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Cantinhos da Semiótica literária Introduçã o

relatos, fixou em nosso imaginá rio narrativo sob formas ca- turas fixa , isola e valoriza identidades, tipos e percursos pas-
nónicas ( do contrato inicial à sançã o final , recompensa do sionais. H á a í um vasto dom ínio de pesquisas para a aná li -
herói e puniçã o do vil ão nos contos populares ). O primei- se literá ria , sem d úvida , mas também para a compara çã o
ro grande romance da literatura francesa , Percival ou a his- intercultural das figuras e configurações do sensível.
tória do Graal, ilustra de maneira exemplar essa trama. / O sensível nos leva diretamente à terceira dimensão
Essa dimensão narrativa, menos ou mais enriquecida e que semiótica explorou .amplamente, a .dimensão figurati-
a ,

complexificada, tem permitido há muito tempo numerosas vajdadisxmrseí A literatura é, entre outros, um discurso figu- \
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aplicações na análise dos textos, eficazes até mesmo no n í- rativo: ele representa, estabelece, na Jeitura, uma relação
vel mais elementar, mas sempre exageradamente simplifi- imediata, uma semelhança , uma correspondê ncia entre as
cadoras ( em torno do esquema narrativo, principalmente). figuras semâ nticas que desfilam sob os olhos do leitor e as do
Ocorre que as estruturas da ação não esgotam, longe mundo, que ele experimenta sem cessar em sua experiê ncia
disso, a organização discursiva do sentido. E a literatura sensível.[ É a mimesis. Essa dimensão se interessa pela manei- .

nã o se contenta em pô r em discurso a ções e condutas. A ra como se inscreve o sensível na linguagem e no discurso,


narrativa mostra , de maneira robusta porque sistematizá vel , ou seja , basicamente, a petcepção e as formas da sensoriali-
como se transformam os “estados de coisas”: passagem da dade.; Essa dimensão figurativa da significação, a mais super-
pobreza à riqueza, do sucesso ao fracasso, da posse à priva- ficial e rica, a do imediato acesso ao sentido, é tecida no tex-
çã o; os objetos circulam , trocam-se, perdem-se. Mas que é to por isotopias semâ nticas, e recobre com toda sua varieda-
feito do sujeito que continua a existir no decorrer das trans- de cintilante de imagens as outras dimensões, mais abstratas
formações, que persiste e modula seus pró prios estados, e profundas. Ela dá ao leitor, assim como ao espectador de
seus “estados de alma ” , através da circula çã o dos objetos e um quadro ou de um filme, o mundo a ver, a sentir, a expe-
dos valores que os tornam desejá veis ou tem íveis? Uma pos- rimentar. A práxis cultural , que sè sedimenta com o uso, fixa
sessã o perdida deixa nele resíduos sob forma de “lamento ” então a ordem de ‘Verdade ”, totalmente relativa, do figurati-
ou de “ nostalgia ”. A impossível conquista de um objeto de vo em poéticas particulares e convencionais: é, por exemplo,
desejo reforça, ao longo dos obstáculos encontrados, o que- o alegorismo, o realismo, o simbolismo, o surrealismo, etc.
rer do sujeito, e eis a “obstinação”; os objetos virtuais cres- Chegamos finalmente à dimensão enunciativa. Essa
cem no decorrer das aquisições parciais, dilatando o ser po- posição, no fim do percurso, é significativaI Enquanto se
tencial do sujeito, e eis a “ambiçã o”. Essa profusão de simiPy constitu íam e se desenvolviam na França uma linguística
lacros cuja remanescência o sujeito passional preserva oui da enunciação (a partir dos trabalhos de E. Benveniste e de
|, projeta no futuro, analisá veis na medida em que eles se tor-7 A. Culioli ) e uma pragmá tica da interação linguageira ( a
l nam objetos efetivos no discurso, que a língua nomeia e or| - partir de Austin e Searle, no universo anglo-saxão, e de O.
| ganiza levou - a semiótica ao estudo desta dimensã o relati-l
, Ducrot na França ) , os semioticistas se mantinham , na
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vamente autónoma, que é a das paixões. Ora , a literatura é,
jL de todas as formas do discurso social , a que em nossas cul- ^ maioria de seus trabalhos, “a boa distâ ncia ” do sujeito (J,-
C. Coquet foi por muito tempo uma exceçã o nesse cam-

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