Só eu estou no meu corpo E os solípticos mais solipsistas dizem abóboras aos ventos Esse é um poema sem verdade Mal posso olhar para minhas mãos É mesmo que vocês, não os que me lêem, mas os que me fazem escrever Cada rosto que memoro é o relembrar do corte que já foi O início dessa ideia refletia um gênio, No desenrolar dela só nos resta um incompleto Da certeza do Deus perfeito só me lembro de que sou: Imperfeito; dedo no movimento Tenho perfeita noção da minha cor Ela contrasta com o branco do azulejo que num repente deixa de ser azul Azu’lejo dos meus dentes, Hoje os vi no espelho que refletiu o não tão branco da idade – tom Me parece que a genialidade voltou ao rosa que é a unha Mesmo rosa me corta Como a unha, em liberdade, corta a carne do agressor (temos que lembrar que lejo é longe) Menstrua o Chico que vem me falar de cor! Eu sei, uso mesmo e sem dó Só no corpo em que habito o hábito habita Deixo os jogos das palavras para voltar ao por menor Eu não existo sem o nada e do nada eu me reflito com o pesar de ainda ser Finito cabe aqui como acaba o amanhecer Rima barata de verso só se encontra no doer Cale-se Você iria falar do que era, mas está sendo falando Cada linha é armadilha, como cada vermelho é uma sentença Cada qual um universo, que Saramago desvendou E o solíptico lamenta que não pode ser sem dor Que cada qual é uma sentença e sem conjunto nada sou