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2017­6­7 Hildegard von Bingen: a mulher que uniu o céu e a terra | Alemanha | DW | 07.03.

2008

NOTÍCIAS / ALEMANHA

AL EM AN H A

Hildegard von Bingen: a mulher que uniu o céu e a terra
ESPECIAL: CIÊNCIA SEM LIMITES? Mística, teóloga, escritora
de livros de medicina
natural e compositora. O
Dia Internacional da Mulher é a data ideal para relembrar uma das personagens femininas mais interessantes da Idade
Média.

Em 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica têxtil de Nova York cruzaram os braços na
exigência de melhores condições de trabalhos e equiparação salarial com os homens. O protesto foi
violentamente reprimido. Policiais e proprietários trancaram­nas na fábrica e atearam fogo. Cerca de
130 tecelãs morreram carbonizadas.

A data, escolhida desde 1910 como Dia Internacional da Mulher pelas feministas, foi ratificada
oficialmente pela ONU em 1975. O Dia Internacional da Mulher é também uma boa data para
recordar aquela que talvez tenha sido a primeira feminista da história – a abadessa alemã Hildegard
Hildegard von Bingen desafiou sua
época
von Bingen.

Num mundo medieval dominado pela insegurança, pelo clero e por senhores feudais, Von Bingen não
se deixou dominar. Com muita habilidade e trabalho, construiu e administrou dois conventos, escreveu livros de teologia, medicina e
ciências naturais, compôs música sacra. Sua maior batalha, no entanto, foi não se deixar calar.

Habilidades especiais

Quando Hildegard nasceu – não se pode precisar o dia em 1098 –, as primeiras
cruzadas partiam para Jerusalém. Em 1095, o papa Urbano 2° conclamara a
cristandade a "libertar a Terra Santa das mãos dos infiéis", o que aconteceu quatro
anos mais tarde.

Com os cruzados, não somente pagãos, judeus e muçulmanos foram combatidos, mas
também ensinamentos do Oriente chegaram à Europa medieval.

Hildegard provinha de família nobre da região de Alzey, no sul da Alemanha. Já aos
A religiosa é sempre é retratada escrevendo
três anos de idade, a futura abadessa demonstrava habilidades visionárias. Mas foi
somente aos 15 anos, como interna do convento junto ao mosteiro beneditino de Disibodenberg, que percebeu quão especial era a habilidade que
possuía.

Como era de costume entre as famílias nobres medievais, meninas e meninos saíam de casa, já na idade de sete anos, para a formação como
cavaleiros e freiras. Além disso, muitas famílias preferiam ver suas filhas num convento do que nas mãos de um bruto senhor feudal.

Trívio e quadrívio

Além da leitura dos escritos sagrados, a curiosa Hildegard
pôde, no convento beneditino, aprender a ler e a escrever
rudimentos de latim. Ela não teve, no entanto, um aprendizado
sistemático dos cânones do conhecimento medieval baseados
nas sete artes liberais, divididas em trívio (gramática, retórica e
dialética) e quadrívio (aritmética, geometria, música e
astronomia). Isto era reservado aos membros masculinos da
ordem.
Relíquias de Von Bingen estão em Eibingen
Hildegard viveu vários anos como uma simples freira. Com a morte da
tutora Jutta, em 1136, ela se tornou a superiora do convento. Sempre
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2017­6­7 Hildegard von Bingen: a mulher que uniu o céu e a terra | Alemanha | DW | 07.03.2008

acometida de doenças, tentava esconder suas visões. Aos 42 anos, recebeu a incumbência divina de escrevê­las. Por medo
da tarefa, caiu doente. Somente após a intervenção de Volmar, seu padre­confessor, e do abade Kuno, ela começou sua
obra.

Hildegard trabalhou durante cinco anos no livro Scivias (Saiba o caminho), ditando­o para Volmar, que corrigia
gramaticalmente os escritos em latim. São Bernardo de Clairvaux, um dos maiores teólogos do século 12, interveio junto
ao papa Eugênio 3° em prol de Hildegard. O papa enviou uma comissão para examinar o caráter de seus escritos. Não
houve dúvidas, eram palavras de Deus.

Novas visões

Pouco tempo depois, uma nova visão acometeu a futura abadessa. Deus lhe ordenava
construir seu próprio convento, não mais sob a égide dos monges beneditinos. Estes
ficaram bastante insatisfeitos com a decisão. O apoio papal tornara a visionária a
atração do mosteiro em Disibodenberg. Hildegard caiu novamente doente, conseguindo
assim vencer a resistência do abade Kuno, de quem se despede em 1150.
Abadia foi reconstruída em Eibingen,
Acompanhada pelo monge Volmar, Hildegard construiu seu convento em em estilo neoromânico
Rupertsberg, próximo à cidade de Bingen, onde nunca morou, mas que lhe deu
o nome pelo qual é conhecida até hoje.

