Você está na página 1de 249

v7'~~

:.::'

BENEDICTO SILVA

TAYLOR E FAYOL
CADERNOS DE ADlVIINISTRAÇÃO PÚBLICA
Coleção criada, organizada e dirigida por

BENEDICTO SILVA
Copyright da

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTR,lÇÃO PúBLICA

A Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP)


tem por objetivo formar e aperfeiçoar gerentes e administra-
dores profissionais.
Criada e mantida pela Fundação Getúlio Vargas, sob o
patrocínio das Nações Unidas e com a ajuda financeira do
Govêrno do Brasil, a Escola funciona em regime de colabora-
ção com a União, Estados, Territórios e Municípios brasileiros.
Seu programa de ensino e pesquisa é franqueado aos de-
mais países da América Latina através de bôlsas de estudo.
Êstes Cadernos destinam-se a remediar, em parte, a falta
de literatura especializada, com que se vêem a braços, nos paí-
ses da América Latina, os estudantes de administração.
A aquisição dos Cadernos poderá fazer-se por meio de
cheque bancário ou vale postal enviado ao

Serviço de Publicações da

Fundação Getúlio Vargas


PRAIA DE BOTAFOGO, 186
Caíxa Postal 4081
Telefones: 46-5107 e 46-4010

RIO DE JANEIRO
[ - Cad. Adm. Pública - 44
TAYLOR E FAYOL
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

BENEDICTO SILVA

TAYLOR E FAYOL

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS


RIO DE JANEIRO
1960
11 RODRIGO DARDEAU VIEIRA
e a PAULO GUSTAVO DA COSTA,

ambos nascidos em 1959. Vaticino e espero que, como p.erpetuadores


das qualidades e inclinações paterms, .os dois serão, em 1989, ASES
DA ENGENHARIA HUMANA tt serviço do Brasil.

BENEDICTO SILVA

Rio, 25 de dezembro d~ 1959


PREFACIO

Dúide-Jco pl'U.lel,'le lil'/'o em /rtr fi.F/cr,

Os CriadoH:s da AdministracãO Científica - ,bama-Ju c! !nimc,rll,


C0ílJiJ/e 1Z1IIJJ:1 cxpoJiç;ífJ gl:r," J6brc Frec!~rick Ta)'/ol'e HCIl;'j FCI)'O/,
de.rt!lc!llld o e CO Ilfroll/cmd o cJJficctOJ ill/portellltCJ, clillc!cI 1!Ietl Oli não
collbecidoJ, dll biogrllji,;, dor fei/oJ e dclJ idéie/J de ccld:1 ItIll dê/cJ; e
tem por jim colllji/emclz!clr, clllljJli:l!' e (//II;i!iz,l!' f) rej7cr/úrio de illjor-
11iclçÕeJ e {C!lccitOJ correllh'J /lO Br,/.Ii! Jôbl'e 0.1 doiJ gClli/ol'l!J dei
({dmilli.f/I"I(í r) cjCIl/íjic;I,

A ili/iJ,t!"d.:1 Taylor e a Administração Cicntífíc1., reedi-


Jcpmd f
',

1'1, ,dg1l1lJ d::doJ c;diciollCIlJ, o JiJlljJóJio re,dizr/c/r) em abril de 19·+5,


(()l!l

Job 0.1 dllJ!JÍcioJ d:1 ex/illtc' Dú'iJiío de APerfeiçoamento do Dcpal'l:í-


num/o AdminiJtr,rtiz'o do Sert'iço Público, de qm;, o ,til/o}' ?in/cu /illbaJ
c!", elZ/ão dire/or,

AJ JeiJ (Ollj erêllcicl.1 illtegr,lIItCJ cf ê.1.I e Jilll !JÚ.liél f or,11Il plIblic;l-


d,IJ pelo Serl'iço de DO{1IIIlCIl/:/çêí r) do DL1SP, primcil'U li:1 Revista
do Serviço Público, edição de jmzlJiJ de 19 í5 e) IIlclÍJ t:/rde, elll .rcp,/u//:1.
A tcr(eÚél p:/rle, illtit1l1:!d:/ Hcnri Fayül c a Cii?n(i~l. ela Adn;Í-
nistra\ão, é t:/mbéllt reecllçíío do Jilllpú.iÍo fel':/do :1 efui/f), Ui! 170Z'ell/-
bro de 194·;, jJe!eI rejeridc l Diti.I{íO, c eJ1l COJlJcqiiêllCi:1 de 'IlN'! .l1Igestão
d:/q1le!e q1le CJI:! J1!bJ(rcl'l'.

As JeÍJ ((i}!jerêl?ci:/J illíegr:lIltn c/o JiJllpóJio Jôbrc FeiJol fOrcl1lt


igucllmente p!lb!iccldtlJ j.le/o Seniço de DO(1(llIcnt.clção do DASP, 12:'
Revista do Serviço Público, edição de julho de 1945, e reproduzidas
em separata.
A inciativa de reeditar os mencionados simpóJios, cujas separatas
se esgotaram há mais de dez anos, deve-se à necessidade de lançllr
IlOvamenteem circulação informações várias - doutrinárias, bistóricas,
biográficas - de valor indÍJmtÍvel p,ara osestlld:mtes de administração.
O simpósio sôbi~e Taylor conto?! com a participação das seguintes
peJSoas: Rex WiIliam Crawfard, Paulo Acioli de Sá, Benedicto Silva,
J. M. d0.r S(!l7tO.r Araújo Cal'ct!c:illti, Cleantho de Paiva Leite e Aldo
M. Azcz'edo.
O úmpóJio Jôbrc F(I)'ol, COIll (/ p'lI'1icipcl[ão de Luiz Silllõc.r Lopes,
Alfredo N(IHe}', Beatriz ju' de Souza lVtlhrlicb, Annibal Ma)'a, Be-
nedicto Sill'cl e CéS{IY C:mlcmhede.
O estudioso rigori.rtd poderá notar pequenas contradições e algu-
1JHf repetições !ZcI presente obrei. As pOJSÍt'eis wntradições ocorrentes
170S dois simpósios del'em lez'elr-se à conta da natureza do trabalbo,

em que vário.r oPinantes, emborei partindo de ângulos diversos, opinam


.rôbre os me.r1llOS telll:/J. A.r I'epcti(ões expIicam-Je também pela plu-
1':1lid,lde de inform(m/es, cadel lml dos qllaisescrevett a slta parte antes
de conbecer as contribuições dos oNlros.
A presente pllblicelção inclui, .1lém de Páginas esPécimes de Taylor
(l'. p. 35) e de FeI)'()1 (t'. p. (3), bibliog/'elfias atJtalizadels e sí1llCJeJ
biográficas de Tt/)'lot' e FeIJo/, e brel'csI.'Jcorp.r biográfico.r dls persodS
(jlle !Jart icipc//',:lII d o.r ref crid OJ .\illlfió.lios.

II

Plutarco é o modêlo c/áJJico definitit,o das biografias compara-


das. Empenhadol!m 1wtlçar (/ collumidade c1tltltl'ell greco-roJJZellla,
ellft'ego1t-se à tarefa d c promrare hzdica,. similitudes e diferenças
e/l/re as vidas de gregos c as vidas de romanos ilustres, estudcmdo-as
elOS pares - A/ c'xcmdre-CéJ(/I', DemósteneJ-Cícero, Licurgo-Numa,
Tcsett-Rômulo, PérideJ-Fábio Máximo etc.
o fascínio d:IS Vidas Paralelas (;'~'g(!1t in/.u/o, talvez até aceno
tuado, aos noSJos dias, através de 11117,1 vigêllci:l bistórica de quase
dois mil anos.
Plutarco le gOtt tl posteriddde, IldS Vidas Paralelas, uma série de
emaios histórico-biográficos que mereceu a claJJificelfão de "o alimento
das grandes almels", de que se servir:!111 confeJseldel e poderosamente
muitas figuras pinaw/:I'res do gênero b1l71l!IJlO, como Dmlte, Cervantes,
Cmnões, Voltelire, M017lcúgne, Sbci,knf!e:lre, e t(m/os outros.
A primeira parte d,r prerell/e obre! obedece ;10 modêlo de Plutarco:
cJwda aI j!id:1.f j1c1r :/clr/J de 'J'{lJ'/or c de F'IJoi, :lprc.ICllf,1I1do primeiro
a de 7',1)'101', dcpOÍJ :1 de FrIJO/ c, por fi1ll; :lJ' ;ul:dogi:1J e difereJl(tis
ellcontradClJ pelo atl/or clltre lll7/cl e olifrcl.
APesar do prestígio do 11lodflo, Jambi(ão deJ/a pequena obra
wwiste apell(/J em motiz'rlr, com os exemplos de 'J'!lylo)' e Fayol, -
dois lídimoJ I'c/rões de P/tltcl},(() - os jOI'CIlJ cS/lldantes e w/toreJ da
ciência da admini.rtrr/(ãoe dei arte gerencial, parti q1le li/'oCllrem dif,ífal'
os domínios teóricos d.1 primeird e os rcmrJOs práticos da segunda.

III

N.o prefácio dct fr:id1t(ã r) frallcesa de Brave New WorlJ, A/dous


H!lx/ey afiml:!' q(le foe/o lizTo é (/In .... firoc!!!to da co/:zbol'ctção elltre o
escritor e os leitorn",
BdSeddo lIC.I],'l !)rCllú\.I{! fácit.:, o ncri!or JU!iÕC a existêllcicl, 110
eJjiírito do lei/oI', de cerfct JOJllrl de collbecÍlil('llioJ, de fctmilictridctde
com determinadoJ /Íl'rOJ c lloçõeJ, dI' certOJ bábitos de pemamento,
de selltilllcnto e de /ingt/:Il{cm. H/Ix/e)' Cbc1J1Zi1 harmônicas da literatura
a êue território COIll/tIIl, em fj1tU mlfoJ' c leitor se cn/elldem,
E bem de l/er que, sem tlJ harmônicas da literatura, 17ão é pOSJÍZ'c/,
ou não será sa/i.rfcltório, o (()mércio de idéiclJ entre quem escreve e
quem lê. NeJJe C{/JO, ,() texto escrito carcc,e de tloíslictl no repositório
de informâ(ÕeS do leito/' - (/' metlJelgem não .ri' trelnsmite, a comtmi-
cação não se faz.
Pdr:1 Je formezr) 1?Ii II/CI.'/C c/r} lei/or) em tônlO da mellJclgem escritel)
{} "/;:110 de clJJOClczçõeJ" ple/undido pelo autol', é manário que I) leitor
fiOSJII:1 :1 cOIl/ur:zr/ic/:z de !loçõeJ e conhecimentos,

E proz'cÍl'cl, pOÍJ) q1le curMr paJJc/gem dh!e enJclio de biogrtljúr


mmjJ:zl'adm, eJpeci:ilmcJí/e m ci/:lçõcr poé/icaJ) sà17lell/e Jerão bem lece-
hic/c/J pelo lei/oI' Ji/ll:ld() !lO IliCJJJlO espaço social de idéias em q1le ()
(/fI/OI' grat'ilcz, V:z/bel ,{ Cidrfl/éllti:! pClrel o proteger dei incompreensão
dOJ 11te cJ/ullb:!lelll, em /I'abcz/bo dês!e gêlzel'o, JIlellJagem J"ben/ell-
dic/:u e cil:I(ZJn li/elári:1.I e fioélicrlJ,

Rio de j.lIlciw, 29 de jll!bé! de ')9,

BE1'iEDICI'O SILVA
ÍNDICE
Prefácio .............................................. VII

PRIMEIRA PARTE
Os Criadores da Administração Científi(a ........... . 3

Capítulo I - Frederick Taylor ........................ . 9

A - Taylor, Inventor Social ..................... . 13


B - As Origens do Taylorismo ................... . 14
C - Como Surgiu o Nome Administração Cie;1tífica .. 15
D - O Mérito de Taylor .......................... . 17
12 - "Engenharia Humana" ...................... . 18
F - O Segundo Estágio da Revolução Industrial ..... . 19
G - Taylor C01110 Administrador Profissional ....... . 20
H - Taylor e o Desperdício ...................... . 22
I - As PotencialidJdcs do Taylorismo ............. .
J- Taylorismo Verms Trabalhismo ............... . 26
L - O Taylorismo no Brasil ..................... . 29
M - Outras Repercussões do Taylorismo ............ . 30
Tbe j\1eaning of Scientific l'lfanagement - (Taylor) ... . 35
Síntese Biográfica ................................ .

Capítulo II - Henri F.lyol ........................... . 41

A As Origens do Fayolismo .................... . 45


D Administrador Experimental .................. . 46
C O Ensino da Administração .................. . 47
D Os Efeitos da Teori:! Administrativa ........... . 49
E Administração, Direção Geral, Comlndo ....... . 51
F Paladino do Planejamento Global ............. . 56
G O Fayolismo na França ..................... . 58
H O fayolismo no Brasil ..................... . 60

Le BeiJou de NOliollJ AdllliniJ/ratizJeJ fIt Générid -


(fayol) ...................................... 63
Síntese Biográfica ................................. 6~

Capítulo III - Analogias e Diferenças entre Taylor e Fayol 69

A O Homem-Massa e as Minorias Excelentes 73


B As Analogias .............................. . 77

1 - Volúpia da Execução .................. 77


2 - Da Engenharia à Administração ......... 79
3 fanáticos do Método Experimental 81
4 Capacidade Generalizante e Impeto Criador 83
5 ProsclitislTIO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8-1
6 - Teoria Gerada pela Prática Viva. . . . . . . . . . 85
7 - Triunfo Profissional ................... 88
8 - Sóbre a Formação de Engenheiros ........ 90
9 - Vocação A postolar ..................... 94
10 Repercussão na Rússia Soviética ......... . 98
11 Comunicação Deficiente ............... . 98
12 Pendor Científico ..................... . 100

C - As Diferenças 102

1 Pontos de Partida .................... . 102


2 Sistema Ve1"Stts Doutrina ............... . 10-1
3 Comando Múltiplo e Comando Único .... 106
4 - Mentalidade Patronal e Mentalidade Operária 108
5 - Versalidade VerstlS Estabilidade .......... 111
6 Repercussão no Próprio País ........... . 114
7 Repercussão no Estrangeiro .............. 117
8 Capacidade Executiva .................. 118
9 - Plenitude e Carência ................... 121

Bibliografia ................................... . . . . . . . . 125

SEGUNDA PARTE

Taylor e a Administração Científica. . . . . . . . . . . . . . . . . . 131

Capítulo I - Introdução - Rex \\7illiam Crawford ...... 133

C~pítulo II - Taylor e o Desperdício - Paulo Acioli de Sá 139


Capítulo IH - Taylor e a Unidade de Comando - Benedicto
Silva .................................. 145

Capítulo IV - Taylor e a Organização Científica do Serviço


Público - J. M. dos Santos Araújo Caval-
cânti .................................. 153

Capítulo V - Taylor e F.:tyol - Cleantho de Paiva Leite .. 161

Clpitulo VI A Contribuição de Taylor para o Progresso


Industrial - Aldo M. Azevedo ......... . 169

TERCEIRA PAnTE
183

Capítulo I - A Teoria Administrativa de Fayol - Luís Si-


mões Lopes ............................ 185

Capítulo II - O "Phnej,llTIento" na Teoria Administrativa


de Fayol - Alfredo Nasser .............. 195

Capitulo III - A "OrgJ.nização" na Teoria Administrativa


de F::.}'ol - Bcatriz },f. de Souza Wahrlich . . 201

Clpítul0 VI - O "Comando" na Teoria Administrativa de


Fayol -- Annibal Maya ................. 209

Clpítulo V A "Coordenação" na Teoria Administr8.tiva


dc Farol - Benedicto Silva .............. 219

Capítulo VI - O "Cont[ôlc" na Teoria Administrativa de


Farol - Cesar Cantll1hede ............... 235
TAYLOR E FAYOL

2 - Cae!. Adm. Pública - 44


PRIMEIRA PARTE

OS CRIADORES DA ADMINISTRAÇÃO
CIENTíFICA
THE DREAMERS

Tbey are lhe .al'chitecls of gre(/IJleJS . .. Their v/JIon fies within


Iheir sOltlS... The U'orld bas (/({o/dded Ihem wilh jeer and snecr
(!1ld jibe, for 1l'0rlds "rI.' 1Jl(/deof lilt/e mell w/J,O' h/ke btlt nt!l'el' give -
wbo shm'e bllt ne1'er sp"re - who cheer ti gmdge aild gmdge a
cheer. AI"kerJ of empil'e, tbe)' h'/Zie fOllgbt for bigger thingJ them
{1"OU'1lS (lJZd bigIJer se.als Ihml lbrolli!J. .. Tbrotlgh aU lhe ages they
bave he,lrd lhe vaieI.' of DeSliJl)' cdl lo Ihem from the tmknoum
1J"JtJ. They dare 1l1lcb(/rled seas, for Ihey me the 1!l(/ken .of the
rhar!s. IVitb only elo/h of colm/ge ai Ihei,. 1IUlJtS and u;ilb no
comp:/5s S(W(! Ibei,. dremnJ, /hey s(/il away Il1ldatillted for lhe far,
blind sboreJ... They are Ibe choJel! feu; - the Elcturs of the
Il7ay - tuhO' IU/ier wer/r DOllbl's b,mJ(/ge 011 Ibeir eyes - who
s!(M"ve mui chill (lIld hllrl, b!lt ho/d lo cOllrdge (md to hojJe, beca"se
Ihey kllou; Ihat Ibere i.r C;/1f!d)'S proof of tmlh for them w;'o Iry -
that anly cowardice (mel lc/ck of fai/h C,/17 keep the seeker from his
ch.OSeJl gO(;/, b!lt if biJ hCClrt be .rIrOJlg cII:d if be dream (!I1'otlgh and
dreCll7l it b"rd e/7011gb, be {"n "flàll, no l1/{/t/.er where men fetiled before.

HERBERT KL1UFlvIAN
- AJJilll :'0 POC!;, ti Na/llreza fala.'

Enquallto êle es/remece (/0 eSC1l/á-/tl,

Tr{IIlJjig1ll''(/c!0 de emoção, sorrindo ...

SOrl'iJh/O ti ré1lJ que lJão se deJl eJlc!mldo,


i

A 1II1111d )J q?le
i
Je l'ão rmd/ip/ictl11do,

A por/:IJ de o/lro qlle se 1'ão r/brindo.'

CRUZ E SOUZ1
CAPiTULO I

FREDERICK TAYLOR
Ides piJe lbe peSJzmlSt wbo Jees notbing but the defects and
bltmders of manki17d, and I despise the Jcold, whose pleastlre it is
ta (omp!cún Df all tbi17gJ as tbey are.

FREDERICK TAYLOR

Bendito .o que, na terra, o fogo fêz, e o teto;


E o que lmi1l a Chel/TUa ao boi, pc/ciente e amigo;
E o que encontrou aClZx(/da; e o que, do chão abjeto,
Fêz, aos beijoJ do sol, a ,0111'0 bro!cll' do trigo;

E o q!/c o f erro forjoll; e o jJiedoso arquiteto


Que ideou, dejJoiJ do berço e do lar, o jazigo;
E o q!le os fios urdi1l; e o q!le acbou o alfabeto;
E o q1le deu ttlJla eJllIOI:1 (Ir) primeiro mendigo;

E o q1le sol/01l ao 17Mr a q1lil/xl, e (/0 VI'Il/ o o pano;


E o que illlleJltou o em! o; e o ql/I' crIOu a I il'(/;
E o que domou o J'c!!O/ e o q1le (/lçmt o aeroplallo . ..

OLAVO BILAC
A - TAYLOR, INVENTOR SOCIAL vimento humano tanto quanto
as idéias de Taylor, talvez não
Embora classificado profissio- fôsse exagerado equipará-lo a
nalmente como engenheiro-meta- James Watt, inventor da máqui-
lúrgico, Frederick Winslow Tay- na a vapor (1776), Faraday, in-
lor foi, acima de tudo, e antes
ventor do dínamo (1831), Gra-
de tudo, engenheiro-sociaL Mais
ham Bell, inventor do telefone
do que isso: inventor sociaL A
Administração Científica (Scien- (1876), e Edison, inventor do fo-
titia Management) , cujos prin- nógrafo, da lâmpada elétrica e
cípios descobriu e formulou, par- de mil outras coisas.
tindo da análise do trabalho na As idéias de Taylor afetaram
intimidade das fábricas, repre- de tal maneira os costumes, a
senta uma das grandes inven- produção e distribuição de bens,
ções sociais de todos os tempos. convenções e valores do povo
Com efeito, Taylor emparelha-se americano, que seria impossível
com os maiores inventores que isolar e identificar, em tôda a
se notabilizaram no campo so- extensão e em tôdas as reper-
cial, como Robert Owen, cria- cussões, o volume e a intensi-
dor do cooperativismo, Florence dade de sua influência. Se há
Nightingale, criadora da Cruz nos Estados Unidos de hoje, --
Vermelha, Zamenhof, inventor na agricultura como na indús-
do Esperanto, e outros da mes- tria, nas repartições públicas
ma familia. como nos escritórios, consultó-
Se qUlsessemos buscar, no rios, escolas e outros locais de
campo da Física, da Química e trabalho, - um sentido orien-
da Termodinâmica, figuras cujas tador da busca de eficiência e
invenções influíram no desenvol· uma preocupação dominante com
11 CADERNOS DE ADMIl\'ISTRA(AO P(1BLICA

a produtividade, isso se ele\'e o que deveria consistir, em têr-


principalmente ao impacto do mos de rendimento, um dia de
Taylorismo. trabalho-padrão.
B - As ORIGENS DO TAYLORISMO Eis aí a origem remota do que,
Nascido de família culta, fi· passando por sucessivas fases
lho de advogado, Fl'ederick de evolução e mudando de nome
Winslow Taylor deveria seguir, freqüentemente, veio a chamar-
a fim de atender aos deseios se Administração Científica.
dos seus, a carreira do pai. Ape· A primeira designação do con-
sal' de se haver preparado para junto de idêias, conceitos, ensi-
ingressar na Escola de Direito namentos, doutrinas, procedi-
de sua escolha, a da Universi· mentos e práticas hoje conheci·
dade de Harvard, a sobrevinda do por Taylorismo era piece-
de uma deficiência visual, pl'O. rate system (sistema de avalia-
vocada por excesso de leitura ção por peça). Taylor descar·
à luz de querosene, forçou· o a tou-se logo dêsse nome, por ve-
abandonar a idéia. Em 1874, aos rificar que a avaliação por peça
18 anos, empregou-se como era relativamente pouco impor-
aprendiz em uma pequena fá- tante entre os demais elementos
brica de bombas de água em do sistema. Na comunicação que
Philadelphia. Em 1878, entrou apresentou à Sociedade Ameri-
como simples operário para a cana de Engenheiros-Mecânicos
Cia. de Aço Midvale, onde fêz sôbre o assunto, em 1903, usou
carreira de trabalhador a en· a expressão Shop Management,
genheiro-chefe. em que a característica princi·
Quando foi elevado à catego- paI era a idéia de estabelecer
ria de chefe de turma, passou padrão conhecido e medido de
a ter freqüentes desentendimen- trabalho para cada homem rea-
tos com os subordinados sôbre lizar em um dia.
o que deveria representar um Em virtude dessa caracterís-
dia de trabalho-padrão. Motiva· tica, o sistema Taylor passou
do por essas querelas, Taylor então a ser chamado task sys-
pôs-se em campo para determi· tem (sistema de tarefa). A pa-
nar de maneira aceitável, êle lavra tarefa, entretanto, sinôni-
que tinha marcada inclinação mo do português reinol tamina,
para o raciocínio experimental, desvirtuava o espírito do siste-
TAYLOR E fAYOL 15

ma, incutindo a idéia de que duzir os gastos gerais das estra-


êste era demasiado severo com das de ferro mediante a melho-
os trabalhadores, ao passo que ria ela respectiva administração.
o que Taylor tinha em mente De envolta com os argumen-
era justiça na remuneração do tos elos que se opunham à eleva-
trabalho e aumento de rendi- ção dos fretes, vieram à tona
mento_ Foi então reconhecido referências a uma técnica de
que a nova designação também administração desenvolvida por
era inadequada. Registre-se, en F. W. Taylor, até o momento
passant: os senhores de enge- quase desconhecido, e que, se·
nho também adotavam no Bra- gundo opinaram, conduzia à re-
sil o sistema de tamina, que con- dução das despesas.
sistia em distribuir, a cada es- Dentre os que se opunham ao
cravo, uma tarefa demarcada, aumento de tarifas, avultava a
para ser feita no curso de uma figura do então já famoso advo-
jornada de trabalho, houvesse gado Louis Brandeis, mais tar-
o que houvesse. de nomeado Ministro da Supre-
ma Côrte dos Estados Unidos.
c- COMO SURGIU o NOME ADMI- Brandeis fêz-se campeão do
NISTRAÇÃO CIENTíFICA Taylorismo. Foi quem mais con·
correu para torná-lo conhecido.
Em 1910, um grupo ele estra- Criticando a administração das
das de ferro americanas solici- estradas de ferro, impressionou
tou autorização à Comissão ele a opinião pública com declara-
Comércio Interestadual para ções peremptórias como esta:
majorar as tarifas, a fim de fa- "Demonstraremos que êsses
zer face a um aumento de sa- princípios, aplicáveis a tôdas as
lários. Durante o inquérito a emprêsas, aplicáveis pràticamen-
que a Comissão procedeu sôbre te a todos os setores delas, po-
o assunto, os representantes das dem determinar uma economia
classes do comércio, que temiam estimada sem exagêro em um
o aumento dos fretes ferroviá- milhão de dólares diários na
rios, argüiram que, em vez de administração das Estradas de
majorar as tarifas, cumpria re- Ferro do pais." (1)

(1) Lief, Alfred, The Social and Economic Views of Mr. Justice Brandeis
(New York: Vanguard Press, 1930), pp. 391·2.
1(j CADERT\OS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Necessitando de um nome de- ma de livro, as obras Shop Ma-


finitivo para rotular o sistema, nugemcnt c PrincipIes of Seien-
os interessados constituíram tific Management.
uma comissão de engenheiros, Êle não foi o contribui dor
de que faziam parte dois dos único para o advento c crista-
mais eminentes colaboradores liza(':-,o do sistema. Contou com
de Taylor, Gantt e Gilbreth, a colaboração de Carlos G.
para assessorá-los sôbre o as- Bar1.h, H. K. Hathaway, H. L.
sunto_ Gantt e Morris Cooke, entre vá-
rios outros. Pouco tempo depois
A comissão recomendou fôsse
do inquérito da Comissão do Co-
o sistema identificado por sua
mércio Interestadual, houve um
característica fundamental, ou
inquérito parlamentar, êste pro-
seja, o emprêgo da pesqulsa -
vocado por denúncias de sindi-
método científico por excelência
catos trabalhistas, especialmen-
-- como critério para o estudo
te para investigar o Sistema
e solução das questões geren-
ciais_ Daí a expressão Scientific Taylor e outros sistemas de di-
reção de fábricas. Depondo pe-
lVIanagement, adotada para subs-
tituir os diferentes rótulos até rante a Comissão Social da Câ-
então dados ao Sistema Taylor. mara dos Deputados, Taylor de-
clarou expressamente que o sis-
Os depoimentos prestados pe- tema se havia desenvolvido com
rante a Comissão de Comércio a ajuda de muitos colabora-
Interestadual causaram viva im- dores.
pressão, despertando o interêss0 A resposta à pergunta com
público. A imprensa incumbiu- que o deputado Willian B. Wil-
se de divulgar as idéias de Tay- son, presidente daquela Comis-
lor, bem como os resultados elo- são, iniciou o interrogatório, dei-
qüentes de sua aplicação. Em xa cabalmente estabelecida a
pouco tempo, o nome Adminis- participação de muitas pessoas
tmção Oientífica, refulgente de na criação do Sistema Taylol·.
glamouf, tornou-se conhecido em
"O Presidente - Sr. Taylor,
todo o mundo civilizado.
é o senhor o autor ou compila-
Estimulado pela popularidade dor do sistema de administra
súbita do sistema, Taylor reviu ção de fábrica geralmente co-
e publicou, em 1911, sob a for- nhecido por Sistema Taylor?
TAYLOlZ E fAYOL 17

"Taylor -- Eu tive mui(r., í(l1C I1ho buscaram meios de racio-


ver com o desenvolvimento do nalizar o trabalho dos escravos.
sistema elc administração que f: o que afirma Gilberto }~rey­
veio a scr chamado "Sistema re: "Cremos poder afirmar-sl'
Taylor" por certas ppssoas. Mas, que na formação do brasikiro
sou apenas um dentre os mui· - - cO!1sidcrado sob o ponto de
tos que contribuíram para o seu yista da nutriçflO --- a influência
desenvolvimento." (2) mais salutar trm sido a do afri-
cano: quer atra\'és (los valio-
D - O MÉRITO DE TAYLOR sos alimentos, principalment p
vegetais, que por seu intermé·
Nem se pode in digitar, para dia nos vieram da África, quel'
diminuir o valor do TayZorismo, através do seu regime alimen-
a falta de originalidade. Sabe·se lar. melhor equilibrado do que'
que a luta pela poupança do () do branco --- pelo menos aqui.
psfôrço físico e mpntal data d,~ durante a escravidão. Dizemos
épocas imemoriais. Taylor não aqui, como ('scravo, porqu(' bem
.foi, decerto, o primeiro homem ou maIos senhores de engenho
que se insurgiu contra odes tiveram no Brasil () seu arre-
perdício de tempo e de energia mêdo de Tayloris?11o, procuran-
no trabalho. Em última análise, do obter do escravo negro. com-
o Taylorismo é uma das moda· prGldo caro, o máximo de esfôr-
lidades experimentadas pelo ho· ço útil e não simplesmente 0
mem, muitas vêzes instintiva· múximo de rendimento." (3)
mente, para obedecer ao prin-
cípio do meio mínimo. Inúmeros Em que pese à série infinita
indivíduos, - físicos, engenhei- de precursores que Taylor possa
ros, inventores, - em todos os ter tido, cabe-lhe o mérito ine-
povos e em todos os tempos, gávc! de haver dado organici-
contribuíram para intelectualizar dade a um conjunto de idéias,
o trabalho humano. Até os nos- -- suas e alheias - e de haver
sos broncos senhores de enge- composto, com elas, um sistema

(2) Taylor. F.W" "Taylor's Tcstimony Bc:fore the Special Ronse Committce",
Scientijic Management (New York: Harpcr and Brothers, 1917), p. 5.
(3) Freyrc, Gilberto, Casa-Grande ({; Scnzala (2.- cd.; Rio de Janeiro: Li-
vraria José Olympio Editôr:l. 10~1), pp_ lG:H:_

3 - Cad. Adm. Pública - 44


IR CADERNOS DI' AD!\!I1'\ISTRAÇAO I'L1BLICA

lógico e operante de adminis· nuou a exercer grande 2.traçfw


tração. ~'õhre êle, tanto que, e!c'pois e]"
Não paira dúvida, pois, sôbl'C' trabalhar doze anos para aque·
o fato de Taylclr havel' s'dü o la cOn1pnnhiél, e três como gr"
('"'iador e a J'igura central in· rEnte·geral da li!Ianufacturing
discutível do movimento que lhe Im:cstnwnr' C01ll]Jrtny, se C'sla-
adotou o nome, merecendo por 1,e1['c('u por cont" própria em
isó~() o epitMio inscrito em sua Ph;ladé,lplliél, e comeCiU a pra·
sepultura, ticar aquilo qJ.1P logo depüIs vei"
a cTistalizar-se em profissão
E - "ENGENHARIA Hr),L\NA" nova: a de consultor em ma,
tél'ia ele administraçüo gen\1.
Havendo conquistado, ,iCS :27
anos, e;~1 ] 88:3, a poder (I c' e;,· Foi a partir de ]898 que Tay·
tudos noturnos, o grau c!p en· 101' propngou mai.s at;vampnt:'
genlwiro no Instil uto S(pv('m, os seus princípios, bm;cado )1)
ele Tccnologi::l, dp Eobcken, New prpssuposto de que através do
-Tcrscy, Taylor galgou no ano Se'· pstuelo científico de celeJa mOl'i-
guinte o pósto de engl'nhe;rn- mento, dI' e~~rla 0p(,1'a(':1O, nurl1:1
chefe da Companhia (1e AI:o indústria m:'.nufatureir~l, podem
1\Iidvale. Ap;csar de chc,r;ar tal', cal hcr·sC' c1:1C1os con\ll1cen tes :,
ele à categoria de engenheiro-in- (letflrminação da capacidad~ deI
dustrial, Taylor honrou-a sohre· !);'odur:{io razoáve7 do homeM ('
modo, inclusive por numerosas ela mftquina, e ainda à aboli(~;-lO
invenções, das CJuais as mais irr- ou apitziguamento elo ~mtagonb,
portantes são o método especi3l mo entre emp;'r':':~,:10 c emprrr~a·
(lar. qU'CÚ entre c8p:tal e Ü':1.,
de temperar ferramentas de aC;J
capazes de cortar metais cor:l h8lho, trazf!ndo, como conseqüên·
ci,:J, élunlPnto de cficU~ncia cn1
velocidade quatro a seis vêzes
,.;uperior à que predominava, c todos os sentidos.
a construção do maior mal'telD Além disso, Taylor desenvul·
a vapor até e:1tão conhecido nos veu um SÜó1 ema completo ele
Estados Unidos, Taylor foi um análise, classificação e simboli-
inventor fecundo: patenteoi! zac;ão para uso no estudo de
mais de 100 invenções, cada tipo de indústria manufa-
Mas a parte administrativa --- tureira. Durante cinco anos êle
a engenharia humana .- conti· aplicou o novo sistema com
TAYLOR E FAYOL 19

grande ôxi lo cm !1lI!1WI'Uso:, es- do fUIlc1adol', passou a chamar-


tabelecimentos, estendendo-o ac:s se Sociedade Taylor,
aspectos adrninislrativo,;, às ser?-
ções de venda e à sccçiio de fa- F' ~- O SgCUNDO ESTÁGIO DA RE-
brico, VOLUÇÃO INDUSTRIAL

Em 1898, contl'atado com ex- O primeiro estágio da Revo-


clusiviclade pela Cia, (le Aço IuçrtO Industrial caracterizou-se
Bethlchcm, empreendeu juntét- pelo emp2nho dos empreendedo-
mente com Mansuel V/hite o res em obte:' capitais, expandir
estudo do tratamento do aço, fúbricas e ~-nultiplicar equipa-
que levou a uma das descobel'- mentos, Em dado momento, com
tD_S acima referl:las, a industrialização crescente, a
As idéias de Taylor sôbrc c.'apacidade da indústria de pro-
aclminie;traç?ío científica amadu- duzir artigos manufaturados c,,-
receram e to;'nar:lm-se complP- meçou a sobrepujar a capaeida·
tas dunmte oe; il1l0S em que êlc de do mercado de absorvê-los a
trabalhou para <1 Cornpanhi.'l preços lucrativos para os pro-
Bethlcllen1, Corr'-('ncido de que rlutores_ :f;sse momento assina-
seus pri'1cípios pOclCl"Í3 m ser ge- b, nos Estados Unidos, o segun-
ralmente adot2.dos através do no esElgio da Revolução Indus-
mundo inrlustrial, logo após sel' tri,ll, Daí por diante, as limita-
"atirado às feras", em 1901, pela ções progressivas do mercadl)
BC'thlehem, reso1Vl'1l ahandonar tornaram imperativos métodos
as atividades remuneradas e fl- mais eficif'ntes de usar os equi-
xou-se em Phila(lelphia, kndo pamentos industriais, a fim de
devo lado, a partir daquele aliO, climinuir os custos c, conseqüen-
o resto da vida à prer,açüo do temente, aumentar os lucros,
novo breviário industrial, s:'rvin- Na Amêrica, Taylor foi a pri-
do gratuitamente a todos quan- meira figura exponencial que
tos manifcst2ssem desejo sinc('- captou. consciente ou inconscien-
1'0 de aplicar f'eus métodos, Foi temente, êsse tOIl1'nant do pro-
em conseqüêné'Iél disso que, em gresso industrial. Suas idéias,
1911, concorreu para a fundação concepções e contribuições cor-
da Sociedade para Promover a responderam, assim, a necessi-
Ciência da Administração, enti- dades reais do segundo estágio
dade que, sobrevindo a mort<~ da R0volu('ão Industrial, o qual,
20 CADERl'\()S DE ADl\IlNISTRAÇAO l'i'BLICA

segundo a Enciclopédia elas Ci(;I1- rantc a vida do gênio, é neces-


das Sociais, se tornou patente súrio que êle ponha um pé não
nos Estados Unidos aí por volta no futuro remoto, mas no fu-
de 1880_ turo próximo_
Das contribuições de Taylor Analisado à luz destas consÍ-
para o progresso econômico e derações, Taylor foi um gênio_
social do Ocidente, a mais tangí- Os seus vôos pelo futuro n;"to
vel foi a demonstração da imen- ultrapassaram o período de uma
sa potencialidade da administra- geração_
ção (managcment) para produ- Conforme já vimos, o segun-
zir ganhos econômicos através do estágio da Revolução Indus-
do estabelecimento de práticas trial começou a delInear-se, nos
e padrões de trabalho baseados Estados Unidos, aí por volta de
em métodos científicos_ 1880_ O desenvolvimento indus-
trial do país até entüo se fizera
G--- TAYLOR COMO ADMINISTRA-
i't custa de lucros exclusivamen-
DOR PROFISSIONAL
te comerciais_ Os produtos ma-
Segundo a definição de Virtor nufalurados eram fàcilmente
Hugo, gênio é alguém que anrla vendidos por preços hem supe-
com um pé no futuro_ O poeti'. riores aos de custo, quaisqurT
de La Légende âes Sil~clcs dei- que êstes fôssem_ Chegou o mo-
xou, porém, de especificar u mento, porém, em que a cilpa-
grau de futuridade_ cidade de absorçiío dos me[ca
Antecipar-se à época, à prú- dos internos entrou em c1eclínio_
pria geraçüo, e receber as onelas Daí por diante, o progresso in-
do futuro é, sem dúvida, de- dustrial seria impos~;ível S(')!1
monstração de genialidade, des- uma ampliilçiío do número de
de que a antecipação não ultra- consumidores_ A partir d['ss,~
passe certos limites_ momento, os lucros garantido-
Se o gênio põe o pé em futuro res da expansão industrial deve'-
demasiado longínquo, corre o riam emanar do refinamento da
risco de não ser compreendido própria indústria, isto é, do au-
pelos contemporâneos_ Passa a mento de produtividade_
ser considerado visionário, e até Tornou-se imperativo substi-
lunático_ Para que o traço de tuir os lucros, já escasseantes,
genialidade seja reconhecido du- derivados da habilidade comer-
TAYLOR E FAYOL 21

cial, por lucros derivados da subproduto da Scientific Manage-


excelência operacional. A pros- ment.
peridade e até a sobrevivênch Desligando-se, em 1893, da
das emprêsas passaram a depeno Manufacturing Investment Com-
der mais dos departamentos de pany, da qual foi gerente-geral
produç5.0 do que dos departa- durante três anos, Taylor retor-
mentos de vendas. nou a Philadelphia e aí se esta·
beleceu por conta própria comu
Embora afastado do ambien-
systematizer.
te da direção e confinado ao
Se tivesse permanecido naque-
ambiente da fábrica, Taylor
la companhia, um de cujos pro-
captou, antes que qualquer outro
prietários era o magnata Will-
homem nos Estados Unidos, a
necessidade dessa mudança ele iam C. Whitney, Taylor teria
cm poucos anos junt::tdo fabu-
sinal na marcha da industrÜl.-
lização. losa fortuna pessoal. O próprio
\Vhitney, então no apogeu da
Datam de 1882 SlFl.S tent,di- célrreira política e industrial, de-
vas iniciais no sentido de rpvo· sejoso de segurar Taylor na ar-
lucionar a administrélc;ão da':, ganizaç5.0, acenara-lhe com a
fábricas. Foi êle que desenca- promessa de fazê-lo milionário
deou, com a Scientifir Manage- em pouco tempo.
ment, o movimento de tecnifi- Abrindo mão dessa oportuni·
cação e racionalização das em- dade certa, Taylor preferiu a
prêsas, responsável pelo extra- aventura de estabelecer-se por
ordinário e incessante aumento conta própria. enfrentando to-
de produtividade verificado n03 dos os riscos decorrentes, para
Estados Unidos e, por contágio exercer uma profissáo de que
cultural, em todos os demais foi o primeiro titular - a de
países do mundo. r,onslllting engi.neer in mana-
.r;ement.
Similarmentf', andando com
Em carta que escreveu em
um pé no futuro próximo, Tay-
1~J10,conta como percebeu a ne-
lor criou uma nova profissáo,
cessidade da nova profissCio.
que só moderna mente veio a
reeeher a (lesignaçf'lO, ainda hO.ic~ Diz:
questionada por muitos, (le Ad- "Nós (refprindo·sl' aos que se
ministrador Profissional, típicQ encarregavam de introduzir a
22 CADERNOS DE ADMJl'~lSTRA(AO í'0BLTCA

administração científica !las em- meiro anúnciu ela cxistf'l'cia (1.t


prêsas indus l1'iais) in,cistimos. profiSl'fío (;0 cspcc;,llbta ('lll
onl todos os casos, para qLlC', ilchr>lnistração. (fi)
enquanto o novo sistema esteja Apesar dJ. n1()d{;s1i:-t do l~i ui!)
sonelo introduzido, a re"ponsa- 3yi!tClI!l:fi;;c)', Taylor adotou UrGi
JJilidal1e de administrar a l'm- t~lj)C'la de r2rnu~~c;:~t('~io relati\"
prê:-a seja confe"'ida a outra mente ,dta p:ll'il a <"]1oca_ N··,)
pessoa, a fim de dei;,ar o sis, é!reitavil contrillOS de dU(:~<lC
(('matizarlor inteiramente livre sup~,'ior Zl rr[ls meses c CP~')1'a \'(~
paril fazer pI'("'gresso rÚll;do, 3;) dólares por dia, ;lJénl d~lS (h'~;­
Foi osta dificuldade clt' diri- P(~~(lS c1It\ritL::, que n1();Jt~,-\"~\~n crn
gir f', ao me,"J11O tempo. sls1f'- cC'rca de 5 dólares,
mal lzar um e:3tahelecimentn, qUé' ~~ssa profissãn !.lf' -":.:1':t"J11;:t:;-
originàriamentC' mr:' incutiu.1 z;l,dc}j"". 1'aylor eXCí,'-2U-a ir:jn-
idéia de que' seria b01l1 n(~~~)I(,;d t'~i'ruI1ta c lucrati\-;1rn(ln1c (lt?
deixar () trabalho de pcrcnle IS93 a l~j()l. Illclll,;i":" ((11"",1.)
pil ra mo to)'nar um shleillllf 1- ('nlll i",:ltaflo pela TIf'!ll],'llC r 'l ~:.!l(; I
;:;r/(Zol'. C'o .. Sll::t nl :SS20 ('ra P'··,.\('l~~:; r'i:'\--'-
Acredilo q\W, 110 país, tCI,l1a te' a c1p .'-;istcinnfi::;of' a (1r1r,<l,i;:~
sido cu o Pl'jj\WÍi'o l"J!1wm a tr~(';lo (tl cO;ll r:allhi:l.
abra\,c\r é's~(' lrilhalho. como
N:1 histÓI';l ILl 0v:;1w:,:'\0 iJ;-
uma profiss:lO," (1)
11.llsti'ial do 0:"",·"'(', Taylnr 10j"(l
Os p?"9éiç; do (,(11'j {-I (\ env(·l'>
(~ldo f) úni(?{' 1':.()~-,~?El quo }'C'3.F-
pes un1i?~H~( I~) pPI' '1'(ly1oJ' t 1'(1-
7,Oll o cJllpl.) f,':!C) d" con"t"";;
ziam o SC,~1Ji(1tp tÍ1nhn~:
t0'10 urn ;~is~crrl(1 (1('1 jd(i;(lS f'. n í )
Ji'rerl 1V_ Tr'y!o)'. !i!, T-],
nl':~:rnn
temp(\ ('rl~;:.">. C'x"-rcrr P;'()-
Ross Str('r;f, (ir')'j;u::'?>'/{~'n. lJld·
vpitosan10ntc. c .:lfi(1n(:ar urn: J
.

lad(7)Jhio
nova pr(l fL;.:;~lO,
COllslIlIinq E';rjillccl'
SystcnJali::in,'l ~7lC\l) í iunrtJJc)JlpntJ

((n!l mrrnu!n:.'f:u'ii?fJ ('08[8 li


8]WI"a7t)! Qll:1]-:r10 fqi (1C'F:Jt~c1:.~~n, ~:~\,.;: ('
fl'1(" ao Ql1C ,,:> ~a hc. ó o rri- ir,jLl;~1[l1~1cntc, for1a Pcthhihf"

(.1) ("O}1I('Y, I('l'ank. F'n'rlrri( k l"ius!()/i' T'uulr',' (N('\v Y'n'1\.


J~l'()th, t';\, 1!):~~), 1. p. :~!)o.
I G) IVi" .. ]1, :,;>1.
TAYLOR E FAYOL 23

Steel Company, em 1901, Tay- "O objetivo principal da admi-


lor era um homcm abastado. nistração deve ser (o grifo é
Tinha cntão ,,t;) anos. Se fôsse nosso) proporcionar o máximo
ambicioso, teria chegado íàcil- de prosperidade ao empregador,
mente à categoria de milionú- juntamente com o máximo de
rio. Só de uma firma inglêsa pro!',peridade a cada empre·
havja recebido, de parceria C')fl1 gado."
l\1aw;l}cl \Vhitc, pr>las direitos df! Ao devotar-se de corpo e alma
usar urr,a de c,uns patcntc,~. a à propagação de seu sistema.
hnpor1ància ch~ ('(:n"'1 rnil dólares. Taylor alimenl:tva altos prcpó-
.Au.tor ele un1 sis~c~n12 r1c 8.clmi- sitos. Um dêles. talvez o mais
nistração industri,al que produ- ambicioso: combater o desper·
zia rf'sllltados espetaculares, dício.
Tayhr resolveu fé'zer-se após- Em uma reunião de gov2rna·
tolo c1~\s prón,'ias idéia,. Em dores na Casa Branca, o Pre-
1911, Cllstr:OU e c1istribui:, gral:li- sidente Theodore Roosevelt havia
t0..r.1pnte, no;; men:lbrc:; ([2" SClC~C' dito que a conservação dos re-
di1.de Ame]'j'.'~na d.? EJlge!1rciros- cun;0S naturais do país era ape-
J\1ecânlcos, a prir{l('·~'·';J. ceição de nas uma prcliIl'inar da "questão
St_~U livro [3rinel'j.<-lS de Ad;n::ds~ da eficiência nacional, muito
trc:ç(in Cie;:tificq, mais importante".
T;)~,rli)r vj(=l, e1'~ ~211 :-.ist(:rrt~l a Taylor ~'l':mhou a deixa. "O
chnv2 ctc al'-{{) muito n1;1~s jnlpol'- [,ais lntí'il'o, -- escreveu na In-
tante do qnf' o lY>JY! L1?lciona- frodliç(Í1 aos Pl'incípios de Ad-
m~nto das etnnr'(;'~'l~; :~lr~1.1s-rrjélis, rninh·;tração CicYttif~ca - reco·
Pnra []0. (l ~;l.n"'\inlstrJ('dn clen- nhc('('11 imcdintélmente a impor-
tífica p8n'~r~'l ('r)":'dnzll' a hnTIla- t[~;1c~a d.r:.' COnC;2rY..3.r S·.~·L1S rrcur-
n~àD.d(~ H cJ~(~') r:l1d10 lTIPlh:-:n'C's, ~os materiaL:>. e pm movimento
-t~;:-(1\T07 él nm rsi;'l :'i:)
f
d~ Gll..Ul- c;.., Jilrg0 âmbito foi iniciélo.J com
~F\~:C~::l, t:.'l\·,'>~ .'\ ;,nh~(;ti0 de to-
dos os cO'lflito~ ('nl':(' o c·':->;1:>1 1';~1l1, cOl1sirl"ramos apf'nas por
e o trabalho. :'!lto J rr,.:;,snitude da questão
Vale recorchr a [~0nerO,;a pro- mrlÍ,o, ,;í.'1))f)l't(J?1fl?, fJue é a da
fissão de fé com que abre o pri- rf;ni('ncz,(( naC?.Q}loZ,."
meiro c<ll'ítulo de' Prinrfpios de "Sabemos que nossas flores-
Adii!ini~{raçao Ci'_-I:!íjica: tas estão desaparecendo, - ar-
21 CADTl1;\()S DE ADl\!INISTRAÇAO PÚBLICA

gumentava éle vemos nossas o livro básico ele seu ~:istema,


quedas d'[)glla desperdlçadas, anunciando no prefácio que, ao
nosso húmus varrido pelas en- publicá-lo, perseguia os seguin-
chentes e carreado para o nnr; tes objetivos:
e o fim ele nossas reservas de Primeiro: chamar a atenção,
G\rVflO c de mlné'rio de ferro já por meio de uma série de exem-
esUl fi vista_ Mas nossos de~per­ plos, para as perdas tremendas
dícios de esforços humanos, mui- que o país sofria todos os dias
to maiores, desperdícios que por causa da ineficiência,
ocorrem todos os dias em COI1- Segundo: tentar convencer o
seqül'ncia de atos erradus, mal público de que o remédio contra
dirigidos, ou ineficientes, e a que a ineficiência reside muito mais
(1 Presidente' se r2Íere como fal na administração correta do
í a de "eficiência nacional", êsses que na espera ou procura (k
>;;'1.0 menos visíveis, menos tan- homens extraordinários,
i;lveís, e apenas vagamente Terceiro: demonstrar que a
oi)s0rvados," boa administraçüo, ciência ver-
"Poclemos ver e avaliar a per, (1ade ira, repousa claramente em
da clélS coisas materiais, Mas as leis definidas, regras e prin-
açô('s canhestras, ineficientes ou cípios,
mal c1irigidéls do homE'm nüo dei- Quarto: mostrar, finalmcntc,
xam mal'ca vi~ívcl ou 1iJngível. qUf' os princípios fundamentais
i\ sua aVélliaçüo requer ato de da administl'élcão científica silO
memória, esfôrço de imas-inação, aplicúveis a todos os tipos de
Em conseqüência, apesar C]C ql'c ,\1ividadl' )mmana, di'sdl' os LltO';
nossos prej uízos diclrios, decor- individuais mais simples até o
rentes do rlespcl'dicio do esfô]'- funcionamento das grandes em-
~o humano, sc'jam muito maio- prêsa~, l'mbora ncstas exijam
res do que os desperdícios das (,ooj1(,J'ação mais l'efinada,
~oisas materiais, nós nos pleCl
I -- As POTENCIALTDADES DO TAY-
,,'upamClS fundamente com êstes
LOIUSMO
1.' quasf' nada com aquêlf's." «(5)

Lev,~do pOI' essas cO!1si(lr'ra- A Administl'ar:ilO Científica


'7ôes superiores, Ti\ylor escreveu tem sido considerada à luz de

:6) "Principies of Scicntific MalJagcmcnt", Scir,~tific JI[(II/ngcmcnt (N~w


Yoú.; Harper and Broll!e"s, 1947), p. (;
TAYLOR E FAYOL 25

seu primeiro empenho, isto é, Em primeiro lugar, a desco-


como técnica de poupar energias, berta experimental do melhor
e, ao mesmo tempo, de aumen- meio e do momento azado para
tar a produtividade, através de executar cada operaçào ou par-
métodos científicos, aplicados te de operação. Essa descober-
nos lugares de trabalho, notada- ta faz se em função daquilo que
mente nas Libricas, se chama o estado das artes,
Para Taylor, as vigas mes- levando-se em conta o material
tras de seu sistema eram: mais indicado, os melhores ins-
trumentos de trabalho, ferra-
a) reconhecimento, tanto por mentas e máquinas, a melhor
parte da administração manipulação dos instrumentos,
quanto por parte dos em- o melhor fluxo de trabalho, a
pregados, da necessidade mais lógica seqüência de movi-
de produtividade sempre mentos. Os dados sôbn' êsses
crescente; elementos são classificados e ar-
b) reconhecimento da neces- quivados para utilizaç:ío opor-
sidade de descobrir, me- tuna.
diante o emprêgo de mé- Em segundo lugar, uma nova
todos científicos, as íeis divisão de trabalho entre a ad-
que governam a poupan- ministração e os trabalhadores,
ça e conservaçào das ener- cabendo ;'tquela a responsabili-
gias humanas e materiais, dade de descobrir os m21hores
utilizadas no aumento de meios de realizar as diferentes
produtividade; operações ou movimentos, de
plarlC'jar as operações, (le colo-
c) providências mistas de em-
preendedores e emprega car à disposiçií.o dos trabalhndo-
res, no m,)mento azado e no
dos para fazer essas lci~
loca I próprio, em quantidad,~s
vigorarem;
adeql1adas, os materiais, equip::t-
d) paciência, paciência e mais me~1tos e instruções, e outros
paciência. [a 1õrC's necessários de trabalho.
A técnica taylorista de admi- o aumento r1e rendimento
nistraçi:'lO desdobra-se em duas ;[rhindo (1;1 aplicaçüo conjunta
técnicas ou práticas complempn- dessas duas técnicas nüo resul-
tares, a saber; ia jamais de aceleração do rit-
CADrR]\;OS DF A.DMINISTRAÇÃO PÚBLICA

;no (1e trabalho ou maior esfôr- cialmente aceita pelos líderes


ço do trabil1h'ldor, mas sempre do Estado Soviético e do Par-
de' diminaçü0 de desperdícios -- tido Comunista Russo, haja pro,
dr:c;prirlício,' (1(' tempo {lé's npr!- vocado oposição aberta, nos Es-
1',1 t!nres, de j~J::l'(licios na utl~ 1':,(1- tados Unidos, por parte dos ope-
çüo das lTIllquinas - OC{l~ü<,·.na­ r;\rios c de seus ól'gãos de
"",; P,Jl' api jr"çflo defeH U05é1 do cLtsse,
(1~-;fôl'C:o, énlSj~'n('ia de phu;o~, f:11- Sabe,se que a Federação Ame-
t,:, e]c CO r )l'c\cn,lriío, de, rjeana do Trabalho moveu guC'r-
?-.T u rnr'}o y{C'ulo dC'cPlT\dn d, 's- l'a fraEca 30 T'l.ylorismo duran-
de é1, l)l~hn\·.:1(>-:() d'-l ohra de rray_ t(, V'I l'ios 3110S. O inquérito par-
1 "r, ~l .i1~dJl~ j';,'J'f'('tt,'J C~Clllifi.'''a lamentar de 1912, em que Tay-
L'Dl sido ;mJicZ\r'<l r0Jn (;,'.,ito lor depôs durante vários dia:,'
p~~ra rnZ':on~11iz(11' 1rab;Jl11,1 CP1 sob interrogatól'io cen'ado, fiO-
fj'enll0 por Vl-Z0S bombardeios
d(\ pel'gulllitS ;'1~}),T;::S e tend0n-

ciosas, foi ,1.11(,['[0 por press;lO


;, ~, :, ,~
"
rins :iincHcatO\i 1rabalhistas,
Taylol' llr0voll que a aplic:1'
ção da pecquisa cicntífic3, como
fll](, ;, C'~:rl()r:'é:c:I (':;: :,"'1 '\'1. do método pal'a esl uclar e resolver
P:1t;,· ";'1 d(~ 1'('Cl.~rsoS r
1 '1 A{:rni- é'.S queslf.es 2clE:ini.strativas, CGn,
iilct,· '-in Ci("n~:;fif'~l ~-!'Jr1" lC":ar duzirl, in\,-(tri~-lv('lnl~\~1te, aos tr{'s
;') evjl:;~}:",.('i(l dr (lUP ·1 ;:i(rt J~l();:,()· :;er;l1.~ntc:-:;; r0s 1 dt:ld Js, favor{lyci'1
I

c;", n;'~n('jpjr.':~ {, j."" ;:"~n~ ~,:~'-) a cnTprc:~;Hlo3 c cmpre~!.adol'l'S e


(t!dj('~'.\·pi~~ ;!~'13 '~.~ "I: li"'?'!; ~ f[(' Jh:U- dcsej:1dos por toc!o~); G 1 ,lllm211'
pall(''l. (l ('on~('.l' '::~~~~0 de (';-;'E~'(::,in. jf) r1P pr':'(;c;jj"idade; bl aumenio
ele r·:Ji:~('s ir:(f';;'():~. (\ LI;', :~7 do (10 S;l Jo'tr;o; r) reduçfio de esfôr-
pr{!pl" () mundc. r,) ço e (le [adii;é1.
No ('~);-~() .!',:)rrH)SO do assC'nt~
J TAYU1IUS::\1O \,j'~'~"l 'S 'r!~ i r~ '.'
menta ,1<:, tijolos, amplampntc·
!,lTTSMO
disf?lltirln clu]'("llltc o inq.uérltn,
I:: rlH'losO flue ;1 ).(1n:iJii:>:{J'(!- Taylor 1'e\';'loll C]UC, antes (~o
('[ir> C;(ntifirn, C'xprC',: "\ (' nfi, advento de seu método, apli-
TAYLOR E F/\1'OL 27

cado naquela indústria por rlep1i('~1"ndo "l',) C.lt'10 jovem es~


1"1'a11k Gilbreth, um op['[':\r[o crito( de tC'Lc1:·ncLl.:-; so,:ictl]sL"l.:'")
as"cntava 960 tijolos c executa- lipLf)Il Sinclair, C!l~C h~lY~a \,(:!.
va 17.230 rnm<nwl:tos ror dlil bc'['ado a c1istribuic<í;) dí"lC; lt1crp~:
(te 8 hora;.::, a urn saL\ rio ~te ,:lJJfel'!clcs em \ l\'tnc~C' t;a tl.d~h::-l~J
cinco dólares. I)cntl'c os TI1o\'i· dos n1étodo3 ta:,-lo:ciSt(ls D~J,t l~c.l~
mentos, havia o de abaix;_l.r. ·JfJo ihlcllC'm Stcel C'ii:pa'lY (362~;
brando-se o opC':rário [lO r;-l(:~'~, (}2 aurncr:t de V: Dc1u(';:.o e ar;>
f
)

j1étra apanll'lI' cada tijr,lr\ o q';é' :-L~l.S Gl « (1c (~PlY'(~~1tO de sal:t~


impunha §;T<'l !-:dc~ l1SCr~l erg{;~ 1:( 't
c prOYOC(1va fadiga (~'iCCSSíV,L
T'ayloriz,'utt( ~~
opr-ração de 8.s:;en- rnflni_ou:
1ar tijol0'~. hr)uve consjd(~r{nT[11 "À pl'jn~('L'~) \, ;".; '!, ;~ r:.lniorl:.l
r;oupança de ('n01'gl.'1s c ,'wvi- de nós vê. dt\ r 1 :,(). ;'l.I>:() ;~: rluas
lTI'2ntos. () opcrúrio pa~-':::'>()li a
a"scnl:'.1' 2.'~no tijolo,; por rlia. ~ ;~ll'io:; (' OS enl'~)L>('/~,.d~}','r'~;. I~;llf)
f'xecut;:plíl:-) 2.p(' 1:1~ 11JjCi) l:lO\ i- ~'~'Jno~~ a tC!'(';~jt':J r:~l-\'l(\ ~l 1l.1ain t',
mcntns, ;=t urn ~;:;l:\rlo (1(~ 1J::3$ o r~'p,;o ~n1('il'o. p.: (,Oll~·~l;ynidor~"'",
G,50. Cr)nl '.'n V',-\ a p"(;d'_~ t i\' ida-
l )
(illC> (,()Jl1:~"; ;-" cc, produtos c1Ti
de pass Hl elo -12n r~11'~1. ?:)f) ; iio~
los p"r hora. 0>\ ::'::J: (' r1c' ClU
;: !C;"·~ L-!:'jo's dos tf,:1l:,iíll:3C!;:.'l'(-,S (1l18r!to
alélTI da ('limjn(~J~~\o (1,:\~) n-;:<,. ;,~ c:·; 1IJ':TO;3 cl·,:,s f'111l~1>(,i~2d(.'~'-?s.
can.ç:,tÜ i '.-(':;:, h~l;X~:t'~!!'(: ele' >~-i',-)O O,.:; dil'(·H(\~~~ d·) l)~;T\ () ~;,-((), pn~;
para 1.7;::;Q !)cr hCJ-"~, 011 ~ ~ (' l':)ns"(.~P!l1í~\ ~'.::'~Ol':·';-; do qlJ~ o;"
de rí':ll-l('f",o; o s:~L'-I'lo d:-, 1:-pC~':'" l!(~ Ci-i-:p.: (,:.>.:.r'n;' ~'" 1.,"1 ch; Cn.1Pl"f·
r~(), p0ra f(:;~cr 1:((1 (,~;:~d~';' ,Pít'_ ~!;::.(~o. _~,~ C:' ' - '-1 ;~T=t lide f (};CC1.ré-l
r:nr, pn S.3r.;.l r\' ~ r~;, 1':1 G.:Ju dó· ~'1;'~-U-~ dC\TC' p;l: "'ipar l)rú!11'I?t
1;)xes 1'y)1' di;:. ou 3n r~ clf" ~u­ :':;C~l~t~ c-r,1 (! l}(!',l<'}' [;;:11111::). Curn
H1 (~l~ t (). ~i [C'i! :), l~C1 I'C} JiC',:l de' 01hos l);:'la
>

o r,:'~i'.-H' :~(" ".'heJl 'r d(l (1ivid(Tl" ~-,;~té(;~l, d~1 ~':[~;).?t:.'ia rr)ost:'·:~.

