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UD NOTA AU ELL ie Ue MCL A histéria da agricultura através do tempo Paulo H.B. de Oliveira Jr. Rio de Janeiro, maio de 1989 Nolas sobre a historia da agricultura através do tempo FASE - Federag&o de 6rgdos para Assisténcia Social e Educacional PTA - Projeto Tecnologias Alternativas Rua Bento Lisboa, 58 - 32 andar - CATETE 22.221 - Rio de Janeiro - RJ Fone: (021) 285.2998 PTA / REDE E.S. Rua Alberto de Oliveira Santos, 40 s/ 221 Edificio Presidente Kennedy 29010 - Vitéria - E.S. Doress Projeto Tecaclogias Alternativas (FASE) Rua Banto Lisboa, 58 - Catete 22221 - Rio de Janeo - RJ Fone: 285-2998 Qe. Juu/e9 (MEE PROJETO TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS- FASE SUMARIO Apresentagso) =~... 0225030, gocegerttesspsie dees dees 3 A GELBER GE BEDIGUTEUIN | 6.5.b:09:00 onan 5.046 Gs: 6 06s cdecees 5 Sistema agrério de floresta ..........-csceeeeeeeee 14 Sistema agrério com pousio associado a criag3o e tracio animal ............. CREE EULESS 24 A primeira revolugaio agrfcola contemporanea — 0 cul tivo: das terras de pousio: 2... 42. soca iedeeaaaeaa 53 A segunda revolucdo agricola contemporanea — a in- dustrializagao da agricultura ..............-.-.--- 64. Bibliografia ...............- ‘ae SF. oe antl Hroducao Setar de Conuntesgéo Lourdes Gryzbowski Warcello Berges tutor de arte Lapse arte Marcelo Riani Marques Dat Ltograt ta APRESENTACAO ———— Estas "notas" foram escritas para um curso de formagfo de Monitores Agricolas no MEP ( Movimento de Edu- cagdo Popular ) do Espirito Santo, em maio de 1988. € uma pequena contribuig&o para o debate, entre agricultores, dos principais sistemas agrérios que marcaram a histéria. da a- gricultura. Foi escolhida uma linha evolutiva que culmina na agricultura hoje praticeda majoritariamente no mundo o- cidental. Existem varias lacunas neste trabalho. A difi- culdade de acesso eos estudos desta natureza ( sobretudo em lingua portuguesa ), aliada a brevidade com que o tema foi tratado nesta publicagdéo, néo permitiu um maior apro- fundamento. Ao mesmo tempo, varios sistemas agrarios orga nizados por outros povos da antiguidade ( incas, maias, e- gipcios, chineses, ) néo foram tratados. A preocupagado ba sica foi a de dar uma répida visdo panoramica dos princi- pais elementos constitutivos de determinados sistemas agré rios, que por longo periodo de tempo foram praticados Ce em algumas regides ainda o sao ) e sucessivamente transfor mados: as plantas cultivadas, os animais domesticados, © ecossistema no qual a prdética da agricultura se implantou, os instrumentos de trabalho disponiveis e sua utilizagao, a divis&o do trabalho e @ organizacao social. Os resultados alcangados com os agricultores no debate sobre a histéria da agricultura foram surpreenden- tes. 0 intuito foi o de trazer as experiéncias passadas para serem refletidas & luz do momento atual, vivido pelos pequenos produtores capixabas. Cedo, observou-se a curio- sidade deles pelo desfecho de determinadas situagdes, como se estivessem vivenciando as suas préprias experiéncias co- tidianas. "0 que aconteceu na Inglaterra com os cercamen- tos, € 0 mesmo que passa com a gente por aqui", disse um a- gricultor. 0 passado e o presente se fundem, oferecendo @ lementos para a reflex&o das condicgées de vida e de = sua transformagao. Ndo houve preocupagéo de se trazer ariqueze desse debate para este publicacdo. Procurou-se mostrar 0 desen- volvimento e transformagdes ocorridas, histérica e geogra- ficamente, na agricultura praticada pelo homem. Este foi o limite. Por isso acredita-se que es- te trabalho n&o se esgota por aqui. Ao contrério, ele tenta contribuir, com uma pequena parcela, na compreensao da génese, do desenvolvimento e das transformacies ocor das nas formas de dominagdo e de submiss#o, e nas lutas empreendidas pelos agricultores e suas familias pela 1li- berdade do seu jeito de ser. PAULO H.B. DE OLIVEIRA JR. Especialista em desenvolvimento agricola, assessor de movimentos populares rurais na érea da produg&o agricola. A ORIGEM DA AGRICULTURA Neen es A agricultura é um fenémeno recente na histéria da humanidade. Segundo a arqueologia, enquanto a existén- cia do homem é avaliada em aproximadamente 1.000.000 de a- nos, os vestigios de uma prética agrfcola surgiram, no méximo, hdé 10,000 anos. Durante a maior parte de sua existéncia, 0 ho- mem retirou da natureza os produtos necess4rios 4 sua ali- mentag&o garantindo, assim, a sua reprodug&o biolégica, A caga, a pesca e a coleta de frutos, rafzes, cereals, etc., foram as principais atividades humanas até que @ agricultu ra se consolidasse. A agriculture nao surgiu como uma transformagéo brutal onde, como num passe de magica, 0 homem, de caga- dor e coletor, virou agricultor. Algumas espécies ( vege- tais e animais ) comecaram a ser-cultivadas e criadas § ® jogo apés foram abandonadas. Animais e plantas foram do- mesticados e em seguida retornaram a seu estado selvagem. Populacées humanas diferentes domesticaram certas espécies por razées diferentes, para fins e usos diferentes. Uma mesma populag&o escolheu espécies diferentes porque tinham rezdes diferentes para esta escolha, etc. & muito dificil definir as diferengas entre as a tividades de caca e coleta e de certas formas de agricultu ra naquele perfodo. Nao existe sucessdo alguma de etapas que permita determinar com clareza os elementos capazes de demonstrar onde terminou o periodo da caca e coleta e come gou o da agricultura. Alguns autores afirmam que foi ne- cess4rio um perfodo de 1.000 anos para se passar da caga, pesca e coleta para uma predominancia das atividades de a- gricultura em determinadas sociedades. A agricultura surgiu quando uma determinada so- ciedade reuniu uma série de condigdes, historicamente sufi cientes, para tirar proveito das potencialidades de um meio natural determinado, Dentre os vérios elementos que possi bilitaram a emergéncia da agricultura como pratica social predominante cabe ressaltar: a) 0 modelo de consumo alimentar é anterior eo modelo de produgdo. A populag&o daquela ¢poca comegou a selecionar determinados alimentos para o seu consumo. Grande parte da alimentacgdo ainda ere proveniente da caga, da pesca e da coleta; os cereais comegaram a ser componentes da dieta a- limentar. Esta nova forma de consumo alimentar ( quantida- de e tipo de cereais selvagens ) possibilitou a existéncia de uma economia produtora de alimentos. Apareceram instru mentos de trabalho préprios para a coleta e armazemagem, e surgiu um novo aspecto essencial & existéncia da agricul- tura: a sedentariedade. b) A sedentariedade foi possivel em determinadas regides onde as condicdes do meio natural foram favordéveis ao de- senvolvimento de plantas e animais componentes do modelo ‘le consumo alimentar daquelas populagbes. Os cereais de- senvolviam-se bem nos terrenos aluviais e ao longo de cur- sos d'4gua. Foi em torno destes locais que as populagses do Oriente Médio ( Curdistdo, Palestina, Sirie ) se estabele- ceram e comegaram a fazer a coleta dos cereais. Assim, as condigdes para a produgdo de cereais existiam, j4 que os cereais selvagens se reproduziam no local. As populegdes lo Oriente Médio perceberam, pois, que os cereais provi- nham de grdos semeados. A aparic&o da agricultura foi possivel através de uma economia sedentdria de coleta intensiva. c) Por causa da sedentariedade, a criagao de animais come- cou a se estabelecer pouco a pouco. A caga era ainda 0 principal elemento da alimentag&o e se os animais eram cap turados vivos, eles eran guardados. Aqueles animais apri- sionados comecaram as .eproduzir em cativeiro. d) Os Instrumentos de trabalho para esta economia produti- va de alimentos nao foram desenvolvidos para uma utiliza- So macica, imediata e especificamente para esta finalida- de. Seu desenvolvimento econ6mico e funcional foi fruto de uma utilizagdo ( talvez por geragdes ) daqueles instru- mentos para outras atividades, até a sua utilidade funcio- nal. A coleta de cereais foi possivel com a utiliza- co de uma pequena foice ( lamina de sflex inserida eo lon go de um pedago de madeira ) que estava j4 desenvolvida. 