O direito e a lei natural adotaram, historicamente, diversas facetas que
consoavam com os costumes e religiões vigentes em diferentes momentos sociopolíticos do mundo ocidental. Dentro da disposição da cultura grega, a lei natural representava as leis advindas dos deuses — exemplificado, em Antígona, quando a mesma confronta Creonte sobre a legitimidade das leis proclamadas por esse — e da observação da phýsis. No medievo europeu, a lei natural ecoava os princípios cristãos, tendo sido melhor desenvolvida e estruturada por Tomás de Aquino. Atualmente, muitos defensores do jusnaturalismo não utilizam mais de princípios necessariamente metafísicos, mas ainda rejeitam com veemência a abordagem “meramente positivista” do direito, afirmando que há certas “normas morais” derivadas do uso da razão a serem seguidas ao criar uma lei. Com o advento das influências iluministas, o ceticismo científico também impregnou os juristas da época (aproximadamente a partir do XIX): surge, assim, em um entrelace entre o positivismo Comtiano (que leva em conta o mundo sensível), o positivismo jurídico. Afastado de ideais metafísicos que buscavam legitimar normas no transcendental, o juspositivismo tomou para si uma boa dose de antropocentrismo em sua formulação: a lei feita dos humanos para os humanos bastava-se. Com a modernidade, muitos direitos tidos como naturais foram positivados, mas não tendo como base para legitimação uma moral ou um cunho filosófico, mas sim pelo simples fato da lei existir dentro de um ordenamento jurídico vigente (como na famosa teoria de Kelsen). O texto de Sófocles aborda essa questão em diálogos com Antígona e Creonte. Antígona não reconhece a lei proclamada por Creonte como legítima, pois ela não está em par com as dos deuses. Antígona, aqui, toma uma abordagem mais jusnaturalista do direito, enquanto Creonte, juspositivista. A dicotomia presente reside na cláusula da legitimidade, sobre “o por quê eu tenho que seguir esta lei?”. O entendimento grego aponta para um viés do direito natural, cristalizado na história no desfecho da obra, em que Creonte é “punido” — seja por proclamar uma lei que vai de encontro à lei natural, seja por seu comportamento maléfico — ao descobrir uma tragédia que ele mesmo provocou.