dos do /,rl}(i)li::!.'(lr~"7J aienlSji('f(. (:U\', l1D fi~-:'1, o p,.'~.T() ac(~.r-;l r(\·


pJrérr., r~:J.fj (, o Cl·lpl'().~n;io) rlPll1 r_'chCll:1:1 (1 p:)1':.: nl~'dor (1.0:s h2·
n P'l~!<-;C' l' n ~-·:ú('io ~HI~ent(·, J~(~fí('~',)S c;':llnl~n~:; do pro,Gres~:'-:'
() ,·oil.~llmirlor. j. 1(!: \:' j )';;11," (~,)
28 CADERNOS DF ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Conforme foi dito em outra crime passível da pena de pri-


Vilssagem do presente estudo, o são ou multa, ou ambas. Final-
Taylorismo veio satisfazer a ne mente, nas leis orçamentárias
cessidades reais do desenvolvi- de 1914-15, vingou um r-idcr (dis-
mento industriaL Era compul- positivo de cauda orçamentú·
sório baixar os custos l1nit~rio3 ria) que proibia a utilização de
para que os artigos manufa'u- tôda e qualquer verba pública
rados pudessem ser comprados para pagamento de vencimentos
e utilizados por grupos cada Vi"Z ou salários a quem quer que
maiores de consumidores_ fosse ~ funcionário, oficial da,;
Um sistema que vinga em tais Fôrças Armadas, diretor, geren-
frutos, beneficiando a gTeJ.';OS e te, ou qualquer pessoa e!l(~arre­
t roianos, aliviando as canseÍla;; gada de dirigir o trabalho de
do operário e dando-lhe maio:' empregados do govêrno -- que
salário, diflcilmen te poderia ser utilizasse, ou fizesse uti1i::al' cro-
olhado com suspeita pelos si'1- nômetro, ou qualquer outru ins-
dica tos de irabalhadores. trumento, para analisar os mo-
Apesar de tudo isso, as orga· vimentos do trabalhador c os
nizações trabalhistas moveram tempos gastos em cada opera-
guerra de mfJrte ao Taylorismo ção_ (9) :f:sse dispositivo passou
nos E"tados Unidos, alegimr1 (l a figurar em tôdas as leis orça-
que a Aclminislrr!(:-{1o Científica.. mentárias americanas, votadas
"tendia a provocar desempr f >- a partir de 1915. É provável que
go". JamaIS conseguiram provar seus efeitos perdurem até hoje.
essa e outras alegações. IT1'í,; Em conseqüência, os estabe-
Ilpm por isso deixaram (10 "il- lecimentos industriais do govêr-
('ontral' porta-vozps ativos [la la no americano jamais abriram
falar, escrpver e legislar contl'él as portas ao Taylorismo_
o Taylorismo. Se não fôsse o advento ela
Com efeito, a partir' de 1913, Primeira Guerra Mundial, que
sucf'ssivos projetos de ld f,JraJtl veio tornar imperativos a pro-
submetidos à Càmara dos Depu- dução em massa e o aumento
tados. tornando a pr;\ tica do da produtividade industrial, e
Sistema Taylor. em qualquer de- se as prioridades mUitares não
pendência do govi"rno feder.l], ilbsorvessem entã'l grande par·

(9) 1/);"., !lI'. 3:>0-1


TAYLOR E FAYUL

te da mão-de-obra, é prov;"tve! de dezembro de 1920; está em


que a Administração Científica, uma conferôncia pronunciada
embora reclamada pela evolu- pelo romancista Afrânio Peixo-
ção industrial, não tivesse ven- to, no salão do Jornal do Co-
cido a resistência organizada e mércio, sôbre o tema "A Educa-
militante da Federação Ameri- ção Nacional: aspectos femini-
cana do Trabalho no setor da nos". Disse êle:
indústria privada. "Já ouviste falar do "tiloris-
mo" (sic), isto é, essa prodigio-
L - O T.\YLORISMO NO BRASIL
sa invenção técnica americana
Parece-nos difícil, talvez im- que estuda cada indústria e cada
possível, determinar a data em trabalho, suprimindo-lhe as ope-
que as idéias de Taylor aportél- rações inúteis ou nocivas, dis-
ram ao Brasil. Podemos conjec- pondo tudo, movimentos, ações,
turar, entretanto, que a chega- orientação prática e intelectual
da dessas idéias ao nosso país, para obter, com a maior eco-
sob a forma de livros, notícias nomia de tempo e de esfôrço, o
críticas e referências orais e máximo de produção e rendi-
escritas terá ocorrido durante mento." (10)
a Primeira Guerra Mundial, ou Seja como fôr, as consequen-
logo depois. Sabe-se que os dois cias identificáveis das idéias de
livros básicos de Taylor. Shop Taylor são numerosas e eviden-
Management e PrincipIes of tes neste país: a centralização
Scientif'ic Management, foram das compras de material de con-
publicados nos Estados Unidos sumo (1931); a simplificação e
em 1911. No mesmo ano, os padronização dos papéis de cor-
PrincipIes surgiram em edição respondência (cartas, cartões,
francesa, sob o título Príncipes ofícios, exposições de motivos,
d'O rganisation Scientifique, em envelopes, ete.) usados nos 61'-
tradução de Henry Le Chatelier. gãos do govêrno federal, (1935);
Uma das primeiras referên- a padronização dos vencimentos
cias feitas no Brasil, por brasi- dos servidores públicos (1936);
leiro, ao Taylorismo, data de 16 a criação das Comissões de Efi-

(lO) Peixoto, Afl'ftnio. Ensinar a EJ/8lnaJ' (São Paulo: Companhia Editora


Nacional, 1937), p. 62.
,i)

('j{'ncia ]~OS ~,lii1!::)1(F'\'.ins (1:rH1);


~l cl'I~l:~<l() (Li. l)~v L~,-l..o (h, ()!,[!,:~. l'l-"iclia do ~::~n; iP1Ci1l:> 1,}('. !.
niza<Jt'J do I).t\.:~~-~) i l~)'TJ,;; ~l p~:­ A yptusl,:~ Sa_nta Cl'i.i.-': !}ass()u
dl'ol1;~~a(,.<:u eles ot'ç:nn1"lllo::--i rnu- :1 ch<lrnar-,(~\~ F'o! L'l-l; S~l11ta L.u~
nicip'lis (19l()); ('[c. elc. ('tc-. Zi'l, J~P1::iú;:,;';; c ~-101lfjnl. J'iill'ft-
~?i((. }dnd~l no :2~zta(:J r1~-' C~uL'!s,
Em nossa :tcc~i1
a('fro 1l1Ci'lt 1(,;~
Sz:nt~ TI,ita (lO P,lr,~~n:~iha foi l'f'·
r1~~s ic1{·i:1~3 (L~ 'T:lylGr, c1~P:~~.P~~1 ,;
'\ d0fo]'111;1-};1\; ~ ~1(' .'-~ ('li, 1 C;111-
d:) ~t~,:o !~"--;l1ii{l. :1, C:({tU1'nj.l'
51Li.>;)C i d:l(1rs r ~'tn1p~tEl.t(~;l~.
:r-iurncnto (lr~1 que· a Oi',j-'l:'l C;:l
)írrlpljfi(;~~r. n!'dl'~1Y1i:~;1l' e lllt~ j'{)[,.
]V[
rniz:"lr ri (),'{ I ri. r. I
(,,'), ?··Je~~~:.:: f(l~-~(l c;0
C,::(J!'(((!fl,
l(n1~~" (~0!n~1 i:.i, Y,\)n10:~, r ' :.' ('~(CTrl­
rlfJ, ao (':-d i'(,Pln i.i.':)noc1:'lr~,;{ l) ("~
:~l~(' :c;n i,~'v;'ní("t ('mJ9lO, Eln.
dC'crct~li" ;1 l'('·.'i~~-lO
r:{·r;il (1\js tn-
(I J91~~ C 111 tôrno (10 Sl~1crn:l
t)ônÍrnos b}',l~;jl(\i~'o~ r· Pli1iLi,' p(.\'
'r:I_Y](\l' (~rn:ljn~)ll p qurlS(\ 'I" di";;
·.~c{'~'c:t()-10i (n. ;)Y.·l'l;. de 2! (~:~
fC'z n;;;.; ;_1:1:),~ in1(l(1i~tOS. 'T;IJ:1pr'
,;lJiL!hi~'O dc"\ 1~lr_n, n üL'n(id~~:L~
("\ SPU tr~lh~dh;) c;:~l'am
no ohQ-
;l. (·i(!~l.',i"~; f~ P(}vo:~I:n~'.
vin. !Ir}!1V\~ a dehalFl,!J1:1 jnC'vi-
( '~
" t,";,\,{'l (~(;;~ CV(j-:,tU!1i~i;lS c i~-,-;n ..

di~l-!,L~t'!s. IL1';'C ..-; ~·;C~:i·:,J ';('.~ "


t\pn1(' n.' C't1~ . '.tli)() }"()!'n10;.;n, 1);'1'
f'Xt'-11'!,ilo, enl'hcr(~ nr:;:~ na T,~:I~li,l,
Jl~!;<,i;;lj'i:.l'r'i{JZo (jl~--'}llíf~' ,'{ C,)/1:1r'
',1ma ,,111 j,'Iin" ,-, (' oull"·' ': 1
('C'll ~' .:~; (i;~;nl~,~~ í.l'l~~~ (I~\ '\ :(1 ;~
r;Oi{lS. p0}'lln'l,,<-~\'<t q (lnE~i I r 1 ,,\
~:('or,Tn fi:l r~)lHi(,:l (' f;,l(';J~!."I\"
I) pxtravin (~P f'{j1Tc:·~porH1(-:': ':1

Gra!;:::!,; n (': 1,'i~str(l.(1q, l'~~l'-) ,/i~Y(,~l lJa',:taEte


p;:,l'a asr-;lsi ;:" ao triunfo nlU!1-
i ~es lra(licionai~, CGn1C) 3':1,n( a d:al clc~ su~-:..s id(::'ias, oCOtTj(~~)
('ij UZ" Santa Lllz~a
(\ Ejonfinl, no lil,c?,o depois.
r:slauo d" C;"j;;,:. com mais el,' F',l a T)r]r::1piLl, Guc"\ 'i\'l. l\Iun,
100 (' [11(; 20() :C;iOS de (~xistêll­ dial que, ll'lUdific-J_l1cl.o de r~p::,n­
eia sc;:) eS.~~~13 c1c'non1inaç'ücs hL,-;~ te G C'onjllntuL_l ,-llnericana, cr'lon
tórlci\s, tiveram de repente os concljçuc~,; p~d'a o leavivarnc:üo
TAYLOR 1: 1'1\1'OL , 1
J.

do Taylorismo. A produção C'm automóvel Rcnault, juntamente


massa, o impacto do recrula- cum um jovem engenheiro fran-
mento militar no mercado ele cês, IVlonsieur De Ram, estive-
trabalho, a necessidade imperio- ram nos Estados Unidos e visi-
sa de maior eficiéncia industrial taram Taylor, cujas idéias já
- eis os fatõres que abriram o estavam aplicando, segundo dis-
caminho para o advento dos seram, desde alguns anos, em
principias tayZorlstas. seus f'stabclccjmcnLos inc1u~­
E n[,o apenas nos Est:ldos triais. (12)
Unidos o Taylorismo entrou na As idéias de Taylor repercuti-
idade de ouro. Igualmente mo- ram na Europa antes mesmo de
vidos pelas urgências e pressões se tornarem mc,is conhecidas
da guerra, outros países foram EOS Estados Unidos, através das
forçados a tomar conhecimen- obras Shop Management e Prin-
to da Adnl'inistmçâo Científica. ciples of Scientific Managem,ent,
Na França, por exemplo, no li- ambas publicadas em 1911, sob
miar de 1918, o Primeiro Minis- a forma de livro. A partir de
tro Georges Clemenceau tomou 1918, irradiaram-se paTa os qU::l-
a iniciativa de recomendar aos tro cantos do mundo.
dirigentes dos estabelecimentos A organização do trabalho em
militares que estudassem e ado- cadeia, o fOl'dismo, os estudos
tassem os métodos da Adminis- de tempo e movimento, a elimi-
tração Científica. (11) nação sistemútica dos movimen-
Há vários indicias de que o tos parasitários, as padroniza-
Taylorismo repercutiu na Fran- ções e uniformizações que se
ça antes mesmo da publicação fizeram a partir de entüo pelD
das obras de Taylor. Sabe-se que' mundo todo, foram e continuam
Le Cha(elier traduziu os Prin- a ser efeitos do Taylol'ismo.
cípios âe Administraçâo Cientí- Uma das repercussões fecun-
fica, em 1911, isto é, no mesmo lbs das idéias de Taylor na
ano em que o livro apareeeu administração pública foi o
nos Estados Unidos_ Mas, antes advento do tipo de govêrno mu-
disso, o dono das fábricas de nicipal chamado City Mcmagei'-

(11) Hunt, E.E_, Scientific Maan.ocmcnt sincc TU!J/Ol' (N"w YOl"k; l\IcGraw-
Hill Book CO., Inc_. 1924), p. XL
(12) Taylor, F.W .• 8cientiJic Managcm"nt, p. 288_
P/,( n (Sistema de Gerente' Mu- tões cientificas (' progressistas
,I icipal), qw' sw'giu em Galves- do Sistell12 Taylor. Aprender a
:on, Est;:ulo do Texas, em ]908, trabalhar -- eis um problema
pos Estados Unidos, c de lú se que as autoridades soviéticas
propagou pJl'a " resto do país, nevem apresentar ao povo em
assim como p".ra outros países tôda a sua extensão. A última
do mundo, palavra do capitalismo a ésse
A essConcia da Administraçtío respeito - o Sistema Taylor ----
Científico, a suma dos princí- como tôdas as medidas progrf's-
pios tayloristas emana da cren- sistas do capitalismo, reflete a
ça de que hú oc'empre um modo refinada crueldade da explora-
melhor' dC' l'ealizal' qualquer ção burguesa, mas ao mesmo
operação ou movimento. O cri- tempo oferece realizações cien-
tério p8ra a determinaçúo da tificas do maior valor, para eli-
superioridade do método adota- minar os movimentos supérfluos
do eomo norma é o critério do e inúteis, determinar os méto-
])] ínimo meio econômico. Uma dos mais corretos de trabalho,
operação executa-se tanto mais os melhores sistemas de conta-
C' ficieni ('mente quanto menores bilidade e contrôle, etc. A pos-
forem, em têl'mos de tC'mpo, ma- sibilidade do socialismo será de-
terial. PSp~lC:O, pensamento e es- terminada pelo nosso êxito em
fôrço físico, os recursos necps- combinar o govêrno e a organi-
5ários pa l'a lp\-ú -la a eft'i to. zação soviéticos com as últimas
Pouros países tcrüo ficado conquistas progressistas do ca-
imunes ao influxo do Tayloris- pitalismo. Devemos introduzir
mo. Ao tratar da administração na Rússia o estudo e o ensino
<1a Rússia, por ('xemplo, em ar- do novo Sistema Taylor, hpm
t igo intitulado "Os Problemas como a sua experimentação f'
Urgentes do Govêrno Soviêtico", adaptação sistemática." (13)
publicano no Pntl'd1 l, a 28 de Stalin, por sua vez, em con-
abril de 19]3, Nicolau Lenin fêz ferência pronunciada na Univer-
a apologia aberta do Taylorismo. sidade de Sverdloff, em abril
"Devemos experimentar - es- de 1924, sôbre os Fundamentos
creveu Lenin --- tôdas as suges- do Leninismo, declarou:

(13) Eulll'lin of 1Jt,_, T:lylul' Soci<-ty, 1 V (Junho, 1919), pp, 35-7.


TAYLOR E FAYOL 33

"O Leninlsmo é uma escola. serviço do Partido e do Estado


O estudo da teoria e prática constitui o que chamamos "es·
nesta escola produz um tipo es· tilo" em nossas atividades." (11)
pecial de servidor do Partido Aberto assim o sinal verde
e do Estado, uma categoria es· por Lenin e por Stalin ao Tay-
pecial de estilo no serviço pú' lorismo, êste encontrou no re-
blico. Quais são as caracterís- .gime soviético o seu clima ins-
ticas dêsse estilo? Quais as titucional propício. Na ânsia de
suas peculiaridades? se industrializar a galope, a
Rússia tayZorizou Ol;todoxamen-
São duas: a) zêlo revolucio- te as suas fábricas e outros lo-
nário, inspirado pelo espírito cais de trabalho. Não se pode
russo; b) praticabilidade no tra- estranhar que o fizesse, por-
tamento das coisas, inspirada que o aumento da produtivida-
pelo espírito americano. A com- de é, por definição, um dos pos-
binação dêsses dois fatôres no tulados básicos do socialismo.

(14) Stalin, Joscph, "Foundations of Lcninism", Lcninism (traduçeio inglêsa;


New York: International Publishcrs, 1928), p. 175 .

.. - Cad. Adm. Pública - 44


TIIE MEANING OF SClENTIFIC MANAGEMENT (*)

Sciel1iijic 111:;IUglIllCI?/ i.f IlOi :!lly ejji«'lIcy dCI'he, 110/ I' del'ic!:
of (wy ki!ld for Jemring ufliciulCY; !lO}" ir il (111)' bll11cb OI" gl"01lp Df
,fliciclJcy del/iceJ. lt ÍJ no/ (/ IICII' JJl/um of figtll'ing CaJU; il is 110t
ti lIezu JcbclJIC oj ptI)'ing 1IIUI; il ÍJ llO! c/ pieceU'ork s)'Jtem; it is 1I0t

(/ bOlZllJ s)'J/elll; it ÍJ no! â !!remilillJ J)'J!em; it is 110 scbeme fo)'


/JrlJ'illg mell; ít ís JlO! boIding ti J!of! 1I':/1c!J OJl ri JlJrlll (/nd tvriliJlf!,
!biJlgs dOU'1l (/b01II him; i! ÍJ !1O! li/lle .I/l1d)'; i! iJ JlO! mo/íoJ2 ,rftld)'
nor em c1I1(t/y.riJOf Ibe 1II(}[!CIIII:Ji/J of mel!; it ÍJ JlO! !he pl'iJl/illg (1I1d
mlhlg ,1IIe! l/11!orldillg of :1 1011 OI' /11'0 of b!,lIIkJ Gil cl Jel of lIlell (/Jui
"Here'J J0!l/' J)'.I/ell!; gu t/Je il," 11 ÍJ !lO! diric/ed fo)'elJlrlJlJbi/,
o)' fll11Clioll:zf fOrLlJlâilJbip; i! ÍJ no! cllly of lhe c/el/ice.r ll'hich lhe
dl,erage IJUIl cid/J lo lIlim! 11'hell Jcielllific J!){1II1fgelllcllt i.r r/Joken Df,
Thc (INI'{/gc m:11I IbillK:.r of oJle OI' 11101'1' of IheJ!: Ibi!lg.r lI'bul he
herl/'J lhe 11 'o rd.r "Jci!'},'/ific 17l:l1lclgl:lllell/" llJellliollCc/, b!lt Jcien!ijic
m,IIIclJ;"IIl!!II! ÍJ !IO! t1i1)' oj IbeJe del'ices. 1 âlJl not Jlleerillg clt (OJ/-
kcePillJ; J)'J/eIllJ, aI lime J/l/(l)', (lI ftlllclÍolltzl foremelllJ!Jip, nor (lI
(II/y lleUJ (md illlprol'cd Jcbeme ,of Pc/)'illf{ meu, 1101' ti! (lIIy cfji(il:ll{Y

del'iceJ, if !bl:)' tire re,z/!y del'icCJ t!J{z! lIlilke for efficieJl{)'. 1 beliele
in !belll; 1m! tI'bel! l:illl ellljlbdJiziJlg i.r Ihl! IbeJe del'icl:J in UJbole
OI' ill prJl't IIr!: Jlot Jcicnlijic Jllllllizgelllclll; Ihey (ire l/reful ac/jtltlels

lo JCiell!ific JIl:lIugemell/, .lI! (Ire Ibey o!ro "seful tldjtlllc/J of o/bel'


JyJt e1JlS Df maJliIge1llf!n!,

(*) Púgina espécime de Taylor


CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

N OUJ, in its e.rsence, srielltific 1J7aJülgeJllellt iJll'ohcs a complete


mental revoltltiol! on the p,art of the UJorkingma!l engaged in (17)'
par/imlar es/ablislJJ7zent or indtlstry - a complete mental l'ez'olllliull
rm lhe part of i/wre meJ1 as to Iheir dllties toward their u'ork, tOlllard
Ihei, fellow mell, and towal'd Ihei)' emp/oyers. And it invoh'er tbe
eqllally c,omplete mental fez'o/tltion Oll the part uf tbose on the
IIhmelgemem' s sid e - lhe foreman, the .wperintendent, Ibe OWl1C1'
of the bllSineSJ, tbe bo::/rd of directol'S - a complete mental revoluljoll
OiZ lhe;r par! as to lheir d1fties tOUlc1rd lheir fellow tllorkers in t bt
management, loward tbeÍr 1/iorklJleJZ, (lnd tOUla}'d ali of !heir d(úi)
problems. Alld ll'i/bollt tbis complete menta! 1'!!I'oItltion 071 boI/;
sider) Jciclltifir mallagelll!!1I1 dlJf.r no! exist,(*)

(*) «Taylor's Testimony Before the $pecial House Committec», $cientific


Management (N. York: Harper and Brothers, 1947) pp. 26-27_
Síntese biográfica
Frcderick Winslow Taylor nas- consequencia de leituras intensas
ceu em Germantown, bairro da à luz de querosene, obrigou-o a
cidade de Philadelphia, Estado da suspender os estudos.
Pennsylvania, no dia 20 de mar- Em 1874, entrou como apren-
ço de 1856. diz de torneiro e maquinista para
Filho de abastada e culta famÍ- uma pequena fábrica de bombas
lia de quáqueros, deveria adotar hidráulicas, conhecida por Enter-
a profissão do pai, Franklin Tay- prise Hydraulic Works, cujos pro-
lor, advogado com inclinações li- prietários, Ferrei & Jones, per-
terárias. Em 1869, aos 13 anos tenciam ao círculo de relações da
de idade, viajou com a família família Taylor.
para a Europa, onde permaneceu Quatro anos depois, já se,nhor
cêrca de três anos, grande parte do ofício, foi admitido como sim-
dos quais na França e na Ale- ples operário na usina da Midvale
manha. Steel Company. Ali fêz carreira
Regressou aos Estados Unidos rápida: galgou sucessivamente os
em 1872. A fim de se preparar postos de apontador, chefe de
para O' exame vestibular na Es- turma, assistente de contra-mes-
cola de Direito da Universidade tre, mecânico-chefe, desenhista-
de Harvard, matriculou-se junta- chefe, engenheiro·chefe.
mente com seu irmão Edward na As primeiras idéias sôbre o des-
Academia Phillips Exeter. Con- perdício, os movimentos inúteis,
seguiu o preparo requerido e apro- a padronização das tarefas, e os
vação com distinção no exame estudos de tempo e movimento
vestibular, mas, uma deficiência ocorreram· lhe durante o exercício
visual, advinda aos 18 anos, em do cargo de chefe de turma.
38 CADERNOS DE ADMINlSTRAÇAO PÚBLICA

Em 1880, matriculou-se no Ins- ção, nunca trabalh:1l1do, porém,


tituto Stevens, de Hoboken, Nc:w mais de 90 dias para clda e111-
Jersey, para fazer in tlbJenlia o prêsa.
c u r s o de engenheiro-mecânIco Nessa qualidade de J)'Jtcm,lli-
grau que conquistou em 1883. zer, Taylor foi contratado com ex-
Sua elevação ao posto de enge- clusividade, tm 1898, pela Beth-
nheiro-chefe das oficinas d.l Mid- lehem Steel Co., (jue: estava in-
vale Steel Company deu-se pouco teressada, por igual, no sisteml de
depois da conclusão do curso. administração industrial de: Tay-
A essa altura, o corpo de id~jas lor, e no seu método de cortar
que veio a cristalizar-se na cha- metais. Na exposição internacio-
mada AdminÍJlrtl[ão CiCIIlífi((/ já nal de Paris (1900), a Bethlchem
estava em ensaio nas oficinas da Steel exibiu Taylor como uma e5-
Midvale. trêb e: o seu método rápido de
Em 1890, Taylor deixou a cortar metais, que d<:spertou gran-
Midvale para aceitar o cargo de de admiração e interêsse na Eu-
diretor geral da Manufacturing ropa.
Investment Co., emprêsa que ex- Pouco depois, porém, em 1901,
plorava em larga esula a indús- em virtude de desavenças acumu-
tria de papel em Wisconsin e no °
ladas com pessoal da Bethlehem,
Maine, e cujo principal proprie- inclusive com alguns dos chefes,
tário era o milionário \X1illiam c:. Taylor foi secamente despedido
Whitney. daquc:la compJllhia.
Desadorando o convívio e os Apesar de curta e enCfvante
métodos de trabalho dos magna- do ponto de vista das relações
tas da emprêsa, Taylor deixou a humanas, a pZlssagem de Taylor
Manufacturing Investment Co. em pela Bethlehem foi das mais fe-
1893, a fim de se consagrar à cundas do ponto de vista do ,!111a-
profissão de J)'leI7Mtizel', de que durecimcnto de suas idéias. Foi
foi criador e primeiro titular. na Bcthlehem que Taylor compk-
Como praticante estabelecido des- tou, então de parceria com J. Man-
sa profissão, Taylor permaneceu suel White, o invento das ferra-
cêrca de cinco anos servindo a mentas para cortar metais a gran-
várias companhias, que o consul- de velocidade, invento (lHe ficou
taYall1 (;m matéria de administra- universalmente conhecido por Pro-
TAYLOR E FAYOL 39

cesso Taylor-White. Foi igual- vale Co., o mais perfeito e maior


mente durante seu contrato com jamais construído nos Estados
a Bethlehem que Taylor apurou e Unidos.
cristalizou os elementos constitu- Os principais colaboradores de
tivos da Scientific Mmzagement. Taylor foram: Carl G. Barth, G.
Ao receber o impacto daquela M. Sinclair, H. L. Gantt, H. K.
demissão humilhante, Taylor, já Hathaway, Morris Cooke, D. V.
detentor de bom pecúlio, resol- Merrick.
veu dedicar o resto da vida à pro-
Em março de 1915, acedendo
pagação gratuita de seu sistema
a reiterados convites de um grupo
de administração. Desde maio de de industriais, Taylor visitou Cle-
1901 até à morte, não só não
veland, onde pronunciou a últi-
recebeu êle qualquer remunera- ma conferência de seu apostolado.
ção de quem quer que seja pelos
discursos e conferências que pro- Os ouvintes ficaram com a im-
nunciou, artigos e livros que es- pressão de estar o conferencista
creveu, reuniões em sua própria em plena forma física e em um
casa, em estabelecimentos indus- dos seus dias de maior euforia.
triais e em escolas e universida- Taylor versou com espírito e bri-
des a que compareceu para tX- lhantismo o seu tema favorito:
plicar os fundamentos do seu sis- o absurdo de restringir a pro-
tema, senão que custeava do bôl- dução.
so tôdas as despesas de passagem Algumas de suas palavras en-
e hotel, assim como as de publi- tão pronunciadas concentram, num
cação dos livros e ensaios. alleg1'O final, a profissão de fé do
Taylor foi, antes .dt tudo, um criador da administração cientí-
inventor soci:!l, mas deixou assi- fica.
nalada, de modo brilhante e inde- "O aumento da riqueza real do
lével, a excelência de sua cnge~ mundo ... O aumento da feli-
nharia mecânica, pois patenteou cidade do mundo ... O advento
mais de 100 invenções significa- de menos horas de trabalho, a
tivas, salientando-se, dentre elas, oportunidade de melhor educa-
a das ferramentas para o corte rá- ção e mais recreação, de cultura
pido de metais (proCtSSO Taylor- artística, de música, de tudo en-
-White) e a de um martelo a fim que torna a vida digna de
vapor, que fabricou para a Mid- ser vivida se relaciona com o
40 CADJ:.RNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

aumento da produção do indi- Taylor foi enterrado no West


víduo". Laurel Hill Cemetery em Phila-
AinJJ. em Clevcland, Taylor dclphia. Em sua sepultura gra-
sentiu o recrudescimento de uma varam a inscrição: Frederick Wins-
vclh'l bronquite, (lue se agravou low Taylor - Pai da Adminis-
em pncumonÍJ.. tração Científica.
Regressando a PhiLrdclphia, cha- Frank Copley termina a sua
mou SUL médico assistente c foi longa biografia de Taylor com
imediatamente hospitalizado. Cin- esta frase: "The work of the mind
co di,ls mais tarde, na mddrugada endures ... "
de 15 de março, expirava sozi- Em verdade, o tl'abttlho da in-
nho num leito do hospital, onde teligência fica! Sobretudo, quando
{oi encontrado meia hora depois se trata de inteligência objetiva
pela enfermeira. e criadora, como a de Taylor.
CAPíTULO II

HENRI FAYOL
COIIIJJlU bu.lllco!ljl {((/!Ilre.r richeJJI!J eJlcore Íml!i/iJét!J, il y:l !llle
éJlI!rgie cldmilliJ/rtllÍre, rép'lIldlle li l'é1i1t lo/Iellf, CIl qU(!IIlité comidé-
1'c!ble, dclllJ I'bllJllcllú/é fUlIt ellfiere; ce JOllt des forces notlvelles à
dég(lgef, deJ bicnJ ri mel/re eJl l'r!lr:1/f.

IlENRI FAYOL

Tri"le, ti CJOI/clf, jJ(lIlC:ldd fiur fUJlC ;dcl,


A J1ICeiJizic!(/(!c dOJ Jl:'glllldoJ,

Ol/Ç(), em SO/7J .l1Ib/errâneuJ, c!o 01'[;; O/'i!lluloJ,

o cbôro d:1 Encrgic/ tlb:IJlc/IJlUr!d.'

T] (/ clOf de/ Fôrçet deJ,t!lr()l'eif:ld i

--- O c:lIl/ocbão dOJ e/ín.lJlloJ pr()/lIlldoJ,

(2111!, p()dem/o 11101'0' IlliI/J(i,J rle 11/!!lId'!I' ,

! cell! :Iil,''/'[ 11;[ CJ/,ílic,(/ elo N;Ie/,/!

ATíCUS]'O VOS ANJOS


A - As ORIGENS DO F AYOLISMO talúrgica. Seis anos depois, foi
elevado ao cargo de Diretor das
Henri Fayol merece igual- Minas de Carvão de Commen-
mente ser considerado inventor try. Em 1872, passou a dirigir
social. Como Taylor, desenvol- também as Minas de Carvão de
veu experimentalmente as suas Montircq. Em 1888, senhor de
idéias, acabando por inventar sólida reputação de adminIstra-
um sistema, ou melhor, uma dor eficient€, foi feito Diretor-
doutrina, a que denominou Teo- Geral da Cia. Commentry-Four-
ria Administrativa, mas que é chambault ,& Decazeville, que se
conhecida por F'ayolismo_ encontrava às portas da falên-
Henri Fayol, francês, tambêm cia. Ao toque mágico de seu gê-
engenheiro-industrial, foi autor nio administrativo, a emprêsa
da obra famosa, já agora clás- transfigurou-se.
sica - Administration Indns-
trielle et Générale. Nasceu a 29 Quando, em 1918, ao cabo de
de julho de 1841, em Constanti- 30 anos de direção efetiva, éle
nopla, e faleceu a 19 de novem- a entregou ao sucessor, a em-
bro de 1925, aos 84 anos de ida- prêsa era uma das mais prós-
de, lídimo representante da tra- peras da França. Foi nessa or-
dicional longevidade francesa. ganização mineira e metalúrgi-
Aos 19 anos, em 1860, colou ca que desenvolveu a Teoria
grau de engenheiro-de-minas. Administrativa, a que também
Nesse mesmo ano iniciou sua chamava Administração Expe-
carreira profissional como em- rimental, e a cuja propagação
pregado da emprêsa Commen- dedicou os últimos anos de vida.
try-Fourchambault, que explora- Como Taylor, Fayol foi ins-
va a indústria carbonífera e me- pirado e gUiado pelas realida·
CADERNOS DE ADMINISTRA(AO PUBLICA

des que sabia ver na dinàmica B -- ADl'vlINIS1'RADOR EXPERIMEN-


das emprêsas. Sua teoria emer- TAL
p;iu de vivências observadas e
,malisadas durante várias déca- ObsC'rvador sagaz c Ol'iginal
das. Com efeito, poucas doutri- da fisiologia das organizaçõps,
nas terão lastro de falos t;)(l Fayol adotou e cultivou, com
numerosos e aferidos. perseverança impressionante, o
Fayol não foi especulador de hábito dt: anotar e analisar os
cadeira de balanço. Não extraiu faios que lhe pareciam consti.-
do próprio cérebro, a poder de iuir embaraços ao funcionamen-
elocubrações ociosas, o arcabou- to fluer.te das emprêsas. A ml'-
ço clP sua doutrina. Cada um dida que procurava remover ou
elos princípios que formulou es- neutralizar cada obstáculo S\11"-
tava baseado no funcionamen- gido, ia amiudando experiênci,\s
to institucional das cmprêsas de c catalogando fatos - tanto no
que foi servidor. Nada é cere- domínio técnico, indiferente aos
brino, ou hipotético, ou ambí- desígnios humanos, quanto no
guo, no Fayolismo. Tudo ema- domínio da condu('ão de homens.
na do comportamento humano, tüo complexo e delicado. Como
tal como êstc se desenrola, - os resultados das observaçi)es
imprevisível, misterioso e des· e experiências fóssem encora-
norteante - nas relações de jadores, Fayol adotou a atitu-
trabalho. Conduzido pela obser- de de pioneiro, coligiu e siste-
vação ao longo dos caminhos matizou fatos copiosos, acaban-
da prática, Fayol chegou ao pla- do por extrair dêsse abundante
nalto da generalização teórica. acervo um conjunto lógico c1l'
A ciência da administração de princípios. "Da observaçüo pa-
Fayol teve por lastro "o saber cíentc dos fatos - escreveu -
de experiência feito", celebriza- desprendiam-se regras gerais, in·
do por Camões. Daí o haver sido dispensáveis à boa gestão." (16)
acusado de incorrer na falácia Efetivamente, quando exami-
do homem prático. (15) namos o método adotado por

(Ui) Ul'wick, Lyndall. "'l'he Functíon of Administl'ation", Papcrs OH the SC'i€)/('('


of Administration (Luiher Gulick and L. Urwick, Editors; Ncw York :
Institute of Public Administration, 1937). pp. 117, 122, 123, 127.
(lG) ,,~ilbo~s, J. e Vanuxem, P., Essai sar la Conduite des Aftai?"cs et la
D,rectlOn eles Hommcs (Paris: Payot, 1920), Prefácio.
TAYtOR E FAYOt 47

Fayol na coleta e análise do xar alguém para fazer as suas


material com que afinal formu- vêzes."
lou a Teoria Administrativa, ve-
rificamos que êle possuía o dom Aí está como Fayol extraiu
de ver princípios e induzir re- uma regra administrativa da
gras gerais através dos fatos observação de um fato corriquei-
ro, regra que êle próprio emm-
observados, ainda quando êstes
ciou assim: «A autoridade deve
parecessem insignificantes e des-
estar sempre representada)' para
tituídos de ensinamentos aos
todo chefe deve existir um subs-
olhos do observador ordinário_
tit,âo designado.')
Para ilustrar a afirmativa, re-
produzimos a primeira observa- Foi por êsse método que de-
ção registrada por Fayol no duziu, contrastou e formulou os
exercícío da profissão de enge- quatorze princípios de adminis-
nheiro-de-minas, logo depois de tração e os dezesseis deveres
começar a trabalhar: administrativos.

"O cavalo do 6_· pavimento Partia dos fatos e aos fatos


da mina de S_ Edmundo que- se reportava para identificar e
brou uma pata esta manhã. aferir as regras gerais subja-
Fiz um memorando pedindo centes. Segundo o filósofo Emile
sua substituição. O chefe da Boutroux, "o espírito científico
cavalariça recusou-se a aten- é, essencialmente, o sentido do
der, porque o memorando não fato como fonte, regra, medida
trazia o visto do diretor. :F::ste e contrôle de todo conhecimen-
se achava ausente. Ninguém to." Foi, pois, com verdadeiro
fôra designado para substituí- espírito científico, que Fayol
10. Apesar de minha insistên- construiu a Teoria Administra-
cia, o chefe da cavalariça tiva.
manteve sua negativa. Sua re-
solução - disse êle - estava
c- O ENSINO DA ADMINISTRAÇÃO

de acôrdo com o regulamen- Fayol apresenta os defeitos e


to. Resumindo, o cavalo fe- as virtudes do pioneiro. Desbra-
rido não pôde ser substituído vando paragens novas, teve o
e perdeu-se a extração do 6.· mérito de registrar e localizar
andar. Parece-me que o chefe, os principais acidentes descober·
quando se ausenta, deve dei· tos. Pioneiro, incorreu no de·
CADERNOS DI' ADMLNISTRAÇ/í.O PÚBI.ICA

feito de confiar demasiado nas cessidade do ensino da adminis-


próprias impressões. tração em tôdas as categorias
Os exploradores que dirigem C'~colares, ninguém teve a ou-

expedições através de terras já sCldia de propô-lo. Fayol foi um


pisadas, usufruem o benefício pioneiro,] audacioso e contumaz:
de enganos e acertos dos outros advogou tranqüilamente a in-
l'xploradores, podem comparar clusão da disciplina administra-
notas e observações - encon- ção no currículo de tôdas as es-
tram-se, assim, em condições de colas, da primária à superior.
selecionar os caminhos a seguir Nenhum sistema educacional
e os métodos de ação a aplicar. havia até então reconhecido a
Fayol não caminhou ao longo administração como disciplina
de picadas abertas por outros curricular, muito menos como
- palmilhou terreno até então disciplina genérica e básica, in-
(lesconhecido, valendo-se exclu- dispensável a todos - exata-
sivamente do próprio discerni- mente como o Idioma Pátrio, a
mento. Matemática, a História e a Geo-
Várias de suas idéias foram grafia. Para Fayol, a adminis-
propostas pela primeira vez. Ca- tração era uma disciplina social,
reciam do benefício da aferição. porém de tão grande serventia,
Nfío traziam o lastro de outras tão universal em suas aplica·
experiências. Eram perfeitamen- ções, que devia fazer parte dos
te originais. Dentre elas, cumpre programas de ensino de tôdas
salientar a da inclusão da admi- as escolas.
nistração na categoria de disci- Escreveu êle, textualmente:
plina autônoma universal, quase "Todos têm necessidade, em
equiparada às disciplinas inte- maior ou menor grau, de noções
grantes das humanidades. Antes de administração."
de qualquer outro, Fayol pre- "Na familia, nos negócios do
conizo!! o ensino da administra- Estado, a necessidade de capa-
ção em todos os níveis esco- cidade administrativa está em
lares. relação com a importância da
Considerado à luz dessa pro- emprêsa e, para os indivíduos,
posta, Fayol transfigura-se em esta necessidade torna-se maior
verdadeiro revolucionário. Antes à medida que ocupam posição
dêle, ninguém percebeu a ne- mais elevada."
TAYLOR E FAYOL

"O ensino de administração dia em que a administração fi-


deve, pois, ser geral: rudimen- zer parte do ensino das escolas
tar nas escolas primárias, um superiores."
pouco mais profundo nas se-
<lÊ mais difícil, porém, con-
c'Jl1dárias e grandemente desen-
volvido nas superiores_" ceber o que deve ser o ensino
"Êstc ensino, certamente, não administrativo de nível primá-
tornará bons administradores a rio. Fiz, a êste respeito, um
todos quantos o receberem, da ensaio que exporei sem maio-
mcsma forma que o ensino téc- res pretensões, convencido de
nico não faz de todos que o fre- que, melhor do que eu, um bom
qüentam excelentes técnicos_ professor saberá retirar da dou-
Conseqüentemente, não seriam trina e pôr ao alcance dos seus
exigidos dele senão resultados alunos o que mais lhes con-
análogos aos produzidos pela vier." (17)
educação técnica. E por que
D - OS EFEITOS DA TEORIA ADMI-
nüo? Trata-se, sobretudo, de
NISTRATIVA
pôr a juventude em condições
de compreender e utilizar as A contribuição de Fayol para
lições da experiéneia. Atualmen- o progresso e nobilitação das
te, o neófito não conhece nem funções de administração geral
doutrina administrativa, nem paira, sobranceira, em catego-
método, e muitos permanecem, ria única, no mundo das idéias.
~~ssim princiantes a vida tôda." Fei êle que percebeu e apontou
<lÊ necessário, por conseguin- os aspectos profissionais da che-
te, esforçar-se para propagar no- fia executiva; que identificou e
ções administrativas em tôdas proclamou a necessidade de pre-
as classes sociais. A escola terá, paração específica para os admi-
evidentemente, um papel consi- nistradores; que chamou a a ten-
derável a desempenhar nesse ção para a quase impunidade
ensino." que protege os maus adminis-
"Os professôres saberão, cer- tradores, cujos erros raramente
tamente, organizar de modo ade- são descobertos no momento
quado os respectivos cursos, no oportuno.

(17) Fayol, Henri, Administ1'ation Industriclle et Générale (Paris; Dunod,


1950), p. 16-17.

5 - Ca d5. Adm. Pública - 44


50 CADERNOS DE ADMINlSTRAÇií.O PÚBLICA

Quando um edifício desaba, o Antes de Fayol, a administra-


flrquiteto e o construtor são logo ção era apenas inspiração. De·
in digitados como incompetentes pois de Fayol, é processo ra-
ou negligentes. O administrador cional.
que comete erros idênticos nun· Ao passo que, do ponto de
C::l é chamado às contas. As 1'e·
vista técnico - argumenta Fa-
l;!ções de causa e efeito, no pla- yol - um chefe não ousaria
no adminis~rativo, não sitO evi· transgredir certas regras esta-
dentes como em outras esferas bclecidas, sob pena de se des-
profissionais. Isso explica, tal- prestigiar, do ponto de vista
vcz, a displicência geral com administrativo êle pode permi-
que, ainda hoje, se escolhem os tir-se impunemente as práticas
administradores. mais deploráveis.
A falta de iniciativas e a au· Os processos empregados na
sência de empenho relativamen· atividade administrativa não são
te à formação dos administra- julgados per se, mas à luz dos
dores derivam, talvez, da irres- resultados, e êstes, freqüente-
ponsabilidade técnica que carac- mente, só se tornam conhecidos
teriza o exercício das funções muito depois, ou vão repercutir
administrativas. Fayol insurgiu- lá muito longe, tornando-se
se contra êsse estado de coisas assim difícil a identificação das
e demonstrou a necessidade de causas.
ensinar administração, não sô- E concluía: se houvesse urna
mente aos administradores, se· doutrina consagrada, isto é, um
não também a todos. Concebeu corpo de princípios, regras, m{,-
e elaborou uma teoria para tonos e processos provados e
guiar os chefes de administra- cor. trúlados pela experiência pú-
ção. Deu·lhes um instrumento blica, a ~ituação seria muito di-
para orientar e aferir as decio ferente.
sões administrativas. Criou-lhes Fayol elaborou êsse corpo de
um corpo de doutrina que per- doutrina. O Fayolismo tende a
mite apreciar os acertos ou de· tornar, assim, precária a situa-
sacertos de seus atos. À luz da ção dos chefes broncos, guinda-
Teoria Administrativa, os pon- dos aos postos de mando por
tos altos e baixos de uma admi- injunções de fortuna, parentes-
nistração tornam·se evidentes. co, política ou sabujice.
T/,YLOR E FAYOL 51

E - ADMINIS'l'RAÇ.=í.O, DIR1'ÇÃO GE- nislraçéio é uma função compó-


RAL, COMANDO sita, que engloba o sexto grupo
das operações ocorrentes nas
Na linguagem coloquial, os emprésas_ Seu exercícío consti-
têrmos administraçtio e direção tui o que Fayol considera a
empregam-se como sinônimos. "missão administrativa do corpo
Diz-se administração para indi- social." Para caracterizá-la, re-
car o grupo dirigente ou a dire- laciona dezesseis itens, a que
ção geral.
alguns comentadores chamam
Na tecnologia fayoliana, po- deveres administrativos. (18)
rém, a administraçiio distingue- Os dezes~cis deveres admi:1is-
se da direçtío geral. Ao passo trativos arrolados por Fayol
que a administração é função si"to:
católica, presente em todos os
locais de trabalho e no esfôrço 1.° - Velar por que o plano
de todos os trabalhadores, a de açi"to seja maduramente ela-
dir'eç{ío gemZ é funçflO especiali- borado e firmemente executado;
zada, privativa do grupo diri- 2." - vigilar por que o orga-
gente. Fayol afirma que a admi- nismo social e o organismo ma-
~âstração não é privilégio ex- terial. se n'antenham em rela-
clusivo, tampouco responsabili- c~lO lógica com o propósito, os
dade particular dos dirigentes recursos c as necessidadps da
da emprêsa. Ao contrário: ~ cmprêsa;
função ubíqua, difusa, genera· 3." estabelecer direç~1O úni-
lizada, que S0 distribui, entre os ('<c, competente' e vigorosa;

chefes e os chdiados, ao longo 4.° harmonizar as ar;õ0s,


Ô(' tôda a escala hierárquica. c(,ordenar os esforços;
A1l' os operários a desempe- ;'i.O .formular decisões cla-
nham. Fayol chega ao extremo I'clS, ni1 idR.s e precisas;
de determinar percentualmentc 6.' _.- seguir lima boa políti-
a capacidade administrativa re- ca de recrutamento; cada servi-
querida em cada nível da hie- co deve ter à sua frente um
rarquia. homem competente e ativo, e
Em outras palavras, a admi- cada funcionário deve estar no

(18) Urwick, Lyndall, Elements 01 Administrati"n (N"w York: Harpl'l' anel


Brothcrs, 1943), pp. 119-129.
'52 CADE1\NOS DE ADMINISTRA(AO PÚBLICA

lugar em que possa prestar os os clemen tos do POSDCORB de


melhores serviços; Gulick:
7." --- definir nltidamente as P -- planning (planejamento).
atrihuições; 0 - organizing (organizaçflo).
8:' --- eneorujm' o gôsto das
S --- staffing (administraçüo de
iniciativas e das responsabili-
pessoal).
dades;
9:·' --- remunerar eqüitativa- D -- directing (comando).
mente e hàbilmente os serviços CO __ coordinating
o (coordena-
recebidos; çãoJ.
10." --- impor sançõef. contra R --- reporting (informações,
as faltas e os erros; relatórios, etc, J.
] 1." fazer observar a clis- B -- budgeting (elaboraçflo e
ciplina; administraçüo orçamentú-
12:' ., - velar por que os inte- ria l. (20)
l'r~;S('s particulares sejam subo!'·
(1in:trl()~ aos intel'Ê'ssl'S da em- Apesar de o comando tam·
pl'('sa; bém fazer parte integrante da
1:L" - prestar particular aten- administração, é no capítulo sôo
(.;; o i unidade ele eomando; bre ol'ganizaçi'ío que Fayol es-
14:' - supervisionar a ordem tuda a "missão administrativa
m:deJ'ial e a 01'(1l'm social; llo corpo social" e trata da di-
[5." _. submptcr tudo a COI1- 7'cção geral. Quando indica, nes-
llúlt' ; se capítulo, por exemplo, as qua-
1 G:' - -- combater os abusos dp lidades c conhecimentos dpsejú-
)', >é-;ulamentaçào, de formalismo veis nos chefes das emprl'sas,
bnrocrúticCl, de papelório, ptc., enumera em quinto lugar a ca-
etc, (19) pacidade administrativa, intp-
grada por cinco subcapacidadps:
Se se aplica o critério fun- Primeira - a capacidade de
cional a essa lista empírica, ve- elaborar e fazer elaborar o pla-
rifica-se que ela contém todos no de ação (prévoyance);

(19) Fayol, Henri. op. cil., p. 65.


(20) Gulick, Luther, "Notes on Uw Theory of Organization," Pape,'s Oll ti/e
Sl'icllcc of A drninistl'lltion, (Luther Gulick and L. Urwick, editors; N tW
Yo,k; Institllte of I'lIblic Administration, 1937), p. 13.
TAYLOR E FAYOL 53

Segunda -- a capacidade de nho. A faixa da ação adminis·


organizar, especialmente no trativa, tão estreita no nível do
constituir o corpo social (orga· trabalhador de oficina, ocupan·
nisation) ; do-lhe apenas uma fração de
Terceira ~ a capacidade de tempo e dêle exigindo apC'IE::;
liderar, ou, na linguagem fa· 5 'lo de capacidade administ:·;(·
yoliana, "a arte de manejar os tiva, vai·se alargando pela es-
homens" (eommandementl; cala hierárquica acima, até que',
Quarta -- a capacidade de no ápice, absorve quase todo o
harmonizar os atos e fazer con· tempo dos dirigentes, exigindo
\'cl'girem os esforços (eool'dina· dêlcs nada menos que 85 % ele
tion) ; capacidade administrativa. Essa
pilrcela enorme de responsahi·
Quinta a capacidade de
lidade concentrada no vértice da
comparar o programado com o
hierarquia representa a soma
executado, o plano com a a Ç'flO , das atribuições da direção geral.
a instrucilo com a execução
(contrôle ), Nas cmprésas pequenas, a
Em que consiste a cZil'cçao missão ildministrativa do diri·
geml? A direção geral é, por gente caracteriza-se pela simpli·
assim dizer, o tecido nobre do cidade. Nas emprêsas médias e
sistema administrativo. Tem por grandes, torna·se gradualmente
fim conduzir a emprêsa para mais complexa, a ponto de exi·
a realização satisfatória de suas gir qUf' a direção geral se apóie
finalidades. Cumpre-lhe tirar o num estado-maior composto de
melhor partido possível dos re· pesquisadores, analistas, parece·
cursos disponíveis. Cabem·lhe, ristas, especialistas, incumbidos
especificam('l1te, as tarefas de ele f:studar os problemas e iden·
planejar, de recrutar, seleciona r tificar as vantagens e desvill1·
c aperfeiçoar o pessoal, ele orde· tagens de cada solução possívd.
nar o ritmo das atividades, e de À luz da doutrina ortodoxa de
controlar a execução do tra· Fayol, a direção geral comp)'\,·
balho. ende necessàriamente dois tipos
Fayol não itemiza os Jeveres de funções complementares: de
d'l direção geral, nem prescreve estudo e de decisão. As funções
regras ou preceitos empíricos de estudo competem especial·
para orientar o seu desempe- mente ao estado· maior. As fun·
54 CADERKOS DE ADl\flNISTlZ/\(AO P(rBLICA

ções de cledsCIO cabem obvia- essa missão se concentra nas


mente aos cheips_ mãos ele um ou de poucos chc-
oestitrlo-maior deve consti- fe's, mas se reparte entre todos
t 'Jir-sr' de tal moela q'.le, pela os dirii~entcs ela empl'êsa, Quem
(~l!nr qlll' ocupe um pô,',!o de
compdência pl'OJié;siol1:J.l e intc-
t'yid,lelC de SC'lS componcntes, criciia cictéll1 , i1J~o facto) l:Jna
possa rlesincumblr-se das rcspec- parcela de cOlJwndo, Em vfu'ias
tivas funções com plenitllde ele pilssagens de scu livro, --- pOí'
l'CCUl'SOS, prestigio na institui-
exemplo, Cluando trata dOf; che-
<:50 c con_(jn.l1ça d03 ::::;upcriores. fes (I".,
gl'a;1rlcs empl'êsas
j '<Jyol et" Une o comando como
O c[lde cxf')'cc a <:.\l(Oi.'lc!;Hlc
"a iJ c' de rl1é:tncjar os honlcns",
e'statul{lria isto {:, o e1ircito
c1('~iniç:ii:J C]uc repete no cupitulo
de decidir c o !Jade' (),~ ~:;c fc~­
(,:2r1icaCiD ao contando, Em pa:,-
zcr ()b(~d(lcC'r. () a~~-;~'~;~.;or 0XCl'CC~
:"êgCíl1 étnicriOl', refere-se ao
a autoridade (te id/~!:J:;, a aula-
"(]orn de cGnl~ndal~". I)ara pr;t-
l'id~l(k técnic:l is( o !\ ,\ vez
t l('a.~"" bCln essa arte, ou cxcr-
d,,, (',clarc('('l' c a o)lrJl'turúla- cc,' (;;;5(' dom, o autor ofcrecc
li'~ de sc (:JK'l' ouvir. J:: através
um" li:;t:l r:mpírica de oito re-
di' urna cCtmbinac:Cw adequarla
gl'a~; ou p\'e;;citos, deixando cla-
das fLmçôrs de (>stuclo com as
ro, por6rn, ~l1C nDO a consülcl'a
funçõ'::s de decisão que se intc- dcfinitiva, As oUo regras fayo-
[':l'a o proc('SSO dc formular po- lianas de comcIr;do são:
líticas. lI: rr~,('di(ln t(' a Ci1?ljuga(':io
ela ilutoi'iclaclf' r:ilatutC\é'ia com a Primeira .- conhecer profun-
:lutoriàade i{:cnica ou cj{~'n1íf!ca (lam:'n1c o pessoal;
qUfl ~;í' C]:l o pr()('f;~"~) (~2 (ipfinü" ~;eguJlda eliminar inca- 0;,
(~b,i('ti\~os c (,s(~01h('r run10S de P;I?:CS;

~~ C';-lO T(,l'C'cira cstét1' cn1 dia C01TI


\T('j;in1.0'-i a:;or~ (lU: ~ a difc- (t ':-l ('onvcll('õcS exi~;tcn tcs f"n t r(~
:"','H.:a entre di)'('('flu (jC,'0/ (' <:0- a (;nlprC'sa c' seu::., agentes;
Q1Jal'1 a dar o hom exem-
)}trmdo, O ('Oi;'(1,UJo Ó UD1 dos
('~nc() c10n1cntos da adn!fl1'i8t{'(l~ plo;
('(7o, p':prCSS0.nlrnte cnulTIcraàos Quinta fazel' insp2çõcs pc-
e analis<1clos por F:lyoL Sua mis- riódicas do corpo social;
,;:\0 consi.,j(; rro "ÜEC]' funcio- Sexta - n,unir SCl\~ princi-
nal' o corpo social", Tampouco pais colaboradores cm conferên-
TAYLOR E FAYOL 55

cias de coordenação, com o fim êsse respeito, para dissipá-las


de assegurar a unidade de di- bastaria lembrar que, entre os
reção e a convergência dos es- seus catorze princípios de admi-
ferços; nistração (não confundir com
Sétima - nüo se deixar absor- os dezesseis deveres administra-
ver pelos detalhes; tivos), Fayol enumera e anali·
Oitava - diligenciar por fa- sa, em separado, o pl'incípio da
zer reinar no pessoal a ativi- unidade ele comando e o princí-
dade, a iniciativa e o devota- pio da unidade de direçã.o. O
mento. (21) princípio da unidade de direção
Tem-se a impressão de que, enuncia-se assim:
na tecnologia fayoliana, o co- "Um chefe único e um pro-
mando assemelha-se muito ao grama único para um conjun-
que os autores americanos cha- to de operações que visem ao
mam leadership. Parece que o mC'smo fim."
comando se realiza muito mais Já o prinCípio da unidade de
por efeito da integridade moral comando tem o seguinte enun-
e idoneidade profissional, indis- ciado:
pensáveis ao comandante, do "Pal'a qualquer ação, um
que por efeito da aplicaçüo me- agente não deve receber ordens
tódica de regras empíricas ou senào de um chefe único."
de disposições legais. Diz êle que a unidade de co-
Faz-se dificil perceber a dis- mando não pode existir sem a
tinção entre direção geral e cc- unfclade de direção, mas que
mando. Mas não há dúvida: uma não decorre da outra.
Fayol distinf,ue entre uma e Do ponto de vista lógico, tal-
outro. Antes de mais nada, as vez seja essa a parte mais vul-
conslderar;ões que emite em tôr- I1f>rúvcl da teoria de Fayol. Cem
no da direção geral figuram no efeito, nüo se discerne clara-
capítulo sôbre organização (V_ 1'1!'nte a diferença que existe
pp. 64 -- 119 de seu livro). O eiltrc c?i)'cçeio gcrol, que é o "po-
estudo sôbre o comando consti- der eccccllti.vo", e o comando,
tui capítulo ü parte (V. pp. 120- cuja "missão é fazer funcionar
127). E se dúvidas pairassem a o corpo social." Não se sabe
CADE!1.i\OS DE ADMI0:ISTRA(ÃO Pl~BT.ICA

se a direção [ieral é aU'ibuiçiío concepção e propagaçClo da


do comandante, ou se o co· idéia de planejamento global {'
mando é atribulc::lO do diretor· ~l longo prazo. Com efeito, Fa·
geral. Ainda quo nem todo co· J"ol foi o grande e límpido pre·
mandante seja rii;'otor·geral, {- cursor do plane.iamento modero
di fiei! conceber·se um diretor· 1,0. Iv'Iuítos anos antes do lan·

geral que n:1O eomand,:,. c::amento do primeil"O plano QÜ:ll'


De quaJque~' modo, o traia· ,"!üenal soviético, Fayol havia
mnnio dado por F'ayol à !lInç{io fecHo a apologia do plane.i<lmen·
ru7Jninistm!i1"r l , à dirp("l(o geral, to global c dos planos de longa
ao c;J))l('ndo <.' i\ oJ":;oni:o('i(O cturaçfLo, de cinco, dez e mais
t'hO~~~l p:1";(1.. C'0r~v~nccr os mais :'11OS. Para ('le, IJlan('jar ó cal·
incré/lulos ele que administrar i'uJar o futuro e preparar,sl'
nilO é, n0n1 pndc S(,1". encarro para a ação, _.- e admin ist ra I',
sus<.'C'ptível de eXCl"cí.do empíri. l,;m processo que começa preci·
co. r:xig~, ao contrório, prcp;J." samente pelo planejamento.
l'aç:io IOll.gél, sistemú tica. pro·
fundil, a~;sim como rCllovac:lO Uma das melhores definkões
fF~qüC'[)j(' ele i(1&i,lS e conceitos. de plano que se conhecem, defi·
F(l;"pl logrou injei ar conioü· lliÇ[1O que se ajusta como luv:t
do elo r;;ciomtlicl;ldo ;1a fun(';"jo aos planos de longo prazo, (lou·
administrativa, illcompatibiliziln· a Fayol, 110S soguintes têrmos :
do·a com os improvisados. O
impacto do Fuyo7isJJ10 no patl'i· "O plano de ação &, ao mes·
mônio científico da hun-;anidar1c mo tempo, o resultado visado,
l'('IH'csr:nta, poIs, séria anleaç.:t a linha de conduta a seguir, é'.:'
Ü situac::50 do ac1ministrac\or ern·
dapas a vencer, os meios a em·
f\i~'l('u c c()mpl:1C'('il(e, fJW~ elo\"o
pregar. ~; uma espécie de qua·
o pô~to ao s('rvi1ismo~ (lO P:-1._ dro (lO futuro, om que os acon·
l'enti'SCO ou ao aventul'i'irisr:1o 1('cinwl1tos proxlmos .figuram
jlolíti('o. com certa nitidez, segundo a
illéia que déles se forme, c f'm
Ti'. F.\LADTNO DO rL.\NJ".JAEJ"NTO que os acontecimentos l'{'motos
GLOBAL i1paroeem gradualmente mais
Vi1gos. É a marcha da t'mprêsa,
Outro gréll1(k mérito de F'ayol prevista c preparada para um
deriva cie seU pioneirismo na período determinado de tempo."
TAYLOR E FAYOL 57

Ninguém ignora que nenhum Ora, a doutrina ele F;;tyol só-


país tem explorado mais a fun- bre planejamento preconiza pre-
do do que a Rússia Soviética a cisamente essas mesmas carac-
pr;'lUca do planejamento global terísticas. No livro que publicou
e ininterrupto, e dos planos de em 1916, recditando idéias ex-
longél duração. Basta dizer que postas em duas conferéncias
se élcha f'm execução, no mo- pronunciadas em 1908, em Saint-
mcnl0. o sé'timo plano periódico l':üenne, aparece, em primeiro
lugar, a apologia do planeja-
o planejamento global c a mento global e a longo prazo,
longo prazo incorporou-se defi- in verbis: "Em resumo, o pla-
nitivamente às instituições go- no de ação facilita a utilização
vernamentais soviéticas, a pon- dos recursos da emprêsa e a es-
to de se confundir eom elas. De colha dos melhores meios para
ta.! n1odo o planejamento se chegar ao fim; suprime ou re-
identificou com o processo de duz as hesitações, as manobras
"sovif'tlzél(:iío", que muita gente falsas, as mudanças injustifica-
se esquece de sua origem capi- das ele orientação; contribui
talista e considera-o t1istintivo para melhorar o pessoal. É um
da ideologia marxista. precioso instrumento de govêr-
no. Cabe indagar porque tal
O que geralmente nf\O se sabe instrumento não é geralmente
é que a política (!e plélnejamen- usado e geralmente levado a
to seguida pela Rússia Soviética SPlI grau mais alto de perfei-
parece obedecer fielmente i\ dou- ção. A raz5.o provável é a se-
trina fayoliana. Quais são as guinte: a elaboraçfto ele um
gra:1(1e3 earacterísl icas dos pIa- plano de açüo exige dos diri-
ras estatais russos? São as se- gentes cel'tas qualidades e COI1-
[_:ui'ltes: (I) 2. unidade dos pla- rlições muito e1ifíceis de se reu-
nos gl(;hais; /)l a continuidade nirem." (22)
(10 planejamento; c) a perfeita
;l~'iicubç;lO dos planos, que se
QU8.l1to à unidade dos planos
ó'ucedem uns ao~; outros, sem in, globais, eis o que disse Fayol:
tervalo, em cadeia sem fim; "N5.o pode haver em execução,
dl a periodicidade qüinqüenal. ao mesmo tempo, mais que um

(22) F'aJ'ol, Ih'nri, i hâe1ll , pp. 59-60.