0 consumo de cereais foi acompanhado, pouco a pouco, pela utilizagdo de moinhos ( os cereais eram colocados sobre uma pedra e tritutados com outra, rolica e pesada ye LAmina de sflex para machado e lanca Habitagdes com gravuras de instrumentos agr{colas emseu interior 10 0 desenvolvimento anterior da ceramica permitiu a utilizacdo de potes de argila para 4 armazenagem. Naquele perfodo surgiu também o polimento das pe Gras, que permitiu a transicg&o dos instrumentos de trabalho de pedra lascada para pedra polida. e) A organizacgado social daquela época é de dificil conheci mento. somente através de simbolos como o sol, as plan- tas,os animais, etc. € possfvel se obter alguns elementos cons titutivos de como os homens daquela época se organizavam. Alguns autores afirmam que houve uma modificagao na organizagdo social na passagem da caga e coleta para a agricultura. Numa economia baseada na agriculture, a so- ciedade era constituida em familia, sobre diferentes lo- cais; distinguie-se assim de uma organizagao anterior ba- seada em bandos. A passagem de uma economia baseada sobre a caca e a coleta para uma economia agricola foi uma transforma- ¢3o de longe duragdo onde as condigdes para aquela mudan- ca foram anteriores a ela e com uma ordem n&o*pré-defini - da. Aquela transformagdo durou milhares de anos e possibi litou @ formagio de todo um acervo de conhecimentos ( cul- tura ) que foi acumulado e transmitido de geragéo a gera- ¢&0 e apropriads por todos os membros da familia ( e/ou do pando ). A agricultura comegou a se desenvolver no perio- do cnamado neolitico, hd aproximadamente 10.000 anos. A evolugdo neolitica foi marcada sobretudo pela passagem da pedra lascada para a pedra polida, pelo aparecimento da ce ramica, e pelo surgimento da agricultura. esta Ultima sur giu em um ndmero limitado de dreas, com caracteristicas bem localizadas e especificas. Aquelas dreas nao eram mui to mumerosas e as mais conhecidas séo hoje o Oriente Mé- dio, a América Central e a China. Os modos de vida, a agricultura ( plantas culti- vadas, instrumentos de trabalho, os animais, etc. ) daque- las éreas iniciais, seriam estendidas progressivamente a Estas outras zonas cada vez mais vastas e distantes. no- vas regides s&o hoje chamadas de éreas de extensao. Em ca da uma destas dreas de extens&o, @ agricultura e a criagao de animais eram mais recentes que nas éreas iniciais e man tinham, ou nfo, as mesmas caracterfsticas culturais ( plan tas e animais ). AREAS DE EXTENSAO Europa AREA INICTAL . Oriente Médio (2 10.000 anos) Africa .Geste da Asia América Central (4 5-6.000 anos) Extens8o progressiva para o norte eo sul do Continente Americano China Extensdo pela regiéo (2 5.000 anos) do Pacifico Cada uma daquelas areas iniciais, e mesmo as é~- reas de extensdo, constituiam-se num complexo agricola. As plantas e os animais de origem selvagem foram sendo trans- neste ca- formados pelas praticas culturais. A selegao, an so, foi o resultado de préticas involuntérias e nao de uma selecgdo anteriormente preparada. 0 conjunto de plantas e de animais caracter{isti- co de cada érea inicial era: » Oriente Médio - *cereais: trigo, cevada; sleguminosas: lentilha, er- vilha, fava; «téxtil: linho; sanimais: bovinos, ovinos, caprinos, aves ( galinhas ). - Para a Europa Ocidental, acrescenta-se a aveia eo cen- teio; - Para a Africa, o sorgo. América Central - +cereais: milho; ‘ -leguminosas: feijao; et@xtil: algodao; sanimais: porcos, porquinho- da-india. - Para a Amazénia, acrescenta-se a mandioca. - Para o Peru, a batata. China - ecereais: arroz; «leguminosas: soja; Para alguns autores, existiram outras dreas ini ciais como, por exemplo, a Africa tropical. para outros, a Africa tropical apresentava algumas variedades 12 diferen- tes de plantas cultivadas ( sorgo, paingo ), mas o sistema warf{cola seria resultado da extensdo da agricultura do Ori ente Médio. 0 consumo de cereais permitiu o crescimento da populagdo. Para continuarem sedentérias, aquelas popula- gbes deviam ter uma quantidade suficiente de terras para a produgéo agricola e para alimentar os membros da comunida- de. Quando os cereais ( que se transformaram pouco a pou- co na base da dieta alimentear ) néo foram suficientes para alimentar toda a populace, houve uma crise no sistema a- grario. As solugdes possiveis foram a guerra ( entre comu nidades ou entre familias ), ou a migragdo das populagoes. A agricultura aluvial existiu em todos os locais onde foi possivel. Mas com as migragdes, a populagao depa rou-se com um outro meio natural, ou seja, a floresta. Resumindo: * A agricultura nao surgiu de um momento para o outro, Ela surgiu quando uma série de condigtes histéricas anteriores foram reunidas e permitiram a passagem da caga € coleta pa ra uma economia predominantemente agricola. * A agricultura surgiu em poucas 4reas. A mais antiga e mais conhecida est4 no Oriente Médio. * Revolugdo Neolitica: - ceramica - pedra polida - agricultura e criaggo animal 13 SISTEMA AGRARIO DE FLORESTA ee Este sistema agrério surgiu a partir da migragao do hoje Oriente Médio, que encontraram um novo ecossistema natural: a floresta. Se as condigdes técnicas e sociais s8o reunidas, a sociedade pode mudar o modo de exploragdo do meio natu- ral. A acumulacdo de forcas produtivas de uma sociedade permite a mudanga, caso seja necesséria e vantajosa, do sistema agrério anterior. Das 4reas originais foi mantido: a) a sedentariedade; b) 0 complexo agricola - plantas e animgis ( ex- ceto se 0 clima era diferente ) c) os instrumentos de trabalho: moinho de grdos, ceramica e pedra polida; : Das d4reas originais diferenciaram-se: a) o ecossistema: no Oriente Médio as culturas eram sobre aluvides, ao longo dos rios. Nas éreas de extensdo predominava a floresta. b) 0 pioneirismo das populagdes migrantes. As migragdes se estenderam num ecossistema flo- restal, nas regides subtropicais da Africa, no Mediterra- neo @ nas regides temperadas da Europa. Uma floresta densa ( como naquele periodo ) a- presenta um est4gio arbéreo ( 4rvores grossas ), um 14 esta- gio arbustivo e muito poucas ervas no nivel do solo. Uma outra formagdo florestal que aquelas populag6es iriam en- contrar eram as formagSes herbdéceas como os campos, sava- mas e estepes. Num ecossistema natural os seres vivos estao em equilibrio depois de milhdes de anos, com todos os espacos ecolégicos ocupados. Nao hé portanto lugar para o homem, animais domésticos e plantas cultivadas. Para desenvolver a agricultura € necessdéria = a Para a luz, ou seja, que os raios solares atinjam o solo. tacar as formagées florestais as populagdes da época dispu nham de instrumentos de trabalho rudimentares como o macha do e pequenas foices de pedra, bastées de madéira, etc. A historia agraéria mostra que a escolha de florestas para @ prética da agricultura foi feita naquelas 4reas onde as 4r vores nao eram espessas. As principais operagies de artificializeg&o do meio florestal para a pratica da agricultura sdo a derruba dae 2 queimada. A derrubada manual, com os instrumentos de traba lho disponiveis naquela época ( machado de pedra polida ) destrufa a vegetagdo baixa e as 4rvores menos grossas. A derrubada da mata & necessdria para abrir uma clareira, on de os raios solares possam alcangar o solo. A queimada vem em seguida & derrubada. Ela tinha uma fung&o essenciel neste sistema agrdrio: a) limpava muito mais rapidamente o espacgo Vo para o culti 15 16 Queimada b) liberava a matéria mineral contida na biomassa vegetal destrufda. As cinzas que se encontram na superfi- cie do solo $80 matérias minerais mobilizadas e acumuladas nos vegetais. 0 fogoerao tnico modo de recuperacdo possi- vel do fertilizante mineral do sistema. Apés a derrubada e a queimada, com um bastéo de madeira misturlava-se as cinzas na camada superficial do solo ( matéria orgénica ). Esta mistura formava un leito de se- mentes, onde eran semeados 0S graos Para germinar e se desenvolver, a planta tem ne- cessidade: a) de minerais ( cinzas e matéria organica ); b) de sol ( clareiras na floresta ); c) de gés carbénico ( para a realizagdo da fotossintese ). No primeiro ano os agricultores semeiam cereais ( trigo e cevada ) e algumas leguminosas ( lentilhas ) nas éreas abertas; No segundo ano é cultivado o cereal no mesmo lo- cal com a conseqlente diminuic&o do rendimento das cultu- ras ou € derrubada uma nova drea de mato e repetidas as mesmas operagdes do primeiro ano. Se a diminuig&o do rendimento das: culturas n&o é muito grande, continua-se a cultivar no mesmo local. No terceiro ano a fertilidade do solo é muito baixa, mas néo 6 nula. Assim pode-se cultivar espécies ve getais menos exigentes como leguminosas, hortaligas, etc. € importante notar que uma das caracteristicas principais do Sistema Agrdério de Floresta € a de que exis- te uma sucessdo cultural associada a uma rotag&o de terras. A sucessdo cultural de dois ou trés anos é devida, essenci almente, as condigdes de reprodugdo da fertilidade. Neste sistema, é a floresta que supre o solo em matéria orgdnica, e que fornece as plantas os elementos mi nerais. £ a floresta, gragas ao seu enraizamento profun- do, que permite uma reciclagem dos elementos minerais. Por tanto a floresta exerce o papel de reprodutora da fertili- dade, essencial para a reproducdo do sistema. Apés dois ou trés anos de culturas sucessivas,um 7 longo periodo de pousio ( terra de descanso ) florestal é necessdrio. 