conservador, e o
Frei era liberal.
19
José Manoel da Conceição, Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, São Paulo, Typografia,
1867, p. 3.
20
Stendhal, O Vermelho e o Negro, São Paulo, Nova Cultural, 2002, p. 124.

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capital da Província o Rev. Alexander Latimer Blackford, cunhado de Simonton. Ele


se encaminhou para Rio Claro em 22 de outubro de 1863. Ao chegar na cidade,
ouviu falar de um padre esquisito que morava ali. Curioso e interessado foi visitá-lo.
Ao procurá-lo, Blackford comenta em seu diário: “Um perfeito cavalheiro. Com cerca
de 40 anos de idade, corpulento, bem feito e gordo, com semblante que revela
bondade. Inteligência viva, cultivado, e com as maneiras de um perfeito
cavalheiro”.21

A conversa foi curta, mas produtiva. Assuntos vitais foram tratados. Blackford
procurou não entrar em assuntos polêmicos. À medida em que o pastor ia
apresentando os versículos bíblicos, sobre a salvação somente mediante a remissão
do sangue de Cristo, o padre concordava, sem discutir. Comenta Boanerges que
“Quando Blackford se retirou uma eternidade de alegria inundava o coração do
padre”.22 O pastor missionário deixou alguns exemplares da Bíblia e alguns folhetos
sobre a mesa. O padre saiu a distribuí-los em Brotas.

Após a visita, o padre Conceição continuou a exercer seu ofício, fazendo


alguns casamentos e insistindo ao povo para ler a Bíblia. Correspondência
permanente se fixou entre os dois homens. Depois, numa quinta-feira, 19 de maio de
1864, Conceição foi a São Paulo e encontrou-se com o ministro presbiteriano.
Permaneceu em São Paulo até o dia 24, ouvindo palestras e sermões. A senhora
Lille, esposa de Blackford não perdeu tempo ao vê-lo: “Por que o senhor não
abandona a Igreja Romana?”. Isso o embaraçou por um tempo, mas ele começou a
enxergar o remédio para todas as suas crises e melancolias. Comprometeu-se a
estudar as doutrinas reformadas e, depois, professaria a fé em Cristo.

Passou o mês de julho em profunda meditação e em dedicado estudo.


Compartilhou com alguns sua resolução. Enviou, então uma carta ao Rev. Blackford
dando a resposta final. Blackford dá o seu parecer:

“...recebi dele uma carta sumamente encorajadora, dizendo que estava resolvido a
sofrer tudo pelo amor de Cristo, e tudo sacrificar por Sua causa. Observava, contudo,
que quando renunciasse ao sacerdócio e ao romanismo ver-se-ia praticamente
privado de qualquer meio de subsistência. Respondi prometendo-lhe todo o auxílio
que me fosse possível dar-lhe ou arranjar, e que o Senhor proveria com abundância
23
se ele lhe entregasse plenamente a vida”.

No dia 23 de setembro o padre chegou à casa do pastor decidido a não dar


um passo sequer atrás. Na quinta-feira, dia 28 de setembro de 1864, teve uma
audiência com o Bispo, comunicando-lhe sua decisão de abandonar o sacerdócio da
Igreja Católica Apostólica Romana. Transcrevo abaixo a carta do ex-padre ao Bispo:

“Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Bispo,

“Renunciar a uma religião que me inspirou os melhores atos de minha vida é passo
tão sério que apenas uma convicção inamovível – a fé, me decidiu a tomá-lo.

“Contudo, apesar da sinceridade de nossos atos, o mundo os julga de modo


arbitrário, e ninguém pode furtar-se ao dever de explicá-los a amigos e inimigos, às

21
Boanerges Ribeiro, José Manoel da Conceição e a Igreja Evangélica, p. 33.
22
Ibid.
23
Boanerges Ribeiro, O Padre Protestante, p. 109.

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autoridades e à sociedade. Pretendo produzir tal explicação dentro de pouco tempo, a


fim de que todos possam, após estudo e meditação, julgar-me com justiça e
liberdade.

“À V. Excia., príncipe da igreja a que pertenci, devo antes de tudo confessar que dela
me separei – porque no evangelho de Cristo, nosso Divino Redentor, aprendi a não
confundir com Seu ensino máximas, invenções e tradições de homens. Sinto que,
como atualmente se constitui a Igreja de Roma, é absolutamente impossível manter
intacta, em seu seio, aquela liberdade de consciência indispensável à pregação e à
prática do Evangelho. Separando-me dessa Igreja eu poderei remover os obstáculos
a uma vida mais conforme com Jesus Cristo, de cujo Evangelho não somente não me
envergonho, mas confesso solenemente que somente ele pode indicar-me o Caminho
da Vida, ensinar-me a verdadeira vida aqui e na eternidade, pela fé na Redenção do
Filho de Deus.