58 CADERNOS DE AD:t-flNISTRAÇÃO PÚBLICA

plano: dois planos diferentes qüenaI, dar-se-ia o caso de ha-


implicariam dualidade, confusüo vê-la FayoI preconizado também,
c desordem. expressamente? Leia-se a se-
Mas um plano 1)0\1f' divirlir- guinte passagem de seu livro:
Sf' em vúrias p~Ftr'S. 1'1 :.' s gran- "Para consel'var a unidade do
rles emprêsas cnconll·a-sc'. ao plano, é necessário, cada ano,
lado elo plano g(;re?, um plano harmonizar as previsões decc-
técnico) um plano co m cl"l'Íu I, um nais com as previsões anuais, se
p!a!10 jinancciro, etc., ett'., ou bem que, ao cabo de alguns
pI11[,0 um plano glubClZ, junta- 2nos. as previsões decenais gr-
mCllte com um plano ]JurtieIl7u/" ralmentc estejam de tal ma-
p:cra c2da :"·fvi('o. l\bs todos neira modificadas, transforma-
ês?cs planos silo articulL\dos, sol- das, que deixam de ser claras,
dados, de maneira que se fun- irapondo a necessidade de re-
(tr:nl num só. Tôda T!~odinc:c<:iio vlsüo. Com efeito, o uso esta-
introduzida em qualq!.l':'l' clêles b'lecido é refazê-las de cinco
~;(~ reflete também no ))I.,no de em cinco anos.
conjunto". (Z;l) "A l'egra é que a:s previsões
Q\wnto à condtJ\11d~\(1(' dd pIa- rlilccnais sejam refeitas de cin-
rwjamcnto e à suc:'s,:;,.-irlarle dos co cm cinco anos. Dessa forma,
rJanos: sempre se tem uma linha de con-
",\ ação diretora do plano duta, traçada previamente, para
(~.'vC' ;,('r canl h: Ifa. Or~l, os li- um período de pelo menos cinco
mites da persj")íc:'cia hlm1,'na re- ({nos." (2:;)

rj(~em-s('. fon:o,'i'imrnle. na (lu·


':J{_,,'f!o dos p1~1I1()S. I)al\1 que n;lo
haja intr'TupC:flO na ação dire- N~lO haver:" exagêro em afir-
l()fn, {~ necessúrio flt~e t.un se- mar-se que ninguém foi menos
:.}p;do plano sucl'rla no primPiro profeta em sua terra do que
"~-:::'m jnt0rv~do, 11}TI tr:rcciro ao F'ayol. As repercussões de suas
'iegundo. e élssim por diante." (24) idébs na França nunca ultra-
E q\:anto Ô. p"r i ucliciclac1c qüin· pas.::aram a superfície. Somente

<o F'ayol. BC1 nl'; ii';(:, p. ::i0.


(:~n IOI', cito
(~:) il)f.r.l., J). G:L
TAYLOR E FAYOL 59

depois de haver sido o Fayolis· a aplicar métodos modernos na


mo reconhecido e adotado pelo administração pública." (26)
governo belga na reorganização Para se ter idéia de como a
do Ministério da Defesa Nacio· França sempre considerou o Fa·
nal e do Ministério da Agricul· yolismo com falta de entusias·
tura, foi que a França oficial se mo, e até descaso, basta dizer
dignou abrir uma de suas re· que o escôrço de biografia de
partições, o Departamento dos Fayol, constante do G'fIande La·
Correios, Telégrafos e Telefo· ro/(.58c, não só é extremamente
nes, à Teoria Administrativa de sóbrio nas informações, senão
FayoL também mutila a obra de Fayol,
Em mensagem enviada ao a ponto de amputar da mesm::l
Parlamento, em julho de 1922, a parte essencial. Com efeito, a
o Governo da França dizia o transcriçüo do artigo no origi·
seguinte, revelando que até nal dispensa comentários. Ver·
então o Fayolismo não havia se·á que o Laroussc ignorou pre·
obtido reconhecimento oficial cisamente a parte nobre, desen·
naquele país: volvida e original da Teoria
"Muitas atividades governa· Administrativa de Fayol. Ei·la:
mentais em países estrangeiro;; "La doctrine connue sous le
já adotaram e puseram em prá· nom de fayolisme enseigne les
tica os métodos administrativo:.; régles et les méthodes qui doi·
que desejamos introduzir na vent guider los chefs d'entn'·
administração do Departamen· prises dans l'administration d('
to dos Correios. Na Bélgica, o leurs établissements. L'organisa·
Ministro da Defesa Nacional pu· tion préconisée par Fayol rc·
blicou um folheto que contém pose non SUl' la division des
um bosquejo das idéias de M. fonctions comme dans le sys·
Fayol, as quais foram postas tême de Taylor, mais SUl' la
em prática em seu departamen· division des services. A la tête
to com grande sucesso. A Fran· de chacun des services se trou·
ça não deve ser o último país ve un chef ayant autorité ex·

(26) Fayol, Hcnry, "The Ac1ministrati\'c 'l'llCory in the Statc." Papers on


the Srience of Adrninisltatirm (Lutl](>l' Guliek and L. Urwick ec1itors;
New York: Institutc oi Public Ac1ministration, 1937), p. 101.
60 CADERNOS DI: ADl\fINISTRAÇÃO PÚBLICA

clusive SUl' l'cnsemble des su- grupo de países, Fayol não teve
bol'donnés, dont chacun a, dans maior rcpercuss50 no repertó-
le domaine qui lui cst assigné, rio técnico brasileiro. Suas idéias
pleins pouvoil's SUl' ccux qui tornaram-se mais ou menos co-
sont sous ses ordres. La base nhecidas no Brasil, porém nào
de cette organisation est donc lograram deitos tangíveis nas
l'unité de commandcmcnt et pr[üica s administrativas.
l'unité dc direction. Lcs opéra· IIoje. como antes, continua-
tions auxquclles dO!1lwnt lieu mos a transgredir calmamcnir',
Ies entreprises peuvent se ré- lIa rlinâmica das repartições pú-
partir el1 cinq gl'oupes: 1," bJic:as e emprêsas privadas, to-
opérations techniriues; 2." opéra- dos os princípios administrati-
tions commerciales; 3.'" opéra· vos de l"ayol. No serviço públi-
tions financicres; 4.° opérations co, por r'xemplo, ninguém pensa
de sécurité; 5.? opérations dc em f'limillar os incapazes e 1'a-
comptabilité." (27) l'ament<, os interêsscs gerais pre-
Viram? Afirma o Laroussc valecem sôbre os lllterf'sscs par-
que, segundo Fayol, as opera- ticulares.
ções ocorrentes nas empresas se Tome-se, ao acaso, qualquer
dividem apenas em cinro gru- dos cat{))'ze princípios de admi-
1'08, os enumerados acima. Omi- nistra~'ão, assim como qualquer
te precisamente o sexto grupo, dos dezesseis deveres adminis-
indicado por Fayol - o das 01)C- trativos de Fayol, e e~(élminc-~(',
,'nções aclminisfmtivCl.') -~- essên-
à luz dêles, o comportamenü, d<-
cia, origem, regra, medida e con- q\1alquer dirctol' executivo no
trôle elo Fayolismo! Dr'asil.
11 O F'A YOLISMO 1\ o BRA:~rL O obsp['vaLlor n:lo titu!Je,ll';'1
em concluir que o FuyoUsnw
Embora até os começos da ;-linda não deitou raízcs nas ins-
Segunda Guerra Mundial o Bra- tituições m!ministrativas bl'élSi-
sil estivesse muito mais sob a leiras.
influência cultural francesa elo Fayol demonstrou, além rk
quc ele qualquer outro país ou qualquer dúvida, que a 111('1110-

(27) Larov~~..w du xx.~\ ~i("·clv (F'aris: Librairil' I.úil'UU~iSt', lD30) \'01. 3,


pp_ 42\H30,
TAYLOR E FAYOL 61

ria da ac1minisl ração não se ralizaçõcs vúlidas. Para nós,


consegue simplesmente através administrar é ainda uma arte
do aumento da produtividade, empírica, em que predominam
ou da baixa dos custos unitá- as opiniões, os impulsos, os ca-
rios, ou do planejamento das prichos, até as superstições.
unidades subordinadas da orga- Qualquer bom ?nôço ou qual-
nização. Consegue-se, antes de quer bom velho satisfaz os re-
tudo, mediante o treinamento quisitos do administrador.
deliberado dos administradores, Em suma, pode afirmar-se: as
dos chefes executivos. Essa con- repercussões do Fayolismo no
cepção está longe de ser aceita Brasil até agora ficaram cir-
no Brasil. cunscritas ao mundo das idéias.
Os chefes executivos conti- A obra fundamental de Fayol
nuam a ser escolhidos e man- foi traduzida para o Portu-
tidos nos postos por motivos guês. (28) Suas idéias têm sido
que nada têm a ver com a ido- discutidas em cursos, teses de
neidade profissional. O Brasil concurso e artigos de revista.
ainda não assimilou a idéia de Mas, até hoje, nenhum efeito
que a administração é suscetí- prático e observável projetaram
vel de prática profissional, se- em qualquer das esferas de go-
gundo cânones explícitos e gene- vêrno.

t2S) Ailmillislraç,ioIndl<st)'illl e Geral, tradução em língua portuguêsa ele


Il'ene de Bujano e Mário dI' Souza (São Paulo: Editôra Atlas S. A. 1950),
LE BESOIN DE NOTIONS ADMINISTRA TIVES
EST GÉNÉRAL('~)

D,ms fOf/tes les sortes d'éll/re/JriJ:J, 1., c(/!JMilé !JrincijJ':.!f des


agents illfériellH 01 lel c(/[Jrlcité iJ}'ojeJJiotllzeJle ((Ir:/-rléris/ique di!
l'en/reprise, el 1:1 ((Iptlci/é princijJ(i/e der gr'illrlJ (be/J i!J/ lei captlcilé
t.dministrrl/i re.

L'dclmilJiJ/r:ltt'rJi/ ;I~ jir'1lre


u
m;1IJ1! IhlJ d:uu In Ino".
~ a Ó
rdJliil/(S c["'i!-
seigl1cmrmt des éco!eJ .wpériellri'J de génie riz'il. POllrqlloi?
Est-cc qu'on mécOllJlrli1 l'impor/mzce de !,I capclri/é ddmilliJírd/Íl;e?
N on. QII' il s'{/gi.rse de cboisir 1m conln-mail re parmi d es
cOI!/res-maitres, 1m directe1ir P(/}'!lÚ deJ illgéllie1li'J . .. Ci! Il'e.rt jil/7hiJ,
011 presq1ie jClilhli.r, 1,1 câpacilé lalnziqm! tj!li déterlllil2l: 11' c/Joix. GIZ
S'âSJlfre, hitll Ollend1i, 1/ft! f ti dOJe de c'i!!t/cilé hcblliq/f:: l1éceJStúre
es! préJellfl:; lIldÍ.r, rel,z t,ÚI, prlrmi dus c:1J7did'ils de l':zlwr /crlmiqlle
cl peu pres éq?lÍ1J(/lcnh. 011 dOlllu! 1:1 !,r,)érulCc {I {(lllIi tjlli parait
SlIpérie1l1' /JO//I' !cr q1l,ililéJ de ItllIIe. c/'Ii/florilé, d'ordre, d'or,f7 allis:z/ioll
et ali/res -qui IOJlt lr:J ú!hllell/J llIêllleJ de 1.1 (tljurilé :i{jllli~IiJtr,!!ire.
Sel':ú!-(i! /li/r,,!! que 111 ((zpcl(ité tldliliJIiJ/rdlil't' Ih' jJi:ut J'{/(ljuérir
que ddm la jJrdliqtte dn (ljlrlirI!J?
le C1'OlJ hien qlll! c'eJI ta raÍJoll IjU'OIl Je donm. Gil I'I!J'I'â qlt'elle
esf sam vâ!etlr et que, fn réâlité, la ctlpczcité tldminiJtrc/tive petlt ef
doit s'acq1lérir COIl217/(( 1(1 cap,zcité lerlJlliq/fe, cl l'école d'clhord, à l'cltelit·,.
enmi!e.

(*) Página espécime de Fayol


LI 1'}';/!e rel/.lOI? de t.l!Jkll;·U )'ell I11 dil/illi.,/r,ili( d.!!/I
1/05 éco!eJ pro!l:ui()}liIc//e.r, C'C'! !'tib'cI!C(' de' d(}(frillu. SIIiJ doclFillt.
iI 11';' (/ PCIJ d'emciglhlJiCIlI POI,II';!'" OI', I/ 11) ;{ {':!J (r dOi/rl/ic
,,,)lIIllliJ/r,;/il'L' (Olll:icrúe, JOi!ie ele /,1 di,(/!JJioil !ill!JlújiIC.

Lê r c!oclrillcJ jl~rJo'lIh/1c1 111: JlUI/lj1ICiI/ ji'/J. nll I',i!} I,'!.'. t' de


d'H/iill" (oIlJ:!rréc. cb.,ulII llt'1I/ Jé' cwire C/I de, mediu/ri J
mélbodu" cl /'011 /}<:/I1 l'oir j!(!I'!o1l1 d:liIJ l'i;Jdm/ric, d:!!/, (,I(/ih:'. Jlln
/(/ j:ilJúlle, dtlllJ tE/,lt. /el fir:!liql1L'J /c.1 p/li., ('Jillr,ldic/(Jiu!\
rldmilli,/rtllil'l! (Oili:laú,. Jorlie de /,{ diJC1IJJioJl JI1i/;/I(jl! •.

'J',mcliJ Ijl/C11I jJoilll de l'IIC tcdmi'f1lc l/1l {bel ilC .!':!1Ii',;i1 :I/!, r
col2tre cCI'l:iilleJ r'\~/fJ él:1blin .r:li2J ,i padre IOlll
(//1 jJOill1 de l/1e {Ii/millil/r.llif i! iill!'!/liúiJ/(!.'! /, I

jlril/irjl/cJ leI' p/m f/idHl/IeJ.

Lo !nocédér um/I//))!:' Ilc JOII! JUs jiigéJ UI C1/X-J)I~IIlCJ. 711. li ,


P.II' /1:1/1', dW//illr qlli J,J!I! .1'01/1'('111 ferI /oill/{lÍm cl Ij/t'il "rI c~éli(­
l',dt'IIlUllt dif fici/c ri e re/iel' (I /CliJ'J ({/1/JuJ.

T01lt (111/1'1' Jeuil ri


Ji11l,lliOIl ,r'il ('xiJ/:úl 1/lIe doclrille (OIlJ:liTi,.
('csl-ci-di,,!! 1117 ellJemble de prillcipl:J. de l'ég!es, du mél/Jod::J, de
prorMés épro/ll'éJef cOI!lril/éJ lul' !'~xpérjt'lI(e puUiljlle. Ui

(*) Administration Indllstrielle et Générale (Paris: Duno,l, 1950) pp. 1),


14, 15.
Síntese Biográfica

Henri Fayol nasceu em Cons- ção com os aspectos administrati-


tantinoph, a 29 de julho de 1841. vos da exploração industrial, até
Em 1860, aos 19 anos, colou então ignorados ou relegados, na
grau de engenheiro na Escola Na- França, para o plano das coisas
cional de Minas de Saint Etienne. sem importância. Ao pronunciar
Entrou, no mesmo ano, para a um discurso perante o Congresso
emprêsa de mineração Commentry Internacional de Minas e Meta-
& Fourchambault, em que iniciou, lurgia, naquele ano, Fayol ousou
simultâneamente, SUl. carreira de criticar a formação livresca dos
engenheiro e sua obra de criação engenheiros e a indigitar a indis-
administrativa. pensabilidade de iniciá-los nos se-
Em 1866, foi feito diretor das gredos da administração racional.
minas de carvão de Commentry. A segunda manifestação públi-
Em 1872, passou a dirigir cumu- ca de intcrêsse original pelos pro-
lativamente as minas de carvão de blemas administrativos, deu·a Fayol
Montircq. em 1908, no curso de duas con-
Em 1888, elevaram-no ao car- ferências pronunciadas por êle na
go de diretor-geral da Cia. Com- Escola de Engenharia de lvfinas
mentry-Fourchambault & Decaze- de Saint Etienne.
ville, que se achava às portas d,l Mas, a doutrina fayoli:ina, às
falência. vêzes chamada pelo autor Teorid
A gestão de Fayol prontamente AdminÍJ/rdtivd, outras vê z e s ,
debelou a crise, restabeleceu e Administrdção Experimentt1I, só
consolidou a prosperidade da em- veio a público sob forma defini-
prêsa. tiva em 1916. Com efeito, foi
Data de 1900 sua primeira ma- naquele ano, quando a Primeira
nifestação pública de preocupa· Guerra Mundial estava no apo-

6 - Cad. Adm. Pública - 44


CADERNOS Dl' AD1\flI~ISTR}'(>\() PlÍBUCA

geu, que Fayol publibou, no EIII- (lU~ a Fayol. Le Ch::tdier, por


lC'liJl de /" SfJciclé de l'fliill/llIi,' exemplo, tipifica a atitude dos
Min/r,t/e, a primeira e a segunda intc:!<.:cluii, [Llnc'cses: traduziu
partes de sua obra princip 11, inti- Taylor, prOjHgou o taylorisl1lo,
tui'da AdIllÍiÚJ!r:I/ioll IJldllJ/rielle glorificou Ta)'lor, In.lS timbrou
et G'éllérale, que deveria compre- em ignorar F.:yol, a cuja obra j~;­
ender quatro partes, conforme o l1uis fêz a mais rcmot~, alusão.
phno anunciado pelo autor. F,\yol co!lstruiu a sua Teorie\
Em 1918, ao cabo de '58 anos Administrativa com os matcri,lis
de ativid:lde na Cia. Commcntry- vivos da pr:üica, Foi vcndo ad1lli-
-Fourcl1:lmbault & DeC:izzeville, e nistrar e administLlndo que êle
de 30 anos de direção d,l mesma, vislumbrou, deduziu, identificou c
Farol retirou-se da emprts:t. Ti- enunciou os seus princípios admi-
nha então 79 anos. nistrativos.
Em 1919, foi comissionado pelo
As obse:rvações de (lue se valeu
Govêrno da França para estudar
p.lra elaborar a sua doutrine" êle:
a organiz'ção do Departamento
as colheu e analisou durante mais
dos Correios, Telégrafos e Tele-
de cimlüenla anos, ao longo de
fones do país. Scu relatório sôbre
sua longa carreira de administra-
aquela repartição foi publicado sob
dor,
o título discriminativo ~ "A in-
capacidade industrial do Estado O mérito principal de Fayol
---- Os serviços de correios, telé- consiste no lançamento d'-l idCú
grafos e telefones." de que a administração pode e
deve ser ensinada, e na introdu-
Em 1922, fundou o Centro di'
ção do raciocínio experimental nos
Estudos Administrativos p.1Ll l'1!-
domínios deI administração. Estu-
11d de l'eJprit publique.
dou a fisiologia da administração,
A despeito dessas ocorrências, fixou o conceito de Estado-Maior
Fayol nunca logrou maior aceitação e demonstrou a sua imprescindi-
na França. Com efeito, nin~u~m bilidade em tôda emprêsa, demar-
terá sido menos profeta em sua cou a área funcional dt chefieI
terra. A F rança j amais lhe reco- executiva, colheu na intimidàde
nheceu o gi:nio criador. das emprêsas de que foi diretor
A jll/elligen/sia francesa sempre os exemplos e as regularidades
deu mais importância a Taylor do com que elaborou sua doutrina,
TAYLOR E FAYOL

Representativa de: SU.1 atillilL dos, c,:t.lbcLccr expcriêllCJ:IS, de-


(:111[acc dos aspcctÜ'~ ~.dminislra­ duzir rcgrJs".
livos da economi.t d.i.; cmprC';as Elyol [oi, Ltmb:J1l, DeLgado
c: a seguinte passJ.,r~L1l1: cl:! SO:iélLd; de: lvlil1.1s de Jou-
"Pode dizer-se (lU::, alé agora, dit:\illc, Presidente d;! Comiss:io
reinou o empirismo 11.1 8.dminii- Diretora d 1 Sociedade Mc·talúrgi-
traçlo dos negócios. C:ad~ chcf c: C1 de: Ponl-::-Vendin, m::mbro da
governa a seu modo, Slll1 pro- C"::omi,são Central de Hl!lha ch
curar slb::r se hCt lei.; clu~ n:gem Franç:l, do C:onscl1lJ d: il pcrf ci-
o assunto. A ausência de: doutri- ÇO.'1112I1lo eLi EscoLl N:,cional de
na estimula o cu,'so livre de: lCid.ls S:lint Eli::llllc. do Conscnatório
as fantasias. Cumpre qUe: se in- N lcionaI de: Artes e Ofícios e d:l
troduza o método experime:l1l,ll 11:, Juntil C:onsultin de: Estr:ldas de
administração, como Clamk 13.:: r- Fcrro.
nard o introduziu na mcdicin,. valeceu em Paris, no dia 19 de
Ê dizer, cumpre obsc(\'ar, compi- novembro de 1925, aos 8·1 anos
lar, classificar e interpretar os da- de idade.
CAPíTULO In

ANALOGIAS E DIFERENÇAS ENTRE


TAYLOR E FAYOL
AdlllinfJtr,:ilioll bc/s to do luitb getling tbiJZgs done; U'itb Ibe
c oi
(/(((}mplisblll llt defined ObjccÚl)es.

LUTHER GULICK

Tbcle ÍJ !lO Int for ri /IJ('JJellgcr lill Ibe !!less:/ge is dclú'ered.

JOSEPH CONRAD

Get dir!y, ge! U'c!, get cold, get b!mgry, ge! burt, gct brlrd
bll!, for b!?âl'CII'S s:lkc! get tbillgs dOJl(!.

De FOllllião, f ilÓJO f o ('I egi/1I1 c,


Verei.!" (()I!lO Allíblf! CJCdnlaia,
Q!/ ,'11:!:) di/S t1r!l!s bélicels {hmle
Dc~/i! (lJ1!t Lrg,1 l'OZ Ir:lt:iV,1 e li(l.
A
)'''[,1) .re aprende, Sl!llbor, Ih! jaJlt:lJit/!
S(!IlIUildo, illldgil2dJ!do, 011 esludando,
Sé n.!') ; ('Ih/O) Ir:II,II7r!o, e pelej:l1ld'J.

CAMÕES
A - O HOMEM-MASSA fi: AS MINO- cuantas pobres abstracciones y
RIAS EXCELENTES que, por lo mismo, es identico
en todo el continente" (32).
Dos livros de Ortega y Gasset, O tema central do livro é,
La Rebelión ele las MasGs é o como se vê, a estereotipia de
que mais contribuiu para a in- comportamento do "hombre mul-
ternacionalização do prestígio titudinario", membro irresgatá-
do autor_ Trata-se de uma aná- vel do servum pecus, que pensa,
lise escalpelante daquilo a que reage, chora, ri, indigna-se, co-
Gasset chama "asfixiante mo- move-se, aplaude e condena de
notonia que va tomando la vida acôrdo com os cânones da mas-
en todo el continente" (29), em sa, incapaz de um gesto indi-
uma passagem, e "pavorosa ho- vidual autônomo.
mogeneidad de situaciones en Focaliza-se aí o mesmo fc-
que va cayendo todo el Occi- nómeno -- apenas agigantado
dente" (30), em outra_ O filósofo pela multiplicação das massas
espanhol faz a anatomia do nos tempos modernos -- que Ra-
"hombre-masa", "el hombre hoy belais havi8, satirizado no Pan-
dominante" (31), "tm tipo de tagruel. Um personagem desta
hombre hecho de prisa, monta- novela, Panurgo, ladrão ágil,
do nada mús que sobre unas destituído de qualquer resquício

(:'3) Gasset, J ".-,' 0' ;'-g-:l o'. Ln Rc/lcliúii de las li!asus (Buenos Aires, 1911).
p. 16.
(30) Ibidem, p. 10.
(~I) Gal's'1. !>}.I. I·il., p. 3:'.
(:lJ) Go.","(·t, op. clI., p. ]r.,
CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PtíBLICA

ele escrúpulo, compra um dos experiência única, irreversível e


carneiros do rcbanho de outro induplieável, no seio da huma-
personagem, o comerciante Di- nidade,
c:enault. A transaçCw encobre Das novelas inspiradas pelo
um ardil: nüo passa ele ins- terror nazista, talvez nenhuma
trumellt() de yjngançu_ Compra- haja logrado maior repereussfw
do o animal, panurgo Lm~'a-o ao no mundo de fala inglêsa do
metr, !' os outros carneiros o se- que Escape, de EthC'1 Vance, pu-
guenl, perdendo-se todo o reba- blicada em Nova Iorque, no
Lho. A estafada cxprcss;to "car- imo de 1939.
neiros de Panurgo" ilplica-sc aos
Emmy Ritter, conhecida atriz
individuos não ativos, mas ape-
alemií, refugiada nos Estados
nas rcativos, que imitam cega-
Unidos, vê-se forçada a tentar
mente o exemplo de outros,
vender a casa de sua proprieda-
A despeito da aparente uni- de no país de origem, Viaja para
furmiLlalk de reações que estig- a Suíça, de onde se esforça, em
matiza o homem-m[\ssa, cada "flo, por efetuar a venda, Indu-
~er lmmano se clislill[;Ue de mil zida por estratagemas da po-
maneira', ele loelos os outros, lícia ,;ecl'da nazista, comete o
líarold La~;li:Í, ,) cientista social lú'O fali'.! dr: reentrar na Alcma-
inglês, autor ela (;'Uiillll!i1' of n)n, Uma vez 1,1, é feita prisio-
PolíticoS, fala na "inec1u tívcl so- 11('\;':1, juJçacb c condenadct à
lid5.o da cri:tlura hum:u:a", E !-':'~J;'tc por cr~rr!c ele traiçüo. Seu
l\lcxis Carrel, o bíólng'J fran('ê~, f!nv) ]\/In;-l\., cidad:~o americano,
;. pesar ele 11a \"('1' rece l)ido, eDl :~C:)l':'C ;) f.1PIT.. C'..~l1a a fin1 de
1:J12, o Prêmio Nobel de J\Ié'di- ~~:-;:-_;t.':jLil' a progcnitOI'él,. COn1Q era
,'jna, s(:'mpntr~ se celebrizou a') (~'~ .se cspC'l'a p , as antigas reJa-
pU!Jlkar, em 193;), UJIom1l1(', ccf !.'~If"':: (~1·t rttrL.,:, trmCt'o,sas de com-
i 11('01111 11, livro que consé'guiu ca- pl" c:-l('5~~s a C:est:J.po, rctra-
~crn

t(':~oria d~' bcs! IiC!7CI' em vário~ fi. penas um


C'1;1-~;e, dC::;{'1 ~jarCCee1,
i~li(lm38. c.'-:-cfiado, F'l'itz, conscrva-S2 fiel
P]'od~.1'.o comp],>xo de c:;l\J.sas :\ ccnde;~(1/1;l polHlca, Esgotados
rnúltiplCis --- biológicas, étnicas, íodos os i'ccurS03 e apf']os, élpro-
~ociolóf~i'2:ls e ps ico lógic3 S Y1l1'a-Se a dat[t da excc\1çC'\O de
cada indivíchlO; por i!lexpn>ssi- Emmy Ilitter, O estarIo de saú-
V() que st?j;:1, r~~l}r2senta l1n1a (lc~ da a triz, j{t precúrio antes elo
TAYLOR E FAYOL 7'5

julgamento, piora assustadora- Ao tomar conhecimento de


mente, pelo que é transferida plano, Mark considera-o fantás-
para a enfermaria do campo de tico e impossível. Custa-lhe crer
concentração_ na própria concepção, quanto
mais na realização da idéia.
Um dos médicos da enferma-
Mas, o que maior estranheza
ria, doutor Ditten, sobrinho de
lhe causa é a atitude do médi-
pessoa influente no partido na-
co, pessoa não ligada à atriz
zista, engendra, em favor da
por qualquer laço de parentes-
condenada, espontânea e inex-
co ou de amizade, direta ou in-
plicàvelmente, um plano maca-
direta. Se os próprios antigos
bro de fuga, mas realista, es-
amigos não haviam movido uma
pécie de segunda edição da fuga
palha em favor da condenada,
de Edmond Dantés, personagem
como explicar aquêle procedi-
central de O Conde de Monte
mento de um estranho? Quan-
Cristo, de Alexandre Dumas,
do Mark lhe pergunta por que,
p:ll.
com risco da própria vida, êle
O plano já se achava a meio
havia pôsto em prática tal pla-
da execução, quando o médico no, para dar fuga a Emmy
o comunica a Mark. Acabava o Ritter, o médico responde:
médico de pôr a paciente em
tratamento intensivo de digita- "Ninguém poderia dizer-lhe
lização, que deveria durar 24 porque estou fazendo isto. Para
horas. Obtido o estado de bra- saber o móvel de minha ação,
dicardia, aplicar-Ihe-ia uma in- você teria que conhecer tôda a
jeção de morfina 'para obter minha vida e as vidas de meus
pelo sono a imobilidade. Em pais, e as viclas de tôdas as
seguida, declará-Ia-ia morta e p::-ssoas que encontrei. Você te-
emitiria o atestado de óbito. O ria que conhecer cada palavra
corpo, encerrado em caixão tos- dita a mim, e cada palavra
co, seria entregue ao cri" do pronunciada por mim, e tudo
Fritz, que o havia reclamado quanto vi, li, pensei e fiz até
para lhe dar sepultura cristã. hoje; teria que conhecer até as
Uma vez fora do campo de' con- espécies de alimentos que in-
centração, a atriz inanimada e geri."
sua sorte estariam entreguelii a Com efeito, para se conhece-
Fritz e a Mark r~m as razões por que uma pes-
76 CADERNOS DE ADMINISTRAÇlí.O PÚBLICA

soa faz ou deixa de fazer de- bigorna e recebem sua têmpel'a


terminada coisa, é necessano durante gerações. O próprio en-
devassar-lhe a vida tôda, co- rêdo da história de nossa vida
nhecer as leituras que fêz, as também se distende por uma
paisagens que viu, as doenças escala de séculos, de sorte que
que sofreu, as músicas que ou- a biografia de um homem é ape-
viu - tôda a experiência vital nas um episódio na epopéia da
da pessoa, todo o desenrolar de família." (33)
sua vida_ Não pode haver, pois, biogra-
Na formação do poço de mis- fias completamente iguais, nem
térios que é a personalidade hu- mesmo entre os "carneiros de
mana, causas sem conta atuam_ Panurgo", perdidos no meio opa-
Nesse processo bio-cultural de co da multidão. Se entre os in-
longo alcance e ação retardada, divíduos pertencentes ao reba-
quantos fatôres se chocam, quan- nho comum, que parecem este-
tos se aliam, quantos se com- reotipados, as analogias correm
binam, quantos se completam, parelhas com as diferenças, que
constituindo verdadeiro emara- dizer de indivíduos de alto quo-
nhado de causas e efeitos. Cada ciente intelectual, de homcns
um de nós - ai de nós! excepcionais como Fayol e Tay-
não passa de joguete imbele de lor, ambos pertencentes às mi-
tais fatôres. norias excelentes, de que fala
Frank Copley, biógrafo de Gasset?
Taylor, estudando as circuns- A vida de um não poderia ja·
tâncias especiais, - políticas, mais ser mera duplicata da do
religiosas e geográficas -- e os outro. É impressionante, entan-
fatôres étnicos que se conjuga- to, o paralelismo dessas duas vi·
ram para produzir seu biografa- das. A complementariedade dos
do, cita ad introitum uma sen- interêsses e realizações de Tay·
tença de Robert Louis Steven- 101' e Fayol chega a ser miste·
son: riosa, de tão evidente. Por obtu·
"Não somente o nosso cará- so que seja, o observador não
ter e talento permanecem na consegue ficar insensível à por-

C{3) C(11J]ey, I.... l'ank, Frcdcriclc H'illSlolV Taylur (ll:'ll'pcr & Dl'uthcl's: Ncw
Yurk, 1923), I. p. 23.
TAYLOR E FAYOL 77

tentosa combinação dc fatôres também chamado princípio do


que levou ésses dois homens meio mínimo. O amor da ação,
raros e predestinados a segui- aliado ao horror ao desperdício,
rem - na mesma época -- ru- teria que levar necessàriamen-
mos paralelos tão próximos c a te à intelectualização conscien-
interessar-se por atividades tão te do esfôrço administrativo.
coincidentes_ Talvez haja sido a volúpia da
Passemos em revista atenta, execução que levou Fayol a tra-
em primeiro lugar, os principais balhar durante 58 anos na mes-
pontos de similitude - as gran- ma emprésa, quando é certo
des analogias - e, depois, as que poderia haver-se aposenta-
diferenças ocorrentes entre as do muito antes; e que levou
vidas dos criadores da adminis- Taylor a continuar a trabalhar,
tração científica_ gratuitamente, depois de apo-
sentado, para propagar o seu
B - As ANALOGIAS
sistema de administração.
1. Volúpia da execução Ora, para quem ama inten-
samente a ação, talvez só na
Taylor e Fayol foram volup- guerra seja possível encontrar
tuosos da ação. Experimenta- mais ensejos de satisfazer o ins-
vam com intensidade o prazer tinto de atividade do que na
de agir, obrar, executar, trans- administração.
formar idéias e projetos em coi-
sas tangíveis. Administrar é fazer coisas
Preferiam decididamente os acontecer, é agir e dirigir a
verbos denotadores de ação or- ação para que certos resulta-
ganizada - experimentar, exe- dos surjam. Se a especulação
cutar, reaZiz,ar, cumprir. E o de cadeira é o exercicio natu-
modo verbal favorito de ambos ral dos temperamentos contem-
era o gerúndio, que indica a plativos, a administração é o
ação em marcha - experimen- metier ideal dos temperamentos
tando, executando, realizando, intensos e superativos, de que
cumprindo. Fayol e Taylor - éste mais do
Por outro lado, amando os re- que aquéle - foram espécimes
sultados práticos da ação, es- extremados.
forçavam-se instintivamente por Daí o fato de ambos se have-
obedecer ao princípio energético, rem empolgado pela administra-
CADERNOS DE ADMU"rSTRA(ÃO Pl í BUCA

Ç~[(), género de atividade aparen- "A exemplo de muitas outras


temente incolor, insôsso, inca- riquezas "inda não utilizadas,
paz de inflamar grandes espíri- há uma energia administrativa
tos_ J'.<aquilo em que todo mun- em estado latente, espalhada em
do via apenas rotina, monoto- quantidade considerável pela Im-
nia, vôo rasteiro, lugar-comum, manidade inteira. São fôrças no-
Fayol e Taylor "prospectaram" \'<1S pendentes de desencadea-
imensas potencialidades sociais: mento, bens que cumpre liberar
as potencialidades in exauríveis f' pôr a serviço do homem." (35)
da administração. O aspecto que Taylor, por sua vez, o não
mais feriu a sensibilidade de aproveitamento dessas fôrças
ambos foi o do rendimento do novas, que jaziam ignoradas na-
trabalho humano, estimulado quilo que veio a ser a adminis-
por métodos racionais. t ração científica, causava-lhe
No dizer de Wilbois e Vanu- angústia_ Confiava tremenda-
xem, dois prosélitos de Fayol, mente nessa energia administra-
"a administração, palavra tiva latente, cuja liberação seria
que evocava a coisa inerte, as conseqüência lógica dos méto-
repartições empoeiradas, as en- dos desenvolvidos pela Seienti-
grenagens enferrujadas, os de- fie Management; confiava tan-
cretos fósseis", de repente se to, que chegou a ver nesse mun-
galvanizou em coisa "tão viva do subjacente a fórmula mila-
quanto os nervos de um orga- grosa de dirimir os eternos con-
nismo, e seu estudo, daí por flitos entre patrões e emprega-
diante, passou a constituir um dos. Essa crença idealística
capítulo da sociologia - dos transborda de muitas passagens
mais difíceis e dos mais urgen- dos escritos de Taylor. Mas, é
tes." (34) no Depoimento Perante a Co-
De tudo quanto li de Fayol, missão Especial da Câmara que
mestre supremo da clareza, êle a externa mais vigorosamen-
nada me impressionou mais do te, nos seguintes têrmos: "A
que a afirmação seguinte: grande revolução que ocorre, ao

(34) Wilbois. J. & P. Vanuxem, úp. cito p. 19.


(35) Fayol, IIenl'i «Préface" in Essai 8ur la Conduite des Affaires et la
Direction des Hommes, de J. Wilbois & P. V'anuxen (Paris: Payot,
p. 10.
TAYLOR E [1\1'01. 79
influxo da administração cien· l.mbos fizeram tôda a sua cal'·
tífica, na atitude mental de profi ~sional a sej'viço da
j'('ira
ambas as partes (patriío c em· wlústlla, Fayol, l1iCscido quin·
pregado), é a seguinte: ambos -:1' anos antes ele Taylor, logo
deixam de considerar a divisão ",.pós il conclusiío do curso se
do lucro (surpZus) como o assun· C'mpregou como engenheiro na
to mais importante, e juntamen· Emprêsa Fourchambauel, na
te, concentram a atenção no qual. subindo de C'ngenheiro a
aumento crescente do lucro, até c:dmini;:t rador, chegou ao ápice
que êste se faça tão avultado, da carreira hierárquica - di·
que seja desnecessário dispul ar retor·geral, em 1888. Passou 58
sôbre a sua divisão." (36) anos a serviço da mesma em·
]J"psa, que, em virtude de fusão
2. Da Engenharia ü Adminis·
com outras similares, se trans·
tração
!ormou n<> Commentry·Four·
Ambos foram engenheiros in· ('hambaud & Decazeville.
dustriais. Fayol colou grau aos Taylor começou de baixo, Tra·
19 anos, em 1860, ao cabo de halhou, primeiro, como aprendiz
um curso regular na Êcole de de torneiro numa fábrica de
Saint·Êtienne. bombas d'<'.gua cm Filadélfia e,
Taylor fêz, primeiro, cursos depois, como simples operário
de matemática e física por cor· braçal na Midvale Steel Corpo·
respondência, sob a orientação ration. Nessa emprêsa galgou
de professôres da Universidade l'àpidamentc os postos de apon·
de Harvard. (37) E conquistou, tador, chefe de turma, assisten·
depois, em 1883, o título de en· te ele conti'a·mestre, mecânico·
genheiro·mecânico, aos 27 anos, chefe, desenhista·chefe e, depois
ao fim de estudos in absentia, de concluir o curso de engenha·
feitos no Instituto Stevens de ria, o de engenheiro·chefe.
Hobocken, New Jersey, estabe·
lecimento que jamais logrou Episódios pouco divulgados da
maior projeção. vida de Taylor são sua passa·

(36) Taylor, F, W.. "Tcstimollll bcjorc The Special HOllse Committee", I>z
Bcientijic Managernent (New York: Harper & Brothers, 1947), p, 29-80,
(37) Copley, Frank, Frederick Winslow Taylor, (New York: Harper &
Brothers, 1923), I p, 127
CADER,,,OS DE l\DMIl\'ISTRAC:ÃO PUBLICA

gem como gerente-geral, de 1890 dos das atividades específicas


até 1893, pela Manufaeturing In- de engenharia para as de admi-
vestment Company, emprêsa in- nistr:lção, exatamente porque
dustrial que explorava um pro- revelavam ,:ptidões inequívocas.
cesso moderno para fabricar pa- Em 1H9S, já a caminho da fama,
pel de imprensa, mantendo, Taylor foi contratado com ex-
entre outras dependências, uma clusivilbde pela Bethlehem Steel
fábrica no Maine, e outra em Company, onde tentou aplicar o
Wiseonsin; e o período em que seu sistema em maior escala e
trabalhou, por conta própria, começou a projetar-se nos cír-
estabelecido em Philadelphin, culos industriais.
de 1883 a 1888, como consultor
Os três anos e meio passados
gerencial, função a que êle mo-
a serviço da Bethlehem talvez
destamente chamava syslema-
hajam sido os mais dificeis -
tizer.
certamente foram os mais atri-
Taylor criou, então, uma nova bulados e frustrados - da vida
profissão, cujos titulares ainda de Taylor. Alguns dos diretores
hoje são diversamente chama- da Companhia nutriam dúvidas
dos nos Estados Unidos: con- sôbre a engenharia humana de
s1l1tants, organisation men, etc. Taylor e começaram a solapar-
O systematizer era o precursor lhe as iniciativas para implan-
do moderno administrador pro- tar nas suas fábricas a adminis-
fissional. tração científica. O revoluciona-
Foi nessa qualidade de syste- dor da arte de administrar esta-
matizer que Taylor começou a va longe de ser modêlo de tato
acumular, de 1883 a 1888, for- e diplomacia. Intenso, honesto,
tuna pessoal, que, aumentada direto, franco, Taylor não ado-
durante os três anos subseqüen- rava os métodos "hábeis" de
tes, com os royalties obtidos fazer as coisas. Tendo sido con-
pela exploração de suas paten- tratado para introduzir a ciên-
tes, lhe permitiu, logo após a cia na administração da Com-
retirada da Bethlehem Steel panhia, atirou-se à tarefa com
Company, abandonar as ativi- todo o ímpeto de que era capaz.
dades remuneradas. Fazia frente às dificuldades e
Vê-se, pois, que tanto Fayol exigia as condições necessárias
quanto Taylor foram conduzi- para cumprir o contrato. Era-
TAYLOR 1: lAYOL Hl

lhe impossível aceitar n"-'LlOl";il- Tél)']!),' c;l'cidiu, cnlüo, aban-


bilidade sem autoridade. Decor- (1011:11' ck vez as atividades re-
ridos dois ,lDOS de lutas na Beth- mUneril(la s -- em que, aliás, ti-
lehem, a resistência ao s('u sis- nk1 sido t~w bem sucedido - e
tema e a oposição à sua p,~s­ C011:;:1g1'ar o resto da vida à
soa eram indisfarçúveis. Mt's- ]Jl'ollagaç-üo de SOl( sistema. Já
mo os diretores c chefes de ,10- 11:\0 pl'('("is~md() (1<' ganhar a vida
partamento que se mélnifesta- cOl1n pll,r;01Ih0iro ou consultor,
vam inclinados a aceit<lr a ad- paSé,OU a viver corno cavaleiro
ministração científica trama- i1l1r1anjc (1:1 administração.
vam, em surdina, o afastamen-
to de Taylor, o que não leva- 3. F'unrÍticos rio método e:t'peri-
ram muito tempo a conseguir. mental
Apesar das invenções de Taylor,
Ambos procediam, nas suas
notadamente do processo de cor-
0xplorações d:1 fisiologia da ..
t:1r mt'tais a <IHa velocidmle, que
cmprêsas, com espírito científi-
projetou a Bethlehem no cenú'
co, Taylor talvez mais sistemá-
rio internacional, além de ]}lC'
tica e empenhadamente do que
produzir lucros imensos, o sys-
Fayol. Êste observava, anotava,
tem ai izer encontrou em sua tabulava e analisava os fatos.
mCE:1 de trabalho, em abril de
Aquêle cronometrava os tempos
1001, :to regressar de uma se-
e analisava os movimentos dos
1l'1ana de férias, um curto c operúrios em ação. Fayol infe-
,,('co "bilhete azul", redigido no,;
ria regras e princípios de suas
seguintcs têrmos: ohservações. Taylor valia-se dos
"Sr. F. W. Taylor estudos de tempo e movimento
para estabelecer padrões de ren-
South Bethlehem, Pa. dimento no trabalho.
Prez:1do Senhor: Eis o que Fayol disse a res-
Comunico-lhe que os seus ser- peito dos métodos por intermé-
viços não serão necessários a dio dos quais elaborou e refinou
esta Companhia a I'Iartir de 1." a sua teoria administrativa:
de maio do corrente ano. "Desde o limiar de uma carrei-
Atenciosamente, ra industrial que deveria pro-
Robt. F. Linderman longar-se por cinqüenta e oito
Presiden te". anos e que me colocou muito

7 - Cad. Adm. Pública - 44


1\2 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

êpdo em face de pesadas res- das em estilo telegráfico, pro-


pons,ü),lido(l p s, contraí o hábito vàvclmente para orientar um
df' anotar todos os fatos que discurso, rpprescntam a mais
("Jllstituís~cm eslôrvo à boa inequívoca profissão de fé car-
r:larcha (];c emprêsa. Sempre me tesiana:
;\plif]upi à j)l'Ocllra (1.0 remédio; "Quando começar uma expe-
n1l;ll !~!1iquC'i :-l~ 2xpcriências, tan- nencia em qualquer campo, du-
I!) !lI) clomínio pUl'amf'ntc téc- vide de tudo; duvide das pró-
ni('o f!l.i:mto no domínio da con- prias bases em que a arte se
du la humana, infinitamente assenta; duvide dos fatos mais
l~ctiS complC'xo e mais delicado. simples, mais óbvios, mais uni-
(~, 'a",;' sempre os resultados me versalmente aceitos; prove tudo."
(';;corajaram a persistir nesta "Desejabilidade de ir ao limi-
:,j; t 11I1,~ c:[]lerinwntal." (38) te extremo em tôda experiência.
Fayol era um cartesiano con- Apenas uma variável de cada
\·jcto. Lc Diw'01l1'8 de 7a Métho- vez. Dificuldade de descer até
rle foi o seu guia na vida pro- a verdadeira variável. Grande
fissional. "A doutrina adminis- tentaçftO de experimentar com
t!'oUva extrai suas regras c seus mais de uma variável, a fim de
pro('('dimpntos de estudos expp- conseguir resultados imediatos."
rimcntais: Descartes é o filó- "Talvez a maior dificuldade
~ofo c\ljas leis Fayol aplica para do experimentador seja manter
orientar suas ppsquisas", afir- constantes e uniformes as con-
ma .T. P. Palewski, citado por dições ambientes ou circunstan-
Chri.';jo COSil.cof. (39) tes, enquanto faz experiência
E Taylor? Houve alguém com uma variável, isto é, estan-
mais cartesiano do que êle nes- dardizar as condições ambien-
tas bandas do mundo? tes. Necessárias contínua vigi-
As seguintes notas, encontra- lância e re-estandardização das
das em seus papéis, rascunha- condições ambientes. Se possí-

(:lS) F'ayul, Hem'i, "Pré/ac,," in Essai sltr la Conúll;le des Affaires et la Di-
rcction des I1ommes, ele> J. Wilbois & P. Vanuxrm (Paris: Payot, 1920),
p, 7,

(39) La Technjqllc de l'Ol'grmist/Uo!t Sdenli!iquo du Travail (Paris: Gir-ardot


& Cie" 1948). p. 81.
TA Y L O R r F A Y o I_ U)
0.)

vel, laça chIas ou tl'ÜS verifi- l11unicacC\O despertaram algum


caçõ"s." (10) iElerés!,e c foram discutidos:
a técnica administ rativa ficou
Para se formar idéia exata
ignorada. Oito anos mais tarde,
sôbre como Taylor obedecia na
('m 1903, T<lylor apresentou sua
prática ao método experimen-
primeira obra, Shop lVIanagc.
tal, basta dizer que, sàmente no
meul, que, igualmentc, passou
corte de metais, arte que foi
quase dC?IlE'l'cebida. Em 191],
objeto de uma de suas mais
finalmcnte, Taylor, depois de fi-
extraordinúrias invenções, levoll
nandar elo pr6prio bôlso uma
a efeito e(~,·ca· de 40000 cxpe-
rdiç'~1O limitada ele sua obra
riências. O homem
('i1) eca
j)l'incipnl, Pril1rir!es of SeienU-
exaustivo no trabalho.
fi(' lfIa!i((.IJ!"mci/1, hnvendo logra-
1. CU}Jcu:iâade genem/izanlr e do l~!ai~Jr nOllleacta, conseguiu
ímpeto criador editor C'Jllwrcia 1 não só para a
mc.,;ma, corno tamh(~m para
Ambos r0dllziram as r0spec- Fi 11 ali IVl(l)1(/fjCIIW1I!.
tivas expel'lencias a escrito.
Taylor, mais dinámico do que Fayol revelrlll su~,s primeiras
Fayol, desde 1886 começou a idUas sôbrc administré\ção em
submeter rPlatól'Íos, artigos e (iiseUl'"r) Ill'e:l1unciado durante a
eomunicaçõ,;s à Sociedade Ame- ,:ess[ío de PllCCrl'amento elo Con-
ricana dt' Engenheiros Mecâni- grl'f.so Jn1r~rnacional de Minas ('
cos, ela qual se havia tornado cli' ]\fcLlh~i'gia, realizado em ju-
membro no ano anterior. A pri- nho de 1900. (4'~) .!VIais tarde, em
mcira eomunicaçiÍo que fi'-z ti- dU;lS cGll[pr{>ncias pl'onunciadas
nha por título A Piere Ru/c nr, Escola ele S:lil1t-li:tiellne, em
8';1/81 em. N essp rlocumento já que c,:Il1(lara, tornou mais prp-
C'stava em embrifu) a adminis- rjso o psbôco claquilo que (\le
tração científica. Com grande 'Ih ia a dwmal' Teoriei Adminis-
desapontamento para Taylor, l:,atiJ;(I; mas, só em 1916 deu
só os aspectos mecánicos da co- verdadeira publicidade à sua

(40) Copky. Ft':ll1k, U]J cU. p. 217.