0 pousio, a derrubada e a queimada so os mo- mentos principais de um processo de produgéo que assegura o autoconsumo alimentar das populagées e a reprodugéo da fertilidade do sistema. A distancia de uma comunidade a outra é determi- nada pelo seu raio de atividade: 6 necess4rio sair de ma- nh& e retornar & noite ( mais ou menos 10 km ). Assim, a superficie possivel de se derrubar por comunidade é de a- proximadamente 8.000 ha. Para este sistema de agricultu- ra, 1 he de floresta derrubada e queimada, equivale a 0,5 ha de terra cultivada. Para se conseguir um rendimento constante das la vouras e permitir ao ecossistema reproduzir sua biomassa ( reprodugdo da fertilidade do solo ) é necess4rio o plan tic de cereais por 2 anos seguidos numa mesma parcela e um de aproximadamente 38 anos. No Sistema Agrério de po Flo é praticada uma agricultura com um longo ciclo ( 40 anos ), com uma sucesso de culturas de 2 a- Neste sentido, cada comunidade pode derrubar uma 4rea de 200 ha por ano ( 8.000 ha/40 anos ) para poder ali mentar No Sistema Agrério de Floresta, a produgdo de ce @ apreximadamente 500 kg/ha. Como utilize-se uma cultural ge 2 anos, a produgso possivel é de g ce cereais/ano, 0 que ¢ suficiente para alimen , ne maxt 5, 1.090 pessoas ( 200 kg de cereais por pes— 1 I Relacgad, em 2Bancs, para voltar a se coltivar no mesmo local . Nea total: + 8000 ha. Quando uma comunidade alcanga 1.000 habitantes,a@ floresta é explorada nos limites de reprodugdo da fertili- dade do Sistema Agrério de Floresta. Caso a populagéo aumente para 1.200 habitantes, seré necessério derrubar 240 ha de mata ( 1.200 nabitantes x 200 kg/hab + 1.000 kg ), € 0 ciclo cultural serd de 33 3 nos ( 8.000 ha + 240 ha ). A rotagdo de terras passara portanto de 40 anos para 35 anos ( um pousio de 33 anos ) Neste caso a bDiomassa se reduz e os rendimentos diminuem em 20%. A pressdo demografica aumenta, o ciclo cultural diminui, 0 ciclo dos elementos minerais é menor, os rengi- mentos caem, o que implica ma falta dos alimentos necessé- trios aos habitantes da comuniaade Quais as solugbes encontradas por aquelas socie- dades? 19 minuic&o da floresta. cultivadas para compensar a perda de fertilidade do Com a diminuic&o do tempo de pousio, a floresta nao mais se reconstituir, degradando-se até chegar a um a) b) migrac&o parcial - algumas familias partiam da comunida de para outros locais, comegando assim uma nova comuni- dade; ‘ Se nao foi possivel a migracao: * houve o desenvolvimento de parcelas ao redor da comu- nidade. NestaS parcelas cultivou-se hortaligas e 4r- vores frutiferas, que eram fertilizadas com dejetos humanos e de alguns pequenos animais ( galinhas, por- cos ). Estas parcelas estavam situadas fora da rota- Gio de terras do Sistema Agr4rio de Floresta. * Podia-se aumentar a superficie de derrubada da flores ta por pessoa. A conseqiéncia, como foi dito anteri- ormente, foi uma diminuig&o do rendimento das cultu- ras. * Iniciou-se a derrubada de galhos e da copa das érvo- res mais grossas, ou seja, houve o ataque a outros estratos que nao eram explorados anteriormente. A con seqgiiéncia desta prdtica 6 a mesma que a do item ante- rior, ou seja, uma diminuig&o do ciclo cultural de 40 anos para 35, 30, 20, 10 anos, até chegar o momento onde nao hd mais nenhuma vegetagao para se derrubar Portanto a luta daquelas sociedades contra a di- do rendimento das culturas se fez em detrimento Houve uma extensao progressiva das plantas solo. péde ecos- sistema de savana. 20 A paisagem florestal desapareceu. No seu lugar surgiu uma paisagem descoberta, onde o ciclo cultural se alternava - néo mais com uma rebrota florestal - com um ta pete herbéceo inserido numa rotac&o de cultura de curta duracdo ( 5 anos ). Como se desenvolver a agricultura num ecossiste- ma de savana, com pouca biomassa? a) Queima-se as pequenas érvores, arbustos e ervas. A quan tidade de biomassa mineralizada pelo fogo € muito peque na. Apdés o fogo hé uma forte rebrota de capim que nao permite a formagdo de um bom leito de sementes: b) Diferente da floresta, a camada superficial do solo deste ecossistema de savana é cheio de raizes. Com um enxad&o revolve-se este "tapete" herbdéceo e pode-se ou queimar, ou deixar decompor, pera se fazer um bom leito de sementes. Pequenos montes podem ser feitos com este material, aumentando-se assim a fertilidade. €ntretanto o rendimento das culturas 6 ainda reduzido. Ao fim do periodo florestal, aquelas sociedades n&o dispunham de instrumentos de trabalho adequados para este novo ecossistema. Enquanto no ecossistema de flores ta a renovacdo da biomassa era de 30 t/ha/ano, ma savana nfo era maior que 5 t/ha/ano, Aquelas sociedades vive- ram numa érea com uma baixa fertilidade, com uma sucess&o de culturas de 3 anos, e um pousio de 5 anos. 0 sistema entrou em crise. Populagées migraram para encontrar outros locais, conquistar novas 4reas flo- réstais. Aqueles que ainda tinham reservas de floresta, mantinham-se no mesmo sistema. Onde a floresta desapare- 2 ceu, a situacdo de crise deu lugar a: a) desertificacdo ( Saara, Asia, Oriente Médio, ). A este pe ou o deserto foram o resultado de um processo de des truigdo da floresta. Nao existiem mais as condicgdes es senciais para a prética da agricultura. Apareceu uma criagéo de animais muito dispersa, que consistia em um pastoreio némade. Ao longo dos grandes rios, apareceu uma agricultura no pluvial - Vale do Nilo (Egito), cul tura irrigada (Mesopotamia, Pérsia). b) erosAo. Nas regides mediterraneas, a erosdo fez apare- cer 0 desenvolvimento de culturas nos vales. Nestes lo cais iniciou-se um sistema agrério com pousio e associa do & criag&o de animais. ©) na América Latina apareceu o Sistema Agrério Inca. d) mo Extremo Oriente ( india, China, Sudoeste da Asia ) surgiu @ rizicultura inundada: uma agricultura pratica— da no fundo de vales planos e aluviais, coma drena - gem de rios. Resumindo: * 0 Sistema Agr4rio de Floresta surgiu com a migrag&o de populagdes, que encontraram a floresta como ecossistema natural. * As principais operacdes de artificielizacdo do meio flo- restal para a prdética da agricultura foram a derrubada e a queimada. * A derrubada, pela simplicidade dos instrumentos de traba lho, era feita a partir das 4rvores menos espessas e dos 22 arbustos. Ela tinha a finalidade de fazer chegar os taios solares ao solo. A queimada tinha como finalidade a limpeza do terreno e a mineralizagao da biomassa contida nos vegetais. cultivava-se os cereais, no m4ximo, 2 a 3 anos seguidos na mesma parcela. A caracteristica principal deste Sistema Agrério era a sucesso cultural ( 2 a 3 anos ) associada & rotacdo de terras ( 30, 40 anos ) Os principais momentos do processo de producdo foram a derrubada, a queimada, o plantio, a colheita e o pousio. A reprodug&o da fertilidade do sistema era garantida a partir do desenvolvimento da rebrota florestal e de um ciclo cultural de longa duracao. Este Sistema Agrério entrou em crise quando se diminuiu o ciclo natural, reduzindo-se a quantidade de biomassa vegetal a ser mineralizada com a conseqiente baixa do rendimento das culturas e a falta de alimento para as comunidades. SISTEMA AGRARIO COM POUSIO ASSOCIADO A CRIACAO E TRACAO ANIMAL ————— Este sistema agrério surgiu nas regides Mediter- raneas ( sul da Europa ), resultado da degradagao do meio florestal pelo sistema agrério precedente varias foram as tentativas para se sair da crise do Sistema Agrério de Floresta, Esta transicao nao é bem definida, e€ n&o se pode, com clareza, perceber os caminhos seguidos pelas sociedades na busca de novas alternativas. OQ Sistema Agr4rio com Pousio, Assossiado & Cria- cao e & Trac&o Animal, foi o sistema predominante na Eu- ropa, apés o Sistema Agrério de Floresta. Esse sistema ma nifestou-se na Antiguidade Greco-Romana ( mais ou menos 1000 anos a.C. ), ocupando uma grande superficie na Europa e,en quanto sistema predominante, estendeu-se até a Idade Média ( séculos xIV e XV). €m algumas regides ( principalmente no sul da Europa ) o Sistema Agrdrio com Pousio persistiu até o século XIX. 0 meio ambiente no qual aquelas sociedades cultL vavam a sua alimentacgdo foi aquele deixado como heranga do Sistema Agrério de Floresta: um ecossistema ampla e histo- ricamente sem grande cobertura vegetal, com uma reconsti- tuic&o secundaria da flora e da fauna manifestando-se, so- bretudo, pela rebrota de um "tapete” herbéceo. 