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NULIDADES ABSOLUTAS E RELATIVAS NO

PROCESSO PENAL BRASILEIRO


Millene Haeer Arcanjo do Carmo

Sumário: Introdução 1. Conceitos de nulidades 2. Tipos de nulidades 3.


Princípios em nulidades 4. Conclusões finais 5. Referências.

Palavras Chave: Nulidades; Processo penal; Princípios.

Introdução
A nulidade no Processo Penal pode ser entendida como um equívoco
que torna inválido ou destituído de valor um ato ou o processo, de forma total
ou parcial. São, portanto, defeitos ou vícios no decorrer do processo penal,
podendo, também, aparecer no inquérito policial.

O Código de Processo Penal, regula as nulidades nos artigos 563 a 573.


Para alguns doutrinadores, é visto como vić io ou defeito, ou seja, uma falha,
uma imperfeição que pode tornar ineficaz o processo, no todo ou em parte.
Para outros a nulidade é uma sanção, importando em que o ato irregular
declarado nulo se considera em si e para todos os efeitos como não
realizado.

Há, porém, na nulidade, os dois aspectos: um para indicar o motivo que


torna o ato imperfeito, outro para exprimir a consequência que deriva da
imperfeição jurídica do ato ou sua inviabilidade jurid
́ ica. A nulidade, portanto,
é sob um aspecto, vício e, sob outro, sanção.

1. Conceitos de nulidades
Além das nulidades absolutas e relativas, as mais conhecidas e faladas,
existem situações em que o vício é tão óbvio que gera a inexistência do ato,
como sentença prolatada por quem não é juiz. Por outro lado, o
desatendimento da formalidade pode ser incapaz de gerar qualquer prejuízo ou
anular o ato, então falamos de mera irregularidade ritualística.
Quanto ao fundamento, a nulidade absoluta, em geral, ocorre se a
norma em apreço considerada defeituosa e houver sido instituída para
resguardar, predominantemente, o interesse público. Se a regra viciada
contiver violação a um princípio constitucional, a nulidade deverá ser absoluta,
ou até mesmo, inexistente. Verificamos que o processo penal nacional está
resguardado, não apenas pela legalidade, mas também, por princípios mais
abrangentes, com embasamento constitucional que, em certos pontos, chegam
a ser desnecessários.

Já a nulidade relativa aparece se a regra violada servir para escoltar, em


destaque, o interesse das partes. A demonstração do prejuízo deve ser
efetuada pela parte que argüir. Assim, somente haverá declaração do vício se
não ocorrer outra possibilidade de se reparar o ato procedimental.

Em relação ao momento para arguição, a nulidade absoluta pode ser


reconhecida a qualquer tempo, mesmo após o trânsito em julgado e em
qualquer grau de jurisdição, assim, nunca preclui. A exceção dessa regra
sendo o acolhimento de nulidade absoluta em prejuízo do réu, se não arguida
pela acusação. No caso da nulidade relativa, deve ser arguida no momento
oportuno, podendo ter preclusão. O artigo 571 do CPP, nos mostra quando as
nulidades devem ser arguidas peremptoriamente.

Em se tratando do interesse, as nulidades relativas dependem de


provocação pela parte interessada, no momento oportuno. É a regra decorrente
do interesse nas nulidades, pois que somente podem ser arguidas pela parte
que dela fizer proveito, desde que não tenha dado causa (art565). Em sendo
absolutas, dispensam provocação, pois o juiz é legitimado a declará-las de
ofício, salvo a exceção da Súmula 160 do STF. Assim, poderão ser levantadas
por quaisquer das partes, além do juiz, bem delas não se pode dispor.

2. Tipos de nulidades
A formalidade é essencial ao ato, pois visa resguardar interesse de um
dos integrantes da relação processual, não tendo um fim em si mesma. Por
esta razão, seu desatendimento é capaz de gerar prejuiź o, dependendo do
caso concreto. O interesse, no entanto, é muito mais da parte do que de
ordem pública, e, por isso, a invalidação do ato fica condicionada à
demonstração do efetivo prejuiź o e à arguuição do vić io no momento
processual oportuno.

