Você está na página 1de 16

UENF – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY

RIBEIRO
CCT – CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS
LENEP – LABORATÓRIO DE ENGENHARIA DE EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO
DE PETRÓLEO

Petrofísica Interativa
Trabalho Final

Érica Mello Lisbôa


Tatiana Vitório Isidorio

Professor: Lucas Carvalho

Macaé – 2017
1. Introdução

A perfilagem geofísica de poços é uma importante ferramenta para a avaliação


exploratória de reservatórios. Através dela podemos inferir os fluidos e a litologia
das camadas perfuradas bem como a profundidade em que se encontram.

Os perfis geofísicos auxiliam nos conhecimentos das características do


reservatório tais como: porosidade, argilosidade, permeabilidade, saturação de
água e densidade. A partir dessas características que conseguimos saber a
qualidade do reservatório, melhor determinar os locais de perfuração e prolongar a
vida útil do campo.

O Campo de Namorado, situado na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, foi


descoberto em 1975, sendo considerado o primeiro campo gigante da plataforma
continental brasileira após a perfuração do poço RJS-19. Sua localização
geográfica está na Figura 1.

Figura 1: Localização geográfica da Bacia de Campos com destaque para o


Campo de Namorado

Ele possui o intervalo deposicional dos reservatórios e é constituído por arenito


turbidítico de idade Albiano superior a Cenomaniano médio/superior. Esses
depósitos formaram-se durante a fase transgressiva da Sequência Clástica
Marinha na bacia. Segundo Ponte, em 2010, os turbiditos concebiam rochas
reservatórios que continham 88,6% das reservas totais de petróleo no Brasil
(Figura 2).

Figura 2: Gráfico indicando a parcela de contribuição dos tipos de rochas


reservatório de hidrocarbonetos no Brasil (Modificado de Lima, 2004).

O objetivo desse trabalho, além de nos deixar familiarizado com o software


Interactive Petrophysics, é caracterizar o reservatório, interpretando os perfis de
Raio Gama, de Resistividade, o Neutrônico, o Sônico e o de Densidade, calcular
os parâmetros geofísicos importantes, localizar os contatos óleo/água e estimar o
volume de óleo recuperado utilizando a Equação de Archie.

2. Teoria

2.1. Gama Ray

O perfil de raio gama (gama ray) consiste em um cintilômetro destinado a


detectar e medir a radioatividade natural emitida pelas rochas. Esta
radioatividade é emitida pelas argilas existentes no meio poroso e constituintes
dos folhelhos.
Este perfil é um indicador litológico (altos valores são característicos de
folhelho, médio valores de arenito e baixos valores de carbonatos) e usado
para medir a argilosidade da rocha.

2.2. Indução

Este perfil consiste na passagem de corrente elétrica na formação e registra


a sua resistência. A bobina transmissora gera um campo magnético que induz
correntes circulares nas camadas, que por sua vez geram campos magnéticos,
induzindo sinais na bobina receptora. Estes sinais são proporcionais à
condutividade da formação e, portanto, inversamente proporcional a sua
resistividade.

Este perfil é um indicador de hidrocarbonetos, quando registra altos valores


e um indicador de água, quando registra baixos valores.

2.3. Neutrônico

O sensor tem fontes de nêutrons, os quais ao serem bombardeados na


formação colidem com os núcleos atômicos dos elementos constituintes da
formação e desalojam elétrons, havendo um efeito de espalhamento (efeito
Compton) e são capturados por um detector. Quanto mais densa a formação,
mais elétrons ela possui e mais raio gama de espalhamento são detectados.

Portanto, o perfil neutônico mede a porosidade da formação e identifica as


zonas de gás ou hidrocarbonetos leves.

2.4. Sônico

Possuem transmissores de ondas sísmicas (sonoras) que se propagam


pela lama e pelas rochas até atingirem os receptores. Mede a diferença nos
tempos de transito dessas ondas sísmicas.
Através deste perfil pode-se estimar a porosidade, o grau de compactação
das rochas e suas constantes elásticas, detectar fraturas e fazer correlação
poço a poço.

