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A fogueira do homem

É impossível amar a distância. O amor é um sentimento que se assemelha a uma


fogueira. Mais apropriadamente, a fogueira pode representar a parte do espírito
humano que nela está contida tanto a paixão, como também o amor. Esse último
um sentimento tão desconhecido. Quando a fogueira é montada e, após um tempo,
acendida observamos a paixão atuar. Madeira nova é colocada para queimar. Não
sabemos se essa faísca vingará por sobre a madeira organizada de forma que só o
homem sabe fazer ou se, súbita e tristemente, morrerá. A paixão é o fogo que nasce
dessa faísca, forte, poderoso, em última análise arrebatador. A paixão nos fere e
nos afaga nos seus braços fumegantes, tudo ao mesmo tempo. Dor e gozo se
misturam para elevar a chama prima apaixonada. Quando se sente a fogueira da
paixão tem-se a impressão, ou melhor, o desejo de que essa fogueira sempre
permaneça assim com sua audaz resistência até o infinito engolir o eterno. Não
importa nesse momento a chuva do dia seguinte ou o imenso frio que faz ao largo
dessa fogueira. Ora, alimentamos essa chama com esperanças. Essa é a paixão. É
a grande chama no seu ser de faísca vingada e agora já alimentada. Geradora de
alegrias, festas, esperanças, dor e queimaduras, ela chega a alimentar quem a
alimenta. Vejo o sono e nada mais no mundo, seja chama, festa ou dor; importa. O
que nos resta ou é o sonho que nos lembra o sentido belo da paixão, ou o pesadelo
que nos traz o sentido negativo desse colossal sentimento.

Após o bocejo, notamos que não mais há chama, seja vermelha, amarela ou azul.
Ao invés do brilho outrora experimentado nos deparamos com brasas que pelo calor
apenas simbolizam a lembrança da noite anterior. As brasas são o amor. Após o
entorpecimento morfético, se percebermos bem notaremos uma rosa dos ventos
que cada ponto sub-colateral aponta para várias outras fogueiras que não essa e
além dessa. Elas são de todos os tamanhos e no seu íntimo mostram-se como
brasas que guardam um potencial, serão acesas novamente? Ou morrerão como
cinzas numa tempestade de vento? Somente a distância que colocaremos nossas
mãos para tentarmos fugir da solidão, que é estar longe de qualquer fogueira, nos
responderá. É impossível amar a distância.

Tarde chuvosa, Novembro, 2014

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