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João Pedro Neres Rodrigues, nº USP 10856567

O direito e a lei natural adotaram, historicamente, diversas facetas que


consoavam com os costumes e religiões vigentes em diferentes momentos
sociopolíticos do mundo ocidental. Dentro da disposição da cultura grega, a lei
natural representava as leis advindas dos deuses — exemplificado, em Antígona,
quando a mesma confronta Creonte sobre a legitimidade das leis proclamadas por
esse — e da observação da ​phýsis​. No medievo europeu, a lei natural ecoava os
princípios cristãos, tendo sido melhor desenvolvida e estruturada por Tomás de
Aquino. Atualmente, muitos defensores do jusnaturalismo não utilizam mais de
princípios necessariamente metafísicos, mas ainda rejeitam com veemência a
abordagem “meramente positivista” do direito, afirmando que há certas “normas
morais” derivadas do uso da razão a serem seguidas ao criar uma lei. Com o
advento das influências iluministas, o ceticismo científico também impregnou os
juristas da época (aproximadamente a partir do XIX): surge, assim, em um
entrelace entre o positivismo Comtiano (que leva em conta o mundo sensível), o
positivismo jurídico. Afastado de ideais metafísicos que buscavam legitimar
normas no transcendental, o juspositivismo tomou para si uma boa dose de
antropocentrismo em sua formulação: a lei feita dos humanos para os humanos
bastava-se. Com a modernidade, muitos direitos tidos como naturais foram
positivados, mas não tendo como base para legitimação uma moral ou um cunho
filosófico, mas sim pelo simples fato da lei existir dentro de um ordenamento
jurídico vigente (como na famosa teoria de Kelsen).
O texto de Sófocles aborda essa questão em diálogos com Antígona e
Creonte. Antígona não reconhece a lei proclamada por Creonte como legítima,
pois ela não está em par com as dos deuses. Antígona, aqui, toma uma
abordagem mais jusnaturalista do direito, enquanto Creonte, juspositivista. A
dicotomia presente reside na cláusula da legitimidade, sobre “o por quê eu tenho
que seguir esta lei?”. O entendimento grego aponta para um viés do direito
natural, cristalizado na história no desfecho da obra, em que Creonte é “punido” —
seja por proclamar uma lei que vai de encontro à lei natural, seja por seu
comportamento maléfico — ao descobrir uma tragédia que ele mesmo provocou.

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