0 Sistema Agrdrio com Pousio surgiu a partir do momento em que a sociedade dispunha de instrumentos de tra 24 balho para lavrar a érea de pousio. Ou seja; este siste- ma agrario sé pode existir quando as sociedades foram caps zes de desenvolver e produzir instrumentos de trabalho do solo capazes de destruir este "tapete" herbdéceo, capazes de “rasgar" o solo que possuia uma grande quantidade de raizes, instalando assim, um ciclo cultural. Neste sentido, havia individuos que produziam instrumentos de trabalho enquanto que outros os utilizavam pare a procugao agricola; ou seja, existiam relagbes de avalhe. troca e uma divisdo soci dages ® @ 0 importante é pe que equel sistema dé cesenvolveram instrumentos pars trabainar o época, e que, nas sociedades que os produziram, existia u- ma divisdo social do trapalno. Qual era o sistema oe produg&o ca épuca? A. Vila 2. Jardim , hora, pe - mar ( principains te ova) 3. terras de coltora; “Ager Privaticus” 4, Tecras comsnais; “Salts, “Ager Pobliens™ 5. Bosque, *loresla 35 26 O sistema de produgdo era baseado numa divisao do espago em 4 partes ( fora a vila ): a. os jardins, as hortas e 0 pomar ficavam préximos a vi la. As hortas eram basicamente compostas por legumes @ leguminosas ( ervilha, vagem, tomates,...). No pomar sobretudo no perfodo do Império Romano, a principal pro dugdo era a uva. Para a adubagdo deste espago - horta e pomar - u tilizava-se 0 esterco animal, os dejetos humanos e a ca mada superficial do solo das florestas. as culturas gos cereais eram agrupadas sobre uma terra la vraca ( parcela ) e repartidas no espago. A terra cul- tivada era composta por parcelas ( ou folhas ) I CD 2 parcelas, 4 paveelas 3 parcelas te sistema de produg¢ao apresentava uma rotacdo entre cereais © pousio. Por exemplo, dividia-se a ter- ra ce cultura em duas partes: num primeiro ano planta- va-se 0 cereal em uma metade, deixando a outra metade em pousio; no ano sequinte invertia-se, lavrando a par cela do pousia e em seguida plantando 0 cereal, deixan- do a outra parcela em pousio. A rotacdo de cereais podia ser bienal, trienal, quadrienal, etc., dependendo do nimero de parcelas em que se dividia o "Ager Privaticus". © sistema bienal foi adotado sobretudo no sul da Europe, enquanto o trie nal, quadrienal, etc., foram praticados pelos povos do norte Europeu. Pode-se dizer que este sistema de produgSo apre- sentave | um agrupamento dos cereais em rotagao com u- ma "4rea de descanso" ( pousio ), nos melhores = solos ( mais férteis ). Os produtos retirados da horta, do pomar e das terras de cultura representavam 90% das necessidades de alimentagao do homem. as terras comunais ( "Saltus", “Ager Publions" ) eram terras de menor fertilidade que as terras de cultura.Es tas terras nfo eram cultivadas e néo tinham uma cobertu ra florestal continua e fechada ( naquela época, flores tas densas, primd4rias somente podiam ser encontradas em éreas de dificil acesso, com forte declividade ). A floresta e as terras comunais n&o eram dividi- das, eram de uso de todos os agricultores da vilae se encontravam em torno das terras de cultura. A cobertu- ra vegetal das terras comunais era constituida, basica mente, por plantas herbdéceas, e tinha um papel fundamen tal para este sistema de produg&o: * como fonte de lenha ( para a construg&o, fogo, etc.,e, juntamente com a floresta, como local de caga ) 27. 2B * para a restituigdo da fertilidade do ecossistema cul- tivado ( terras de cultura ). Era nas terras comunais e na floresta que se en- contrava @ lenha que servia tanto para a construgao, co mo para 0 cozimento dos alimentos e aquecimento das ca- sas. A reprodugdo da fertilidade deste sistema de pro duga&o era baseado na transferéncia da biomassa das ter- ras comunais e da floresta, pare as terras de cultura Os animais eram deixados durante o dia pastando nas ter ras comunais, e & noite, eram recolhidos para as terras de cultura, estercando a 4rea de pousio para que este tipo de agricultura pudesse existir e se estender pelo territério europeu, dois aspectos foram importantes: * existia um limite da populagao animal, conforme a ex- tengdo das terras comunais e da floreste. Este equi- librio era determinado pela quantidade de biomassa pos sivel de se retirar e de ser transferida, e a capaci- dade de regeneragdo do ecossistema das terras comu- nais. Se a biomassa transferida fosse superior a ca- pacidade de regeneracdo deste ecossistema, o sistema de produg&o nao estaria em equilibrio e poderia ser levado ao fracasso. * para poder se desenvolver era necessdrio que este sis tema de produg&o apresentasse uma acumulagdo de ani- mais. ram os animais que permitiam a manutengao des te sistema produtivo, a partif da transferncia da biomassa das terras comunais ( pasto ) para as ter- ras de cultura ( esterco ). Ao mesmo tempo, os ani- mais se apresentavam como forca de trac&o para os ins trumentos de trabalho do solo. € importante notar que os animais desta época e- ram de pequeno porte, e n&o se dispunha de um sistema de atrelagem eficiente. Neste sentido, a forca de trag’o nao era elevada o suficiente para “puxar" ins- trumentos de trabalho pesados, em solos muito argilo- sos. Ao mesmo tempo as pastagens das terras comunais n&o eram muito ricas, o que ndo permitia que uma fami lia camponesa dispusesse de muitos animais. os instrumentos de trabalho eram basicamente construi- dos com madeira, e 0 ferro era raro, Os principais ins- trumentos eram a enxada, a foice, a pd ( de corte, para 0 trabalho com o solo ) e o arado, Il UY \ Varios tipos de enxada Foice e balanga ( Império Romano ) 30 0 arado, principal instrumento para o trabalho Tr do solo, era construido de madeira e a ponta da relha endu recida pelo fogo. Nos locais mais pobres, solo era realizado com a pé de corte o trabalho do Sy Ff Sip, Arados de madeira Estes instrumentos nos permite perceber que a a- gricultura era realizada principalmente em solos ves", € 0 solo trabalnado apenas na sua camada al. Os agricultores nao conseguiam trabalhar terras de culture. 0 trabalho com o solo era ncipalmente & mao, : e n§o ultrapassava 0,25 ano. Os solos argilusos e mais “pesados” Europa seriam incorporados & tarde, técnicos de produgdo mais eficientes. do norte producdo agricola "le- superfici todas as realizado ha. por da mais na medida em que a sociedade dispusesse de meios Como foi dito anteriormente, vdrias foram as for mas de repartigaéo das terras de culturas naquele _— perfo- do. Dentre estas, o sistema de reparticéo em duas parce- las ( bienal ) e o de trés parcelas ( trienal ), foram os mais largamente utilizados. 0 sistema bienal foi utilizado sobretudo no sul da Europa, na bacia do mar Mediterraneo. Cultivava-se 0 cereal no inverno ( trigo, centeio,etc.) pois no veréo 0 clima era seco e na primavera as chuvas no eram suficien tes para o cultivo. No centro-norte da Europa ( norte da Franga, manha, Bélgica, Holanda ), o sistema trienal se salientou. Com um clima moderado e mais Gmido, era possivel o cultivo cereais de inverno e de verdo ( trigo, centeio, cevada, a veia, etc.). As vantagens da passagem do sistema bienal “bara o trienal residiam no acréscimo de produgdo. No sis- tema bienal, metade das terras ficavam em pousio; no trie- nal, apenas um tergo. ODesta forma podia-se aumentar a pro duc3o de grdos e, consequentemente, a populagado. Cabe 4 qui ressaltar dois pontos: * a utilizacdo das terras de cultura pelo sistema trienal, um sistema mais intensivo de produg&o, podia ocesionar um r4épido "desgaste" do solo. A produgdo podia baixar tan- to que, no final das contas, o sistema bienal oferecia maiores vantagens * da mesma forma que existia uma relac&o entre a quantica _de de animais e as terras comunais e a floreste, tinha que existir uma outra relag&o que devia ser respeitade los agricultores da época, que era a da quantidade 32 terras de cultura e da quantidade de animais e de pasta- gens. Nota-se