(41) 1Vi", m, p. !]·lG.
(42) FUYLJl, IIt'Ill'i, Administralioll Indu8tf'i!ll( (,t ()(Ju:!'uZc.J Al)l·ndicc' (Paris:
DUl1ul. 1900). p. 139/145.
SI CADlI\~():; Dl ADi'.íI>:lSTlZ/\C\() P(lIIIC/\

(]rmtrina, com o r,dv('nto da ohl'a :llnho~ :;;l'l'\,[lldr) :\ i!ldú~trj:1 sid('-


principal, Administra/ion Inclus- l'úrglca) Uln na F'i":l.nça, outrd
" I'iel!c et Gén(;ra]e, nos Est atlos Unidos, sem qur
('"te conhecesse os jnterêssC's di,-
Th H'ndo hlecirl0 ('111 1915, l; quc}o, sc'm Ciue SCClUC'1~ 11'o(':}s-
jJi'ov;\vel quP Taylor (ksconhe- sern corrcsponc1("ncia, f:l' dedicas-
(','"se totalmente o seu colega .sem a desc-;1volvC'I' ~;istcmas d;'
fl'~UH'Ê'S. pmbol'Ll ambos estives-
adlTlinistraçflO tiío complementa·
,·:,'m, n:1 mesma época, no mes- res. que parecem 11ave1' surgidll
rno ramo de indústria e nas di' ('sforl~Os adrede combinados.
!110SmaS preocupações com a ra-
cionaliz:1çJo da administraçJo,
c~lga:i:\(los no mesmo trahrtlho
de' chcfp [j(' pscoh. Ambos fllt], Ambos foram bem sucedidél,s
,1;:(1oj'eói de escol:\5, não se va- ';,c aplicaçfto ela:; respectivas
I E1 rir ide'ias ele outrem, citam te,éias, aliciando prosélitos, co·
~'(ll1quís7ün10s autores, pari indo, laboradores e discipulos. Tay-
:,;:ir,1, da estaca zero. Criadores 101' contou con1 o concurso, a
(:(IS respcctivos sistemas, Taylor dec1icac:iio e o entusii1smo de V,'\-
(' Fayol eram, ao tr·mpo ('m que rios colaboradores, destacando-
n,lhlicaram suas obras princi- ':e, clcnt " e êlcs, Carl G. Barth,
1,:tis, ;,s autori(lades múximas (;. M. Sinclair, lI. L. Gantt, H.
('("ll'e o assunto nelas trat;,do. K. Halhaway, M()l'ris Cooke, D.
Fa,','ol teve conhecini,'nlo [la V. Menick.
(.:)1';' (le Taylor, como ni"to podia Alguns c1'-'sles, como Gana ('
,:'-1'::',1' (10 ser, e chegou a co- ;,Torl'Ís Coob.. , chegaram a adqui·
lJ'l'nt:"t-b. critieanrl0 espr:ci,11111011- rir gl'anc1p nomeada como POll-
tr' a idéia do comando funcio- t ífices ela Reicnti!ie Mana.r;emen!
nal. quC' (\ [l cal'c'l.r1 er'ística rnai~~ ol'lodoxa, iniciados em seus ar-
l'C'voJucion[\ria do tayJorismo. canos pejo próprio taumaturgo-
Ambos generalizanuTI e cria- mor, Frederick Taylor.
ram sistemas de administ ração. Os entusiastas e seguidores
Aqui também há uma coinci- de Taylor foram tão numerosos
df~ncia notável. De fato: seria que, após a morte do chefe, em
preciso que o acaso colaborasse 19l5, mudaram o nome da So-
demais, para qUf' dois engenhei- ciedade para o Progresso da A(l-
ros-industriais contemporáneos, ministração, passando a chamá-
TAYLOR E FAYOL

lcl Socic(\arle Frederick Winslow G. Teoria ge)'(ld(~ pcla préitic(~


Taylor, em l10menagem ao fun· viva.
liador.
Ambos praticavam o que pre·
L\lyol teve menos colaborado· gél.vam, ou melhor, ambos 111<'.1'
j"'" (' menos seguidores. Citam· cllal'am da prática viva para a
:::l', entretanto, dentre os seus teoria c desta para a pregação.
discípulos, J. Wilbois, P. Vanu·
xem, J. Carlioz, Desaubliaux, Depondo prTanle a Comissüo
l'ouydraguin; c, dentre seus cul· Especial da C~d1",.ra dfl:3 Depu·
(ores no estrangeiro, L. Urwick tados, Taylor declarou que ne·
11llllma emprêsa aplicava orto·
O movimento iniciado em tôr· doxamente o ::;CLI sistema. Ê':le,
no (la Scicntific ManClgemcnt porém, havia pôsto em prática
adquiriu impulso, avolumou· se, todos os seus princípios na
trimspôs as fronteiras dos Es· Mi.clvaIe Stcel Company e, mais
Lulos Unidos c espalhou,se pelo 1arde, tentara :\V1icá·los na Beth·
mundo todo, robustecido pelos le!wt11 Sleel Company. Aliás,
t l'abalho:i práticos e os escritos a ~illceri.dade puritana com que
dos seguidores. Taylor pregava o credo da
O movimento iniciado em Lôr· Scienl ific Munuyc!ilent raramen·
nu da Teo'i'ia AdministTCltiva foi te foi objeto de dúvida. Quan·
menos impetuoso, não logran· do incumbido de implantar o
do, nem na França nem no seu sistr:ma em qualquer orga·
estrangeiro, repercussões dura· nização, 'Llylor e seus coIabo·
dotlr~\ '" rad01c', percorriam, mais ou me·
nos em ordem crol1ológic,l, as
,'\,pesar de uma das publica·
se;;l1!ntes et élpas, de estrito adir·
('ões elo Centrc d'Jj;(1lI1es Admi·
(lo com a filosofia da Scicí1lijic
ni.~tru.livcs, sob a direção peso
li]lillugc})wnl.'
~oal de Fayol, trazer o título de
L'EL'eil de l'Esprit Publique, a 1 - Levavam a efeito expe·
sorte do fayolismo foi muito riôncias destinadas a elaborar
modesta, se a compararmos com um conhecimento fidedigno do
o destino brilh:mte do tayloris· tempo necessário a cada máqui·
mo, Fayol nfLO conseguiu des· na para realizar determinada
pcrtar () espírito púhlico em fa· opcl'aç'uo ou para que fôsse rea·
vor da Teoria Administrativa. lizado determinado processo ma·
nua I por um oprr:, rio qualifi- morarnento deliberado da llc>j'i-
cado, us,mdo det'~rmillado ma- ela e;o,' trabalhadores.
terial, e operando (le ueôrdo com '1 ~. - 1ns1 ituiam a supenic;~c\)
o n1t~toclo Dlaj:; eficiente c sob CSIJcci;:llizdda elos (Jperúrios, pt.tra
ctJndi(Ôf~,C; C,fTY'ci[ic~ldas de tra~
asscgiJl'ar a n1(tnuií.:~nç~lo ca;~
lnlho. Uma \TZ eb;;o,'ac]o o co- posições e mil1is~ri.u· instnl('.\J.
nhecimento, principalmente a (As ptapas (rês (' quat,'o en'ill
pode-I' ÜC cl'onC'n"}~d 1'0 g{'lTI dus
levaclas a efeíto por me;o do
t(,111t:()~~ c n10\'lrnClli os, cstc,tVanl comanclcJ ftdlclonal: um c Jll-
hah.iJltack"!s a P;-;;i,lbclccC'1' pa~ ll'arllcstrc C'llcarregado da ~~llpC},­
dt'õe;; )lj'atk:"t';('is de ]ll'ocluf",\o visuo gCl\11 da seqüência do t ra·
~)or h(:n~{;n1·110ta (\ !'Ol' rntH111ina~
halllO In Llbric:l; um Cllf":lrre-
}}Ol','1, radi'õ~:~) q~te (~('vj~\n1 ser
gildo ela ve 1oclcLl'le (01)~cd uo:;;; I
11~,C'('~_;~::'~_:'i;U11C'I~te s:lpc'J'iurc::.; à ("i!1l1 a il1cumbéílcia c!fó lilOlll<\l'
m('dia corrr'Jlte. as 111úquinas (' g,u'antir ;..~~lt flUI-
('i()nl.Hn(~nto; e 1.11D ill~sll('fo1" Cln~1
2 Esl<tbc!e<'iam ll;n;\ ruti·
a incunlbôncia c1(: fisc;dL:~ar o
na de p];:mejanícnto (' din·(·úo
p~'(l(1l1to, tanto no CU~~-'I:O (j1.:·l.~l-
do lrab21hn. IJara gill',mlir a
1u l:'f) fi111 (~a p>:C'(':,l~.~:UJ de ('~;d;l
111a11(1(:;nç;\O das cO:lc1;cões sob
as qu;ds UI"; padr[;C's de rendi-
rnento h;~.vi(lYn s~fl0 (L,termina· ;) -- r'!'o('()l~L\~ll à \'er-:fi('~\{:f\()
elos. JS5[) lc'iava ao dpselwolvi- cunstantc~ (io p~'í-;gr('sso ohtifl()
n1(lj!to (1c C(~l'tos r;1C{',Hj1~-;rnOs, 1lJ.0djantc contrasle do~; P:l-
o
COH10 l'ot('i~'ns dp t~'~tbí.-llho, ü~'d0n1 r!rüc,; à leu ela ("on ta birclarl(' r1:~
(te' t 1',<. b(11J10, fi('b~-tS (1(' il1S1'~'uç~\o, ~';,l:·:;to, (,\J,ios c1:ldos el'(;Pl c1('r~­
(!.qu~~"i(';-tO (~~ nl,del<:'l d(~ :lc'ôl'do y ;~(L)s dí:l.s ill,~~ 1J'li(~'Ô~\S de Op','·
('otn ~~.') csrc('i.fi('acõ:~::-', r1()pósitos nlc50.
ccr~tr2.i~l e distrjh1l1!~~H) C'ontrolZl~
da c concliciol1(Ht1. de ln~tcri~üs, G
in5tl"tl!ncnt!)s c ut('n:~í1j(.\~--;, YIJ1'.1nL'jl'i.D elos ppc-·j';'l.l'ios nv~'­
di;:1l1te o incentivo clt· s:ll~:l"ios
3 SckC'in";\V;1111 e (llstri ln~1.1S altos) 101'n~1(lUS rO:-~;,L"'r!s

buiapl o ])('ssoal p,;1'a aC'Íon:Jl' pPlo ;1UIY)pnto el jlj'()(1ulividad:'. D

múqui:l;,S p rraliz,ll' oprraçõps Ec;la etapa era ('()!;,;iclf>rac1<! de


lI1~lnU(J i~:, ('\Jnl h~~t·« .. n0.;; C}u::Ji- r:r;tnd(l inil~l!l'tful['ia 11') proccs-
ficac:õ(~:~ prC3cntes c no aprl- so dc' t;1yl(),·i,,;:.(~io de uma eIn-
TAYLOR E FAYOL 87

prêsa, em virtude de sua influên· lisadas; e de que, se uma delas


cia decisiva na atitude mental se atrofia, a emprêsa tende a
do administrador. definhar e pode chegar a mor·
Em vez de apelar para a tra· reI', Fayol cuidava atentamen·
dicional persuasão do contra· te, como administrador·geral, de
mestre, a fim de obter maior fazer que as seis funções fôs·
aplicação ao trabalho por parte sem desempenhadas por pessoas
dos operários, Taylor recorria competentes.
ao incentivo de salários mais aI·
tos, garantidos pelo aumento de Para garantir êsse equilibrio
produtividade, o que sempre interno da emprêsa, Fayol de·
exercia poderosa influência. senvolveu e pôs em prática qua·
tro instrumentos de administra·
Na década de 1891·1900, essas
ção, a so.ber:
etapas, gradualmente estabele·
cidas e aperfeiçoadas, acabaram I.? - o programa de ação,
por amalgamar· se em um siste· elaborado com base em previ·
ma flexível, coerente e lógico. sões anuais e decenais, estas re·
O supervisor cujas atribuições vistas qüinqüenalmente;
requeressem contato pessoal com
os trabalhadores permanecia na 2." .- o quadro de organiza·
fábrica, ao passo que aquêles ção social, a fim de garantir
cujas atribuições consistissem um lusar e um papel bem de·
em planejar, preparar e contra· finido a cada homem. A fór·
lar, por meio de "instruções es· mula fayoliana está expressa
critas", eram reunidos em uma nos seguinté's têrmos: une pln··
dependência contígua à fábrica, cc pOllr chaqlle personne et char
chamada divisão ou seção de quc ]1crson71c à sa place;
planejamento (planning·room).
3.' ..- a lJC1ssarcla, para evitar
A teoria administrativa de Fa· as longas peregrinações dos
yol, por sua vez, surgiu intei· assuntos escala hierárquica aci·
rinha da prática. í:le adminis· ma e vice· versa;
trava mediante a observância de
sua doutrina. Convencido de que 4.° --- a conferência semanal
o govêrno de qualquer emprêsa dos chefes de serviço, tanto no
abrange as seis funções essen· organismo central quanto nos
ciais por êle identificadas e ana· estabelecimentos filiados, a fim
CADlL,<()C; DE AOMINTSTl\l\(AO pl.1BT ICA

de assegurai' a coorde1l8çCío de clarado que em poucos an05


iôda a cmprb;a. transformaria Taylor em milio·
Além disso, Fayo] era guiado lürio. (14)
pelo'; ."eus catorze princípios A resid('ncia senhorial que
aclmini:,trativos, assim como ve· construiu em Chestnut Hill, um
J:1\'a por que Jôsse cumprida a dos bairros aristocráticos de Phi-
mis~:lO administrativa rio corpo laeldphia, teria custado vúrios
social. integrada 11Plos cl('zes~,eis milhares (le dólares. Aproprie·
l1everr.; é1Clministrativos, enume· dade, famo:'él pelos seus jarrlins,
ra(ks (' cli'iinirlos no tópico sôo ('"tendia-se por onze acres; per-
bre O;·'!Ui;i;:;uç(/o. (,13) tencera a um aristocrata fran-
cês, Conde du Barry, o qual,
fugindo ao rôlo comprossor da
Ambos conseguiram abastan· Eevolução Francesa, se exilara
ça financeira com a ,1pJicaç:ío nos Estados Unidos.
das respectivas idéias. Taylor O Conde du Barry transfor-
PC' f I cnda a uma família ollulen· mara-a em verdadeira mansão
t,l, mas fêz fortuna pessoal por ele grflO·senl1or. Dentre as sua~.;
m('Ío do exercício de SUélS ati· belezas, salientavam,se os jar-
vidades como ongcnhei m, como dins no estilo dos de Versailles
in\'('n10r c como implantador da -- com flôres em abundância,
administração científica. O que r<'C:1l1tos, moitas de arbustos, es-
('le ganhou ele 1883 a 1901 foi (útuas. Na frente do jardim, fi-
bastan lo para levá·lo a aposen- zera construir uma estufa pio
t ar·se (retire) aos 45 anos de toresca e cobrira· a de rosas
idade, (lcixanrl0 atividades alta- francesas. Além de muitas coi·
mcnte remul1eí'adas. Se fôssc sas mais, circundara o jardim
1il oncYCI'a.C!J, pode'j'ia ter amea- de sC'be viva.
lhado milhões. Ali(lS, um (los Quando Taylor a adquiriu, po-
maiOl'dis da IITdmlfactU"ing In- rém, a propriedar]e encontrava·
ves!ment Company, o ricaço SC' em C'staclo de abandono. O
Wil1iam C. IVhitnry, havia ele- que resi ava do esplendor passa·

(-13) \VillJoiô ,I. &: P. P. Vanuxun, 01' cit., pp. 17, 21-15, 67101; H"nri };'ilY()1.
O)l. c;t., IJ. Gl -6J_

(4-1) Copley, Ji'r:ml{ oZJ. cito T, IJ. 387.


TAYLOR E FAYOL

do eram apenas as sebes vivas, Os jardins eram tão espaço·


,ifi centenúrias. A tarefa de res- ;~os que, em certas ocasiões, 'Tay"
tauração era imensa. 101' chegou a ter três jardinc'i·
l'OS de tempo integral. À re~,i·
o novo proprietário mobilizou llêllcia, a que o proprietúrio ck u
engenheiros civis, arquitetos, ar- o nome de "Doxly", afluíam gru-
quitetos-paisagistas, garden ex- pos de visitantes, industriais, en-
perts e um batalhão de traba- genheiros, altas patentes do
lhadores. As sugestões apresen- Exército e da Marinha, convi-
tadas pelos especialistas sacrifi- dados por Taylor para ouvi·lo
cavam, pelo menos, parte rias narrar a história e explicar os
cercas vivas. Taylor não aeei- prindpios da i\dminbtraçüo Ci-
tou nenhuma. Parecia-lhe van- entífica.
dalismo destrui r aquêles tufos
de vegetação, "belos, raros e res- Fayol ü'atalhou qU2.se tanto~
peitáveis pela idade". A inven- anos quantos Taylor viveu. Nüo
tividade e a abundüncia de re- que o fizesse pela necessidade
cursos financl'iros permitiram- de ganhar a vida. Foi-nos im-
lhe uma solução: o transplan- possível colhêr informaçóes pre-
te das sebes. Empregando pro- cisas sôbre a remuneração de
cessos caríssimos de retirar as Fayol. I-Iavendo, entretanto, ser-
sebes vivas com tôda a terra vido durante trinta anos como
permeada pelas raízes, Taylor diretor-geral da Commrc:ntry,
f('z transplantar e redistribuir Fourchambault & Decazevillc,
cêrca de 400 metros de sebe. uma das grandes cmprêsas in-
Só essa operação lhe custou dustriais de França, ao temp0,
17.000 dólares, importância equi- é de supor·se lhe ha.ja toco.clo
v,llente, na época, ao preço àe uma fortuna, sobretudo quando
quatro boas casas residenciais. S~ sabe que a emprêsa escapou
(lzi falência graças à sua dire-
Na construção da residêw:ia, çiío. A tahela de dividendos da
tudo foi feito segundo as idéias emprêsa diz tudo sôhre a efi-
e caprichos de Taylor e sua mu- ch'llc1a da admillistraçflO de Fa-
lher, sem que os gastos influís- yol: no período d," 1880 a 1883,
!'em nas decisões. Quando com- a emprêsa distrihuíra 32 frem-
rleta, assemelhava-se às man- cos de r1ividendos por açüo. Em
5ões dos nobres inglêses. 188S, distribuíra apenas 20 fran-
90 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO POBLICA

coso De 1885 a 1888, não houve cupações comerciais, financeiras


dividendos a distribuir. f.:sse lon- e administrativas ............ .
go período sem dividendos foi ..... " passo imediatamente às
precisamente o fator determi- questões administrativas, para
nante da escolha de Fayol para as quais desejo atrair a aten-
diretor-geral, em 1888. Em 1889, ção, porque me parece que os
a emprêsa voltou a distribuir ensinamentos mútuos, que per-
dividendos de 20 francos. Dis- mutamos com tanta utilidade
tribuiu 30 em 1890, atingindo a nos domínios técnicos, estão fa-
40 a partir de 1891. (45) dados a prc.3tar serviços igual-
mente grandes nos domínios ad-
8. Sóbrc a fOl'mcu;clo de enge- ministrativos.
nheiros

As atitudC's e idéias de Tay- . . . . .. todos estamos de acôrdo


lor sôbre (\ treinamento de en- sóbre a necessidade de aliar a
genheiros como que se confun- teoria à prática na formação
dem com as de Fayol. f:ste, em dos engenheiros; mas os pontos
] 900, no Congresso de Minas e de vista diferem quanto ao pro-
I\Ietalurgia, lançou o seu grito blema de medida. Alguns pro-
de guerra contra o excesso de curam sobrecarregar os progra-
teorismo e matemáticas no mas de admissão e os cursos
cun;o de engenhal'ia. Eis alguns ministrados nas grandes escolas
([e);; trechos do discurso, que pa- industriais. Outros pensam que
rece haver sido a primeira ma- a êsse respeito já ultrapassamos
nifestação pública de sua preo- o limite do ensino teórico neces-
cupação com a formação de sário, e que se faz a elite de
administradores: nossa juventude perder inutil-
"Sublinho a palavra técnica, mente um ou dois anos, os quais
senhores, porque, em verdade, seriam mais bem empregados
as comunicações recebidas pelo na vida ativa. Eu estou com
Congresso são quase exclusiva- êstes.
mente técnicas. Não se ouviu
aqui um só cco de nossas preo- Quereis saber qual o uso que
se faz, por exemplo, das mate-
(!;-)) \Vil1J{)i.~, .J. S: \':l~il!X"Bl, P. E~,']((i Sllr 7([ Coull/lilc eles Affaires ct 11&
Dir,.ction dn f1'J,,,,ne~ (Paris: Payot, 19:1ü) , p. H.
TAYLOR r FAYOL 91

mú ticas superiores em nossas os engenheiros têm necessidade


filias grandes indústrias (minei- de saber falar e escrever", mas
ra e melalúrgica)? Pois bem, "não têm necessidade de ma-
não nos servimos delas pa,'a ü'máticas ~,uperiores". (17)
nada. Quar:do \'erifiquei is:;o E chega ao extremo de SU5-
em )ncu ca.so, ao cabo de uma tentar, parodiando o General
carreira já longa, perguntei a Maillard, então comandante da
mim mesmo se eu niw consti- Escola de Guerra da França,
tuía exceçCto. riras, depois de que "a regra de três simples
c.,lh~~l· infol'm~lç0es, vi que se sempre bastou aos homens de
trata ele regra geral: os enge- negócios, como aos chefes de
nheiros ~1ão se servem das ma- exéreitos". (48)
lem[, ticc~ s superiores no exercí- Taylor su~t"lltOll exemplar ba-
cio de suas funções, e os di!'e- talha contra as sobrcc'1rgas de
to)'('s menos "inda. teoria, que, s('~undo 1'le, en·
"Estou convf'ncicb de que (os 1'10 oneravam prejudicialmente
engenheirus) podr'riam COffiE'çar o curso de engenharia minis-
a atividade profissirmal mais trado nas escolas e universieb-
cedo, nem por isso menos b('m eles americanas. Em earta a'1
prepnrac10s para ela, suprimin- Professor Hollis, da Divisão clC'
do-::;e do curso atu.al as coisas Engenharia da Universidade ele
inú.i:eis." (1G) Harvard, TaylrJr expressou a se-
Na obra Administra/íon In- guinte opinião, a qual era cons-
rlllstricll'3 ct Gliném 7c, de ] ~1 5, tiwte no repertório de sua~
Fayol expande· se em con~idera­ idéias:
cões súhl'e a fonnaç;\O d" en- "Dentre os engenhpiros e aeI-
f(~l-;hc}ros, 2.mpliZtnd.0 e l'cfol'- ministrarlores mais !)l'm sucedl-
çando a arf.ument<1çáo ~m tprior. elos ela América, selecionei de
AUl'm" êlc, por exemplo, que, c}r'z a quinze ilustrações, que
"S~JV{l 11 tc~s al~unlas raras cXCc"~ n'velam êste fato importantís-
<:õC'~, os chefes de indústria e sln'o: as qualidades comuns de

(,1(;) }, ,;y(J!, lf0ur:\' AdilliJ/istnltirdl IiU~;!8;tri('ll(' cL C{:116ralc) Apf~n(1ic(\ (Paris:


l)unnd, 1(1,)0),
t :'1) lt;id~ p. lO:.!.
(1~) Luc. cit.
9,~

b01TI S2nS", carCltf'r, empenho e Já anles, em abril de ]90~"


tt~Jl~l.cLdad(', etc., ('ont~ull nntlto ('m carta ao Secretúrlo da So-
ma is, na c: :rrf'il'i\ prol iS:".iona!, ciedade ele Engenharia de Ha\'-
do (lU e o COl1l1C'cin:1('ní.d a('a(h~· \',ln1, Taylor havia manifest ac10
n1ico uu ~~s l'c':lJiz(lc;(Jc:·; int(lh\(~­ o segulntc:
t LI~l is. f= curioso notar qL~::, enl
"A o]lilli,i,o universal, tanto d,l
q !lase tOc1Cl.'i os incÍck li í OS w'.(~
CO)lgn'í;,\i:;ío (llwnto do Cons~'
culocaram c\-·,s('s llomcll'í na (~'3-
cala ascendente, o brilh2nl;~~]nD lho d" GOV('l'l1évlores da Uni\'c~'­
sic1ade de Harvarcl, pé\reCe ~;l!'
in 1c lcctucll ,1es('ltl pcnll ou llil,'le
l1mÍ1o pequer);]," (,!D) a de CJlt(~ os joyel1s nccessit:ul1
mais de teoria, ao passo ql\\.~
Em ll1,\Ís clL' lima opm'll.illjda-
minha convicção é que o CIW'
ele -- ele faio, l'l'llctidamc!:lc
<']es lll'cessit<l.m, acima ele tudo,
Taylol' Yf>;'l!el'f)l! o excc~so d~
Ó de uma combinaçf\O em qu,)
l'l1sino de m::tléria:'i teóricas no
(,11(jT'Fl ('('rlo montante cl,' trC'Í,
curso ele c]lr:cnharia e a(t-v(\~()\l,
l1éll11eiltO me llla], elo tipo quc"
com ardor, llJnét ('ombilla(:;-lO ch
adquil'f'm l{\, e il'.d),'lho pr'l-
fflbrica, laboratório e tllli\'el';i-
1lco, 11lcc1ianle cO:1L!1u pr'-\{'OC(~
darlC' vara minisll'ar O~~ ClH'SI)S
con1 cOlldi('õe,:) l'c~dl~ dc~ (l]!gcnh,t-
(~P (,l1gC'nhé1.l'i~~.
l"~'].~' (Jil)
Em ou (ra cai'la ao nll'SInO
Professor Holli,;, em nuvcmb]',) En1!)l'cgéll1(]O qua~;c (13 nlt~;>
d,~ ]909, jn;'Ístia: "Ainda 11ft,) rnas palavras de Fa} (_'L rrdylor
abandonei C(J111p]ctan10nte é1. l'S- :1 )) ,JIll ou como um dos gl',ll1llcs
p<'ranç'a e1e ]lc,',;u;!(1jj' aCjuêks defeitos do curso de cngcllh~n'ia
qlif' têm o (,0n(ró!,' chLJl'maç':ío nos E"tal1os Unldns ai1E\bilida-
dos cnr,'enl1elrc~)-lllC;(,;:ulicos n~ ti" ela maiorb c1o~; Li(udan!(',S
1'ni vcr;,;i']cl.ck ri,' ILHvn n! a cpn- para escrC'ver ou falar inteligl''rl-
S!dCl':11' ceTIlO p:11:tC: du cur~:o (k~ tel11l'nl(' sôbre assun~o prOfiS3l()'
"llgenll:lria, pr]o menos um ano 11 ;.11, falar, digamos, perante o
de trn ba Ih!) prC1 t ico, ('1)lllU ,,}1l" COl1,c!']ho Diretnl' ou o gi'rc'!l tcc
l':n'jo de L'I bi'Íé'a", (:''') rk um;1 C"nl)lilnhli;,

, (', ,pi, :-', ;'';-;nll;:


\
,
p.
~" !
(.íl)) jl;i(/, )l, .. ,)

\,-)1 ) 1 !,;tI, l' :'::)'1".


T J\ Y L () R L F A Y () L

Dr'!KlÍS de F'conhecer que Wi


escritos dos engenheiros recl'm- guin1c, e <l":si;)j por diante.
formados americanos eram cru;; Ta} lo;, foi cDnvitliu1o. em 1008,
em extrell'o, e freqLtentemonte para visitar a escol:! e iorm,ll'
clIdos de grosseiros erros gra- uma impressflO sóbre o 110VO
maticais. Taylor dizia que a seu t ipl} de curso. Ao aceitar o COl1-
ver, a menos que tempo sufI- vitr', respondeu:
ciente e treinamento adequado "Isto me interessa grandemen-
fôsscm dados ao jovem engc- te, sobretudo porque, sem conho-
nheiro, para habilitá-lo a eSC1'2- ('['r a existência dêsse curso, e'J
Vf'r em estilo razoável um re- j;í. havia, através de observações
latório sôbrc qualquer asssunto pessoais repetidas, chegado li
de en,::;('l1haria, e 101' o documen- conclusüo de que uma combl-
to (!P m.1neira inteli[;c'nte pc- nélcão d2 experiência prática ('
r:mtc um Conselho Diretor, n1-'0 t l'einamento universitário é al-
se devia ensinar sequer uma pa- tamente necess:lria.
LIvra de francês ou alemão nos Pessoalmente, inclino-me a
cursos de engenharia. pensar que talvez os perÍedos
Taylor só teve aplausos pal":.1 alternados de trabalho na [:'i-
UI11:.1 escola orle engenharia, fun- hrica e de estudo na escola se-
dada na Universidade de Cin- jam del11asiéldo r'urtos." (52)
cinnati, em 190G, com o pro- Taylor visitou a Universidil-
grama de minist rar alternada- de de Cincinnat i em feverei-
mente, clurnllte G anos, matérias )'0 rle 1909 e, mai~ tarde, escre-
teóric~[s e trabalhos prúticos ~ vendo a seu Pres.idente, Char-
l11ecànicos, de química e de el.:'- les VV. Dabney, disse:
tricidade. Trabalhos que seria'J1 "Como homem prútico, eu ali-
realizados no inlprior das fá- mentava algl1mas c1úvidns quan-
bricas e não em si tu ações simu- to i\ pos;,;íbilidade de se combi-
bdas. O esquema compreendiil nar proveitosamente o trabalho
o revezamento semanal do lo- diário com estudos universitá-
cal de treinamento, fazendo os rios, mas se "vim para critical',
alunos estagiar em fábricas du- fiquei parél. aplaudir". Estou
rante uma semana, e freqüen- certo de que a cidade de Cin-

(52) [bid, p. 271.


91 CADER"0!OS DE AnI\!]\J1STRAÇi~O Plí llLlC:\

cinnati deu início ao movimen-


to m~üs importante e de mais
longo alcanee nas atividades Ambos dedic:Il'am os últimos
t'ducacionais d{'sle país." (03) anos de yirla à propa§':aç:~tO
Mais üuele. ainda no mesmo des;]] te1'CS5;1(1;:\ cl:lS )'cspcct ivo.s
ano, escrevendo de novo sôbl'c idéh1 s, tornandO-til', ,,::;s'n1, evan-
() curso mC!Ío prático, meio teó- gelistas dos pl'ópl'ios evange-
I ico, da escola de engenharia lho,". Taylor lm:clou a Sociplb-
da Universidade rle Cil1ciwwl i. de para o ProE:rcs,;() da Ci011-
Taylor afirmou: C'Ía ela Adrninistr:lç:-lO. Fayol. (\
"Afigura-se·n1C' que (,sse cur- Centro de Estudos Arlmil1istr:l-
so proporciona eclucaçào e~;plên­ t i\'os. Ambos foram levados a
dida aos jovcns, conquanto me iniciativas tão semelhantes pela
p,lre~a que tr['s anos de apren-
firrne convicç~io e\c> que se [Ccl1;>
dizado em fállricas é mais do vom pO:3suíc1os: os êxitos obti-
que o realmente nC'cessário. Eu elOS em sua caneira profl,:sio-
diria que de um a dois ano" se'- nal nflO haviam emanado de
ria o suficiente." (5·1) qualidades pessoais. mas rl()~
A atitude de T0.ylor rC'lati\'a- métodos arlotarlos. Taylor ir:-
m:'ll te à Y'ecessiebcle d,\ ,;c in- sllJ'gil'a-se, desde os primónlios
t l'ou\17,ir t l'ilbalho prútico WJS ne SUL) ativie1arle criadora. rOil-
cursos su[)c-1'io\'(':: americanos n:\o 1ra n idéü), en1:1O dominante'.
Si' limitava ;HI ensino de en?:,·- clt> qUl' os bons chefes e1r' iJlclú',-
Ill1aria. tria n[1scem feiios. Segundo [""'·;r
Estava convfncic1o de' que () ponto rl(' vista, o prohkmi1 lia
bom êxito na eclucaç:ü) intp]r.·;·- r]il'eç;-lo (Ü' quolquer nnpds.1 •
tual ocupa lugar ele SOInf'n,l;;; J,úblicll ou particular. pefjuCl'.l
importància na conduta da virl;J OH ['I'a1;r1(', c]rpendi!1 dt' ~;(' clp.;-

profissional. Sustenta\'a que o ('(;Tirit' um ar1ministJ'adl)l' nD, ,l.


que conta em pl'imeil'o lugar é A questão de métodos de t l'~l­
o caráter; em segul1flo, o bom balho era secundúria. É famo-
senso; e, sàmen1e em terceiro, sa a declaração de Taylor. I,,,
o preparo intelectual. introclução aos Princípios ,lu

(5:1) Loc. cito


(54) Jl'id, p, 271.
TAYLOR E FAYOL 95

Administração Científica, de que Empreendia freqüentes vÍil-


não há administrador nato, por gens para pronunciar conferên-
excepcional que seja, capaz de cias em escolas, universidades
competir com homens ordiná- e emprêsas industriais - mas
rios, organizados cientificamen- não aceitava sequer a indeniza-
te. Taylor pregou invariàvel- ção dos gastos de viagem. Tudo
mente o primado dos métodos corria por sua conta. Durante
de trabalho sôbre a crença no os anos de 1901 até sua morte,
administrador nato. Fayol, igual- em 1915, não só não recebia nada
mente, sustentava que seu êxi- pelos seus pareceres, conselhos,
to era produto dos métodos de conferências e demonstrações,
administrar por êle emprega.- senão que aplicava mais de um
dos. Essa convicção firme, haa- têrço de sua renda na propa-
rida na prática, levou-o a devr)- gação da Scientific Management.
tal' os últimos anos de vida ao Mesmo depois que a saúde de
propósito de demonstrar qUe, sua espôsa sofreu sério abalo,
com a ajuda de previsões cien- em 1911, Taylor, embora a ela
tíficas e métodos adequados, o dedicasse prioridade maXlma,
administrador consegue resulta- como marido atento e exem-
dos satisfatórios inevitáveis. (55) plar, não deixou de aceitar, sem-
Taylor abandonou em 1901 as pre que o estado de saúde da
atividades remuneradas, "money- mulher o permitia, os convites
making business", como êle as que lhe mandavam para fazer
chamava. Devotou-se de corpo demonstrações e falar sôbre o
e alma, a partir de então, ao seu sistema. (56)
apostolado de difundir os prin- Durante o longo interrogató-
cípios da Administração Cientí- rio a que foi submetido pela
fica. Liberalizava tempo, dinhei- Comissão Especial de Inquérito
ro e hospitalidade a quantos Parlamentar, em 1912, um dos
manifestassem desejo de conhe- deputados insinuou que Taylor
cer o seu sistema de adminis- tinha "marcados interêsses fi-
tração. nanceiros" na difusão da Ad-

(55) Urwick, L. "The Function of Administration", in Papel's on the Science


01 Administration (New York, 1937), p. 118.
(56) Copley, Frank op. cit., lI, p. 393.
1:J1i<j';li;i"íO Ci('lllii'ica,
Ao CJue Jeito gratuitamente, para o fim
'1\\)'101' l'espondcu tersamente: (k trdnDl' outl'OS em minha
"Deselc' que' me rdirei das aU- pr()iissão". (58)
\i,lae1es remunel'adas, hú dez
Tamanlw a sua devoção à ~\ll­
:1 nos, longe de ganhar qualquer
ministr:\ção cientifica, qllC', llil-
dinheiro à custa da administra-
vel1(10 travado conhccimento, eLl
c~,o científica, lenho c1ispendi-
] 9J 0, com lIolrlcn A. Evans, e11-
elo, anu::tlmentc, mais da ter-
gcnheiro-navoJ, que compreen-
e'('il'::l parte de minha renda em
dera claramente os princípi0s
('S (o1'ços para propagar essa
da administração científica, Tay-
C'aUS::l, dando-lhe, além disso,
lor lhe dirigiu a seguinte carta:
f,ratuitamente, todo o meu tem-
"Ocorreu-me que talvez lhe
1'0 e trabalho." (57)
seja possível obter uma licenç::l
Em 1908, a propósito de um
sem \'encimentos do Ministério
pleito judicial sôbre patentes,
cl::l IITarinha, digamos ele um
Taylor já havia deposto:
ano ou mais, durante a quol
"Minha especialidade como en- \'ocê poderia vir para o Leste
W'nlleiro-con'illltor tem sido, des- e fazer um estudo mais profun-
(1(' 1893, a de organizar a ad- do da administração clentífic8,
r:linislr;tção de estabelecimentos assim como também dos melll'i-
in c1us t riais de vários tipos, in- rC's métodos ou das melhores
(lu sive os escritórios e as se- mC'didas a tomar para implan-
('ÔP5 comprciais. Durante êstps tú-la, etc."
(I t imos ::tnos, isto é, desde que "Quando terminar essa licen-
(b'i;.,:ei a Bethlehem Sleel Com- ça, você poderia fazer uma de
j1::lny, meu trabalho neste carr.- duas: ou voltar ao Corpo de
po tem sido ajudar, ensinar e Construção Naval, caso em que
,'npel'intender meus antigos as- voltaria mais bem equipado do
sistentes e seus colaboradoreS que está agora para introduzir
no trabalho de organização. Des- a administração cíentífica nos
de que saí da Bethlehem Steel estaleiros da Marinha, quando
Company, êsse trabalho tenho-o a oportunidade chegar; ou, se

C,7i Taylor, F, W. "Teo;til1l,my bdorc the Spccial House Comnlittee" in


Sl'ielllifie lII(l)/(l(lClllC>lt (N,'w y,)rk: Barpc!' & Brothc!'H, 1917), p, 218,
(58) Cupley, F!'ank O]), cit" p, 233 -4.
TAYLOR I - I, A Y O L 97
[!!'dl'rir, muito provàvelmente I1Cc(ésé'úrios e adquil'indo a sua
lIaveria uma excelente oportu- expc:ri0ncia nesse camp'J, os
n'(;;;_',de para você adotar a aa- !"':-ic;_;n1,:.lS \'cncilncntos que você
i:; inistração científica como pro rl~c(-'h2 do I\linistério da IvIal'Í-
flssão," )lha", (59)
"Não conheço ninguém que se Imediatamente após receber
me afigure em condições de co-
esta carta, Evans telegrafou a
meçar êsse trabalho com me- Taylor:
lllOr equipamento do que você,
e parece que há grande procura "Palavras não podem expres·
de homens capazes de realizá-lo:' sar minha gratidão pela oferta
"Minh.:t opinião também é de contida em sua carta. Seu pa-
que a procura de homens com- triotismo c devotamento ao de-
petentes no campo da adminis- ver pairam acima da compreen-
tração científica crescerá, em são de muitos homens. Reque-
vez de diminuir, nos próximos rerei licença para começar no
anos." dLl 1. 9 de man~o próximo". (GO)
"Vejamos agora o lado finan- Escrevendo logo depois ao Al-
ceiro desta sugestão. Como sabe, mirante R. M. \Vatt, então che-
meu querido velho pai faleceu fe de Construção do Ministério
êste verão, o que me trouxe da lVrarinha, Evans confessava:
considerável aumento de ren- "A proposta que o senhor Tay-
da. Proponho-me destinar todo lor me iêz é estonteante. Te-
psse dinheiro à propagação dA nho grande fé em a natureza
causa da administração cienti- humana, mas preciso dizer que
fica, e não sei de meio melhor j:1mais esperei conhecer uma ex-
para fazê-lo, do que ajudando peripncia como esta.
homens competentes, como você, Sei qlH' o senhor compref'l1-
a adquirir experiência prática derá a oportunidade maravilho-
110 campo." sa com que Taylor me acena
"Conseqüentemente, of~reço- para fazer um trabalho de tan-
lhe pagar, durante o tempo em to valor l~ara a Marinha do
que estiver fazendo seus estudos país". (61)

(;'9) Copley, Frank op, ri 1., n, pp, 312-3,


(60) Loc, cit,
(61) Loc, cit,

8 - Cad, Adll1, Pública '-'- H


CADER1\OS DE ADMIl\iISTRA(ÃO PCULICA

10. Repercussão na Rússia dos planos de longa duração,


SOl'iéti.ca revistos qüinqüenalmente, como
Até nos métodos adotados pel:1 se faz na Rússia desde 1928.
Rússia Soviética para acelerar É possível que as idéias de
a industrialização, há um pa- Fayol hajam sido assimiladas
ralelismo impressionante entre pela Rússia Soviética através
Taylor e Fayol. A Rússia é o de um processo inconsciente de
país em que o Taylol"ismo en- aculturação, ao passo que, 110
controu maior receptividade. Si- caso de Taylor, a assimilação
milarmente, na parte em que foi deliberada, proclamada e do-
trata do planejamento, o Fayo- cumentada.
7ismo parece haver sido o figu- Os principios observados pela
rino teórico dos dirigentes so- Rússia na elaboração de seus
viéticos, conforme já demons- planos qüinqüenais assemelham-
tramos. se demasiado aos ensinamentos
Quanto à adoção do Sistema de Fayo1 sôbre planejamento.
Taylor pela Rússia Soviética, Repugna à inteligência aceitar
não há dúvida: temos o teste- essa semelhança como simples
munho escrito de Lenin e Sta- obra do acaso.
lin. Os líderes do Bolchevismo Seja como fôr, parece indis-
reconheceram e proclamaram cutível que ambos os criadores
abertamente as vantagens da da administração científica in-
administração científica. Lenin fluíram, e continuam influindo,
féz a apologia da obra de Tay- pela fôrça das respectivas idéias,
lor e preconizou nomina1men f e no processo de construção do
seu sistema, a que chamou a socialismo de Estado, em que
"última palavra do capitalismo", se engajou a Rússia Soviética
"para determinar os mais cor- há cêrca de 40 anos.
retos métodos de trabalho". (62)
11. Comunicação Deficiente
Não conhecemos referências
similares às idéias de Fayol. Ambos formularam as suas
1\1as, ninguém pode negar que idéias e descreveram as res-
Fayo1 haja sido o paladino mo- pectivas experiências defeituosa-
derno do planejamento global e mente.

(C~) Bulletill of tIl e Taylor Socieiy. IV (Junho, 1919) p. 35-7.


TAYLOR E FAYOl 99
De Taylor se disse que nüo pIo, a !l{l1Ç{íO jlldicial, que ten-
soube expor logicamente os seus de a existir separadamente lla
princípios. Está longe dr-, ser administração, inclusive nas em-
cscolá3tica ou mesmo acadêmi- prêsas particulares. (65)
ca a <Jpresentação de scus en- Fayol deixou truncada a sua
sinamentos. Tanto ao Shop Ma- obra, que devia contar quatro
naqcJJlcnt quanto aos Pl'inciples partes em dois volumes e que,
of Scicntific Management fal- no entanlo, não foi além do
tam organicidade e sequencia primeiro volume e das duas pri-
lógica. (63) Um dos comentado- meiras partes. Na primeira ex-
res de Taylor. Jean Chevalier, põe a teoria administrativa, na
chega a afirmar que Taylor "ha- segunda discute o treinamento
via agarrado a ciência com os para a administração. Na ter-
dentes" e que "êle não sabia ceira pretendia tratar de "ob-
expor". "Sua memória sôbre ~ servações e experiências pes-
direção das oficinas (Shop Ma- soais", e na quarta, de "lições
nagement) é um bloco de 132 da guerra". Nüo há explica-
páginas, nas quais a numeração çüo para és se colapso autoral
das alíneas é o único meio à de Fayol. Não lhe faltou tem-
disposição do leitor para encon- po, nem se lhe escasseava o in-
trar as idéias. As demonstra- terêsse.
ções aí surgem ao acaso da pena. Not('-sr que ambos se preo-
sem que o autor se preocupe cupavam, se não com a arte de
com encadear seus raciocínios escrever, pelo menos com a ea-
em uma ordem qualquer", (64) paC'idade de comunicar idéias e
De Fayol também se disse que fatos por meio da palavra es-
não soube imprimir conteúdo ló- crita.
gico à Teoria Administrativa. Taylor tinha pontos de vista
Obumbrado pelas realidades ime- definidos sôbre estilo. Detesta-
diatas, Fayol não viu, por exem- va a linguagem alambicada P.

(63) Pcrson. Harlow. "Forcword". in Sriclltifir M(lJlllgcment, Frcderick Wins-


low Taylor (New York: Harpcl' & Brothe·rs. 1939), p. 7.
(64) Chevalicr, Jean L'Organisation lin Travllil (Paris: Flammarion. 19·16).
p. 53.
(65) Urwick. Lyndall. "The Functian af Administrution". Papcrs on Scienco
o/ Administration (New Yark. Institute af Public Administration: L.
Gulicl: anel L. Ul'\vick. edltors. 1937). p. 127.
J (10

até mesmo os tOl'nl'ios liter:]- nüo titubeia em iniciar o capí-


rios. De uma feita, criticou fur- tulo com éste lugar comum:
tt'mC'nte a indigência de expres-
SeI') dos engcr:heiros norte-ame-
"1/lllliO;j fai! lo f 01'('6." (Gli)

j'i, 'Lll10S r0cém- formados, os quais, Cunforme observam dois L1l'


s('f~llJIdo êle, n;J() sabiam comu-
seus discípulos amados, muit();,
n'(,ill' idéias. Ch('gou a falar aü; dos que lêr:m Fayol são h~\',\(k,s
em 11obn'za de vocabulúrio, a exclamar: "Certo, mas se.]'n
Fayol, por sua vez, suskntou nenhuma criginalidade! (67)
(.pinião p:l.reci(1a a propósilu eb
eclw'ac'ão dos engrnheiros friln- Apesar da apresentaç'üo ordi'-
('eses. l~stes saíam das e:o.cohs nada da Teoria Administrativa,
sem hm'erem dominado a arte deixou a obra incompleta. Acha-
(k CSClf:\'er e 1'alar, talvpz sa- va que o número de princípios
!Ji'ndo matemática demais e, de c rel~ras administrativas não
menos, a técnica de expressar. tinha fim, S0m perceber qui'
êle próprio, pràticamente, tal-
Nüo se' pode dizer que Tay- vez houvesse esgotado a lista.
lor f! Fayol hajam sido escrito-
J'('S obscuros, ambíguos, ou pri- Hoje, então, há gente que vr'
mários. Ao contrário: ambos na obra de Fayol apenas um
süo claros, até transparentps, amontoado de afirmações ac:!-
pm seus escritos, Mas Taylor cíanas.
não logrou organizar e expor
sistemàtieamente suas idéias, as ]2. O Pendo/' Científico
quais aparecem amontoada8, des-
conjuntas, sôltas -- em vez df' De tô(1as as analogias e sem(',
bem articuladas em um eontf'x- lhanças que se possam identi-
to integrado. ficar entre os dois criadores da
administração racional, a maior
Fayol, por sua vez, tropeçava é o pendor científico, a adesüo
em frases feitas e chapas bati- incondicional aos ditames do e,;-
das. Ao tratar, por exemplo, do pírito científico. Como afirma
principio da união do pessoal, L. UrlVick, em ambos o cif'llti:i

(GGI Fayul. II'-l1l'j n),. rit., p. 45.


~(j7) \VilJ)ld:-, & \'ul1~1""-en1, 01J. cit., p. 10·1,
TAYLOR E FAYOL 101

ta primava sôbre o administra- e:m quase todos os f:'eus desíg-


dor. (68) nios, inclusive no desenvolver
Em seu cartesianismo conse- um método de cultivo e uma
qüente e incoercível, Taylor vi- variedade de grama que, com-
veu em estado de rebeldia ar- binados, assegurassem melhor
mada contra o arcadismo tra- crescimento e maior resistência.
dicional, a ciência livresca, a he- Praticante contumaz e convic-
rança passiva de idéias e mo- to do método experimental em
dos de ver, a sanção acadêmi- tôdas as suas atividades, Tay-
ca, a tendência academizante. lor teve a virtude e a felici-
Em tôdas as circunstâncias, dade de realizar obra científica
quaisquer que fôssem as solu- de alto quilate. Henry Le Cha-
ções preconizadas pela tradição telier, expoente da física e da
para os problemas com que se química francesas, reconhecido
via a braços, êle duvidava mi- como tal mundialmente, escre-
litantemente, isto é, recorria ao veu o seguinte a propósito da
método experimental. obra de Taylor: "Fiquei algo
envergonhado ao verificar que
Como condutor de trabalhado- a ciência de um homem prático
res, como engenheiro, como jo- era infinitamente mais desen-
gador de gôlfe, como interes- volvida do que a minha pró-
sado no crescimento da grama, pria". (69)
como transplantador de árvores F'ayol não foi menos sensível
e sebes vivas, Taylor foi um ao método científico do que Tay-
experimentalista impenitente. Ti- lor. Sua adesão ao experimen-
nha ousadia intelectual para talismo, sua disposição de desa-
imaginar soluções e possibilida- fiar as verdades estabelecidas
(les novas, imaginar criGtiva- e os dogmas recebidos de ou-
men te; e tinha caráter e fôrça tras gerações jamais entrou
ele vontade para C:';17C)'imentur. em eclipse. Daí a franqueza
De' cxpcriênciG em experii'>ncict, com que reivindicou para a sua
consegu.iu êxito extraordinário Teoria Administrativa a quali-

(68) V. "Til" li'UllCtiUll (lr AllminiôÜ'atinn" in PU)JCI'S V,I the Science o/ Ad-
ministmlio" (Nnv Y,,,·k. 1937), p. llR
((-j~)) CuTjk:)-~, Yl'il U 1-;. CJ}J. cit., 1. 11 '\01., D. 12G.
102 CADERI\OS DE ADMIl':ISTRAÇAO PÚBLICA

ficac:Cio de científica. Neto hou- todo científico aos problemas in-


ye chicanLl,s no clcsen volvimen- dustriais". (70)
to dessa teoria. Quando muito,
terá havido omissões e eE"OS de Unvick disse de Fayol: "Eli1
obscr\ ~1Ç'r·.O, 111i1S charlata!1ismo verdade, o caráter singular ltl
J"lUllca!
obra de Fayol é insusceptível d('
supcrestimação. Pela primeira
Assim como Taylor criou o
vez um líder industrial bem su-
seu "i.ôtema, Foyol formulou a
cedido e de longa experiência
sua doutrina - através de pro-
submeteu, não o trabalho de ou-
ceclimentos cien tíficos idôneos,
tros, mas as suas próprias atri-
dentre' os quais se destélca a mi-
litança experimental. buições e responsabilidades à
análise científica imediata. Êle
A Teoria Administrativa nao
considerava o que lhe cumpri:l
é produto ae especulações ce-
fazer como administrador com
]'cbrinas --- porém de observa-
uma iSe'nr.fto no rara quanto va-
<:ões e eXlwriências sem conta,
liosa. No primeiro quarto lk'
levadas a efeito na intimidndc
século do estudo cientifico ch
(\,tS várias emprêsas integrantes
<lllmini c5tl'ação industrial, Fayol
da Foul'cÍlL\mbaulcl Commentry
é a única figura européia clign1.
& Decaze"illc, Tampouco, Fayol
cle um lugar 2,0 lado de 1". \V.
desenvolve\! a sua Teoria do pé
~I'(Jylor". (7])
pLlra a m:w, nast" dizer que
o ('mhriCio :,;ul'giu em 1900, num
(:ongrcssll 1ntcl'nacional de Mi-
nas e 1\Tclé1lurgia, conquistou fo- 1. Ponlos de llorlidu
i OS d'2 pl'incípio em 1908 e, sô-
HH'1l1e (lnl l~nl1, COllS(~gUju for- Por h~1..\'~'r ini('i~Hlo SU~I {,Z1IT/'~ra
li1a f~(: livro e ~)l'c:-:;Ugio de dou- (")mo 0p2r{ll'io rlc f{ün'Íca, Tay-
t l';1\;1. 101' c::mccntrou-s(' na análi'ie dos
Lo Chateli('r disse d(' T:lylor : lTIovimpntos e dos tempos, P, so-
"O car:ücr essencial de sua obra llrr'j \;rI9, na tm'cIa de estabelecer
l' a aplicaçüo rigorosa do \1H>- paclrõ:':; de pn,c]uçClO e padrões

n'o) LI' Ch:_ll.'1i!'l', íl(·ul'y. r_c 'l'oJ/lcu'i.';})lr (Dul1od, Paris, 1928) pl'vf:u:io, p. VIL
(,1) Ut"wicl.;:, L. "Tll" Yllndion of Aclmini:;;tl'nU(lI1" in p(f]JCl':J OH lhe i~(';('nc(>
nf Acl)}l'i1i.'itmiir)ll (NC'w YOl'k, lD37), p, 12:1.
TAYLOR E FAYOL 103

de rendimento. Fayol, que che- Talvez haja sido pela sua ex-
gou muito mais cedo do que Tay- traordinária capacidade de ge-
lor a postos de comando, teve neralizar com lucidez, isto é, de
como ponto de observação o ápi- ver longe, que Fayol formulou
ce da hierarquia administrativa, principios e doutrinas mais am-
o ambiente da chefia executiva. plos do que os de Taylor. 1!:ste
Partindo da unidade mais sim- sustentava que os princípios
ples, o trabalhador, Taylor acer- tayloristas eram suscetíveis de
aplicação proveitosa a tôdas as
ca-se progressivamente dos pro-
blemas mais complexos de orga-
indústrias. Fayol, mais inclusi-
vo, sustentava que a Adminis-
nização e divisão do trabalho e
tração, como a Matemática e a
das relações entre o empregado
Língua Pátria, é conhecimento
e o empregador. Partindo do ex-
essencial e deve ser ensinado
tremo oposto, ou seja, da chefia
executiva, Fayol evoluiu em sen-
em todos os níveis. O sistema
de Taylor conduz à formação de
tido inverso, sem haver contudo
especialistas em administração.
chegado à periferia.
O de Fayol, à de administrado-
O esfôrço de teorização de res·gerais ou generaZistas de
Fayol foi muito mais bem su- administração. Fayol acreditava
cedido do que o de Taylor. Aliás, ser possível ensinar administra-
a construção teórica de Fayol, ção, desde que houvesse um cor-
apesar de inacabada, tem resis- po de doutrinas pertinentes; e
tido galhardamente a tódas as lilnçou mãos à obra para ela-
tentativas de dissecação. O pró- borar uma doutrina e um com-
prio POSDCORB, vulgarizado pêndio.
por Gulick em 1935, para carac- A preparação de um compên-
terizar e descrever o trabalho dio sôbre a administração cien-
da chefia executiva, nada mais tífica jamais interessaria a
representa do que uma aplica- Taylor. A mentalidade de Tay-
ção da análise funcional de lor era exatamente o oposto da
Fayol. (72) mentalidade acadêmica, que ten-

(72) V. Llltho' Glllick, "Notes on the Thcory of Organlzation" in Papcrr8 on


fite Scienccof Admilli3tration (Ncw York: Colllmbia Universlty Pre~s.
1~;37)'
I> :1 pensar ('m U'rmos de gene- missão de estagiar em qualquer
Ltl:zClções. Depõem os seus dis- de nossos estabelecimentos com
c:pulos e Clssidcnles que Tay- () fim de estudar administração
10[' e,':1 L1SC,l1ildo pela ação e científica, O interessado deveria
p 'lc:s :j~~~I~; resultados in1cdiatos, ser admitido como trabalhador
Llogl\'cis c ll1Cl1SUrúveis. e aprender o que é administra-
Sq,iund l ) um dos mais repu- çüo cientíilca de baixo para
tados intérpretes do Taylol'ismo, cima, nunca de cima para baixo.
Earluw Pel'son, os escritos de ema das debilidades do porta-
Taylol' podem ser considerados dor de educnç{io acadêmica su-
"cspol'údícos". (73) Por tempera- perior é que nüo consegue per-
mento, formação e experiência, ceber as vantagens de traba-
Taylor era um executivo, um lhélr, continuada e longamente,
realizador, um homem de ação, em uma fábrica, na qualldade
um doe)'. Jamais revelou inte- de simples operário". (74)
rêsse em escrever por escrever. 2. Sistema versus Doutrina
Para êle, escrever era exercicio Como formulada por alguns
penoso. Além disso, Taylor não dos discípulos - que, como sói
;]cTcclitava que se pudesse ensi- acontecer, conseguem expor as
na!', u:uito InCHOS aprender ad· idéias do mestre de modo mais
ministraçüo por meio de leitu- lógico do que o próprio mestre
ras e em salas de aula: admi- -- a construçüo de Taylor é
nistração se aprenderia com a realmente um sistema de admi-
m;\O na mass::t -.- fazendo.
nistração, muito mais do que
T,lyloi' era irredutlvel nesse um conjunto de princípios teóri-
ponto dc~ visla. L1Qsla a s(~guin· cos. A denominação Sistema
tt.~ pa~:s~~geln de unl de seus es· Taylor é própria e descritiva.
('.t'itos vara conlld'ov~1r a firnlc~ Taylor jamais tentou formu-
Z~l ('·-)1n qll': o sust("nt~l~,1(l: "lIa· 10.1' a filosofia de seu sistema.
thav:"y, Cooke e eu própl'io che- Contentou-se em indicar as suas
g:l mos :1 conc:]us;lo definiU'.'" de múltiplas aplicações, deixando
quo ni~'-,:!,ul"rn (lC'v~;da obt-er per- aos leitores o trabalho de eles-

(73) ]'('L'lll1. p::jl ,\,," "1·"1'I·,l. v


oJ"d" in S"ir)1filic l!fa;w.:!rm.(;")[~ ele> F.'V. Ta.vIul'
t~\-( ", Y(Il':,-: 11;:' Pl & 1:)í7), p. V,
L~J' d:'ll'i.~,
.,
"
TAYLOR E rAYOL lU)

linda r o fio da meada, conforme Como já vimos, a implantação


depõe o maior dos tayloris- da Scientific IvIanagement come·
tas. (75) ça por uma série de experiên-
Fayol não erigiu um sistema cias destinadas a determinar
.-- formulou uma doutrina. Sua o tempo necessário para a rea-
crÜ1ção teórica, vista do ponto lizaç'ão de cada uma das opera-
de vista intelectual, é muito ç'ões manuais e mecânicas em
mais satisfatória e imponente que o trabalho esteja dividido
do que a de Taylor. na emprêsa. Daí evolui para
Entanto, é mais fácil para o estabelecimento de rotinas se-
um aprendiz tentar pôr em prá- letas, etc., etc.
tica os ensinamentos de Taylor Como proceder, porém, para
fayolizar uma emprêsa? Qual
do que os de Fayol. A seqüên-
o primeiro passo? Quais os
cia das medidas, que lhe cumpre
subseqüentes?
adotar, para taylorizar uma em-
Eis as razões por que se pode
prêsa, está indicada na obra do
afirmar que Taylor criou um
criador da administração cien-
sistema de administração, e
tífica. Trata-se, pois, verdadei-
Fayol, uma doutrina adminis-
ramente, de um sistema con-
trativa.
creto, bem esquematizado. Aliás, um apologista das idéias
No caso das idéias de Fayol, de um e de outro, o francês
a teoria é mais refinada, mais Jean Chevalier, ao capítulo em
teoria ~ numa palavra, doutri- que trata do Taylorismo dá o
na. Carece das indicações e mi- título ele "O Sistema de Tay-
núcias indispensáveis ao opera- lar"; e ao capítulo em que vcrsa
dor que queira começar pelo co- o Fayolisnw intitula "A Doutri-
mêço e seguir uma ordem cro- na de Fayol".
nológica predeterminada. Tay- E, para justific'J.!' a difercne,::l,
lor é escasso em princípios e faz os comentários seS(uintes:
abundante em ensinamentos prá- "A segunda parte da Adminis·
ticos. Fayol prescreve regras, lration indlt8trielle ct généraZe
enumera deveres, formula prin- expõe os princípios de adminis·
cípios ~ mas omite os guias traçfw extraídos por Fayol (1r~
da ação. sua experiência dos negócios.
100 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

Aqui a oposição com a maneira imprevista em um puritano de


de Taylor é flagrante. Taylor Philadelphia: "Ao longo de mi-
apresenta casos concretos e en· nha vida, tenho pendido forte-
sina por meio de exemplos, peno :.. ente, em tôdas as coisas, para
sando que cada qual subirá fà- o lado radical". (78)
cilmente do fato particular ao Taylor foi, de fato, muito
preceito geral. Ao passo que mais radical do que Fayol. Ra-
Fayol formula os principios ge· dical e audacioso, como convém
rab, cle que cada qual poderá a um bandeirante de idéias.
extrair os procedimentos e os Não pestanejou em aplicar e
meios ele aç;lO próprios a seu preconizar o comando funcional,
caso particular. Ao sistema cle aparentemente violando a vetus-
Taylor se opõe a doutrina de ta regra do comando único, tão
Fayol". (76) vetusta que remonta às Tábuas
Critério idêntico foi adoü\do, da Lei:
pouco depois, por Christo Cosa- "Não servirás a dois senho-
cof, quando publicou, em 1948, res ... "
a obra intitulada La Teehniqne Baseando seu sistema na com-
de I'Orgunisation Scientifiqlle dn petência profissional, isto é, na
TmnJiI. Aí também o capítulo especialização, Taylor foi levado
que trata da Bcientific Manclge- a inventar o comando funcional
lIIcnt \('m o til ulo de "Le Sys- --- a característica mais revolu-
teme Taylor", e o que trata do cionária de Scientific Manage-
Fuyolismo vem sob o título ment.
"La Doclrinc Administrative de Analisada em profundidade, a
F<l:'ul"_ (77) chefia funcional múltipla, em
contraposição à chefia tradicio-
:3. CO)IU l llr/o Múltiplo c Cu))wn- nal única, não transgride a re-
do ·Onico gra da unidade de comando,
Discul':;ando em Cleveland, porque as ordens dos diferentes
[louco antes de morrer, Taylor chefes funcionais, tendo por ob-
ff'z e:,ta confissão, certamente jeto diferentes aspectos do tra-

CGl CJ:;·\"alkl'. J('an. 1~'()(!J((J1i8([li(}1I du Tnll'oil (Flanlmar[Ol1, Pal'i:·~. 19I(i).


