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IAL, Jean coord, Cultures en ville ov de Fart et du citadin, UAube 1, 2000. IIL, Robert von. Linomme sans qualités, Le Seuil, 1933. UST, Marcel. A la recherche du temps perdti, Gallimard, 1912. LANOVA R. de, HILY M.A., VARRO G. Construire Nnterculturel ? de la tion aux pratiques, LHaimattan, 2001) Territérios Culturais na Cidade do Rio de Janeiro" Lilian Fessler Vaz Pacla Berenstein Jacques 0 termo “Territério Cultural” remete nosso pensamento a agées, ‘manifestagdes ou politicas culturais asscci se espace ~rbano.A relagdo entre a cidade, através de teritérios urbanos, ea cultura, através de sua variadas expresses, 60 tema deste trabalho, Procuramos verificar na cidade do Rio de Janeiro recortes urbanos marcados pela presenga da arte e da cultura, investigando suas formas de constituigo, os atores sociais enwvolvidos, os sentidos da cultura presentes, os espacos estas manifestagées e o desenvolvimento destes processes. {As politicas culturais incentivam, promovem e realizam diversas atividades culturals localizadas na cidade, de variado aleance, curacao e iciativas locais podem passar quase jos, enquanto outras podem se tornar MICOS referencials de uma cidade, como alguns Festivals artisticos Detiédiog.Certas manifestagdes culturas, independentes de quatsquer a piblicas podem vir @ caracterizar bairros ou mesma cidades, Mi A ht urbana nos mostra diverss recotes urbanos inciscutivelmente Gn ose alguma forma de manifestagao cultural, como 0s teatras nos ' outevards em Pars, na Broadway em Nova York e outos tantos FEI. estes casos, constate-sea presenga de equipamentos cuturas, 08 ier or es comeércios e servos, © de espagos pilicos frequentados por £79" Genero de pessoas, Mais além destes exemplos, a historia tabs OS Mo..-4 outros recortes urbanos em que @ arte e 2 cultura se apresentarn, hee imbricadas, como o blues em New Orleans, 0 tango em Buenos A. tua aotrastevo em Sahadoro, n Ride Jane, osamba no 2 bossa-nova na zona sul eo funk na pefifeia. Estes S80 alguns ene Sone ous exemplos do que podetfanos entender como terros cultura; Be Peso eponubaoirpeacs clue, oquerespenoms a satus policas urbanas que se ular ds cultura como estratégia tyengo para a revitalizacéo de dreas degradadas ou esvaviadas, 1010680 etre politica cultural e teritrio urban se explicita, como no caso PlPiy.os urbantsticos de intervengao em areas centrais com implantacao 8 E9ujipamentos culturais, eriagdo de espagos de lazer e de HAE inrento, e urbanizacao dos espacos publicos circundantes. Neste BO. 8 jelacdo entre 2 politica cultural eo territério urbano nos parece Jneciso, no entanta, ir além.desta ébvia constatagao, indaganco EPResonca de um equinamento cultural ou das habituals promogées lizantes, como feiras, shows ¢ outros eventos temnporarios nas areas OYA permiter caracterizé-las como culturais, ou como terit6rios ‘iteraturacitica cisponivel nos mosta que 0s resultados destas Ingbes contempordineas, mutes vezes, se fevelam apenas espagos js enabrecidos_ pelo consumo cuiturcl § melhor de inte, eT \ \ rmanifestagdes culturais, aos recortes teritorias, assirn como as praticas @ aos processos sociais que constroem as relagdes entre eles. Estos campos conostuais seo extraidas des areas do ubanisnp, da geogtato” trbaria. Nao cabe ngs limites deste trabalho a elatoracéo cabe aperias assinalar que, 20 nos reerirmas a recortes teritoriais, estes serdo sempre recortes urbanos, de dimensdes varidveis, imptegnados de urn ou mais modos culturais. Estas modalidades se manifestam muitas vezes em espacos piiblicos ou em equipamentos culturais: estas concentragoes consideramos coro lugares culturas. Os equipamentos cultura podern definir ura espacialidade que ihes assegura uma irradiagdo sobre o seu entomo, atraindo atividades comerciais. Quando alguns equipamentos se aglomeram, multiplicando 0 efeito de atragio de usudrios dos. ‘slabelecimentos, muito além do pablico do equipamento isolado, pode ‘ocorier uma contaminagao do espago circundante, uma propagacao do “ambiente sécio-cultural reinante no equipamento gerador, ou uma sinergia deste com o local, surgindo novas formas de sociabilidade, No entanto, éreas urbanas podem ser marcados pela presenca forte & continuada de praticas culturais, quaisquer que sejam as estruturesfsicas que as abriguem. As praticas deservolvidas por grupos sociats podem eventualmente ser associadas a culturas puilicas (cf. ZUKIN). 