portanto que o sistema de produgdo desta época apresentava uma estreita assoclacdo entre a lavou- rae a criag&o. Um dependia do outro, e se o equilibrio entre estes dois componentes fosse rompido, este sistema de produc&o seria levado ao fracasso. Calendario agricola do século 1x No sistema trienal, o aumento da producg&o dos ce reais de verdo, em especial a aveia, era de suma importan- cia. No sistema bienal, era quase imposs{vel manter cava- los na exploragao agricola. Os bois, menos exigentes em alimentos, podiam ser alimentados exclusivemente nas ter- ras comunais. Com os cavalos isto nfo ocorria. No siste- ma trienal usava-se também o boi como animal de tragdo;mas era somente este sistema que abria a possibilidade de uti- lizag&o do cavalo como animal de tracéo. Trag&o animal com bovinos No século X, 0 norte da Europa apresentava um de senvolvimento das antigas técnicas de produgéo. Como a- vango da metalurgia, uma série de instrumentos agricolas puderam ser feitos de ferro. Foi o caso, principalmente do arado e da grade. € importante também salientar o sur- gimento dos moinhos de vento ( surgidos no século XI ), jé que os moinhos ( originérios do século V ) eram movidos & Agua e confeccionados com madeira. Moinho para cereais movido a Agua 34 0 arado, diferentemente daquele de madeira e des lizante utilizado no sul da Europa, era montado sobre uma estrutura de ferro,apoiada sobre rodas, que sustentava a sega, a relha e a aiveca. 0 "arado de aivece" apresentava a possibilidade de se trabalhar em terrenos "pesados", cor tando e revirando o solo. Este dado é importante para o norte da Europa, na medida que o inverno rigoroso ( com ne ve ), deixava o solo frio e enxarcado no infcio da prima- vera. Como "“arado de aiveca" expunha-se 0 solo profundo ao sol, aquecendo e enxugando a terra mais rapidamente. A grade de dentes era passada logo em Sequida pa te desfazer os torrées do terreno, preparando-o para ° plantio. Evolugio dos arados 35 36 Evolugao dos arados Na época do Império Romano utilizava-se o boi co mo animal de trag&o para os trabalhos pesados ( aragdo ). Estes animais levavam uma canga pesada na cabeca e nos chi fres, que por sua vez, estava atada ao tim’o. Para o cava lo, este tipo de atrelagem nfo era o adequado pois, ao co- locar o jugo na cernelha, e ao prendé-lo com uma correia fina e comprida em volta do pescogo, qualquer pequeno es- forgo asfixiava o animal. Dai os cavalos n&o conseguirem puxar mais de 200 ou 300 kg. Nos séculos IX e X registrou -se uma melhoria considerd4vel na atrelagem dos cavalos: o cabresto. Além dos animais apresentarem uma maior forga de trac&o, acrescentava-se a vantagem dos cavalos poderem ser atrelados em par. Tragdo animal com cavalos. Notar tipo de atrelagem inadequado 37 38 © aumento do peso dos implementos de trabalho e xigia também aumento da forca de tragao. As sociedades dis- punham até ent&o, apenas da forga de trabalho humana, da forca de tragdo dos bois e da energia hidrdulica para novi mentar os moinhos. Para o trabalho agricola, a utilizagdo de cavalos abria novas possibilidades de uma maior forga de tragao. Entretanto o aumento da populacdo animal _—teve que ser acompanhada de uma maior quantidade da sua alimen- tagdo. Além das possibilidades de dispor de aveia para os animais, uma parte das terras comuns foram cercadas,de- senvolvendo-se assim uma capineira para corte. Varieda- des de gramineas foram selecionadas e plantadas como in- tuito de se dispor de fene para a alimentacdo de inverno dos animais. Os animais eram estabulados durante o inverno e alimentados no cocho com feno. O transporte do feno para o estébulo e do esterco para os campos de cultu- ra era, entao, realizado por charretes. 0 desenvolvimento dos instrumentos de trabalho, dos transportes e das capineiras permitiam uma densidade de 5 animais por ha, ao invés de 1 animal por ha do sis tema precedente. 0 capital da exploragao agricola eumen- tou, possibilitando a quadruplicagéo da produg&o, tanto pe lo aumento dos rendimentos das culturas, como pelo acrés- cimo da superficie das terras de culturas Trabalhos agr{colas ( século XV). Aragao da parcela de plantio a lanco 39 Sul da Europa, Império Romano Norte da Europa apés século x arados deslizantes - arados de aiveca, grade, a trelagem mais eficiente - 1 animal/ha (principalmen - 5 animais/ha (bovinos e e te bovinos) giiinos) ‘ - terras de cultura, terras - terras de cultura (mais comunais e floresta férteis e maior superfi- cie), terras comunais, ca- pineiras e floresta - enxada, foice e pd de - enxada, enxaddo, gadanha, corte foice, pé de corte e pd curva, charretes, est4bu- los - Capital da exploragao: 1 - Capital da explorac&o: 100 - 200 - Produgao: 1 - Produg&o: 4 As condigdes econémicas permitiram um grande au- mento do capital da exploracdo agricola e da produgdo. 0 desenvolvimento da agricultura no norte europeu a partir do século X foi decisivo para o Ocidente. Nesta época fo- ram desenvolvidas as bases da Europa moderna que, em segui. da, dominaria o mundo. A preocupacdo principal deste capitulo foi a de apresentar, de forma muito superficial, a evolucéo das técnicas de produgdo na agricultura. Cabe ressaltar, en- tretanto, que a simples apresentagdo da seqiiéncia descriti va dos meios técnicos, sem a sua contextualizagao social, 40 carece de qualquer sentido, Assim, um breve esbogo dos mo mentos sociais mais marcantes do perfodo histérico tratado anteriormente se faz necessdrio 0 Sistema Agrério com Pousio, assoclado com cria gio e trag#o animal surgiu, aproximadamente, no ano 1.000 a.C., nas sociedades fenicia e cartaginesa, nas cidades-es tados aregas (Atenas), passando em seguida para o Império Romano e se estendendo pela Europa. A sua caracteristica principal era a de ter se desenvolvido fundamentalmente a partir da propria agricultura; ou seja, os melhoramentos técnicos observados no periodo de sua existéncia foram pro piciados pela prépria acumulagéo do setor agricola e segun do as suas préprias forgas. Este sistema egrério persis- tiu até o momento das revoluctes burguesas e industrial, na Europe dos séculos XVIII e XIX onde, a partir de ent&o, a agricultura assumiu o papel de fornecedora tanto de maté sas-primas, como de mo-de-obra de uma economia de merca- do com caracteristicas industriais. € sempre importante lembrar que a agricultura continuou na sua funcao de forne cedora de alimentos para a populacdo urbana que aumentava cada vez mais. As sociedades que antecederam o Império Romano tinham basicamente uma organizagaéo tribal: liderancas fami liares patriarcais, familias ampliadas, formando 0 Wels, A posse da terra era baseada no direito de uso, utilizando -se a terra conforme o numero de “bocas" da familia e de "bragos" para o trabalho, Este direito era constantemente revisto conforme o desenvolvimento da familia e prolongado até o momento de crescimento ou diminuicaéo da familia. 0 Al territério politico era defendido pela sua populacio e de- finido por uma mesma lingua, pelas regras de aliangas ma- trimoniais, ete. N&o existia o sentido da propriedade e o importante era o fruto do trabalho e @ sua reparticgaéo tanto com a famflia ampliada, como com a tribo. A proprie dade era comunal. 0 Império Romano ( e anteriormente as cidades- estados gregas ) surgiu basicamente da unio de vd4rias tri- bos numa cidade, por acordo ou por conquista de uma famf- lia por outra. A propriedade continuava sendo comunal.Mas foi no Império Romano que se iniciou a propriedade priva- da. Esta sociedade desenvolveu extraordinariamente o equi Pamento urbano, ao passo que na agricultura absolutamente mada ocorreu. 0 seu modo de produgdo era baseado no traba iho escravo. Os escravos eram origin4rios dos povos meses dores das guerras. Assim, 0 Império Romano existiu até Oo momento em que houve a possibilidade de expansdo e da coordenag&o centralizada de seus dominios. A produgdo agricola era caracterizada pela repar tigdo das terras em grandes dominios, sob o controle de um latifundiario™, que compreva os escravos para que traba- ihassem em seus dominios. 