Algumas características básicas:

 formalidade estabelecida em ordenamento infraconstitucional;


 finalidade de resguardar um direito da parte;
 interesse predominante das partes;
 possibilidade de ocorrência das partes;
 necessidade de provar a ocorrência do efetivo prejuízo, já que
este pode ou não ocorrer;
 necessidade de arguição oportuno, sob pena de preclusão;
 necessidade de pronunciamento judicial para reconhecimento

As hipóteses de nulidades relativas são, em regra, verificadas nas


“nulidades não cominadas” violadoras de norma protetiva de interesse da
parte. Por exemplo: não notificação da expedição da carta precatória
instrutória, para oitiva de testemunhas em outra comarca. Nesse caso, a
formalidade violada não está estabelecida simplesmente em lei, havendo
́ ios
ofensa direta ao Texto Constitucional, mais precisamente aos princip
constitucionais do devido processo legal.

As exigências são estabelecidas muito mais no interesse da ordem


pública do que propriamente no das partes, e, por esta razão, o prejuiź o é
presumido e sempre ocorre.

A nulidade absoluta também prescinde de alegação por parte dos


litigantes e jamais preclui, podendo ser reconhecida ex officio pelo juiz, em
qualquer fase do processo. São nulidades insanáveis, que jamais precluem. A
única exceção é a Súmula 160 do STF, que proib
́ e o Tribunal de reconhecer
ex officio nulidades, absolutas ou relativas, em prejuízo do réu.
Para ser reconhecida, a nulidade absoluta exige um pronunciamento
judicial, sem o qual o ato produzirá seus efeitos.

Suas características:

 deve ser reconhecida de ofić io pelo juiz – vício atinge um


interesse público.
 há ofensa direta a princip
́ io constitucional do processo;
 a regra violada visa garantir interesse de ordem pública, e não
mero interesse das partes;
 o prejuízo é presumido e não precisa ser demonstrado;
 não ocorre preclusão; o vício jamais se convalida, sendo
desnecessário argüir a nulidade no primeiro momento processual; o
juiz poderá reconhecê-la ex officio a qualquer momento do
processo;
 depende de pronunciamento judicial para ser reconhecida.

As hipóteses de nulidade absoluta são, em regra, verificadas nas


“nulidades cominadas”, sem previsão de sanção. Por exemplo: hipóteses do
art. 564 do CPP, não mencionadas no art. 572 do CPP. Também podem
ocorrer por violação de modelo legal, mesmo sem previsão de nulidade,
quando a norma que institui o modelo o fez para proteção de interesse de
ordem pública. Por exemplo: impedimento do juiz. Também ocorrem quando
há violação de normas constitucionais, mesmo sem previsão de nulidade,
como é o caso de violação de princípios e regras constitucionais. Por
exemplo: violação do princip
́ io constitucional do contraditório e violação do
́ io da fundamentação das decisões judiciais.
princip

Em se tratando de nulidade absoluta, poderá ela ser arguida a qualquer


momento. Em se tratando de nulidade de atos não essenciais, sua preterição
deve ser arguida na oportunidade do art. 571 do CPP. Se arguida a nulidade,
porém esta não causou prejuízo às partes, o ato não será anulado.
Não deve ser acolhida nulidade contra o réu, que não tenha sido
arguida pela acusação, conforme estabeleceu a Súmula 160 do STF, “É nula
a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no
recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício”.

Esta Súmula tem o propósito de evitar nulidades em prejuízo do réu,


bem como que Tribunais reconheçam nulidades em pequenas irregularidades
ou em vícios de atos que não sejam essenciais.