2.5. Densidade

O perfil de densidade registra continuamente os valores de densidade


efetiva das formações através do bombardeio das camadas de rochas por
feixes de raios gama. Kearey et al. (2009) afirmam ainda que o valor da
densidade (expressa geralmente em g/cm³) será estimado a partir da fração de
radiação gama que retorna para o detector.

Em formações densas, o grau de atenuação é bastante elevado e poucos


raios gama são detectados pelas ferramentas, todavia se a densidade da
formação for baixa a radiação verificada será maior.

Além de determinar a densidade das formações ainda auxilia no cálculo da


porosidade e na identificação das zonas de gás.

3. Metodologia

Para atingir os objetivos desta pesquisa, interpretamos osperfis e calculamos o


volume de óleo utilizando as fórmulas empíricas existentes.

Foi utilizado o software Interactive Petrophysics para plotar os perfis de todos


os poços disponíveis, que estavam em formato .LAS.

Após a primeira análise dos perfis, escolhemos alguns poços que eram
representativos de todo o reservatório (NA-01, RJS-19, NA-53, NA-44, NA-40D,
NA-11A, NA-04, NA-03D, NA-15D) para simplificar o estudo e calcularmos os
parâmetros petrofísicos desejados. Estes foram a argilosidade, permeabilidade,
porosidade estimada pelo perfil de densidade, pelo perfil neutônico e pelo sônico e
ainda a própria saturação de água, utilizando a Lei de Archie.
Posteriormente, foi feito uma analise qualitativa, onde identificamos o
reservatório, as zonas de hidrocarboneto e os contatos óleo/água.

Ao identificarmos as zonas de hidrocarboneto, foi feito uma média da


saturação de cada uma para cada poço, utilizando o software Excel e por fim,
conseguimos estimar o volume de óleo in place.

4. Resultados e Discussão
4.1. Caracterização do reservatório

Foram identificados o topo e a base do reservatório para cada poço, com o


objetivo de estimar sua espessura.

As porosidades utilizadas em todos os cálculos posteriores foram calculadas


através da média das porosidades do perfil neutrônico e a permeabilidade foi
calculada usando a média da permeabilidade média de cada poço (Tabela 1).
Tabela 1: Parâmetros médios do campo.
Espessura média do reservatório (m) 122.60
Porosidade média do reservatório 0.24
Permeabilidade média do reservatório 43.45
(mD)
Área total considerada (m²) 9779700.00

É importante ressaltar que todos os valores calculados estão distorcidos, pois


os parâmetros da perfuração direcional não nos foram fornecidos, sendo
impossível saber o TVD (True Vertical Depth). Logo, esse trabalho foi realizado
para sabermos manipular os dados e retirar informações deles, mas não serve
como base de pesquisa para futuros trabalhos em termos quantitativos.

Para identificarmos topo e base do reservatório, observamos os perfis de Raio


Gama, de porosidade e permeabilidade. O perfil de Raio Gama, por nos fornecer a
litologia, conseguimos identificar onde temos folhelho (altos valores), que,
normalmente, é uma rocha selante, arenito (médios valores), que serve como
rocha reservatório, e, ainda, carbonato (baixos valores), que, na realidade da
Bacia de Campos, é rocha geradora. Obviamente, esta análise é simplista, visto
que a composição de rochas de um sistema petrolífero não se resume em
folhelho, arenito e carbonato.

Após identificarmos o arenito, temos que verificar onde se localiza os altos


valores de porosidade e permeabilidade, pois uma verdadeira rocha reservatório
deve ter alta permoporosidade. Nas figuras a seguir destacamos a zona de
reservatório, onde pode-se observar todas essas características.

Figura 3: Perfil do poço NA-15D com a zona do reservatório em destaque.