0 comércio se desenvolveu, e foi iniciado um perfodo de trocas de Produtos de uma regi ao com outra. € A invas&o bdérbara, a dificuldade de controle mili tar de suas fronteiras, o esgotamento das reservas minerais * Latifundio: Na antiga Roma, grande dominio privado da aristocracia (Aurélio) 42 ( principalmente 0 ouro espanhol ) em seus dominios euro- peus, etc., desloceram o centro do Império Romano de Roma para Biz@ncio. Este deslocamento nfo se deu apenas por uma quest&o estratégica: o Império Romano foi perdendo a sua capacidade de produg&o e de reproducdo social. O Império Romano entrou em crise: guerra, crise financeira do Estado, crise politica e, portanto, crise do sistema escravista. Quanto & atividade agricola, os escravos ( povos vencidos nas guerras ) foram se tornando cada vez,mais es- cassos. Os altos pregos e a dificuldade ae aquisigdo fize- ram com que os grandes proprietdrios de terras tentassem va rias vias de reprodugdo ca forca de trabalho em suas ter- ras. As primeiras tentativas foram a ce reproduzir escra- vos em cativeiro, como se faz com animsis. Esta alternati- va n&o foi possivel, na medida em que es mulheres se recu- yam e nado permitiam ser simples reprodutoras ( pode-se a- qui pensar em como esta sociedade via a mulher! ). A outra tentativa - e é esta que foi implantaaa - foi a de permitir a um casal, a exploracdo de uma parcela de terra. Para o cultivo da terra eram fornecidos os instrumentos agricolas, e o casal pagava ao proprietério da terra uma fragdo de sua produgdo ( a meia, a terca ) Este sistema foi implantado definitivamente nos séculos Ill e IV, e tinha como finaliaade a reprodug4o da forga de trabalho no dominio do grande proprietario de ter- ras. 0 trabalho era forgado € realizado exclusivamente nas terras dos grande latifundidrios. 0 "Colonato" constituiu 43 Ab, o embrido da futura sociedade camponesa, baseada no traba- lho familiar. Trabalhos de colheita e batecfo © fim do Império Romano ( séculos V e VI ) foi marcado por uma profunda desarticulagdo da economia e das relagdes de comércio estabelecidas até ent&o. Iniciou - se um periodo de saques e pilhagem da produc&o agricola e, em troca de seguranga, os agricultores se vincularam a bandos armados. Uma grande parte da produg&o desses agricultores Trabalhos de colheita e bategao 45 era destinada n&o apenas para a alimentacgdo deste “exérci- to", como também era confiscada. 0 responsével pelo bando subjugava n&o apenas os produtores rurais, mas também os ar tesfos. 0 "Senhor" desenvolveu assim os meios para a sua prépria protecdo, utilizando-se dos artesdos para o fabrico de suas armas © construg&o dos seus castelos. Nes te periodo a forja se desenvolve muito. Castelos dos senhores feudais 46 A partir do século X, a hierarquia feudal estava bem constitufda e o poder central ( o rei ) era cada vez mais poderoso. Do final do Império Romano até este perfodo a economia era a denominada "natural", ou seja, os agricul- tores produziam os alimentos que eram diretamente consumi- dos tanto por eles, como pelas outras pessoas que n&o parti cipavam diretamente da produgao agricola, sem intermediéri- os. Os transportes se reorganizaram e a economia comer- cial e urbana se reconstitufram. Para o sustento e 0 desen- volvimento do rei e de sua corte, foram criados os , impos- tos, tanto para as vilas, como para os senhores feudais e os camponeses livres. Este Estado se consolidou e o impos- to ( em moeda ) permitiu o seu funcionamento, baseado sobre tudo no exército e nos funciondrios. Trabalho de colheita e bategao 47 Naquele periodo, 1/3 do campesinato era livre, en quanto os outros 2/3 eram "servos" dos senhores feudais. 0 desenvolvimento das vilas necessitava de produtos agricolas para a alimentac&o. €ram estes camponeses livres ( e tem- bém os produtos que foram confiscados dos camponeses nao livres - os servos ) que, principalmente, iriam abastecer as vilas. Foi naquele perfodo que estiveram reunidas as condigdes para o actimulo de capital na exploragdo agrico- la, como visto anteriormente. A acumulagdo de capital pelos camponeses livres e a aparicdo de novas forgas produtivas ( artesdos, comer- ciantes, etc. ) permitiram o aumento da concorréncia com os senhores feudais. Contra a baixa de seus rendimentos iniciou-se um processo de "abolig&o" dos servos, a partir da divisaéo de sua terras, arrendando-as ou adotando o sis- tema da "mela". O arrendamento e a “meia", tomaram a lu- gar do trabalho obrigat6rio dos servos. Iniciou-se tam- bém o trabalho agricola com m§o-de-obra assalariada. Esta nova organizaga’o do trabalho agricola (meei ros, arrendatérios, assalariados agricolas, senhores feu- dais ) se desenvolveu sob o impulso de locauores: ordens mondsticas, burguesia, alguns aristocratas. Houve uma for te imigragdo para regides até entdo ndo cultivadas ( Nor- deste e Leste Europeu ) com uma grande derrubada das flo- restas nos séculos X e XI. Ao mesmo tempo que estes locacores fundiarios permitiam condigdes vantajosas de arrencaiente, vam" os camponeses a uma série de obrigacgdes, a ponto de 48 serem punidos 0s camponeses que néo lhes obedeciam. Assim, por exemplo, todo o cereal que fosse produzido deveria ne- cessariamente ser moido no moinho do Senhor; a protegdo real ou senhorial exigia igualmente taxas sobre as mercado pias, taxas sobre a guarda do castelo, taxas de circulagao ( peddgio ), etc. Assim, quer por um aumento dos rendimentos cultu rais, quer por um aumento da superficie cultivada, houve a partir do século 1X até 0 século XIII um crescimenta consi derdvel da producdo agricola. Este crescimento da oferta de produtos agricolas proporcionou um aumento de populagao ( sé a Franca, na época, tinha 20 milhées de habitantes ). Entretanto, a extensdo deste modo de exploragdo da nature- za nao pade ultrapassar um limite ecolégico determinado. é importante salientar que a agricultura daquele periodo de perdia unicamente de seu proprio desenvolvimento e de sua capacidade de acumulagao 0 aumento da populac&o, por sua vez, gerou um au mento na demanda de alimentos ao qual o sistema ndo podia responder. Aumentou a pobreza, a fome e a desnutricao. E- pidemias, doencas ( a Peste Negra de 1340 ) causaram uma mortalidade muito grande. A populagdo francesa caiu para 10 milhdes de habitantes. A expansdo da sociedade nfo pé de continuar sobre esta base de organizacao social da pro- dugdo. A agricultura se reconstituiu a partir de 1350, sobre as mesmas bases do sistema agrario precedente. Os problemas continuaram os mesmos e quando a populagao chega va aos 20 - 25 milhdes de habitantes, problemas alimenta- 49 50. Tes e sociais estavam presentes. A insuficiéncia da produ tividade de agricultura € a preocupagao maior dos aovernan tes nos séculos Xv, XVI, XVII e XVIII. Os fisiocratas des tacavam a economia agricola como o centro da economia ge- ral; agrénomos como Sully e Olivier de Serres comegavam a estudar as condicdes de produg&o dos agricultores para pro por melhorias nas técnicas de cultivo e criagao. Trabalhos no campo ( século XIV e XV ) Duranté os séculos XVII e XVIII manifestou-se no vamente a crise, mas j& existiam uma série de medidas que proporcionaram um desbloqueio progressivo da capacidade de produg&o agricola: a. 0 aumento do espago agricola a partir da conquista de terras marginais - construgao de példeres*, drenagem de terras pantanosas, etc; b. a liberag&o do trabalho servil aumentava lentamente; as forcas produtivas progrediam: melhor atrelagem dos a nimais, aumento do peso dos animais, melhor rendimento das plantas cultivadas. Estes dois Gltimos elementos corresponderam a um aumento da quantidade de forragem com relag&o ao antigo sistema de produgdo - e,portanto a um aumento da reprodugdo da fertilidade do solo j4 que os animais eram melhor alimentados - e, ainda,a uma melhoriagenética das plantas d. 0 desenvolvimento de canais de irrigagao e de drenagem, no século XVIII, permitiu um maior controle do meio eco légico, ao mesmo tempo que possibilitou a utilizagdo de reas aqricolas até entdo inexploradas Ao mesmo tempo em que a agricultura buscava al- ternativas para um aumento de sua produtividade, o comér cio e:uma insipiente industria se desenvolviam. © comércio interno se desenvolveu a partir do au mento do poder das vilas sobre os campos. A burguesia ur- bana centralizou o comércio, o que lhe deu condicdes para * Nos pafses baixos, planfcie conquistada sobre o Mar do Norte ( Aurélio ) 51 uma acumulagao importante de capital. Uma melhoria da re- de de estradas e dos meios de transportes possibilitou que os alimentos pudessem ser transportados de uma regigo para outra. A burguesia financiou a construgéo de navios para iniciar um processo de expans&o de seus negécios. Foi 0 perfodo das grandes descobertas e da expansdo colonial ( des cobrimento da América - Portugal e Espanha; comércio com a India - Portugal e Inglaterra; descobrimento da Asia, Afri ca e Oceania - Inglaterra, Holanda , Franca,etc.). Houve um aumento muito grande das trocas, possibilitando o actmu lo de capital nas mos da burguesia. Esta mesma burguesia comega a contestar o poder politico da aristocracia basea- da, sobretudo, na extens&o dos dominios territoriais As manufaturas iniciam 0 seu desenvolvimento, no século XV, nas cidades comerciais da Itdlia e da Holanda ( Veneza, Rotterdam, etc. ). Mas foi apenas nos séculos XVII e XVIII que elas tomaram impulso, financiadas, ou mes mo estruturadas a partir do capital comercial. Esboga-se uma nova estrutura de produgdo. As tentativas do regime feudal nado foram sufici- entes para realizar o desenvolvimento econémico e social da populagdo. A estrutura feudal n&o mais correspondia as novas exigéncias econémicas, e todas a iniciativas visando resolver a crise do regime feudal resultaram em fracasso. A crise econémica do Sistema Agrério com Pousio associado a criagdo e tragdo animal, que era mantido pelo regime feudal provoca, no final do século XVIII, uma cri- se politica que pés fim ao antigo regime. 