]lp. G7-~.
(77) V. O}). dt., 1))1. :-?1-G'; ( 7j-D:1.
(íS) Copky. F'rant\ OJl. rit., 1. p. 3R7.
TAYLOR E FAYOL 107

balho, não colidem umas com presente ensaio, (79) e em que


as outras, mas antes se inte· discutimos precisamente Taylor
gram, se aglutinam, acabando e a unidade de comando, depara·
por assegurar a unidade de co· se·nos uma ilustração capaz de
mando. facilitar a compreensão da apa·
Ao espírito de Taylor bastava rente leviandade de Taylor ao
a certeza lógica de que o coman· instituir o comando múltiplo,
do múltiplo não passa de outra tüo condenado por Fayol.
modalidade de divisão do traba· Não tendo audácia criadora
lho - a divisão do trabalho de bastante para se insurgir, como
dirigir ou comandar. Dirigir não Taylor, contra a regra milená·
consiste apenas em expedir 01" ria do comando único, Fayol
dens, em emitir instruções, em considerou e verberou como he·
mandar fazer, mas compreende resia o comando funcional, que
também a prestação de esclare· é múltiplo por definição. Foi·
cimentos, o ônus de planejar, o lhe impossível acompanhar Tay·
dever de orientar, educar e trei· 101' em sua trajetória revolucio·
nar os dirigidos. nária, nesse particular.
Se, nas relações entre chefia Conservador, europeu, estahi·
e chefiados, os aspectos elo tra· líssimo, Fayol escandalizou·se
balho a ser feito são vários, com a inovação de Taylor, tal·
como sói acontecer em quase tô· vez sem a compreender a fundo.
das as circunstâncias, Taylor nüo Não logrou vislumbrar a estru·
viu absurdo nenhum em dividir tura lógica do comando funcio·
e~;sJ.s relações em grupos lógi· nal múltiplo.
CO.'3, de maneira que caela subor· As razões que aduz (<;!l) para
(1iJ\ado receba orientação, ordens contrabater Taylor ;ião traclicio·
e in3truções de vúrios chefes, nais -- razões que, desde remo·
sôbre cada aspecto particular do tas eras, militam em f,WOl' da
trab2.1ho. unidade de comando.
No exemplo da datilógrafa, Sen.te·se que Fayol nflO teve
que citamos em outra parte elo argumentos revolucionários para

C,O) Idem.
opor a Tayloi', limitando-se a emprêga na Midvale Steel Ca.,
repetir o que pertencia à sabe- recomeçau, aí também, a sua
doria dos povos. carreira como simples operúrio,
Fôra de esperar-se que Fayol no meia das oficinas, ombrO' a
Il~asse, para refutar o principio ambra cam as demais aperúrios
('O comando funcional IHlíUiplo, braçais.
argumentos igualmente revolu- Tal circunstância deu-lhe, de-
l'ionúl'ias, inspirados par expe- certo, uma compreensão profun-
l'ii'ncia novas. da das inclinações, peculiar'ida-
Esta, aliás, a diferença mais des e pontos de vista da opel't\-
inequívoca das que existem en- rio que aluga a fôrça física e a
l re os dois. Estabeleceu-a a pró- capacidade de trabalho para ga·
pl'ia Fayol, opanda-se aberta- nhar a vida. O Sistema Tay-
mente aO' seu calega americano. lor trazia como um de seus objc'-
Se Fayol tivesse percebido a fe- tivos duas conquistas francamen-
cundidade e a lógica irresistí- te favoráveis ao trabalhador, a
vel da camando funcional múlti- saber; a eliminaçãO' de movi-
1J70, certamente seu mérito coma mentos fatigantes e o aumento
iniciadar de escola seria muito dos salários, embora estivesse
D1aior. também condicionado ao aumen-
1. 1vlenlulidacle patrol/al c mCI/-
to da produtividade, único dis·
falid'Tde operária
tintivo capaz de tornar o sistema
EX:'cminados em suas ações e aceitável por parte dos patrões.
r(',l(;,5~'sprofissianais, Taylor e A circunstância de começar a
Fayul apresentam-se, o primeiro, ganhar a vida coma trabalhador
,mo pertencente à classe 01.w- braçal -- cama subardinado e
),ziria, e o segundo como mem- nãO' subordinante, - em pé de
hro da classe patranal. Apesar igualdade com legítimos repre-
de descender de família abastada sentantes da classe operária, dei-
c rle hilver êle próprío acumu- xou impressa na personalidade
l:tda fartuna razaável, Taylor, de Taylor, inclelevolmente, a
talvez levado par uma inclina- identidade do trabalhador.
çãO' ilTC'sistível, iniciou sua vida Sabemos que Os sindicatos ope-
c')ma siJ1lpks aper{lrio, e depois [;"trios nos Estados Unidas fo-
de haver galgado a pasiciío ele ram os primeiros a se insurgi·
"pc)'::, rio qualificada, élcci tcllldo rem contra o taylorismo, dan-
'J A Y L O R E FA Y OL lO')

do- J]jC com ba te duran te m\litos aumenta grandemente o núme-


anos, de maneira Í('ITC'llha, Isso ro de "trabalhadores improduti-
nilo infinna, porém, o f<tio de vos", isto é, daqueles que se en-
Taylor lJaver sido um gramle càl'l'cgam das tarefas de escri·
benfeitor da classe operária, por- tório e de supervisão ...
que descobriu, elaborou, testou e A "Administração Científica"
pôs em circulaçüo um sistema snhstitui o dia de trabalho e .o
(it' ti'ahalho que libera o operá- sahido diádo fixo pelo trabalho
rio dos movimentos mais hti- de tarefa e pelos sistemas de
gantes, poupa-lhe o desperdício pagamento conhecidos por prê-
de energias e ao mesmo tempo mios e bônus ...
traz-lhe aumento de salários. Tende a destruir a imlividuali·
Sob o título Trade Union Ob- dade e o gênio inventivo dos
jcctions, os sindicatos trabalhis- trabalhadores_ Estimula e tan-
tas fizeram circular amplamen- ge os trabalhadores ao limite
te nos Estados Unidos o seguin- máximo de exaustão nervosa e
te anátema contra o Sistema física, fatigando-os e desgastan-
Taylor: do-os fortemente_
Tende a minar a saúde dos
A "Administração Científica" trabalhadores.
npõe·se à democracia industrial. Encurta o período de ativida-
f; uma reversão à autocracia in- de industrial e de capacidade de
dustrial. Força os operários a ganhar dos trabalhadores_
dependerem daquilo que os em- Tende a destruir o auto-respei-
pregadores entendem por justi- to e a autodisciplina dos traba-
c:a, e restringe os amparos de- lhadores, conduzindo-os para há-
mocráticos dos trabalhadores. hUm; de intemperança e gastos
A "Administração Científica" !'xcessivos ...
pode ser científica e, ao mesmo É, em si mesma, um instru-
tempo, infensa ao bem-estar dos mento sistemático de redul,;fío de
t ra balhad.ores ... salários.
A "Administração Científica" Tende a diminuir .os salários
Í' uma concepção teórica, já de muitos, imediata e permanen-
lI'ansformada em fracasso pela temente.
llrática ... Com o passar do t!'mpo, sig-
I lO

!Im pelo mC;illlO pag-amen;o, ou (ul'eiras, eu certamente nfto de-


!lO!' pagamcn~o inferior. "olaria meu tempo a essa causa.
Tcmie a alongar as horas de Para mim, a administra.ção
tl':!halho. científica é, pois, antes de tudo,
I,('va il supf'rprodução (; ao um meio de melhorar as condi-
amlh'nto do desempri'go. (81) ções da classe operária. (82)
l\Ieclite-se. porém, sôbre a se- Fayol começou a vida profis-
guinte e nobre declaração de sional já ao lado da administra-
Taylor, repetida tantas vêzes, ção. Quando se preocupou com
quase nos mesmos têrmos, em os problemas humanos encontra-
diferentes ocasiões: diços no seio das emprêsas, fê-lo
Desde que me retirei das ati- do ângulo do patrão, do dirigen-
vidades remUlwradas, há e[~rca te, do diretor, do ápice da es-
!le 12 anos, tenho devotado todo cala hierárquica para baixo.
o meu tempo, e também todo Fayol preocupava-se com os pro-
centavo que me é possível eco- blemas humanos, mas do ponto
nomizar de minha renda, para ele vista do pensamento dirigen·
promover a causa da adminis- te. Não há injustiça em consi--
tração científica; e meu propósi- derá-Io membro da classe patro-
to, neste trahalho, é primeira- nal, mais identificado com os
mente - posso dizer quase in- problemas de aumento do divi-
teiramente - o de assegurar dendo e do lucro do que com
um quinhão maior de prosperi- os problemas de melhorar as
dade e felicidade para a classe condições do trabalho do ope-
operária. rário.
Estou, naturalmente, e devia Sente-se, em numerosas mani-
estar, interessado no bem-estar festações de Taylor, encontradas
material das companhias que em seus escritos, em seus dis-
ad.otam a "Administra.ção Cil'n- cursos, seu interêsse pela sorte
tifica"; mas, se o resultado do do trabalhador, do zé-ninguém.
meu trahalho fôsse meramente que labuta na base da pirâmide,
aumentar os dividendos e a pros- alugando a sua saúde, a sua
peridade das emprêsas manufa- fôrça física e a sua capacidade

(81) Copley. FI"ll1k. O]J. rit .. Ir. ]1. 4%-42G.


(82) l/'idem, p. ~36.
TAYLOR E fAYOL 111

de trabalhar. Talvez nada o çüo de pré-ruína, em que nüo ha-


haja ferido mais do que a dura via dividendos, mas ao contrário,
incompreensão dos sindicatos autofagia, em uma de equilíbrio
operários americanos relativa- e prosperidade,· em que os divi-
mente ao chamado Sistema dendos passaram a ser distri-
Taylor. buídos normalmente, ano após
Fazendo-se patrono decidido e ano, a contento dos acionistas.
sincero do operário, condição em Seja como fl'>r, Fayol fêz a
que êle próprio vivera durante sua carreira profissional no meio
vários anos, Taylor certamente das classes patronais, colocado
esperava outra atitude por par- no vértice da hierarquia. Daí a
te dos sindicatos de trabalhado- sua preocupação com os proble-
res. E tanto seu sistema era de mas especificos de chefia, quais
fato favorável ao operário que, sejam a previsão, o planejamen-
em tôdas as emprêsas taylori- to, a direção, a organização, a
zadas, durante vários anos, não coordenação e o contrôle. Daí
houve greve, desentendimentos também a complementaridade
profundos entre operários e pa- impressionante entre as idéias
trão. É natural que assim acon· de Taylor e as de Fayol. É que
tecesse: o Sistema Taylor ca- um trabalhou, observou e ela-
racteriza-se pela eliminação dos borou o seu sistema a partir da
movimentos inúteis, com a con- base da pirâmide organizacional,
seqüente poupança das energias ao passo que o outro, tendo como
do operário, e pela participação pôsto de observação a própria
maior dêste na distribuição chefia executiva, desenvolveu
do produto, através de salários sua teoria em sentido contrário,
mais elevados. do vértice da pirâmide para
baixo.
É possível que o Fayolismo
haja contribuído para melhorar 5. Versatilidade versus Estabi-
as condições dos operários da lidade
Cia. Commentry, Fourchambaud
& Decazeville, mas da passagem o exame da obra e da vida
de Fayol por aquela emprêsa, de Taylor não deixa dúvida sôo
os seus biógrafos e discípulos bre o dinamismo, a extraordi-
citam sempre o fato de haver o nária versatilidade dessa figura
mestre transformado uma situa- de escol, que abriu na história
de Sl'll país uma clareira tüo T,~ylor decidiu ingressLll' na Mie]-
r:rallr\c e tão luminosa para si vale Slecl Co., mudando aí mais
mesmo. Filho do advogado, e uma vez de direção, porque, jit
d:'stinado pela família a perfi- sendo torndl'o (pattel'n maker),
lhar a carreira do pai, preparou- comeC:llU novamente como sim-
Se' brilhantemente para os exa- ples operário.
mes H'stibl1lares na Escola de
DÜ'cito da Universidade dc Har- Na Midvalc Stcel Co., mudou
vDn1, No esfôrço de prepal'açiio,
freqüentemente de pôsto, che-
Taylor já demonstrou a inten- gando com doze anos de casa ao
sidade com que se entregava pôsto de engenheiro-ehefe, para
todo às tarefas que empreendia: o qual se habilitara mediante
f'li o ('XC'(,sso de leitura noturna, um eurso in absentiCl) no Insti-
à lllZ de querosene, que lhe pro- tuto Stevens de Hoboken, New
VOCGl1 a deficiência visual res-
Jersey.
ponsável pela reviravolta havi- Em 1890, deixou o emprêgo da
da em sua carreira. Midvale para aceitar o de ge-
rente-geral da Manufacturing In-
Impossibilitado, então, de se- vestment Company. De 1893 a
g ui,' o!> estudos universitários, 1898, vêmo-Io em Philadelphia,
doÍ-'; ,,]lOS mais tarde Taylor 1'e- trabalhando por conta própria na
;';OlFPll ganhar a vida como ope- qualidade de systematizer. Em
rário, êle que, pl'etencendo a uma 1898, é eontratado para "siste-
família abastada, tendo inclu- matizar" a Bethlehem Steel
sive passado longas temporadas Company. Nessa companhia
na França e na Alemanha, era permaneceu apenas 3 anos, até
('I is rum nos Estados Unidos, 1901, ocasião em que, sendo des-
]JiJl'que falava fluentemente fran_ pedido, mas jú havendo feito
('(-s e alemão aos 15 anos de fortuna pessoal razoável, à eusta
irlade. Não era êsse o back- sobretudo de suas patentes e in-
[/1'01/1/(1 de um operário, mas, venções, abandonou as ativida-
antes, de um schoZar ou futuro des remuneradas para se en-
pl'ofessor universitário. Tornan- tregar à propagação da admi-
ctn-se operário qualificado numa nistração científica. Desde en-
pequena fábrica de bombas de tão, atê a sua morte, em 1915,
ágUD de Philadelphia, para a qual Taylor foi sobretudo apóstolo do
(}~·,t ':t1':': 8ns 18 (!n()~ cl~ jd8o p , próprio sistpma, articulista, con-
'r A Y L o R TI FAYo L 113

ferencista, escritor e jogador de pl'àticamente impossíveis, por-


gôlfe. que a sociedade já está estrati-
É patente, pois, a extrema ficada, as profissões são heredi-
versatilidade de Taylor, reali- tárias. Quem nasce filho de sa-
zando muito e parando pouco pateiro, muito dificilmente dei-
em cada emprêsa e em cada ati- xará de seguir o ofício do pai,
vidade. o qual, por sua vez, já o teria
Fayol foi justamente o contrá- herdado de seus antepassados.
rio. Desenvolveu aquilo que po- Ao passo que, no melling ZJot
dia chamar carreira sedentária, americano, a mobilidade social
tipicamente européia. é muito maior. Ali é possível,
Taylor viveu ao todo 59 anos como foi a Lincoln, fazer a tra-
de idade. jetória de lenhador a Presidente
Fayol trabalhou na mesma da República, como tem sido a
companhia durante 58 anos con- muitos outros americanos, os
secutivos. Nunca mudou de pa- apreciadíssimos sel/-made men,
trão, nem de interêsses. Somen- que começam no sopé da escala
te depois de aposentado, com social e, a poder de golpes de
quase 80 anos, foi que se dedi- talento e de esfôrço, chegam
cou, como Taylor, à propagação ao tôpo, sob aplausos gerais c
das próprias idéias. óbvia, pois, com a aceitação de todos.
esta diferença entre o dinamis- Nem por isso é menos assina-
mo criador, a quase inconstân· lúvcl a diferença de tempera-
cia de Taylor, que mudou de mento entre Taylor e Fayol.
ramo, de emprêgo, de profissão,
várias vêzes, e a estabilidade, a Taylor era intenso, rápido, di-
bem dizer, granítica, de Fayol, nâmico, realizador, não deixou
que permaneceu no mesmo lu- nenhuma de suas tarefas pela
gar durante a sua carreira pro- metade.
fissional, extraordinàriamente Apesar de chegar aos 84 anos
longa. de idade, tendo tido mais tempo
É provável que haja contribuí- para realizar a própria obra, Fay-
do para isso a diferença de am- 01 deixou incompleto o seu ele-
biente. Na França, a movimen- mento principal, Administration
tação social, as mudanças brus- Industrielle et Générale, cujas
cas de ramo e de carreira são terceira e quarta partes foram

9 - Cad. Adm. Pública - 44


114 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

apenas anunciadas e jamais pu- calos operários, tudo isso con-


blicadas_ Por quê? tribuiu para tornar amargos os
Paradoxalmente, Fayol era, no últimos dias da vida do criador
fundo, um conservador francês, da administração científica_
levado a engendrar uma doutri- Mesmo do ponto de vista de
na administrativa pela sua irre- divulgação, o Sistema 'Taylor,
sistível inclinação para o racio- enquanto viveu o seu criador,
cinio experimentaL ap2sar ele amplamente debatido
Taylor era genuinamente revo- pela imprensa, sobretudo a par-
lucionário, trazia em si a marca tir elo litígio das estradas de
da inquietude, da insatisfação, ferro contra os comerciantes, em
da trepidação, do inconformismo, 1m2, não logrou circulação uni-
que deseja de qualquer maneira vel'saL Confo!'me elepõe Le Cha-
modificar o statu quo das coisas_ teliel', Taylor em Philadelphia
era menos conhecido como o
6_ Repercussão no próprio país revolucionário criador da enge-
Taylor não experimentou a ale- nharia humana do que como
gria de ver o seu sistema com- jogador de gôlfe, esporte a que,
preendido e aplicado nos Esta- por conselho médico, se dedi-
elos Unidos_ O inquérito parla- cava ('0111 prazer, a ponto de
mentar de 1911 e a atituele do haver conseguido posição de
Congresso Americano, que du- certo destaque nos quadros elos
rante muitos anos negava recur- jogadores de renome.
sos orçamentários a qualquer es- Taylor morreu dois ou três
tabelecimento ou emprêsa gover- anos antes do triunfo de seu sis-
na mental que pretendesse ado- tema nos Estados Unidos, triun-
tar o Taylorismo, a oposição fo devido, sobretudo, às exigên-
que sofreu no seio da Bethlehem cias da Primeira Guerra Mun-
Steel Company, da qual foi des- dial, que foi a primeira heca-
pedido em 1901, ao cabo de 3 tombe e sorvedouro de materiais,
anos de tentativas frustras para máquinas, veículos, armas, na-
implantar a administração cien- vios, locomotivas, munição, equi-
tífica nas oficinas daquela com- pamento, etc_ etc., em escala
panhia e numerosos outros fa- sem precedentes.
tos, inclusive e principalmente A despeito de tudo isso, Taylor
a oposição ferrenha dos "indi- estêve muito mais próximo de
TAYLOR E FAYOL 115

ser profeta na própria terra, en- Nothing succeeds like suceS8 ...
quanto vivo, do que FayoL Che-
gando à profissão de engenheiro Contudo, o mérito extraordi-
pela via inortodoxa da autodidá- nário, único, de Taylor, só veio
tica, graças a estudos in absen- a ser reconhecido e proclamado
tia, Taylor nunca logrou o aprê- amplamente, nos Estados Unidos,
ço sem reserva dos engenheiros depois da morte do fundador, no-
acadêmicos_ Mas, os triunfos tadamente a partir de 1921, quan-
espetaculares que obteve no cam- do a Sociedade para o Avanço
po da engenharia-mecânica abri- da Administração Científica foi
ram-lhe as portas da Sociedade transformada em Sociedade Tay-
Americana de Engenheiros-Me- lor, uma das muitas homenagens
cânicos, à qual apresentou, sis- prestadas à memória do grande
temàticamente, sob a forma de engenheiro americano.
comunicações, os resultados de Os sucessos que Fayol obteve
suas experiências, tanto no cam- na França foram muito menos
po da engenharia prôpriamente acentuados. Em nenhuma época,
dita, quanto no campo da enge- durante a sua vida e depois de
nharia humana. Se bem que es- sua morte, o Fayolismo conse·
sas comunicações hajam obtido guiu por parte da elite francesa
apenas modesta repercussão no mais do que um reduzido e dis-
seio da sociedade, Taylor chegou creto aprêço. O Fayolismo triun-
a presidente da mesma em 1906, fou menos na França do que o
conseguindo, assim, senão ore· Taylorismo nos Estados Unidos
conhecimento real de seus pares, - sob todos os aspectos. Na
pelo menos o reconhecimento ofi- repercussão das obras escritas.
cial do órgão de classe. Por ou- Em o número dos prosélitos.
tro lado, as honrarias profissio- Nos artigos de imprensa e nos
nais que recebeu sob a forma discursos acadêmicos. O próprio
de altos salários e royalties te- govêrno francês, que em 1918,
riam certamente contribuído pela voz do Primeiro-Ministro
para recomendar Taylor ao aprê- Georges Clemenceau, já havia
ço do povo norte-americano, um tomado conhecimento e feito a
dos traços de cuja psicologia é apologia do Taylorismo, só mais
aplaudir os homens que triun- tarde, após ter a Bélgica reve-
fam financeiramente na vida: lado interêsse pelas idéias de
116 Cl\DERl\'OS DE ADMIl\'lSTl\AÇÃO PCBLICA

Fayol, veio a prestigiá-las, con- grandes nomes da química c da


vidando o pai da Teoria Admi- física francesas e que se incum-
nistrativa para analisar e suge- biu de introduzir Taylor na Eu-
lir modificações nos serviços ropa, através da tradução dac;
po,:t ais e telegr[lflcos da Fran- suas obras e de numerosos llls·
ça, tarefa de que resultou o opús- cursos e escritos.
culo intitulado Les P_T.T. (83) Fazendo·se arauto das idéias
Tal a atitude de nonchalance ele Taylor na França e na Eu·
ela intelectualidade francesa pela ropa, Le Chatelier ignorou siso
contrilmição de Fayol, que, como temàticamente Fayol. Nos vú·
j:l demonstramos, o próprio rios escritos que publicou ares·
Grande Larousse lhe mutila peito da administração científi·
inexplicàvelmente a obra, apre- ca, do Taylorismo (> assuntos
~entanrlo·a sem a sua idéia cen- afins, Le Chatelier manteve o
tral e guiadora -- a da eleva- mais completo silêncio sôbre
(,10 ela administração à catego- Fayol.
ria de ciência ensinável. A intenção de ignorar Fayol
0" estudiosos imparciais não é firme e até OS10i1;3iva em ou·
t ardam a chegar à conclusão de tros autores franceses, que tam·
que Taylor foi maior elo que b&m escrevem sôbre as mo(1Pr·
Fayol, mais completo, mais di- nas técnicas administrativas. VC'·
li Ellnico. mais original, mais re- ja·se, por exemplo, o caso tle
\'olucionftrio, mais elotado de po, Georges Friedmann, autor [le
(i('l' de vontade. Mas os france- Pl'oulf:mes IInmaines dll lVIl/chi·
~C'~:, certamente, festejando Tay- nismc Industriel (Paris: Calli·
1'11', por um lado, e ignorando mard 1949),
Fay()l, por outro, têm contribuí- O primeiro capítulo df'ssa obra
do mclÍs do que qualquer outro trat<1 do Taylorisme el science8
povo para destacar o desnível de Z'homme, mas o autor nem
existente entre os criadores da sequer en passant cita Fayol, ou
administração científica. qualquer de seus discípulos.
Registre·se, por exemplo, a ati- Não é de admirar, pois, que
tude de Henry Le Chatelier, dos Fayol haja permanecido na
(03) Fayol, Hcnl'Í L'Incapacité 111<111&I1';0Ile (/e fÉ/,'/,- Lcs P.T.T, (Pari,:

Dunod, 1921), 118 pp.


TAYLOR E FAYOL 117

Fi'ança como estrêla de quarta de Paris, dirigido a The Evening


grandeza, cuja obra poderia ser Post, de Nova Iorque: "Depara-
descrita por aquela sátira de se freqüentemente com a pala-
Bernanl Shaw, ao referir-se a vra Taylorismo, empregada de
um poeta de vôo rasteiro: s1Hnll maneira até certo ponto livre, a
(,ol~:Jh of a minar poet. propósito da eficiência verifica-
da no campa americano. Na
7. Repercussão no estrangeiro
verdade, Teylorismo tornou-se
As idéias de Taylor tiveram mais uma palFlvra francesa do
melhor fortuna no próprio país que americana. Ensaista'S que
e no estrangeiro do que as de escrevem sôbre os negócios pú-
Fayol. O livro principal do en- blicos são in'lcterados no uso
genheiro americano, Principles desta palavra". (84)
0/ Scientific Management, foi Outro exemplo frisante do im-
trFlduzido para o francês, o ho- pacto do Taylorlsmo ;w França,
landês, ° sueco, o italiano, o rus- encontramo-lo no caso da Fun-
so, o espanhol, o alemão, o por- dação Michelin, a qual, especial-
tuguês, o chinês, o japonês e V:I- mente financiada por Edou-
rios outros idiomas. vard Michelin, Presidente da fir-
Quem assumiu a iniciativa de ma Michelin & Cie., procura esti-
divulgar Taylor na França foi mular o estudo da administração
nada menos que Renry Le Cha- científica e do Sistema Taylor,
telier, membro do Instituto, pro- por meio de cursos ministrados
fessor de Química da Sorbonne, nas escolas têcnicas superiores
figura respeitada no mundo cien- de França, por meio de curso de
tífico europeu do comêço do sé- conferências públicas, e por
culo. Mas, antes de Le Chate- meio de bôlsns de estudos con-
lier, um jovem engenheiro fran- cedidas a jovens engenheiros
cês, de nome De Ram, já havia mandados aos Estados Unidos
introduzido o Sistema Taylor para observar os métodos admi-
nas fábricas de automóveis Re- nistra tivos.
nault_ Em 1917, Norman Rap- Em Viena chegou a circular
good, correspondente de guerra um periódico com o título Tey-
americano, dizia em telegrama lor-Zeitschriít.
118 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Já vimos também a repercus- etc., o Fayolismo jamais conse-


são das idéias de Taylor na Rús- guiu deitar raízes. Tem sido ape-
sia Soviética. Já vimos a re- nas objeto de discussões superfi-
percussão das idéias de Taylor ciais. Com efeito, não se pode
no Brasil, onde chegaram a ca- ilpontar, neste país, um reflexo
racterizar uma fase de nossa tangível da doutrina de Fayol
evolução administrativa. em qualquer setor da adminis-
No processo cultural de inter- tração pública ou particular, fe-
câmbio de idéias e conceitos, se- deral ou municipal. Em nosso
ria impossível determinar a in- país, cultivam-se os ensinamen-
fluência de Taylor nas práticas tos de Fayol apenas nos cursos
administrativas do mundo con- de Administração Geral do DASP
temporâneo. Em muitos casos, e da Escola Brasileira de Admi-
cssa influência tem sido indireta nistração Pública da Fundação
e repercutiva, exercendo-se por Getúlio Vargas, quando os pro-
tabela. sem que os agentes te- fessôres tratam de expor a his-
nham conhecimento de sua ori- tória e o desenvolvimento da
gem. arte e ciência da administração.
Fayol, que nâo conseguiu ser Em verdade, o mundo ociden-
nem profeta menor em sua pró- tal tem sido moroso em desco-
pria terra, repercutiu muito me- brir Fayol e auferir, da obser·
nos intensamente no estrangei- vância de sua doutrina, as van-
ro. Há traduções de sua obra tagens seguras que decorrem
principal para outros idiomas: dela, quando ensinada nas esco-
alemão, espanhol, português, etc. las e adotada na vida das reparo
tições públicas e emprésas parti-
Mas. posta ao lado da influên- culares.
cia evidente das idéias de Taylor, Fayol merece mais aprêço in-
a das de Fayol fora da França telectual do que tem recebido até
é quase nula. agora.
No Brasil, por exemplo, país
que, até o advento da Segunda
8. Capacidade executiva
Guerra Mundial, era uma espé-
cie de colônia intelectual da Administrar é fazer coisas
França, pois da França recebia acontecer. Administrar cientifi-
as idéias, a moda, a literatura camente é fazer coisas acontecer
TAYLOR E FAYOL 119

do modo mais conveniente e eco· ga medida o instinto executivo:


nômico. O administrador co· a sua ação era quase tão rápida
mum, empírico, pode realizar quanto o seu pensamento_ Se-
coisas e até levar a efeito pro- gundo o depoimento de Frank
gramas completos, porém sem- Copley, no vocabulário de Tay-
pre à custa de muito esfôrço, lor a expressão deve ser feito
através de muitos erros, ao pre- era invariàvelmente seguida pe-
ço de muito desperdício. las expressões pode ser feito e
será feito.
O administrador profissional,
isto é, o administrador cientí- Escrevendo sôbre Taylor nos
fico, faz igualmente coisas acon- Anais da Academia Americana
tecer - mas evita os movimen- cl2 Ciências Políticas e Sociais,
tos parasitários, extrai o máxi- em setembro de 1919, J. E. Otter·
mo de proveito do esfôrço dos son, conhecido construtor naval
trabalhadores, quer dizer, inte- americano, depois de fazer um
lectualiza a tarefa administra- confronto entre a função exe·
tiva_ cutiva e a função de engenharia,
Apesar de sua decisiva lide- concluía que Taylor era, em ver-
rança no desenvolvimento da dade, mais engenheiro do que
administração científica, Taylor executivo. Otterson não foi o.
não foi um grande executivo. único que pôs em dúvida a ca-
Como criador do movimento, pai- pacidade executiva de Taylor.
ra, solitário e altaneiro, acima A versão de que o criador da
de todos - não tem pares_ En- Scientific lVIanagement era mc-
tanto, como administrador, Tay- nu;; brilhante como administra-
lor deixava muito a desejar. Sua dor foi largamente divulgada:
experiência parece confirmar ° é muito provável que deva parte
adágio popular: "em casa de de sua publicidade ao fato de
ferreiro, espêto de pau." Taylor haver tido o hábito de
Com efeito, êle não conseguiu falar desfavoràvelmente da pró-
dominar a arte gerencial. Criou pria capacidade executiva.
a administração científica; sem Outro opinante, Charles A.
embargo, não passou da catego- Brinley, químico da Midvale
ria de administrador falho. Steel Company, disse certa vez
É verdade que possuía em lar- que Taylor carecia de tato para
120 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

tratar com os homens, em geral, permitiram ser um administra-


c, em certas ocasiões, de aptidão dor harmonioso e equilibrado
para manter-se em bons têrmos como Fayol.
com os trabalhadores, na fábri- Poder-se-ia conjecturar: a su-
ca. (85) perioridade executiva de Fayol
Aqui tocamos numa das pou· explica-se pelo fato de haver o
cas diferenças entre Taylor e Fa- engenheiro francês disposto de
yol, em que o americano apare- muito mais tempo do que Taylor
ce em posição francamente infe- para praticar a arte de adminis-
rior ao francês. Fayol foi um trar, assim como para lhe testar
administrador extraordinário. e refinar os métodos. A rigor, o
Dos que estudaram a obra de engenheiro americano só exerceu
Fayol e sobretudo a sua vida, funções executivas esporàdica-
nenhum lhe faz qualquer restri- mente. A verdade, porém, é que
ção à capacidade administrativa. Fayol geriu uma grande emprê-
A circunstância de haver recupe- sa exemplarmente, durante qua-
rado o conjunto de emprêsas si- se meio século, assegurando-lhe
derúrgicas de que foi diretor, solidez, dividendos, prestígio e
arrancando-as da beira do desas- progresso. Essa habilidade de
tre e dando-lhes posição sólida durar tanto no principal pôsto
de prosperidade contínua, eleva- de uma grande sociedade anôni-
se como proeza administrativa ma, da qual só se afastou aos 79
de grande envergadura, capaz anos, desmoraliza qualquer in-
de consagrar definitivamente o terpretação oblíqua. Como exe-
seu autor. cutivo, Fayol foi, de fato, inex-
É provivel que Taylor tivesse cedível, ao passo que Taylor re-
maior vigor para fazer a ação conhecia e proclamava as pró-
seguir o pensamento - um dos prias deficiências nesse setor_
1l'aços marcantes de capacidade Taylor incompatibilizava-se fre-
executiva. Mas outros defeitos qüentemente com os subordina-
de Taylor, a intensidade de tem- dos e também com os chefes.
peramento, a falta de tato, que Alguns de seus oponentes espa-
lhe acarretaram a despedida da lhavam que êle nunca havia con-
Bethlehem Stcel Co., não lhe seguido bom êxito em coisa algu-

(85) Copley, Frank op. cit., r, p. 155.


TAYLOR E FAYOL 121

ma, que era despedido de tôdas A análise imparcial das vidas


as emprêsas, em suma, que era e obras dos criadores da Admi-
um "trapalhão." (86) nistração Científica desvenda ou-
Os impulsos reformistas de tra diferença entre Taylor e Fa-
Taylor talvez não lhe permitis· yol: a plenitude do primeiro e
sem transmitir aos subordinados a carência do segundo. Com
a impressão de segurança dese· efeito, Taylor fêz tudo em es-
jável nos chefes executivos. cala maior do que Fayol e dei-
f:le próprio confessava seu xou seu sistema acabado.
pendor incoercível para refor-
mar as coisas e sua incapacida- Os escritos que deixou, os dis-
de de agir com moderação. Em cursos que pronunciou, o estilo
carta a Ray S. Baker, escrita de vida que levou, sobretudo de-
em 1910, confidenciava: pois de sua saída da Bethlehem
"Sou reformador por tempera- Steel Company, incutem a certe-
mento. Sinto-me talvez demasia- za de que Taylor se esforçou
do amigo de propor melhora- por completar a sua missão c
mentos, isto é, inclinado a mar- obteve pleno êxito nos esforços.
char para as reformas com ra- Taylor não deixou promessas in-
pidez maior do que, em muitos cumpridas de escrever outros li-
casos, seria aconselhável." (87) vros, ou outros capítulos sôbre
o Scientific Management. Aliás,
Fayol granjeou e manteve
reputação de bom administrador o Sistema Taylor desenvolveu-
se da prática viva para a teoria
até o fim. Nem se diga que o
fêz a golpes de sorte ou me- formulada. Só depois de com-
diante a prática de bom-mocis- pletamente inventado, articulado
?no. Lembre-se: uma das oito
e experimentado foi que Taylor
regras de comando por êle pre- começou a escrever sôbre o sis-
conizadas e praticadas, a elimi- tema.
nação dos incapazes, é de todo
Provàvelmente, foi a evidên-
incompatível com o maternalis- cia de originalidade e fecundi-
mo gerencial. dade, revelada pela prática, que
persuadiu Taylor a recorrer à
9. Plenitude e carência palavra escrita para difundir o
(86) Copley, Frallk, üp. cit., l, p. 457.
(87) Ibidem p. 416.
122 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

seu sistema. A mentalidade de dans cet art, comme dans beau-


Taylor era exatamente o oPOS' COUp d'autres, c'est en forgeant
to da mentalidade aeadêmica, qu'on devient forgeron." (88)
que tende a pensar em têrmos Nada obstante, Taylor coroou
de generalizações. Depõem os sua obra com a formação inte-
seus discípulos e assistentes que gral de todos os seus princípios,
Taylor era fascinado pela açüo, procedendo como verdadeiro ho-
procurava resultados imediatos, mem prático, e deixando provas
tungívds e mensuráveis. A pl'C- de sua exuberância e plenitude
pal'uçüo de um compêndio sôbl'e profissionais.
a administ1'açfto científica 'PCI' sc Fayol, melhor expositor do
nflO poderia interessá-lo. Tinha que Taylor, tendo apresent~­
e manifrstava a convicçüo de do sua teoria administrativa de
que administrar cientificamente forma bem mais lógica, por al-
é ~llgo que só se aprende com guma razão que não consegui-
a meto na massa ._- fazendo. mos decifrar, deixou-a pela me-
Em sua primeira manifestação tade. Nâo obstante haver anun-
pública sôbre administração, Fay- ciado, no intróito e no fim do
01 sustentou o mesmo ponto de primeiro volume da Administra-
vista. Com efeito, o discurso i ion Industrielle et Générale, que
pl'onunciado na sessüo de ('ncet'- a obra compreenderia 4 partes,
l',1'11cnto do Congresso Interna- publicou apenas as duas primei-
cional ele Minas e Metalurgia, ras. Havendo fundado, depois de
realizado em Paris em junho de aposentado, o Centro de Estudos
] 900, primeira manifestação re- Administrativos, entidade res-
gistrada de Fayol sôbre o que ponsável pela publicação de vá-
fI" mais tarde veio a chamar rios trabalhos sob sua inspira-
teoria administrativa, contém o ção, não se compreende que Fay-
s('guinte trecho: 01 haja falhado em completar
"L'administration, qui compor- a construção principal.
te l'applieation de nombreuses Não é nosso intuito exaltar
c(lI1naissances et de beaucoup de Taylor e deprimir Fayol. Em
qualités personnelles. est surtout ambos reconhecemos mérito ex-
1'a1't de manier les hommes; et traordinário c a ambos damos

(8~) F·uyul. IIcnri Ui-'. cit .., Apêndice.


TAYLOR E FAYOL 123

irrestritamente o título de cria- Como Bla,zers of the way,


dor da Administração Científica. como Makers of the charts,
Temos, porém, que nos curvar como inventores sociais, como
à evidência dos fatos: Taylor artífices da engenharia human(~
foi até o fim no desenvolvimento - que é a Administração Cien-
e retoque do seu sistema. Obteve tífica - Taylor e Fayol, não
plenitude de realização. Fayol obstante as diferenças que apon-
deixou sua construção inacaba- tamos entre os dois, concorrc-
da, incutindo assim a impressão ram para o progresso social e
de caréncia de observações, ou a dignificação da pessoa huma-
de incapacidade para reduzi-las na, tanto ou mais que os inven-
a escrito e completar a obra. tores do dínamo, do telefone,
... ... ... do motor de explosão intecna,
da radiotelefonia e outras inven-
É difícil demonstrar os bene- ções da mesma estirpe.
fícios que a Administração Cien-
tífica, criada por Taylor e Fa- O que Taylor e Fayol criaram
yol, trouxe e continua trazendo representa uma dilatação das
à humanidade. Mas, é certo que fronteiras da capacidade huma-
a contribuição de seus criadores na para descobrir, mobilizar,
para o progresso econômico e so- combinar e coordenar recursos
cial do mundo e o aumento de físicos e intelectuais, modos de
bens materiais e de oportunida- ver, processos de trabalho, em
des culturais para cada indiví- benefício da solução dos proble-
duo transcende de muito o al- mas de que depende o aumento
cance de compreensão da grande de bem·estar de cada homem,
maioria dos homens. em cada comunidade.
BIBLIOGRAFIA
OBRAS DE TAYLOR

Quase todos os trabalhos escritos de Taylor, os livros inclusive,


foram, originàriamente, comunicações à Sociedade Americana de
Engenheiros-Mecânicos. A notoriedade do autor é que criou condi-
ções para o aparecimento posterior dêsses escritos sob a forma ele
livros.
SOBRE ENGENHARIA:
Tltc Relative Valuc of TVatcr-gns and Gas /;"(,111 tlle Siemcns P/·oduce,. for
Melting 'in lhe Opcn-heartlt FUr1!"cc, Pap"r tn tll<' A.S.M.E .. 1886.
"Notp::; on Belting", ']Transaction,)'. N(\w Ynl'k, Am('rican Soeil·iy of l\Ie~
chanical Engineers, 16 :856-903, 1895.
On the arl of cutting melaIs, An IlIl,z,.css mude aI t he (jIJcninu of lhro
unnual meeting in New Yor/c, Deceml>er, 1906. New Yurk, Amcl'Ícan Society of
Mechanical Enginecrs. 1907. 248 pp.
A Treatise on Concrele. Plain and Rell//orcer! (with S E. Thompsonl. N('w
York, Wiley & Sons, 1906.
Concrete Costs (with S.E. Tholmpsoll), N,·w Yudc, ,Vi1Py & Sons, 1912.

SOBRE ADMINISTRAÇÃO :
"A Piecc-Rate System", Transactiol1s. Nr'w Yot'k, Americull Socidy of
Mechanical Engincers. 76:856-903, 1895.
Shop Management, Papf'r to the A.S.M.E" 1903. Reproduzic1o sub a fur-
ma de livro por HarpeJ' & Broth('rs, New York, 1910.
"The Gospel of Efficif'ncy", altigos publicados em Tlw AmN;cml ltlaUil-
zine, vols. 71 e 72, 1911.
Prineiples and Methods of ScicIltific Itlanagemellt. Nc'w YOl'k, Hal'pcl' &
Bl'others, 1911.
AdminislTación de Tal/eres. Bucnos Aires, Ed. Argentina de ~'inanzas y
Administración, 1945. 234 pp.
La dil'ection des atelie1·s. Étude Sllivie d'un «memoil'(' SUl' l'emploi de
courroies". Traduction française de L. Descl'oix (Extmit de la Revlle de
Metalul'gie). Nouveau til·age. Paris, Dunod, 1930.
Princípios de Administração Científica. Tradução de Arlindo Vieira Ramos.
Rio de Janeiro, Departamento Administrativo do Serviço Público, 1948. 124 pp.
12S CADERl\OS DE ADMIl':ISTRAÇAO PÚBLICA

OBRAS DE VARIOS AUTORES SÓB!lE TAYLOR


E),I PORTUGUBS :
ALI!"', Fábio de' Carvalho, "No centenário de Tay]()l' " , Revista do Serviço P,;-
/,Zic(). Rio de Janeiro, 70(3) :337-338, mar. 1956.
Ccr·:mmmo RAMOS, Alberto, "O sistema Taylor", Uma InlTodllção ao Histó1"im
da Or!Janização Rar'ion"l do Trabalho. Rio de Janeiro. Dop. de Imprcn"l
Nacional, 1950.
MEDEIROS. Océlio dc, "Aspectos fundamentais da obra de Fredel'ick Winslow
Taylor. Revista do Serviço Público. Rio de Janpiro, 1(3) :15-28. mar. ]9·19.
- - - - - - "Os discípulos {k Taylor", Revisla do Serviço Público. Rio de'
,Janeiro, 2(1) :7-13, abro 1949.
"Taylol'is1ll0, Fayolismo e Fordismo" (Sistemas fundamentais de di-
j'e,fio das cmprêsas). Rio de Janeiro, Dep. de Imprensa Nacional.
!trm:IRo, Olympio Carro "Vida de; Frederick Winslow Taylor", IDORT. Revistll
de Ol'g(wioaçao e Prodlltividrlde. São Paulo, 31.5/316: 82-83/92, mar./abr.,
1958.
"T.·\YI.ORl8MO c adminietração púilliea", RC1';sta do Scn;iço Público. Rio de Ja-
llpiro, 2(3) :105-10G, jun. 1915.

EM INGL:t::S :
ATKJJo:'H, Willard E., "Taylor, Fredcriek Winslow", EnryclolWedia 01 Social Briel1-
rcs. Nova Iorque, The MacMilIun Co., 1944, v. 13-14, P. 542.
Cor'I."Y. Frank Bark]ey, Frcde,.ick W. Taylor, Fathe,. 01 Scienti/ic Mana.r;emel1t.
N(·w York and London, Harper & Brothcrs, 1923, 2 V.
])lCBOLD. John T., "Scicntific Managcmcnt Applird to the Firld of Human
Rdations", Advrtnced Mana[/emcnt. New York, 18(2) :27-29, dez. 1953.
DUTTON. IIenry P., "A IIistory of Scicntific Management in the United States
of America", Advllnccd Mal1agement. New York, lS(10) :9-12, out. 1953.
lIl':.rT, Edward :BJyrc, Sc;entilic Management since Taylor. New York, Mc-
Graw-HiII Book Co., Inc., 1934. p. 263.
lIT'IORE, Franklin G., "Frederick W. Taylor", Manlllacturing Management. Home-
wood, IlI .. R. D, Irwin, Inc., 1951, pp. 11-16.
l'f:l~SON H.S. "ScienUfic Manugc'nwnt", Encyclopaedia 01 tlle Social Scienres.
New York, The MacMiIlan Co., 1944. v. 13-14, pp. 603-60S.
";';C1ENTIFIC Managel11ent", Encyclopaedia BTitannica. Chicago, Encyclopaedia
Britannica, Inc.; Britannica of Canada, Ltd. London, The Encyclopaedia
Britannica Co., Ltd., 1943. V. 20, pp. 123-127.
SPHlEm;L, Willial11 R., "J!'rederick '\Vinslow Taylor", Industr'ial Managemenl.
4.' ed. New York, J. Wiley & Sons; Londres, Chapl11an & Hal!, Ltd.,
1947, p. 16-27,
f)!'EI'ENS INSTITUTE OF TECHNOLOGY, A Classi/ied GU'ide to the Frederick WÜlslow
Taylor Collection. E.G. Hyward, New York, Al11erican Society of Mecha-
nica] Enginecrs, 1951. p. 45.
TAYLOR E FAYOL 129

"TAYLOll, Fredcrick Wim;low", Encyclopaerlia Bhtrmnica. Chicago, Encyclopae-


dia Britannica, Inc.; Toronto, Encyclopardia Britannica of Canada; Lon-
dres, The Encyclopaedia Britannic:a Co .. Ltd .. 1943. v. 21, p. 853.
'''rWLOR SOCIETY," Vulletin. NC'w York, \'. 1-19, elez. 1914 -- abro 193·1. Nnv
York, 1914-1934, 19 \'.

r'JM FRANCÉS
BRleARD, Gcorg(~s, T"'Oroanisatiol1 Scicntijique du Trrlvail. Pal'Ís, A. Colin,
1927. p. 210.
CASACOF, Christo. "Le Systéme Taylor" (sciC'ntific management), La technique
de l'or[j'wisafion scientifique du travail. Paris. Girardot & Cie., 1948.
LE CIIATELIEP., Hc·nr,. Louis, Le Taylorisme. 2c. 0d. Pads, Dunod. p. 238.
CTIEVALTER, Jean, "Le systéme Taylor", L'oroanisa/ion rlu Ir((1;ail. Pal'Ís, FIam-
marion, 1946.
DANTY-LAFRANCE, Louis, "Eloge de F.W. Taylor." CNOF. Ret:ue Mensuclle rle
l'OroanisaUon. Paris, 6 :23-30, jun. 1954.
DVBREGIL, Hyacinthe, "1856-195G ccntenaire de Taylor", CNOF. Revue Men-
suelle de l'Oroanisation. Paris, 3 :11-12, mar. 1956.
FOURGEAUD, André, La racionalisation: États-Unis - Allemaone. Essa; de
synthese doclrinale. Paris, Payot, 1929. p. ~55.
FRIEDMAN, Georgcs, "Taylorisme et Rcicnce de I'homm .. ", Prol)lem~s Iwnwilles
c/u machinisme inrl1/striel. 170. éd. Pari.', Gallimard, 1946.

EM ESPANHOL :
FRlEDMAN, Georges, "Taylorismo y cicncias deI hombrc", PJOblemas Humanos
deI Maquinismo Ind1/s11'ial. Traducción ele Maria Elena Vila. Buenos
Aires, Ed. Sudamericana, 1956.
IOTEIKO, Josefa, "EI TaylorislIlo", I l' n, La Cienda deZ Traúuju y SI! Or[j(l1ci-
zación. Traducción de M. Ontafíon. Madrid, D. JOlTO, 1926.
RmvILLA QUEZADA, Alfredo. "La administración científica de Taylor", Tres Es-
tudios sobre Admill;stración. La Paz, Ed. U.M.S.A., 1952.

OBRAS DE F A YOL
SOBRE ENGENHAIUA:
"fetudrs SUl' I'alt,'ralion de la comlm;;lion sponlanéc de la houille expos('c à
I'air". Bulle/i.n de la Société de Flnduslrie Miné"<iZe, 1878. 260 pp.
"Études sur le terra in houillrr de Commentry; théoric des deltas". Bullelin
de la Société de l'Industl"ie Miné1'llle, 1887. 545 pro
"Note SUl' les mouvemenls dc' terrains Pl'ovoquécs pour l'exploitation de;;
mines". Bulletin de la SociéU de Flndnslri, Miném[c, 1885. 71 pp.

SOBRE ADMINISTRAÇÃO
Administra/ion ind'llstTielle et générale; prévoyance-oryan;w: iOH c011i1lUlJl{lc1I1Cl1f-
coordination-contr6Ie. Paris, Dunod, 1947. 151 PP.

10 - Cad. Adm. Pública - H


130 CADERNOS DE AD.MINISTRAÇÃO PUBLICA

.4dminislraçâo ind/(sthal e g(;r(/l; pr(1)isão, organização, comando, coordenação,


COi1!ri'Jle. São Paulo, Rio a" Janeiro, Editôra Atlas, 1950. 150 pp.
Lldminislración illdust,'ial y ljcncml. Previsión-organizaci6n-mando-coordina-
(';on-control. Ed. corro y aum. Traducción deI francês por Constantino
Dimitriu. BIH'nús Aires, EI Atenco, 1956. 26G pp.
General and indn&trial rnalla!)clI1cnt. Translated from thc French edition
(DlI1lOd) hy Constancc StOll'S. London, I. Pitman, 1955. 110 pp.
"TI", administratil'c theory in thc "tate" (i.n Gulick, Luther Halsey; J'ame~
D. Mooncy c L. Unvick, Papr;rs on the Science oI Administration. New
York, Instituto of Public Administration, 1937, pp. 101-114).
La doelrine admiHistralivc de l'État. Bruxelas, 1923.
I,';ncapacité indnstrielle de FÉtat: les P.T.T. Paris, Dunod, 1921. 118 pp.
Note sar les publicat'ions faites par le Centre d'Étndcs Administratives.
La Téfo1'ine administrative des J:'.T.T.

OBRAS DE VARIOS AUTORES SOBRE FAYOL


LIVROS E FOLHETOS: EM PORTUGU:I1:S
B"A8IL. DEPARTAMENTO ADMl~ISTRATIVO WSERVIQO PÚBLICO, Henr·y Fayol e a Ci~ll­
cia da Administração. Rio de Janeiro, Dep, de Imprensa Naciollal, 1945.
62 pp.
FREITAS, Isnard Garcia de, Curso de PTincfpios Gerais de Administração - Fayol.
Rio de Janeiro, Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, 1949. 51 pp.
MF,DEIROS, Océlio de, Tailorismo, F'o;olismo e Fordismo (Sistemas fundamentais
dc direção de empl'êsas). Rio de Janeiro, Dep. de Imprensa Nacional, 1952.
96 pp,
ARTIGOS:
CANTANHEDil, Cesar, "Flliolismo", Curso de Organização do Trabalho. 2.- ed.
Rio de Janeiro, Org. Cultural Vida, S. d., pp. 50-60.
Loprs, Lucas, "Organização Científica do Trabalho". IDORT, Revista de Or-
ganização e Produtividade. São Paulo, 23 :244-249, nov, 1933.

EM ESPANHOL:
-REI'lLLA QUEZADA, Alfredo, "La doctrina administrativa de Fayol", TI'€s Estlldio3
sobre Administración. La Paz, Ed. U.M.S.A., 1952.
EM FRANC:t1:S:
CASACOF, Christo, "La doctrine administrative de Fayol", in La tecltnique de
Forganisation scientifique du tTavall. Paris, Girardot & Cie., 1948.
CUEVALIER, Jean, "La doctrine de Fayol", L'organisation d" travail. Paris,
Flammarion, 1946.
WILBOIS, J. e P. Vanuxen. Essai sur la conduite des affaires et la direction
des hommes; une doctrine française: l'administration expérimentale,
Paris, Payot, 1920,
"FAYOL, Henri", Larollsse du XXe siecle. Paris, Llbr. LarOl,sse, 1930. t. 3e.
SEGUNDA PARTE

TAYLOR E A ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA


CAPITULO I

INTRODUÇÃO

REX WILLIAM CRAWFORD


TIEX WILLIA}\[ CnAWFOnD

Educador e sociólogo norte-americano.


Cargos exertidos: Adillo cullural da Embaixada Americana no trihlÍo
19·13-19·15. Professor Visitante no Chile, em 1941.
Cargos atuais: Presidente da Associação Pan-Americana de Philadclphia.
Membro da Associarão Americana de Sociólogos.
Obras publicadas: La Cultura de los };stados Unidos (Chile, 1941), };x-
center of Latin AmNican Thaught (1944), !'allorama da Cultura Norte-Ameri-
cana (São Paulo, 1945), entre outras. Traduziu para o inglês a obra: A Cul-
tura Brasileira, de Fernando Azevedo.
Que o trabalho não é tudo na dução para satisfazer às neces-
vida, nem a suprema finalida- sidades humanas, se bem que
de da mesma, é uma verdade não possam ser considerados os
tão evidente que é desnecessário últimos fins da vida, merecem
insistir nela. Não precisamos nossa consideração. Um homem
das lições, aliás muito bonitas, como FREDERICK TAYLOR, que deu
de LIN YUTANG, para demons- expansão aos limites do poder
trar-nos que a verdadeira civi- humano sôbre a natureza, me-
lização é outra, que o homem rece as homenagens que traze-
é mais do que as coisas, que mos comovidos à sua memória,
a vida se completa com a cria- como grande pioneiro que foi.
ção artística, a compreensão fi- Com que direito estou usando
losófica, e o emprégo dos mais hoje da palavra, não sei dizer.
altos valores. Até podemos so- Possivelmente, o fato de terem
nhar com um dia em que - chegado à colônia, na mesma
estética, filosofia e ética - se- época, a família de FREDERICK
rão uma só expressão suprema TAYLOR e a minha, ou o fato de
da alma humana. Que isso seja ter nascido TAYLOR no bairro de
dito logo de inicio para que Germantown, ligado desde 1683
não sejamos mal compreendidos à minha fam1l1a, ou o fato de
no que se segue. eu passar diàriamente, de trem
O trabalho, que é um meio e ou de automóvel, rumo à Uni-
não um fim, é, porém, um meio versidade, pela Midvale Steel
indispensável, quase conditio Company, onde TAYLOR trabalhou
sine qna non do florescimento vários anos e aperfeiçoou seus
do espirito. A história do tra- métodos, me autorize a dizer
balho não é desprezível. O aper- alguma coisa ao ensejo da me-
feiçoamento e aumento da pro- mória sua. Ou possivelmente
136 CADERNOS DE Am.flNISTRAÇAO PÚBLICA

ainda, o fato de ser sociólogo; do Scientific Management, po-


é bem sabido que nós, os so- demos assinalar adumbrações
ciólogos, somos todos da opinião das idéias de TAYLOR. CHARLES
do dramaturgo: "Romo sum, et BABBAGE, já em 1832, publicou
nihil hum<1num mihi a li C ntll 11 The Economics of Machinery
puto"_ and IvIanufactnrers, chamando a
atenção dos leitores para a ne-
Da yida de TAYLOR seria 'extra- cessidade de maior especializa-
ordinàriamente filci! fazer uma ção do trabalho; TowNE, em
:,/(('CC88 story à maneira ameri-
1885, frisou a relação entre o
cana, bonita lição de democra-
salário pago e a produção. Ê
cia demonstrada na vida de um
precisamente a união das duas
self-1Jwde man, q\le começou
idéias qlJl'e caracteriza o pensa-
simples operário e tornou-se, em mento de FRElDERICK TAYLOR.
poucos anos, gerente da compa-
nhia. Passando do trabalho com os
operários para a direção da em-
Os fatos são verídicos, bem prêsa, TAYLOR trouxe consigo um
americanos, mas (leve-se acres- conhecimento completo da ma-
centm' que o jovem Frederick, neira de trabalhar dos operá-
ante;:; de começar seu trabalho rios, ou melhor dito, de não tra-
de operário, com aquela falta balhar, seja numa forma orga-
completa de esnobismo que é nizada, sistemática e proposi-
comum nos Estados Unidos, re- tal, s'eja simplesmente porque
cebeu uma boa educação na havia pouco ou nenhum interês-
França, na Alemanha, e numa se de fazer mais do que os me-
das m<1is conhecidas escolas par- nos hábeis ou capazes. Pagar se-
ticulares da Nova Inglaterra. gundo a produção individual de
Podemos, porém, estar seguros cada operário não lhe parecia
ele que seus cursos não incluíam um sistema muito prático, por-
nada sôbre "Labor Economics", que, fatalmente, com o aumer!to
e que nas reformas que êle in- da produção, a emprêsa sentiria
troduziu em :Midvale e outras a necessidade de reduzir os pa-
companhias, há uma grande par_ gamentos, o que resultaria em
te de originalidade. Ninguém, desagrado entre os operários.
na civiliza~~ão moderna, é com- Para TAYLOR, a solução indicada
plelitmcnte original; c, no caso foi uma anúlis'e do tempo de
TAYLOR E FAYOL 137

que necessitava o operário para sesse que TAYLOR estava intro·


realizar cada parte de seu tra· duzindo uma especialização exa·
balho e quanto precisava para gerada, ou quem assinalasse cer·
completá-lo, pagando-se então a ta falta de base para se empre-
um nível bastante alto os que gar a palavra científico, com re·
chegass'em a realizar o ideal, e lação ao novo sistema de pa·
a um nível sensivelmente infe· gamento.
rior os que não trabalhassem
com a eficiência desejada. Como Mesmo numa homenagem a
um espírito genial, é possível
êle via claramente, é um siste·
ouvir a voz da crítica, que já
ma que exige certas condições
se fêz ouvir nos Estados Uni·
- uma tarefa grande e bem
dos. O operário não é só ope·
definida, feita sob condições
rário, elemento de produção; é
standard, e a escolha de operá·
homem, e, se quiserem, alma
rios aptos para cada operação.
com alguma coisa de divino;
Quer dizer que, antes de dar
não é só um meio, um recurso,
uma tarefa ao operário, TAYLOR
do qual se extrai o máximo poso
designou uma função difícil
sível; é um fim em si, para o
para o gerente. :ê:ste é que teria
qual a produção das coisas se
que ser cientifico, no estudo e
destina. É com razões dessa
análise das operações e dos
ordem que o sistema TAYLOR,
homens.
tal como êle o idealizou nos
A introdução do sistema TAY· últimos anos do sêculo passa-
LOR não se fêz sem certas difi· do e nos primeiros do presente,
culdades. Uma greve, por exem· não ficou inalterado. Como não
pIo, numa fábrica de munições, procuramos a sociologia de hoje
produziu um inquérito do go· nas páginas de AUGUSTE COMTE,
vêrno, com um grande número nem a biologia atualizada nas
de testemunhas contraditórias. de CHARLES DARWIN, não devía·
Os operários nem sempre acei· mos estranhar o fato de ter o
taram o que parecia uma escra· pensamento de TAYLOR sofrido
vidão mais científica, e eram mudança com o d\2curso do tem·
exatamente os operários mais po. A melhor homenagem que
capacitados que receavam a aná· podemos oferecer a um grande
lise de seu trabalho. Mesmo fora pioneiro é continuar o seu tra-
dos sindicatos houve quem dis- balho, e não deixá-lo estagnar,
138 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

esterilmente, impedindo o mo- a seus preceitos, nem que a espe-


vimento dinâmico da clencia. cialização chegue a privar o ope-
Cada passo no sentido de um rário da satisfação íntima de
taylorismo mais humano e cien- impor sua personalidade no pro-
til'ico devia ser do agrado do duto de seu instinct of work-
genial precursor. Êle também manship. Com nossa experiên-
não foi meramente o frio cien- cia, nossa crescente ciência da
t ista; foi o homem que sonhou pSicologia industrial, não rece-
com uma ciência, com uma ane emos corrigir o velho mestre
que reconciliasse o capitalista e TAYLOR. Guardaremos sempre al-
o operário, tornando ambos cien- guma coisa de sua insistência
tes de suas funções naturais, foi na necessidade de trabalhar efi-
o idealista que ofereceu seus cientemente para melhorar o pa-
serviços gratuitamente a quem drão da vida, na necessidade de
desej asse seguir seus conselhos, manter o ideal pregado aqui, há
foi o pai que deixou três filhos muito tempo, na palavra de Ruy
adotivos, e o amigo cujos dis- BARBOSA, the right man in the
cípulos deram com afeição o right place, e na necessidade de
nome de Taylor à "Society of um país como o Brasil trei-
Scientific Management". nar muitos homens para que
Com a tradução de seu livro sejam right men nos mil lu-
principal para o português, a gares em que são necessários in-
obra fecunda de TAYLOR começa teligência, lealdade e trabalho.
hoje a agir ainda mais, no cam- Eis, em têrmos gerais, a lição
po vasto que é a vida industrial que devemos aprender do vene-
deste grande país. Não quere- rando homenageado de hoje,
mos que se obedeça cegamente FREDERICK W. TAYLOR.
CAPITULO II

TAYLOR E O DESPERDlCIO
PAULO AClOLI DE SlÍ
PAULO ACIOLI DE SA

Engenheiro ch'il e educador.


