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Título do trabalho: A lida com a morte e o evocar dos mortos: experiências

fúnebres no Norte do Piauí, Brasil.

Resumo: Essa tese analisa as formas de lidar com a morte e o morrer,


evocada ou personificada nos mortos de comunidades rurais de forte tradição
católica situadas no Norte do Estado do Piauí, Brasil. As análises foram
construídas a partir de dados coletados em pesquisa etnográfica realizada
em duas comunidades, Laranjeira e em Água Viva, entre os anos de 2009
e 2018, com uso de uma abordagem metodológica qualitativa. O objetivo
principal na tese é mostrar que a presença dos mortos emerge não só
durante os rituais fúnebres, mas também nas práticas cotidianas de
manutenção dos vínculos sociais familiares dos [que permanecem] vivos.
Durante a pesquisa observei que as atitudes dos interlocutores em relação
a morte revelavam uma forte tendência de renovação dos laços familiares e
apaziguadora dos conflitos porventura existentes. As narrativas sobre os
antepassados indicam a existência de uma fronteira estabelecida entre o
mundo dos vivos e o mundo dos mortos, instituída pelas ações rituais com
o intuito de afastar a morte e reaproximar o morto. Nesta tese considero
os objetos associados à morte imprescindíveis na realização dos rituais
fúnebres, através do seu poder de agência, como o caixão, a cruz, o terço,
as velas, a coroa de flores. Por sua vez, os objetos deixados pelos mortos
adquirem sua agencia através de um processo de transvaloração ao serem
distribuídos entre os familiares dado o grau de importância de cada um. Os
cemitérios são tomados como lugares relevantes para demarcar os lugares
dos mortos, em contraponto com a descrição da demarcação também do
lugar da morte, como no caso de óbito por acidente no trânsito, quando
as cruzes e miniaturas de túmulos são vistos à beira da estrada, permitindo
elaborar uma reflexão sobre o modo como os enlutados constroem essas
duas categorias: morto e morte. Conclui-se, nesse sentido, que as maneiras
particulares de lidar com a morte nessas comunidades incluem especialmente
as práticas de presentificação dos mortos como antepassados, no contexto
das quais as memórias sobre os mortos são construídas como um recurso
de produção da honra familiar.

Palavras-chave: antropologia da morte; etnografia dos mortos; agência dos

objetos.
Nº de páginas: 200.

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