52 A PRIMEIRA REVOLUCAO AGRICOLA CONTEMPORANEA - 0 CULTIVO DAS TERRAS DE POUSIO Este novo sistema agrério esbogou-se no centro - norte europeu ( Inglaterra, Holanda, Bélgica, norte da Franca ), no século XVIII, implantando-se como sistema de produgdo dominante no século XIX e primeiras décadas do sé culo XX. 0 pousio foi extinto, e em seu lugar introduziu- se novas variedades de plantas, como leguminosas e/ou tu- bérculos, que podiam ser utilizados tanto para a alimenta- co humana, como para a alimentacdo animal. A. Cereal 4 Ctrigo). 2. Cereal z (Cevada, certeloe aneia Ca. 5. Floresta 4. Leduminosas |: 0 Tubdrevfos 5. Capineira 53 As novas variedades de plantas introduzidas fo- ram: - plantas forrageiras: leguminosas - trevo, grdo-de-bico outras - beterraba, nabo, batata - plantas para @ alimentec&o humana: leguminosas: feijao, lentilha, ervilhe outres: beterrabe, ba tata. A introdugdo de plantas leguminosas no lugar do Pousio, praticado no sistema de produc#o anterior, apresen tou a vantagem de proporcionar um aumento da quantidade de forragem para os animais, ao mesmo tempo que incorpora uma quantidade importante de nitrogénio ao solo. Além disso as leguminosas podem ser plantadas junto com os _cereais destinados & alimentagao animal, nao apresentando assim, o Problema da limpa do terreno ( economia de trabalho ) e po Gendo ambos serem colhidos 60 mesmo tempo. owe RE Oh aoe Trabalho nas terras de pousio 5h Os meios de produgao deste novo sistema continua ram os mesmos do sistema anterior. 0 trabalho de tragdo era realizado pelos animais, e a reprodugdo da fertilidade do solo dependia ainda do esterco animal. Entretanto uma série de fatores foram introduzidos. Entre estes cabe res saltar: a. 0 artesanato, que comecava a produzir os equipamentos para as manufaturas nascentes, iniciando a produgio de implementos agricolas mais aperfeicoados, o que permi- tiu um aumento da produtividade do trabalho, além do de senvolvimento de novos instrumentos mecanicos de tragao animal (ceifadeiras, debulhadoras, batedeiras Instrumentos de trabalho a trac&o animal ( século XIX ) 55 Batedeira a trac&o animal Ceifadeira a trag&o animal séc. x1X 56 57 b. 58 Plantadeira a trac&o animal as leguminosas que, retendo o nitrogénio da atmosfera em suas raizes e no solo, permitiram que o rendimento dos cereais aumentasse de 100 a 200 kg por ha. As legu minosas plantadas nas terras de pousio forneciam uma quantidade de forragem aproximadamente 12,5 vezes maior que o sistema precedente ( nas condicdes da épo- ca ). © cultivo de leguminosas nas terras de pousio permitiu dobrar a quantidade de animais na exploracto e consequentemente multiplicar em duas vezes a quantida de de esterco incorporado 4s terras de cultura. Em 10 a 15 anos a fertilidade deste novo sistema duplicou, apresentando um rendimento dos cereais na ordem de 1000 kg por ha. inicia-se uma selec3o animal. A partir de uma melhor alimentacg3o os animais aumentaram a sua capacidade pro- dutiva ( leite, ovos, carne ) e também a sua tragdo. Animais mais produtivos Animais com maior forga de tracdo 59 d. o aumento da fertilidade, devido a introdugdo das plan tas leguminosas, permitiu a introdug&o de novas plantas na rotagao de culturas de exploragao agricola. Plantes como o nabo ( tanto forrageiro como para a alimentagao humana ), a beterraba ( forrageira, para alimentagao hu mana e para a producdo industrial de acdcar ) e a bata ta, sdo cultivadas em rotac&o com os cereais. Estas plantas permitiram n&o apenas uma melhoria no ndmero de calorias da alimentac&o humana, como serviram também como forrageiras para a alimentac&o animal. Segundo a regido e o tipo de orientacdo das exploragdes, existiam mdltiplas combinagdes de rotagao das culturas. Para as rotagdes quadrienais podia-se plantar: leguminosas - ce reais - nabo forrageiro - cereais - leguminosas. E im- portante salientar que naquele perfodo as leguminosas faziam parte integrante e eram obrigatérias em qualquer rotagdo de culturas. o aumento da fertilidade do sistema permitiu um cresei mento das terras de culturas em detrimento das terras comunais, que tinham principalmente a funcdo de alimen- tar os animais, possibilitanto a reprodugdo da fertili- dade existente no sistema precedente. Os efeitos da Primeira Revolugdo Agricola na pro dug&o de alimentos e de produtos necessérios as manufatu- ras ( que aumentavam ), se fez logo sentir. &m poucos de cénios houve uma duplicacdoe uma diversificagdo da produ- cdo vegetal e animal: a fome e as doengas desapareceram,a alimentag&o humana passou de 2000 para 3000 calorias, e a 60 quantidade de proteina animal aumentou consideravelmente no consumo alimentar humano. Este sistema agrério fornecia alimentagdo as ci- dades, que se tornavam mais populosas, e a matéria-prima pa ra as indUstries nascentes. Este sistema agrério ere ain- da dependente das suas préprias forgas de acumulacdo. Ba- seado na forca de tragdo animal, no uso de esterco animal - para reproduzir a sua fertilidade - e de material genéti co ( biolégico ) selecionado empiricamente, seus meios de eprodug&o vinham dos agricultores e dos artesdos locais. 0 surgimento do sistema de produgdo originado a partir da Primeira Revolugéo Agricola sé foi possivel nas grandes exploragées agricolas, aquelas que dispunham de u- ma abundante m&o-de-obra. Nos locais onde o sistema feu- dal continuava forte - mantendo uma série de regulamenta - gdes privilegiando a aristocracia ( nobreza ) rural, em de trimento do campesinato - a Primeira Revolugdo Agricola sé se implantou apés uma série de revolugdes sociais. Foram as revolugées burguesas e industriais, que tiveram palco na Europa no século XVIII e XIX, que aboliram ( e com mui- to sangue ) sobretudo os antigos direitos de propriedade, entre os quais, a propriedade do solo. Na Inglaterra, a burguesia comercial dominou os mercados internacionais e nacionais possibilitando, pelo acimulo de capital, o financiamento da Revolugdo Industri- al. Para a expansdo da indtstria foi necess4ria mao-de-o- bra ( que se encontrava abundante na agricultura ), @ maté ria prima (18), que era escassa em virtude das terras agri colas serem utilizadas sobretudo para a produggo vegetal 61 ( cereais ), produgdéo esta que servia tanto para a alimen- tagdo das cidades, como para o autoconsumo da familia cam- Ponesa. Isto levou os burgueses a se alinharem com a_no- breza, contra os camponeses. Os campos comunais e flores- tas foram fechados ( cercamentos ), e estas terras declara das propriedades privade da aristocracia rural. Com a ne- cessidade de maiores quantidades de matéria-prima por par- te das inddstrias, as terras de culturas também foram cer- cadas, dando lugar as pastagens, e as populacées foram expulsas das aldeias ( as aldeias foram destruidas ). Nestes espa- gos foram criadas as ovelhas, de propriedade da aristocra- cia rural, que forneceram a 14 para as inddstrias. A popu lagao rural que foi expulsa de suas terras foi para as ci- dades, constituindo-se na m&o-de-obra necesséria ao desen- volvimento das inddstrias. A Primeira Revolucdo Agricola se deu, portanto, nas terras da aristocracia rural. Na Franca, ao contrério, houve uma alianga entre © campesinato e a burguesia, contra a nobreza eo clero. Todas as terras em poder da nobreza e do clero foram toma- das e distribuidas para os camponeses. Os camponeses, 1i- bertos de todas as taxas e obrigatoriedades de cultivos e- xigidos pela nobreza, implantaram os métodos de cultivo, jé conhecidos desde a Primeira Revolug&o Agricola, mas até en t8o proibidos pela nobreza, A Revolucdo Francesa em 1789 liberou as forcas latentes da economia camponesa. Com desenvolvimento do coméreio e dos mercados, este campesina to comegou a produzir no apenas para o seu autoconsumo, mas também para fornecer a matéria prima para as inddstrias. Neste caso, a Primeira Revoluc&o Agricola se passa nas ter ras camponesas. 