Cargos e comissões exercidos Secretário da Viação do Rio de Janeiro;
Diretor do Ensino Secundário; Diretor-Geral do Departamento de Admi-
nistração do M.T.I.C.
Cargos e comissõps atuais: Presidente do Comité Pan-Americano de Nor-
mas Técnicas; Diretor lia S.P.T. do Conselho Nacional de Pesquisas; Presi-
sidente do Consórcio Brasileiro de Produtividade; Diretor da Associação Bra-
sileira de Normas Técnicas; Conselheiro do Conselho Orientador da Federa-
ção das Indústrias e do Conselho do Centro Industrial do Rio de Janeiro;
Professor da Universidade do Brasil e da Universidade Católica do Rio de
Janeiro.
Obras publicadas: órgãos Paraestatais (premiada pelo DASP), Abono.
Fltmiliar.. s (premiada pelo DASP), .;ducação Cívica, Técnka e Ti'cnicos, A In-
dústria e o .Ensino de };ngenharia, O Ensino de Engenharia. no Brasil (obra
da Campanha de Apcrfei(;oamento do Pessoal do Ensino Superior), A };statis-
tiel\ na Tecnologia, Ele-mentüs de Estatística, O CÍlnento Brasileiro, I/homme
et son ambiancp, }~stabiliza~ão de Solos C outras.
Na pagma primeira do livro duas brechas nas paredes da
clássico, em que define as idéias economia, perde a produção 20,
essenCIaIS do taylorismo, põe 30, 40, 60 rir da energia que des-
FREDERICK WINSLOW TAYLOR o pende.
problema do desperdício. "Ve-
Não foi evidentemente TAYLOR
mos" - diz êle - "as nossas
florestas que desaparecem, as o primeiro a chamar a atenção
para essas perdas: seria fácil,
nossas quedas de água que se
desperdiçam." Mais grave, po- e daria talvez ares de erudição,
citar precedentes milenários que
rém, do que êsse malbaratar das
apontavam as falhas dos pro-
cousas da natureza, dos recur-
cessos de trabalhos com as quais
sos materiais que esperam a
se gastava, sem aproveitamento,
aeão humana para seu aprovei-
muito do material empregado ou
tamento eficaz, há outro desper-
dício ao qual TAYLOR se refere, do esfôrço feito no empregá-lo.
Tôda a ciência prática se des-
linhas mais adiante da mesma
página. "O desperdício do esfôr- tina, desde a origem, a poupar
ço humano, que se processa em trabalho ao homem, a aprovei-
tar melhor as suas energias.
atos descoordenados, mal diri-
gidos, ineficientes, embora me- "A ciência é uma. economia do
nos visível, menos tangível .... pensamento" -- repetia ERNST
é maior do que o desperdício em MACH. "A ciência é uma eco-
co usas materiais." nomizadora do esfôrço", pode-se
Desperdício de matéria-prima talvez assim traduzir a fórmula
mal aproveitada; desperdício de do físico contemporâneo.
esfôrço humano mal controlado A lei do menor esfôrço, que,
e trabalho com rendimento bai- bem entendida e interpretada da
xo : já se calculou que por essas maneira mais ampla, é uma das
regms essenciais da inteligên- cllnsiste l'm fazer voltar (é o
cia humana, é, afinal de con- sentido da revoluçüo) os méto-
tas, a origem primeira de tôda dos de ll'abalho à sua origem
a campanha contra o desperdí- d'e definição científica e racio-
cio, a fonte profunda de onde nal.
nasce todo o taylorismo_
Se o operário da Bethlehem
Nüo serú, por isso, paradoxal Steelnüo carregava por dia mais
t l'ansformar a constatação evi- de 12 % toneladas de gusa quan-
(lente dêsse fator em elogio sin- do TAYLOR lá chegou, seria infan-
cero à preguiça: o taylorismo til e ingênuo supor que êsse
assim entendido -- e a ciência modo de carregar era irracional
como a compreendia MAca ~­ e errado. Os métodos de carre-
SfLO, um e a outra, filhos bem gamento existentes representa-
formados da preguiça. vam evidentemente o resultado
de uma elaboração mental que,
Essa, ao invés de ser a müe
de acôrdo com a já citada lei
apenas de todos os vícios, po-
do esfôrço mínimo, chegara a
deria contar, entre sua prole nu-
defini-los da melhor maneira
merosa, todo o conhecimento
possível no momento em que
científico e tôdas as suas apli-
foram adotados. O mal - o mal
cações à organização racional e
único - consistira em não se
taylorizada do trabalho ...
ter continuado a aplicar a mes-
Se TAYLOR nüo é, ?ssim, nem ma lei: organizado cientifica-
pretendia ser, o iniciador da mente o trabalho, a rotina dêle
campanha contra o desperdício, se apoderara para conservá-lo
que méritos nela lhe cabem, nessa organização indefinida-
que posição nela ocupa? mente. A contribuição de TAYLOR
A contribuição de TAYLOR está - sua única e admirável con-
exatamente no restituir aos pro- tribuição - consistiu exatamen-
cessos de execução de serviços te em repetir o que tinham feito
cristalizados já pela rotina o séculos antes os cientistas -
mesmo critério científico que conscientes ou inconscientes -
outrora os tinha criado. A re- que estabeleceram as regras pri-
volução tayloriana, como quase mitivas para aproveitar a fôrça
tôdas as revoluções (e aí está humana no deslocamento dos
o grande valor que podem ter), pesos.
TAYl.OR E FAYOL 113

À maneira cartesiana - nesse dora de esfôrço: e o coração


ponto e nesse grau justificável humano -- conforme já se sabia
- TAYLOR repôs o problema em antes, mas conforme melhor se
equação, revoltou-se contra os sabe depois da análise harmô-
conservadores que sempre con- nica dos eletrocardiogramas -
sideram tabus invioláveis as si- o coração humano, poupaldo
tuações existentes, ~, com os re- contrações desnecessárias, des-
cursos novos que a ciência em cansando 2/3 do tempo na pa-
outros ramos lhe fornecia, duvi- rada periôdica das diástoles, é
dou da justeza dos processos em um trabalhador infatigável, que
uso, fê-los passar pelo crivo de evita o desperdício de esfôrço e
uma análise cronometrada e mi- trabalha taylorizadamente na
nuciosa, eliminou os pecados mais racional e na mais admi-
contra o menor esfôrço, acaban- rável das tarefas executadas nos
do com os movimentos inúteis; domínios da energética.
restituiu à "santa" preguiça o Antes de terminar êstes ligei-
seu papel humaníssimo de fazer ros comentários à margem de
o músculo e o espírito descan- um problema cujo estudo não
sar tôda vez que possível; e, caberia nem nos 10 minutos de
sintetizando depois os movimen- duração desta oratória, nem na
tos úteis e não elimináveis, re- diminuta competência dêste ora-
compôs o puzzle do esfôrço tra- dor, parece-nos que não seria
balhador e conseguiu que cada mau ir mais longe do que a pes-
homem, com menos cansaço, quisa da solução do problema;
com mais lazer, com satisfação e aplicando ao Taylorismo o mes-
aumentada, ao invés das 12 1/2 mo espírito critico com que TAY-
toneladas, carregasse num dia LOR estudou as condições indus-
de menos horas de trabalho tan- triais do seu tempo, indagar se
to quanto 47 e 48 toneladas de o problema existe na realidade,
gusa! se há de fato desperdício de es-
Novidade? Nenhuma - nada fôrço humano que se deva evitar
há de novo debaixo do sol_ .. ou com uma organização mais cien-
das coberturas das fábricas. tífica do trabalho.
Deus Nosso Senhor, primeiro A indagação merece estudo.
taylorista na natureza, já ado- Quando refletimos que ante5
tara a mesma regra economiza- da guerra aumentavam par ale-
li! CADElZl'-:OS DE ADMIl'-:JSTRAÇAO PÚBLICA

lamente a produtividade dentro rendimentos cada vez mais


das fábricas e as filas de produ- altos?
tores sem trabalho à porta das O número de setembro de 1944
agências de socorro, é natural da Product Engineering contava
que nos perguntemos: convirú entre outros o caso de uma fá-
fazer estudos de duração, an[l- brica americana que, empregan-
lises minuciosas de movimento, do 200 operários antes da guer-
para poupar braços humanos ra, dá agora ocupação a três
quando tantos aí estão esperan- mil dêles. Que fazer com o ex-
do um trabalho que não encon- cesso quando a paz voltar!
ll'am? A solução encontrada consis-
tiu exatamente em organizar
No último congresso da C.I.O.
uma indústria nova de grande
nos E. U. A., a primeira ques-
consumo de mão-de-obra (no ca-
tão posta em debate, e a mais
so, a fabricação de torradeiras
grave de tôdas, foi justamente
elétricas, aparelhos para waffles
a de encontrar ocü.pação para os
e análogos).
GO.OOO.OOO de trabalhadores que
É, assim, de um certo modo,
a desmobilização militar e a in-
uma tendência inversa à de TAY-
terrupção do fabrico de material
LOR (embora, evidentemente, e
bélico iriam dEspejar no merca-
como o frisamos, dentro dos
(lo da mão-de-obra.
mesmos princípios que levaram
Num paradoxo que talvez só à revolução tayloriana): não
seja na aparéncia, não será con- diminuir mas aumentar a por-
veniente procurar métodos me- centagem de mão-de·obra na
nos eficientes de produção, de composição industrial do pro-
modo a dar trabalho a tôda essa duto.
multidão que não poderá viver Fique a dúvida paradoxal ape-
à custa dos bonus de desemprê- nas como estímulo à crítica dos
go ou das obras de assistência mais competentes.
mal disfarçadas? E acabemos assim as nossas
Não será mais racional des- considerações, não com a pre-
racionalizar os métodos de pro- tensão de um ponto final, mas
dução ao invés de continuar, no com a humildade sincera de um
mito da eficiência, a procurar simples ponto de interrogação.
CAPíTULO IH

TAYLOR E A UNIDADE DE COMANDO


BENEDICTO SILVA

11 - Cad. Adm. Pública - 44


BENEDICTO SILVA

'récnico de Administra(ão elo Departamento Administrativo do Serviço


Público.
Cargos ocupados: Diretor da Divisão de Publicidade do Serviço Nacional
do Recenseamento (1940-41); Diretor da Diyisão de Receita da Comissão Na-
cional ele Orçamento do Ministério da Fazenela (1941-45); Diretor da Divisão
de Aperfeiçoamento do DASP (1945); Subdireior da Divisão de Finanças PÚ-
blicas das Nações Unidas (1946-48); Organizador e coordenador do Seminário
Internacional de Administração Pública, realizado no Rio de Janeiro em feve-
reiro-março de 1952, sob os auspícios elas Nações Unidas e da Fundação Ge-
túlio Vargas.
Cargos e comissõ .. s atuais: Membro da Comissão de Estudos e Projetos
Administrativos da Presidência da Hepública; membro da Comissão Nacional
de Assistência Técnica do Ministério das Relações Exteriores: membro do
Conselho Diretor do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação;
membro do Comitê de Reforma Administrativa da Organização dos Estados
Americanos; Professor e Diretor dct Escola Brasileira de Administração Pública.
Obras publicadas: Ensaio de Análise do Estado l\lodel'no, A Era do Ad-
ministrador PI'ofissionul, Teoria das Fun~ões lUllnicipais, Administração Civil
na Mobilização Bélica, etc., etc. A publicar Vocabulário Administrativo, Teo-
ria e Prática de Planejamento, etc.
A obediência a um só senhor outra coisa não gera senão de-
é norma de conduta humana, sordem e ineficiência.
conhecida e observada desde épo-
cas imemoriais. Com efeito, o Trata-se, pois, de uma verda-
segundo livro da Biblia - o de histórica aparentemente irre-
f::xodo - perpetua a tradição dutível, constante dos textos re-
de que essa norma de conduta, motos e presentes nos dias
hoje chamada principio da uni- atuais.
dade de comando, foi enuncia- Mutatis tnutandis, podemos di-
da pelo próprio Jeová, no Monte zer do principio da unidade de
Sinai, ao entregar a Moisés as comando o que uma vez disse-
Tábuas da Lei, cujo primeiro mos da eficiência, (1) ou seja:
artigo dizia: "Não servirás a um postulado que permanece
dois senhores ... " assim no rol das noções úteis, du-
Embora histõricamente re- rante não sabemos quantas ida-
montável a essa origem tão dis- des; que, surgido no simbolismo
tante, o princípio da unidade de da Bíblia como primeiro manda-
comando chegou intacto a nos- mento da lei de Deus, é consi-
sos dias, conservado vivo (' ope- derado principio válido de admi-
rante pelos usos e costumes. nistração no século XX; que atra-
vessa dêsse modo uma cadeia de
Vendo nêle um princípio de mil gerações, de Moisés a Wal-
administração científica em plena ter Rathenau, certamente sofreu,
validade, teóricos do século XX ao longo de tão prodigiosa tra-
ensinam que a sua violação jetória, tôdas as provas, resis-

(1) B;;NEDICTO SILVA, "Ensaio de Análise do Estado Moderno", lIr, Revista do


Serviço Público (jan, de 1944), p. 21.
l/iR CADERNOS DE ADlfINISTRAÇÃO PÚBLICA

tíu a tôdas as críticas, sobrevi- retamente dos textos sagrados


veu a tôdas as vicissitudes. Tem para as atividades profanas.
a vetustez formidáV'el das ver- Para demonstrar a superiori·
(lades milenárias e traz o sinête dade do comando funcional, TAY-
da sabedoria dos povos. LOR recorreu ao expediente de
Só um espírito eminentemente analisar o problema da direção
revolucionário, tocado da cente- numa emprêsa industrial imagi-
lha genial que inspira ao homem nária. (2) Tomando por núclro
a ousadia criadora de ver as de referência um grande estabe-
coisas através de novos prismas, lecimento de fabricação de má-
de vê-las como nunca foram vis- quinas, cuja organização lhe pa-
tas antes por milhões de outros recia das mais difíceis, afirmou
hO!D011s, seria GlpaZ de se insur- que, na prática, todos os esta·
gir contra um principio imemo- belecimentos dessa categorb silo
l'ial, tão longa e absolutamente organizados em hierarqUia mili-
incorporado à exp'2riência hu- tar, em que se respeita rigoro-
mana. samente o principio da tmida-
de de comando. As ordens do
Pois FREDERICK WINtlLOIV TAY-
general são transmitidas. linha
um, neto de um pescador de ba-
hierárquica abaixo, atravl's dos
]i'h,desafiou o principio da uni-
coronéis, dos majores, dos capi-
dade de comando, formulando,
tães, dos tenentes, dos suhofi-
para o substituir, o prinCÍlJÍo do
comando múltiplo. dais, até aos soldados. Também
nas emprêsas industriais, as
O objetivo do prcsf'l1tc traba- ordens descem do diretor-geral
lho impõe-nos a tarda de exa· aos chefes de serviço, dêsü,s a(js
minar as razões em que se estri- chefes de oficina, dêstes aos
bou a poderosa inteligência de adjuntos, dêstes aos chefes de
TAYLOR - talvez o maior inven- turma, e dêstes, finalmente, aos
tor social até hoje aparecido no operários. Parece claro quC', nos
Novo Mundo - para tentar des- estabelecimentos dêstc gênero,
tronar um principio que tinha o problema da direção assume
atrás de si uma fieira intermi- complexidades esmagadoras, por-
nável de séculos e que vi'era di- que os deV'eres dos chefes ele

2) FR13DERICK WIKSLOW 'l'nwR, Shop lVIanage1llent (New York, 1911), pp, 96-146,
TAYLOR E fAYOL 149

oficina e dos chefes de turma cina é desperdício, pois que se


são tão variados, exigem tal so- trata de pessoa exemplarmente
ma de conhecimentos, reunidos qualificada para ser um diretor-
a uma tal riqueza de aptidões, geral, um inspetor de fábricas,
que não podem ser cumpridos um chefe de emprêsas.
satisfatàriamente senão por ho-
Levando em conta a circuns-
mens de extraordinário valor,
tância de ser mais fácil a d'es-
com anos e anos de treinamento.
coberta de pessoas capazes de
A dificuldade - muitas vêzes cumprir quatro ou cinco daque-
a impossibilidade - de encon- las obrigações, TAYLOR considera
trar pessoas capazes de desem- evidente que o trabalho de di-
penhar essas funções com a pro- reção deve ser subdividido e as
ficiência desejada é responsável diversas funções confiadas aos
pelo periodo de hesitação mais homens mais aptos a desempe-
ou menos longo, e que não raro nhá-las. TAYLOR afirma, enfàti-
acaba em falência, dos novos camente, que grande parte da
estabelecimentos de construção arte de dirigir consiste em orga-
mecânica, fundados para produ- nizar o trabalho dês se modo e
ção em grande escala. sustenta que se obtêm melho-
Em virtude do tipo de orga- res resultados quando se aban-
nização militar, a que TAYLOR dona o tipo de organização mi-
se refere com certo desdém, o litar e se introduzem na di-
chefe de oficina, além de ser res- reção duas mudanças radicais,
ponsável pela boa marcha dos a saber:
trabalhos a seu cargo, deve sa- 1.' -- Em tudo que seja possí-
tisfazer vários requisitos e pos- vel, tanto os operários co-
suir outros tantos predicados, a mo os chefes de turma e
fim de exercer a contento um os chefes de oficina devem
conjunto complexo de nove obri- ser completamente liber-
gações, enumeradas e descritas tos do trabalho de organi-
por TAYLOR. Homens detentores zação, bem como de todo
de tantas aptidões e de tão lar- trabalho escrito.
ga experiência são raríssimos
como diamantes de alto quilate. 2.' - Em tôda administração se
Quando se encontra um dêles, pode abandonar o tipo de
empregá-lo como chefe de ofi- organização militar e subs-
I 'iO CADERl\:OS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

tituí-Io p'elo que êle, TAY- dactilógrafa que, em qU'estão de


LOR, denominou organiza- ortografia e acentuação gráfica,
ção funcional. recebesse ordens de um profes-
sor de Português; em questões
A organização funcional con- de distribuição e arranjo da ma-
siste cm seccionar e distribuir a téria nas pagmas, recebesse
tarefa da direção de tal modo ordens de um desenhista; em
que, do chefe adjunto para bai- questões de uso de borracha e
xo, cada indivíduo colocado na papel carbono, recebesse ordens
pseala hierárquica tenha o mí- de outro especialista; em ques-
11 imo possível de atribuições.
tões de dactilografia de quadros
N a organização tradicional ou estatísticos, recebesse ordens de
d'e tipo militar, os trabalhadores outra pessoa; em questões de
silo distribuídos em grupos, su- conduta no trabalho, devesse
bordinados a um só chefe. J!;ste obediência a um inspetor; em
é o único agente através do qual questões de seqüência de traba-
os diversos serviços de dircçfw lho, recebesse ordens de outro
entram em contacto com aquê- chefe, etc. Se cada um dos che-
leso A característica exterior fes se atives se estritamente às
mais saliente da gerência fun- suas funções, e se fôssem real-
cional, imaginada por TAYLOR, mente indicados para exercê-las,
consiste, pelo contrário, em gele aí teríamos um caso de chefias
cada operárío, cm lugar de estar funcionais semelhantes ao siste-
em relaçrtO imediata com a di- ma TAYLOR. As ordens e instru-
rcçiío éltravés de um só ponto ções dadas à dactilógrafa não
de contacto, recebe as ordens seriam contraditórias, porque
cotidianas diretamente de vúrios cada chefe ou dirigente cuida-
chefes distintos, cada um dos ria apenas de seu setor, com a
quais incumbido de uma função vantagem de poder concentrar
distinta. as energias, atenção e capaci-
Para dar uma inilicaçilo prá- dade de progredir numa faixa
tica do sistema de chcfias múl- estreita de atividade. (3) Está
tiplas funcionais, preconizado claro que é mais fácil orientar
por TAYLOR, imagincmos uma trabalhadores apenas em ques-

(3) V. bibli'}grafia nu fim.


TAYl,OR E FAYOL 151

tões de emprêgo de material de responsá vel, A unidade de co-


consumo do que em muitas ati- mando diz respeito aos coman-
vidades_ dados, não aos comandantes, e
Nem por tôdas essas razões a significação dêste princípio, no
TAYLOR evitou as criticas. Ao processo de coordenação e orga-
contrário, a idéia do comando nização, jamais deve ser olvida-
funcional múltiplo atraiu con- da. Quando se constrói uma es-
tra êle o fogo das baterias orto- trutura de autoridade, freqüen-
doxas de muitos filósofos da temente surge a tentação de su-
organização. Examinemos ape- bordinar a mais de um chefe
nas duas dessas críticas - a de o trabalhador cujas funções
FAYOL e a de GULICK. apresentem mais de uma rela-
Sem regatear as homenagens ção. Mesmo um grande filófoso
de sua admiração à obra de TAY- da organização, como TAYLOR,
LOR, FAYOL sustentou que a nega- incorreu nesse êrro ao preconi-
ção do principio da unidade de zar chefes separados para tra-
comando é uma idéia falsa e tar do maquinismo, do material,
perigosa, cuja circulação cum- da velocidade, etc., cada um com
pria ser evitada, sob pena de o poder de expedir ordens dire-
embaraçar o desenvolvimento da tamente ao trabalhador indivi·
Teoria Administrativa e da Ciên- dual. Admitimos que a observân·
cia da Administração. (4) cia rígida do princípio da uni-
GULICK foi mais incisivo do dade de comando pode apresen·
que FAYOL. Para êle, o princípio tar os seus absurdos. f:stes,
da unidade de comando pode ser entretanto, são insignificant'es,
enunciado da seguinte maneira: em comparação com a certeza
"um trabalhador sujeito a oro da desordem, ineficiência e irres-
dens de vários superiores se tor- ponsabilidade, que resultam de
nará confuso e ineficiente; su- sua violação." (5)
jeito a ordens apenas de um, A questão de se apurar se TAY-
pode ser metódico, eficiente e LOR, com a organização e o co-

(4) HENRI FAYOL, Administración Industrial y General (trad. esp.; Bu~nos


Aires, 1940), p. 106.
(5) LUTHER GULICK, "Notes on the Theory of Organizatlon", Papers on the
Sciencc of Administratíon (Luthcr Gulick and L. Urwick, editors; New
York: Insti'utc of Public Administratlon, 1937), p. 9.
1'52 CADFI\\:OS DE ADJ\IlNlSTRA(AO PÚBLICA

mando funcionais, violou efeti- de administração científica do tra·


vamente o princípio da unida- balho, TAYLOR trouxe para o pro·
de de comando, como querem os gresso do bem·estar da espécie
críticos citados, ou se conciliou humana uma contribuição sem
êsse princípio com as vantagens precedentes - pela genialidade,
da chefia funcional, naturalmen- pela harmonia teórica e pelos re·
te mais capaz e adequada, per- sultados práticos. Nada mais jus·
manece em aberto. O que está to, pois, do que a consagraçfw
exuberantemente provado, po· do grande engenheiro, concebida
rém, pelos fatos concretos da e expressa nas simples palavras
moderna indústria, é que, ao de seu epitáfio: FrrEDERICK
conceber a chefia multipessoal, WINSLOW TAYLOR, Pai da Admi·
parte integrante do seu sistema nistraçfio Científica.

8IBLJOGRA1!'IA

DONALD. "\V . .T.. lJllil,/iJi)O/,: r,j n"S;I1CSS .4.r7Il1/ni<i/m!in)/, (New YOl'k, 1.931).
pp. 543-4.
DUTTON, HENHY 1'., Pii",'i}jIC8 r'I OJ"[/(m;zatioll, (NêW York and Londoll,
1831), pp, 142-3,
FAYOL, IIENRT, ,l""lill;8{)'("'I';,1 Industrial y Gene)'al (tl'ad, Csp,; B. Ayr(,~,
1D~O), p. 10G,
GULICK, LUTHER, "N"t\'ê ,,1) til"~ Tlleory of Organization", P01JCl'S on lhe
Sc;encc ui A,dmin/s/m{iol1 e;,·w YOl'k, 1937), p, 9,
K!IllBALL "-l1'1 E1l\IDALL, 1'I'iw/Z-'!c" oI Industrial O)'[/an-iza{ion (N.éW Y"rk,
1939), pp, 192, 19G-7,
NI L!':": , MARY C, n, M/ddZc l~!"''''!Jcmcnt (New YOl'k, 1941), p, 29,
KENDALL, HENRY P" "Typrs of Managcmcnt", Scicntific Mana[/cmcnt s;'lce
'['oulo)', (~(litc,d hy Eclwal"l ]';yrc Hnut (New Ynrk: Me Graw-Hill Boal< Co,
]]1('" 192,1), )l, ~ti,
iHLVA, BE;\[EDICTO, "El1.-''';'' ,1, Anúlisc do E~tndo Model'llu", IH, RC1'/S/"
do 8(,1'~'iç() Púhlico (jal1., 1~~ li), p. 21.
'J'AYLOn, FnEDF}HICK 'WIN;or,OW, Shon Mana,rJcment (Nrw York, lDll),
pp. 92 e 99-146_
CAPíTULO IV

TAYLOR E A ORGANIZAÇAO CI&~Nri'II1'rCA DO


SERVIÇO PüBLICO
J. M. DOS SANTOS ARACJO CAV ALCAN n
J. M. DOS SANTOS ARAúJO CAVALCANTI

Técnico de AdministraQão do Departamento Administrativo do Servi,,,


Público.
Cargos e comissões exercidos: Assistente do Presidente Gaspar Dutra;
membro-fundador da Associação Brasileira de Municípios; Secretário da Se~ão
Brasileira do Instituto Internacional de Ciências Administrativas.
Obras publicadas: Alguns Aspectos da Racionalização das };ntidades A 11-
tárql1icas, Recuperação e Desenvolvimento ,lo Vale do Rio Brunco, Roteiro Bi-
bliográfico para o Estudo da Administração JUnnicipal e Serviço de };stado-
lIIaior Integral, ~ste último de parceria com Arízio de Viana.
.. '-'.t:

Difícil, senão de todo impo!!si- sófíca pelos dados brutos da


vel, dizer coisas novas ou dar, expenencia cotidiana, tendo,
em 10 minutos, um depoimento sempre à vista, a terra firme
razoável sôbre "Taylor e a Or- das realidades brasileiras.
ganização Científíca do Serviço E essa experiência aí está, en-
Público". sinando-nos que a organização
Tema em verdade fascinante é apenas um esfôrço perene de
e de proporções assustadoras utilização inteligente e adapta-
quanto à sua natureza, ampli- ção racional dos recursos dispo-
tude e complexidade; julgamos, níveis -- financeiros, materiais
todavia, ser possível traçar-lhe ou humanos - aos fins que te-
os delineamentos gerais num mos em vista, isto é, aos nossos
grande esfôrço de síntese e apê- próprios objetivos.
go aos dados essenciais da ma- Pelo menos é assim que no-la
téria. apresenta P. CHARPENTIER, atra-
O importante é, no caso, des- vés da visão simples e clara do
cer à planície dos fatos concre- seu espírito gaulês. (1)
tos: trocar a especulação filo- A organização como uma for-

(1) CHARPENTUlR, Organi8Ution Industrielle (Paris: Dunod, 1927): "Qu'est-ce


que !'organisation? Dans la nature, l'homme !'a trouvée comme une
adaptation des organes aux fonctions, et pour son activlté, elle n'est
aussl qu'une adaptation constante des moyens les plus appropriés au
but qu'iJ poursuit"; "organiser, c' est procéder avec méthode dans !'adap-
tation des moyens au but poul'suivi; et Ia méthode doit s'inspirer cons-
tamment du rendement et de !'économie" (Avant-Propos, pp. VI, XI).
Decorre da! que o grande princípio de organização "consiste à savoir adap-
ter Ies moyens Ies plus appropriés aux conditions dans Iesquclles on se
trouve et au but que l'on poursuit" (ibid., p. 272).
1 ~rí C:\lIrfl.~~()S Di ADMINISTRA(AO PÚBLICA

ma ele atividade humana plani- Por exemplo: um industrial


ficada - processo, meio, técnica planejando a sua atividade pro-
c5perial, instrumento d'C ação -- dutiva; um bando de cangacei-
enquadra-se rigorosamente no ros tramando o assalto de uma
{lmbi! o do Sistema Taylor e pres- l:,zenda; um estado-maior esque_
SUpÕf', antes de tudo, no consen- matizando planos de defesa, ou
so geral dos especialistas: pondo-os em prática; um muni-
cípio qualquer prestando servi-
(i) divisão do trabalho;
ços ao povo; uma escola, uma
b) constituição de órgüos in-
fábrica, um hospital, um sindi-
(lispensávcis ao r:xC'I'cicio de suas
cato, uma simples repartição pú-
funções;
blica - aí estão organizações
c) estabelecimento de uma diversas que variam enorme-
estrutura racional; mente em tamanho, volume, den-
rl) fixação e definição das sidade de poder e grau de com-
rl'~ponsabilidades ;
plexidade.
c) dcterminaç:w dos objeti-
vos a serem atingidos; :8 de origem tayloriana a
n aprimoramento contínuo; observação de que todos os tipos
g) concentração e convergên- de organização se enquadram
cia dos esforços e recursos para 'Cm uma das duas categorias
obtenção dos objetivos coUma- seguintes:
dos.
a) Organização empírica ou
Nilo nos esqueçamos de que
li) Organização científica.
tais objetivos poderão ser bons
ou maus: daí a subordinação de Quer nas entidades privadas,
qualquer organização à ética, o quer nos serviços públicos, o
sentido moral de que se reves- tipo comum de organização que
t0m os seus atos, a sua integra- encontramos é, via de regra, o
<:fto na ordem jurídica. empírico - a organização sem
Semelhante conceito de orga- mística, corriqueira, em que "tu-
nização é bastante amplo e apre_ do se deixa como está para ver
Sf'!1(a caractC'I'ísticas de univer- como fica". (As razões são quase
salidade; tanto se pode aplicar sempre de ordem psicológica:
:'os individuos como aos grupos a reação natural contra as ino-
sociais. vações, a apatia, o misoneismo.)
TAYLOR E FAYOL 157

A organização empírica é a menta das iniciativas na ngI-


que se contenta com resultados dez dos regulamentos acarretam
normais; falta-lhe a ânsia do para os serviços públicos defi-
aprimoramento contínuo; falta- ciências inevitáveis, fatais a
lhe a reorganização permanente. quaisquer empreendimentos par-
A situação ainda é mais grave ticulares.
na maioria dos serviços públicos As contingências do mundo
que integram a maior de tôdas moderno impõem, contudo, aos
as organizações - o Estado; serviços públicos, o dilema 'eucli-
é que nas entidades privadas a diano: progredir ou desapa-
obtenção de lucros é condição recer.
de sobrevivência; daí uma certa Neste ponto, precisamente,
sistematização de esforços no surge como um imperD-tivo a
sentido da obtenção dos resul- que não poderá fugir a neC0S-
tados. sidac1e da organizaçfio científica,
N o Serviço Público - tanto cujas bas'cs foram lançadas por
vale dizer, no bôjo da imensa TAYLOR entre 1880 e 1890.
organização estatal que o abran- Mas em que consiste, exata-
ge - não existe aquilo que po- mente, a organização científica?
rleria denominar onipresença de
Responde o próprio TAYLOR,
uma autoridade central ou, mes-
numa tentativa de condensação
mo, algo que se possa compa-
dp seu conhecido sist·ema: "A
rar ao gerente de uma emprêsa
organização cienf ifica em sua
industrial interessado na obten-
pssência consiste em uma certa
ção de resultados positivos ime-
filosofia baseada na combina-
diatos, verdadeiro dínamo p~'o­
ção de quatro principias funda-
pulsar do andamento rápido da
mentais ele administração:
emprêsa.
No Serviço Público, como é sa· 1." -- a transformação do traba_
bido, a autoridade se dilui, as lho em uma verdadeira
relações entre dirigentes e di- ciência, pela investigação
rigidos são imprecisas ou vagas, ele todos os seus elemen-
tornando-se extremamente difícil tos e substituição dos pro-
definir e fixar responsabilidades. cessos obsoletos;
Embora necessários, os con- 2.° - a seleção científica dos
trôles múltiplos e o enquadra· ira balhaelores;
158 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

3. V desenvolvimento e utiliza-
- veria começar pelos serviços in·
ção das potencialidades do dustriais do Estado, seguindo-se,
fator humano pela sua após, o ciclo das entidades au-
educação sistemática; tárquicas, os serviços públicos
4.. - cooperação estreita e per- municipais e as próprias muni-
manente entre todos os cipalidades.
trabalhadores que inte- Gradativamente, sem precipi-
gram a organização, diri- tações, seriam posteriormente
gentes ou dirigidos". atingidos os diversos órgãos do
A aceitação universal da orga- Estado.
nização científica foi solenemen- Sem maiores sobressaltos, ter-
te proclamada em duas ocasiões se-ia, assim, operado uma legí-
diferentes: - a 1.', quando CLE:- tima racionalização, e o D.A.S.P.
MENCEAU, em 1918, reuniu os prestaria grande serviço à Na-
seus chefes militares e determi- ção se apressasse o movimento
nou-lhes o estudo e a aplicação renovador.
dos seus métodos; a 2.', também Da organização científica de-
em abril de 1918, quando NIKO- correm inúmeras vantagens que
LAI LENIN declarou: "Devemos a justificam, consoante a pró-
introduzir o estudo e o ensino pria doutrina de TAYLOR:
do Sistema Taylor, bem como a
sua experimentação e adaptação a) ampla utilização da pesqui-
sistemática". (2) sa e da experimentação co-
Não é temeridade afirmar que mo única base aceitável
para .a solução dos proble-
a formidável expansão indus-
trial da Rússia moderna muito mas administrativos;
deve à organização científica dos b) estabelecimento de padrões
seus serviços públicos; todos sa- de execução e contrôle do
bemos que o stakanovis1no é trabalho, tornando possíveis
um rebento precioso do Sistema a medição e a coordenação
Taylor adaptado às condições dos resultados;
e~peciais da União Soviética. c) o imperativo da cooperação
No caso brasileiro, a aplica- pelo reconhecimento de que
ção da organização científica de· uma entidade organizada só

(2) EDWARD HUNT, Scientitic Management since Taylor (New York: Me-
graw-HiIl Book Co., 1924), - "Introdução", p. XI.
TAYI.OR E FAYOI. 159

vale tanto quanto os ele- c) na organização científica o


mentos que a constituem. emprêgo constante da pes-
A cooperação garante a obten- quisa resulta em beneficios
ção d'e rendimento elevado pela gerais: melhoria das condi-
conjugação dos esforços de cada ções do trabalho, aumento
unidade operatória da entidade. da produção em têrmos de
Inúmeros outros argumentos quantidade, qualidade e ra-
impõem a organização científica pidez, bem-estar social ge-
dos serviços públicos: neralizado;
cl) a organização científica im·
a) na organização empírica as
plica forçosamente em urna
decisões se baseiam em pon-
crescente especialização dos
tos de vista, opiniõ'es pura-
trabalhadores, cooperação
mente pessoais, quando não
consciente e voluntária, al-
em meras suposições ou pal-
tos salários e baixos custos
pites. Na organização cien-
de produção. (3)
tífica as decisões têm por
base fatos, conhecimentos A verdade sincera é que ja-
objetivos, a ciência do tra- mais se fêz sentir, tão aguda
balho; quanto agora, a necessidade de
b) na organização empírica há organizar em bases realmente
um verdadeiro antagonismo científicas os nossos serviços pú-
entre dirigentes e dirigidos; blicos; tanto nos agrupamentos
prevalece a crença de que humanos do interior corno nas
os interêsses da administra- cidades litorâneas, o povo bra-
ção e dos trabalhadores são sileiro se s'ente fustigado pelos
opostos. Na organização ci- açoites da guerra, atingido pelas
entífica predomina a certeza conseqüências da catástrofe.
de que os interêsses dos tra· O povo sofre as aperturas da
balhadores e da administra- inflação; na sua angústia apela
ção são idênticos. Estabele- para o Estado, porquanto só o
ce-se urna comunidade de Estado será capaz de resolver
interêsses recíprocos indis- os problemas que tanto o afli-
pensável ao aumento da gem - êsses torturantes pro·
produção; blemas cotidianos de alimenta·

(3) J. E. WALTERS - Modern Management, 1937, pp. 12-13.


1(lO CADEIU\'OS Df ADMIl'\ISTRAÇÃO PÚBLlCA

ç;\n, vcstuúrio, habitação, trans- do dos tempos c dos movimen-


portes, desenvolvimcnto cultural tos gastos na execução de uma
(> 1ranqüilidade de espírito_ tarefa; o exame minucioso dos
Em uma palavra: o povo quer instrumentos utilizados; a sepa-
se libertar da miséria e da inse- ração das atividades de planeja-
gurança e tem direito de fazer mento das de execução; o em-
exigências cada vez maiores_ prêgo da direção funcional, etc.,
Exigências que o Estado não são conhecidos preceitos taylo-
j)oclcrú atender pelos processos rianos cuja aplicação resulta
rotineiros tradicionais_ quase sempre na elevação do
Daí o apêlo à organização ci- rendimento e melhoria das con-
'2ntífica. dições de funcionamento da em-
Küo há, senhores, como fugir prêsa.
Ü alternativa :on se racionaliza Criticada, ampliada e aperfei-
(J Administração Pública na base çoada pelos seus discipulos, a
(/{/. IJrgcmizaçi'io científica dos doutrina de organização cientí-
serviços que a constituem, ou a fica do grande engenheiro ame-
((('170 administrativa do Estado ricano resistiu aos críticos e re-
80 dillliní na agitação dispersiva sistiu ao tempo; na sua essên-
rle órgi'íos desarticulados, de cia e nos seus fundamentos ela
(,l/,~tO devado e baixa produti- se acha perfeitamente adaptada
1"idade_ às novas condições produzidas
Um outro aspecto assaz clis- pelo progresso industrial.
('i.lticlo do sistema Taylor se en- Duas guerras mundiais puse-
('ol1tra nas suas vastas possibili- ram·na à prova, consagrando-a,
rlacles de aplicação, quer no âm- porquanto, sempre que surge a
bito das indústrias privadas, necessidade de elevar índices de
'lU01' no amplo setor dos servi- quantidade, rapidez e qualidade
ços públicos, em que começa da produção, forçoso ê pôr em
a ganhar terreno; a eXp'eriên- execução, no todo ou em parte,
cia já demonstrou as vantagens a doutrina de organização cien-
oriundas da aplicação de algu- tífica forjada por F. W. TAYLOR
mas de suas contribuições_ - cidadão exemplar de uma
A análise metódica do traba- grande democracia, torturado
lho c dos trabalhadores; o estu- pela obsessão do rendimento.
CAPíTULO V

TAYLOR E FAYOL
CLEANTHO DE PAIVA LEITE

12 - Cad. Adm. Pública -- H


CLEANTHO DE P AlVA LEITE

Técnico de Administração do Departamento Administrativo do Servi~o


Público.
Cargos exercidos: Funcionário do Departamento de Tutela das Nações
Unidas; Oficial de Gabinete do Presidente Getúlio Vargas; Diretor do Gahi-
nete do Ministro de Viação e Obras Públicas; Vice-Presidente da Comissão
Nacional de Assistência Técnica.
Cargo atual: Diretor do Banco Nacional do Desenvolvimento EconÔmico.
Obra publicada: O AssessOl'amento da Presitlência da República.
Fa] ar de diferenças e analo- trata, mas isso se deve à maior
gias entre a obra de TAYLOR ou menor quantidade de obs'er-
c os trabalhos de FAYOL signi- vações que havia acumulado sô-
fica examinar os pontos de con- bre os diferentes setores do pla-
tacto e as divergências entre a no adotado. No entanto, êste, em
formação de cada um, as suas qualquer hipótese, orienta o de-
atitudes em face dos problemas senvolvimento da sua doutrina.
de organização e os ângulos
dos quais visualizaram certas Ambos coincidem acêrca da
questões fundamentais para a necessidade de treinar e de aper-
administração privada e para a feiçoar os elementos da emprêsa.
administração pública. O autor da Administmção Indus-
trial e Geml dá grande destaque
Como observou LÉON WAL- a êste ponto e chega mesmo a
THElR, TAYLOR é pouco sistemá- dividir o seu trabalho em duas
tico e o seu pensamento passa partes: 1. 9 a necessidade e poso
freqüentemente de um assunto sibilidade de um ensino admi·
a outro, sem pausas e sem um nistrativo; e 2.0 a divulgação
plano prefixado. (1) dos princípios e elementos de
administração. Muitas páginas
FAYOL, ao contrário, desenvol- dedica à formação dos agentes
ve a sua doutrina dentro de na indústria mineira e metalúr-
um esquema mais firme. Como gica, descrevendo a missão das
o seu ilustre antecessor, conce- escolas superiores, secundárias
de umà importância desigual e primárias, das oficinas, da fa-
aos diferentes assuntos de que mília, do Estado.

(1) LÉON WALTHER. Tecnopsicologia do Trabalho Industrial, p. 22.


1(li CADERi\OS DE AD~.lJi\ISTRACr\O PCBLlCA

TAYLOR. por outro lado, con- no colocar frent'2 a frente as


fere à instrução e ao aperfeiçoa- suas opiniões ou as atitudes de
mento dos operários um lugar cada um dêles em face de de-
(1c 'excepcional importância na terminados problemas. Em ge-
,11)lica(:ão do sistema de admi- ral, êles não examinaram as
nistra(;ão científica. O operário mesmas questões, mas aspectos
orientado, adestrado, especializa- 'especiais de uma questão muito
(\(). é a base sôbre a qual re- ampla e genérica: a organiza-
pousa o 0XitO de todos os estu- ção racional do trabalho hu-
dus de lr,mpos ou de movimpn- mano.
tos que visam à racionalização TAYLOR dedicou-se mais acen-
do trabalho. A tor1os os oito ins- tuadamente à execução do tra-
pC'tores ou capatazes que repre- balho, e mesmo quando dá opi-
sentam a funcionalização das niões sôbre a direção das em-
atividades de preparação e ori- présas pensa na realização das
entação do trabalho, confere tarefas na primeira linha de
TAYLOR o dever de ensinar ao execução. Tal é o caso, por
operário como executar a sua exemplo, da instituição do ga-
tarefa. binete de estudos para orientar
Mas, aqui também, diferem os e facilitar a atividade das ofi·
pstudos dos dois grandes m('s· cinas.
t res da organização. Qual o De outro lado, é notória a pre-
homem cuja formação pn>f)- ferência de F AYOL pelos estudos
cupava o autor franc(>s? O pn- sôb1"2 a organização da emprê-
genheiro de minas, o adminis- sa como um todo, e, mais ainda,
t rador, o chefe dos níveis mah; pelo problema particular de uma
elevados de direç:ão. Enquanto das suas funções, a função admi-
isso, a obtenção do operário es- nistrativa, exatamente a que se
pecializado, veloz, perfeito co- acha mais afastada da linha de
nhecedor da melhor forma de execução.
executar a sua tarefa. é o de- Se tornássemos corno referên-
sejo predominante do engenhei- cia a própria classificação de
ro americano. fu'nções proposta por FAYOL, po-
O problema da comparação deriamos dizer que TAYLOR se
entre as doutrinas de TAYLOR e preocupou muito mais com a
de FAYOL não consiste, porém, função técnica e, só como uma
TAYLOR E FAYOL 165

decorrência, incidentemente, com sua teorIa da organização das


as demais funções, inclusive, é emprêsas são igualmente "cien-
claro, a administrativa. FAYOL, tíficos".
de outro ângulo, viu na orga- FAYOL tem uma atitude intei·
nização e no desempenho desta ramente diversa. Não o preo·
função o fator principal do bom cupa demasiado dar aspecto
ou mau êxito das emprêsas e cientlfico a s'eu trabalho. Pelo
a ela dedicou o melhor de contrário, declara, desde logo,
sua experiência acumulada e os que a doutrina é fruto de uma
maiores esforços de divulgação longa experiência; de notas to-
da doutrina. madas no decorrer da sua larga
Uma das diferenças, que pa- atividade à frente de uma em-
rece significativa, entre TAYLOR prêsa industrial; repousa em da-
e F AYOL, é a que se refere às dos da observação empírica e
atitudes de ambos em relação não planejada que desenvolveu
à importância do conhecimento na labuta diária dos postos de
experimental. dIreção.
TAYLOR tem um grande entu- Permitimo·nos conjeturar que
siasmo pelo método científico. A essa diferença pode ser atribuí-
sua doutrina deve origem, ins- da à diversidade dos tipos de
piração, ou pelo menos conteú- formação dos dois m'êstres da
do filosófico, aos princípios de ciência da organização. TAYLOR,
DESCARTES, que foram, sem dúvi- como se sabe, começou como
da, um dos principais fatôres aprendiz da fábrica onde chegou
do desenvolvimento da moderna a diretor; estudava de noite e
experimentação. Chamou o seu era quase um autodidata, não
sistema, segundo alguns, acei- teve formação universitária re-
tando o bati::mo de outrem - gular. Daí a admiração entu-
"a administração científica". O siástica p'ela ciência e a sua
seu objetivo é a luta contra o confiança nas realizações do mé·
empirismo, contra a chamada todo experimental.
"administração ordinária", a ser É interessante verificar que
substituída por uma racionali- FA YOL nào teve a preocupação
zação total do processo de pro- de elar fundamento científico ou
dução. Os quatro princípios fun- uma in formação filosófica à sua
damentais nos quais repousa a doutrina.
lCíCí CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

TAYLOR, pelo contrário, fêz da FAYOL, nos seus estudos da


natureza científica e das exigên· administração, não concedeu ao
cias analíticas do sistema o cen· trabalho da Commentry ames·
tro da exposição em todos os ma importância que TAYLOR re·
seus trabalhos. A sua contribui· servara às suas experiências
ção mais importante à teoria pessoais nas oficinas da Beth·
da organização - o estado· lehem Steel. O seu horizonte ga·
maior - revela a importância nha amplitude mais ràpidamen·
que concedia, no tipo ideal de te. As idéias gerais e os gran·
estrutura administrativa que des problemas, não só os pu·
imaginara, aos órgãos de peso ramente administrativos, mas
quisa e de planejamento. Um de também políticos e humanos,
seus temas prediletos é exata· estão a cada passo na sua va·
mente a separação entre as fun· riada produção.
ções de pura execução e as de
estudo, com o fim de entregar WILBOIS e VANUXEM (2) aceno
as últimas a um órgão especial, tuam que as divergências apa·
a elas exclusivamente dedicado. rentes entre FAYOL e TAYLOR de·
correm das características di·
Por outro lado, com a preo· versas dos métodos que usavam
cupação de obter maior rendi· para estudar o problema modero
mento do trabalho operário, no da fôrça humana. TAYLOR
TAYLOR discorreu largamente sôo estuda o trabalho manual, cro·
bre a necessidade de ser a ati· nometra os gestos do operário,
dificilmente vai além da oficio
vidade do trabalhador decom·
na. FaYOL, pelo contrário, estuda
posta em suas menores partes o pensamento que dirige, não
e analisada e medida de maneio cronometra, pois não é possível
ra exaustiva. Os movimentos do medir a imaginação criadora.
operário deveriam ser objeto d'e Começa por organizar o dia de
uma observação rigorosa, crono· trabalho de um diretor-geral e
metrados, submetidos enfim a desce pouco a pouco, através dos
um processo de discriminação chefes de serviço, até o contra·
realmente minucioso. mestre e o operário.

(2) J. WILBOIS c P. VANUXEM, ES8ai 811r la Conduite dcs Allaircs et la Di-


Tcction dcs Hommcs.
TAYLOR E FAYOL 167
Mais adiante, ressaltando a nas de reparação dos grandes
semelhança entre os dois gran- estabelecimentos mineiros e me-
des doutrinadores, afirmam ca- talúrgicos, diverge claramente
tegàricamente: "Não pode haver da pluralidade de chefes para
oposição entre o "sistema" Tay- o mesmo trabalho.
lor e o "sistema" Fayol, porque, Posteriormente, no entanto,
apesar da palavra, nem FAYOL fayolianos legítimos buscaram
nem TAYLOR quiseram fazer "sis- demonstrar que também aqui
temas". Ambos se contentaram não há divergência entre as duas
em reunir e divulgar os resul- doutrinas. Na realidade, dos 8
tados de suas respectivas expe- chefes que imaginou TAYLOR, 5
riências. Os principios, conse- ficam no gabinete de estudos,
lhos ou normas que propõem são incumbidos da preparação das
sempre acompanhados da res- ordens, esquemas e fôlhas de
salva de que devem ser aplica- instrução. Restam os três que
dos com elasticidade e bom entram em contacto direto com
senso. o operário: o chefe do grupo,
ou capataz, os chefes da verifi-
FAYOL descreve no seu livro cação e o chefe da disciplina.
fundamental, de uma forma su- Ora, tanto com o chefe da disci-
mária, os aspectos gerais da plina como com o chefe da veri-
obra de TAYLOR, tais como êles ficação, o operário tem ligações
tinham sido enunciados no Shop muito espaçadas e apenas em
Management (que é anterior, de
setores bem determinados, sem
vários anos, aos Princípios de que haja lugar para a confusão
Administração Científica). Ao que resultaria, inevitàvelmente,
concluir, diz que as duas idéias da pluralidade de comandos. Na
fundamentais de TAYLOR são: verdade, o operário tem de fato
1.' - a necessidade de refor- um chefe knico, sem que haja
çar a ação dos chefes de ofici- violação do chamado princípio
na e dos contra-mestres median- da unidade de comando, assunto
te a criação de um estado-maior; já examinado por outro confe-
rencista desta tarde.
2:-> - a negação do princípio
da unidade de comando. Depois Deve ser a:!sinalado que F A-
de elogiar a primeira solução, YOL, apesar de manifestar, na
recomendando-a para as ofici- Adminiitração Ind1Ultrial (I Ge-
I(JS CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1'al, as suas reservas em relação Chegamos, pois, à conclusão de


à organização científica de TAY- que, distanciados pelo tempo e
LOR, alguns anos depois declarou pela diversidade de experiências,
exprpssamente que a "cronome- os dois grandes mestres contri-
tragem metódica pode dar na buíram de modo diferente para
o progresso da organização cien-
administração das emprêsas in-
tífica do trabalho.
dustriais e do Estado s'erviços
A TAYLOR, porém, devemos so-
tüo grandes como os que presta
bretudo o ter elevado o proble-
na organização das oficinas"_ (3)
ma à categoria que êle hoje re-
Embora seja limitada a apli- presenta nos estudos de eco-
nomia industrial. O ideal da
cabilidade dos processos de me-
eficiência, da redução do preço
diçüo do tempo na grande maio-
de custo, da celeridade do fun-
ria dos serviços públicos, é de cionamento dos serviços, da eli-
uma grande eloqüência essa ma- minação de fases inúteis - hoje
nifestaçüo de apoio de FAYOL em tão comum na administraçüo pú-
relaçüo a um dos mais caracte- blica - deve também ser levado
rísticos e mais discutidos aspec- a crédito do grande engenheiro
tos da doutrina tayloriana. americano.

(~) H';"RI FAYOL. Lr~ P. '1'. '1'. : "L'Incapacité InuusÜ'ielle de l'Etat", p. 10R
CAPíTULO VI

A CONTRIBUIÇÃO DE TAYLOR PARA O


PROGRESSO INDUSTRIAL
ALDO M. AZEVEDO
ALDO M AZEVEDO

Engenheiro c industrial.
Cargos exercidos: Diretor do Instituto de Organização e Racionalização
do Trabalho (IDORT),
Cal'gos atuais: Diretor da Associação Comercial de São Paulo, Membro
da Academia de Ciências Econômicas do Instituto de Economia,
Obras publicadas: Hurmonia da Vitb e a GUCl'l'U, O Brasil que nó.
queremos,
1. Graças ao conhecimento ci- titucionais e evolutivos no longo
entífico e tecnológico hodierno, processo de seu desenvolvimen-
é facultado ao investigador es- to até nossos dias. E é então
tudioso traçar e indicar, retros- que a figura singular de FREDE-
pectivamente até às origens re- RrCK V/rNSLow TAYLOR aparece
motas, operações, materiais e magnífica, como um marco in-
processos que finalmente resul- confundível das novas idéias e
taram em dado produto_ Mas, novas técnicas.
para isso, é condição necessária Seu trabalho de semeador pio·
ser o objeto da investigação co- neiro ficou, como o de P ASTEUR,
nhecido e examinado em tôdas inacabado e irreconhecido duran-
as suas particularidades_ Assim, te sua vida, porque muitas se-
enquanto os aliados não apreen- mentes não tiveram tempo, ter-
deram uma bomba-foguete com- reno e clima propícios para ger-
pleta, com seu aparelho de pro- minar e crescer.
jeção, estavam impossibilitados 3. Como outros gênios da ci-
de reproduzir sua construção e vilização, TAYLOR viveu adianta-
funcionamento. Obtido, porém, do em relação à mentalidade de
o primeiro exemplar inteiro, em sua época, daí haver sido incom-
menos de um mês foi possível preendido, e até combatido, por
conhecer minuciosamente o que seus coevos. Pressentiu clara-
os alemães gastaram anos para mente o grande alcance de seus
estudar e aperfeiçoar. trabalhos mas foi modesto em
2. Anàlogamente, só o conhe- seu próprio prognóstico, talvez
cimento exato e objetivo do esta- pressionado pela resistência con-
do da indústria moderna pode seqüente da inércia intelectual
oferecer o reconhecimento e a dos homens ou pela oposição
avaliação de s'eus fatôres cons· dêl'es, justificada benevolamente
172 CADER~OS DE ADl\flNISTRAÇAO PÚBLICA

por falsos sentimentos humani· 1.0 - O período do artesanato


tários. e da pequena indústria,
até 1830;
4. Tudo isso aparece muito
nitidamente hoje, na perspectiva 2. Y - O período de grande ex·
dos sessenta anos decorridos tensão industrial, até 1890;
desde seus primeiros esforços ra. 3." -- O período de organização
cionalizadores, quando TAYLOR metódica das usinas, até
observava a descarga de vagões, nossos dias. (1)
justamente porque nós já atino
gimos nível de compreensão 6. A chamada "Revolução In·
do problema do trabalho e da dustrial" já havia produzido
produção organizada, antecipa· suas conseqüências políticas nos
damente alcançado pelo genial meados do século XIX (2) e a
engenheiro da Midvale Steel guerra civil americana tinha fi·
Company. xado na evolução econômica dos
Estados Unidos um marco divi·
5. Ninguém mais duvida ago· sório que é, ao mesmo tempo,
ra da poderosa influência que o ponto de partida para sua re·
os estudos de TAYLOR exerceram organização industrial em ba·
sôbre a industrialização do muno ses científicas. Foi então que
do. Jt justo afirmar que sem surgiu a figura surpreendente de
TAYLOR não haveria essa indus· TAYLOR, com seu jeito de puri·
trialização tal como hoje a co· tano, procurando "moralizar" o
nhecemos. VRINAT divide a lJjs· trabalho, viciado e desintegrado
tória econômica dos Estados Uni· pelo que ficou conhecido como
dos em três períodos: "vadiação sistemática". Porque

(1) HE"É VRIN.\T, L'Effort lndllslriel cf Social anx États-Unis (Paris: AllJin
Michel, Ecl., 1927), p, 12 :
"D'une f,,'~on
généroJe, on divise J'histoire économique des États-Unis
(,n trois périod('~: ler, La périocle de l'artisanat ct de la petite industl'ic
ju,c''lu'à 1830; 2i'mc La pél"iode de grande cxtcnsion indu,~trielle jusqu'en
1880; 3éme La pél'iodc de J'oJ'ganisation méthodiquc des usines de 1900
jusqu'à, nos joUl's."

