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“Para existir, a sociedade depende da inviolável solidão de seus membros.

Uma
sociedade, para merecer esse nome, deve compor-se, não de números ou de unidades mecânicas,
mas de pessoas. Ser uma pessoa implica em responsabilidade e liberdade; ambas implicam uma
certa solidão interior, um senso de integridade pessoal, um senso de própria realidade pessoal e
da capacidade que se tem para dar à sociedade – ou recusar essa doação.
Quando os homens se encontram submersos em massa de seres humanos
impessoais, empurrados de lá para cá por forças automáticas, perdem sua verdadeira
humanidade, sua integridade, sua capacidade de amar, sua possibilidade de autodeterminação.
Quando a sociedade se compõe de homens que desconhecem a solitude interior, não pode mais
manter-se unida pelo amor; consequentemente, é mantida pela violência e uma autoridade
abusiva. Mas, quando os homens se vêem violentamente privados da solidão e da liberdade a
que têm direito, a sociedade em que vivem apodrece, ulcerada pelo servilismo, o rancor, o ódio.

Nenhum grau de progresso tecnológico poderá curar o ódio que devora, como um
câncer espiritual, as entranhas da sociedade materialista. Há, unicamente, e sempre haverá uma
só cura, e está é espiritual. Pouco adianta falar aos homens de Deus e de amor se não são
capazes de escutar. Os ouvidos com que se atende à mensagem do Evangelho estão ocultos no
coração do homem e nada podem ouvir se não são favorecidos com uma certa dose de solidão e
silêncio interior.

Em outras palavras, uma vez que a fé é questão de liberdade e autodeterminação –


a livre recepção de um dom gratuito da graça – não pode o homem dar seu assentimento a uma
mensagem espiritual enquanto tem a mente e o coração escravizados pelo automatismo.
Permanecerá assim escravizado enquanto estiver submetido numa massa de outros autômatos,
privados de individualidade e de sua integridade de pessoas, a que têm direito.

O que aqui dizemos a respeito da solidão não é uma receita para eremitas. Tem a
ver com o futuro do homem e do mundo em sua totalidade; em especial, é claro, com o futuro
da religião do homem.”

Thomas Merton.

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