0 poder polftico foi tomado pela burguesia urba- na, que implantou uma nova ordem econémica: o capitalismo 0 capitalismo apresenta, entre outras caracteristicas: - a transformagao do trabalho humano e da terra em mercado ria. - 0 desenvolvimento da indéstria. Diferentemente de an- tes, a inddstria passa a ser o centro das atividades eco némicas na economia nacional e internacional. - uma grande divisdo social do trabalho. Agora a divisao do trabalho nao se apresenta por exemplo, apenas entre a gricultores e artes&os, mas também entre o trabalho manu al e o trabalho intelectual. QO desenvolvimento industrial langa as bases de uma total mudanga na agricultura. 63 A SEGUNDA REVOLUCAO AGRICOLA CONTEPORANEA - A INDUSTRIALIZACAD DA AGRICULTURA ns Com 0 desenvolvimento da grande industria quimi ca e mecanica no século XX, as condigdes de producfo em massa dos insumos agricolas tornaram-se presentes. Sobre- tudo a partir da Primeira Guerra Mundial, a agricultura se instrumentalizou e passou a utilizar cada vez mais,.em seu processo produtivo, insumos oriundos da produg#o industri- al. A agricultura passou a depender cada vez menos dos re cursos locais, e 0 seu desenvolvimento foi marcado pelo a- vanco da inddstrie. As inddstrias investiram cada vez mais intensa- mente nos meios de produgdo da agricultura: tratores, ara- dos, grades, colheitadeiras, adubos quimicos, racéo ani- mal, venenos, energia, etc. Ao mesmo tempo que produziu insumos para a agricultura,a inddstria transformou os ali- mentos, condicionando e distribuindo uma parte crescente da produg&o agricola. O desenvolvimento industrial levou, ao mesmo tem- po, ao progresso dos meios de transporte e da armazenagem @ conservagdo dos produtos agricolas. Um mercado nacional e internacional relativamente unificado se formou, possi- bilitando a concorréncia de produtos oriundos de regites distantes e diferentes ( ex: a concorréncia no mercado eu- 64 ropeu, da soja brasileira com a norte-americana ou a con- corréneia, no mercado do Rio de Janeiro e de Séo Paulo, do arroz produzido no Rio Grande do Sul com o do Maranh&o) Uma inigualdade de produtividade, de renda, e de capacida- de de investimento levou a uma acentuagdo cada vez maior das diferenciagdes regionais. Em cade lugar, as explora- gdes © as produgdes menos rentdéveis desapareceram. 0 an- tigo sistema de produgdo, baseada na diversificagdo e rota c&o de culturas, associado & criac&o de animais, deu lugar a sistemas de produgéo simplificados, especializados, ou seja, a monocultura. A producdo se concentrou nas regides Infcio da quimica na agricultura - séc. XIX ( pesticides ) 65 66 @ nas exploragdes que apresentavam vantagens fisicas maior fertilidade natural dos solos) e econémicas (um mator act- mulo de capital fixo - m4quinas, equipamentos, ete), crian do assim condigdes de se manter e de progredir face a con- corréncia de exploragdes agricolas de outras regiées. COM J com _sutfAto De AMeNia | DE J com Sunrao pe Aménim J et SULFATO, be AMONIA = Batedeira a vapor - séc. XIX Principais tentatives de motorizagdo 0 sistema de produgdo oriundo da Segunda Revolu- g&o Agricola torna-se portanto dependente, desde os insu- mos necessdrios & produg&o agricola, até a comercializac&o dos seus produtos. Este sistema é incapaz de se reprodu- zir a partir de seus préprios meios. AQUINAS. PADDUTOS —— NEGETAS fi MeLEMENT, {——__> is INDUSTRIA, fsemenre. JAGRICUCTURA W ammais [INDUST RIA NENENOS ALIMENTACAG © MATERIA - Prima) Pode-se caracterizar este novo sistema de produ- go pelos seguintes aspectos a. a motorizagdo como meio de trac&o. Houve uma troca do a nimal pelo trator. Os instrumentos de trabalho se tor- narem mais complexos e permitiram um grande aumento da produtividade do trabalho; AWS a ey aes, A agricultura hoje: equipamentos de eficiéncia 68 b. os adubos quimicos como meio de reprodugao da fertilida de. 0 desenvolvimento da indUstria quimica permite tam bém a produg&o de venenos, herbicides e de produtos ve- terindrios; c. 0 desenvolvimento dos transportes e da conservagéo dos produtos agricolas, possibilitando a sua transformacdo industrial e posterior distribuic&o nas cidades; d. a acentuagdo da divis&o social do trabalho, com a sepa- tacdo cidade/campo e, ao mesmo tempo, uma grande divi- s8o entre o trabalho intelectual e o trabalho manual; e. a melhoria genética das plantas e dos animais permitin- do, junto com outros fatores, um aumento no rendimento das culturas e dos animais. Por exemplo, em alguns lo- cais do japdo, o rendimento da cultura do arroz chega & 8000 kg por ha; na Holanda, algumas regides apre- sentam vacas leiteiras que produzem 6500 kg de leite por lactacao; f. a relativa unificag&o dos mercados nacional e interna- cional, que permitiu uma maior especializagéo regional de certas culturas e criagSes. A monocultura é o resul tado deste movimento. Surge ao mesmo tempo uma maior diferenciac&o regional, marginalizando as regides menos favorecidas. g. a maior dependéncia da agricultura em relacio & indus- tria, levando alguns estudios da agricultura a chamé-la de industrializacdo da agricultura. Em tode a sua histéria, foram os agricultores que, de maneira geral, ditaram os rumos da produgdo agrico la. 0 "saber" popular camponés desenvolveu todos os seus 69 instrumentos de trabalho e sistemas de producao, passando de gerec&o a geragdo este conhecimento. A partir da Segun da Revolucao Agricola hé uma alienagio material e econémi- ca do "saber" necessério & produgdo. Até mesmo os manuais de utilizag&o de um instrumento agricola, ou as instrugtes de uso de um veneno, ndo sao feitos por agricultores. A in ddstria subordinou a agricultura & sua légice. Os problemas gerados e resolviddos pela prépria agricultura fogem de sua esfera de decis#o, constituindo - se numa questa de ordem econdmica e politica em escala am pliada, mundial. BIBLIOGRAFIA CARLIER, H. den, ILEIA, 1987. CORTAZAR, J.A.G. understanding traditional agriculture. Leus Histéria rural medieval. Lisboa, Ed. Estampa, 1983. DUBY, G. & WALLON, A., org. Histoire de la France rurale. Paris, Sevil, 1975. dv. HARLAN, J.R. . Les origenes de l'agriculture. La Recher - che. Paris, n. 29, 1972. HAUDRICOURT, A.G. & HEDIN, L. L*homme et les plantes cul- tivées; Paris, Métailié, 1987. KAUTSKY, K. A quest&o agréria. S&o Paulo, Proposta Edi torial, 1980. MARX, K. . 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Bibliografia. 72 Coordena¢ do Regional NE PTA/REDE ESPLAR CTA-Quixeramobim / ESPLAR Rua Paulino Nogueira, 81 - Benfica 60.020 - FORTALE ZA - CE Fone: (085) 243-8988 PTA/REDE SMDDH Beco do Couto, 64 65.010- SAO LUIS- MA Fone: (098) 221-3838 PTA/REDE CJC Rua Dom Bosco, 779 - Boa Vista 50.070 - RECIFE - PE Fone: (081) 222-1874 - Ramal 26 CTA-OURICURI Caixa Postal 03 56.200 - OURICURI - PE Fone: (081) 933-1216 (Rec.) PTA/REDE BA Travessa Guia Lopes, 50 Bairro 2 de Julho (Antigo Beco do Mingau) 40.110 - SALVADOR - BA Fone: (071) 242-8520 PTA/REDE MG Av, Brasil, 248 - Sala 1005 Santa Efigénia 30.140- BE LO HORIZONTE - MG Fone: (031) 224-7364 CENTRO DE AGRICULTURA ALTERNATIVA DO NORTE DE MINAS Rua Carlos Pereira, 140 39,400 - MONTES CLAROS - MG CTA/ZONA DA MATA Caixa Postal, 128 36.750 - VICOSA - MG Fone: (031) 891-2147 (Rec.) Coordenagao Regional Sul Rua Ernesto Alves, 330 - Sala 22 98.700 - JU - RS Fone: (055) 332-4740 PTA/REDE PR Rua José Loureiro, 133/1601 - Centro 80.010 - CURITIBA - PR Fone: (041) 223-2140 PTA/Instituto S. Jodo Batista Vianei Projeto Vianei de Educagao Caixa Postal 99 88.500 - LAGES - SC Fone: (0492) 22-4255 PTA/REDE ASSESOAR Rua General Osdrio, 500 - Congo CP. 124 5 85.600 - FRANCISCO BELTRAO- PR Fone: (0465) 23-4744 PTA/REDE ES ~ Rua Alberto de Oliveira Santos, 40 Sala 221 Ed, Presidente Kennedy 29.010 - VITORIA - ES Fone: (027) 222-3527 PTA/REDE RURECO Rua Dr. Jodo F. Neves, 1530 85.150 - TURVO - PR PTA/REDE POLO ASSENTAMENTO Av. 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