(2) VICTO;' 3, CL.un, _.. ' Hisiory 01 Mal1l1laclu1'es in tlle Unitcd States - (Nl'w
y,,;'];: l\!('GrDw-Ifill Dook CUllljWny Inc" 1029), Vol. lI, p, 1.
TAYLOP, E FAYOL 173

o grande engenheiro compreen- tificaçüo, que escreveu aquela


deu desde logo que a organiza- obra:
ção do trabalho, como tão bem
exprime MAURO, "é piuttosto una 1_ Q - para mostrar, por uma sé-
questione di mentalitá che non rie de exemplos simples, a
della adozione di un numero piu imensa perda que o país
o meno grande di recette piu inteiro sofre diàriamente
o meno dettagliate". (3) em todos os atos da vida;
2:' -- para convencer o l'eitor de
7_ Foi essa mentalidade, que que o remédio está em
mais propriamente poderíamos uma organização sistemá-
denominar atitude mental, que tica e não na busca de
TAYLOR procurou introduzir e for-
homens extraordinários;
mar no trabalho industrial ame-
ricano, o que conseguiu, final- 3.0 -- para provar que a melhor
mente, depois de quase meio sé- organização é uma verda-
culo de lutas inglórias de que deira ciência baseada em
participaram também seus mais regras, leis e princípios
destacados e valorosos discípu- bem definidos; que os
los_ Suas obras estão assinala- princípios de organização
das por um esfôrço tremendo científica são aplicáveis a
para conquistar e convencer a tôdas as formas da ativi-
razão do próximo, no que TAY- dade humana, desde as
LOR ainda demonstra um grande
mais simples ações indi-
respeito pela opinião alheia. viduais até os trabalhos
nas grandes companhias,
S_ Na introdução do livro que que exigem coop'eração
contém os princípios da organi- mais estudada; que quan-
zação cientifica do trabalho, do êsses princípios são cor-
TAYLOR explica, mais como uma retamente aplicados, os re_
desculpa do que como uma jus- sultados são notáveis_ (4)

(3) FRANCESCO MAURO, Le Osservaz;oni di un Ingegnere negli Stati Uniti


d'America (Segunda Edição; ENIOS, 1928) p. 65.
(4) FREDERICK WINRLOW TAYLOR, Príllcipes d'Organisatio1l Scientijique (Trad.
de JEAN ROYER - Pref. de HE"HY LE CllATEf.nm - Ediç:1o definitiva;
Paris: Dunod. 1929). PP. 20-21 :
"Cet ol1vrai>e a été écrit:
174 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

9. Em sua obra fundamental, ções, que lhe permitiu medir


TAYLOR mesmo relata com sin- exatamente os resultados e os
geleza como iniciou suas pes- diversos efeitos das variações de
quisas: "Atravessávamos o fim inúmeros fatôres contribuintes
do longo período de depressão para aquêles resultados. Assim,
que sucedeu ao pânico de 1873 numa barulhenta usina de aço
e os negócios estavam tão ruins dos Estados Unidos, nasceu a
que era impossível, para muitas Organização Cientifica do Tra-
fábricas, conseguir pedidos. Por balho, que, como seu criador
essa razão, êle (o autor) foi previu, pouco a pouco estendeu
obrigado a começar como sim- seus ramos por todos os campos
ples servente e não como me- da atividade humana.
cânico". (5)
10. A situação da indústria
Assim começaram suas expe- americana nos primórdios das
riências e aventuras, como ope- investigações de TAYLOR, como
rário, apontador e contra-mestre se vê da descrição de vários
das usinas de Midvale Steel autores, era impressionantemen-
Company. Partindo de zero, TAY- te semelhante à da indústria
LOR construiu todo um sistema brasileira hoje, sessenta anos de-
objetivo de métodos e observa- pois. ATKINS informa: "A ati-

1.er Pour montrer par une série d'exemples simples, la parte Immense
que le pays tout entier subit chaque jour, dans tous les actes de la vie;
2.eme Pour convaincre le lecteur que le reme de est dans une organisa-
tion systématique et non dans la recherche d'hommes extraordlnalres;
3.eme Pour prouver que la meilleure organisation est une véritable
science basée SUl' des rêgles, des lois et des principes blen définis; que
les principes fondamentaux d'organisation scientifique Bont applicables
à toutes les formes de I'activité humaine, depuls les plus simples de
nos actes individueis, jusqu'aux travaux de nos grandes sociétés qui
exigent la coopération la plus étudiée; que lorsque ces principes Bont
correctement appliqués les résultats obtenus sont remarquables."
(5) Ibid., p. 46 :
"C'était vers la fin de la longue période de dépression qui Buivit
la panlque de 1873 et les affaires étaient si mauvaises, qu'i! étalt Impos-
sible, pour beaucoup d'ateliers, d'obtenir des commandes. Pour cette
raison, il fut obligé de débuter comme simple manoeuvre à la journée
et non comme mécanlclen."
TAYLOR E FAYOL 175

vida de e contribuição de TAYLOR 11. Concorde com êste últi-


atenderam às necessidades do mo autor, PERSON, por sua vez,
segundo estágio da revolução diz: "O movimento para a Or-
industrial, a qual se tornou ex- ganização Científica apareceu
pressa cêrca de 1880, quando a espontâneamente nos primeiros
capacidade produtiva claramen·
anos de 1880 como resultado de
te principiou a sobrepujar a ca-
pacidade do mercado em absor- fôrças que fizeram os industriais
ver mercadorias a preços lucra- americanos cônscios do proble-
tivos. Ao passo que anteriormen· ma da gestão das emprêsas:
te se salientava grandemente a uma nova tecnologia, cuja intro-
obtenção de capital, e a expan- dução foi acelerada pelos resul-
são das fábricas e do equipa- tados da Guerra Civil; extensão
mento, as limitações crescentee dos mercados por causa da cons-
do mercado tornaram então im- trução de estradas de ferro e
perativo um uso mais eficiente
alargamento da fronteira; au-
do equipamento produtivo a fim
mento e mecanização das fábri-
de cortar o preço de custo e
aumentar os lucros. TAYLOR foi cas em conseqüência dos maio-
o primeiro expoente cônscio des- res mercados e maior demanda
sa necessidade, e a Organização de capitais; a dificuldade de
Científica que êle fundou espa- adaptar o trabalho de imigran-
lhou-se desde então pelos países tes e nativos à operação de má-
industriais do mundo". (6) quinas; a depressão dos anos de

(6) WILLARD E. ATKINS, "Taylor, Frederick Winslow (1856-1915)", Encyclo-


paedia o/ Social Scienc6s (EDWIN R. A. SELIGMAN, Ed.; New York: The
MacMilIan Company, 1935), XIV, p. 542:

"Taylor's activity and contribution responded to the needs of the


second stage in the industrial revolution, wlch became pronounced about
1880 when productive capacity began distinctIy to outrun the capacity
of the market to absorb goods at profitable prices. Whereas previously
emphasls had been placed largely upon obtalnlng capital, expanding
plant and equipment, increasing Iimitations of the mar!{et now made
imperative a more efficient use of productive equipment to cutcost and
raise profits. Taylor was the first consclous exponent of this necessity,
and the scientific management which he founded has since spread through-
out the industrial countrics of the World."
176 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

qm' cortou severamente os lu- 1.0 - introduziu o sistema de


cros". (7) "mestres funcionais" e o
"princípio de exceção" na
12. Os baixos lucros, os sa-
l:'trios diminutos, reduziram o prá tica da gestão;
poder aquisitivo americano, fa- 2." - desenvolveu, principalmen-
vorecendo uma estagnação dos te pelo método empírico
negócios que, por sua vez, pro- da tentativa-êrro, o aço
piciou a eclosão do movimento rápido, a arte de cortar
J'acionalizador, como também in- os metais e outros produ-
dica WISSLER, quando justifica tos semelhantes, por meio
o aparecimento de TAYLOR e de de fórmulas, técnica da ré-
sua Organização Científica. (8) gua de cálculo e leis de
E acrescenta: "TAYLOR fêz três operação de máquinas; e
importantes grupos de contribui-
ções ao progresso da emprêsa 3.· organizou o modo de pro-
moderna: ceder para o estudo dos

(7) H. S. PERSON, "Scientifie Managpment" Encyclopaedia o/ Social Scicncc8,


XIII. p. 605 :

"The management movement appeared spontaneously in the early


1880's as the resulto f forces whieh made American industrialists con-
selous of problems of management: a new teehnology, whose tniroduction
was speeded by results of the Civil War; extension of markets by railroad
f'onstruction and expansion of the frontler; enlargement and meehani-
zation of plants in rcsponse to larger markets and greater fixed capital
'·"quirements; the difficulty of adapting na tive and immigrant labor
to the operation of machines: the depression of the 1870's, which cut
severely in to profits."
(S) WIL!.IS WrssLER. Business Adminislration (1st. ed.; New York: McGraw-
Uill Book Company Inc., 1931) p. 83:

"8ut operating profits becamc embarrassingly urgent. Here was a si-


tuation ripe for the development of high-pressure management. It brought
to the surface, appropriate to the oeeasion, scientific management and
Frederick Taylor. Taylor saw the need for something more than a
mere tlghtening up of lax administration, more than mere systemati-
zation: he insistcd lIpon a new deal in management."
TAYLOR E 1'AYOL 177

tempos e dos movimen- mleres qualilés que doit possé-


tos como base justa para der un homme qui veut faire
a prática usual da ges- son métier de la manutention de
tão_" (9) la fonte, cst d'avoir l'esprit si
lourd ct si obtus qu'il ressemblc
13_ Cumpre notar, porém,
intellectucllement plutôt à un
qu'c o sistema de mestres fun-
boeuf, qu'à n'importe quel autre
cionais não foi geralmente apro-
typc_ L'homme dont l'esprit est
vado na prática, como observa
DUTTON, devido à confusão con-
alerte et aiguisé est, pour cette
seqüente do múltiplo contato do seul e raison, absolument impro-
operário com tantos chefes_ (10) pre à un travail aussi monotonc
Mas, coube ainda a TAYLOR lan- que celui-ci." (11)
çar a pedra fundamental da se- 14_A obra monumental de
leção profissional, reconhecendo "que foi não somente
TAYLOR ~-~
a diferenciação dos tipos e sua o inventor dos aços de corte rá-
adequação aos diversos traba- pido, mas o animador e organi-
lhos_ E o fêz de forma curiosa, zador metôdico da indústria mo-
quando afirmou: "Une des pre- derna" - no dizer de VRINAT (12)

(Dl I1Jid., p. 84: "Taylor ma de three important sds of contributions to the


progress of modern industrial enterprise: (1) he introduced "functionali-
zcd foremanship" and the "principIe of exceptions" in the practice of
managemcnt: (2) he evolved, largely by empirical trial-and-error method,
high-speed steel, the art of cutting metais anél like products in for-
mulae, slide rule technique, and laws of machine operation; and (3) he
organized the procedures for "time-and-motion" study as a just basis
for stanàard practice management".
(10) IIENRY P. DUT'r<lN, PrincipIes of Or,r/(lnizatio", (1st. ed., Ncw York:
McGraw-HiII Book Company, 1931), p. 143:
"In practice, the direct contact of a workman unverscd in orga-
nization principIes, with 80 many peoplc, had some disadvantages. Thc
plan has been modified to clear essentiaIIy the same group of functions
through a single foreman. who in addition to his own special but
more Iimited responsibilities, now acts to cool'dinate, transmit anel
confirm the instructions of the various supervisory departments to
the workman."
(11) FRED"RICK WINSLOW TAYLOR, op. cit., pp. 53-54,
(12) RENÊ VRlNAT, op. cit., p. 16:
..... ct le plus modcste appl'cnti n'cst pas sans connaHre le nom

'3 - Cad. Adm, Pública - 44


17H CADEI\l',OS DE ADl,lINlSTRA(/iO FTÍr\L lCA

- pode ser definida como uma laelo clássico, combinanelo os


constante análise sistemática quais realizam-se tôdas as elan-
(L1S condições do trabalho indi- ças, TAYLOR conseguiu separal'
\'jr1ual e rb organização das 'em- os movim'é,ntos elementares dt'
prêsas, de modo a isolar cada (ôdas as operações. Como escrp-
f"tOl' variilvel e lhe conhecer a ve WISSLLR ' - "para TAYLOR, pa-
influ['ncia funcional. Assim, TAY- receu que, em vez ele manipular
LOR fic"u realmente habilitado a cada trabalho de novo, deveria
recompor todos os elementos pri- haver elementos int'2rcambiáveis
múrios elas operações, na forma- que constituem as partes com-
ção e combinação econômica- ponentes de todos os trabalhos.
m'2n1e mais eficiente, "substi- Arm"r êsses movimentos para
luindo o acaso e fatôres variá- formar uma biblioteca nacional
rIos padrõ0s dêssL's movimentos
veis por constantes em função
plenT2n(are3 se tornou, então,
das quais poelem ser feitos cál-
culos e planos"_ (13) seu objetivo". (14) Conseqüente-
mL'nte, foi-lhe possível realizar
1:1. Assim como há trinta e od Zibitll1n sínteses opPracionais
dois passos elementares elo bai- para todos os serviços e tarefas.

hi.,;tnJ'jque de Taylor, qui fut non sf'uJrmrnt l'inventeur des aeiers à


('oup'" rapidp, nlai!'-l l',lnimatr:lI!' pt l'ol'ganisatt'ur lnéthouique d(' l'indu:~­
t l·if' modern€'."
(13) H, S. PERSON. op. cit" pp. 604-605 :
"n('sparrh, in\'PfOtigation and pxp('rirnpnt, with thf'ir pl'OC0SflCS ui'
aJl:11y:-ds nl(':l."'ul'('nl/'nt, cllmp~d'üwn and the' like, con;.;titute th(' o1l1y
:-'ound ba,c.;is for df'tr\) nlin~ltiljlls of purpos p • poliey. prognuTI, pl'ojeet,
product, material, machine, (no!. typ,' of ability 01' !'lkilI. methou anel
ni hN faetors anu th" c()()rdinatinn of these in purposeful dfort. H
thp l'f'sults of l'E'!:H-'Ul'Ch, invC':->tigation and t'xp('l'in1ent are to be us('ful
td all f'llt('l'pl'i;-;p, tlu'y l111i:-.:;t bl' In.'1df' aVH!labl\' to PX(\(:utiV('S and wor-
keJ's in the fOl'm uf dpfinl'd and publishpd stanual'ds in m'::lnag('ITIent
(C'l"minology which sen'p as common goals, facilities and methods, rcpla-
cing chance and \'ariablr' faetors by constante in terms of which cal-
eulations and plans may be made. "
(11) WILI.lS WISSLER, op. cit" pp. 325-6 :
"'To Taylor it seemeu that instead of hanulin',' cach job rie noro,
therc should he interchangeable ,.léments which constitute the compo-
nent parts of ali 5obs. To asscmbl~ these motions in to a national
library Df elementary motion standards became, then. his objective."
T A Y L () lZ E F A Y () L 179

16. Pondera, com muita ra- 17. A cronometragem, que


zào, DUTTON, dizendo que "as ho.ie se tornou uma técnica in-
combinações inusitadas de expe· clispcn;;;\vel e univcrsal para ;;
riências são muitas vêzes fru- aV:1Eaç'üo das opETações 'E a an:\-
tuosas. Assim, TAYLOR introdu· li~(: dos movimentos estritamc)1"
ziu a técnica do engenheiro nos ~p I'.Eccess{1 rios, tem sua orig-,:'Jl1
problemas do homem de negó- em em'l reminiscência da juvC"""
cios, com rL'sultados revulucionú· tur1c de 'TAYLOR, c(';nl0 contn. se'H
rios. O médico como psir:ologista, f~raJ1(lc discípulo francês LE CIL\-
o advogado como homem de ne· 'I'ELTFI~: "L'elYln]o[ de cett" mé>-
gócios, o especialista em estudo jJ]()dc fut sur::g-rré à TAYLOR pilr
de movimento como estudante de un sOll'vcnil' ~1e cclle,ge; son pro-
cirurgia, têm a vantagem de fesseur dc ;"'lathêmatiquc ('hro·
uplicar uma tÉ'cnica estabelecida nométrait rlé,i:'l" li' temps que ses
em um novo campo". (1;) (li ff6"f'1l1 s éF'í/Cl; nwttaient à fai-
Introduzindo novos métodos !'l' lei'!"~; de\'(.JÍl·s". (11;)
pxperimentais e novas técnicas
.';>ntéUcils para as operaçõps cxC'· 18. Podemos resumir a obra
cutadas até en!üo se~;unclo o cos- (ll' T.\YLOR, em sua maior contri-
tume tradicional, TAYLOR reali· lmk:ío lla1'a a indúsl ria moder-
11:1, ]lO:, :o;",I;uinteo; pontos princi-
zou paciente e pacificamente
pai~~ :
uma nova rpvolução in<lllstrial ('
,:oci:l1, no sentido de que con!'~e­ 1." -" O eslahelecin1PntD de uma
;:~t!iu, simultilneamente, pr()(luzir (]pfiniçào prútica da arte
mnis ''c melhor, por menor custo de experimentar "con10 a
(~ a;nrlil remunerando rplativn- (]e1 (,l'minaçüo do deito
mf'r<Íe mais, tanto os opcrúl'ios produzido pf'Ia varia~'~lO
con Ir) os capitalistas. dlm1 elempnlo, eOllscrvan-

(1;)) l~!,:--;I{Y P. Dl'TTUI\~, UlJ. cll.~ pp. G3-'1:


··Unusual ctJlnhinQtiull,C:; of ()Xl)('t'h~lH'(' often l'C'sult fruitfully. Thl1~,
Fl'hl(>l'ick W. Taylor brollght th!' tl'C'hnique of the ('nginf'er to bear
on tJw pl'obkm.-, of thl' bw"in(':.:;;-; rnan, v.rith l't'\"\JlutifJn:ll'Y l'('SUlts. TIH'
physidan a;.:; a psychologist. th(' lawy('l' as rI, bw:dnC'..:!:c; man, the motion-
-study ('xp(')"t as a ,;tudent of surglTy, hm"C' each the au\'antagl' of
npplyiug <1U l';:-~tablil::1hcd techlliqul' in :1, nt'\V field."
(1G) Jh:XHY L;,: CilATELlIm, L-']ru!!:st,.;e) Lu, LJ( irll(',' CI~ LJOr.fjUHi,-,w{ion (lu, XXc.
Sil'c~e - Trois Conférl'nc('s (Paris: Dunod, 1935) p. 61.
I ~: ()

c!fl todo,.; 0<.; ou! l'OS com;- t;lmell!o dl' c:1(1a I raha-
tantes". (17) lhadnr;
A descoberl a, n!llj unia- G." - A divisão das fUl1ç:õps ll(·
com (' direção exncullva. (]-.-sl il-
"f) \H'l'TT, (lns <1('os c10110nli- cilnclose :1quclaS que se
n~l(los elE' corle r;lpic1o, que entrelaçam usualmente,
pcrmitiram exlraordinú- rksdt' as dt> planejam n n1 li
l'los progrc:ósos nas indús- prévio até as da vPrifi·
: rias nwc:J nicas de cons- Cileüo da eX'ecl1(';io dei "r-
t cu('ão de rnúquü:n s; minada;
') " A técl,ica, postc]'icrm:-njc' "." - A ('s('olhil préviil e a pre-
d:'s('n\',)l,-;cl:! p:)1' (~TL­
determina(:ão de padrões,
f'f~i:T1{. (la anóUsc ';1 cro-
tanto de iClateriais e pro-
dutos, ('omo (1t' pl'oepssos
I)l('1l1U;3 (' oj)eraç:õ('s ele'- e operaçi)cs 0xecutiv,1S, ,lo
lTlcn1arps dus Opt'r[ll'ios. n que I"('SU!tOll a proc1uç;lO
(,l\(' {ll'cpicioll a elimina- em série com granck b~ i-
(':'to dos atos inúteis; xa de custo;
,\ possibilidade da fixa·
8," Finalmc'nte. a sistemnti-
çüo, di~ modo objl'l ivo 'i.'
zaçiío dos princípios que
.iu~I(). do valor do traba-
regem a ol'ganÍzaçfio rlo
lho (' do respectivo salú-
trabillho, cstimubnr1n ~un
rir). eontribuindo assim
~plie~('flO g,'neralizada il
para melhor entendim('nlo
t ôc1as as il1ividac1es Im-
f'J] t 1'e a direção e a m:w-
manas.
(!('-( ilra daf: empl'i\;as;

O reconhecimento das di- Por essa obra grandiosa, ain-


fC'n:'l1ciaçõcs fisiológicas p da hoje inacabada, FRJ',D1CJ:IC'K
psiculógicas dos homPlls. \VINS/'O\\' TAYLOR recebeu mel'C-
donc!" nasceu a sc'lecfw e cidamente o título de "Pai da
a orientaç:iío profissional, OrganizaçflO Científica do Tra-
fator de melhor aprovei- balho",

(}';') Il;id.~ p. 41:


"Dans ;'H'~ f'xpl-:ri(\ncf';-::; Rur In taillQ dcs métaux, F. W. Tnylor
;-~'('xI)J'ilnp nin.-:j: -. I/~u< d'(·xpt'rim,\n~('[' dnit (1]'( dt';fini ('Ofl 111)(' la
détermination de l'cffet produit, paI' la ""l'iation ,1'n11 "!é!ll('nt. tOIl.S
les uutres rcstant con~tant."
TAYLOR E FAYOL 181

BIBLIOCI!AFIA

'PILo Ad)!(~l}}~(,l/t ui li'a,/Jtêi tu L)ficit J1('.I;~ lSD6.


"itn ].;.! jJLu}/(1liun of Sciclltijic 1~I((1I((UCmcllt".J hy .B'.,\V. Taylur 3ud lI. L. Gantt.
('(fi I , lU/r ... \', :n, PlJ. 3~-!J2.

i:)!/OjJ 1I.7 ff}!il!JC}/U nC N('Vl Y(Jrk: IIa!'.!,)('!' ;llld r~l'()thcl';':, l~nl.

Cníln'l't Cus[s. by F' W. Taylur and ''.:l. E. T}wmpt-:(lll, I.:! (·d.· .:'~I·\I/ lUl'k :
Sule. Wiley. S. V.
La diTcr{ion de8 atc!1cl's. Tl'aduetion ele L. Ik;-;t.:roix. P<!)'i;-~ : JJUIr10nc!. 1~)30.

(Exi:-Jtc talnhénl ('111 11'adu(;:1o \';..;pnllllflla. Eal'('\'l()na, l~rI 1), l~ll) 1'1'.
··Uov(;r!1J}l,cnt.. EffíL'icucy" .. in Taylor SOclely Bullclill .. d(';~I'ltll)t',i, 1~)l~;, lllJ. 7-]:~.

'l'lotCêi on Bcltin!f) (In Alnrrkan Sllci(~ty :Th.ll'ch:1nkal Ellg'illl'('L":). Tl'<lll>:tl'Uun:-;,


J~)07, \'. 15, pp. 20·1-209.
On thc art 0/ cutlinu metaIs (In j'.rn l ,;'ic:\1l ':~ol'i('ty l\1(·('halll(.tI g~:'2:incl_'!',s)
Tl'[)n.~~aetion;-;, 1D07, \', ~.~ lJP, 31-350,
(, Pi( cc Rate S,I/8[t'}}L)-' (In Arncril'all Sockty 1\-[(,l'll~tlJi('al ~!1gillC'\\l'.~ l. 'I'l'Lln:-"':tC-
U"IlS, I~DG, \", IG, lljJ. 85G-~J03.
lJI',{/i(!I:{' ri" {rt ('().II.',;!}'/{ciitj/lj (U !,.(~l()1! !·f Jl/i!i'.' i/ :' r!(' ('I ,'11 ( /lI uJ'}né'o..; Oi( 'Jl(jl{,

({n}/f~:;j aVe (' élaJ)li~,<'jC}}U'Jlt l'ulúnl1u I rI(;-; jlri,,' de rn iUI/ ~ liv F, W, T~lyl(ll~

alld S, E, Thu111P;';Oll. T!'ndllit (\L ad:IJILó p:lr ::\1. IJall;!.':, :3 ..1 \'d; 1~2j, 721 1'P,
'TIl(' PriJu'iiJ[e,<.,' oJ ,-"':(";('I/':/i(' jT(u;U,(íCH/('lIl) ;'~('\V Y('I'~': ;1.11(1 L:llH]Ull: 1 IUl'pl'f
(illl~ H]'()liL'" J~,:~,l, 1/11 pp,
1);11·1 . .;: DEIl()(l, 182D, 117 pp.
n, 01(knbfJ{,u;;. Un:3, riG Jlp.
TERCEIRA PARTE

HENRI FA YOL E A CIÊNCIA DA


ADMINISTRAÇÃO
CAPíTULO 1

A TEOIUA ADl\IlNlSTRAT1\A
DE FAYOL
(';!q,!O ... t' ('omh~,iíp", t')d'r('Ídl)~: J~l'l'~idcnh: do D('pal'talll('nto Adlllil!l:::,tl":U-

\"u ()'l :--:i'l'\'ic:,) Pl,l)ij "> l' 1_> 1l1;-: .. 1}] ( irn Adrninis!l'ath'o do Presidí'llle da H0pÚ-
ldj,' t. i,'ll!:'::l,-Jf)l' I' }'I'I':::;jdl.l!(\ (j'l dos Servidores Civis da União,
1'-"-:';3ocia(~fio

Fllild:ui.Jl' da Fll!l(!;\(::t'J C~'tl'lJj,) \-;P'~:':l~:, da Junta InterJlacional dt,


J\Je111bl'o
~i'n l"') ('i\ ir d;l~ N<l(/lt\~ l·llid:l~. !)]"'.~id('llt(' da A~soci:H:ão Naeional (h: AflTi-

(·~!!tllr:!, PI'('~idi\lltl' da ('Ollli::;-";}{I ('()Il~LlltiYa de Adnlillistra~ão Pública dei. Elll-

IJ:ti:-...ada AIlIt'l'i(,<lIl:l,

('ar,t:"o~ atuai",: Pn';;irl"l1t· ti:! Fund:l(:30 Gdúlio Yarbas. Presidente d:1 Cp·,
li';' II di' I'~:·~ud(l~ Pr' ·\dl'1]1]!; tt';l1i\(l.' da I>J'('~id0nria da Hppü.hlj('~ p
\ 1 -}'r,,:-;id( nV' do fn,'(:lil:il !1I11':'1l:tr'Íollal di' Cj/'nC'iaH Artmini:::;tr:lti\'(lH d·'
J;lIIXI·!:"'",
Esta reuniã0 tem por fim 1110 chamada Té'Dl'ia Administra·
@xaltar a obra de HENRI FAYOL. tiVe!. Pcrscrutador atento e in·
A homenagem é merecida e fatigável, adotou e cultivou, du-
oportuna. Merecida, porque a rante 58 anos a fio, com uma
boa geréncia das emprêsas nú· perseverança di fícil de ser igua-
blicas e particulares envolve lada, o hábito ele tomar nota de
grandes interêsses humanos e, todos os fatos que lhe pareciam
como se sabe, a contribuição de constituir ent'raves à boa mar-
Fayol para a criação da Ciên· cha ela emprêsa industrial a que
cia Administrativa não encontra servia, a "Societé Commentry
paralelo na de nenhum outro Fouchambault", famosa na li-
europeu. Oportuna, porque a teratura sôbre a organização
necessidade de substituir, na di· científica do trabalho, justamen-
noção e funcionamento das em· te pela circunstância de ter sido
prêsas, os métodos rotineiros o campo de atuação elo genial
por métodos científicos, e os cnf~enheil'o francês.
critérios sentimentais por crité·
lios in te lec! uais, hoje constitui À medida que pl'ocurava re-
uma preocupação crescente da mover ou contornar cada emba-
cult lna hrasileira. raço surgido, Fayol ia multipli-
cando as experiências no domí-
Em princípio, tôcla análise ou nio técnico c, com especial cui-
clivuigaçüo das idéias de Fayol dado, no s('(or complexo, infini-
concorre para o progresso da 1"-mente mais delicado, da con-
Cipncia da Arlministração. Fayol rh1<,'ão de homé'ns. Como os re-
)1;10 foi apenas um precursor - ~u]ja(los cle suas ohsel'var:ões e
,',;i lall1hhll o arquiteto ele uma c'sjJl'l'it'J1cias se mostrassem ani-
doulJ'Ína completa, por êle mes· madores, pel'sC'verou nessa ati-
1 ('In
I,),)

lude an'nllll'OSa de pioneiro e ç:üo, a trallsformac:i3.o de, m~J :,12-


,':aLuu !lO!' formular um corpo d:ts-pl'i!1las em mercadorias, uti-
de' princípios hoje mundialmen- lidades e servic;os; 2." grupo --
i,' conhecidos e aceitos. "Da oh· (J !Jcraçõcs COlllCTCÚ!iIl, isto é, as
-;('rvação paciente dos fatos -- é,()!11Pl'ilS, as vendas e as trocas;
('onfessou êle - depreencliam·se :3." grupo - operações financci-
regr:1S gerais, indispensúveis à I'CIS, que se desdobram em pro-

boa gestüo." cura e administraçüo de capita is;


'I:' grupo _ .. Opcl'uçr3es de 8t:fJlI-
Foi assim, com verdadeiru es-
!':lm;u, destinadas à proteção (loe:
pírito científico, partindo elo,; fa-
lJens da emprêsa e das pess')i1s
1».'; e a é'les se reportando J'il.l'il
que nela trabalham; 5." grupo
aferir os princípios que ja idon-
1J7Jc)'oçr3es contábei8, a saber: ü
t lficando, que construiu a "Teo-
l'eg-istro, o inventário, o balan(;o.
!ia Aclmlnist rativa", adrnil;~vel
a contabilidade de custo e os
pela sua harmonia interl1il, sim-
levantamentos estatísticos.
plicidade e cOllsÍ;;tência. ;"~a l'X'
posiçi3.o dessa teoria, começa êle Analisando funcionalmente as
iJor afirmar que o conjunto das (lpCrações que integram os cin·
o]wra(:ões realizadas em qual- co primeiros grupos, o pesqui-
quer emprêsa, "simples ou com- ';ador meticuloso percebe qUi'
'llexa, pequ<'na nu ,'rl':1n(jf'''. pri- .'('rias :ttividacles importantíssi·
vada ou púhlica. divide-se em mas, também ocorrenles em
,;eis grupos di:;tintos: cinco evi- qualquer emprêsa, não figuram
d('ntc,'i e hem conhecidos, e um em nenhum dêles. Trata-se das
!nr'nos visível, mal definido, O)Jcroçr3es odministrutivas, com-
lllaís ~~eléll, refratário i\ percep-
Donentes do sexto grupo, ponto
<lO comum.
de partida (' centro de interêssl'
Segulldo a cJassifica(:ão do ela Teoria de Fayol.
mestre. ti3.o divulgada !lO Bl'i:siL
os cinco grupos de operações ou Com efeito, nem a elabol'él(:ão
de filn~;(jcs cs,~el1ci(/is, qlw ('XlS-
do pl'o.c:;rama geral de él(:ão da
l(\ln C'In tôda CD1Vi (\:.;a, l!('r'L'('Vti- '·::lp10;;a. 11em o recrutamento
(\1; ~t niJ:"'Jl\l'V~t(~ãG ordinúl i~l, sào: c s(~l('(:üu dos eln!H'egados, nem
I.; gTUpo - - ()jH J'(I(,'·;C:·: i::('ni('lJ~; a dl:'l'<:,w de' l)('S,,()~d, llC'm él cn-
uu se.)'-L a Ul'odw,:ií_o, a Jahdca- urdcnaçi3.o de seus esfon:'Js,
TAYLOR E FAYOL

ncm o con(rúlr das atividacks (' C()Ol'd('ll;1t:ÜO (' () <";)111 rôle, sem os

resultados fazem parte de qual- quais n ol"jê:mbmo mais bem


qUéT das operações const:mtes constit uíelo n:w pode realizar
dos cinco primeiros grupos. Ela· seus fins."
borar os planos de ação, cons- No exercício desta funçüo.
t it uir o corpo ,;ocial da em prÊ'sa. cumprc iespeitar certos princi-
estrut urar as suas divisõrs r Ilio,~. hem como conceber e pra-
serviços, dirigir o pessoal, COO1'· t icar determinados procedimen-
denar os esfm'ços e controlar os tos, que Fayol tentou indicar e
rrsul1aclos constituem uma fun· sistematizar no scu livro fun-
ção à parte, distinta, a que habi- damental Administration IncZus·
tualmente se chama administ ra- trie71e et Gém5rale. Apesar de
ç{io. Poder·se-á dizer que, ,\]1- hasea::las numa experiênci:l
t2", da sistemática de Fayol, tan- mais ou menos limitada, por-
to a comprtência como a pró- que circunscrita à indústria mio
pria esfrra de açfto da a(lminis- neira e metalúrgica, as regras
t l'rlÇ'lO se achavam mal defini- fayolianas surpreendem pC'lo
das. carúter de sua generalidadf',
conforme registra o seu pró-
Fayol depõr que -~ ao lado prio criado,'. F~yol estava con-
das opcraçõr::, t{'cnicas, COIl1Pr- vencido de que havia identifi·
ciais, financeiras. de segurança cado princípios v:í lidos c ge-
e contábeis, que existem em tôda rais.
rmprêsa e euja materialidadr
{' sensível. por assim dizer, iJ Quando iniciou, depois ele en-
todos os examrs - - percebeu, ccna(la a sua caneira indus-
cada vez com maior clareza, que tri;\I, uma campanha de pro-
existe uma funçüo mais geral, pagnnda ,"rn benefício da admi
menos conhecida, que envolvi' nistração científica, cost umava
tôdas as demais até dominá·las dizer :"Qualquer que seja o
em dado momento -- por fôrça grupo, a família, a escola, o
da hierarquia dos cargos - e a sindicato; uma cooperativa.
que chamou função administm- urna sociedade científica, uma
tiVC1. Dessa funçüo se desprpn· oficina de pintores ou uma es·
dcm - diz êle - "o planejanwn· cola de músicos; um clube es-
to, a organização, o comando, a portivo, um hospital, um parti·
190 CADFRi'WS DF ADl\fINISTRA(AO Pl í BLlCA

(~O llolítico, umil liga para o extensivos tamb0Jn à prepara-


bC'l1l público, uma obra de ca- ç;w dos futuros chefes, para
ridade, uma paróquia ou um o exercícío de funções ;l_dmi]li,~·
consistório, um exército como trativas.
um convento, um município,
UE1a província, um Estado e Ao tempo em que e:-nitiu f'S-

,:11é a Sociedade das Nações, to- t:1S it1éias a Ad~':~lini:~tra(:,~o 1~r'·1l.1


,'V)s ('stão sujeitos, con~,ciente­ sequer figurava nos pl'ogl'allla:·;
men 1e ou não, a leis cuja ob- rle ensino das escolas suV,do·
:,:e)'vüncia ou inobservância cos- fPS de engenhn"ia civil. Favo]
i uma ser sinônimo de prospe- não atribuía lil1 neglir;i'>ncia a
ridade ou paralisação." E con- um possível clesconhecIm0;1 (i)
duía: "Estas leis constituem a do papel da capacidade admi·
Administraçtio experimental." nistrativa; ao contrário, aCI'e-
ditava que a importáncia ele.'"
Como corolário lógico de sua sa capacidade era gr>ralme;üp
teu da, Fayol diz que cumpre rl'conhecida. E al'gumentava:
que o pessoal de qualquer em- "Se se cogita de escolher um
i)1'('",," seja capaz de desempe- capataz, entre os operários;
,!jEit' as seis !llnç'{jcll essenciais um chefe ele oficinas, entre os
"o que, ~l medida que se sobe capatazes; ou um diretor, en·
Gl escala hierárquica, a capa- tre os engenheiros, nunca, ()U
cidade mais l1ccess:lria é a ad· quase nunca, é a capacidild,'
minisll'ativa, i':to é, a capaci· técnica que decide a escolh:\."
dade ele planejar, organizar, co- Sem dúvida é desejável que o
:nandal'. coordenar e controlar. escolhido possua a llccess{lri:-:
p()]' conseguinte -- opinavél Ne
dose de capacidade ({'cnjca,
urna educação exclusivanwJ1-
mas. dentre candic1atos dé' va-
i c técnica não corresponde às
;1ccessidades gerais das emprê. lor técnico aproximado, usual-
:,as, quer públicas, quer parti· mente se dá preferência àquele
culares. E estranhava que os que é considerado superior
esforços feitos no sentido de por suas qualidades de presP!1·
ampliar e aperfeiçoar os conhe- ça, autoridade, ordem, orga'1i-
cimentos técnicos dos operários zação e outras, que represen-
e contramestres não fôssem tam por assim dizer os pró·
TAYLOR E fAYOL 191

prios elementos constituintes construção ele estradas (le rodll-


da capacidade administrativa. gem, o engenheiro não se atreve
a contrariar certas regras esta-
À alegação de que a escola
bplecidas, sob pena ele perder
do administrador é a emprêsa,
o prestígio profissional; quando
Fayol contrapunha o parecer
se trata de uma questão admi-
de que a capacidade adminis-
ni:-;tl'iltiva, como seja o pl'l.ne,:il-
trativa, tanto quanto a capa-
mento dos trab:1.1hns de uma r('-
cidade técnica, pode e deve
partição, ou a estrutura de um
ser adquirida, primeiro, na es-
novo órgão ministeri:ll, o chefe
cola, e, depois, na prática - na
pode admitir "s !)ráiicas mais
oficina, no escritório, na repar-
pC'rigosas c adotm' as ic!ébs mais
tição. Para êle, a verdadeira
apriorísticas, sem correr ne-
razão da ausência do ensino da
nhum risco. J.': que os pro('prlj-
administração estava na ausên-
mentos administrativos não são
cia de doutrina. À míngua de
uma doutrina comum, enxa- julgados por si mesmos, mas
meiam doutrinas pessoais. Ca- através de suas repercussões.
Afastado pela distfmcia, ou pelo
da chefe tende a julgar-se co-
nhecedor dos melhores métodos, tempo, o obsprvaclor ou o crílico
o que explica a freqüência com que pretenda julgar os resulta-
que, na indústria, no exército, na dos da aç50 administrativa nem
família, no govêrno, sejam ado- ,;empre consegue relacioná·los
tadas as práticas administrativas com as respectivas causas. Com
mais contraditórias. efeito, não há sanção profissio-
Cumpre admitir que a inexis- nal contra os erros administra-
tência de uma doutrina aceita tivos. Diz Fayol que a situação
conduz efetivamente a resulta- s0ria muitil diversa se existisse
dos incongruentes e até chocan- uma doutrino. consagrada --- um
tes. O administrador fica à von- conjunto de princípios, regras,
tade para, em face desta ou da- métodos, procedimentos prova-
quela situação, aplicar métodos dos e controlados pela experiên-
empíricos, improvisados ao sa- cia. Por essas razões Fayol eon·
bor de suas tendências. siderava urgente a formulação
Ao passo que, por exerr,plo, de uma doutrina administrati-
num problema de técnica de va, tarefa a que dedicou os seus
últirnus anos (~ energl;Js. I~C"vou até agora tem l'f'sistillo ,1 tôuas
;[,0 longe êste ('mp(~nho, que as críticas, o grande engenheiro
chegou a criar um organismo francês, cônscio do valor de suas
('special intil ulado "Centro de idéias e auxiliado por alguns se-
Administração Industrial e Ge- guidores entusiastas, resolveu di-
ral", que tinha o tríplice objeti- fundi-las profundamente na cpi-
vo de: 1.") organizar um esfôr- nião pública, mediante ação sis-
r:o coletivo de elaboração dou- temática e persistente. Acrpdi-
1 rinária, no sentido de estender tava e proclamava que, assim
o) m{'todo experimental, introdu- com há muita riqueza não utili-
~.ido pelo seu patrono na admi- zada, existe igualmente, em es·
llÍstração industrial, a todos os tado latente, dispersa por tôda
domínios em que ocorre a fun- parte, uma energia adrr inistrati-
('[lO administrativa, desde a fa- va que convém explorar ('m ))('.
mília, até o Govêrno, a Igreja, nefício do gênero hum,mo.
(' t c.; 2.") continuar e intensifi-
A exploração dessa fonte de ri-
car a propaganda em favor da
queza potencial é susceptível de
implantação de ensino adminis-
ser feita pela difusão e aperfei-
1rativo nos programas de tôdas
çoamento das modernas teoria~
:1S escolas; 3.") promover a rá-
sôbre a ol'ganização científica do
pida vulgarização dos princípios
trabalho, em cuja constelação a
;Hlministl'ativos atualmente ela-
Teoria Administrativa de Fayol
horados, bem como dos procedi-
figura como ostrêla de primei-
mentos correspondentes. Como
ra grandeza,
.c;c vé. o Cent 1'0 de Estudos Ad-
ministrativos devia. internamen- Ao homenagear, por meio dps-
te, desempenhar a tarefa de ela- ta reunião, a sua memória, nada
boração doutrinária, €, externa- mais estamos fazendo do que
mente, desenvolver esforços de render um preito justo ao seu
propaganda c divulgação. espírito público, e ao seu anseio
de progresso tantas vêzes de-
Depois de haver fpito uma
monstrado,
grande empl'êsa indust rial pros-
p:'l'ar durante meio século, sem No túmulo de Taylor. existe
il1trTrupção; depois de haver a seguinte inscrição: Frcdcrick
(\:1(10 e()rpo a uma teoria que 1fT. Taylor, Pui da. Organizaç{ío
'j' A Y LOR E FA Y OL 193
Oientífica_ No de Fayol, fôra (lr' interpretar, para êste seleto
de inteira justiç'a gravar-se esta: ciUc1itório, os elementos adminis-
IIenri Fayol, Fundador da Oiên· trativos nucleares da Teoria de
cia da Administração_ Fayol, ou sejam: o planejamen-
A seguir, ouviremos os nos- 10, a organização, o comando, a
sos distintos colegas incumbidos coordenação e o contrôle,

14 - CaJ. AJ,,,. PublIca .- H


CAPíTULO II

o "PLANEJAMENTO" NA TEORIA
ADMINISTRATIVA DE FAYOL
ALFREDO NASSER
T,'·enil'o de· AdnÜllL-;t l':lí~iil, (11) Df'J):1.l'tmnrnto Adlninistrativo do SÚl'viç(/
púLlku.
(:a]'1.';os exel'<'Ído!-': D"lHltil.(ln ü antigo.. C5rnara dos DpTltÜados do Est[l(10
rl(' C'li:ís; Diretor do S(,l'vic;o dp DOClnnentar:ão UI) 1))\8 1); Senador Fropr.:ll
pp\o Estalln dI' COhí.d: .1\lc·rnhl'o di I C()ll~('lho Naci(J11al (1(' Ec()nomia.
<"argo aiual: Dt'!>ltLl,lq F','(lc!';l1 })()l' C(d:'l~::, f~lt'itl) soh n !eg('lHln dI) P:...Il'-
t ido Social Pl'ogJ'('ssi;:;la.
o que mais impressiona, no Eu dL,se um lJ[ano, preIeren-
pensamento de HFJNRI FAYOL, ao temente a uma política.
expor êle, inicialmente, a im- Fayol afirma: "o planejamen-
portância do planejamento, como to encontra uma infinidade de
o primeiro dos elementos de ad- formas e de ocasiões para ma-
ministração - não é a máxima nifestar-se: mas o seu instru-
em que recorda que "governar é mento mais eficaz é o progra-
prever", nem quando afirma que ma de ação."
"prever significa aí, ao mesmo
tempo, levar em conta o futu- Êste, que é a presença física
ro e prepará-lo", senão quando, do planejamento, constitui ao
sucintamente, diz apenas isto: mesmo tempo, diz o genial en-
"prever é já agir". genheiro, "o fím visado, a linha
De onde se deduz (onde quer de conduta a ser trilhada, as
que as coisas devam suceder etapas a vencer, os meios a em-
bem, no mundo dos negócios pregar; nessa planta do futuro,
públicos ou privados) que o pla- os acontecimentos próximos
nejamento não antecede a ação, aparecem com relativa nitidez,
porque, em si mesmo, êle deve tais como os imaginamos, e os
constituir o início da ação. acontecimentos remotos se es-
É dessa forma que se limita batem cada vez mais vagos. O
a incursão do imprevisto nas os- programa de ação é a marcha
cilaçõés do futuro. Quando o ela emprêsa prevista e prepara-
rsfôrço individual ou coletivo se da para certo período de tempo."
desenvolve segundo um plano, As capacidades são aquelas
isto é, segundo uma política, é l!1csmas a que drlO lugar os seis
óbvio que as possihilidades de ~~j'lIpOS ele o~)erações, com ênfa-
insucesso no empreendimento se ,se fOIte ênfase -- na capaci-
reduzem de muito. dade administrativa.
198 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

As realidades, a cuja reve- Essas qualidades e condições


lia nenhum programa pode são: 1.°) a arte de dirigir os ho-
ser elaborado, pertencem à na- mens; 2. 9 ) muita atividade; 3.Q
)

tureza intima dos meios de que certa coragem moral; 4. 9 ) esta-


dispõe a emprêsa para atingir bilidade; 5. 9 ) competência na
os seus objetivos: dos imóveis especialidade profissional da em-
e das matérias-primas até ao ca- prêsa; 6. 9 ) experiência geral de
pital e à capacidade de produção, negócios.
das ferramentas e do pessoal A boa maneira de conduzir os
às relações sociais; pertencem homens (o homem ê a medida de
à natureza e à importància das tôdas as coisas ... - e há quan-
operações em curso e, ainda, à- tos séculos essa verdade nos ê
quilo que o futuro pode deter- transmitida!) encontra plena
minar e que depende, em parte, justificativa ao ser elaborado
de fatôres sujeitos a transfor- um programa, em que partici-
mações para as quais a previ- pem quase todos os chefes de
vidência não pode, descie logo, serviço, porque essa tarefa ex-
determinar a importància nem cede às obrigações normais, sem
o momento em que vão ocorrer. que, por isso, caiba qualquer re-
Mas se tôda ação dirigida a muneração especial. Uma co-
um propósito deve partir de laboração leal e ativa, nessas
um programa, convém pesqui- condições, só pode ser obtida se-
sar as razões que impedem o gundo a habilidade com que se
portar, normalmente, o r::,spon-
surto, por tôda parte, dêsse sável pelo grupo.
"útil instrumento de govêrno". A atividade dos que dirigem
Fayol suspeita de que os pro- implica atenção contínua às di-
gramas de ação não têm sido ferentes previsões (anuais, de-
utilizados freqüentemente e não cenais ou especiais), e a cora-
chegaram, ainda, ao mais alto gem moral se funda em saber
grau de aperfeiçoamento, por- resistir e manter o justo equi-
que a sua elaboração requer líbrio em face de críticas, sabido
qualidades e condições que mui· como é que os programas, m('s-
to dificilmente se encontram mo os mais cuidadosamente pre-
rêunidas nos dirigentes de uma parados, não se realizam nunca
emprêsa. na justa medida. Os que não
TAYLOR E FAYOL 199
oferecem essa qualidade são ten· tados, de preferência, às em-
tados a evitar a crítica, ou su- prêsas prósperas; e, finalmente,
primindo desde logo qualquer introduzindo no cnsino, como
plano, ou tornando-o insignifi- disciplina que requer tôdas as
cante. A estabilidade do pessoal atenções, o planejamento.
dirigente é necessária, dado que Mas, os programas apresen-
o período de adaptação de no- tam diversas características, se-
vos chefes é geralmente muito ja quanto ao tempo de duração,
longo. Terminado êsse proces- quanto à contexLura, ou aos cui-
so, não se sentindo suficiente- dados postos na elaboração.
mente a coberto de surprêsas Como distingui-los? Como (0-
que o impossibilitem de elaborar nhecer um bom programa?
o plano e, possivelmente, de, pelo A resposta seria atribuir à ex-
menos, assistir ao início de sua periência a última palavra, se-
execução, não se pode contar gundo os resultados obtidos. Mas
que um chefe se abalance a em- o autor adverte, ainda, que há o
preender um trabalho que lhe instrumento e o artista, isto é,
deve parecer estéril. A compe- que deve ser levada em conta a
tência profissional e conhecimen- maneira porque o programa é
to geral de negócios são quali- executado. Contudo existem al-
dades tão necessárias à elabo- guns caracteres gerais que anto-
ração do programa como é sua rizam uma espectativa favorá-
execução. vel, a saber: unidade, continui-
"A ausência de programa", diz dade, flexibilidade e precisão.
textualmente Fayol, "ou um Unidade nüo significa que um
mau programa, constituem de- programa não se subdivida em
monstração de incapacidade do muitos que nêle se entrosem, e,
pessoal dirigente." sim, que dois programas dife-
E como pór a salvo das incur- rentes não podem coexistir em
sões dessa incompetência os in- rclaçüo a um idêntico propósito.
terêsses dos empreendimentos A continuidade refere-se às
em geral? Tornando obrigatória ações - diretrizes do programa,
a elaboração de programas; cx- pois êste não deve sofrer inter-
pondo ao público, que assim se rupção e, já que a duração dos
E'sclarece e exerce sua pressão, programas é limitada por fôr-
modelos de programas, solici- ça ela própria limitação da pers-
200 Ci\l)ER~<OS DE ADt--fll\rSTRAçAO I't'llLICA

picácia humana, um deve suce- sem eficientes práticas de orga·


der ao outro, sem intervalo. O nização, de comando, de co Ol'de-
mais comum na grande emprê. nação e de contrôle. Êle influi.
so. siio os programas de dura· por assim clizer, decisivamente,
ç;\O anual. sôbre todos os elementos de ad-
As inovações, cuja necessida· ministração.
de freqüentemente ocorre na Não há melhor forma de pa-
marcha dos negócios, exigem, gar-vos a generosa atenção que
para um bom programa, flexi· relembrar as expressões ditas
bilidade, vale dizer, capacidade quando êle, esforçando-se por
de se amoldar às novas circuns· determinar as qualidades parti·
tâncias. culares que deve possuir um
Quanto â precisão, é lógico bom programa de ação, lembra-
que possamos obtê-la para os va, melancolicamente, que era
acontecimentos que venham a preciso, em cada caso, procu·
se desenvolver em um futuro rar, na prática dos negócios,
próximo. Para um futuro re· elementos de comparação, como
moto uma diretiva é o bastan- faz o arquiteto, quando preten-
te. Entretanto, a precisão fa- de edificar uma casa. Mais bem
lhará completamente, quando o servido que o administrador, o
peso do desconhecido sobrecar· arquiteto pode recorrer a álbuns
regar a balança na previsão. e a cursos de arquitetura. Mas
Neste caso, a emprêsa --- diz não há álbuns de programas de
Fayol - toma o nome de aven- ação; não há cursos de planeja-
tura. mento; a própria doutrina ad·
Aí estão, minhas senhoras e ministrativa está por ser elabo-
meus senhores, em râpido es- rada.
bôço, as idéias de Henri Fayol Se Henri Fayol ainda vives-
sôbre o planejamento. Muitas se, haveria de gostar desta reu-
outras advertências, quanto às nião. Aqui se prova que a dou-
l'xcelências e aos inconvenientes trina administrativa não tinha,
das previsões, o grande enge- àquela época, contornos nítidos.
nheiro nos oferece, com a ex- Mas, hoje, está claramente de·
traordinária previsão de mestre. finida: a contribuição de Renri
Adverte, sobretudo, que um Fayol não foi grande, nem ex-
bom pl'o;:;rama não se conduz celent'!, foi a maior de tôdas.
CAPiTULO III

A "ORGANIZAÇÃO" NA TEORIA ADl\IlNISTRATIVA


DE FAYOL
BEATRIZ .M. DE SOUZA W MIRLlCII
BEATTUZ li!. DE SOUZA WAHRLICH

Oficial Administrativo do Ministério da Agricultura.


Cargo, <,xt'n'idos: Diretor da Divisão de Seleção do Departamento A(lmi-
!1istrativo do Serviço Público. Diretor do Departamento de Administração do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico. Professôra de Administração
de Pessoal da Escola Brasill'Íra de Administração Pública.
Car~os atuais: Secretária !la Sr(;ão Brasileira do Instituto Internacional
de Ci;'llcias A(ilnillistrativas: Pt'ofe~sora de Adnlinif'tru<-:ão de Pessoal.
Obras publicadas: rma Análise das J'rinripais Teorias de Organiza~ão.
"Organizar é constituir o duplo rnmucB dar seu '''::;ar; é elabo-
organismo, material e social, da nu' a moldura c p~lf dentro dela
emprésa", define Fayol (1), que, o conteúdo qU2 l' ,e estava des·
logo após, torna mais precisa a tinado. É assegurar uma exa-
sua idéia, dizendo: "Organizar ta divisão do trabalho adminis·
uma cmprêsa é muni-la de tudo trativo, dotando a emprêsa só-
o que é necessário a seu funcio- mECllte das atividades considera-
namento: material, instrumen- das essenciais e determinando
tal, capital e pessoal". (2) Ainda cuidadosamente a esfera de cad~
mais esclarece Fayol o seu pen- tema delas. Na organização se
samento, ao dissertar sóbre o traduzem, pois, em fatos, os con-
assunto: "Organizar é definir c ceitos teóricos do planejamen-
estabelecer a estrutura geral da to". (3)
emprêsa, tendo em vista sen
objetivo, seus meios de funcio, Como se vê, o grande mestre
namento e seu andamento fu- i'0nsidera a orE: - 1lzação em seus
turo tal como determinado pelo t~rmos mais:, _0S, compreen·
planejamento; é conceber e clendo, além de .1 sentido mais

criar as estruturas de todos os comum - ou:'ja "a técnica


serviços que a compõem, tendo de.' estruturação dos órgãos e
vistas na atribuição de cada um. nOl'malização de seu funciona-
É dar forma ao todo e a cada mento", (1) a obtenção dos re·

(1) Adrninistration Ind11Stricllc ct GénéT(llc (Paris: Dunod, 1931), p. 13.


(2) Ibid., p. 78.
(;';') LlJth('r' Gulick (,t aL, "TIH' AdnlÍni.~tndi\-(' Thcory in th\, State", Paper,,;
OH thc i-)cicn('( ()J Jtdmin;s.'ta[io/I C\~l'\V Y(I!'k: Ill:-::litutc of Publk Adrrli-
ni"trntinn. 1~:J7), p. 10".
(-1) Paulo de Assis Ribc-it·o, CUNO de Pri1lcífJio, de Or!fanização (edição mi-
meog-rafada dos Cursos de Administração do D.A.S.P., em 1942), 1.- aula.
.~ (\ í Ct\DEl{0;OS DE I\D~[I:\ISTJ\t\(AO P(rBUCA

cursos financeiros, materiais e aclministrativos cio corpo social;


,'1l11nanOS necessários a fazer a trata da sua constituição nos
"mpr{'~a funcionar. diversos graus de seu desenvol-
f:ste pode ser considerado o vimento; salienta a importância
)rincil,al característico ela con- do fator individual; enumera os
Lep\,:-w de Fayol sôbre a organi- órgãos do corpo social; manifes-
z:'.ção: não isolar a estrutura, ta·se sôbre o "sistema Taylor",
:lão c:msiderá-la distinta dos de- criticando e discordando da ne-
ga~:ClO do princípio da unidade de
m"is Lltôres que possibilitam a
orr,alli:'a('i'to de um setor qual- cornando que encontra em Tay-
,ue']'. 1\ certa altura de seu tra- lor; discrimina as qualidades c
halho rli<: mesmo êle que a 01'- conhecimentos que os chefes ele
';;jniza\~ão consiste particular- grandes emprêsas devem pos-
':r'l1t{' em "saber constituir o
suir; e finaliza tratando do re-
.':,rpo social", (5) ou seja, o pes- ~rutamento do pessoal. Não
socil. enumera princípios de organi-
zação, não propõe tipos de orga-
Em outro ponto, depois de nização. Os seus "princípios de
l'C'pelil' que "ol'ganizar uma em- organização" estão compreendi-
prêsa é muni-la de tudo o que é dos nos de "administração", que
I1ccessflrio a seu funcionamen- figuram logo no início de sua
1,): material, instrumental, ca- obra clássica, a Adrninistmçao
pital e pessoal", Fayol acrescen- lndllstrial e Geral. (7)
1 a: "ê possível fazer, nesse con-
Vê-se, pois, que Fayol sempre
junto, duas grandes divisões: o
preferiu encarar a divisão do
()r~"nhmo material e o organis-
i rabalho como um grupamento
"10 social", (6) e declara que só
i i':tfar<'t do segundo.
ele homens, em vez de um gru-
pamento de tarefas, quer tenelo
TOc!1J o seu estudo, daí por em vista seu ohjetivo, ou seu
em tôrno do "corpo
(hll1 t e ..c:::jra processo ele técnica, ou a clien-
'ocial", do "ente social", do "pes- tl'la. ou <linda a área. Partia
.;),tl". Discorre sôbre os deveres ~;l(' sempre do indivíriuo e não

r .-») AfZ"';llistmtiun IlIdus{r;cllc ct Oénérale, p. 106.


(G) llJirl.~ p. 7S.
(7) P. 2S.
TAYLOR E FAYOL LU,

da função, isto é, não isolava sic1cra o resultado de ter sido


nunca o trabalho de seu exe- Fayol "um homem prático", 11m
cutante. Daí ter resultado tra- éH1ministrador que não podia co-
tar êle, quando se refere à "or- gitar de organização no abstra-
ganização", quase que exclusi- to. Pensa Urwick que dessa ma-
vamente do corpo social. Dai nrira Fayol estabeleceu um li-
ter êle, ao estabelecer analogia mil e para seu raciocinio, pois,
entre o organismo social e o diz êle, "é impossível progre-
animal, escrito que "o homem dir-se no conhecimento da or-
representa no corpo social um ganização sem isolar o fator
papel a;lálogo ao da célula no estrutura de todos os demais,
animal: célula única na emprê- ainda que possa parecer artifi-
sa rudimentar, milésima ou mi- cial essa distinção." Segundo
lionésima parte do corpo social Unvick, "a confusão que existe
numa emprêsa. O desenvolvi- nos negócios de todos os países
mento do organismo se opera torna imperativo êsse progres-
pelo grupamento das unidades ,~o, - a fim de preservar-se a
elementares (homens ou célu- ordem social. É justamente de-
las) e os órgãos aparecem, se vido ao fato de os administrado-
rEferenciam e se aperfeiçoam à res. cuja opinião sôbre o assun-
medida que aumenta o núme- to é respeitada pelo público,
ro dos elementos reunidos. No não conseguirem, em razão mes-
corpo social, como no animal, mo da natureza de seu traba-
um pequeno número de funções lho, operar essa abstração inte-
essenciais realiza uma varieda- ]0ctUO.l -- que o nosso progresso
rle infinita de operações. Po- 1::18 ciências sociológicas se ar-
dem·se traçar numerosos para- rasta atrás ele nosso crescen·
lelos entre as funções dêsses te domínio dos recursos físi-
dois organismos". (8) cos." (9)
Analisando a concepção de Dizia Fayol que, "se pudésse-
Fayol sôbre organização, Urwick, mos fazer abstração do fator
em seu notável ensaio "A Fun- humano, seria bastante fácil
ção da Administração" -- a con- constituir um organismo social;

(f,l O]). rit., p. 87.