Figura 4: Perfil do poço NA-44D com a zona do reservatório em destaque.

Os valores de porosidade e permeabilidade médias de cada reservatório,


identificado em cada poço são apresentados na tabela 2.

Tabela 2: Dados calculados de cada poço analisado.


Poço Reservatório
Topo Base Espessura Porosidade Permeab (mD)
(m) (m) (m)
NA-1A 2987.00 3119.00 132.00 0.270 ---
NA-3D 3174.20 3216.80 42.60 0.222 11.17
NA-4 2987.00 3108.80 121.80 0.275 42.49
NA-11A 3024.80 3140.00 115.20 0.178 ---
NA-15D 3450.40 3621.00 170.60 0.255 97.745
RJS-19 2969.00 3077.60 108.60 0.252 4.832
NA-40D 3096.80 3230.00 133.20 0.223 62.4
NA-44D 3192.40 3315.00 122.60 0.226 57.295
NA-53D 3088.20 3227.60 139.40 0.240 28.195
4.2. Possíveis zonas de hidrocarboneto

São identificadas quando ocorre o cruzamento dos perfis de densidade e


neutrão, associado ao aumento do perfil de resistividade, alta permoporosidade e
baixa argilosidade e saturação de água.

Na Figura 5 destacamos possíveis zonas de hidrocarbonetos em um dos poços


estudados, onde pode-se perceber todas as características acima.

Figura 5: Perfil do poço NA-04 com as possíveis zonas de hidrocarbonetos em


destaque.

4.2.1. Possíveis zona de gás

Conseguimos inferir em que profundidade encontra-se uma zona de gás


quando fazemos um crossplot da porosidade calculada através do perfil
neutrônico e do perfil de densidade.

Para o software destacarmos no perfil tais zonas, marcamos os pontos que


ficam mais afastados das linhas, na parte superior do gráfico, conforme a figura
a seguir.
Figura 6: Crossplot do poço NA-53D para identificação das zonas de óleo.

Após repetir este procedimento para todos os poços, identificou-se em


alguns as zonas de gás, como podemos observar nas próximas figuras.

Figura 7: Possíveis zonas de gás destacadas do poço NA-40D


Figura 8: Possíveis zonas de gás destacadas do poço NA-44D

Figura 9: Possíveis zonas de gás destacadas do poço NA-53D

4.3. Contato óleo água e aquífero

Identificamos o contato óleo água e o aquífero quando dentro da zona de


reservatório ocorre um aumento significativo da saturação de água e uma
diminuição no perfil de resistividade, pois como a água solubiliza íons, esta se
torna mais condutiva. Na próxima figura, está destacado o contato óleo água e a
zona do aquífero.

Figura 10: Perfil do poço NA-01 com contato óleo água marcado pelo traço azul
escuro e a zona de aquífero destacada com azul claro.

4.4. Cálculo do volume de óleo in situ

Devido a falta dos parâmetros da perfuração direcional, não conseguimos fazer


o mapa de isópaca (mapa que representa espessura real de um reservatório)
para analisar o reservatório e por isso fizemos as áreas em blocos, que estão
representados na figura abaixo e as espessuras serão aquelas das zonas de óleo
de cada poço, descritas nas tabelas anteriores.
Figura 11: Mapa do Campo de Namorado com as áreas demarcadas em verde
referente a cada poço utilizado (marcado em laranja).

A área total do Campo de Namorado é 23km² e a nossa área de estudo


totalizou 9,8m², que é apenas 42,6%. Sabendo disso, o volume de óleo in situ
calculado foi de 83,3.10-6 m³, aproximadamente.

As tabelas a seguir apresentam os valores de volume de óleo in situ para as


zonas de óleo identificadas em cada poço.