“Deus salve vossa Excelência Reverendíssima.


Cidade de São Paulo.

“Ao Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor D. Sebastião Pinto do Rego,


Digníssimo Bispo de São Paulo, e do Concílio de Sua Majestade Imperial de quem
sou o mais humilde servo.

“José Manoel da Conceição”.24

Deve ser notado que, em parte alguma, José Manoel tratou com sua antiga
igreja com leviandade ou indolência, mas como um perfeito cavalheiro, de maneira
sumamente respeitosa, preteriu seu ofício e igreja.

Um pobre homem, com todo o fardo maldito de seu próprio pecado, tentava
perseverantemente retirar de si todo aquele peso por meio das fórmulas e tradições
que sua amada igreja lhe impunha. Não tinha outra confiança. Nenhum outro lugar
lhe dava opção melhor, mais razoável ou mais fácil. O único meio para encontrar
alívio e perdão era abafar a própria miséria através dos pesados, terríveis e
impiedosos dogmas romanos. Mas essa luta infernal encontrou seu fim. O alívio para
uma mente recheada de mentiras e de falso consolo não tem resposta em outro
lugar, senão onde José Manoel encontrou. Deixemos que ele mesmo fale:

“Para sentir a alteração completa e radical que as circunstâncias dos tempos e dos
diversos lugares têm causado à fé primitiva evangélica, basta compararmos as
práticas, usos, rituais e dogmas, que abundam atualmente no romanismo, com o
credo ou símbolo dos apóstolos, e logo se reconhecerá que o uso de imagens,
devoções e romarias dos santos, promessas, votos penitências impostas e
determinadas, comutações, dispensas, as chamadas relíquias, bulas, e mil outros
meios de graças, que constituem a essência do romanismo atual, são especulações
de data muito recente, que nenhuma autoridade tem na velha fé católica e apostólica
da Igreja evangélica de Nosso Senhor Jesus Cristo, a qual meu coração aderiu com
júbilo desde que, podendo por mim mesmo ler a palavra de Deus, reconheci-a como
protótipo da verdade. (...) Deus se compadeceu de minha miséria, e, de um modo
para mim inesperado e em tudo providencial, deu-me a conhecer mais claramente a
verdade, e fez-me sair do melindroso estado espiritual em que me achava. Derramou
a sua graça em meu coração; indicou-me outro destino, mais digno de um anjo do
que de um pobre pecador, e ministrou-me os meios de segui-lo”.25

24
Ibid., pp. 110, 111.
25
José Manoel da Conceição, Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, pp. 12, 13.

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Palestra sobre o Nascimento, Vida Eclesiástica e Conversão do Rev. José Manoel da Conceição 11
Lic. Mauro Filgueiras Filho – 22 de agosto de 2003

Conceição desistiu de tentar reformar a Igreja Romana. E caso alguém


reclamasse dele o porquê de não continuar tentando a reforma interna, ele,
lucidamente, responde:

“Por quê não trabalhou pela reforma, sem deixar a Igreja Romana? A isto respondo:
quando um edifício em desmoronamento ameaça completa ruína, é impossível
continuar a residir nele, mas sai-se dele, ao menos até que seja reconstruído sobre
bases firmes, sob pena de ficar com ele sepultado.
“Seria, porventura, possível combater os erros e abusos do Romanismo
permanecendo membro do mesmo?
“A história, tanto sagrada como a profana nos respondem: é impossível”.26

8. Profissão de Fé Evangélica, Crise e Consolo

Simonton esperava a chegada do seu colega junto com o padre e escreveu


em seu diário:

“O ‘Santo Maria’ está ancorado e esperamos a chegada do Sr. Blackford e do Padre


que tem estado tanto em nossos pensamentos e conversas nestes últimos meses.
Ele decidiu deixar Roma e Obedecer ao Evangelho. Temos grandes esperanças de
que Deus o tenha escolhido para importante trabalho no Brasil. Possa ele ter o
ensinamento do espírito e a retidão da fé”.27

Decidido e convertido o ex-padre Conceição professou a fé e foi batizado pelo


Rev. Blackford em 23 de outubro de 1864. Rev. Simonton proferiu breves palavras.
Rápida amizade se fez entre Conceição e Simonton, ainda se recuperando pela
recente morte de sua esposa. Conceição registra esse momento:

“era um belo dia. Ao som do harmonium e de vozes humanas que cantavam hinos, fui
levado a uma fonte de água pura. Suponhamos dois daqueles anjos de Kopstock na
Messíada. Tais eram os dois ministros de Deus que velavam no meu interesse.
Fizeram-me lavar, e cobriram-me de bênçãos. Foi para mim um momento solene...”.28

Ainda comenta Simonton que Conceição falou “de modo muito apropriado e
em linguagem vigorosa explicou o passo que tinha dado”.29

Mas as crises ainda não tinham passado por completo. Um dia, sem qualquer
aviso, Conceição desapareceu. Blackford encontrou-o em Brotas, a 31 de janeiro de
1865. A tortura do sentimento de culpa, e de tantos anos vivendo ensinando
mentiras não o deixavam em paz. Versículos ao monte eram-lhe citados e insistidos
sobre o perdão total de Deus, mas nada lhe dava repouso na alma. Em seu diário,
Simonton comentou: “está tão deprimido com seus sofrimentos nervosos que a
morte lhe seria alívio. Posso apenas entregá-lo a Deus que pode curar”.30 E curou.

Ele estava sentindo de maneira profunda e dolorida a cauterização dos seus


pecados, como na linguagem deprimente, contudo restauradora, do Salmo 32. O
tormento teve o seu fim, em suas próprias palavras:

26
Ibid., p. 27.
27
Ashbel Green Simonton, Diário, 1852-1867, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1982, 6 de
outubro de 1864, p. 193.
28
Boanerges Ribeiro, O Padre Protestante, p. 116.
29
Diário, 26 de outubro de 1864, p. 194.
30
Ibid., Monte do Castelo, 26 de novembro de 1864, p. 195.

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“Até que ouvi estas palavras: O sangue de Jesus Cristo purifica de todo o pecado. De
dia para dia estas palavras se tornaram mais claras e atrativas e eu, como
despertado de um longo sono, sentia se me aviventarem no juízo as terríveis
palavras, mas ao mesmo tempo se operava o meu restabelecimento”.31

Esse foi o período em que a Providência guiou o velho padre e o novo homem
a uma consciência exata e precisa de quem ele é e da obra que Cristo fez em sua
vida. A história se desenrola e por meio desse novo apóstolo do interior de São
Paulo caminhos que os missionários americanos não conseguiram enxergar, Deus
abriu para o protestantismo. Produzindo a trinta, a sessenta e a cem por um. A partir
daquela integral transformação, o Brasil passa a conhecer, nas palavras de Vicente
Themudo Lessa, “Uma vida de abnegação no mais extremado grau”.32

9. Conclusão

O final desse trabalho narra apenas o início de uma longa jornada. A primeira
obra não foi o padre quem fez, foi Deus. Deus o agraciou com seu amor,
transformando um coração totalmente esmigalhado pelo pecado, num coração
completamente novo. Assim é a obra de salvação. Deus é quem faz toda a obra; ele
é quem dispõe todo o coração do novo homem para amá-lo. Ele é quem converte e
dá capacidade para um genuíno arrependimento.

O arrependimento marca o começo de uma nova vida. Compete aos que


foram transformados por Deus dar continuidade a essa obra. O morto foi
ressuscitado, o perdido foi achado, o pecador foi transformado num santo redimido,
das trevas ele foi para a luz, o padre virou pastor. Pelo poder e obra do Espírito
Santo, a experiência e a vida do Rev. José Manoel da Conceição abriu caminhos
para a missão nacional; ele foi e continua sendo fonte de inspiração para todos os
pastores evangélicos. O grande desejo do seu coração ardente, que o inspirava a
ser um fiel embaixador de Cristo, pregando incansavelmente o evangelho, era ver a
restauração dos incrédulos, a libertação dos pecadores, e, sobretudo, a promoção
da glória de Deus:

“Quando a Bíblia correr pelas mãos de todos os povos, então se hão de realizar as
promessas do Salvador, que a religião dele prevalecerá em toda a terra. Manifestar-
se-á, então, a universalidade de sua Igreja. Gozar-se-ão a paz, a felicidade e a
prosperidade, prometidas por Deus ao mundo, e aneladas agora pelas nações.
“Deus apresse a vinda desse tempo.
33
Amém”.

31
Boanerges Ribeiro, O Padre Protestante, p. 120.
32
Vicente Themudo Lessa, Annaes da 1ª Egreja Presbyteriana de São Paulo, 1863-1903, São Paulo,
1ª Egreja Presbyteriana Independente de São Paulo, 1938, p. 109.
33
José Manoel da Conceição, Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, p. 32.

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