(Dl L. Ul'wick. "Thc FllllClioll 01' AdmillÍstratioll". Papci's on Tllc Sôcl1ce of
Administratiol1, p. 12~.
206 CADERNOS DF ADMINISTRA(AO PlínrJCA

qualquer um poderia fazê-lo, ele seus operários, nem da ten-


bastando para isso ter alguma d;,ncia do mercado consumidor
idéia dos modelos usuais e o dos produtos de seu ramo. Por
capital necessário. ]\Ias não é serem "homens práticos", por
possível constituir 11ma organiza- ser seu dever fazer o que esti-
ção efetiva, SimlJ12Smente gru- ver a seu alcance numa situa·
pando homens e di"tribuindo fun· ção humana complexa, estariam
ções; precisamos, 1ambêm, sa· êles cumprindo menos do que
bel' como adaptar a organiza· o seu dever se deixassem de ter
ção às necessidades do caso, e tais considerações como a base
como encontrar as pessoas e de seu pensamento". "Entretan·
colocá·la:; no lugar onele poso to" - adverte Urwick - "so-
sam sel' mais úteis; para orga- mente mediante o isolamento de
nizar, precisamos, enfim, de boas um ou mais fatôres de um pro·
e numerosas qualidades." (lO) blema é que a ciência alarga
Por seu lado, salientou Unvick suas fronteiras. A medicina se
que "o estadista não pode con· preocupa com a preservação da
sideral', como um problema téc- vida mas ganha conhecimentos
nico, o que é a mais efetiva de anatomia. À arte da admi·
forma de organização - sem, nistração é necessário o conhe·
simultâneamente, tomar em con· cimento do fator humano. mas
sideração as tradições do patrio· isso não significa ser impossí·
tismo local, as atividades da vel estudar a estrutura de uma
imprensa, as tendências emocio· emprêsa anatômicamente, isolar
nais correntes da população, en· a organização e tratá·la como
fim, mil e uma influências que um problema técnico". (11)
poelem reduzir o desejável ao Quererá isso dizer que Fayol
possível. O capitão de indús- e Urwick divergem quanto ao
tria, administrador de uma vaso que seja "organização"? A meu
ta emprêsa, não se deve esque· ver, não há propriamente diver·
cer da qualidade e das idiossin· gência, mas, sim, uma aprecia·
crasias pessoais dos seus ge· ção feita de ângulos diversos
rentes, nem do temperamento e em épocas diferentes.
(10) Op. cit.~ p. 83.
(11) L. Ul'wick, op. cit., p. 122.
TAYLOR E FAYOL 207

Realmente, Fayol partiu do nacional de Gerência, de Gene-


fator homem; e Urwick, do fa- bra, publicou o :seu ensaio nu-
1u1' c .. ;lnl{llI·u. A AdminislTaçao ma ('poca em que já florescia
Industriul e Geral de Fayol foi e se aprofundava o estudo da
iniciilCia (',n 1908, e desenvolvi- técnica de organizaçfiO; nu,na
(la até 1916; o ensaio em que época em que, na América,
Ul'wick sôbre êle discorre é Mooney e Reiley e Luther
de 1D31. Gulick --- para destacar aquê-
A significação dêsses dados l;:s que mais admiro - conse-
é a;nc1a maior do que possa à guiam uma admirável sistema-
primeira vi~(a parecer. tização, que, segundo uns, che-
ga mpsmo a dar à embrioná-
Fayol foi, in2g'tvelmente, um ria técnica ele organização fo-
pioneiro. A sua obra, baseada ros ele ciê;-c'a.
no seu trabalho em uma única Não é V: __ :J;jvel. pois, compa~
eml)~<'s:\, t0m I":,se sabor das rar os instrumento::; é:C que
roi:::,a.:-~ ol'!ginais, das coisas re·
Fayol dispõe com os de Urwick.
sultantes de uma experiência E foram os melhores instrumen-
prôpl'b. (;or,o disse o próprio tos ele Urwlck que lhe permi-
Urwick, a Fayol não era pos- tiram criticar o fato de não
sível deixai' que suas pesqui- ter Fayol tratado a "organiza-
sas o levassem a relegar a pla- ÇflO" como setor da administra-
no secundário sua c:E'acterísti- ção passível de investigação pró-
ca de "homem prático" - a qual pria. distinta da do elemento
IÜO lhe permitiu imaginar a
humano. Fayol, de sua própria
org:mlzação em D IJstrato. antes experiência, induziu os seus
o fêz tratar da organização como princípios e elementos da ad-
se fôsse pleclcJ~inantemente a ministração. Urwick examinou-
constituição do organismo so-
os mais tarde, à luz de sua ex-
cÍél7, entendido êste como o ele-
periência e da de seus ilustres
Y'''--':o humano da emprêsa_
contemporâneos estudiosos da
.;' seu lado, Urwick, que an- técnica ela organização, e pôde
L':; ele presidir, na Inglaterra, verificar a possibilidade de um
a Companhia de Engenheiros tl':l,amento mais rigorosamente
Industriais, de que era sacIO, científico para êsse aspecto da
havia dirigido o Instituto Inter- obra elaquele "homem prático".
~()S CADrH0~OS DF ADr-.!INISTRA(t\O PlíBUCA

/\s';in;, entre Fayol e UrwicI, ','" 0, uma evolução, para él


n::() me pélrece haver uma diver- ':'::11 contribuiu poderosamente
f;-f'r:cb, Hfl, sim, de um para " ',;'nio do mestre francês,
CAPl'rULO IV

o "COl\TANDO" NA TEORIA ADJi.IINJSTRATIVA


DE FAYOL
ANNlili\L 1!AYA

"5 - CaJ. Adm. Pública - 44


ANNIBAL MA Y A

Um dos fundadores da CBAI c du CBAER, tendo colaborado na cclebra-


(ão do acôl'do que deu ol'igcln ~l in.stituic:ão de COlnissõt:s J\.Iistas Bl'asi-
leiro-ArllC'ricanas destinadas ao descllvolvitnento da eL1ucu(ão rural e indus-
trial no BrasiL
Cargos o('upados: Técnico de Adrnilllstr::u:ão do DASP; Diretor Assis-
tente du Inter-American Edncational FoullClaliolls; Diretor Aclministl'ativo da
Metro Goldwin Mayer do Brasil.
Ocuparão atual: Advogado no fôro do Distrito Federal.
"Comandar é dirigir o pes- Examinemos, inicialmente, as
soal". (1) Eis as poucas palavras relações do comando com as de-
com que HENRI FAYOL defi- mais atribuições que, segundo
ne a terceira das atribuições aquêle autor, compõem a fun-
que, no seu entender, consti- ção administrativa, a saber: o
tuem a função administrativa. planejamento, a organização, a
E explica em outra parte: "uma coordenação e o contrôle. Não
vez constituído o corpo social, me parece possível hierarquizá-
é mister fazê-lo funcionar: é las. São tôdas essenciais, im-
esta a missão que deve caber ao prescindíveis, igualmente impor-
comando". (2) Será esta missão tantes.
privativa da alta chefia? É ain- Assim pensando, por extraor-
da Fayol quem responde: ela dinúrio que pareça, ntio 1))'0-
se reparte entre os diversos eU1'arei puxar a brasa 1)(/1'a a
chefes da emprésa, 1endo co.cb minha sardinha, aceitando a
um o encargo e a responsabili- afirmativa de Urwick, contida
dade pelo seu s('lo1'. E prosse- em certa altura do seu "Or-
gue: "Para cada chefe a finali- ganization as a Technical Pro·
dade do comando é obter, no blem," (4) de que a função de
interêsse da emprésa, o maior comandar é a mais importan-
aproveitamento possível dos te de tôdas. Do quanto as di-
agentes que trabalham sob suas ferentes operações se inter-rela-
ordens". (3) cionam e dependem umas das

(1) Henri FayoJ. AdministJ'i1ci6n Indllst";al !J GCHem/.. p. 19


(2) Ibid.
(3) lbid.
(4) In Papcrs on the Scicnre of Administmtiún, p. 78.
212 CADERl'~OS DE ADMfl'\ISTRAÇAO PÚBLICA

outras diz· nos aquêle mesmo contento, da complexa e difícil


Lllltor, com esta deCiniçi\o de co- tarefa de comandar? Além do
1iiando __ "Comandar é fazer a conhecimento dos princípios ge-
organização operar de acôrdo rais da administraçCtO, Fayol
com o plano_" (5) E um pouco afirma que o chefe deve possuir
adiante: "controlar é verificar certas qualidades pessoais. Na
,'e tudo cstá sendo executado sua opiniüo - da qual, eviclen-
Lk~ acôrdo com o plano estabele- temente, nEto iremos discordar,
ciclo, a organização adotada e _.- a arte de dirigir se aplica
8'0 ordens dadas_ Assim como tanto às pequenas como <lS
a coordenaçi\o é a dinâmica da grandes emprêsas; "c tem as
organização e dela depende, as- suas graduações, como tôdi1.s a',
;·,im, também, o contrôle é, de demais artes".
('e1'to ElOdo, a conseqüência do Evitando relacionar aquelas
C'()l11ando, a verificação constan- qualidades, o grande mestre se
ti' dos seus resultados_ O co- limitou a lemhrar alguns pre-
mandante não pode delegar in- ceitos que, na sua opinião, po-
tr>iramcntc a sua responsabili- dem facilitar o comando. .As-
«(ade pessoal pela coordenação sim, "o indivíduo encarrega(lo
(' ))1'10 contrôle, pelas mesmas de comandar deve :
nzões por que não pode dele- 1. ...- Tem um cOllhecinwnt ()
g:Ua no que concerne à orga-
profundo de seu pessoal.
nizaçào e ao próprio comando_"
2 _.- Eliminar os incapazes.
D~,í se infere não só "que
3 -- Conhecer perfeitamente
('ssas funções constituem uma os convênios que regem as rp-
parte essencial da atividade do lar.ões entre a emprêsa e os
chefe e não se podem separar seus agentes.
fikilmente da sua personalida- <1 -'" Dar bom exemplo.
de", mas também que se pren- 5 _.- Inspecionar, periodicamen-
dem intimamente umas às ou- te, com o auxílio de quadros
tras, completando-se_ sinóticos, o corpo social.
Mas, que aptidões deve ter 6 _. Reunir em conferências os
um chefe para se desincumbir, a seus principais colaboradores

(5) lbid_, p_ 77_


TAYIOR E FAYOL 213

para m.antcr unidade de direção teso Compete ao estado-maior


e conv0rgC'nclCl de esforços. conhecer os pormenores e acon-
7 - Não se deixar absorver selhar o comandante, quando a
pelas minúcias. isso solicitado"_ Mas, afinal,
8 Fazer com que reinem en- que fará o comandante? -- pe,'-
üe o pessoal a atividade, a in i- guntareis. Simples e exata .foi
cin(j'.'a e a abnegação." (6) a resposta do General Lyautey,
Examinando êsscs oito precei- quando lhe fizeram esta per-
los, somos obrigados a chegar gunta. "Eu, respondeu êle, eu
i'ls mesmas conclusões a que che- sou técnico das idéias gerais, , ,"
gou o supracitado Urwick: o (7)

segundo, o quarto e o sexto se Do sétimo, não só depende


referem à liderança pessoal; a o cumprimento eficiente dos de-
sua adoção exige um contacto mo.is, como se aplica ao modo
pel'll1rmente entre chefes e su- pelo qual aos outros se deve
bordinados. O mesmo sucede obedecer. Suas conseqüências
com o oitavo. Aliás, a esta al- podem ser bastante graves,
tura, C1.quêle autor emprega uma quando o chefe não dispuser de
palavra perigosa - staft -, a elementos a quem possa dele·
qual, como todos sabem, tem gar as outras funções da admi-
na língua inglêsa duas acepções nistração. (8)
principais: pessoal sentido NflO creio que haja dúvida
em que foi usada; e estado- sôbre o quanto importa para
1l!aior --- expressão de grande o comandante o conhecimento
voza entre os estudiosos de or- dos princípios gerais da admi·
ganização. nistração. l!:sses conhecimentos
Com o terceiro e quinto pre- não são, porém, do domínio de
ceitos, que são, via de regra, todos os que exercem cargos
objeto de regulamentos e de de chefia. Isso se compreende,
ordens de serviço, o chefe não pois quanto mais o indivíduo
se deve preocupar, "a menos se aproxima da esfera em que
que ha.ia alterações importan- são executados os trabalhos,

(G) Hc'nri F<tyr;I, OjJ. ri[, pp. ],16 ,. 1<17.


(7) Cit, por André Maurois, Arte de Viver, p. 132.
(8) L. UrwicJ{, op. cit" p. 79.
CADERNOS DE ADJ\[f0!TSTIll\(AO Pl113LICA

tanto mais indispensável se lhe núeb, os princípios d,~ arlmi·


torna a capacidade técnica e nistraç'i'ío que se relacionam
menos importante a aclministra· mais intimamente com a função
Uva. A recíproca também ó ver ele cheí'Í:l. Lirnital'-mp·('i, 1c:l1n·
dadcira, isto é: quanto mais ele· vi'1, a clt". 'C)s e a difirl·!os ' .,<1,
vado o seu nível na escala hie· ',:nnpntp com a.s pr6.
r:"trquica, mais deve possuü' pri::s r;:' t\·"'\S de Fayol. 2'10
aquela última capacidade. São os ~:Cí~:l;j~l' : él (~utol'iclafl(', a dis
mais ou menos essas as pala· ci];lin.1, a vnfrJndc de com[iTI(lo,
vras C12 Fayol. ;::1. 1111:d"~~J~ de dircc:no e a hic-

E as razões que sugcriré1D1 a rarrluia.


enuncíação dêsse prmeípio são "A (ll!tcl'lch rlc consist(~ no di·
óbvias: um ministro ele E.'3(<J· reL o dt' mallC1Hr e no poder de
do, por exemplo, tendo que dis· fcr-':Qr·s~ o bcclec0r ,"

tribuir a sua atem;flo pelos di· "i\, dis!ipliwl l'e;;ide essencial·


fel'entes setores de uma supc'r· 1y]n11tc na ob(ldi~ln('h1, na assidul-
fície muita ampla, não poderá d<Jd,,', n:l ,ti ivída,k e na presen·
dominar um campo diminuto de ça dos SliVlL',:: C'xt(l~'iorcs de rc~. . -
especialização. oculto em uma peito - tw.l" conforme as COI1'
elas divisões de um dos grandes \1('11('0 0 ., e',:(nhe!eddCls entre a
departamentos do seu minis!é cn1pl'êst] c ~';0US (:J gQntc~~."
rio. da mesma forma por que A 1I'lichi!(' con·
de ('o))/I(ndo
o faz o encarregaclo imediato siste ('m fazPi' com que, "para
do referido campo. E é claro a execução de um ato qualquer,
que ninguém o poderú HCU5ar urn ag i 'nlc ,'cecha ordcns de um
por isso. O fato estf, rigorosa.. t:ó ('li c Cc."
mente previsto e situ<1clo den· A lI'1ir/udc de direç{lo consis·
1ia elas técnicas da ciência elo te em haver "um só chefe e um
gov(>rno. Àquele encarregado, só programa para um conjun·
por sua vez, seja ou não che· to de operações que tenham um
fe dC' serviço. não s;w necC'ss{t· mesmo fim".
rias, evidentemente, aptidões ad· A llie1'CO'(jui.n, finalmente, é
J;linist rativas do mesmo grau constituída pela série de che·
das que deve ter o ministro. fes que vai df'sde a autoridad·~
Se dispusesse dc tempo. ser· superior até aos agentes infe·
me·ia grato discutir, com mi- riores".
TAYLOR E FAYOL 215

Apesar de consagrada por au- se quisermos evitar a palavra


toridade tão respeitável, a pa- proscrita, o elemento direção,
lavra cOlI!anao atravessa, pre· vem preocupando os estudiosos
sentemente, um período de fran· de assuntos administrativos,
co desprestígio nos meios ad- Aliás, se compararmos a copio-
ministrativos. E a culpa cabe sa lit~l'a: l'I'a y'íl1kee sôbre o as-
aos modernos estncliosos do pro- sur'o. 101:0 v,~lificalerl'os que,
blema da supelvisão, os quais, nos SE .LJ U., êlc tem sido consi-
em tôdas as oportuniciac!es que rlcl'ac!J rClüto mais atentamen-
se lhes oferecem, reconhm a te pelos dÍl2to:es da indústria
necessidade de confiar os pos- do que pelos administradores de
tes de chefia a c1iretcIITs... e \VD:chington.
não a comandant::s. Que pi'C·
tendem com isso di?el'? 1\ pc· Embora tenham surgido nos
nas, que o tipo autocràti;;o de últimos tempos alguns traba-
chefia est[t condenado c o,1\C lhos realmente notáveis sôbre
cada vez mais se impõe subs- a arte de dirigir, êsses trabalhos,
tituí-lo pelo democrático. De em maior ou menor escala, re-
modo pitoresco, os autores nor- rousarn sôbre o que já disseram
te-americancs Sil:i'l1lam esta dis- os velhos mestres. Isso talvez
tinçã.o, afil'millldo que ela é per- emp1'c-,t[' um pouco de razão
feit::1mente expr(":·~a pela dife- aos que criticam a produção
rença que há entl'e os dois ver- em n;<1:;;:a de literatura espe-
bos; to ZeLid e to uns.'). cializada nos Estados Unidos,
O assunto compOl ta ampla e composta de obras que, no di-
fascinante discus"Jo. Nela não zer ebqueles críticos, nada mais
me d0]1,ol':ê!Tei. todavia, pOÍ." na são do que combinações novas
Biblioteca elo D. A . S. P. se en- ele idéias velhas.
contram, à c1i'r<lSição dos curio- Se compararmos, por exem-
sos, lnuH~)') 01::'élS ('TIl q~le aba- plo, aquêle reduzido capítulo de
lizados C,l.!tOl'es (Odway Tead, Fa-,;ol sôhre o comando, eom o
Frank Cushman, Vialton, Stock- muito que mais tarde se es-
berger e outros) fazem elo tema creveu sôbre o mesmo tema,
cavalo de batalha. teremos de confessar que pou-
Isso evidencia, também, o co de fundamental lhe foi adita-
quanto o elemento comando ou, do e que, a rigor, os trabalhos
:~ J I) CAD1R ,\OS DE AD?lil1'\I:;TlZA(l.. O P\'BLlCA

surgidos posteriormente não gores ele estilo, pois a sua lin-


]Xtssam de dilatações e de com· guagem é chã, simples, despre·
plementos de suas afirmativas tensiosa, discreta. Não legou,
('lpitais. certamente, páginas destinadas
Aliús, duas características es· a ilustrar textos clássicos ou a
peciais da obra de Fayol são: compor antologias. Bastou-lhe
a limpidez com que sempre a glória, não pequena, de ins-
<J presentou as suas doutrinas, e crever o nome no livro de ouro
a sua extrema parcimônia ver- em que estão gravados os dos
bal. Há nos seus escritos ava- que mais contribuíram para o
l','za de palavrils, economia de grande progresso industrial (los
exemplos e ausência quase total últimos tC'mpos.
de citaçõcs. Se fôsse meu objeti-
O seu mérito principal lal-
vo, aqui, estudar-lhe a persona-
vez tenha sido o de reconhecer
lidade, nada melhor me guiaria
a necessidade de formar bons
do que o seu estilo. Estilo de
chefes, propiciando-lhes reem'-
homem prático, criado no meio
sos profissionais que lhes per·
ativo dos negócios, na intensa
mitam alcançar um rendinlE'n·
vida industrial, onde há neces-
to maior.
sidade de poupar palavras, de
nf\O tomar tempo, de aumentar A sorte de um exército de-
a produçfio e de reduzir os gas· pende, em grande parte, dos co-
tos. O modo por que planejou mandantes que lhe forem de·
os seus livros e os escreveu signac1os. Foi isso que levou o
<1enunciil claramente o seu mé· Marechal Foch a afirmar pe-
1<)do de trabalho e a sua voca- rante os alunos da Escola de
C;áo de organizador: é necessá· Estado-Maior do exército fran·
rio dar ao leitor o máximo de cés: -- "Lembrai-vos, senhores,
utilidade com o mínimo de dis· de que as batalhas nunca süo
pêndio (1c tempo e de energia. perdidas por soldados; sempre
Desiludir·se-á, portanto, quem por generais". (9) Da mesma
quiser encontrar nas obras de forma, se pode afirmar que o
Fayol tropas literários ou fuI- destino de uma organização cio

(9) Cit, por Urwick, op. cit.


TAYI.OR r: fAYOL 217

vil depende, ma:cinw pars, dos senhores, que andou, sem dú-
dirigent'es a que fôr confiada. vida, acertado quem propôs para
A teoria de Fayol repousa o fayolismo aquela definiçClo
grandemente sôbre êsse princí- que lhe assentou tão bem:
pio. E é por isso, senhoras e éi 1!Jna escola ele chefes.
CAPITULO V

A "COORDENAÇÃO" NA TEORIA ADMINISTRATl VA


DE FAYOL

IlENEDICTO SILVA
No tratamento, teórico ou prá- onknaçüo - - rema certamente
tico, desta matéria fascinante --, difícil, acima dos recursos de
a coordenação -- seja faculta- um modesto observador - que
do :lO expositor começar por me refiro, inicialmente, neste
unia referência à clareza de d2sambicioso ensaio, à clareza
p(,Tl.c;amento -- qualidade admi- (](' pensamento. Ao fazer a re-
];\\1ol e rara, característica da fe,'C'ncia, não tenho em mente
,,'(,"l1wleira inteligência, De fato, uma categoria de juízo, um con-
sr' coordenar é ajustar harmo- ccito abstrato -- mas determi-
nÍJ:"rrmente os esforços de qual- l'alIa .:7arez(( de pensamento: a
(juel' grupo de pessoas; se é (le HENRI FAYOL.
illl[\l'imir-Ihes unidade de ação,
A menção dêste nome nos
l!~11 a que se realize o propósito
conduz diretamente ao âma-
comum em que estejam em-
1;0 do assunto, pois que, segun-
penhadas, a clareza de pensa-
elo a teoria fayoliana, um dos
mento na concepção das idéias,
elementos centrais da função
na transmissão das ordens, nas
administrativa é a coordenação.
n']ações entre chefes, interme-
diúrios e subalternos, constitui Se, dentre os filósofos da admi-
condição essencial do intuito co- nistração científica, Fayol ocupa
Ol'c1enador. lugar culminante e singular,
pela sua penetração de pioneiro
Entretanto, não é para es- dnda não sobrepujado e pelo
tudar a importância do pensa- seu papel de fundador da Ciên-
mento claro na dinâmica da co- cia Administrativa,
222 CADERNOS DE AD1vfll'\lSTRACÃO PÚBLICA

dentre os franceses, povo famo- "Coordenar -- diz Fayol - é


so pela clareza intelectual, Fay- ligar, unir, harmonizar todos os
01 figura como paradigma in- esforços e todos os atos." (1)
disputável. Com efeito, a pa- Ap2S31' ele traz2r o distinti\To elo
lavra escrita de Fayol encerra. pensamento fayolbno. que é a
no mais alto grau imaginável, Clal'eLl.. essa dif;~:·:( (-: J iTLtl rn'll~e­
as três qualidades que. no di- rY':o:~~~a o inlel."i:l (a (,,' '1. (Je-
zer de Anatole France. caracte- .tinida. Se C;i).iS~Jl n1 ;_': C~l ;:';,.:.: _'l'i-
rizam a língua francesa: pri- zar o ql~.2 seja C:/!J~i~',:::\~', ~")' te-
meira, clarté; segunda. darté,- que 1'econ'(,1' a cerios a 1'-
rnC!:;
terceira, clcuté. gu:.:c"~ose passar revista a
cedas idéias.
De sorte que o estudioso da
Ciência da Administração niio F'ayol (~nsina; "Quando o pIa-
deve desconhccel' a doutrina do nejamellto, a m'ganizaç[w, o co
célebre engenheíl'o Ít"'i1(.'S. a m:'llJu. a COOl'lkL2Ção e o CC11-
quem se pode dar, Cílm il]:,ii'cl (rô;e incidem em cheio subl'C'
justiça, o título de eng",,',lO as difc:cn(es partes, a marcha
social. Vários motivos tornam da e!np,',.:a é satisfatória. pUl'o
inescusável a ignol'\llcia de,;sa que t{;das as J'LtnçÕL'S SEI ('1~n1'

doutrina. dentl'f' os quais cita . pl'Cn1 con'leil;en1t'lnCl~i.-:H. (:~I

rem03 cIvis. Primeiro; Fayol ê Pnrccc ~ncLct1l', a.~sirn, \lue as


absolutamente fundamental ._- cinco ope:'u('J2S il1c] UJclaS n~l
ntio deve sel'i!)lIoí'uâo; segun· funçilo adminisl 1'al iva sôo (om·
do; Fayol ê claro como água plementares e mais ou me 1)(\,
pura - não pode ser incom- eqüivalel, teso O saCi ifít;o ou a
preendido. Porler-se·ia dizC'1' dt' pert U ib,lÇão de qua lq uer de ;êl"~
Fayol o que Josuê Montello dbs'.~ pode repercutir malt·fkamente
tão bela e simplesmente de l"fa· no funcionamento de tôda a em-
chado de Assis, pois que, Lun- prêsa. De fato, em nenhuma
bêm neste caso, a claridade do· parte de sua obra Fayol decla-
mina a sua obra, como .J. aurora ra ou sugere que êste ou aqUl;-
a uma planície descampada. le elemento administrativo seja

(1) Administraci6n Industrial /I Genel'il/ ('l'rad. ('SP,; Buenos Aires, 1940). p. 19,
(2) Op. cit., p. 110.
TAYLOR E FAYOL 223

mais significante do que os ou- atomiza, por assim dizer, as


tros. Os tratadistas mais mo- ocupações. A associação de es-
dernos, especialmente os ame- forços aproxima as atividades
ricanos, entretanto, atribuem especializadas c t~'1de a reunir,
maior importância à coordena- em grandes emp, êsas, massas
ção_ Stuart MacCorkle, por consideráveis de trabalhadores.
exemplo, sustenta que uma em- A divisão do tra\)2 1 11O. extrema-
prêsa poderá sobreviver e rea- da pela especi::t1i;,:cçeo. e a con-
lizar alguma coisa, mesmo que centração de trabalhadores, exi-
negligencie um ou outro prin- gida pela mah'ia Jcs eYl1D"een-
cipio administrativo, desde que dimentos hl\rr:an:;s, é que fa-
pratique a coordenação. Cessa- zem a coordenação indispensá-
da esta, porém, os objetivos da vel. (li)
emprêsa só poderão ser atin- Efetivamellte, quanto mais
gidos por acaso. (3) J ames numeroso o pessoal engajado
Mooney e Allan Reiley, por sua nas ativid2.de~ de uma emprê-
vez, afirmam que a coordenação sa, q~\anlo n'a;s difíceis os pro-
inclui todos os principios de or- PÓS! los objet ivados, quanto
ganização. (4) mais complexos os respectivos
Que explica essa precedência processos de trabalho, tanto
do elemento coordenação? Não mais necessária se torna a ação
é dificil encontrar a resposta. coordenadora. A divisão do tra-
Dentre os traços característicos ba 1]1O é fatOl' <in sobrevivência
da cena mundial contemporânea e bem·eslar das sociedades or-
se destacam, de um lado, a es- ganizadas. A sua inevitabilida-
pecialização intensiva e multi- de decorre da desproporção en-
forme e, de out'ro, a associação tre a insignificância das fa-
de esforços. A especialização culdaclcs naturais do homem e
aumenta a lista das profissões, o vulto e complexidade de mui-
desdobra os ofícios, adelgaça a8 tos dos desígnios humanos, cer-
faixas de atividade individual, tamente impraticáveis sem a fu-

(3) Munic-ipaZ Administmlion (Npw York. 1942), pp. 52-3.


(4) Principies of Organizal'ion (New Y01-k, 1939), p. 5.
(5) Benedicto Silva, O Ensino de Administração Pública nos Estados Unidos
(Rio, 1943), p. 18.
é:i!O das eflC'l'.r:;ias físicas e o con- l'a<:ões. A própria estrutura da
curso das inteligências de nu- ])('c:a indica a seqüência do tra-
mel'USOS indivíduos. Fraco, ex- balho. Há um ponto de partida,
pJsj(), pusilânime, o homem ne- digamos, o corte, e um ponto
cessita de associar . se a outros (le chegada, ou seja, o prega-
j:ilra conseguir a realização de menta dos botões. Entre êsses
qu,tlq1l('r empreendimento maior. dois extremos se distribuem
Mas se a cooperação lhe amplia numerosas operações que se
ext )"aol'clinàriamente a capacida- h~lO de engrenar numa eletenni-
de reali:éi:dora, por outro lado nada ordem, sob pena de ser sa·
lhe impõe a necessidade impe- crificado o desígnio central do
lÍf\:;a de eoo1'denar os esforços esfôrço. O alfaiate realiza-as
(ls:~oclados.
guiado pelo próprio trabalho,
Demonstremos a tese, pois que sem encontrar dificuldades para
é difícil.
11 ~'l() decidir o que vem em primeiro
Qu:mdo um operário se in- lugar, o que vem em segundo
CL\1,;,!lic. snzinho, de determina- c terceiro, e assim por diante.
(lo trabalho, as operilções que Disposto a concretizar um obje-
C'-;['(,llta obC'deC'em a uma sC'qüên· tivo definido, êle coordena e
ch lógica espontânea. Êle su- ajusta as operações na seqüên-
linrclin:1-as ao desígnio prefixa- cia adequada, executa-as de cer-
d·) e executa·as em tal ordem ta forma e liga-as de tal modo
(' c!C' tal maneira que a última que, de seu esfôrço, surge, afinal,
,\:)('ração completa a tarefa. Aqui a peça prevista. Dá-se aquilo a
lnc pennito a liberdade ele men· que poderíamos chamar coorde-
cionar a ilustração quC' imagi- nação espontUnea do trabalho.
]wi de out l"a feita, (G) e que me Ê elaro que a realização de ob-
foi sugerida pela Teoria ela 01'- jetivos de grande envergadura,
Ijuni.zação, de Luther Gulick. como a construção de um transa-
Ao fazer sozinho uma peça de tlântico ou de uma estrada de
roupa, p0r exemplo, o alfaiate ferro, a educação de milhões de
ordena automàticamente as ope- crianças e jovens, o fomento da

li;) gc:nl"dieto Sil,",l. "Ensaio de Análise do E~tado Moderno", lU, Rcl'isla do


Serviço Pzlblico (janeiro de 1944), pp. 18-20.
TAYLOR E FAYOL 225

r~'odução agricola num país ex- uma quantidade de aço, outru


tt'nso, transcende incomparà'/el. de cobre, outra de madeira, ou-
mente a capacidade de um ho- tra de borracha, outra de ní-
mem e demanda os esforços de quel, outra da tinta, e assim
grupos sociais inteiros. Impõe-se por diante_ Essas várias maté-
:1 divisão do trabalho. rias-primas, utilizadas em por-
ções convenientes, só se transfor-
Quando, porém, se divide o mam em automóvel quando to-
trabalho, a seqüência convenien- cadas pelo poder mágico da coor-
te das operações não acontece denação. Se as operações de fa-
assim naturalmente - não há bricar as diferentes peças não
eoordenação espontânea. A parte fôssem bem coordenadas, jamais
feita por um trabalhador pode- se conseguiria uma unidade ló-
l'á, ou não, engrenar-se, tempo- gica, prevista e operante, isto
ral e espacialmente, com a par· é, um automóveL Poder-se-iam
te feita por outro_ A coordena- fabricar - em massa e indefi,
ção torna-se uma necessidade nidamente - tôdas as peças
imperiosa. Na sua ausência, só necessárias --- rodas, eixos, aros,
por acaso as operações se ajus- raios, válvulas, parafusos, ala-
tarão de modo lógico - à ma- vancas, portinholas, motores,
neira de partes - para formar pistões, pára-lamas e tudo o
um todo. mais - sem, entretanto, se con-
seguir jamais uma coleção de
Figuremos, para completar o peças dispostas de tal maneira
exemplo, que certas quantida- que somassem o veículo: auto-
des de matérias-primas, - aço; móveL Como se vê, a divisO:o do
níquel, cobre e outros metais, trabalho, fonte prodigiosa de ren-
vidro, borracha, tinta, substân- dimento, seria uma insanidade
cias plásticas, tecidos, couro, se, para reunir as partes de
etc., - depois de condicionados acôrdo com um desígnio central,
através de milhar.es de opera- não houvesse a coordenaçãO'.
ções, acabem por assumir a for-
ma de um automóveL Ora, um "Se a divisão do trabalho é
automóvel não é meramente inelutável, a coordenaçã.o torna-

16 - Cad. Adm. Pública - 44


226 CADER0iOS DE ADWN1STRA(AO PÚBLICA

se compulsória" - afirma Cu- só se justificam se se aceita que


Jick, com segurança e ênfase_ (7) a capacidade coordenadora., ina-
ta ou não, é suscetível de de-
Com o que ficou dito até senvolvimento_ Seria possi\'(~l
aqui, consideramos demonstrado aprendor a coordenar como se
que a coordenação se avantaja apl'ende a somar, a datilogra-
a tortos os outros princípios de far, a dirigir um automóvel?
administração_ A sua importân- Pensamos que sim.
cia é suprema, decisiva_ Inda- A coordenação realiza-se em
guemos agora se essa fôrça qualquer estágio do trabalho,
misteriosa, que imprime unida- mas sempre se coordena ou
de de ação às atividades de cen- por submissão sincera e devo·
tenas, de milhares e até de mi- tada a uma idéia, ou por orga·
lhões de pessoas, constitui uma nização, ou ainda pelas duas
capacidade inata ou uma técni- vias, simultâneamente.
ca, uma arte adquirível. Have- A coordenação pelo primado
rá princípios teóricos e regras de uma idéia sôbre um grupo
práticas cujo conhecimento ha- pressupõe a instilação de "uma
bilite uma pessoa a coordenar singularidade de propósito nas
os esforços de outras, ou a co- mentes e nas vontades dos ho-
ordenação resnlta de algo im- mens" que o constituam. Par-
ponderável - é uma qualidade tidário da mesma idéia, cada
individual inata e intransferível, membro do grupo diligencia
que só se manifesta em raras espontâneamente por agir de
criaturas e escapa ao contrôlc modo que a sua contribuição se
consciente do próprio agente? ajuste o mais perfeitamente
possível às contribuições dos
Se a capacidade coordenado-
outros; levado pela determina-
ra fôsse um dom ou talento ina- ção de ajudar, de contribuir,
to, tôda focalização intelectual acelera ou retarda o próprio
da matéria teria apenas valor esfôrço na medida que se faça
de passatempo_ No caso, a or- necessário para incorporá-lo util-
ganização e o debate de idéias mente ao propósito comum.

(7) Luther Gulick, Papers on the Science of Administration - (New York :


Institute Df Public Administration, 1937), p. 6.
TAYLOR E FAYOL 227

A coordenação pela via da 1': indiscutível que a CQmple-


organização pressupõe o enreda- xidade da tarefa de coordenar
mento das várias divisões e sub- varia com a envergadura e a
divisões integrantes da emprê- idade da emprêsa. Numa em-
sa numa estrutura de autorida- prêsa modesta ou incipiente,
de e num sistema de comuni- cm que trabalhem poucas pes-
cações, ao longo e através dos soas, a coordena(Jão opera-se
(lUais o trabalho é CQordenado mais fàcilmente, porque o pro-
mediante a vigilância dos su- pósito central é manifesto para
periores sôbre os intermediá- cada trabalhador. Todos sabem
rios e dêstes sôbre os subalter- o que lhes cumpre fazer, os
nos, escala hierárquica abaixo, desvios revelam-se imediatamen-
até ser atingido o último tra te e os corretivos são aplicados
halhador. a tempo e a hora, mesmo por-
que o dirigente pode apreciar a
Nas emprêsas bem organiza-
cada minuto a situação exata
das, além da estrutura de au-
de tôda a emprêsa e de cada uma
toridade adaptada às circuns-
de suas partes. Verifica-se aí
tâncias e aos objetivos, além
aquilo a que Mary Parker Fol-
da existência de um bom siste-
let chamou coordenação por con-
ma de comunicações, que leve
tato direto entre os dirigentes
as ordens do centro diretor e
e os dirigidos. Esta é uma for-
traga a êste as informações de
ma relativamente simples de CQ-
retôrno, num contínuo vaivém,
o pessoal dirigente recorre em ordenação, porque, para se reali-
larga medida à coordenação psi- zar, não requer mais do que
CQlógica, ou seja a que se obtém contatos freqüentes entre as
pela devoção comum do grupo pessoas cujos esforços deValTI
a uma idéia claramente enun- ser coordenados. (8)
ciada e compreendida. A coor- Nas organizações de grande
denação ideal só ocorre quando envergadura, em que tomam
levada a efeito pelas duas vias parte milhares de pessoas, como
simultâneamente: a da organi- num ministério de obras públi-
zação e a da devoção. cas, a estrutura de autoridade

(8) "Proccss of control", Papers on the Science of Administration, p. 161.


CADERNOS DF !\DMli\ISTRAC. .',O l'LllJUCA

é naturalmente complicada. As Explorando outros refolhos


tarefas são muito divididas e dêste argumento, Renanl Sl,c'
suhdivididas, não é fácil à maio- tenta que urna sociedade ;:C'l'Ú
j'ia das pessoas pprtencenles à tanto mais organizada quanto
emprésa conservar uma idéia ní- rí1ai~ os indivíduos cOJ-r;ponenté;s
tida e permanente sôbl'C' os pro- se acharem coordcn8.dos DO, li-
pósitos objetivados_ Por conse- gação uns com os outros. em
guinte, além das possíveis dupli- sistemas progressivamcll t (~ 111ét i:-;
catas de iniciativas e de esforços, nmplos e em obediência a um:1
dos desperdícios de material e irE'ia; e que, afinal de contas
dos movimentos parasitários de- o pl'O,;resó~o outra coisa nào ('
terminados pela diferença de lit- .';('n.'io a pass::\gem indefinida r])
mo dos diversos setores, comu- caótico e do C'mpírico para sis-
rnente acontece que o pessoal tP111.1.S de organiza('Cto elaborado.';

perdp de vista o propósito cen- em tôrno de urna idéia. (10)


tral - se é que efetivamente É necessário salientar fJue a
chega a vislumbrá-lo alguma yez coordcnação determinada pela
-- e, assim, cada qual tL'nc1e a magia de uma idéb dominante,
cuidar dos próprios in 1crês;,cs. conquanto se processe maravilho-
sobrepondo-os aos da emprêsa samente em certas circunsEn-
cias, eleve ser consideraéla cor'}.)
Georges Renard, autor da Teo-
recurso complementar. Nem
ria da Instituição, convém em
SClnprc é possível (,oo1'(l(>n,l1' sú
que a coordenação pelo prima-
por essa via. Ainda que (0(10';
do de uma idéia produz os mais
os componentes de um gl'UpD
amplos resultados. Afirma pIe
estejam de pleno acôrelo quan( ()
fllle, em tôdas as etapas de de-
senvolvimento, os sêres jamais ao objetivo a ser atingido, só ra-
se coordenam por acaso mo s rissimamente deixarão muito;;
sempre pelo efeito organizador dêles de disCDrdar quanto aos
de uma idéia. "Tôda organização detalhes da ação. I:; necessário
resulta da submissão da matéria o líder, com a sua "autoridad,'
a um plano ideológico".(9) pessoal, formada de inteligência.

(9) Citado por Mihail Mal1ullesco, O Século do Corporatil'is)}1(), Rio. 1938, p. 2tl.
(lO) Idem.
TAYI.OR E FAYOL 229

de saber, de experiência, de va- se trata de uma grande emprê-


lor moral", (11) para incutir nas sa a ser organizada ou refor-
mentes e nas vontades dos li- mada da noite para o dia, então
derados uma singularidade de é que as verdadeiras dificulda-
pror::ósito. Quando chega o mo- des da coordenação se revelam
mento, porém, de decidir sô- plenamente. O elemento hábito,
bre os detoJhes, então o líder que é uma base importante da
muitas vêzes deve ser apenas coordenação quando se dispõe
cheie e fazer valer a sua auto- de tempo, converte-se em sério
ridade legal, inerente ao cargo. embaraço quando não se dis-
A coordenaçi'ío dos esforços põe, isto é, quando as normas
numa emprêsa numerosa é con- e métodos são alterados muito
dicionada, em larga medida, pe- freqüentemente. O problema da
los hábitos do pessoal e pelo coordenação deve ser apreciado
fai 01' tempo. com ênfase diferente nas em-
Eis, a respeito, o depoimen- prêsas grandes e pequenas; nas
to ele Gulick : "O homem é uma situações simples e nas comple-
criatura de hábitos. Quando uma xas; nas organizações estáveis
cmprêsa cresce gradualmente, e nas organizações novas ou em
partindo de pouca coisa, o pes- reforma". (12)
soal pode ser treinado e aper- Nas grandes emprêsas, sobre-
feiçoado, passo a passo. Se sur- turl0 nas novas, a coordenação
gem dificuldades, estas são pas- deve ser encarada como "rela-
síveis de aplainamento median- ção recíproca de todos os fatô-
te a introdução de novos méto- les em uma situação" e, como
dos, os quais, dêsse momento em tal, deve partir do reconheci-
diante, se incorporam ao conjun- mento das relações interatuan-
to de prúticas em uso na cmprê- tes de muitc6 fatôres, a fim de
sa. As operações rotineiras po- poder desenvolver, paralelamen-
dem ser dominadas pelo pessoal te, o esfôrço necessário para
à fôrça de exercícios, como acon- harmonizá-los num dado ~p'n­
tece no cxército. Mas quando tido. (13)

(11) Fayol, 011 cit., p. 35.


(12) LuLhcr Gulick, U]J. cit., p. 6.
(13) Mary Parkcr Fullct, UJ). cit., p. 161.
230 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A coordenação que se pro- Conquanto não se conheça ne-


cessa pela via da organização nhuma declaração explícita, fei-
requer, desde logo, o estabele- ta por Fayol, de que a função
cimento de uma hierarquia ou coordenadora seja uma arte ou
sistema de autoridade, pelo qual técnica c, portanto, suscetívc'l
o objetivo da empl'êsa é conse- ele ensino e aprenc1izagem, é lí-
guido ou levado a efeitO, atra- cito inferir do pensamento ge-
vés dos esforços consorciados ral do autor que, para êle, n:~l0
das pessoas que a constituam. só é possivel como também (1)::''se-
"Como se sabe, uma estrutu- jável aprender a coordenar, exa-
ra de autoridade não só per- tamente como se aprende qual-
mite como ainda facilita a coor- quer outra técnIca ou arte.
denação do trabalhe por meio Fayol indiretamente se incllna
de instruções e ordens transmi- a dar maior importância à co-
tidas ao longo da escala hierár· ordenação espontânea ou psico-
quica. É a2strutura de autori. lógica, a que Gulick chamou "co-
dade que torna efetivo para o ordenação pelo predomínio d.e'
chefe da emprêsa o direito de uma idéia". Quando declara,
fazer-se obedecer." (14) "Colo- por exemplo, que a coordenação,
cado no centro e no tope da estabelecida com o concurso (k
empl'êsa, o chefe pode, por todos, é lima geradora de con-
intermédio da organização, ver fiança recíproca, está certamen·
e coordenar os esforços asso- te fazendo apologia da coorde-
ciados exatamente como o tra- nação psicológica.
balhador vê e coordena as ope-
rações que executa sozinho: - Em outra passagem de sua
primeiro isto, em segundo lu· obra, igualrnente se l'cvela a
gar aquilo; isto deve ser feito predileção de Fayol pela <:0-
de tal modo; agora é a vez des- ordenaçiío cspontünea, estabele-
ta peça, etc. (15) cida e martida sutilmente, cui-
c1ac1os:mlCnte, a fim de não pro-
Voltemos, finalmente, a Fayol. vocal' reações contrárias por

(HJ Eell',dicto Sil\''', "En.'ain ,1" Anúli"c do EslC\,lo Moderllo", lU, Ruislfl
do SUTil,'f) Público .. l'P. 18 ~o.
(15) Ibidem.
TAYLOR E FAYOL 231

parte do pessoal. Para semear meio de definições claras e sim-


a divisão entre os próprios ples. Coordenar - diz êle - é
subordinados, declara Fayol, não dar ao organismo material e
é necessário nenhum mérito: social de cada função as propor-
isso está ao alcance de qualquer ções convenientes, para que a
pessoa. Mas, para coordenar os mesma possa desempenhar o
esforços, estimular o zêlo, utili· seu papel de forma certa e eco·
zar as faculdades de todos e re· nômica. li: levar em conta as
compensar o mérito de cada um, obrigações e as conseqüências
sem despertar suscetibilidades que qualquer operação - téc-
e invejas, e sem turbar a har· nica, comercial, financeira ou
monia que deve existir nas re- outra - acarrete para as de·
lações entre os diversos indiví- mais funções. lli fixar a propor-
duos pertencentes a uma emprê- ção dos gastos à luz dos recur-
sa - então, sim, é necessária a sos financeiros; determinar a ex-
posse de verdadeiro talento. (16) tensão dos imóveis e utensílios
Ao longo da obra de Fayol de acôrdo com as necessidades
podem respigar·se, aqui e ali, da fabricação, adequar o abas-
diversas alusões à coordenação, tecimento ao consumo, equíli·
tôdas elas impregnadas da brar a produção com as vendas.
idéia de que, para obter a coor- lli construir a casa nem dema-
denação do trabalho, é preferí- siado grande nem demasiado
vel que o dirigente use a sua au- pequena; afeiçoar a ferramen-
toridade pessoal, aquela forma- ta ao uso, a via ao veículo, as
da de inteligéncia e valor mo- operações de segurança aos pe-
ral, em vez de usar a sua auto· rigos. li: atender primeiro ao
rida estatutária, inerente à fun- essencial e depois ao acessório.
ção de chefe. Mas é na parte Em suma, é dar às coisas e aos
dedicada ao estudo dos cinco atos proporções convenientes -
elementos administrativos que é adequar os meios aos fins. (17)
1"ayol se detém no conceito de Como saber se as atividades
coordenaçã.o, muitas de cujas de uma emprêsa são efetiva-
dobras procura focalizar, por mente coordenadas ? Fayol

(16) Fayol, op. cit., p. 62.


(17) Iúid., !l. 1G5.
CADERN"OS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

aponta os sint'omas da boa co- serviço ignora, ou pretende


ordenação. Se uma emprêsa é ignorar, a existência dos ou-
bcm coordenada ~- diz êle -- tros; se funciona como se en-
nela se verificam os seguintes cerrasse em si mesmo seu fim
fatos; e sua razão de ser, sem se preo-
(!) cada scrvi(:o marcha de cupar com os serviços adjacen-
mãos dadas com os outros; o tes nem com o conjunto da em-
serviço de abastecim0nto sabe o présa; se as divisões e as ofi-
que e quanto deve fornecer; o cinas de um mesmo serviço,
de produção sabe o que se es- bem como os diferentes depar-
pera dêle; o de conservação tamentos da emprêsa, agem
müntém o material e os uten- como compartimentos estanques;
sílios em bom e~tado; o finan- se a grande preocupação de
ceiro levanta os capitais neces- cada um é pôr a própria res-
sários; o de segurança protege ponsabilidade a salvo detrás de
efetivamente os bens e as pes- um papel, de uma ordem, de
soas; tôdas as operações se efe- uma circular; se ninguém pensa
tuam com ordem e regulari- no interêsse geral; se a inicia-
dade; tiva e a abnegação primam pela
ausência - o quadro traduz
b) as divisões e subdivisões de
uma evidente incoordenação.
cada setor são exatamente in-
A coordenação efetiva, ensina
formadas sôble a parte que lhes
Fayol, exige uma direção escla-
corresponde r.a obra comum e
recida, experimentada e dinil.-
a ajuda mútua que se devem
mica, ponto de vista inteiramen-
prestar;
te partilhado por Gulick. "A
c) o programa de ação dos coordenação - diz êste - não
diversos serviços c suas subdivi- é algo que aconteça por acaso.
sões é pôsto constantemente em Cumpre conquistá-la por meio
harmonia com as circunstán- de esforços inteligentes, vigoro-
das. (18) sos, tenazes e organizados." (19)
Fayol oferece também a con- Fayol tem na mais alta conta
trapartida. Segundo êle, se cada a coordenação dos esforços

(18) Ihi".,]l. Li6.


(19) Guliok, op. cit., p. 6.
TAYLOR E FAYOL 233

por contatos diretos, pelo que Estimular o entusiasmo do


preconiza, sem restrições, que pessoal, facilitar o cumprimen-
os chefes de serviço sejam reu· to do dever, aproveitar a pre-
nidos semanalmente, com o fim sença dos chefes para resolver
de cada um expor perante os problemas de interêsse comum
demais as dificuldades com que - eis outros resultados positi-
se vê a braços e sugerir, ou in· vos, que se podem obter me-
dicar, ou pedir a ajuda de que diante as reuniões periódicas dos
necessita, bem como as soluções chefes. Para assegurar a uni-
que lhe parecerem acertadas. O dade de direção e a convergên-
dirigente geral colhe as impres- cia de esforços, assim como
sões ou opiniões de todos sôo para induzir os dirigentes a
bre os assuntos tratados. Com uma colaboração espontânea,
isso evita que as decisões toma- nenhum procedimento se avan·
das, no momento ou mais tar- taja a essas conferências.
de, venham a surpreender os
responsáveis pelos serviços da Fayol afirma que os cordões
emprêsa. de isolamento desaparecem,
quando os chefes de serviço
Graças a essas reuniões, "o têm de explicar-se e de se en-
diretor pode examinar cada tender em presença da autori-
questão com uma amplitude, dade superior; e que a con-
uma precisão e uma rapidez que ferência de chefes de serviço ê
não seriam possíveis de outro para a coordenação o que o pro-
modo. Em tempo relativamen- grama de trabalho é para o
te curto - quiçá uma hora -- planejamento - ou seja, um
o diretor se informa sôbre a signo característico e um ins-
marcha geral dos negócios e trumento essencial.
pode tomar decisões que inte-
ressem, a um tempo, a vários A coordenação do trabalho é
serviços e fixar o concurso que a prova de fogo do dirigente
cumpra a êstes prestar uns aos geral. Assim como, nas gran-
outros". (20) des orquestras, as sinfonias

(20) Fayol, op. cit., p. 158.


2Y1 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

arrebatadoras dependem mais capacidade coordenadora do che-


da batuta do regente do que fe geral.
da habilidade pessoal dos mú-
Na orquestra, a incompetên-
sicos, assim também, numa cia do regente traduz-se em dis-
grande emprêsa, num grande sonância. Na emprêsa, a inca-
ministério, a eficiência, a har- pacidade do diretor traduz-se
monia e a realização dos obje- em desperdício, resistência pas-
tivos dependem vitalmente da siva, ineficiência, desordem.
CAPíTULO VI

o "CONTRôLE" NA TEORIA ADMINISTRATIVA


DE FAYOL
CESAR CANTANHEDE
EngC'n!10iro c pl·ofC'~sor.
('al'gos eX('l'('idos: Diretor da r::nlpl't:~a SC\;Ta (lo l\Inr e da Cia. Si'l'\ il',: ~
H(~unidos Itapf'lniriln, Prof,\~s()I'-as:.d;..;b'nte d(~ Ol'ganização (~ A{llHini.c..:tl'~\(~,-IU
de Elnpr(\fi:1S, Direito Adnlillistrath () c Contabilidade, na I'~:-;('ola Naeional d,'
Engenharia. Assistcntc-t('Cllico de Org;}niL;~v:ão e Djrctor-tC'Cllico dos SCi \'j(.():-:
lIollcrith S. A.
('al'~'os atuais: Pl·ofl';:.:.~;or Cat\\r!rúU('o (l'l E;:( nla T'\;tc!nn:ll de EJ!,C!'('llll:!1 j.l·

Inclnbro da Sociedade Bra::-;ileil'l1 (lc I~statístiC'a c rl11 Sociedade I3l'a,silcil'a di'


Econornia Política.
Obras publicadas: Organiza(:üo do Tl'alJalho c CUI'SO de Organizarão do
Trahalho.
Contmlar é cuidar de tal mo· Â e:.:eC'w:f:Co (~;. trabalho, de
(lo que' tudo se passe de confor· aeôrc]o com as ordens emana·
midade com as regras estabe· elas, é a contrapartida indis-
lecidas e as ordens dadas. pcnsfLvel da previsão e da pre-
Controlar é verificar se os paração do mesmo trabalho.
t l'abalhos se processam como Todo tempo tomado pela re-
foram previstos e fixados, se flexão e pela preparação seria
hú obediência a um programa perdido se fôssemos, no de cor-
plévio, e, ainda, verificar se o H~r dos trabalhos, encarar re-
conjunto produtor trabalha em pentinamente novas maneiras
pelÍeita harmonia, e se néle há de proceder ou novos proces-
in! eira ligação entre todos os sos ele realizar.
seus elementos, de modo que se O trabalho deve ser executa-
ll()~'sa ter certeza de que uma do tal como tenha sido previs-
ord0m emanada de uma autori· to e planejado; modificações
dade competente seja sempre ocasionais ou fortuitas podem
fiel e cuidadosamente cumprida. c'cr gr:1vemente prejudiciais.
Com efeito, não basta dar 01'· O contrôle, diz Fayol, tem
dens; é necessário veriiicar se por finalidade assinalar os er-
elas podem ser cll1Jlpl'idus, e ros e as faltas, a fim de que
se são cumpridas com solici· se pO'isa repará· los e evitar a
tude, com inteligência e dedi· sua repetição.
cação, pois que ordens exeqüí· Evitar-se-á, assim, o desper-
veis, em que foram previstas dício em todos os seus aspec-
tôdas as possibilidades de exe- tos: desperdício de energia,
cução, são ordens que se de- desperdício de matéria e (mais
vem cumprir com entusiasmo. importante por invisível e ir-
E isso é administrar. recuperável) o desperdício de
CADERNOS DE ADt,lJ;~lSTl\f\CAü PÚlJI.IC/\

tempo, Aplica·se a tudo: às caú· llcsigualdades, o estado de con-


sas, às pessoas ~ aos atos. servação dos materiais, o fun-
Fiel à sua orientação de dis- cionamento do pessoal e dos
1inguir em tôda atividade eco- equipamentos.
nômica seis grupos distintos de Do ]Janto de vista financeiro,
atividades ou operações, Fayol deve-se realizar o contrôle sô-
especifica mais o papel do con- hre os registros e sôbre a caixa,
trôle, mostrando o que dêle se sôbre os recursos e sôbre aei
espera em relação a cada uma necessidades, e, também, sôbrl.'
de suas seis funções. o emprêgo dos lUndos.
Assim é que: Deve-se cuidar, ainda, que os
meios adotados para proteger
Do ponto de vista adminis·
os bens, co usas e pessoas, este-
tl'ativo, é mister assegurar, diz
jam em bom estado de funciona·
êle, que existe um programa
mento, conforme estabelecem
(~ que é aplicado e mantido em
os princípios da função de sc-
atualização; que o organismo
gurança.
social é perfeito; que os qua-
Por último, do ]Janto de vis-
dros do pessoal são respeitados;
ta da contabilidade, é mistC'I'
que o comando se exerce de
verificar se os documentos ne-
acôrdo com os princípios es-
cessários são preparados e rece-
tabelecidos; e que a coordena-
bidos com rapidez e oportunida-
ção é mantida através da rea-
de, se dão uma clara visão da
lização das conferências dos
situação, se o conirôle encontra,
chefes.
nos livros, nas estatísticas e
Do ponto de vista comercial, nos gráficos, bons elementos
é mister assegurar que os ma- de verificação.
teriais movimentados (produtos Em todos êsses setores deve
ou artigos) são verificados em o contrôle pesquisar ainda se
qualidade, quantidade e preço; há atividade ou parcela de ati-
que os inventários são feitos e vidades inúteis ou antagônicas,
que os compromissos são sal- para eliminá-las ou reduzi-las.
dados. Contr6le é, pois, vigilância.
1!l necessário observar, na É a vigilâncía que garante a
função técnica, a marcha das segurança, a tranqüilidade, o
operações, seus resultados, suas equilíbrio e a produtividade de
TAYLOR E FAYOL 23~

um conjunto, cuja finalidade é in-esponsá vel, mas provido do


trabalhar e, portanto, produzir. poder de opor obstáculos a ou-
O trabalho do chefe seria in· tras funções (muitas v~zes com
completo se, unicamente, con· grande amplitude); e, de outro,
sistisse na mise en mal'che dos o serviço executivo, que só dis-
agentes da execução; o contrôle põe de débeis meios de defesa
tem por fim impelir cada um contra um contrôle mal orien-
a cumprir o seu dever. tado.
A existência de um contrôle A tendência do contrôle para
tem fôrça catalítica. essa usurpação (não sou eu
Para ser eficaz deve êle ser quem o diz, mas sim a autori-
realizado em tempo útil e OPOl'- dade inconteste de Fayol) é
tuno e ser seguido de sanções, bastante freqüente, sobretudo
qu~mdo necessário. em grandes emprêsas, e pode
O contrôle inoportuno e tardio ocasionar as mais graves conse-
só tem um caráter documental; qüências.
o contrôle que não faculta ensi- Para combatê-la, é necessário
namentos, que as verificações definir, primeiro, de uma ma-
possam comportar ou indicar, neira tão precisa quanto possí-
é inútil. vel, as atribuições do contrôle,
Um bom contrôle é indubità- indicando exatamente os limites
velmente um precioso auxiliar que não devam ser ultrapassa-
da direção. dos; é mister, depois, que a au-
Há. entretanto, um grande pe- toridade superior vigie o uso
rigo a evitar: é a tendência do que o contrôle faz de seus po-
contrôle a se sobrepor à dire- deres.
ção e à execução dos serviços, 11': preciso controlar o con·
imiscuindo-se co nstantemente trôle.
nos mesmos, na eterna ânsia E isso também é administraT.
do meio, querendo transformar- O contrôle não existe por si,
se em fim, do instTtlmento al- nem é independente dos outros
mejando ser o pTincipal. quatro elementos administrati-
Essa usurpação de funções vos de Fayol, como independen-
constitui a dualidade de dire- tes não são êstes, nem podem
ção em seu aspecto mais temi- ser isoladamente considerados.
vel: de um lado, um contrôle Administrar é o conjunto, e
.2 lO CADU'[\.()S DE ADMIN1:,llU\(ÃO l'lilJUCA

bem acZ/Ilinilitmr é o conjun· a atos e esforços harmonizados


to equilibrado dessas atribui- e ligados por uma heíbil coor'de·
ções, cujos conceitos exatos WIÇi"iO do 11(',3soa1 pôsto a tr:1-
Fayol tão bem caracterizou, c balhr'l' p:>las ordens de um co-
foram pelos meus antecessores mft?:} capo:', dentro de uma 01'-
na tribuna tão judiciosamente gan'i:wç{io cficiente, material,'
traduzidos em palavras claras, pessoal, fixada c orientada de
simples e compreensivas, acôrclo com um planejamento
Se o contrôle puder, pois, pre- inteligente, estareis, senhoras ('
encher, com segurança e fideli- senhores, diante ele uma boa
(lade, a sua missão em relação (1(7 fl(; 1Iisl i'araO.

000020845
" "1//1111/11111" 11111 111/1 1111/111
ANOTAÇOES

17 - Cad. Adm. Pública - 44


ANOTAÇÕES
ANOTAÇOES
ANOTAÇOES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇOES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇOES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÜES
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
Entidade de caráter técnico-educativo. instituída em 20 de dezembro de I944. como pessoa
jurídica de direito privado, visando os problemas da organização racional do trabalho, espe-
cialmente nos seus aspectos administrativo e social. e a conformidade de seus métodos às
condições do meio brasileiro, terá como objetivo: I - prover à formação, à especializaç~o e
ao aperfeiçoamento de pessoal para empreendimentos públicos ou privados; 11 - promover
estudos e pesquisas nos domínios das atividades públicas ou privadas; IH - constituir-se em
centro de documentação para sistematizar e divulgar conheCimentos técnicos; IV - incum!Jir-se
do planejamento e da organização de serviços ou empreendimentos, tomar o encargo e
cxecutá.los, ou prestar-lhes a assistência técnica necessária; V - concorrer para mel!:0t
compreensão dos problemas de administração. propiciando o seu estudo e debate

PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO

LUIZ SIMOES LOPES

DIRETOR EXECUTIVO

RAFAEL DA SILVA XAVIER

CONSELHO DIRETOR

Presidente - LUIZ SIMOES LOPES


Vice-Presidente - GUILHERME GUINLE

VOGAIS: Eugênio Gudin, João Carlos Vital e José Joaquim de Sá Freire Alvim
SUPLENTES: Alberto Sá Souza de Brito Pereira, Jorge Oscar de Mello Flôres e
Rubens D' Almada Horta Pôrto

CONSELHO CURADOR

Presidente - Embaixador MAURíCIO NABUCO


Vice-Presidente - ALBERTO PIRES AMAR ANTE

MEMBROS: Antônio Garcia de Miranda Neto, AntÔnio Ribeiro França Filho, Apolônio Jorge
Faria Salles, Ary Frederico Tôrres, Brasílio Machado Neto, Carlos Alberto Alves de Carvalho
Pinto, Cezar Reis de Cantanhede e Almeida. Celso Timponi. Francisco Montojos, Heitor
Campelo Duarte, Henrique Blanc de Freitas, Henrique Domingos Ribeiro Barbosa, Joaquim
Bertino de Moraes Carvalho, José Nazareth Teixeira Di .. , Jurandir Lodi, Mário Paulo de
Brito, Moacyr R. Alvaro e Paulo de Tarso Leal

*
Sede: Praia de Botafogo, 186
Caixa Postal: 4081 Telefone: 46-4010
RIO DE JANEIRO, D. F. BRASIL

Você também pode gostar