NA-1A
Zona Topo Base Espessura So=1-Sw Volume de óleo (m³)
(m) (m) (m)
1 2987.60 3012.00 24.40 0.94 6282792.82
2 3050.20 3073.80 23.60 0.86 5591296.84
3 3119.40 3121.60 2.20 0.77 465745.70
NA-3D
Zona Topo Base Espessura So=1-Sw Volume de óleo (m³)
(m) (m) (m)
1 3190.00 3196.40 6.40 0.72 672988.59
2 3201.80 3204.20 2.40 0.79 278579.66
3 3211.40 3214.80 3.40 0.70 348205.58

NA-4
Zona Topo Base Espessura So=1-Sw Volume de óleo (m³)
(m) (m) (m)
1 3015.60 3017.20 1.60 0.83 493978.72
2 3028.00 3048.60 20.60 0.88 6791493.60
3 3082.40 3108.00 25.60 0.82 7829990.28

NA-11A
Zona Topo Base Espessura So=1-Sw Volume de óleo (m³)
(m) (m) (m)
1 3025.60 3027.20 1.60 0.80 40910.86
2 3126.00 3138.80 12.80 0.72 422758.20

NA-15D
Zona Topo Base Espessura So=1-Sw Volume de óleo (m³)
(m) (m) (m)
1 3451.40 3489.20 37.80 0.92 4266157.98
2 3498.60 3512.60 14.00 0.90 1544667.21
3 3528.00 3539.00 11.00 0.89 1198359.99
4 3547.20 3554.20 7.00 0.88 753332.03

RJS-19
Zona Topo Base Espessura So=1-Sw Volume de óleo (m³)
(m) (m) (m)
1 2980.60 2985.60 5.00 0.85 902479.30
2 2990.80 2994.20 3.40 0.83 595235.71
3 3010.00 3012.20 2.20 0.88 412200.40
4 3033.60 3035.80 2.20 0.57 264602.90
5 3058.80 3077.80 19.00 0.88 3560113.93
NA-40D
Zona Topo Base Espessura So=1-Sw Volume de óleo (m³)
(m) (m) (m)
1 3096.60 3112.80 16.20 0.85 7487125.63
2 3140.40 3159.00 18.60 0.92 9266173.93

NA-44D
Zona Topo Base Espessura So=1-Sw Volume de óleo (m³)
(m) (m) (m)
1 3193.40 3232.80 39.40 0.93 16909394.20
2 3298.80 3303.60 4.80 0.88 1959630.72

NA-53D
Zona Topo Base Espessura So=1-Sw Volume de óleo (m³)
(m) (m) (m)
1 3089.00 3120.40 31.40 0.87 4995913.13

5. Conclusão

A perfilagem de poços fornece um auxílio essencial para a caracterização e


explotação de reservatórios de petróleo. Neste estudo de interpretação dos
registros geofísicos, foi possível perceber o qual importante é analisar os dados
fornecidos de maneira concisa e adequada de acordo com os técnicas de
perfuração utilizadas, devido a ausência dos dados dos poços direcionais não foi
possível a interpretação de alguns perfis e principalmente a estimativa da área
total do campo e, consequentemente do reservatório.

No presente trabalho, com os dados do Campo de Namorado, aprendemos a


trabalhar com os parâmetros que devem ser interpretados durante a fase de
exploração e posteriomente, durante a produção de um campo de petróleo. O
objetivo da disciplina foi alcançado, uma vez que nos familiarizamos com o
software Interactive Petrophysics e estimamos os parâmetros do campo através
dos perfis.
6. Referências

http://www.geosol.com.br/wpcontent/uploads/2013/05/resumo_tecnico_perfilagem.
pdf

https://pt.slideshare.net/Ed2sverissimo/perfilagem-de-poosdepetrleo

Monografia de Letícia Nigro Pereira Pinheiro - Caracterização do reservatório


Carapebus do Campo de Peregrino, Bacia de Campos, através da Análise de
Perfis Geofísicos de Poços, Integrada à Interpretação Sísmica.

Você também pode gostar