3. Princípios em nulidades
O princípio processual da causalidade demonstra que ao se viciar um
ato todos aqueles que desse decorrem estarão também corrompidos. Portanto,
faz-se obrigatório o estabelecimento da nulidade de ambos, conforme art. 573,
§ 1º do Código de Processo Penal.

O fundamento da não preclusão e do pronunciamento de ofício é


aplicado exclusivamente às nulidades absolutas, posto que, como
anteriormente dito, um dos requisitos que define esse tipo de nulidade é sua
decretação sem a necessidade de alegação pela parte e em qualquer tempo
enquanto não houver coisa julgada.

No princípio do prejuízo, não há nulidade se não houver prejuízo a parte


(art 563 CPP). Tal princípio vale apenas para nulidade relativa, em que a parte
suscitante necessita demonstrar o prejuízo para sí. Assim, aproveitando-se a
questão do defeito prejudicial, a eventual defesa insuficiente ou defeciente do
réu gera nulidade relativa, devendo-se comprovar o efetivo dano processual, o
que não se compara a falta de defesa, causadora de nulidade absoluta.

Já no princípio da instrumentalidade das formas ou sistema teológico,


não se declarará a nulidade de ato que não influiu na apuração da verdade e
na decisão da causa (art 566 CPP) e também de ato que, mesmo praticado de
forma diversa da qual prevista, atingiu sua finalidade ( art. 572, II).
Em se tratando do princípio da convalidação ou sanabilidade, as
nulidades relativas permitem a convalidação, ou seja, poderá o ato atípico ser
aproveitado ou superado. O modo sanável mais comum é a preclusão, ou seja,
a ausência da arguição no tempo oportuno.

Existem ainda, outros princípios aplicados às nulidades absolutas que


não serão tema deste estudo, pois, o mesmo não se configura em um modelo
exaustivo, mas em apontamentos exemplificativos.

4. Conclusões Finais
Os momentos em que mais ocorrem nulidades são:

 no oferecimento/recebimento da denúncia;
 quando um requerimento defensivo é negado (cerceamento de
defesa ou ausência de fundamentação, por exemplo);
 quando um requerimento da acusação é acolhido;
 durante os atos judiciais, especialmente nas audiências (de
custódia, de conciliação ou de instrução);
 sentença.

Diante do entendimento jurisprudencial no sentido que as nulidades


relativas dependem de demonstração de prejuízo e manifestação defensiva no
momento oportuno, sob pena de preclusão, é fundamental permanecer em
constante atenção durante cada ato ou na análise de cada decisão judicial,
sobretudo pelo fato de que os Tribunais reconhecem, na maioria dos casos,
que os vícios constituem nulidades relativas, e não absolutas, salvo raríssimas
exceções.

Destarte, a defesa deve colocar-se em estado de permanente


fiscalização dos atos judiciais, sob pena de que eventual vício seja superado
pela preclusão.

Como decorrência do excesso de processos e da ausência de pessoal


nos quadros do Poder Judiciário, uma nulidade que ocorre com enorme
frequência é a falta de fundamentação das decisões, o que pode ocorrer no
decreto da prisão preventiva, no recebimento da denúncia, logo após a
resposta à acusação (quando o Juiz constata que não é caso de absolver
sumariamente), na rejeição de algum requerimento defensivo e, principalmente,
na sentença.

5. Referências
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13.ed. rev. e atual. São Paulo :
Saraiva, 2006.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal.
3. ed. rev., atual. e ampl. 2. tir. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.

https://canalcienciascriminais.com.br Acessado em 10 de setembro de 2018.


https://www.direitonet.com.br Acessado em 10 de setembro de 2018.
http://www.egov.ufsc.br Acessado em 10 de setembro de 2018.
http://evinistalon.com Acessado em 10 de setembro de 2018.
https://jus.com.br Acessado em 10 de setembro de 2018.
https://rafaelabgm.jusbrasil.com.br Acessado em 10 de setembro de 2018.

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