0 conjur _de lugares que se clistinguem por estas presengas culturais chamamas ‘de territério cultural, Blas os terrtérios nfo so fixos uma vez que ‘dependem de suas variadas formas de apropriagao, podemos mesmo | pperceber que 0s territérios culturais 36 desteritorializam e reteritorializam 2a partir de seus usos e apropriagbes simbélicas. Enquanto ocupar,frequentar e se apropriat® de lugares e de culturas Bo praticas e agbes que fazer parte do provesso de territorializagao ou de construigo de um determinado teritéro, criando valores e significados ‘atiavés da vivencia, nés também pademos pensar que esses teritrios poxlem nao ser materiais ou formais, mas puramente simb6licos, ficgGes fat em imagindrios (na musica isso ocorre com as nfo vom a Salvador para ir 8 praia de Itapus iste mas ndo se parece muito com a de Caymmi). Existem também culturas desterritorializadas que podem voltar 2 se teritoriatizar, ou no (um bom exemplo disso no Rio de Janeiro é a Praga Onze que sobrevive no imaginario ~ a Praga néo existe mais ~ através das letras do sambas"), As culturas ainda podem ser némades, ou seja, essas podem estar em movimento constante, podendo se desterritorializare reterritorializar (como diriam Deleuze e Guattari). 0 caso do Rio de Janeiro Para exploraro surgimento de territsrios culturais, veificamos, a partir cde uma perspectva histirica, a emetgéncia de equipamentos e de praticas coulturals na étea central do Rio de Janeiro, caracterlzando recortes urbanos especfficns. A andlise destes possiveistertrios cuturais nos leva a questionar sobre a adequago desta caracterizagao e a possibilidade destes territsrios sserem produtos de intervencées urbanas, Em termos de processos de renovacéo urbana em reas centiais, identificamos fases diferenciadas tanto de intervengdes urbanas como de concepgées de cultura (Vaz e Jacques, 2001). No caso do Rio de Janeiro, a primeira grande intervengéo, a reforma urbana realizada nos primeiros anos do século XX, exemplo de renavacao urbana ou “haussmaniana”, significou uma adeséo néo apenas ao modelo urbanistico francés, mas também ao modelo cultural francés Registraram-se, a partir de entdo, a imagem e o cardter parisienses da nova Avenida Central e dos seus frequentadores, 0 Teatro Municipal reproduzindo 0 Opera de Paris, e até a presenga dos pardais diretamente importados. Neste ambienté da elite belle Epoque, construfram-se ainda junto a0 Teatro Municipal a Biblioteca Nacional e a Escola de Belas Artes, que se somaram a outras arquiteturas neocléssicas impregnadas de espirito beaux arts ‘A francofiia nao teria longa duragéo: duas décadas depois, neste mesmo trecho privilegiado, o extremo sul da Avenida Central, urna grande Intervengdo conduzida por particulares deu origem 8 Cinelandia, 0 Imodetno bairro de cinemas. 0 que se apresentava como inovadior era a ‘aglomeragso de trés novidades: de cinemas —o maderno equipamento ceultural @ iranha-céus ~ a*hova maneira de moray, en apartamentos; ede lanchonetes - a moda do fast food, na énoca, ainda ‘0 “cachorto quente”; inaugurando © american way of life no Rio. Com a Cineléndia, tinha inicio o processo de verticalizagéo, que seria incentivado através de seguidas intervengées arrasadoras de cunho modemista, durante décadas, e que transformariam radicalmente a palsagem da drea central, As vrs intervengdes ¢aintensa verticalizago caracterizaram as pollticas urbanas de “destruicao /reconstrucao” (VAZ; SILVEIRA, 1993, e outros), que se estenderam até 0 final dos anos 70, quando foram substituidas pelas polticas ditas de revitalizagao, ave, coincidentemente, se inauguram sob a égide da cultura, com o projeto Corredor Cultura. Instituido legaimente em 1884, 0 Corredor Cultural foi uma reacdo as sucessivas_intervengbes.arrasadoras, propondo a ~ preservagdo de conjuntos urbanos remanescentes (1600 imévels dos séculos XIX e XX), oferecendo ambiente acolhedor para as atividades {que haviam sido expulsas: pequencs comeéicios, cultura lazer. Na década —Jeguinte 6 que se tornaram visiveis os efeitos desta nova abordagem, com a preocupacéo com o desenho dos espages pablicos, 0 surgimento de centros culturais em edificagées reabilitadas, novos usos culturals ros espagos livres piblicos, a presenca de arte publica, de eventos @ iniciativas de animagdo cultural, fazendo reverter, ao menos em trechos resitites, 0 processo de degraciagao. Apesar das profundas transformagées em curso, inclusive com a emergéncia de novas centralidades, a area central do Rio de Janeiro permanece ainda estruturada em toro ao seu CBD®, centro de gestéo da estrutura metropolitana, cercado por franjas de usos diversos, que separam 0 centro dos demais bairros. No seu interior distinguem-se trechos funcionalmente diversificados, inclusive alguns fortemente tmarcados peta presenga da cultura. $80 0s trechos polarizados por grandes centros culturais criados nas ditimas décadas, como 0 Centro Cultural Banco do Brasil, a Casa Franga-Brasil, o Espago Cultural dos Correios, 0 Pago Imperial e 0 Museu Naval e Oceanografico, (trecho Candelaria — Praga XV). 0s tradicionais Teatro Municipal, Biblioteca Nacional, Museu Nacional de Belas Artes, ¢ mais reventemente o Centro Cultural da Justica antes e renovados cinemas (Pathé e Odeon) formam um foco

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