Hildegard demonstrou grande talento como administradora. Conseguiu o apoio do papa e do arcebispo
de Mainz na briga com os monges de Disibodenberg pelas terras, até então administradas pelos
monges beneditinos, dadas pelas famílias das freiras que a acompanharam para o novo convento.

Sem proteção, nenhum convento poderia sobreviver na Idade Média. A prespicácia de Hildegard fez
com que tanto o arcebispo de Mainz como seu admirador Frederico Barbarossa, eleito imperador do
Sacro Império Romano Germânico, se tornassem responsáveis pela segurança de Rupertsberg.

Causa e cura

No convento, a abadessa afrouxa as regras beneditinas. A música é
muito importante para Hildegard. Para receberem o sacramento da
comunhão, suas freiras, com anel no dedo e vestidas de branco e de
flores, entoam canções que ela mesmo compunha. A idéia do casamento
substitui a da morte na relação com Cristo, o que explica as procissões
de freiras que antes pareciam fúnebres. Para Hildegard, a Igreja é uma
mulher ao lado do Senhor.

Os trabalhos no hospital e na horta do convento levam a duas
Cidade de Bingen deu nome à abadessa
outras importantes obras da abadessa, o livro de ciências
naturais Physica e o livro de medicina natural Causae et
Curae, escritos entre 1151 e 1158. A obra de Hildegard sobre plantas medicinais escrita em 1158 é, até
hoje, referência da medicina natural. Assim como São Bernardo de Clairvaux, Hildegard não acredita
encontrar Deus na razão.

Ela aprendeu a olhar os lírios dos campos e a ver neles a presença divina que também levaria a cura de
doenças. Para ela, o homem saudável estava em sintonia com Deus. Hildegard aliou a antiga medicina
dos gregos, propagada por Galeno, à fé cristã. Para ela, micro e macrocosmo interagem lado a lado em
sua percepção do homem e de Deus. Para honrar a Deus, o homem teria que interagir com seu meio­
ambiente.

O século 12 trouxe muitas mudanças para a Idade Média, que se distanciava da idéia de um Deus
absoluto. Hildegard foi aristotélica avant la lettre. Somente no século seguinte, São Tomás de Aquino, o
mais sábio dos santos, resgataria teologicamente o aristotelismo na doutrina cristã.

Telúrica demais para ser santa

Por volta de 1160, novas visões divinas lhe levaram a pregar por diversas cidades alemães. Em Colônia, ela se opôs
ao luxo do clero e à acídia dos cátaros. Em Trier, combateu a arrogância de clérigos e eruditos. Hildegard também se

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posicionou contra o fanatismo religioso da plebe. Em 1165, fundou em Eibingen um novo
convento, que visitava duas vezes por semana.

Ela previu a própria morte para o dia 17 de setembro de 1179. E assim o foi.
Hildegard von Bingen nunca foi canonizada pela Igreja Católica. Sua
sagacidade também lhe gerou muitos inimigos. Talvez por isto seu processo de
canonização foi arquivado já no século 13.

Por outro lado, como poderia ser canonizada uma mulher que ousou penetrar
um terreno destinado aos homens? Como pode ser santificado alguém que
sempre esteve tão próximo à terra?

Para Hildegard, Deus existia para aqueles que achavam que ele existia. Na
mesma lógica, Von Bingen é santa para aqueles que acham que ela o é. O boom
da medicina natural prova que, até hoje, ressoam suas idéias, pois as doenças Miniatura de 'Scivias': Hildegard em
visão divina
da sociedade industrial não podem ser curadas com os remédios que ela
mesmo produz.

L EIA M AIS

Alemães lideram comércio europeu de plantas medicinais
Mais do que em qualquer outro país europeu, são usadas na Alemanha, anualmente, 45 mil toneladas de plantas medicinais. Isto acarreta, no entanto,
um problema para a proteção das espécies. (07.02.2008)  

Bingen: relíquia da humanidade à beira do Reno
Cidade marca o início da região denominada Médio Reno, considerada patrimônio da humanidade pela Unesco. (03.03.2007)  

Alemãs famosas e suas invenções
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Data 07.03.2008

Autoria Carlos Albuquerque

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Palavras­chave hildegard von bingen, medicina natural, trívio, quadrívio, idade média, mainz, aristóteles

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